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ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA EPIFISIÓLISE DO FÊMUR PROXIMAL Essa doença caracteriza-se pelo aumento da espessura e consequentemente o enfraquecimento da placa de crescimento proximal no fêmur. É uma das patologias mais comuns que acometem crianças e adolescentes. É mais conhecida como “COXA VARA”. Apenas as crianças apresentam fises/placas de crescimento que são locais onde o osso irá crescer. o No fêmur: A fise fica logo abaixo da cabeça femoral. o As fises são divididas nas seguintes camadas: Pré-Calcificação. Hipertrófica: É o local onde ocorre a fratura. Germinativa. Proliferativa. O escorregamento ocorre na camada hipertrófica durante o estirão do crescimento. o Isso ocorre nessa camada hipertrófica porque ela é maior do que as demais camadas da placa de crescimento, são células gigantes, ficando mais espaçadas uma das outras, configurando fragilidade a camada. o A cabeça/epífise femoral mantém sua relação com o acetábulo, pois a placa de crescimento fica abaixo da cabeça do fêmur, não ocorrendo a luxação. O que vai ocorrer é abaixo da placa de crescimento vai ser o deslocamento. EPIDEMIOLOGIA Acomete mais adolescentes: o Sexo feminino: 11 – 13 anos (logo após a menarca). o Sexo masculino: 13 – 15 anos. Acomete mais negros e sexo masculino. Biotipos mais acometidos: o Obesos, adiposo-genitais com atraso do desenvolvimento sexual secundário (geralmente sem pelos pubianos, meninos com voz mais aguda e meninas sem o crescimento dos mamilos). o Altos e magros, com crescimento rápido em curto período de tempo. O lado esquerdo é o mais acometido. Em 50% dos casos ocorre bilateralmente. Quando diagnosticada de um lado, o risco de ocorrer no outro lado é maior nos próximos 18 meses após o aparecimento dos primeiros sintomas. Investigar distúrbios endócrinos nos seguintes casos: o Criança <10 anos com coxa vara. o Indivíduo ≥18 anos com coxa vara. ETIOLOGIA A etiologia não é bem definida, existindo várias teorias. Teoria traumática: Má postura. o Foi realizado um estudo que se observou que os adolescentes colocavam mais peso sobre o quadril esquerdo. Assim, isso causava microtraumas na placa de crescimento, fazendo com que ocorresse o deslocamento, por isso que o quadril esquerdo é o mais acometido. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Teoria anatômica: Acentuada retroversão do fêmur. Teoria familiar: Hereditariedade em 2 a 7% dos casos. Teoria autoimune: Sinovite. o Está relacionada a uma inflamação da articulação (sinovite) que seria tão exacerbada ao ponto de subluxar a cabeça do fêmur e a partir dessa subluxação ocorreria a epifisiólise por excesso de peso e carga na região femoral. Teoria hormonal: É a etiologia mais aceita. o Observou-se que as crianças mais acometidas são aquelas que estão passando pela puberdade que é justamente a época em que se tem uma descarga hormonal acentuada. Assim, na puberdade, eles começam a crescer rapidamente fragilizando a camada hipertrófica, ocasionando o deslocamento. Doenças endócrinas relacionadas: o Hipotireoidismo: É a mais comumente relacionada. o Hipogonadismo. o Hipopituitarismo. o Hiperparatireoidismo. QUADRO CLÍNICO A criança pode se encontrar abatida, triste, sem sinais de queda ou trauma e não consegue praticar determinados esportes como jogar bola. Sinais e sintomas: o Claudicação (“mancar”). o Atitude de rotação externa do membro inferior afetado: Posição de conforto, pois distende a cápsula articular, aliviando a dor. o Dor: De intensidade variável, relacionada com esforço físico. Localizada na região inguinal, podendo irradiar para a região ântero-medial da coxa: Paciente sente dor no quadril ou no joelho. Essa irradiação da dor se deve ao nervo cutâneo femoral lateral (ramo do obturador) que passa próximo à crista ilíaca. Em um acesso cirúrgico, se houver lesão desse nervo cutâneo femoral lateral acaba causando uma doença chamada Meralgia parestésica, na qual paciente não consegue sentir a parte ântero- medial da coxa. Não há história de trauma. o Na maioria dos casos, não há história de trauma. Assim, a criança pode chegar ao consultório afirmando que quando realiza algum esforço físico maior acaba sentindo dores. EXAME FÍSICO Em crianças e idosos que chegam na urgência sentindo dor no joelho, obrigatoriamente deve-se radiografar o quadril, além do joelho, pois o nervo cutâneo femoral lateral que passa na crista ilíaca, é responsável por irradiar a dor para o joelho. Ou seja, o problema pode ser no quadril e a dor está sendo irradiada apenas para o joelho. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA A maioria dos pacientes são obesos. Deambulação dolorosa. Atitude de rotação externa na marcha. Limitação funcional do quadril em: o Rotação interna. o Abdução: Não consegue abris os dois membros inferiores ao mesmo tempo. o Flexão do quadril. Manobra de Drehman: o Realiza-se a flexão do quadril seguida de uma rotação externa do membro inferior. A criança vai realizar rotação externa do quadril quando examinador flexionar o quadril e joelho, pois acarretará em distensão da cápsula, aliviando a dor. Paciente também não consegue realizar a rotação interna, pois o trocanter menor choca com o acetábulo, travando o movimento. Em uma criança sem epifisiólise, na realização da manobra ela ficará em posição neutra. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Sinovite transitória do quadril: o É uma inflamação da sinóvia articular do quadril. o Quadro clínico: Dor no quadril. Febre: Praticamente apenas um episódio de febre, o que difere da artrite séptica. Ausência de outros sinais flogísticos. o Tratamento: Anti-inflamatórios (ibuprofeno, nimesulida) melhora o quadro rapidamente. Pode ser transitória, também pode haver cura espontânea. Necrose avascular idiopática da cabeça do fêmur. Artrite séptica do quadril: o Quadro clínico: Apresenta sinais flogísticos. Febre: Persistente, não sendo apenas um episódio único, o que difere da sinovite transitória. o Para o diagnóstico diferencial pode-se solicitar: Ultrassonografia: Avaliar a presença de líquido na cavidade. Punção intra-articular: Na punção, vê-se a presença de uma coleção purulenta. Assim, a presença de pus faz com que obrigatoriamente o ortopedista abra o quadril do paciente para realizar tratamento. Ausência de pus na punção: NÃO É ARTRITE SÉPTICA, porém pode ser uma artrite reativa. Osteocondrite dissecante. Condrólise idiopática. Artrite reumatoide juvenil. Legg-Calvé-Perthes. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Obs.: As quatro supracitadas são os diagnósticos diferenciais mais comuns. Para auxiliar no diagnóstico diferencial: o Se o paciente apresentar febre, além do quadro semelhante ao da epifisiólise, deve-se solicitar: Exames laboratoriais: Hemograma completo. PCR (Proteína C-reativa): Quando está aumentada indica processo infeccioso ou inflamatório. VHS (Velocidade de Hemossedimentação): Para identificar inflamações e infecções. Ultrassonografia: Para avaliar a presença de líquido na região. Punção intra-articular: A presença de pus indica artrite séptica. Raio-x de quadril e de joelho. DIAGNÓSTICO RADIOLÓGICO Radiografias: o Pelo menos duas incidências do raio-x: Anteroposterior (AP) de quadril. Posição de Rã ou dupla abdução (Posição de Lauenstein): Paciente abre as duas pernas e faz-se o raio-x do perfil do quadril. o O que se avalia no raio-x: Altura e espessura da placade crescimento: Na epifisiólise estará aumentada. Provavelmente, um lado do quadril maior do que o outro. Aspecto da fise: Mais liso, perdendo o aspecto serrilhado (normal). o Também se faz uso do raio-x para traçar algumas linhas a depender da incidência radiográfica utilizada. o Linha de Klein: É traçada no raio-x em AP. Trata-se de uma linha traçada tangenciando a borda superior do colo do fêmur e que, obrigatoriamente, no quadril saudável, cruza a epífise femoral. A. Quadril normal: Sinal de Trethowan ou Perkins está presente, pois a linha de Klein cruza a epífise femoral. B. Epifisiólise: A linha de Klein não cruza a epífise femoral, pois toda a estrutura abaixo da metáfise está sendo deslocada para a região superior. o Sinal de Trethowan ou Perkins: Quando a linha cruza a epífise femoral em um quadril saudável. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Quando a linha não cruza a epífise é um sinal de escorregamento. A. Aspecto normal: Tem-se uma placa de crescimento irregular, com aspecto serrilhado. B. Quando a doença começa a ocorrer, a cabeça femoral continua no acetábulo, porém a placa de crescimento adquire um aspecto mais liso e começa a ficar mais alargada. C. Toda a estrutura da fise para baixo começa a ir para a região superior e a placa/fise de crescimento adquire um aspecto mais liso. Levando-se em consideração a cortical medial, vê-se que há uma pausa nela, pois toda a estrutura está saindo do lugar, indo para a região superior. Ou seja, há um descolamento da região abaixo da metáfise e a epífise continua articulada com o acetábulo. CLASSIFICAÇÃO Classificação de FAHEY E O’BRIEN: Classifica com relação à cronologia do evento: o Agudo: Início súbito dos sintomas (<3 semanas). o Crônico: Início gradual dos sintomas (>3 semanas de duração). o Crônico-Agudizada: Intensificação abrupta dos sintomas, geralmente desencadeada por trauma leve. Quando a criança já teve algum sintoma que com tempo desapareceu e após algum trauma leve ela começa a sentir uma dor muito forte. Classificação de LODER: Classifica de acordo com a estabilidade da lesão. o Estáveis: Escorregamentos nos quais o paciente consegue deambular com ou sem ajuda de muletas. o Instáveis: Paciente não consegue deambular. Classificação de WILSONS (radiográfica): o Grau 0: Pré-deslizamento. Placa de crescimento alargada e mais lisa. o Grau 1: Deslizamento leve. Escorregamento de até 1/3 da metáfise. o Grau 2: Deslizamento moderado. Escorregamento até metade da metáfise. o Grau 3: Deslizamento grave. Escorregamento até mais da metade da metáfise. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Exemplo: A distância de um lado do colo ao outro é de 6cm e divide-se o colo do fêmur em 3 partes, com cada uma ficando com 2cm. Grau 1: Quando a estrutura sobre até 2cm (1/3 da metáfise). Grau 2: Quando o deslocamento atinge 3cm (até metade da metáfise). Grau 3: Quando o deslocamento é >3cm (mais da metade da metáfise). Deslocamento grau 3: Já houve deslocamento de mais da metado da metáfise femoral. A referência para medir o deslocamento nessa classificação de Wilson é o colo do fêmur: Avalia-se a parte da metáfise que subiu e não está em contado com o colo do fêmur. TRATAMENTO O tratamento cirúrgico imediato é recomendado. A classificação de Wilson é responsável por nortear o tratamento: o Graus 0,1 ou 2 de Wilson: Tratamento cirúrgico: Episisiodese in situ com parafuso canulado (fechamento da fise com parafuso). Da forma que o deslocamento se encontra realiza-se a fixação com um parafuso. A colocação do parafuso deve seguir as seguintes regras: Posicionado no centro da epífise (da cabeça do fêmur), perpendicular (à 90 graus) à placa fisária no AP e no perfil. Respeitar o limite de 5mm proximais da epífise para não perfurar: Deve ficar a mais de 5mm do acetábulo, caso contrário irá perfurar a cabeça do fêmur. A aplicação de mais de um parafuso não apresenta vantagem e ainda aumenta o risco de necrose avascular (NAV). o Grau 3 e alguns graus 2 de Wilson: Tratamento cirúrgico: Fixação in situ pode ser associada a ressecção da gibosidade (queilectomia). No grau 3, há um deslocamento muito grande. Faz-se uma redução incruenta, realizada em uma mesa de tração, tentando-se 2 a 3 manobras de redução para melhorar o desvio. Se não for possível essa redução, pode-se ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA fixar da forma que o deslocamento se encontra, mas na maioria dos casos consegue-se reduzir esse deslocamento e posteriormente coloca-se o parafuso, seguindo-se as mesmas regras que o parafuso colocado nos graus 0, 1 e 2. Ou seja, sendo ou não possível realizar a redução incruenta, deve-se realizar a fixação com o parafuso. Pelo fato de o grau 3 ser um grau tão avançado, com a estrutura se deslocando consideravelmente para a região superior, quando o paciente realiza o movimento de abdução ela acaba chocando o colo do fêmur com a parede do acetábulo. Assim, com o tempo, esse atrito de osso com osso faz com que o organismo entenda que se trata de uma fratura fazendo com que na região ocorra uma consolidação para a formação de um calo ósseo, que é justamente uma gibosidade. A grande maioria dos pacientes apresentam essa gibosidade. Assim, além da fixação, deve- se fazer um procedimento chamado de queilectomia, pois se não for feita haverá a limitação do movimento de abdução. A e B: Provavelmente trata-se de um grau 1 de Wilson. O parafuso deve ficar no centro da cabeça do fêmur, tanto no AP (A) quanto no perfil (B), e deve ficar a 90 graus da fise de crescimento. Além disso, ele atinge a epífise, passando da placa de crescimento. C e D: No AP o parafuso não passou muito da placa de crescimento, mas no perfil passou, tratando-se de uma boa fixação. E e F: Não houve uma boa fixação, pois não respeitou a angulação de 90 Graus. COMPLICAÇÕES Necrose avascular (NAV) da cabeça do fêmur: o É uma das principais complicações. o Geralmente, é iatrogênica e tem relação com o posicionamento do material de síntese. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA Cirurgião posiciona o parafuso de forma errada, o que pode ocasionar essa NAV. Geralmente pode ocorrer quando o cirurgião: Não deixou o parafuso perpendicular. Posicionou o parafuso muito posteriormente: Nesse caso, pode ocorrer lesão da artéria circunflexa que no adolescente é responsável por grande parte da vascularização da cabeça do fêmur. Necrose da cabeça do fêmur: Provavelmente devido ao mau posicionamento do parafuso. No raio-x quase não se consegue delimitar a cabeça do fêmur, pois ela perdeu sua circunferência. Além disso, há necrose da região. Condrólise: o É a complicação mais grave. o É mais comum de ocorrer no sexo feminino. o Trata-se da quebra/destruição da cartilagem. Lesões semelhantes a “bocas de peixes” ou saca-bocado na cartilagem do paciente. Em relação ao tratamento dessas complicações: o Quando essas complicações ocorrem, o ortopedista faz o acompanhamento do paciente até que ele desenvolva um nível de artrose avançado que pode durar anos para ocorrer, no qual o paciente praticamente não consegue mais deambular, apresentando bastante dor. Assim, é nesse caso em que se pensa na realização de uma artroplastia. Dessa forma, como esse processo de desenvolvimento da artrose pode durar anos, quanto mais postergar a realização de uma artroplastia, melhor será, pois as próteses de quadril têm uma meia vida de duração de cerca de 25 a 30 anos. Diantedisso, se for colocada uma prótese em um paciente muito jovem, com 15 anos, por exemplo, quando ele estiver com 40 a 45 anos já se deve fazer uma prótese de revisão que é uma cirurgia altamente Na criança, a maior parte da vascularização da cabeça do fêmur é pela artéria do ligamento redondo. Assim, a partir do momento que essa criança começa a crescer e a fise de crescimento começa a fechar, essa vascularização começa a ser transferida para as artérias circunflexas. ORTOPEDIA THAYNÁ FIGUEIRÊDO – MEDICINA complexa, pois retira-se a prótese que foi colocada há 30 anos para se colocar uma prótese nova. o Com base nisso, quem decide pela realização da cirurgia é o próprio paciente que pode chegar para o ortopedista afirmando que não aguenta mais as dores e as limitações funcionais que essas complicações causam. o Durante esse tempo de acompanhamento, pode-se realizar: Analgesia. Infiltrações com corticoides. Fisioterapia. Fortalecimento muscular. Treino de marcha. Fazer a retirada do material de síntese: Retira-se o parafuso e realiza-se microperfurações para estimular a vascularização da cabeça do fêmur.
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