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AULA 2 DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS COM CARGAS ESTÁTICAS Prof. Fábio José Ricardo 02 CONVERSA INICIAL Esta aula tem como objetivo demonstrar os critérios para dimensionamento da seção mínima dos condutores fase, neutro e de proteção, para circuitos de cargas elétricas estáticas. O conteúdo abrange as questões básicas e os critérios mais específicos para considerações em dimensionamentos dos condutores fase e neutro a partir das fases e de demais pontos específicos e, por último, do condutor de proteção. CONTEXTUALIZANDO Segundo ABNT, NBR5410, os condutores fase devem ser dimensionados levando-se em conta vários parâmetros, tais como corrente de curto-circuito, capacidade de condução de corrente, queda de tensão. Ainda segundo as normas, os condutores neutro e de proteção (ou aterramento), também seguem alguns parâmetros específicos, estes interligados a certas considerações referentes aos condutores fase e também a fatores isolados, pertinentes de cada tipo de condutor. Como então dimensionar corretamente os condutores fases, neutro e de proteção, quais são os parâmetros ou considerações que devem ser feitos nos dimensionamentos para que os circuitos atendem às especificações das normas ABNT 5410 e outras? TEMA 1 – DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES FASE – CRITÉRIOS GERAIS No dimensionamento de um circuito elétrico para uma carga trifásica, os condutores fase (R, S e T) devem ser dimensionados levando-se em conta os critérios: Capacidade de condução de corrente dos condutores; Limites de queda de tensão (definidos nas normas ABNT); Capacidade de condução de corrente de curto-circuito por tempo limitado. O início do dimensionamento passa pela consideração dos dois primeiros critérios, ou seja, considera-se apenas a capacidade de condução de corrente do cabo elétrico utilizado e os limites de queda de tensão conforme normas ABNT, não ultrapassando os 7% da fonte principal até a carga. 03 Após o dimensionamento de toda instalação elétrica, são conhecidos os parâmetros de curtos-circuitos dos pontos da instalação, bem como as proteções necessárias que deverão ser inseridas nos quadros elétricos de distribuição. Desta forma é necessário retornar ao dimensionamento dos condutores para comparar os parâmetros de isolamento dos cabos com os tempos de duração do curto-circuito em cada respectivo ponto. Caso o condutor não seja compatível, ele deve ser substituído por um de maior ampacidade (ou capacidade) para que não seja danificado em caso de anomalias na instalação. São considerados dois parâmetros de curtos-circuitos: Limitação da seção do condutor para uma demanda de curto-circuito; Limitação do comprimento do circuito em função da corrente de curto- circuito fase e terra. Saiba mais Os respectivos gráficos destes dois parâmetros podem ser consultados no livro Instalações elétricas industriais, de João Mamede Filho, capítulo 3, páginas 99 e 100 (figuras 3.26 e 3.27). Para regime de uso contínuo, os condutores também devem respeitar a um limite máximo de temperatura, por isso a corrente que será transportada pelos condutores pode ser limitada dependendo do método de instalação e da temperatura do condutor, conforme tabela Tabela 1 – Temperaturas características dos condutores Fonte: João Mamede, 2010. TEMA 2 – DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES FASE – CRITÉRIOS ESPECÍFICOS Um dos critérios atribuídos para o dimensionamento dos condutores fase de um circuito está na verificação da capacidade de condução de corrente Tipo de Isolação Temperatura máxima para serviço contínuo do condutor (ºC) Temperatura limite de sobrecarga do condutor (ºC) Temperatura limite de curto-circuito do condutor (ºC) Cloreto de polivinila (PVC) 70 100 160 Borracha etileno - propileno (EPR) 90 130 250 Polietileno reticulado (XLPE) 90 130 250 04 elétrica máxima que percorrerá cada condutor, levando-se em conta também o método de instalação adotado (verificado na aula 1). De acordo com o método de instalação, podem ser consultados os valores de condução de correntes das tabelas constantes no capítulo 3 do livro Instalações elétricas, de João Mamede Filho (p. 82, tabela 3.6, p. 84 tabela 3.7, p. 85, tabela 3.8 e p. 86, tabela 3.9), como também as tabelas originais constantes nas normas ABNT NBR 5410. Um segundo critério que deve ser adotado no dimensionamento está na questão da queda de tensão que existirá entre o ponto de fornecimento de energia até o ponto de conexão com a carga, sendo que os valores devem ser inferiores aos limites estipulados pelas normas vigentes. Leva-se em conta também que as normas ABNT estipulam limites de queda de tensão entre a subestação principal e o quadro de distribuição e deste até a carga, sem que sejam transferidos valores de um trecho para o outro. Alguns fatores são considerados no critério de queda de tensão, sendo: Utilização da corrente de carga ou de projeto; Para circuitos com presença de harmônicos, devem ser consideradas as correntes das diversas ordens presentes; Em alimentação de capacitores, a corrente considerada deve ser 35% a mais do que a corrente nominal dos bancos; Para comprimentos de circuitos acima de 100m da carga à fonte, pode-se aumentar a queda de tensão em 0,005% por metro de linha superior a 100m sem que a suplementação não ultrapasse a 5%; Podem ser consideradas quedas de tensão superiores a 10% desde que não afetem as demais cargas em operação. As quedas admissíveis de tensão estão descritas no Erro! Fonte de referência não encontrada.. Quadro 1 – Métodos de referência 05 Fonte: João Mamede, 2010. TEMA 3 – CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DO CONDUTOR NEUTRO Após o dimensionamento dos condutores fase dos circuitos, para sistemas trifásicos que utilizem o cabo neutro, este é estabelecido seguindo-se alguns critérios constantes nas normas ABNT: o condutor neutro não pode ser comum a mais de um circuito; em circuitos monofásicos, a seção do condutor neutro deve ser igual à do condutor fase; a seção do condutor neutro em circuitos com duas fases e neutro não deve ser inferior à dos condutores fase, podendo ser igual à dos condutores fase se a taxa de terceira harmônica e seus múltiplos não for superior a 33%; a seção do condutor neutro de um circuito trifásico não deve ser inferior à dos condutores fase quando a taxa de terceira harmônica e seus múltiplos não for superior a 15%, podendo ser igual ao condutor fase quando a referida taxa não for superior a 33%; quando a seção dos condutores fase de um circuito trifásico com neutro for superior a 25mm2, a seção do condutor neutro pode ser inferior à do condutor fase, com os limites conforme Tabela 2. em um circuito trifásico com neutro ou um circuito com duas fases e um neutro com taxas de harmônicos superiores a 33%, a seção do condutor neutro não pode ser maior do que a seção dos cabos fase, devido ao valor da corrente que circula no condutor neutro. Tabela 2 – Seção do condutor neutro – critério “e” Item Tipo da Instalação Início da Instalação Queda de Tensão (%) da Tensão Nominal a Instalações alimentadas através de subestação própria Terminais secundários de transformador de MT/BT 7% b Instalações alimentadas através de transformadores da companhia de energia elétrica Terminais secundários de transformador de MT/BT, quando o ponto de entrega for aí localizado 7% c Instalações alimentadas através da rede secundária de distribuição da companhia de energia elétrica Ponto de entrega 5% d Instalações alimentadas através de geração própria (grupo gerador) Terminais do grupo gerador 7% 06 Fonte: João Mamede, 2010. TEMA 4 – CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DO CONDUTOR DE PROTEÇÃO Após o dimensionamento dos condutores fase dos circuitos e neutro, parasistemas trifásicos que utilizem o cabo de proteção, este também é estabelecido seguindo-se alguns critérios constantes nas normas ABNT. Todas as partes metálicas, sejam de infraestrutura ou das cargas alimentadas, devem ser aterradas com o auxílio do condutor de proteção. Para o dimensionamento, deve ser utilizada a equação 1: 𝑋 = √𝐼𝑓𝑡2 𝑥 𝑇𝑐 𝐾 (1) Sendo: 𝐼𝑓𝑡2 – valor eficaz da corrente de falta de fase e terra que pode atravessar o dispositivo de proteção para uma falta de impedância desprezível, em A; 𝑇𝑐 – tempo de eliminação do defeito pelo dispositivo de proteção, em s; 𝐾 – fator que depende da natureza do metal condutor de proteção, das isolações e outras coberturas, e da temperatura inicial e final. O valor de K vale para condutores de proteção envolvidos de isolação em cabos multipolares, cabos protegidos por veias de cabo multipolar, condutores em que não haja risco de temperaturas danificarem o material isolante, seguindo a Tabela 3. Seção dos condutores Fase (mm2) Seção mínima do condutor (mm2) S <= 25 S 35 25 50 25 70 35 95 50 120 70 150 70 185 95 240 120 300 150 500 185 07 Tabela 3 – Seção mínima do condutor de proteção Fonte: João Mamede, 2010. Segundo a NBR 5410, um condutor de aterramento pode ser aplicado para vários circuitos de distribuição ou ramais alimentadores, quando os demais cabos estiverem acondicionados, ou instalados, em um mesmo meio de infraestrutura como uma mesma tubulação, porém sua seção (do cabo de proteção) deve ser projetada considerando o maior valor de corrente de curto circuito com o maior tempo deste curto. Caso o cabo de proteção não esteja acondicionado no mesmo meio físico que os demais cabos, sua seção poderá ser de no mínimo 2,5mm2, se estiver protegido mecanicamente ou de 4,0mm2 se não possuir proteção mecânica (Mamede, 2010). Para questões de exclusões, os seguintes materiais não podem ser utilizados para a função de condutores de proteção: tubulações e/ou canais de água e/ou gás, infraestrutura de líquidos ou gases inflamáveis, elementos que possam estar sujeitos a esforços e deslocamentos mecânicos durante sua operação, eletrodutos flexíveis, armaduras utilizadas em concretos, estrutura metálica e elementos metálicos da construção civil. Exemplo prático de aplicação para dimensionamento do condutor de proteção: Um circuito trifásico possui cabos fase são de 50mm2, isolados em PVC a 70ºC. Para o dimensionamento do condutor de proteção, tem-se da Tabela 3 que: Sp = 0,5 x Sf = 0,5 x 50 = 25mm2 Com base na equação 1 e considerando que a corrente de curto-circuito deste ponto seja 9.200A, que o tempo de atuação da proteção seja de 120ms e Seção mínima dos condutores Fase (mm2) Seção mínima dos condutores de proteção (mm2) S <= 16 S 16< S <= 35 16 S > 35 0,5 x S 08 que todos os condutores estejam instalados dentro do mesmo eletroduto, tem-se que: K = 143 (condutores até 300mm2, isolação PVC, EPR ou XLPE (ver capítulo 3, item 3.5.3 do livro Instalações elétricas industriais, de João Mamede Filho, página 103. TC = 120ms = 0,12s 𝑆𝑝 = √𝐼𝑓𝑡2 𝑥 𝑇𝑐 𝐾 = √9.2002 𝑥 0,12 143 = 22,29 𝑚𝑚2 Ou seja, o condutor inicialmente calculado em 25mm2 poderá ser utilizado neste caso. TEMA 5 – FATORES DE CORREÇÃO DE CORRENTE Para os casos em que os condutores estão acondicionados ou instalados de forma diferente aos métodos de referência vistos, é necessário aplicar fatores de correção de redução para que o condutor se mantenha em regime contínuo, com a temperatura igual ou inferior aos limites estabelecidos pelas normas. Estes fatores estão ligados aos itens de temperatura ambiente, resistividade térmica do solo e agrupamento dos circuitos. 5.1 Temperatura ambiente Conforme ABNT 5410, a temperatura máxima para condução de corrente para condutores é de 20ºC para linhas subterrâneas e 30ºC para linhas aéreas ou não subterrâneas. Se as temperaturas do solo forem diferentes das estabelecidas nas normas, devem ser aplicados os fatores de correção conforme Tabela 4 e 09 Tabela 5. Tabela 4 – Fatores de correção para temperaturas ambiente diferentes de 30ºC para linhas não subterrâneas Fonte: João Mamede, 2010. PVC EPR ou XLPE 10 1,22 1,15 15 1,17 1,12 25 1,12 1,08 30 1,06 1,04 35 0,94 0,96 40 0,87 0,91 45 0,79 0,87 50 0,71 0,82 55 0,61 0,76 60 0,50 0,71 65 - 0,65 70 - 0,58 75 - 0,50 80 - 41,00 IsolaçãoTemperatura ambiente (ºC) 010 Tabela 5 – Fatores de correção para temperaturas ambiente diferentes de 20ºC (temperatura do solo) para linhas subterrâneas Fonte: João Mamede, 2010. 5.2 Resistividade térmica do solo Este fator deve ser considerado quando os condutores estão instalados no solo (linhas subterrâneas). Tabelas de correção podem ser consultadas no livro Instalações elétricas industriais, de João Mamede Filho, páginas 112 e 113 (tabelas 3.35 e 3.36). 5.3 Agrupamento dos circuitos Quando há a existência de agrupamento de quatro ou mais condutores, todos transportando corrente elétrica, o fator agrupamento de circuitos deve ser considerado no dimensionamento de condutores, observando-se os seguintes requisitos: Os fatores de correção são aplicáveis a grupos de condutores isolados, cabos unipolares ou cabos multipolares com a mesma temperatura máxima para serviço contínuo; Para grupos contendo grupos de condutores com diferentes temperaturas nominais de serviço contínuo, a capacidade de condução de corrente deve ser balizada pela menos corrente referente a menos das temperaturas de serviço dos condutores envolvidos; Se um circuito ou cabo multipolar for previsto para conduzir até 30% da capacidade de condução de corrente de seus condutores, já afetada pelo PVC EPR ou XLPE 10 1,10 1,07 15 1,05 1,04 25 0,95 0,96 30 0,89 0,93 35 0,84 0,89 40 0,77 0,85 45 0,71 0,8 50 0,63 0,76 55 0,55 0,71 60 0,45 0,65 65 - 0,6 70 - 0,53 75 - 0,46 80 - 0,38 Temperatura do solo (ºC) Isolação 011 fator de correção aplicável, o circuito ou cabo pode ser omitido para efeito de obtenção do fator de correção do restante do grupo. FINALIZANDO Nesta aula verificou-se a importância do dimensionamento dos condutores de proteção, neutro e fases de um circuito, bem como todos os parâmetros a serem considerados. Em uma instalação industrial, os alimentadores, sejam de circuitos para cargas isoladas estáticas, sejam alimentadores de quadros de energia secundários, sofrem a maior parte senão influência de todos os pontos citados. Por exemplo, um circuito de alimentação trifásico, composto por três cabos fase, neutro e proteção, que interliga o secundário do transformador de uma subestação até a respectiva carga, que se encontra instalado de forma embutida no piso (ou solo), dentro de eletrodutos de PVC, poderá ter em seus cálculos de dimensionamento as considerações referentes aos pontos de temperatura do solo, queda de tensão, corrente de curto-circuito, distância do quadro até a carga (ocasionando queda de tensão), além de outros parâmetros. 012 REFERÊNCIAS CREDER, H. Instalações elétricas. 16. ed. São Paulo: LTC, 2010. MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 8. ed. São Paulo: LTC, 2010.