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AULA 3 INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS COM CARGAS ESTÁTICAS Prof. Fábio José Ricardo 02 CONVERSA INICIAL Esta aula tem como objetivo demonstrar os critérios para dimensionamento das proteções para os circuitos elétricos para cargas estáticas. O conteúdo abrange as questões básicas e os critérios mais específicos para consideração em relação a dimensionamentos das proteções, incluindo seletividade, proteção contra sobrecorrentes, sobrecarga, curto-circuito, entre outros parâmetros. CONTEXTUALIZANDO O dimensionamento dos ramais alimentadores também envolve outras etapas para completar o esquema de proteções para a instalação, desde o início da instalação até a calibração ou os ajustes dos dispositivos. Sabe-se da importância de considerar não só fatores como sobrecorrente ou sobrecarga nos circuitos, mas todos os parâmetros que podem influenciar o bom funcionamento das cargas estáticas, através da corrente e tensão fornecidas pelos condutores de alimentação. Quais são, então, os diversos parâmetros envolvidos no dimensionamento das proteções? Qual relação cada um deles possui com o circuito ou qual influência exercem sobre seu funcionamento? Em quais situações considerar cada parâmetro? É o que veremos na aula de hoje. TEMA 1 – ITENS BÁSICOS PARA PROTEÇÃO CONTRA SOBRECORRENTES Os itens a seguir descrevem prescrições básicas para proteções considerando sobrecarga e curto circuito. 1.1 Dimensionamento básico das proteções contra correntes de sobrecargas Conforme Mamede Filho (2010), as proteções destinadas aos circuitos elétricos, sejam disjuntores ou outros dispositivos, precisam necessariamente que a atuação sirva para interromper as correntes de sobrecargas nos diversos condutores do ramal alimentador para evitar o aquecimento desses condutores, o rompimento da isolação e o aquecimento da isolação e das conexões além dos limites previstos em normas e limites do dimensionamento. 03 Para tanto, destacam-se os seguintes critérios: As proteções devem, obrigatoriamente, estar localizadas nos diversos pontos dos circuitos em que haja alterações nos valores da corrente que está circulando (decréscimo em relação à fonte), como, por exemplo, em quadros elétricos, ou até mesmo nos casos em que as alterações nos valores da corrente se deem pela troca de seção de condutor, em que a seção seguinte é composta de condutores de menor bitola. O dispositivo pode ser instalado ao longo do trajeto, desde que não esteja a uma distância maior do que 3 metros da fonte. O dispositivo pode ser excluído nos circuitos situados a jusante de uma mudança qualquer que altere a capacidade de condução de corrente dos condutores, desde que exista uma proteção de sobrecarga localizada a montante; nos circuitos de cargas resistivas ligadas no seu valor máximo; nos circuitos de comando e sinalização; nos circuitos de alimentação de eletroímãs para elevação de carga; nos circuitos secundários de transformadores de corrente; nos circuitos secundários de transformadores de potencial destinados para os equipamentos de medição (em subestações, por exemplo) e nos circuitos de carga motriz em regime de funcionamento. 1.2 Dimensionamento básico das proteções contra correntes de curtos- circuitos Quanto às correntes de curto-circuito, devem ser consideradas as seguintes premissas: Os dispositivos instalados para proteção devem ter, obrigatoriamente, capacidade de ruptura ou interrupção igual ou superior à corrente de curto- circuito que é calculada no ponto da instalação desse dispositivo. A energia suportada pelos dispositivos e condutores a jusante do dispositivo de proteção não pode ser maior do que a energia que o dispositivo de proteção deve deixar passar. O dispositivo deve estar localizado no ponto em que há alteração ou mudança no circuito em relação à corrente elétrica que circula nos condutores. Pode-se excluir o dispositivo, considerando-se a corrente de curto-circuito, nos seguintes casos: a) no ponto em que há alteração de corrente elétrica 04 ou modificação dos parâmetros (até 3 metros deste), desde que o dispositivo não fique localizado próximo a materiais combustíveis; b) num ponto localizado a montante de uma mudança de seção ou modificação, desde que o dispositivo de proteção esteja protegendo a jusante; c) nos circuitos que ligam geradores, transformadores, retificadores, baterias e acumuladores aos quadros de comando correspondentes, desde que nestes haja dispositivos de proteção; d) nos circuitos que ligam secundários de transformadores de corrente ou de potencial aos de proteção ou até mesmo aos medidores de energia; e) nos circuitos que, quando desenergizados, possam trazer algum perigo para a instalação, parcialmente ou totalmente. TEMA 2 – DIMENSIONAMENTO DOS DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO Um ramal alimentador ou um dispositivo só está protegido contra sobrecargas quando todos os elementos instalados (cabos, chaves etc.) estiverem dimensionados com suas capacidades térmicas e dinâmicas abaixo dos valores limitados pelos dispositivos de proteção correspondentes aos circuitos. Um dos parâmetros necessários a se considerar trata-se dos tempos de atuação da proteção aos valores de sobrecorrentes. Quando o ponto a ser tratado é corrente de sobrecarga, os valores são efetivamente abaixo dos referentes às correntes de curto-circuito correspondentes. Sendo assim, costuma-se efetuar a análise da integral de Joule (Mamede Filho, 2010, p. 339) para o cálculo, conforme a equação abaixo: ∫ [𝑖(𝑡)2 1 0 𝑥 𝑑𝑡 ≤ 𝐼𝑐𝑠 2 𝑥 𝑇 em que: 𝐼𝑐𝑠 – corrente de curto-circuito que atravessa o dispositivo de proteção. 𝑇 – tempo de duração da corrente de curto-circuito. A Tabela 1 fornece os valores da integral de Joule para o aquecimento adiabático dos condutores de cobre desde a temperatura máxima de serviço até a temperatura limite suportável para correntes de curto-circuito, para os cabos com isolação do tipo PVC, XLPE ou EPR. 05 Tabela 1: Integral de Joule para aquecimento adiabático dos condutores de cobre. Fonte: Mamede Filho, 2010, p. 340. Um circuito estará totalmente protegido quando os seguintes pontos forem atendidos: Não fornecer condições de operação quando a corrente for inferior à capacidade de condução de corrente do condutor do circuito, considerando o modo de instalação deste. Pode operar normalmente com um tempo de retardo elevado, considerando uma corrente de curto-circuito de até 1,45 vezes a capacidade de corrente do condutor correspondente. Opera em tempos inversamente proporcionais para correntes de sobrecarga compreendidas entre 1,45 e 8 vezes a corrente nominal do circuito. Opera em um tempo extremamente reduzido para as correntes de curto- circuito. TEMA 3 – PROTEÇÃO DA CORRENTE DIFERENCIAL-RESIDUAL Um dos temas considerados muito importantes em proteção está relacionado à corrente residual dos circuitos ou corrente diferencial-residual. Não são incomuns situações de choques elétricos em pessoas, especialmente em crianças que entram em contato com partes metálicas que apresentam um certo 06 nível de corrente residual do ramal alimentador ou outro circuito que deveria estar protegido. O dispositivo de proteção normal (muitas vezes disjuntor de proteção) acaba não sendo a forma mais correta ou adequada de proteção contra esses níveis de corrente, uma vez que é um equipamento mais robusto destinado a realizar proteção contra sobrecarga e curto-circuito. Para isso são utilizados os famosos dispositivos residuais (DR) nos pontos de proteção, que interrompem o circuito na presença de correntes diferenciais residuais. Um exemplo desse dispositivo está na Figura: Figura 1: Exemplo de dispositivo residual diferencial Para a proteção de pessoas contra choques elétricos os ramais alimentadorese circuitos devem estar protegidos também por DR para 30 mA. Quando se trata apenas de proteção para a propriedade ou itens materiais, o DR pode ser utilizado com configuração de 300 mA. O princípio básico de funcionamento dos DR está no fato de que o valor de corrente que circula no condutor neutro deve ser nulo (ou zero). Por esse motivo o dispositivo é composto de 4 polos, sendo três fases e um polo neutro, para que se possa, por meio de minitransformadores internos, medir as correntes que circulam nos condutores. Para um circuito trifásico, sem a presença de polo neutro, o sistema também funciona adequadamente, já que a soma das correntes também deve ser nula para cargas trifásicas. Em qualquer alteração o DR entenderá que pode haver uma fuga de correntes residuais para partes metálicas ou que o equipamento está com problemas. 07 De acordo com a NBR 5410 (ABNT, 2004), qualquer que seja o esquema de aterramento, este deve ser objeto de proteção complementar contra contatos diretos por meio de dispositivos com corrente diferencial-residual de alta sensibilidade, isto é, com corrente residual inferior a 30mA. A aplicação dos DR segue algumas premissas, a saber: O uso do DR não dispensa, em qualquer hipótese, o uso do condutor de proteção no circuito. O DR deve garantir o seccionamento de todos os condutores fase (protegidos) e também o condutor neutro (caso este também esteja no circuito). O DR deve conter todos os condutores fase e neutro (caso este seja presente). No DR nunca deve passar o condutor de proteção ou aterramento. Os DR devem ser instalados de forma que não interrompam intempestivamente os circuitos, ou seja, vários DR devem ser instalados nos circuitos para que, em caso de presença de correntes residuais, não haja interrupção total dos demais circuitos no mesmo quadro ou fonte de energia. O uso dos DR é obrigatório nas seguintes situações: nos circuitos que alimentam pontos de utilização situados em locais contendo banheira ou chuveiro elétrico; nos circuitos que alimentam pontos de tomadas localizados em ambientes externos em edificações; nos circuitos que, em áreas de habitação, alimentam pontos de tomada localizadas em cozinhas, copas, lavanderias, áreas de serviço, garagens e demais dependências com altura inferior a 2,5 m; nos circuitos em que as tomadas estejam instaladas em áreas sujeitas a lavagens; a proteção poderá ser usada individualmente nesses circuitos ou por grupo deles. TEMA 4 – DISJUNTORES DE BAIXA TENSÃO Disjuntores são dispositivos destinados à proteção dos circuitos e também às operações de manobras. Esses dispositivos atuam interrompendo o circuito 08 quando a corrente circulante é superior ao valor estabelecido para o funcionamento normal. Normalmente, os disjuntores atuam em: proteção de sobrecargas; proteção contra curtos-circuitos; comando funcional; seccionamento; seccionamento de emergência; proteção contra contatos indiretos; proteção contra quedas e ausência de tensão. A imagem a seguir traz um exemplo de um disjuntor tripolar ou trifásico: Figura 2 – Imagem de disjuntor tripolar Os disjuntores podem ser de quatro tipos, a saber: Disjuntores térmicos Equipamentos que possuem somente capacidade de proteção pela corrente térmica de sobrecarga. Disjuntores magnéticos Equipamentos que possuem somente capacidade de proteção pela corrente de curto-circuito. Disjuntores termomagnéticos Equipamentos que possuem capacidade de proteção pela corrente térmica de sobrecarga e de curto-circuito. Na prática, este é o tipo mais utilizado. Disjuntores termomagnéticos limitadores 09 Equipamentos que possuem capacidade de proteção pela corrente térmica de sobrecarga e de curtos-circuitos, bem como de um sistema especial capaz de interromper as elevadas correntes de curto-circuito antes que elas atinjam seu valor de pico. Esse sistema tem como princípio as forças dinâmicas provocadas pela corrente de defeito. Todos os tipos de disjuntores descritos podem ainda ser fabricados com as seguintes características: 1. Unidade sem ajuste ou regulação: neste tipo de dispositivo as correntes térmicas e magnéticas são ajustadas pelo fabricante e o disjuntor normalmente é selado, impossibilitando alterações. 2. Unidade com ajuste ou regulação: neste tipo de dispositivo as correntes térmicas e magnéticas podem ser ajustadas no local pelo usuário. O dimensionamento dos disjuntores de baixa tensão em circuitos industriais para cargas estáticas deve ser feito observando-se o tipo que será utilizado em relação ao comportamento de atuação em função da temperatura em que estará submetido em operação. Essa seleção deve estar de acordo com a NBR 5410 (ABNT, 2004), considerando: a. características de proteção contra sobrecarga; b. características de proteção contra curtos-circuitos. TEMA 5 – FUSÍVEIS São dispositivos destinados também à proteção de circuitos para cargas estáticas, utilizados quando as características da carga não suportam o uso dos disjuntores citados. Estes dispositivos se fundem quando percorridos por corrente superior à qual foram projetados para suportar. Os fusíveis podem ser do tipo diazed, conforme Erro! Fonte de referência não encontrada., ou NH para correntes com valor elevado. 010 Figura 3 – Exemplo de fusível do tipo diazed Os fusíveis NH e diazed são dotados de características de limitação de corrente. Para correntes de curtos-circuitos elevadas, estes dispositivos atuam em um tempo extremamente rápido, que não permite que a corrente de impulso atinja seu valor máximo. Todos os fusíveis precisam ainda oferecer segurança a todos os elementos e equipamentos instalados a jusante do ponto de instalação. NA PRÁTICA Como exemplo prático de cálculo e dimensionamento de disjuntores de baixa tensão, aplica-se o exercício 10.5, constante no livro Instalações Elétricas, de João Mamede Filho, página 353, em que o autor explora o dimensionamento de um disjuntor para comando e proteção de um motor elétrico. Embora a carga do exemplo seja não estática, a metodologia aplica-se também a cargas estáticas. No exercício mencionado, são exploradas três condições de dimensionamento e regulagem de disparo do disjuntor. Como exemplo para dimensionamento de fusíveis de proteção, verifique o exercício de aplicação prática 10.6, disponível no mesmo livro, na página 358. Nessa atividade o autor dimensiona a corrente necessária do fusível de proteção para um circuito. Esse tema é abordado também no exercício 10.7, página 360 do mesmo livro. No capítulo 10 (p. 338-393) do livro mencionado, ao longo de todas as seções podem ser observados vários exercícios práticos sobre o dimensionamento, abrangendo as seções exploradas nesta aula. 011 FINALIZANDO Nesta aula verificou-se a importância do dimensionamento dos dispositivos de proteção, sejam eles disjuntores, relés ou fusíveis. Estes dispositivos são responsáveis por garantir a correta operação dos equipamentos de cargas elétricas estáticas, bem como proporcionar uma forma de operação e seccionamento quando necessário. Também abordamos alguns parâmetros a respeito de sistemas de proteção, porém outros ainda devem ser levados em consideração, de acordo com a carga a ser protegida. Assim, torna-se necessária a consulta à NBR 5410 (ABNT, 2004) e demais normas vigentes para um correto dimensionamento. 012 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410: instalações técnicas de baixas tensões. Rio de Janeiro, 2004. CREDER, H. Instalações Elétricas. 16. ed. São Paulo: LTC, 2016. MAMEDE FILHO, J. Instalações Elétricas Industriais. 8. ed. São Paulo: LTC, 2010.
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