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Urbanização e Meio Ambiente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota Resíduos Sólidos Urbanos • Introdução • A Gestão dos Resíduos Sólidos no Brasil • Destino dos Resíduos Sólidos • A Coleta Seletiva e a Reciclagem no Brasil • A Logística Reversa e os Rejeitos Perigosos · Discutir a questão da produção, coleta e destino final dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. · Contribuir para uma análise de propostas mais sustentáveis em relação aos resíduos sólidos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, você irá conhecer um pouco mais sobre a questão dos resíduos sólidos urbanos, sua origem, coleta e destino final. Procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material comple- mentar. Os conhecimentos sobre resíduos sólidos urbanos tanto da gestão pública quanto das formas de destino final são fundamentais para sua forma- ção profissional. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais in- terativo possível é fundamental assistir à videoaula e realizar as ativida- des propostas. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado. Bons estudos! ORIENTAÇÕES Resíduos Sólidos Urbanos UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Contextualização O lixo pode ser classificado como “seco” ou “úmido”. O lixo “seco” é composto por materiais potencialmente recicláveis (papel, vidro, lata, plástico etc.). Entretanto, alguns materiais não são reciclados por falta de mercado, como é o caso de vidros planos etc.. O lixo “úmido” corresponde à parte orgânica dos resíduos, como as sobras de alimentos, cascas de frutas, restos de poda etc., que pode ser usada para compostagem. Essa classificação é muito usada nos programas de coleta seletiva, por ser facilmente compreendida pela população. O lixo também pode ser classificado de acordo com seus riscos potenciais. De acordo com a NBR/ABNT 10.004 (2004), os resíduos dividem-se em Classe I, que são os perigosos, e Classe II, que são os não perigosos. Estes ainda são divididos em resíduos Classe IIA, os não inertes (que apresentam características como biodegradabilidade, solubilidade ou combustibilidade, como os restos de alimentos e o papel) e Classe IIB, os inertes (que não são decompostos facilmente, como plásticos e borrachas). Quaisquer materiais resultantes de atividades que contenham radionuclídeos e para os quais a reutilização é imprópria são considerados rejeitos radioativos e devem obedecer às exigências definidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN. Existe ainda outra forma de classificação, baseada na origem dos resíduos sólidos. Nesse caso, o lixo pode ser, por exemplo, domiciliar ou doméstico, público, de serviços de saúde, industrial, agrícola, de construção civil e outros. Essa é a forma de classificação usada nos cálculos de geração de lixo. (MMA, 2005) 6 7 Introdução Nesta unidade, vamos abordar a temática dos resíduos sólidos urbanos nas cidades brasileiras, tratando da questão da origem dos resíduos, suas formas de coleta e do destino final. Daremos ênfase às normas existentes e dos problemas urbano-ambientais em decorrência de práticas inadequadas em relação aos resíduos sólidos. A Gestão dos Resíduos Sólidos no Brasil Existem diversificados tipos de resíduos produzidos nas cidades e no campo. Para melhor entendimento do que são os resíduos, optamos por utilizar a definição dada pela Lei 12.305/2010, que diz: [...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólidos ou semissólidos, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia possível (TONANI, 2011, p. 43). Como afirma a lei os resíduos podem ser sólidos, líquidos e gasosos. Em relação aos resíduos sólidos urbanos (comumente chamado de lixo), conforme classificação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo define-se: Resíduos urbanos: os provenientes de residências, estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, da varrição, de podas e da limpeza de vias, logradouros públicos e sistemas de drenagem urbana passíveis de contratação ou delegação a particular, nos termos da lei municipal (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE, 2010. p. 17). Segundo a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) os resíduos sólidos urbanos são: “Resíduos sólidos gerados num aglomerado urbano, excetuados os resíduos industriais perigosos, hospitalares sépticos e de aeroportos e portos, já definidos anteriormente” (ABNT, 1996, p. 2). Segundo norma recente Lei nº 12.305, os resíduos devem ser reaproveitados e reciclados e somente os rejeitos devem ter disposição final. Em relação à gestão dos resíduos sólidos urbanos, cabe à prefeitura das cidades realizar a coleta dos resíduos sólidos urbanos e mesmo neles há uma diferença entre os resíduos dos tipos domiciliar, comercial, industrial, de serviços de saúde (hospitais, clínicas etc.), entulho, de portos e aeroportos e terminais e também aqueles provenientes das zonas rurais, conforme se evidencia no quadro a seguir. 7 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Quadro 1 – Características dos Resíduos Sólidos Nos Municípios Brasileiros Origem Descrição Responsabilidade pelo gerenciamento Domiciliar Originários de residências Prefeitura Comercial Originários de estabelecimentos comerciais e de serviços Prefeitura ou do próprio gerador, conforme quantidade Público Originários da limpeza urbana e áreas públicas Prefeitura Serviços de saúde Originários de resíduos sépticos (que podem conter germes patogênicos) ou assépticos dos serviços de saúde Gerador ou Prefeitura Industrial Originários dos diversos ramos industriais Gerador Portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários Resíduos sépticos e assépticos dos locais Gerador Agrícola Resíduos originários das atividades agrícolas e de pecuária Gerador Entulho Resíduos de construção civil Gerador (definido pela quantidade) Fonte: Tonani, 2011 e Prefeitura do Município de São Paulo. Elaborado por Vivian Fiori, 2016 Os resíduos sólidos podem possuir certa periculosidade, com a exigência de um tratamento e descarte apropriados para não impactar ambientalmente os lugares ou pode ser reutilizado e reciclado, promovendo menor impacto e maior benefício para a sociedade e para o meio ambiente. No caso das áreas rurais, por exemplo, não cabe, necessariamente, uma coleta a ser realizada pela prefeitura, assim como os resíduos industriais são de responsabilidade do próprio gerador. A coleta de resíduos sólidos domiciliares é de competência do município. Em alguns casos, dos grandes municípios, esse serviço é realizado por empresas privadas, por meio de concessão. De qualquer forma, trata-se de um serviço público. Um problema nas cidades brasileiras é a falta de coleta em algumas regiões, cujo acesso é mais difícil, caso de algumas favelas em áreas de risco e encostas. Nestas situações, é comum em grandes cidades, a prefeitura colocar caçambas, conforme pode se observar na figura 1. Há casos, como mostrado na imagem, nos quais parte dos resíduos acaba ficando, inadequadamente, no chão, podendo, caso chova, ir parar em rios e córregos. 8 9 Figura 1 – Caçamba em Favela em São Paulo Fonte: Acervo do Conteudista Uma prática inadequada comum em cidades brasileiras é jogar os resíduos em rios, córregos, terrenos baldios, entre outros, criando lixões a céu aberto. Em decorrênciadestes, existem inúmeros problemas ambientais, a saber: • Poluição do lençol freático e do solo, a partir da produção de chorume, líquido que se forma com a decomposição do lixo, proveniente de reações físico- -químicas e biológicas do lixo que, em geral, é formado predominantemente de matéria orgânica. • Há também problemas de saúde para a população. Entre eles, destacamos a transmissão de doenças por vetores como baratas, moscas, ratos, pernilongos, urubus, entre outros. • Existem alguns lixões, onde existem famílias pobres que vivem e tiram o sustento destes lixões, correndo riscos de saúde, bem como se considera um trabalho degradante do ponto de vista social. • Podem ocorrer, dependendo de onde se localiza esse “lixão”, desmoronamen- tos, deslizamentos e até explosões, caso esse lixo seja aterrado de forma ina- dequada, podendo produzir o gás metano (CH4). Neste caso dos lixões, o gás metano forma-se também devido à matéria orgânica, quando esta é aterrada, num processo de fermentação dos resíduos orgânicos, sendo um gás altamen- te inflamável. Dessa maneira, as principais formas de destino final do lixo no Brasil são as seguintes: lixão a céu aberto, aterros, aterros sanitários controlados, incineração, compostagem, reciclagem etc. Mas ainda predominam as duas primeiras. No entanto, ainda é comum existirem lixões a céu aberto, tanto produzido pela população em geral, quanto de resíduos encaminhados pela própria prefeitura a partir da coleta realizada. Este foi o caso do “lixão” do Bumba, situado no município de Niterói, que se tornou conhecido nacionalmente em 2010, devido a um deslizamento ocorrido na comunidade conhecida como “Bumba”, que lamentavelmente foi construída sobre parte de um antigo lixão aterrado pela Prefeitura de Niterói. 9 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Atualmente, conforme definição de lei federal, existe um Plano Nacional de Resíduos Sólidos, criado a partir da Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010. Cabe aos municípios de forma consorciada entre vários municípios ou não dar um destino adequada aos resíduos sólidos urbanos. Como afirma-se no Plano: [...] que sejam concentrados esforços na erradicação dos lixões focando os municípios de pequeno porte, sendo uma das alternativas o incentivo à formação de consórcios públicos para a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos gerados. Paralelamente à erradicação dos lixões, deve-se também instituir mecanismos que incentivem os municípios que dispõem seus resíduos em aterros controlados a construírem aterros sanitários ou, então também partir para a opção dos consórcios públicos, via implantação de aterros sanitários, para solucionar a questão, via implantação de aterros sanitários ou formas ambientalmente adequadas de destinação final (MMA, 2011, p. 19). Foi dado um prazo até 2014 para que os municípios cumprissem tais normas, mas tal prazo foi prorrogado novamente. Destino dos Resíduos Sólidos Plano Nacional dos Resíduos Sólidos O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, conforme previsto na Lei 12.305/2010 tem vigência por prazo indeterminado e horizonte de 20 (vinte) anos, com atualização a cada 04 (quatro) anos e contemplará o conteúdo mínimo conforme segue: “I - diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos; II - proposição de cenários, incluindo tendências internacionais e macroeconômicas; III - metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada; IV - metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de resíduos sólidos; V - metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; VI - programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas; VII - normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União, para a obtenção de seu aval ou para o acesso a recursos administrados, direta ou indiretamente, por entidade federal, quando destinados a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos; VIII - medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos; IX - diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das regiões integradas de desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como para as áreas de especial interesse turístico; X - normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de resíduos; XI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito nacional, de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social”. Ex pl or Fonte: Trecho literal extraído de Ministério de Meio Ambiente (MMA). Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, MMA, Set. 2011, p. 2. Disponível em: https://goo.gl/0e3SyW 10 11 Segundo o Ministério de Meio Ambiente (2012), existem diversas formas de destino de resíduos/rejeitos sólidos urbanos, a saber: Aterro Sanitário Controlado Os municípios brasileiros, atualmente, têm de atender o Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) de 2011, que obriga as prefeituras a dar um destino adequado aos resíduos. O aterro sanitário é uma das formas definidas segundo as normas para o depósito dos resíduos-rejeitos, desde que use infraestrutura apropriada para evitar a poluição do solo e do lençol freático e também para a liberação do gás metano. Outra denominação usada é a de aterro sanitário controlado. Existem vários tipos de aterros, alguns que não são controlados conforme as normas técnicas, sendo apenas aterros comuns. Já os aterros, denominados de aterros sanitário controlado (vide figura 2), usam as técnicas propostas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que define: Aterro sanitário controlado é uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segu- rança, utilizando-se princípios de engenharia, de tal modo a confinar o lixo no menor volume possível, cobrindo-o com uma camada de terra ao fim do trabalho de cada dia, ou conforme o necessário (Norma Brasileira ABNT 8419 / 1992) (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIEN- TE, 2010, p. 33). Figura 2 – Aterro Sanitário Controlado –Lavras -MG Fonte: lavras.mg.gov.br 11 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Os aterros controlados (figura 3) impermeabilizam o solo, com uma malha de plástico (polietileno de alta densidade), para que não contamine o solo e o lençol freático. Além disso, deve ter um sistema de drenagem para que o chorume produzido seja levado para uma lagoa e tratado, bem como devido às normas mais recentes usar o gás produzido, como forma de energia. Os locais onde se situam tais aterros deverão ficar instalados em lugares mais distantes de ocupação urbana e não poderão ser usados posteriormente ao término do uso do espaço para o aterro. Figura 3 – Esquema de Aterro Sanitário Fonte: lixo.com.br O aterro sanitário controlado deve seguir as normas técnicas da ABNT (NBR 8419/1996 e NBR 15849/20101) para resíduos classificados como classe II, ou seja, os não perigosos (inertes ou não inertes), bem como a Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, além de outras normas. Tais normas apontam que os aterros devem: • Estar localizado o mais próximo possível das fontes geradoras, mas, ao mesmo tempo, não rodeado de ocupação mais intensa. Contudo, nas grandes cidades devido à intensa ocupação e valorização do espaço, nem sempre isso é possível. • Haver um estudo das condições climáticas na região onde será instalada, já que se deve evitar localidades com alta pluviosidade e que os ventos soprem no sentido da cidade,pois poderá levar o cheiro dos resíduos. • É necessário que se faça um estudo geotécnico, geológico e pedológico, com as seguintes características, a saber: do solo e das estruturas geológicas subjacentes, do lençol freático, da drenagem urbana etc. Sugere-se a distância de 3 m entre o fundo da vala onde estará o aterro e o lençol freático, para solos argilosos é sugerido 3m, aumentando esse valor na medida em que o solo seja menos argiloso. 1 Esta norma refere-se aos Resíduos sólidos urbanos – Aterros sanitários de pequeno porte – Diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e encerramento. 12 13 • O ideal é que haja baixa densidade populacional ao redor do aterro que será instalado, assim como não existam declives acentuados na área onde será instalado, para evitar-se futuros movimentos de massa. A distância mínima do aterro para as residências deve ser de 500 m e dos corpos hídricos de 200 m, lembrando da necessidade de isolamento dos aterros. • Deve estar previsto um sistema para drenagem e remoção de líquidos que percolam os resíduos produzidos e aterrados, bem como a impermeabilização inferior e superior do aterro, evidenciando os tipos de materiais e as formas de isolamento do aterro. • Deve existir um sistema de drenagem de gás. • Devem ser descartadas áreas de várzea de rio, mangues e/ou áreas que tenham o lençol freático aflorando, ou seja, próximo à superfície, assim como solos muito arenosos. • Segundo norma do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), os aterros devem ter Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Logo, os aterros sanitários controlados são vistos como uma forma planejada e adequada de disposição dos rejeitos sólidos urbanos, já que esta forma procura minimizar os problemas ambientais nas cidades brasileiras. Aterro Comum Denominado comumente como lixão, local onde não há uma infraestrutura adequada para receber os rejeitos sólidos, impactando diretamente o solo e o lençol freático. Como esta forma de disposição final dos rejeitos não dispõe de tratamento seu impacto é maior, principalmente por conta da poluição que ocorre com a liberação do chorume, do gás metano e também de inúmeros espécies tais como ratos e insetos, entre outros, que ampliam a proliferação de vetores de doenças. Incineração Outra possibilidade de destino são as Usinas de Incineração. Trata-se de tecnologia mais cara, mas que reduz o lixo a uma proporção menor, sobrando somente as cinzas. É outra forma de descarte encontrada, da qual os resíduos são destruídos por via térmica, reduzindo o volume de resíduos. São interessantes para a destruição de germes encontrados em lixos hospitalares e industriais, porém os gases produzidos por este método podem ser prejudiciais, sendo necessário um tratamento adequado. 13 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos O maior problema decorrente dessa medida é a poluição; portanto, é necessário que, nesses casos, existam filtros para que, da queima dos resíduos, não impacte na poluição do ar. Por se tratar de tecnologia cara e que pode acarretar em outros problemas ambientais, os municípios brasileiros pouco a utilizam. Em geral, os resíduos enviados para incineradores ou esterilizados, são provenientes dos serviços de saúde, cuja coleta é separada da coleta domiciliar, pois se trata de resíduos que podem trazer contaminação e disseminar doenças. Compostagem Também é uma forma de descarte, que consiste em transformar os resíduos sólidos em composto, método de fermentação de material orgânico para adubação e fertilização. A problemática da compostagem é a necessidade de eliminar parasitas provenientes dos resíduos para evitar futura infecção nos compostos. A vantagem é a redução do volume de resíduos que é descartado para os aterros, já que o material orgânico é coletado separadamente. A maior parte dos resíduos no Brasil, provenientes dos domicílios, são restos de matéria orgânica, sobretudo de restos de comidas. Tais resíduos orgânicos podem ser usados na compostagem, ou seja, a partir da decomposição dos resíduos podem transformar-se em composto orgânico, que pode ser usado em jardins ou para agricultura quando produzido em larga escala. No entanto, é prática pouco comum no Brasil, a existência de compostagem realizada por moradores ou até mesmo das usinas de compostagem nas cidades. As usinas de compostagem aceleram o processo de decomposição da matéria orgânica produzindo, portanto, um composto orgânico mais rapidamente. O maior problema, em alguns casos, é que essa matéria orgânica2 pode estar misturada a outros produtos químicos, acarretando numa contaminação deste composto. Neste caso, é essencial que a matéria orgânica seja separada de outros produtos provenientes das feiras ou dos domicílios. Reciclagem É um método de destinação dos resíduos sólidos, cuja característica é a do reaproveitamento de determinados materiais para reprocessamento e posterior uso doméstico ou industrial. Para isto, é necessário que se realize a coleta seletiva dos resíduos sólidos, através da separação dos materiais que são passíveis de serem reciclados ou reaproveitados. 2 Matéria orgânica é tudo que já foi vivo um dia, seja animal ou vegetal. Desse modo, a poda de uma árvore, por exemplo, produz resíduo orgânico, assim como uma casca de laranja, restos das feiras, das comidas etc. 14 15 A Coleta Seletiva e a Reciclagem no Brasil Outra prática, que ainda é pouco comum no Brasil, é a coleta seletiva e o seu posterior processo de reciclagem. No senso comum, confunde-se coleta seletiva com reciclagem, pois comumente se usa como sinônimos coleta seletiva e reciclagem. A coleta seletiva pode ser feita de diferentes formas, tanto pela prefeitura ou empresas concessionárias, coletando seletivamente os materiais (papéis, plásticos, metais, vidros etc.), quanto também por catadores, sejam eles cooperados ou não. A coleta seletiva é uma importante forma de separar os resíduos orgânicos (restos de comida, poda de árvore, folhas etc.), dos resíduos passíveis de serem reciclados - caso de certos tipos de vidro, de papéis, de plásticos, de metais etc., estes últimos coletados seletivamente. A partir da coleta seletiva, é necessário ainda fazer uma triagem desses materiais, já que, em geral, os domicílios separam apenas o que é passível de ser reciclado. Normalmente, tais materiais encontram-se em sacos plásticos, todos juntos. Nesse caso, é necessário que a prefeitura disponibilize terrenos e espaços para uma central de triagem, seja ela da própria prefeitura ou de cooperativas de catadores (vide figuras 4 e 5). Figura 4 – Cooperativa de Catadores Fonte: Acervo do Conteudista Figura 5 – Cooperado prensando material Fonte: Acervo do Conteudista Desse modo, a partir da triagem desses materiais, na qual se separam, por exemplo, os tipos de papéis, de papelão, de plásticos, de vidros etc., estes materiais poderão ser prensados (ver figura 5), fardados e enviados para empresas de reciclagem. 15 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Portanto, a reciclagem não é a mesma coisa de separar materiais (triagem de materiais). A reciclagem é um processo de transformação daquele material num novo produto. Conforme explica a Secretaria do Estado do Meio Ambiente de São Paulo: A reciclagem é baseada no aproveitamento dos materiais que compõem os resíduos. A técnica da reciclagem consiste em transformar esses materiais, por meio da alteração de suas características, em novos produtos, o que a diferencia da reutilização. Considerando as suas características e composição, o resíduo pode ser reciclado para ser posteriormente utilizado na fabricação de novos produtos, concebidos com mesma finalidade distinta da original. Como exemplo, tem-se a reciclagem de garrafas plásticas paraproduzir novas garrafas ou cordas e tecidos, o processamento de restos de podas para posterior utilização como substrato de jardinagem, a composição e o beneficiamento de óleos usados (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE, 2010, p. 21-22). Logo, a reciclagem é um processo industrial, no qual se transforma um material num novo. É o caso, por exemplo, de indústrias de reciclagem que produzem, a partir do material coletado seletivamente, garrafas de vidro que são transformadas a partir de outro vidro. Tal procedimento não pode ser confundido com reutilização de materiais que é outra forma de tratar os resíduos sólidos. Reutilização é uma prática, na qual se dá um novo uso ao resíduo, caso, por exemplo, do uso de garrafas pets como vasos ou para a produção de materiais de artesanato. Nesse caso, não se trata de reciclagem e sim de reutilização dos materiais. É fundamental que a sociedade repense as questões relativas aos resíduos sólidos, sejam as políticas públicas, que devem, por lei, adotar medidas adequadas de destino final para o lixo, seja por parte da população, a partir da conscientização de que a produção exagerada de resíduos poderá acarretar problemas ambientais que levarão a problemas sociais e de saúde. Nesse sentido, é importante que os governos, nos diversos níveis de poder, incentivem práticas de educação que ampliem a conscientização da população, no sentido de compreender os processos da existência dos resíduos sólidos urbanos: da origem do resíduo, da coleta comum e da seletiva, do transporte e as formas de destino final. Atualmente, várias entidades ambientais e o Ministério de Meio Ambiente (MMA) discutem a importância de não jogar lixo nas ruas, rios e córregos, mas também repensar a questão, reduzir os resíduos produzidos e inclusive recusar produtos que possam prejudicar o espaço em que vivemos. Tais medidas denominam-se os 5 Rs: reduzir, reciclar, reutilizar, repensar e recusar. São práticas importantes, mas, ao mesmo tempo, complexas, já que o modo de produção capitalista busca cada vez mais aumentar a produção e vender suas mercadorias por meio da propaganda e do marketing. 16 17 Daí o paradoxo da busca da sustentabilidade ambiental em relação ao uso e consumo consciente, enquanto, para o capitalismo, o que importa é o aumento da produção e o consumismo. A política dos 5 R’s Pode-se dizer que as preocupações com a coleta, o tratamento e a destinação dos resíduos sólidos representam, porém, apenas uma parte do problema ambiental. Vale lembrar que a geração de resíduos é precedida por uma outra ação impactante sobre o meio ambiente - a extração de recursos naturais. A política dos cinco R’s deve priorizar a redução do consumo e o reaproveitamento dos materiais em relação à sua própria reciclagem. • Reduzir; • Repensar; • Reaproveitar; • Reciclar; • Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambientais signifi cativo. Os cinco R’s fazem parte de um processo educativo que tem por objetivo uma mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos. A questão-chave é levar o cidadão a repensar seus valores e práticas, reduzindo o consumo exagerado e o desperdício. O quarto R (reciclagem) é colocado em prática pelas indústrias que substituem parte da matéria-prima por sucata (produtos já utilizados), seja de papel, vidro, plástico ou metal, entre outros. Ainda é preciso que se amplie o mercado para produtos advindos deste processo. “ Segregar sem mercado é enterrar separado” (IPT & CEMPRE, 1995). Com a valorização da reciclagem, as empresas vêm inserindo, nos produtos e em suas embalagens, símbolos padronizados que indicam a composição dos materiais. Esse tipo de rotulagem ambiental tem também por objetivo facilitar a identifi cação e separação dos materiais, encaminhando-os para a reciclagem. As vantagens dessas práticas estão na redução do (a): • Extração de recursos naturais; • Redução dos resíduos nos aterros e o aumento da sua vida útil; • Redução dos gastos do poder público com o tratamento do lixo; • Redução do uso de energia nas indústrias e intensifi cação da economia local (sucateiros, catadores, etc.). Ex pl or Fonte: Trecho literal extraído de: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). A política dos 5 R’s. Disponível em: https://goo.gl/mhmNfw. Nas grandes cidades, a produção de resíduos é muito grande o que amplia o problema na busca de formas de destino do resíduo. Um dos problemas refere- -se ao fato do valor dos terrenos ser alto e não haver espaços adequados para se construir aterros em alguns casos. Contudo, atualmente, existe a possibilidade de pagamentos por serviços ambientais urbanos para catadores cooperados, que prestem serviços ambientais que sejam relevantes para o meio ambiente urbano. 17 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Outra prática que precisa ser disseminada no Brasil é a coleta seletiva. É essencial que exista uma política municipal, entre municípios ou entre municípios e o governo estadual, por meio de consórcio para implantação desta coleta. É possível também realizar pequenos projetos de seleção de resíduos em escolas, casas, prédios e empresas. Nesse caso, é fundamental observar o tipo de material mais comum e separá-lo da matéria orgânica, podendo para isso colocar uma lixeira para material seco (passível de ser reciclado) e outra para material orgânico. Além da separação dos resíduos é fundamental buscar uma entidade ou catadores que possam coletar o material e que existam espaços para a triagem final dos resíduos sólidos. A Logística Reversa e os Rejeitos Perigosos A logística reversa é uma política instituída no Plano Nacional de Resíduos Sólidos que trata da responsabilidade das empresas geradoras de resíduos sólidos de reaproveitar e/ou dar outra destinação adequada a tais resíduos. Segundo a Lei n. 12.305 (BRASIL, 2010): [...] logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Segundo a Lei 12.305/2010, estes produtos são principalmente: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos, cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes (vide quadro 2). Quadro 2: Logística Reversa Produtos Características dos Materiais Pilhas As pilhas alcalinas (tipo manganês e zinco-manganês), que possuem elevados teores de chumbo, mercúrio e cádmio, devem ser recolhidas pelo importador ou revendedor. Baterias As baterias de automóveis, industriais, de telefones celulares e outras também contêm metais pesados em concentração elevada. O descarte das baterias de carro, que contêm chumbo, e de telefones celulares, que contêm cádmio, chumbo, mercúrio e outros metais pesados, deve ser feito somente nos postos de coleta mantidos por revendedores, assistências técnicas, fabricantes e importadores – é deles a responsabilidade de recolher e encaminhar esses produtos para destinação final ambientalmente adequada. Lâmpada Fluorescente As lâmpadas fluorescentes contêm mercúrio, um metal pesado altamente prejudicial ao meio ambiente e à saúde. Deve haver um descarte em locais definidos para este fim específico. Pneus O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) proíbe o descarte e a queima de pneus e torna responsáveis os fabricantes e importadores pela destinação final ambientalmente adequada dos pneus que não tiverem mais condições de uso. De acordo com a Resolução CONAMA nº 258/1999, a partirde 2004, para cada pneu novo fabricado, o fabricante deve recolher um que não esteja em uso e, a partir de 2005, para cada quatro pneus novos, a empresa deverá recolher cinco pneus inservíveis. Fonte: Extraído de MMA, 2005, adaptado por Vivian Fiori, 2016 18 19 Vários desses produtos têm metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, entre outros, que podem se acumular no corpo humano e causar danos graves à saúde, não apenas no ser humano, mas também em outros animais (vide quadro 3). Quadro 3: Consequências dos Metais Pesados na Saúde Metal Pesado Produtos onde é encontrado Consequências Mercúrio Produtos farmacêuticos, lâmpadas fluorescentes, interruptores, pilhas e baterias, tintas, fungicidas, termômetros etc. Distúrbios renais, lesões neurológicas, alterações do metabolismo, deficiência nos órgãos sensoriais, irritabilidade, insônia, cegueira, surdez etc. Chumbo Tintas, impermeabilizantes, cerâmica, cerâmica, vidro, inseticidas, baterias Perda de memória, dor de cabeça, anemia, paralisia, etc. Cádmio Plásticos, baterias e pilhas, pigmentos, papéis etc. Dores reumáticas, distúrbios metabólicos, osteoporose, disfunção renal etc. Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), 1996, apud MMA, 2005. Finalizando esta unidade, reiteramos que o principal agente em relação aos resíduos sólidos urbanos é a prefeitura. Cabe a ela fazer a coleta e o destino dos resíduos domiciliares, de varrição e de poda da área urbana. Mas também é fundamental a participação e conscientização de toda a população em relação a tais questões e de políticas educativas para ampliar este processo de conscientização, tanto para contribuir para práticas mais adequadas em relação aos resíduos quanto para, como cidadão, acompanhar e cobrar os diversos níveis de governo sobre tais práticas. 19 UNIDADE Resíduos Sólidos Urbanos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites www.lixo.com.br Ministério do Meio Ambiente (MMA) http://www.mma.gov.br/ Vídeos Fechamento do lixão de Gramacho Programa Profissão Repórter. Fechamento do lixão de Gramacho, Rede Globo. https://goo.gl/l8XeuT Filmes Lixo Extraordinário Documentário, 2010. O documentário mostra a trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina localizado na periferia de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz e seguir para prestigiadas casas de leilões internacionais. Pode ser encontrado em sites de busca. Leitura Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2012 Associação Brasileira Das Empresas De Limpeza Pública E Resíduos Especiais (ABRELPE). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2012. Edição Especial 10 anos. São Paulo, 2013 https://goo.gl/3264tH 20 21 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. NBR8419, Rio de Janeiro, 1996. BRASIL. Presidência da República. Lei n. 12305/2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE (MMA). Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, Set. de 2011. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/253/_ publicacao/253_publicacao02022012041757.pdf. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Planos de gestão de resíduos sólidos: manual de orientação. Brasília, MMA, 2012. Disponível em: http://www.mma.gov. br/estruturas/182/_arquivos/manual_de_residuos_solidos3003_182.pdf MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). A política dos 5 R’s. Brasília, s/d. Disponível em: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/ item/9410-a-pol%C3%ADtica-dos-5-r-s. Acesso em 10/10/2014. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Consumo sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005, p. 25-40; p. 97-113. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao8. pdf. Acesso em 07/08/2015. SECRETARIA DO ESTADO DO MEIO AMBIENTE. Resíduos Sólidos. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. São Paulo: SMA, 2010. TONANI, P. Responsabilidade decorrente da poluição por resíduos sólidos: de acordo com a Lei 12.305/2010 – institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2011. 21
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