Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2021 Tópicos EspEciais Em BiomEdicina Prof. Carlos Rafael Vaz 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Carlos Rafael Vaz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: V393t Vaz, Carlos Rafael Tópicos especiais em biomedicina. / Carlos Rafael Vaz – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 245 p.; il. ISBN 978-65-5663-988-8 ISBN Digital 978-65-5663-985-7 1. Medicina. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 aprEsEnTação Olá, acadêmico! Vamos iniciar os estudos do Livro Didático de Tópicos Especiais. Este livro está dividido em três unidades e tem o intuito de apresentar e reforçar temas no componente de Formação Geral e específica para o curso de Biomedicina, conforme orientação do INEP. A partir das orientações, queremos que você compreenda que aprender a questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que, ao final do estudo deste livro, você seja capaz de formular novas perguntas sobre a realidade humana e consiga propor soluções responsáveis para os desafios profissionais que surgirem. Assim, este livro traz conteúdos gerais e específicos para você estar bem preparado para o ENADE e também para o que a vida lhe apresentar. São temas pertinentes, atuais, abrangentes e que fazem parte da vida de todos nós. Vamos começar?! Na primeira unidade, iremos abordar os principais tópicos do questionário de formação geral do ENADE, tendo como base a Portaria n° 517, de 31 de maio de 2019, que dispõe: [...] no componente de Formação Geral, tomará como referência do perfil do concluinte as seguintes características: I - ético e comprometido com questões sociais, culturais e ambientais; II - comprometido com o exercício da cidadania; III - humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e cultural historicamente construídos, que transcendam a área de sua formação; IV - proativo e solidário na tomada de decisões; e V - colaborativo e propositivo no trabalho em equipes e/ou redes que integrem diferentes áreas do conhecimento, atuando com responsabilidade socioambiental (BRASIL, 2019b). Iremos tratar também sobre cidadania e sociedade, seremos conduzidos por um mundo intrínseco do comportamento humano em sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica, na qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia, à ética e à cidadania. Dessa forma, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais na relação indivíduo e sociedade. Para as Unidades 2 e 3 utilizamos como base no artigo 7° da Portaria n° 491, de 31 de maio de 2019, em que se dispõem os componentes específicos para a área do curso de biomedicina. [...] no componente específico da área de Biomedicina, tomará como referencial os conteúdos que contemplam: I. Ciências exatas aplicadas à Biomedicina: abordagens, processos e métodos físicos, químicos, matemáticos, estatísticos e de bioinformática como suporte à Biomedicina; II. Ciências biológicas e da Saúde: bases estruturais, moleculares e celulares dos processos fisiológicos e patológicos, bem como processos bioquímicos, farmacológicos, parasitológicos, microbiológicos, imunológicos e genéticos no processo saúde-doença; III. Ciências humanas e sociais aplicadas à Biomedicina: as diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, envolvendo ética e bioética, filosofia, sociologia, antropologia, políticas públicas, gestão e deontologia; IV. Ciências da Biomedicina: processos relacionados a saúde, doença e meio ambiente, com ênfase nos processos laboratoriais (análises clínicas, toxicológicas, citopatológicas, histoquímicas, moleculares e genéticas, hemoterápicas, bromatológicas e ambientais) (BRASIL, 2019a). Também trataremos dos principais processos envolvidos o profissional biomédico, desde a recapitulação da formação do curso, áreas de atuação e código de ética, até os principais processos relacionados à saúde que está presente no dia a dia do profissional biomédico. Desse modo, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores pelas as normativas associadas às Diretrizes Curriculares Nacionais e à legislação profissional, e as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Biomedicina, Resolução CNE/CES n° 2, de 18 de fevereiro de 2003. Esperamos que este estudo possa auxiliá-lo na dos temas que compõem este Livro Didático, preparar-se bem para o ENADE e levar para a vida as abordagens aqui feitas. Bons estudos! Prof. Carlos Rafael Vaz Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA sumário UNIDADE 1 —FORMAÇÃO GERAL ................................................................................................ 1 TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA ................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A DEMOCRACIA EM PAUTA .......................................................................................................... 4 3 A QUESTÃO DA ÉTICA .................................................................................................................... 9 4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA ............................................................ 15 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................19 TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO ........................ 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO ............................................................................ 23 3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO........................................................................... 25 4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO .................. 26 5 MOVIMENTO FEMINISTA ............................................................................................................ 27 5.1 FEMINISMO .................................................................................................................................. 27 5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA ............................................................................................. 28 5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA ............................................................................................. 28 5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS ESTUDOS DE GÊNERO ...... 29 6 CONCEITUANDO GÊNERO.......................................................................................................... 30 7 ESTUDOS DE GÊNERO .................................................................................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 38 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 — RELAÇÕES DE TRABALHO .................................................................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO ............................................................ 45 3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................... 50 4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS ............................................................ 51 4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL ............................................................. 52 4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL .............................. 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 57 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58 TÓPICO 4 — POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE ............................................................................ 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 CONCEITO DE SAÚDE ................................................................................................................... 63 3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO .......................................................... 65 4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE ......................................................................................... 67 5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE ................................................................................ 70 5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS ...................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 77 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA I ........................................... 81 TÓPICO 1 —O PROFISSIONAL BIOMÉDICO ............................................................................. 83 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 83 2 CONSELHOS DE BIOMEDICINA ................................................................................................ 84 2.1 CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA ........................................................................... 84 2.2 CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA ........................................................................ 84 3 HABILITAÇÕES ................................................................................................................................ 85 3.1 BIOMÉDICO PATOLOGISTA CLÍNICO ................................................................................... 87 3.2 BIOMÉDICO ESTETA .................................................................................................................. 88 4 CÓDIGO DE ÉTICA DO BIOMÉDICO ........................................................................................ 89 4.1 DEVERES DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO ......................................................................... 89 4.2 DIREITOS DO PROFISSIONAL BIOMÉDICO ......................................................................... 91 4.3 LIMITES PARA PROPAGANDA, PUBLICIDADE E ANÚNCIO DA ATIVIDADE BIOMÉDICA .................................................................................................................................. 92 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 95 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96 TÓPICO 2 — LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E CONTROLE DE QUALIDADE ..... 99 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 99 2 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS ............................................................................ 100 2.1 PROCESSOS OPERACIONAIS ................................................................................................ 101 2.1.1 Fase Pré-analítica .............................................................................................................. 102 2.1.2 Fase Analítica...................................................................................................................... 103 2.1.3 Fase Pós-analítica .............................................................................................................. 107 3 CONTROLE DE QUALIDADE ..................................................................................................... 109 3.1 CONTROLE INTERNO DE QUALIDADE ............................................................................ 109 3.2 CONTROLE EXTERNO DE QUALIDADE ............................................................................ 110 3.3 REGRAS DE CONTROLE DE QUALIDADE ......................................................................... 110 3.3.1 Ciclo PDCA ......................................................................................................................... 110 3.3.2 Gráfico de Levey-Jennings................................................................................................ 111 3.3.3 Regras de Westgard ........................................................................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 3 — PROCESSOS BIOQUÍMICOS ................................................................................ 121 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 121 2 MACROMOLÉCULAS ................................................................................................................... 121 3 CARBOIDRATOS ............................................................................................................................ 122 3.1 DIABETES MELLITUS (DM) ..................................................................................................... 124 3.2 DIAGNÓSTICO DA D. M. ........................................................................................................ 125 4 PROTEÍNAS ..................................................................................................................................... 126 4.1 ENZIMAS ..................................................................................................................................... 126 4.1.1 Enzimas Cardíacas ............................................................................................................. 127 4.1.2 Enzimas hepáticas ............................................................................................................ 129 5 LIPÍDEOS ......................................................................................................................................... 129 5.1 PERFIL LIPÍDICO ....................................................................................................................... 130 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 133 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 138 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 139 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 147 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM BIOMEDICINA II ....................................... 153 TÓPICO 1 — PROCESSOS HEMATOLÓGICOS ........................................................................ 155 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 155 2 HEMATOPOIESE ............................................................................................................................ 156 2.1 LEUCOPOIESE ........................................................................................................................... 156 2.2 ERITROPOIESE ........................................................................................................................... 157 3 HEMOGRAMA ................................................................................................................................ 157 4 ANEMIAS ......................................................................................................................................... 158 4.1 ANEMIA FERROPRIVA ............................................................................................................ 159 4.2 ANEMIA FALCIFORME .......................................................................................................... 159 5 LEUCEMIAS .................................................................................................................................... 160 5.1 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS MIELOIDES .......................................................................... 161 5.1.1 LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA (LMA) ....................................................................... 161 5.1.2 LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) ................................................................... 163 5.2 NEOPLASIAS DAS CÉLULAS LINFOIDES .......................................................................... 163 5.2.1 LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA (LLA) ......................................................................... 164 5.2.2 LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA (LLC) ..................................................................... 166 6 HEMOSTASIA ................................................................................................................................. 166 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 2 — PROCESSOS IMUNOLÓGICOS ........................................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 ANTÍGENO E ANTICORPO ......................................................................................................... 176 3 IMUNIDADE INATA E IMUNIDADE ADAPTATIVA ........................................................... 177 4 HIPERSENSIBILIDADES ............................................................................................................. 178 5 DOENÇAS AUTOIMUNES ........................................................................................................... 179 6 IMUNOENSAIOS ............................................................................................................................ 179 6.1 TÉCNICA EM AGLUTINAÇÃO EM LÁTEX ......................................................................... 179 6.2 NEFLOMETRIA E TURBIDIMETRIA ..................................................................................... 180 6.3 IMUNOCROMATOGRAFIA .................................................................................................... 181 6.4 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO (ELISA) ............................................................................... 181 6.5 ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DE MICROPARTÍCULAS ............................................... 183 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 184 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 185 TÓPICO 3 — PROCESSOS MICROBIOLÓGICOS .................................................................... 191 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 191 2 BACTERIOLOGIA CLÍNICA ........................................................................................................ 192 2.1 IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA .......................................................................................... 194 2.1.1 Morfologia bacteriana ....................................................................................................... 195 2.1.2 Parede Celular .................................................................................................................... 196 2.1.3 Meios de cultura ................................................................................................................ 198 2.2 TESTES DE SENSIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS .................................................. 198 3 PARASITOLOGIA........................................................................................................................... 199 3.1 HELMINTOS NEMATÓDEOS .................................................................................................200 3.2 HELMINTOS PLATYHELMINTHES ...................................................................................... 200 3.3 PROTOZOÁRIOS ....................................................................................................................... 200 3.4 DIAGNÓSTICO ......................................................................................................................... 201 3.4.1 Método direto .................................................................................................................... 201 3.4.2 Sedimentação espontânea ................................................................................................ 202 3.4.3 Baermann e Rugai .............................................................................................................. 203 3.4.4 Centrifugação-flutuação ................................................................................................... 203 4 VÍRUS ................................................................................................................................................ 205 4.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ..................................................................... 205 4.2 HEPATITES ................................................................................................................................. 208 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 211 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 212 TÓPICO 4 — PROCESSOS GENÉTICOS ..................................................................................... 221 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 221 2 HEREDOGRAMAS ......................................................................................................................... 224 3 REAÇÃO EM CADEIRA DA POLIMERASE (PCR) ................................................................. 225 4 SEQUENCIAMENTO ..................................................................................................................... 227 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 229 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 236 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 237 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 243 1 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e sociodiversidade; • identificar a importância da responsabilidade social e os três setores: público, privado e terceiro setor para uma sociedade equânime; • refletir sobre relações de trabalho; • conhecer e analisar as principais características das políticas públicas de saúde do Brasil. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA TÓPICO 2 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO TÓPICO 3 – RELAÇÕES DE TRABALHO TÓPICO 4 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 1 INTRODUÇÃO Entraremos no mundo do comportamento humano em sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica, no qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à democracia e à cidadania. Esses conceitos estão previstos na Portaria INEP n° 493 de 6 de junho de 2017, em seu Art. 1°, que destaca: O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), parte integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares, às habilidades e competências para atuação profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento (BRASIL, 2017, grifos nossos). A mesma portaria, em seu Art. 5°, indica como referência do perfil do concluinte, no âmbito da Formação Geral, as seguintes características: I- ético e comprometido com as questões sociais, culturais e ambientais; II- humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e cultural, historicamente construídos, que transcendam o ambiente próprio de sua formação; III- protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade para práticas de letramento, voltadas para o exercício pleno de cidadania; IV- proativo, solidário, autônomo e consciente na tomada de decisões pautadas pela análise contextualizada das evidências disponíveis; V- colaborativo e propositivo no trabalho em equipes, grupos e redes, atuando com respeito, cooperação, iniciativa e responsabilidade social (BRASIL, 2017). UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 4 E no Art. 6° é indicado que a prova ENADE avaliará se o concluinte desenvolveu, no processo de formação, competências para: I- fazer escolhas éticas, responsabilizando-se por suas consequências; II- ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência; III- compreender as linguagens como veículos de comunicação e expressão, respeitando as diferentes manifestações étnico- culturais e a variação linguística; IV- interpretar diferentes representações simbólicas, gráficas e numéricas de um mesmo conceito; V- formular e articular argumentos consistentes em situações sociocomunicativas, expressando-se com clareza, coerência e precisão; VI- organizar, interpretar e sintetizar informações para tomada de decisões; VII- planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da análise de necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos; VIII- buscar soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações problema; IX- trabalhar em equipe, promovendo a troca de informações e a participação coletiva, com autocontrole e flexibilidade; X- promover, em situações de conflito, diálogo e regras coletivas de convivência, integrando saberes e conhecimentos, compartilhando metas e objetivos coletivos (BRASIL, 2017). Para tanto, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões ético-morais, na relação indivíduo e sociedade. 2 A DEMOCRACIA EM PAUTA Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Será que todos nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos na sociedade brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado Democrático de Direito em que vivemos? Neste sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de escolha de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida habitualmente somente como um processo de escolha dos nossos representantes legaisem todas as esferas, tanto local, municipal, estadual quanto federal, no qual a população dessas esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu representante para legislar em nome dessa mesma população. Assim, “podemos considerar que a democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 133, grifos do original). TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 5 Deste modo, pode-se observar que a democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta (Quadro 1). O conceito de democracia é notoriamente o entendimento de toda massa populacional brasileira nos dias de hoje, pois quando se indaga às pessoas com relação ao conceito de democracia, é este conceito de escolha de nossos representantes legais, por intermédio do voto popular, que aparece nos discursos da população de nosso país. QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133) Democracia direta Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/ plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas de sua localidade, Estado ou país. Democracia indireta Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto, elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que o represente nas diversas esferas governamentais, para tomar decisões cabíveis em nome do povo que o elegeu. Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida como “método de organização social e política tendente à maior realização da liberdade e da igualdade. [é um] Sistema político em que o povo constitui e controla o governo, no interesse de todos”. Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em democracia, também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo Cunha (2011, p. 138), o “Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera democraticamente”. Nossa Carta Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu um Estado Democrático de Direito, ou seja, a Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República Federativa do Brasil. Assim, segundo Pieritz (2013, p. 133), “este sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da constituição dos princípios ético-morais de cada localidade”. Vale salientar que a democracia vai muito além desse discurso sintético de representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifos nossos) coloca-nos que: existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito, incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da democracia, como também os seus resultados práticos esperados no terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando a abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de competição, participação e contestação pacífica do poder. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 6 Neste sentido, no que tange à conotação que a democracia tem de competição, participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que falar de democracia também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não, além da competição entre partidos políticos e outros grupos econômicos, políticos, culturais e sociais. Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da democracia, que é a questão da “participação do povo”, em que cada cidadão brasileiro é elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois direta ou indiretamente é parte do processo democrático instaurado neste país. Ao proferir sua escolha, independentemente do que for ou de que escolha fora feita, torna-se automaticamente parte do Estado Democrático de Direito e integra-se ao sistema vigente de democracia daquele determinado Estado. Resumidamente, a Figura 1 apresenta o primeiro entendimento da definição e o significado da democracia e o Estado Democrático de Direito. FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO FONTE: Os autores TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 7 Maciel (2012, p. 73, grifos do original) complementa expondo que a democracia “tornou-se uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais propenso a garantir os direitos individuais, porém não se resume simplesmente ao ato de votar, sendo que o direito à participação se tornou uma atividade importante diante da constituição da cidadania”. Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação direta ou indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito do povo em prol de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan (2003, p. 110 apud MACIEL, 2012, p. 73, grifos nossos) complementa expondo que: O direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em sua forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva de respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa, ela invoca a responsabilidade popular no desencadeamento da articulação de políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os governos propõem e os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos propõem e os governos reagem. Em ambas as formas, o direito de participação assume a lógica de colaborar com o desenvolvimento. “No coração da democracia repousa, assim, o direito do cidadão de opinar nos assuntos públicos e de exercer controle sobre o governo, em pé de igualdade com os demais”. Deste modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é a articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social, política, cultural ou econômica. Para que se possa debater coletivamente os prós e contras, no que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando assim respostas a esta mesma demanda. Vale salientar, acadêmico, que a não participação e a omissão também são formas de participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu descontentamento em relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer que aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte do processo democrático de um país, pelo contrário, todo cidadão tem o direito de participar ou não, mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois ao votar ele exprime a sua vontade, ou o seu desejo. Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de forma proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos da decisão coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias para que se possa instaurar um regime governamental pautado na democracia. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 8 QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277) FONTE: <https://bit.ly/3DdjYyW>. Acesso em: 23 ago. 2021. Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por meio de eleições com a participação de todos os membros adultos da comunidade política. A isso se dá o nome de sufrágio universal (direito ao voto). ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas. GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização, em especial, de partidos políticos para competir pelo poder. Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO sobre a ação de governos e a política em geral. Essas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático são de fundamental importância para que haja a participação democráticade um povo em prol dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a democracia vai muito além da simples representação e de voto, ela se efetiva e concretiza-se com a participação, com a competição e a contestação dos processos pacíficos da busca do poder no Estado Democrático de Direito. Sucintamente, a Figura 2 apresenta a ampliação da compreensão do entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado: FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA FONTE: Os autores TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 9 Caro acadêmico, para colaborar com seus estudos, veja que a junção das Figuras 1 e 2 proporciona o entendimento global do que é democracia. ATENCAO 3 A QUESTÃO DA ÉTICA O tema que abordaremos neste momento é relativo à questão da ética, a qual permeia constantemente nosso dia a dia, seja no âmbito familiar, social ou profissional. Acadêmico, aparentemente, compreendemos o seu significado e seus efeitos, mas será que realmente compreendemos o seu sentido real? Será que sabemos o que é certo ou errado para nós na sociedade em que vivemos? Neste sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) expõem que “a ética é uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência com os outros [...]”. Em outros termos, as nossas ações perante a sociedade em que vivemos são orientadas por princípios éticos e morais, e esses princípios são norteadores de consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal. De modo mais abrangente, a ética pode ser conceituada como a área da filosofia que investiga o agir humano, tanto aqueles com repercussão social, quanto aqueles sem maiores impactos na sociedade, ou seja, não somente os atos relativos à convivência com os outros, mas também consigo mesmo. Assim, no que tange a esta problemática relativa à ética, Pieritz (2013, p. 3) expõe que “a ética não é facilmente explicável, mas todos nós sabemos o que é, pois está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade”. E que esses valores éticos são construídos historicamente pelos povos, de geração em geração. O que são valores? Pedro (2014, p. 490) faz um resgate etimológico da palavra Axiologia, de origem grega, que significa estudo dos valores ou ciência do valor, e aponta para um significado, o da vivência do valor, independentemente do valor que for, pois este é experienciado como um fenômeno que se apresenta à consciência como tal e como um acontecimento que nos é imediatamente dado. Para a filósofa húngara Agnes Heller (1972, p. 4), “valor é tudo aquilo que faz parte do ser genérico do homem e contribui, direta ou mediatamente para a explicação desse ser genérico”. Vejamos no Quadro 3 quais são os atributos dos valores humanos na perspectiva de Heller: UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 10 QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS FONTE: Adaptado de Paulo Netto (2010, p. 23) OBJETIVAÇÃO • que se expressa prioritariamente por intermédio do trabalho;• que proporciona sair do subjetivo e passar para o real e concreto. SOCIALIDADE • que se expressa com a convivência com o outro, em grupo; • aprendizagem com o outro; • assimilação de normas sociais. CONSCIÊNCIA • tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa; • reconhecimento da realidade; • descoberta de algo; • capacidade de perceber as coisas. UNIVERSALIDADE • universal; • o todo; • fazer parte de um determinado grupo. LIBERDADE • livre-arbítrio. Portanto, os atributos dos valores humanos apresentados no Quadro 3 são os elementos constitutivos do ser humano, do ser social, que formam os nossos valores morais. Complementando, no Quadro 4 apresentamos mais exemplos dos valores e virtudes do ser humano, que vive e convive em sociedade. QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS FONTE: Os autores Amizade Justiça Compreensão Respeito Simplicidade Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade Deste modo acadêmico, podemos expor que “todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a esses valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal” (PIERITZ, 2012, p. 57). Não podemos nos esquecer de que “esta consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal e outras regras e normas de nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 4). São estas regras e normativas jurídicas e sociais que determinam o nosso agir em sociedade, e cada grupo social possui suas características, ou seja, não se pode dizer que todos nós somos iguais, que todas as nações e Estados são TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 11 iguais, porque não somos, pois, independentemente do Estado, do país ou grupo social, fomos moldando nossos valores e princípios de forma diferente ao longo de nossa existência. Agora, acadêmico, raciocine o seguinte: se é um fato que nossa consciência moral é construída no seio de uma sociedade e com a influência do meio e das pessoas com as quais convivemos, há ainda outros fatores que concorrem para a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural – pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades políticas, é algo mais profundo que elas, constitui-se na própria natureza humana em sua universalidade (ROHLING, 2012). Segundo Valls (2003, p. 8): costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas específicos, de aplicação concreta, como os problemas da ética profissional, de ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc. Em outros termos, os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade. Neste sentido, vale salientar que “cada sociedade possui suas normas de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social constitui o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e vice-versa” (PIERITZ, 2013, p. 4). Então, como desvelar esta situação? Como saber se estamos no caminho certo? Se estamos fazendo certo ou errado? Ou se realmente estamos fazendo o bem ou o mal a alguém? São muitas indagações! Para auxiliar a reflexão sobre essas questões, Finnis (filósofo e jurista australiano) identifica sete valores básicos, os quais são os seguintes: I) vida; II) o conhecimento; III) o jogo; IV) a experiência estética; V) a sociabilidade; VI) a razoabilidade prática; e, VII) a religião. Esses valores, contudo, não são os únicos, pois existem, evidentemente, muitos outros, os quais, segundo propõe o autor, são modos ou combinações de modos de buscar – embora nem sempre com sensatez – e de realizar – nem sempre exitosamente – uma das sete formas básicas de bem, ou alguma combinação delas (ROHLING, 2012, p. 163). Neste sentido, podemos observar ainda que: os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar o comportamento moral (TOMELIN;TOMELIN, 2002, p. 90). UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 12 Podemos expor que, deste ponto de vista, existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído e legitimado pelo seu povo. Enfim, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89, grifos do original) complementam expondo que “a palavra ética provém do grego ethos e significa hábitos, costumes, e se refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim moralis e significa costume, conduta. Logo, conforme Pieritz (2012, p. 58, grifos nosso): A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom ou mal. Porém, este comportamento sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente de cada grupo social. Por conseguinte, “o ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade” (VÁZQUEZ, 2005, p. 20), ou seja, a ética está para regular o nosso comportamento em sociedade. Complementando, Vázquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens [...]”, ou seja, “o valor de ética está naquilo que ela explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso). Devemos compreender as diferenças conceituais de ética e moral, pois “podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19). Todavia, o que é a moral? Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos do original), “a MORAL vem do latim mos, moris, que significa ‘costume’, ‘maneira de se comportar regulada pelo uso’, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo aos costumes’”. Assim, a moral é compreendida como um conjunto de regras de condutas socialmente admitidas em determinadas épocas ou por um grupo de pessoas, ou seja, “a moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os sentimentos e os costumes determinam o seu comportamento individual e social, que foi ou está sendo perpetuado num espaço de tempo” (PIERITZ, 2013, p. 35). TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 13 Ainda de acordo com Pieritz (2013, p. 38): A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade em que vivemos. Estes deveres são conectados ao nosso modo de ser e conviver em sociedade, gerando certas responsabilidades com relação a si próprio e aos outros, tais como: • sentimentos; • escolhas; • desejos; • atitudes; • posicionamentos diante da realidade; • juízo de valor; • senso moral; • consciência moral. Sob estas concepções de ética e moral, apresentamos as suas principais diferenças na Figura 3: FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90) Nasce da necessidade de ajudar cada membro aos interesses coletivos do grupo. É a CIÊNCIA que estuda a moral. É o MODO DE VIVER e agir de cada povo, em cada cultura. É a REFLEXÃO SISTEMÁTICA sobre o comportamento moral. É O CONJUNTO DE NORMAS, prescrição e valores reguladores da ação cotidiana. É a parte da filosofia que trata da REFLEXÃO DOS PRINCÍPIOS universais da humanidade. VARIA no tempo e no espaço. São os VALORES HUMANOS universais e fundamentais. São valores concernentes ao BEM e ao MAL, permitindo ou proibindo. É a TEORIA do comportamento moral. Conjunto de normas e regras reguladoras da relação entre os homens de uma determinada comunidade. É a COMPREENSÃO SUBJETIVA do ato moral. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 14 Assim, podemos observar que existem diferenças concretas entre estes dois conceitos, no entanto, ainda devemos compreender que: FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL FONTE: Paulo Netto (2010, p. 23) Assim, concluímos que a moral: Vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes são constituídos por esta relação social, em que a essência humana é pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente regular e analisar estes preceitos morais (PIERITZ, 2013, p. 21). Por conseguinte, segundo Pieritz (2013, p. 21, grifo nosso), “a ética é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais como: Capitalismo e Socialismo”. Por fim, Pieritz (2013, p. 21) expõe que “quando é constituída uma nova estrutura social, a ética, os valores e princípios morais são modificados para constituir assim esta nova concepção de sociedade”. Ou seja, historicamente, com as transformações sociais, políticas e econômicas de um povo, automaticamente o sistema de valores morais e éticos se transforma, para que assim seja possível constituir um novo padrão sócio-histórico daquele determinado grupo. E a ANÁLISE dos FUNDAMENTOS DA MORAL. É um sistema MUTÁVEL. HISTORICAMENTE determinado pela própria sociedade. MORAL ÉTICA De COSTUMES e IMPERATIVOS que propiciam a vinculação de cada indivíduo em sociedade. Com a ESSÊNCIA HUMANA historicamente constituída. Com o SER SOCIAL tomado na sua UNIVERSALIDADE. Tomando na sua SINGULARIDADE. TÓPICO 1 — DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA 15 Salientando ainda que nesse processo de transformação social devemos respeitar a permanência de alguns valores socialmente construídos, como a solidariedade, a igualdade e a fraternidade, para que todos possamos construir uma sociedade mais justa, ética, democrática e cidadã. 4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA No que tange às questões pertinentes à cidadania, partiremos de sua concepção advinda do Título I – “Dos Princípios Fundamentais” da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual assim expressa: Art. 1° A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I- a soberania; II- a cidadania; III- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V- o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, [2016], p. 11). Neste sentido, podemos observar que um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania, mas você sabe o seu significado? Vejamos: cidadania “é um conjunto de direitos e deveres que denotam e fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo em relação à sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 132). Neste sentido: Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca esquecer das pessoas que mais necessitam.A cidadania deve ser divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação, para o bem-estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e bom dia quando necessário [...], até saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em nosso país. ‘A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso dos deveres impostos aos cidadãos’. Juarez Távora - Militar e político brasileiro (WEB CIÊNCIA, 2009 apud PIERITZ, 2013, p. 132). Portanto, podemos observar que a cidadania possui três dimensões. UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 16 QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133) DIMENSÕES DA CIDADANIA Cidadania civil São aqueles direitos advindos da LIBERDADE de cada indivíduo, por exemplo: • o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos; • o direito de propriedade (venda e compra de um imóvel, um bem ou serviço); entre outros. Cidadania política Podemos considerar que a cidadania política se legitima quando os homens exercem seu poder político de ELEGER e SER ELEITOS para o exercício do poder político, independentemente da instituição pública ou privada na qual venham exercer suas atribuições. Cidadania social Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao CONFORTO de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica e social, ou seja, do seu bem-estar social. A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. Além de que a cidadania é participação nos espaços públicos de discussão, a qual permeia as questões de democracia e ética de toda a população daquele determinado grupo social, político ou econômico. Nesse sentido, tem-se a participação como um mecanismo do exercício da cidadania, ou seja, “O conceito contemporâneo de cidadania transcende a simples lógica da garantia de direitos legais. Segundo a concepção de Dallari (2004 apud MACIEL, 2012, p. 31), a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar da vida e do governo de seu povo”. Portanto, a palavra de ordem é “participar”, fazer parte do processo democrático, pois, de acordo com Maciel (2012, p. 32), quem não exerce sua cidadania “está excluído da vida social e da tomada de decisões. A cidadania não significa apenas uma conquista legal de alguns direitos, mas sim a realização destes direitos. Ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social”. Vale salientar que a cidadania é conquistada pela nossa participação nos momentos das discussões e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela participação ativa de nossa vida em sociedade e na vida pública. 17 Neste tópico, você aprendeu que: • A compreensão do significado mais usual da democracia denota que a democracia é compreendida como um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. • A democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta. • A democracia é compreendida popularmente como a escolha de nossos representantes legais, por intermédio do voto popular. • O Estado Democrático de direito é aquele que se organiza e opera democraticamente. • A Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República Federativa do Brasil. • A democracia também está atrelada ao conceito do “jogo de poderes”, principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas governamentais ou não. • É importante relembrar que o elemento fundamental da democracia é a “participação do povo”. • A ética é uma das áreas da filosofia que investiga o agir humano na convivência com os outros. • A ética está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes da sociedade. • Todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal. • A consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem. • Os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade. RESUMO DO TÓPICO 1 18 • Existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética regula a moral, a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído e legitimado pelo seu povo. • A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom ou mal. • O valor da ética está naquilo que ela explica, o fato real daquilo que foi ou é, e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral. • Um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania. • A cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade. • A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. • Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços democráticos do seu município, Estado ou Federação. A participação é compreendida como um mecanismo do exercício da cidadania. 19 AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2010) As seguintes acepções dos termos democracia e ética foram extraídas do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. democracia. POL. 1 governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania 2 sistema político cujas ações atendem aos interesses populares 3 governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade 4 sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos 5 governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão das minorias. ética. 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. 2 p.ext. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Considerando as acepções anteriores, elabore um texto dissertativo, com até 15 linhas, acerca do seguinte tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas. Em seu texto, aborde os seguintes aspectos: FONTE: <https://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2010/ padrao_respostas_discursivas_FORMACAO_GERAL_2010.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) conceito de sociedade democrática; b) evidências de um comportamento nãoético de um indivíduo; c) exemplo de um comportamento ético de um futuro profissional comprometido com a cidadania. 2 (ENADE, 2010) 20 A charge anterior representa um grupo de cidadãos pensando e agindo de modo diferenciado, frente a uma decisão cujo caminho exige um percurso ético. Considerando a imagem e as ideias que ela transmite, avalie as alternativas que seguem. I- A ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão; cada um terá que escolher por si mesmo os seus valores e ideias, isto é, praticar a autoética. II- A ética política supõe sujeito responsável por suas ações e pelo seu modo de agir na sociedade. III- A ética pode se reduzir ao político, do mesmo modo que o político pode se reduzir à ética, em um processo a serviço do sujeito responsável. IV- A ética prescinde de condições históricas e sociais, pois é no homem que se situa a decisão ética, quando ele escolhe os seus valores e as suas afinidades. V- A ética se dá de fora para dentro, como compreensão do mundo, na perspectiva do fortalecimento dos valores pessoais. Estão CORRETAS: FONTE: <https://respostas-br.com/sociologia/enade-2010-a-charge-acima- represent-24131334>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) ( ) I e II. b) ( ) I e V. c) ( ) II e IV. d) ( ) III e IV. e) ( ) III e V. 3 (ENADE, 2006) A formação da consciência ética, baseada na promoção dos valores éticos, envolve a identificação de alguns conceitos como: “consciência moral”, “senso moral”, “juízo de fato” e “juízo de valor”. A esse respeito, leia os quadros a seguir. Quadro I - Situação Helena está na fila de um banco, quando, de repente, um indivíduo, atrás na fila, se sente mal. Devido à experiência com seu marido cardíaco, tem a impressão de que o homem está tendo um infarto. Em sua bolsa há uma cartela com medicamento que poderia evitar o perigo de acontecer o pior. Helena pensa: "Não sou médica - devo ou não devo medicar o doente? Caso não seja problema cardíaco - o que acho difícil -, ele poderia piorar? Piorando, alguém poderá dizer que foi por minha causa - uma curiosa que tem a pretensão de agir como médica. Dou ou não dou o remédio? O que fazer?" Quadro II - Afirmativas 1- O “senso moral" relaciona-se à maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes, nosso comportamento, a conduta e a ação de outras pessoas segundo idéias como as de justiça e injustiça, certo e errado. 2- A "consciência moral" refere-se a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. 21 Qual afirmativa e respectiva razão fazem uma associação mais adequada com a situação apresentada? FONTE: <https://enem.estuda.com/questoes/?id=111412>. Acesso em: 23 ago. 2021. a) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” se manifesta como consequência da “consciência moral”, que revela sentimentos associados às situações da vida. b) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” pressupõe um “juízo de fato”, que é um ato normativo enunciador de normas segundo critérios de correto e incorreto. c) ( ) Afirmativa 1 – porque o “senso moral” revela a indignação diante de fatos que julgamos ter feito errado provocando sofrimento alheio. d) ( ) Afirmativa 2 – porque a “consciência moral” se manifesta na capacidade de deliberar diante de alternativas possíveis que são avaliadas segundo valores éticos. e) ( ) Afirmativa 2 – porque a “consciência moral” indica um “juízo de valor” que define o que as coisas são, como são e por que são. 4 Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um indivíduo em um Estado, e ela possui três dimensões, disserte sobre a diferença entre elas. 5 Segundo Pieritz (2013) “[...]a moral determina quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade [...]”. Descreva quais são as responsabilidades que esses deveres geram em relação a si mesmo e aos outros. FONTE: PIERITZ, V. L. H. Ética profissional em serviço social. Indaial: UNIASSELVI, 2013. 22 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/ INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, vamos trabalhar o conceito de multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento do movimento e os campos de conhecimento que acolhem os estudos multiculturais. Nesse sentido, temos como objetivo situar o multiculturalismo do ponto de vista político (movimentos sociais multiculturais e políticas públicas) e teórico (ciências multiculturalistas), visando oferecer conteúdo de base para a interpretação desse campo de estudos. No desenvolvimento deste tópico, também será abordado os temas tolerância/intolerância e relações de gênero, discutindo de modo reflexivo os conceitos de feminismo e ideologia de gênero. O objetivo é apresentar diferentes pontos de vista para os referidos conceitos, e conduzir o acadêmico a uma reflexão crítica da realidade, de modo que possa – com embasamento crítico e sempre que possível científico – compreender melhor esses temas. 2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o termo “multi” significa vários; o termo “culturalismo” refere-se à cultura; e o sufixo “ismo” está associado às posições assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade do conhecimento, ou seja, no caso do multiculturalismo significa uma posição assumida sobre as diferentes relações entre as várias culturas. O ‘multiculturalismo’ é um termo polissêmico e existem, pelo menos, dois sentidos diferentes em que este pode ser utilizado. Um primeiro sentido é descritivo e reporta a um fato da vida humana e social, que é a diversidade cultural étnica, religiosa que se pode observar no tecido social, ou seja, um certo cosmopolitismo que atualmente é fácil de ver em qualquer grande cidade da Europa e da América do Norte. Um segundo sentido é prescritivo e está associado às chamadas políticas de reconhecimento da identidade e/ou da diferença que os poderes públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, segundo os seus defensores, em nome dos grupos minoritários e/ou ‘subalternos’ (FERNANDES, 2011, p. 2, grifos do original). 24 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL Acadêmico, dizendo de outra forma, multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas, assim como o embate político, econômico e social travado pelos diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. Por isso, além de estudos teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de reivindicações das chamadas minorias ou grupos marginalizados, como os negros, índios, mulheres, homossexuais e outros tantos que buscam assegurar seus direitos sociais através de políticas públicas de ação afirmativa. FIGURA 5 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA O SÉCULO XXI FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-JGK5TSr7cvo/TY5Jrp-kBYI/AAAAAAAAAE8/59-aSOEc0lI/ s748/000489140.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017. O multiculturalismo é pluralista, porque as diferenças coexistem em um mesmo país ou região. Ali convivem diferentes culturas, valores e tradições. Há o diálogo e convivência pacífica entre as culturas diversas. No entanto, esta coexistência pacífica não significa negar as diferenças entre as culturas, nem as homogeneizar, mas compreendê-las a partir de uma visão dialética sobre os termos igualdade e diferença, na medida em que não se pode falar em igualdade sem levar em conta as diferenças culturais, e não se pode relacionar a diferença como medida de valor. De acordo com o que vimos podemos entender que igualdade e diferença não são termos opostos. Na verdade, a igualdade opõe-se à desigualdade, enquanto diferença opõe-se à padronização, à homogeneização, à produção em série. O que o multiculturalismo quer é lutar pelaigualdade e pelo reconhecimento das diferenças. Por esse motivo, um dos temas centrais do multiculturalismo tem sido o Direito à Diferença e à Diminuição das Desigualdades, bandeira de luta de vários movimentos sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro. TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 25 3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO O termo multiculturalismo é relativamente recente e sua utilização ocorreu pela primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. De acordo com Fernandes (2006), o multiculturalismo surgiu na linguagem oficial do Canadá e na Austrália, para designar as políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou promover a diversidade cultural. Ainda nesse período, o autor destaca que outros países anglo-saxônicos, como o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também iniciam políticas públicas qualificadas como multiculturais. Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes de povos germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é resultado da fusão desses povos que se fixaram ao sul e leste da Grã-Bretanha, no século V. NOTA Tomando como base o caso dos Estados Unidos, o multiculturalismo surge como movimento organizado na década de 1960, a partir dos primeiros movimentos sociais, como: o negro, feminista, hippie, ambientalista, entre outros. No entanto, para entender o motivo pelo qual esses movimentos surgiram, devemos resgatar o aspecto da constituição histórica dos Estados Unidos, marcada por um longo processo de colonização, que teve como base a eliminação e a opressão das diversas tribos indígenas que ali estavam. Além disso, prezado acadêmico, devemos levar em conta o processo de escravidão que ocorreu no país, no qual os negros serviram como base para o desenvolvimento da nação. Essas posturas dos colonizadores norte-americanos foram influenciadas pelos valores religiosos de igrejas protestantes, comuns à maioria dos colonos de origem anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as atitudes dos colonizadores norte-americanos em relação aos demais grupos, desencadeando, mais tarde, uma série de movimentos pela busca de justiça social. O que queremos destacar neste momento é que, a exemplo do caso dos EUA, o movimento multiculturalista surgiu em grande escala nas sociedades nas quais o direito à diversidade cultural foi historicamente negado. Segundo Silva (2000), o multiculturalismo teve início em países em que a diversidade cultural era vista como um problema para a construção da unidade nacional. Muitas nações construíram suas identidades por intermédio de processos autoritários, pela imposição de uma cultura, dita superior, a todos os membros da sociedade. 26 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO Já entendemos que o multiculturalismo é, ao mesmo tempo, uma rede de movimentos sociais em prol da afirmação dos grupos minoritários, historicamente excluídos pela sociedade. Neste sentido, podemos compreender que o multiculturalismo é um campo de estudos que aborda a problemática dos grupos de forma multidisciplinar. Portanto, vamos tratar agora de alguns aspectos sobre o caráter científico do multiculturalismo, que são os estudos multiculturais. Prezados acadêmicos, vocês sabiam que os estudos multiculturais são provenientes de várias áreas do conhecimento? Pois bem, entre as áreas de conhecimento podemos destacar os campos da Antropologia Cultural, Psicologia Social, História e Sociologia, que abordam diferentes problemas relativos ao multiculturalismo. Algumas áreas se ocupam do ponto de vista histórico do movimento, outras se ocupam da genealogia, outras se ocupam dos processos políticos e sociais que os movimentos promovem, e ainda, outras áreas se ocupam de aspectos epistemológicos do estudo dos movimentos. Enfim, há uma variedade de estudos sobre o tema nas mais diferentes áreas disciplinares. • GENEALOGIA: estudo da origem das famílias. • EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos ramos. NOTA Portanto, o estudo do multiculturalismo requer uma compreensão interdisciplinar do contexto histórico, socioeconômico e cultural desses diferentes grupos sociais e da sua diversidade cultural construída conforme seu tempo e suas condições humanas e geográficas. Abordagem interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de atuação, implicando necessariamente em sua integração para uma compreensão mais ampla do assunto. NOTA TÓPICO 2 — MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO 27 Daí a complexidade em se abordar a temática do multiculturalismo em todas as regiões do planeta, levando em consideração a diversidade e a história dos seus diversos povos em cada um dos cinco continentes e seus diferentes países. No entanto, o multiculturalismo já alcançou um elevado nível na discussão acadêmica. De acordo com Sidekum (2003, p. 9), “esse alcance é a marca principal das últimas décadas do século XX, consolidando-se, especialmente, pelos estudos comparados da cultura, desenvolvidos pela antropologia cultural e pela psicologia aplicada, também conhecida por psicologia social intercultural”. 5 MOVIMENTO FEMINISTA O surgimento dos estudos atuais sobre a condição feminina, o Estudo de Gênero só foi possível porque, ao longo do tempo, o movimento social de mulheres “fez muito barulho”, denunciando as situações de opressão, preconceito e dominação que sofreram. A amplitude do movimento feminista não pode e não deve ser reconhecida apenas como um dos movimentos de luta das mulheres, porque muitas mulheres com perfis e histórias diferentes participaram. Se hoje o gênero representa uma categoria de análise tão importante para as ciências humanas e sociais, é porque se fez legítimo pelas tantas batalhas dos movimentos feministas, tornando-se fundamental para a compreensão das relações humanas. 5.1 FEMINISMO O feminismo é um conceito múltiplo, ele possui uma dimensão política, que se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que se refere aos estudos da condição feminina. A dimensão acadêmica, ou seja, o campo de pesquisa e de conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada multidisciplinar, porque ocorre em diferentes campos disciplinares, como: Antropologia, História, Educação, Sociologia, Direito e vários outros. O principal objetivo do movimento feminista não foi alcançar a igualdade entre homens e mulheres, mas sim a equidade entre eles. Para assegurar a igualdade não deve ser necessário que as mulheres assumam posturas “masculinas”. Elas devem preservar suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não igualdade. Com relação ao Movimento Feminista, ele surgiu no século XVIII, na Europa, especialmente na Inglaterra e França, mas logo repercutiu em outros países e se desenvolveu de diferentes formas e expressões até os dias atuais. Para dar uma ideia de totalidade ao movimento, ele foi dividido em três grandes momentos, que explicam as diferentes concepções e lutas do movimento. 28 UNIDADE 1 — FORMAÇÃO GERAL 5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA Esse primeiro momento do feminismo, chamado “Primeira Onda Feminista”, refere-se a um período extenso de atividade feminista ocorrido durante o século XIX e início do século XX, no Reino Unido, na França e Estados Unidos, que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e na oposição de casamentos arranjados e da propriedade de mulheres casadas (e seus filhos)
Compartilhar