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1 EDUCAÇÃO ON-LINE: O ALCANCE E AS DIFICULDADES DO ENSINO REMOTO EM TEMPOS DE PANDEMIA OLIVEIRA, Abraão Campos de1 OLIVEIRA, Juliete Castro2 Grupo de Reflexão Docente nº 3 – Aprendizagem histórica em tempos de pandemia: limites e possibilidades Resumo: Buscando a continuidade do ensino diante da pandemia causada pela Covi-19, o estado do Ceará adota, para a implantação em toda a rede de ensino, a utilização das ferramentas de aprendizagem desenvolvidas pelo sistema Google for Education. Temos então a criação de e- mails institucionais para toda a comunidade escolar, professores, alunos, gestores, e também de ambientes virtuais todas as turmas de todas as escolas estaduais. Tomamos como cenário para nossa pesquisa a capital do estado, Fortaleza, que é dividida em três regionais e possui mais de 170 escolas das mais diferentes modalidades de ensino – tempo pacial, integral e ensino profissionalizante, e também recebem diferentes públicos, desde regiões mais pobres da cidade aos bairros mais abastados. Buscamos então compreender quais foram as medidas adotas pela Secretaria de Educação para a continuidade do ensino, bem como as ferramentas que foram utilizadas e, principalmente, quais foram os alcances dessas medidas, considerando também as dificuldades enfrentadas por professores e gestores. Para tal nos apropriamos de conceitos como metarrede e cibercultura para aprofundarmos esse universo digital que apresentou-se como saída para o contexto de isolamento ocasionado pela pandemia e da necessidade da continuidade do acompanhamento dos alunos da rede pública de ensino. Palavras-chave: Ensino Remoto – Pandemia – Google for Education 1. O mundo em 2020 – A Pandemia. Na História da humanidade vários foram os momentos em que particularizamos determinados períodos e acontecimentos como responsáveis por profundos desafios e, em consequência, importantes mudanças. Selecionamos estes momentos como marcos temporais e 1 Especialização em História Afro-indígena do Ceará, mestrando do ProfHistória UERN, professor e servidor público da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. 2 Especialização em História do Brasil, professora e servidora pública da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. 2 os referenciamos. Se analisarmos a história recente talvez o ano de 2020 receberá também essa particularização e entrará para este rol, sendo assim objeto de importantes análises. Para além da negação do pensamento científico, com o aparecimento de movimentos como o terraplanismo, e do fortalecimento de movimentos ligados à extrema-direita, recheados de discursos excludentes e negando as verdades históricas de acontecimentos passados ligados à ditaduras direitistas, o mundo se deparou com a Pandemia causada pela Covid-19. A doença do Coronavírus (COVID-19) é uma doença infecciosa transmitida principalmente por meio de gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou exala. Embora as pesquisas apresentadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) relatem uma baixa taxa mortalidade nos doentes, em meados de setembro de 2020 já tínhamos mais de 290 milhões de casos confirmados, dos quais mais de 100 mil mortos no Brasil e nos aproximávamos de 1 milhão de mortos em todo o mundo 3. A medida tomada pelos principais órgãos de saúde internacionais foi o do isolamento social4 diante da ausência de vacinas e tratamentos eficientes e diante do seu alto potencial de infecção. Portanto, a partir de meados de março de 2020, com variações de rigidez entre estados, o Brasil também iniciava o seu isolamento social. No Ceará, mediante decreto publicado em Diário Oficial no dia 16 de março5, foi implementado o isolamento social: Considerando que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, nos termos do art. 196, da Constituição da República, (...) Considerando o aumento do número de casos suspeitos e a confirmação de casos de contaminação pela COVID-19 no Estado do Ceará, Considerando a necessidade de adoção de normas de biossegurança específicas para os casos suspeitos e confirmados de COVID-19, objetivando o enfrentamento e a contenção da disseminação da doença, Decreta: 3 Valores obtidos no site da OMS. https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019 - acessado em 16/09/2020 4 Em alguns países, como o Brasil por exemplo, representantes do governo e membros de órgãos de saúde pública, negaram e reagiram à prática do isolamento social. 5 Todos os decretos assinados pelo governador do Estado do Ceará encontram-se disponíveis em uma página específica do Governo do Estado no link: https://www.ceara.gov.br/decretos-do-governo-do-ceara-com-acoes- contra-o-coronavirus/ - acessado em 16/09/2020 3 Art. 1º Fica decretada situação de emergência em saúde no âmbito do Estado do Ceará, em decorrência do novo coronavírus (COVID-19). (...) Art. 3º Ficam suspensos, no âmbito do Estado do Ceará, por 15 (quinze) dias: (...) III - atividades educacionais presenciais em todas as escolas, universidades e faculdades, das redes de ensino pública, obrigatoriamente a partir de 19 de março, podendo essa suspensão iniciar-se a partir de 17 de março; Ao decreto do dia 16 de março sucederiam várias prorrogações, de tal forma que no dia 16 de setembro6, seis meses depois do primeiro decreto regulamentando o isolamento social no Ceará, as atividades educacionais presenciais ainda se encontravam suspensas, embora diversos outros setores já tivessem sido liberados para o funcionamento como restaurantes e shoppings. Com a suspensão das atividades educacionais presenciais vários estabelecimentos de ensino tiveram que se adaptar para a adoção de atividades remotas, buscando assim ferramentas que pudessem criar ambientes virtuais de aprendizagem, transmissão de aulas remotas. Em Fortaleza, algumas escolas particulares optaram pela antecipação das férias7. Após o decreto de suspensão das atividades educacionais seriam divulgadas as diretrizes8 para período de suspensão das atividades educacionais presenciais, assinada em parceria pela SEDUC – Secretaria de Educação do Ceará, e APEOC - Sindicato dos Servidores Públicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará, bem como a portaria9 que iria instituir o regime especial de trabalho para os servidores e colaboradores da SEDUC. Segundo as diretrizes, assinadas ainda no mês de março, apenas 10 dias após o primeiro decreto, já traziam como condição fundamental para a manutenção do processo ensino- aprendizagem, a autonomia da escola no processo de escolha dos meios que estivessem de acordo com a realidade da escola, (...) toda reposição da carga horária correspondente aos dias letivos, alvo de suspensão de atividades presenciais, será realizada por meio de atividades a distância/domiciliares, utilizando estratégias de ensino e acompanhamento da aprendizagem de forma remota, organizando aulas não presenciais, por meio da orientação das/os professoras/es e núcleo gestor. Nesse momento, faz-se 6 Por meio do Decreto Nº 33730 DE 29/08/2020, foi liberada Educação Infantil na rede privada de ensino 7 Conforme reportagem https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/03/30/parte-das-escolas-privadas-de-fortaleza- antecipam-ferias-escolares-para-abril.ghtml - acessado em 16/09/2020 8 Disponível em https://www.seduc.ce.gov.br/2020/03/28/seduc-e-apeoc-divulgam-diretrizes-para-escolas-durante- periodo-de-suspensao-de-aulas-presenciais/- acessado em 16/09/2020 9 Página 10 do Diário Oficial do Estado do Ceará (DOECE) de 13 de Abril de 2020 4 imprescindível o exercício da autonomia e responsabilidade das unidades escolares, respeitando-se os parâmetros e os limites legais. (p.2 grifo nosso) Através destes marcos institucionais o Ceará entrava oficialmente no processo de adaptação de estruturação do Ensino remoto, seguindo assim toda a nova ordem de organização mundial ocasionada pela pandemia da Covid19. 2. O século XXI – Tecnologia e Educação “Quando você quer fazer a lição de casa, preencher seu Imposto de Renda ou ver as opções para uma viagem que quer fazer, você precisa de um PC.” BILL GATES Ao realizarmos uma análise, ainda que sem maior aprofundamento, da evolução dos recursos tecnológicos que estão dispostos e disponíveis no amplo mercado de consumo à sociedade, é inegável a percepção de que nos últimos 30 anos, particularmente com a chegada dos microcomputadores e microchips, várias de nossas relações e práticas tenham sido lentamente alteradas em diversos espaços, conforme salienta Bruno Leal (CARVALHO, 2014) ao demarcar esse desenvolvimento: Nos últimos 30 anos, o rápido desenvolvimento do computador e da internet, combinado com outros avanços tecnológicos, sobretudo no campo das telecomunicações, teve um impacto substancial em praticamente todos os ramos da indústria, nas mais distintas atividades profissionais e, como não se trata apenas de uma transformação técnica, mas sobretudo filosófica e comportamental, na maneira como as pessoas se comunicam e experimentam a realidade. (P.2) O autor ressalta ainda que, no final dos anos 1990, o computador passa a ser visto “como um instrumento auxiliar da pesquisa histórica, um facilitador” (P.5), a acesso à informação tornava-se cada vez mais facilmente acessível com pesquisas rápidas feitas no próprio celular. Relações como elaboração, armazenamento de dados e informações foram aos poucos sendo transformadas e ressignificadas em diversos ramos profissionais. Hoje seria estranho, por 5 exemplo, ver um profissional ligado à área administrativa ou econômica preenchendo à lápis e borracha um livro de contabilidade. Refletimos assim que a relação entre o homem e a informação é profundamente alterada em vários campos da vida social, estejamos trabalhando com o campo profissional ou particular dos indivíduos. O avanço tecnológico, resgatando para efeito de reflexão discursos que remontam ao século XIX, voltava novamente seu principal seus olhos e seus produtos à vida social comum, após o lapso gerado pelas grandes guerras do início do século XX, visto assim como uma grande conquista das ciências e da humanidade. Para Silveira e Bazzo (2009): A tecnologia tem se apresentado como o principal fator de progresso e de desenvolvimento. No paradigma econômico vigente, ela é assumida como um bem social e, juntamente com a ciência, é o meio para a agregação de valores aos mais diversos produtos. (p.682) Entendemos, portanto, que a tecnologia se torna um bem social e que altera estruturas de comportamento e relações de tal forma que, chegando ao século XXI, nos deparamos com as redes sociais como Orkut, Facebook, Youtube e Myspace. Também salientamos a chegada do Youtube em 2005, que trouxe uma plataforma para produzir, editar, compartilhar e disponibilizar vídeos. É importante ressaltar que estamos prioritariamente refletindo sobre as possibilidades geradas pelo advento dessas tecnologias, não é objetivo deste trabalho analisar o conteúdo produzido em si ou a validade científica/acadêmica deste. Buscamos, portanto uma reflexão sobre o processo em si e, diante desta, compreender melhor o retrato contemporâneo no qual estamos inseridos, compactuando assim com a reflexão de Pierre Lévy (1989): A história da informática (como, aliás, talvez qualquer história) deixasse discernir como uma distribuição indefinida de momentos e de lugares criativos, uma espécie de metarrede esburacada, desfeita, irregular, em que cada nó, cada ator, define em função dos seus fins a topologia da sua própria rede e interpreta à sua maneira tudo o que lhe vem dos vizinhos. [...] Nesta visão das coisas, as noções de precursor ou de fundador, tomadas num sentido absoluto, têm pouca pertinência. Em contrapartida, podem discernir-se certas operações da parte de atores que desejam impor-se como fundadores, ou designando no passado próximo ou no recente, antepassados prestigiosos de quem se apropriam proclamando-se seus descendentes. Não há “causas” ou “fatores” sociais unívocos, mas circunstâncias, ocasiões, às quais pessoas ou grupos singulares conferem significações diversas. Não há “linhagens” calmas, sucessões tranqüilas, mas golpes de espada vindos de todos os lados, tentativas de 6 embargo e processos sem fim em torno das heranças. (p. 182) É, portanto dentro de todo esse universo tecnológico, repleto de interações rápidas, porém complexas, que se buscaram novas possibilidades para uma nova estruturação do ensino diante de toda uma ressignificação da “sala de aula” no contexto da pandemia causada pela Covid19. Dentro da grande variedade de “suportes tecnológicos” presentes na contemporaneidade, muitos deles ainda desconhecidos para boa parte dos professores, temos uma plataforma on-line que oferece uma série de ferramentas educacionais e pertence a uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, a Google. Para além de redes sociais como Facebook e Instagram, bem como aplicativos de comunicação como Whatsapp, a Google oferece gratuitamente uma plataforma chamada Google for Education, apresentada por Guimarães (2020): O Google for Education oferece aos alunos e aos professores amplos recursos digitais, como espaço na nuvem, aplicativos para edição de vídeos, textos, imagens, gráficos, além do navegador (browser) e de uma sala de aula virtual. Universidades públicas, como a USP e a UNICAMP, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte, além de escolas públicas e privadas brasileiras, criaram ambientes virtuais associadas ao Google. (P.14) É assim que a Secretaria de Educação do Ceara (SEDUC) em associação com a Google promoveu uma criação em massa de e-mails com domínios ligados ao Google for Education, para todos os professores, alunos e técnicos da rede estadual de educação, bem como criou usuários exclusivos para as escolas através do qual criou salas virtuais para a interação de alunos e professores. De tal forma que professores acessariam seus e-mails utilizando o domínio “@prof.ce.gov.br” e alunos utilizariam “@aluno.ce.gov.br”. As escolas tiveram seus e-mails criados a partir do número de registro no INEP10 e, utilizando esse e-mail, os gestores teriam acesso às suas turmas, todas criadas virtualmente, com todos os seus alunos devidamente inseridos de acordo com sua matrícula registrada no Sistema Integrado de Gestão Escolar – SIGE. Assim, professores poderiam entrar normalmente em seu e-mail institucional e, utilizando-se da ferramenta do Google Classroom, encontrariam a escola na qual estava lotado, 10 Registro da escola junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). 7 suas respectivas turmas, com todos os alunos que estavam matriculados já devidamente inseridos neste ambiente virtual de aprendizagem. 2.1. Acompanhamento e utilização pedagógica das tecnologias O panorama mundial apresentado, trazendo a “obrigatoriedade” da interação virtual entre professores e alunos diante da pandemia, promoveu o surgimento de diversas particularidades, das quais destaco duas considerando exclusivamente a familiaridade com recursos digitais, embora não desconsiderando os variados universos encontrados por nossosprofessores. Consideramos, portanto dois cenários: primeiramente temos os docentes que já utilizam e que estão acostumados com as mais variadas possibilidades apresentadas pelo desenvolvimento dos recursos tecnológicos, desde a elaboração de materiais no PowerPoint, indicação de vídeos no Youtube, criação de Blogs, entre outros e temos em contrapartida aqueles que se mantiveram alheios à utilização de computadores, recorrendo apenas em situações excepcionais. No primeiro caso consideramos que o isolamento social e o novo cenário de atividades remotas ampliaram as possibilidades de interações e fez com que, em alguns casso, outros recursos fossem explorados com maior profundidade pedagógica e disposição, afinal, em tempos de aulas presenciais interações virtuais através do Google Meet talvez não ocorressem com tanta frequência e participação dos discentes. Portanto consideramos que a interação virtual possibilitou que, como reflete Helyom Telles, pudessem ser exploradas outras ferramentas para “despertar a empatia dos estudantes para com o passado” (TELLES, 2018). As escolas estaduais do Ceará estão distribuídas ao longo de 23 Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação – CREDE, das quais as de número 21, 22 e 23 correspondem à cidade de Fortaleza, também chamadas de Superintendências das Escolas de Fortaleza – SEFOR. A Célula de Formação Programas e Projetos – CEFOP integra a estrutura organizacional da SEFOR, constituindo-se por uma equipe técnico pedagógica que presta assessoria aos profissionais da educação que atuam como suporte pedagógico à sala de aula, lotados nas unidades escolares, através de encontros formativos, orientações e acompanhamento 8 de ações. A CEFOP também tem sua atuação quanto ao acompanhamento de alguns programas e projetos com demandas externas à SEFOR com funcionamento ligado às escolas de Fortaleza. Após o decreto de suspensão das atividades educacionais presencias, a CEFOP participou ativamente dos planejamentos voltados ao acompanhamento das atividades remotas desenvolvidas pelas escolas, planejamento de ações voltadas à formação continuada de gestores, direcionada à utilização dos suportes tecnológicos, bem como acompanhou intimamente todo a estrutura voltada a prestar suporte às escolas, professores e alunos buscando garantir acesso ao e- mail institucional bem que como às demais ferramentas oferecidas pelo Google for Education nas 173 escolas estaduais de Fortaleza. Com o objetivo de oferecer apoio às escolas, foram criados e-mails de suporte para receber demandas oriundas das escolas pertencentes às três SEFOR. Ao longo de mais de 5 meses de acompanhamento, a CEFOP respondeu mais de 750 solicitações, nesses e-mails de suporte e criou mais de 300 e-mails, que por algum motivo não foram criados automaticamente, solicitados por gestores de escolas e orientadores da SEFOR para professores e alunos. Também realizou formações com o objetivo de compartilhar informações básicas sobre acesso, utilização das ferramentas do Google for Education como o Drive, Meet, Classroom e Forms, ao longo de 2 dias e reuniu mais 350 coordenadores e continua no suporte e acompanhamento dessas ações. Conclusão: Em março, logo após o primeiro decreto do dia 16, a SEDUC já iniciou o processo voltado à criação e liberação de acesso para professores e alunos de todas as ferramentas ligadas ao Google for Education, bem como a criação das salas virtuais vinculadas às escolas. Esse processo foi realizado em uma ação conjunta entre a Assessoria de Tecnologia da Informação – Astin, e a empresa GetEdu11. Porém, por meio de acompanhamento dos e-mails que foram criados a fim de oferecer suporte à escolas, professores e alunos, percebemos que muitos tiveram dificuldades de acesso ao e-mail institucional, muito embora tenha sido criada uma ferramenta 11 O Google for Education é gratuito para instituições de ensino, porém a empresa privada GetEdu foi contratada, via processo licitatório, para realizar a criação dos e-mails, das salas virtuais no Classroom e todo o processo de alocação de usuários. 9 de busca on-line12, chegamos a constatar inclusive que, em agosto, usuários ainda não haviam realizado o primeiro acesso, muito embora já estive liberado desde o final do mês de março. Percebemos então que, embora os recursos tecnológicos tenham sido criados e disponibilizados para toda a comunidade, cada escola buscou criar mecanismos próprios para a manutenção das aulas, contrariando assim uma certa ideia inicial (RAMONET, 1998 p.145): não há dúvida de que, com a Internet - mídia, daqui em diante, tão banal quanto o telefone - entramos em uma nova era da comunicação. Muitos estimam, com certa ingenuidade, que o volume cada vez maior de comunicação fará reinar, nas nossas sociedades, uma harmonia crescente. Ledo engano. A comunicação, em si, não constitui um progresso social. E ainda menos quando é controlada pelas grandes firmas comerciais da multimídia. Ou quando contribui para aprofundar as diferenças e as desigualdades entre cidadãos do mesmo país, ou habitantes do mesmo planeta. Através do contato direto que foi estabelecido com os gestores e coordenadores de algumas escolas consta como uma das principais dificuldades a situação precária na qual muitos alunos se encontram, principalmente no que se refere ao acesso à internet e computadores. Foi observado também a pouca ou falta do desenvolvimento de competências digitais por parte de alguns professores que encontraram dificuldades desde o acesso à internet ao planejamento de aulas que utilizassem outros tipos de recursos digitais. Diante do exposto torna-se imperioso compreender como ocorreram essas atividades, buscando analisar quais foram os recursos utilizados pela escola para buscar garantir a manutenção das relações de ensino-aprendizagem, mesmo dentro de um contexto que se impôs brutalmente ao universo educacional. Salientamos também que é salutar a reflexão sobre o peso psicológico que recaiu sobre toda a comunidade escolar que buscava alternativas para a manutenção da carga horária de sala de aula, enquanto o número de doentes e mortos aumentava a cada dia. 12 Aos professores era solicitado CPF e data de nascimento e alunos o número de matrícula e a data de nascimento, assim a ferramenta encontrava automaticamente o login de acesso do usuário, bem como gerava uma nova senha. 10 Referências BURKE, Peter. O que é história cultural. São Paulo: Jorge Zahar, 2008. CARVALHO, Bruno Leal Pastor De. Faça Aqui o Seu Login: os historiadores, os computadores e as redes sociais online. In.: Revista História Hoje, v. 3, n. 5, 2014, p. 165- 188. COSTA, Aryana E OLIVEIRA, Margarida. O Ensino de História como Objeto de Pesquisa no Brasil: no aniversário de 50 Anos de uma área de pesquisa, notícias do que virá. In.: Sæculum – Revista De História, n. 16, 30 Jun. 2007. p. 147-160. GUIMARÃES, Claudio Santos Pinto. 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