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Inclusão e Escola Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão Responsável pelo Conteúdo: Profa. Tathiane Cecília. E. Arruda Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota 5 Un id ad e Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão Esta unidade tem como objetivo apresentar os elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão para que este possa ser mais efetivo no contexto escolar, de modo a garantir que os professores consigam elaborar estratégias de itinerário formativo alternativo que venham a favorecer o processo de integração educacional e inclusão social a partir desses elementos. As atividades propostas desta unidade são de suma importância para sua futura atuação profissional. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • A Inclusão propriamente dita. Elementos facilitadores e dificultadores do Processo de Inclusão • A Escola inclusiva • A Adaptação Curricular Fonte T hinkstock/G etty Im ages 6 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão “Mestre não é aquele que ensina, mas que de repente, aprende” Guimarães Rosa Esta unidade apresentará os elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão para que este possa ser mais efetivo de modo a garantir que professores consigam elaborar estratégias que buscam a aprendizagem efetiva de modo que favoreça a você, futuro especialista em educação, um diferencial em seu fazer pedagógico. Contextualização 7 A Inclusão propriamente dita. Elementos facilitadores e dificultadores do Processo de Inclusão “O respeito é uma espécie de amizade sem intimidade ou proximidade; é uma consideração pela pessoa, nutrida à distância que o espaço do mundo coloca entre nós, consideração que independe de qualidades que possamos admirar ou de realizações que possamos ter em alta conta”. Hanna Arendt Baseados em tudo o que já lemos sobre a unidade anterior acerca das questões legais que envolvem toda a temática de inclusão, creio ser necessário avançarmos do ponto de vista da deficiência e dos modelos médicos e holísticos que as envolvem. Voltando ao conceito de Deficiência, a OMS aponta enquanto definição, como sendo qualquer perda ou alteração de estrutura ou de função psicológica, fisiológica ou anatômica do ser humano. Porém, há ainda em acordo com a OMS e com o DSM-IV, outros dois termos bastante utilizados nos âmbitos educacionais e sociais, aos quais o indivíduo está inserido. Um deles se chama Incapacidade. Esta, segundo os documentos oficiais citados, refere-se à qualquer restrição ou falta (resultante de uma deficiência) da capacidade para realizar uma atividade, dentro dos moldes e limites considerados normais, e há ainda uma terceira nomenclatura bastante utilizada, a Desvantagem ou (Handicap). Essa tem por definição ser a condição social de prejuízo, sofrido por um indivíduo, resultante de uma deficiência ou incapacidade que limita ou impede o desempenho de uma atividade considerada normal para esse indivíduo, considerando-se a idade, sexo e fatores sociais. Ao integrar esses conceitos, pode-se sintetizá-los da seguinte maneira: · Deficiência: situação intrínseca. A palavra deficiente se opõe à palavra eficiente, de não ser capaz de. · Incapacidade: situação objetivada. Ação de não conseguir. · Desvantagem (Handicap): situação socializada. Atribuída a valores culturais segundo padrões, regras e normas estabelecidas socialmente. É vista e interpretada diferentemente em função de mecanismos sociais e é construída socialmente. A pessoa é considerada fora das normas e regras estabelecidas. 8 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão Exclusão Segregação Integração Inclusão Fonte: Adaptado de Filosofiahoje.com.br Crê-se necessário apontar que o estigma não está na pessoa ou na deficiência, e, sim, nos valores culturais atribuídos à ela. O que passa a ser fundamental, portanto, é mudar a atitude da sociedade e não a pessoa. Para tal, convém elucidar, aqui, dois modelos bastante utilizados na compreensão da pessoa com deficiência, os quais foram desenvolvidos, paralelamente, à linha do tempo relatada na Unidade 3. Por visão de deficiência, pode-se entender que haja o modelo médico e o modelo social. Ambos possuem compreensões distintas sobre os conceitos, aqui, tratados de deficiência, incapacidade e desvantagem um do outro. No modelo médico, a deficiência é explicada em termos de sintomas, síndromes e desordens. O “problema” está no indivíduo que deve se adaptar à sociedade por meio da reabilitação ou cura, ou seja, a “culpa” está no indivíduo de ser deficiente. As desvantagens são atribuídas à própria deficiência e à sua possibilidade de desenvolvimento em relação ao parâmetro de normalidade. Esse modelo médico tem como objetivo prover o deficiente de algum tipo de serviço especializado, o que não propicia sua integração social. Para esse modelo, as escolas especiais contribuem, pois demostram que toda criança pode ser educada, uma vez que pode haver a incorporação de técnicas especializadas e programas de desenvolvimento individual. Porém, esse modelo apresenta algumas limitações, como o não alcance da meta que se propunha, a qual era de propiciar a integração do deficiente na sociedade; implica em segregação e discriminação de um grupo social. 9 Atualmente, há, nesse modelo, uma verdadeira integração não planejada ou inclusão incipiente; não há apoio especializado ou recursos educacionais que atendam às necessidades especiais e o acompanhamento das posturas internacionais por meio de leis, porém sem ações efetivas. No modelo Social, a compreensão deste é que os problemas das pessoas com deficiência não estão apenas no indivíduo, mas nas características da sociedade. Esta, sim, possui ambientes restritivos e discriminatórios e que cria, portanto, a desvantagem. Esse modelo privilegia um “olhar sensível” ao novo paradigma em relação à deficiência, às diferentes possibilidades em termos educacionais, valoriza a integração social e cada ser humano, aceitando a diversidade e trabalha com modelo competencial e não deficitário do que o sujeito sabe ou não realizar. No entanto, a escola atual ainda tem o modelo médico como visão predominante. Com isso, coloca todo o enfoque na deficiência, em busca de rótulos e padrões das patologias e medicamentos para a partir daí elaborarem estratégias para o processo de ensino e aprendizagem e atribui à deficiência, incapacidade e/ou desvantagem toda a causa do fracasso escolar. Voltando à unidade 3, quando discutimos os conceitos de inserção, integração e inclusão, a partir do conhecimento dos modelos, observamos que se faz importante a concretização desses conceitos à prática educacional. A integração é uma intervenção necessária com a criança para que possa estar em classes comuns, forma condicional de inserção (a criança precisa adaptar-se); depende das características do sujeito e possui uma prática seletiva, a qual privilegia o conceito médico de deficiência. Já a inclusão, se dá no atendimento das necessidades da criança buscando um currículo adequado para incluí-la, há uma mudança de paradigmas, pois o sistema escolar sofre transformações para atender a todas as crianças. A Inclusão reconhece e aceita as diferenças, posicionando a escola no dever de adaptar-se às necessidades da criança. Valoriza a diversidade, privilegiando, assim, o conceito social de deficiência. A Escola inclusiva “Não tenho um caminho novo. O que tenho é um novo jeito de caminhar” Thiago Mello Ao pensar nessa escola, Mantoan (2001) define alguns princípios de uma escola inclusiva, os quais todas as crianças podem aprender juntas, independente das diferenças, há o desenvolvimento de estratégias para proporcionar igualdade de oportunidades e a proposta de propiciar respostas educacionais as necessidades educacionais especiais (recursos/apoio). 10 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultamo processo de inclusão Como Benefícios da Inclusão, alguns atores desse contexto são diretamente afetados. Entre eles, professores e alunos. Como benefício para os alunos sem deficiência, um preparo para a vida em comunidade, a aceitação da diversidade, o desenvolvimento de valores de respeito, solidariedade e cooperação. Para os alunos com deficiência, o desenvolvimento da independência e autonomia para vida social, maior desenvolvimento pessoal e nas habilidades acadêmicas. Como benefícios para os professores, Mantoan (2001) afirma a aceitação da diversidade humana, maior atualização da prática pedagógica, aquisição de novas habilidades, oportunidade de trabalho cooperativo em equipe, desenvolvimento do papel do professor, como de fato agente de transformação pessoal e social. Para a sociedade, ainda há o respeito aos direitos humanos, o valor social da igualdade de oportunidades, a valorização da diversidade e a Abolição de preconceitos e estereótipos. No encerramento desta unidade, há como objetivo, ainda que de forma subliminar, a formação de um novo paradigma em relação à visão da deficiência e a possibilidade de “enxergar” formas para a viabilização da inclusão, como o conhecimento das reais condições de cada escola em buscar o benefício da criança e sua aprendizagem ser considerada num processo gradual, sistemático e planejado. Que esse olhar ainda possa envolver toda comunidade escolar e propiciar recursos necessários ao desenvolvimento pleno da criança priorizando os contextos e não a deficiência. Cabe ainda a esse educador, apoiar o professor e membros da equipe com a criação de novas formas de ensino e aprendizagem e que na construção do projeto pedagógico, um currículo que atenda a diversidade dos alunos. “Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito de sermos diferentes, quando a igualdade nos descaracteriza” Boaventura de Souza Santos Stainback, S. (2008) afirma que para haver a inclusão propriamente dita, um dos desafios da escola passa a ser o de atendimento aos alunos que necessitem respostas educativas especiais. Para isso, se faz necessário entender e desenvolver junto à equipe gestora e ao corpo docente, reflexões em torno do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e Currículo. Dessa forma, a dialogicidade entre essas duas questões ficam mais claras para um bom desenvolvimento de itinerário alternativo formativo ou currículo adaptado. O PPP tem que demonstrar qual é o modelo de compreensão que a escola preza, ou seja, como a escola vê as diferenças. A partir daí, há a importância de identificar as necessidades especiais, determinar auxílios pedagógicos necessários, tendo como enfoque as possibilidades e não os déficits, a construção de propostas curriculares que atendam às necessidades dos alunos, a possibilidade de organização flexível dos grupos e contar com profissionais de apoio e orientação psicopedagógica. O Currículo tem um aspecto político e ideal a partir do momento em que no PPP consta qual é a compreensão da visão que a escola apresenta. Coll (1996) afirma que o currículo também pode ser visto como um conjunto de experiências que a escola oportuniza para o 11 desenvolvimento integral dos alunos, possibilitando um elo entre a teoria e a prática, entre o planejamento e a ação; afinal, é no projeto que preside as atividades educativas escolares, as ações da escola são definidas e ainda são proporcionados guias de ação adequados e úteis para os professores que são diretamente responsáveis por sua execução. Além disso, esse autor destaca que o currículo ainda proporciona informações concretas sobre: o que, quando e como ensinar e avaliar. Dentre os tipos de currículos, pode-se citar o currículo fechado, o qual possui como vantagens: a utilização facilitada para o professo e o fato de ser padrão para todos os alunos e como desvantagens, ele não se adapta a diferentes contextos e não atende às necessidades individuais. Já o currículo aberto, em oposição ao fechado, apresenta como vantagens: o respeito aos diferentes contextos, a estimulação da criatividade para a resolução de problemas que os professores possam vir a apresentar e atende às necessidades dos alunos. Como desvantagens, o currículo aberto não garante homogeneidade de currículo para a população e exige maior formação do professor. A Adaptação Curricular Diante do exposto, as adaptações Curriculares, segundo Mantoan (2001), passam a ser instrumentos que possibilitam maiores níveis de individualização do processo ensino-aprendizagem, para atender as respostas às necessidades educativas especiais, que têm como objetivo não só garantir a participação do aluno com necessidades educativas especiais na programação o mais normal possível, mas também considerar as especificidades que suas necessidades requerem. Assim, a avaliação, a partir das necessidades especiais do aluno, verifica seus níveis atuais de competência curricular e o desenvolvimento de uma proposta curricular que contemple os conteúdos, objetivos e metodologias a serem desenvolvidas a curto e longo prazo, bem como o desenvolvimento de critérios de avaliação, com vista à promoção do aluno. Outras questões a serem levadas em consideração em uma adaptação curricular são: · as previsões e provisões de recursos técnicos e materiais; · a remoção de barreiras arquitetônicas que impeçam ou dificultem o acesso à aprendizagem; · os meios pessoais de acesso como reforço pedagógico; · os tratamentos especializados; · a orientação à família; Fonte: Thinkstock/Getty Images 12 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão · os recursos materiais, tais como: computadores, braile, língua de sinais, lupas, próteses auditivas, etc; · os recursos ambientais: adaptação das instalações físicas (mobiliário, rampas, banheiros). Quanto ao desenvolvimento de objetivos e conteúdo, há a necessidade de priorizações e adaptações nas atividades de ensino e aprendizagem, primando por: · propostas diferenciadas; · acréscimo de atividades para o mesmo conteúdo; · seleção e adaptação de material didático às estratégias de adequação de linguagem; · adequação de métodos e ao processo avaliativo como a diversificação; · adequação de critérios; · avaliação contínua e formativa. Ainda de maneira significativa, Mantoan (2001) e Stainbac (2008) concordam que o processo de inclusão compreende também as adaptações curriculares significativas nas medidas de caráter excepcional para atender severas necessidades educacionais, tendo como objetivos a eliminação de objetivos básicos e introdução de objetivos específicos e nos conteúdos, a eliminação e introdução de novos conteúdos em substituição para atender os objetivos. Para os casos mais severos, além de prever modificações altamente especializadas (braile, língua de sinais), a avaliação deve se pautar em critérios relacionados aos objetivos, bem como a temporalidade, podendo ser o prolongamento de um ano ou mais na série ou ciclo. Nas avaliações, as autoras ainda sugerem como critérios, a avaliação do nível de competência nos objetivos propostos (individualização), nas estratégias que o aluno utiliza para aprender, nos fatores que dificultam ou favorecem a aprendizagem, ao nível de auxílio que necessita nos aspectos motivacionais. Em resumo, para, de fato, haver um currículo adaptado, os conteúdos, não devem ser um fim em si mesmo, mas um meio para desenvolver a capacidade do indivíduo, sejam adequados às possibilidades, necessidades e interesses do grupo, sejam funcionais e que favoreçam a autonomia na aprendizagem e generalização na vida social e ainda sejam amplos, objetivando o desenvolvimento global do indivíduo. Com isso, para atingir essas mudanças, a metodologia deve ter sua ênfase na forma de aprender e não no conteúdo, pois o aluno é o protagonista e o professor é o facilitador e que haja coerência entre o que aprender e como aprender. Como vistona unidade 1, para que o sujeito aprenda é necessário que essa aprendizagem seja significativa e possibilite ao aluno agir e refletir sobre a informação. Além disso, essa nova informação deve estar relacionada com ideias ou conhecimentos prévios do aluno. O papel do professor, nesse contexto, passa a ser o de orientador da aprendizagem, pois determina os requisitos para aquisição de novos conceitos, prepara atividades e materiais necessários para pesquisa, motiva os alunos, levando em conta os interesses e organização dos espaços. Para isso, o professor pode lançar mão de estratégias como os grupos cooperativos, pois estes: · favorecem a interação e troca entre alunos, bem como a aquisição de competências e habilidades; 13 · estimulam a pesquisa; · facilitam o trabalho autônomo; · ajudam os alunos na construção da própria aprendizagem; · criam um clima de cooperação e não de competitividade; · aumentam a motivação; · favorecem a aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais. Na unidade 3, vimos que muitos teóricos, principalmente da área da saúde, pensam num processo de inclusão de forma utópica. Entretanto, a inclusão não deve ser vista dessa forma, e, sim, como realidade possível e desejável. Desse modo, há a necessidade de uma mudança ideológica na sociedade e no sistema educacional, em que a Educação passe, de fato, a ser vista como fator de mudança e transformação do homem, cooperando, então, para que ocorra a mudança ideológica na sociedade. Para Feurstein (2000), o ser humano é um sistema aberto e pode ser modificado. O indivíduo que EU, enquanto educador, estou trabalhando é modificável e EU, enquanto educador, sou capaz de modificar e para isso, alguns princípios são adotados para provocar mudanças (Feurstein, 2000), ou seja, EU, enquanto pessoa, também devo modificar-me; a SOCIEDADE também deve ser modificada e a EDUCAÇÃO é um meio de mudar a SOCIEDADE. “A Educação é o ponto em que se decide que se ama suficientemente o mundo para assumir responsabilidade por ele (...) e o lugar em que se decide que se amam suficientemente as crianças para não as expulsar do nosso mundo” Hanna Arendt Fonte: Thinkstock/Getty Images 14 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão Material Complementar Vídeos: · https://www.youtube.com/watch?v=cSlGocYJ2Dk · https://www.youtube.com/watch?v=WyJ6TlEGEeA Assista ao filmes: · Forrest Gump, o contador de Histórias; · Happy Feet. https://www.youtube.com/watch?v=cSlGocYJ2Dk https://www.youtube.com/watch?v=WyJ6TlEGEeA 15 Referências Coll, C. Psicologia e Currículo. São Paulo, Ed. Ática, 1996. Feuerstein, R. Pedagogia e Mediação Em Reuven Feuerstein. Ed. Plexus, 2002. Mantoan, M. T. Caminhos Pedagógicos da Inclusão. Como estamos implementando a educação (de qualidade) para todos nas escolas brasileiras. São Paulo: Memnon, 2001. Stainback, S. & Stainback. W. Inclusão um guia para educadores. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas 1999. 16 Unidade: Elementos que favorecem ou dificultam o processo de inclusão Anotações
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