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ANA ROSSINI XXII Aspectos epidemiológicos Constituem 40 a 50% das consultas na atenção básica e na emergência. Podem ser de etiologia infecciosa (maioria), alérgica ou de outras causas, como malformações, ou processos inflamatórios crônicos. Porque as crianças são tão suscetíveis às doenças respiratórias? No período gestacional a mãe passa sua experiência imunológica. o Criança nasce cheia de anticorpos a partir do nascimento começa a diminuir. o Só adquire uma imunidade plena em torno dos 3 anos, ou seja, 1º e 2º ano tem diminuição da imunidade fisiológica por isso tem mais infecção, coincidindo quando a criança começa a ir pra escola, desmame e afins. Como abordar a criança com queixa sugestiva de doença respiratória? No 1º momento, esclarecer quatro aspectos fundamentais: a) Localização anatômica predominante do processo respiratório. o Ouvido, laringe, orofaringe.. b) Período de duração das queixas. c) Presença de queixas associadas. d) Comprometimento do estado geral. Aspectos gerais São todas as infecções que afetam as estruturas acima da laringe. Principais achados fisiopatológicos incluem: infiltrado inflamatório, edema da mucosa, congestão vascular, aumento da secreção e alterações na função ciliar. A imensa maioria das IVAS tem etiologia viral. Os principais agentes etiológicos são: o Rinovírus e coronavírus: resfriado comum. o Virus coxsackie A e B: doença de nasofaringe. o Adenovírus: faringite e conjuntivite. o Influenza: doença do trato respiratório superior - gripe. Infecções de vias aéreas superiores ANA ROSSINI XXII o Parainfluenza: são a principal causa de laringite e laringotraqueobronquite. o Vírus sincicial respiratório: é a principal causa de bronquiolite, mas também causa laringite , pneumonia, OMA. Epidemiologia As IVAS são a causa mais frequente de doença no ser humano, especialmente nas crianças. A maioria das crianças apresenta até 5 anos de idade, 3 a 8 episódios de IVAS por ano. o As que frequentam creche apresentam, em média 12 episódios por ano. A transmissão ocorre por via respiratória ou por contato com secreções. Os vírus podem facilitar a infecção bacteriana alteram o funcionamento do aparelho mucociliar e facilitam aderência e invasão bacteriana. o Aparelho Mucociliar: o responsável pela limpeza dos pulmões e vias respiratórias superiores. Se ele deixa de funcionar, está comprometido pelo vírus aumenta secreção facilita que uma bactéria possa aderir à esse epitélio e causar uma infecção bacteriana. o Com exceção do terço anterior do nariz e as cordas vocais, todo epitélio tem cílio. o Cada célula ciliada tem em média 200 cílios que batem em média 10-20 vezes por segundo. o É normal ter um pouco de secreção no epitélio. Quando está inflamado tem muita cilío não funciona e não limpa tosse (ajuda a limpar o pulmão). Resfriado comum (nasofaringite aguda) É a infecção mais comum das crianças. Pode ser causada por mais de 200 vírus diferentes. O pico de incidência é no 2º ano de vida. A transmissibilidade ocorre algumas horas antes do início dos sintomas até 1 a 2 dias após. Quadro clínico: febre, irritabilidade e anorexia, que geralmente precedem os sintomas respiratórios. Depois surge obstrução nasal e coriza inicialmente hialina, que pode se tomar amarelada. A tosse é comum e pode ocorrer dificuldade para respirar na criança pequena pela obstrução nasal. o Nas crianças maiores é comum cefaléia e dores musculares. A febre geralmente resolve-se em 3 dias e os sintomas respiratórios em 7 a 10 dias. Um dos diagnósticos diferenciais é com a rinite alérgica. o As principais características são: ausência de febre, sintomas crônicos, coriza clara, história familiar de atopia, prurido nasal e nos olhos ao exame a mucosa nasal é pálida. As principais complicações são: otite média aguda, sinusite, bronquite e pneumonia. Pode desencadear crises de asma em crianças suscetíveis. o “Lactente sibilante”: criança asmática pode “chiar” ao ficar resfriada. O tratamento é sintomático. Os antibióticos não tem valor. Os antitérmicos usuais podem ser utilizados, exceto o ácido acetil-salicílico e seus derivados pelo risco de síndrome de Reye. A hidratação da criança é fundamental. Para a obstrução nasal evitar descongestionantes, o soro fisiológico deve ser preferido. o Não pode usar remédio com vasoconstritor nasal em crianças pequenas hipotensão, arritmia. Influenza Está diminuindo cada vez mais por conta da vacina. A pior epidemia foi em 1918 com 40 milhões de mortes em todo o mundo – Gripe espanhola. ANA ROSSINI XXII Esquema do vírus: o O vírus entra na célula aproveita a maquinaria se replica. Nomenclatura: tipo/localização geográfica/número da cepa/ano de isolamento (hemaglutinina e neuraminidase). o Ex.: A/Califórnia/4/2009 (H1N1) - Gripe Suína. Vacina de 2020: vírus fragmentado e inativado. o Todo ano a vacina sofre mudanças pois o vírus sofre mutação. o Na vacina do governo Trivalente: Dois vírus A e um B. A/Brisbane/02/2018(H1N1)pdm09 like vírus. A/SouthAustralia/34/2019(H3N2). B/Washington/02/2019 like virus. o Quadrivalente: Dois vírus A e dois B. B/Phurket/3073/2013 (Yamagata). Propriedades do vírus: o São RNA vírus e pertencem aos ortomixovírus. o Classificam-se em 3 tipos antigênicos: A, B e C. Existem múltiplos sorotipos: H1N1 Gripe Espanhola em 1918 e 2009. o Na microscopia eletrônica são partículas esféricas, irregulares, filamentosas ou icosaédricas com 80 a 120 nm de diâmetro. Alterações antigênicas: há dois padrões de alterações antigênicas: o Drift: pequena alteração sem mudar o subtipo. Ocorre no influenza A e B. É resultado de mutação. o Shift: alteração maior em um ou ambos (HA e NA), que muda o subtipo. Ocorre no influenza A. Talvez ocorra por recombinação de segmentos genômicos entre vírus influenza humanos e de animais. Epidemiologia: o Casos esporádicos são raros. Geralmente ocorre em surtos, que podem ser localizados ou globais. o A doença na criança geralmente precede os ataques em adultos. o Forte variação sazonal com epidemias no inverno em países de clima temperado. o As maiores taxa de óbito são em idosos. o Outros grupos de risco são: cardiopatas, pneumopatas, diabéticos, renais crônicos, pacientes com doenças neuromusculares e pacientes com neoplasias. Hemaglutinina e Neuroaminidase: o Hemaglutinina é fundamental para adesão do vírus às células do hospedeiro. Existem 16 subtipos mas só os H1, H2 e H3 em seres humanos. o Neuraminidase é necessária para liberação do vírus das células infectadas. Hoje existe um remédio (Tamiflu) que atua na NA impede a liberação de vírus nas células infectada. Usada até o 3º dia. ANA ROSSINI XXII Existem 9 suptipos. Transmissão: respiratória por gotículas liberadas pela tosse ou espirros. o Também ocorre por contato direto, indireto ou aerosol. o A dose infectante é pequena: Fase aguda a excreção é de 106 partículas virais/ml de secreção. o A excreção viral pode preceder os sintomas em até 6 dias. Período de incubação é de 2 a 3 dias. Após o início da doença a excreção viral geralmente dura uma semana; em crianças até 14 dias. Sintomas Gripe Resfriado Agente Vírus influenza Diversos Início Abrupto Gradual Febre Frequentemente alta Ausente/baixa Tosse Seca, pode tornar-se produtiva Irritativa Dor de cabeça Forte Rara Dor muscular Comum e frequente intensa: CPK aumentado – miosite (dor muscular) Leve Dor de garganta Às vezes Comum Nariz congestionado Às vezes Comum Coriza Às vezes Comum Desconforto no peito Comum Leve a moderado Cansaço e fraqueza Podem durar 2 a 3 semanas Rápida recuperação Adenoidite Infecção da adenóide. Crianças pequenas, obstrução nasal aguda, roncos intensos e repercussõesno sono, febre e rinorréia purulenta. Há secreção retronasal, tosse, principalmente à noite. Tratamento mesmo da RS, cujo diagnóstico diferencial é difícil. As recorrências podem levar à hipertrofia com obstrução e apnéia do sono (AOS) de 30-45 seg. O exame padrão ouro nasofibroscopia. Do lado da adenóide tem a tuba de Eustáquio que liga com o ouvido médio. Muitas crianças tem que fazer uma adenoitectomia para respirar melhor. Respirador bucal se não tratar rosto afinado, dente pra frente Faringoamigdalite aguda Famosa infecção de garganta. Rara abaixo de 1 ano de idade. Pico de incidência: 4 a 7 anos. ANA ROSSINI XXII Geralmente a etiologia é viral. O estreptococo do grupo A é responsável por 20 a 30% dos casos. Na faringite viral, 70% dos casos, o início é gradual, a febre é baixa, a dor de garganta é leve e frequentemente existe tosse, rouquidão e coriza. Pode ocorrer exsudato na amígdala e adenomegalia cervical. Na faringite estreptocócica, rara abaixo de 3 anos de idade. o O início é súbito, a febre é alta, a dor de garganta é intensa e não existe tosse e coriza. o Pode ocorrer exsudato na amígdala, adenomegalia cervical e petéquias no pálato (enantema). O diagnóstico de certeza só pode ser feito pela cultura ou pelas provas rápidas para pesquisa de estreptococo na garganta. A presença de exsudato membranoso pode lembrar difteria ou mononucleose. o Difteria: a membrana é pálida acinzentada e afeta várias outras regiões da faringe. o Mononucleose: quadro clínico mais prolongado e muitas vezes existe hepatomegalia e/ou espleonomegalia. Lesões vesículo-ulceradas em pilar anterior e pálato mole herpangina. Febre, faringite e conjuntivite febre faringoconjuntival (adenovírus). Complicações da estreptocócica: o Supurativas: abcesso periamigdaliano. o Não supurativa: glomerulonefrite difusa aguda, GNDA e doença reumática. Tratamento: o Maioria do casos apenas sintomático. o Quando houver confirmação ou forte suspeita de etiologia estreptocócica a droga de escolha é a penicilina: Penicilina benzatina: 50.000 U/kg, IM dose única. Amoxacilina 50mg/ kg/ dia v.o. cada 12 horas. Cefalosporina 25 a 50 mg/kg v.o. Sempre durante 10 dias. o Alternativa para crianças com alergia à penicilina: Eritromicina 40 mg/kg/dia em 4 doses por 10 dias (pouco usada). Azitromicina 10 mg/ kg/ dia 1x v.o.durante 5 dias; claritromicina 15mg /kg/dia 10 dias. Faringotonsilite recorrente: Criança com sinais e sintomas consistentes de processo inflamatório agudo de origem infecciosa, 5 ou mais em 1 ano, 4 por ano em 2 anos consecutivos, ou 3 ao ano em 3 anos consecutivos. S. pyogenes, H. influenza, S. aureus produtoras de betalactamase, não produzem doença aguda, mas inativam as penicilinas. o Tem que usar a amoxacilina associada ao clavulanato (inibidor da betalactamase). confundido com pus mas é caseum afta ANA ROSSINI XXII Herpangina Estomatite herpética - Herpes tipo 1 Exsudato em amígdala bilateral Laringite e epiglotite • Caracterizam-se por rouquidão, estridor laríngeo, tosse, dificuldade na emissão da voz e dificuldade respiratória. o A laringe da criança é 9x mais estreita que adulto com edema dá muita dificuldade respiratória. Laringite: precedida por sintomas leves como coriza e febre baixa. Depois surge a tosse característica acompanhada de grau variável de desconforto respiratório. Não há toxemia. o Geralmente etiologia viral. o Laringite espasmódica (estridulosa): início súbito, sem febre ou pródromos e geralmente de madrugada. Tendência à repetição e relação com alergia. Epiglotite: início com febre alta, toxemia, disfagia e dificuldade respiratória, com tom de voz abafado. o Pode progredir rapidamente para insuficiência respiratória. o Diminuiu bastante pela vacina do Haemophilus B. Tratamento: o Laringite viral: Casos leves: nebulização ou inalação em casa. Casos graves: internação para nebulização e oxigenioterapia, corticoterapia (dexametasona 0,6 mg/kg/dia, IM ou EV), inalação com adrenalina (5 ampolas). o Laringite espasmódica: geralmente nebulização ou inalação. Rinossinusite Os seios paranasais NÃO estão completamente desenvolvidos na criança. Na maioria das infecções nasais agudas os seios paranasais estão envolvidos. Rinossinusite aguda deve ser suspeitada em todo resfriado com apresentação mais grave que usual febre alta, edema periorbitário ou dor facial, ou quando os sintomas continuarem sem melhora. O raio X de seios da face não deve ser utilizado rotineiramente para diagnóstico de rinossinusite aguda porque: o Resfriado comum altera o raio X. o A rinossinusite viral é 100x mais frequente que bacteriana. Asma Laringite ANA ROSSINI XXII o Em crianças pequenas o desenvolvimento incompleto dos seios confunde. o Rx alterado indica apenas inflamação que pode ser viral, alérgica ou bacteriana. Se necessário, padrão ouro é a TC dos seios da face. processo inflamatório. Obs.: a criança só tem os seios frontais depois de 6 anos. A sinusite é mais comum é crianças maiores. Patogênese: o 3 fatores: patência dos óstios, função ciliar e qualidade das secreções. o Se o seio da face está obstruído, cheio de secreção espessa ou cílios não funciona queda do pH, diminuição da tensão do O2 proliferação bacteriana. Tratamento: o Lavagem dos seios com soro fisiológico. o Antibioticoterapia: amoxacilina /clavulanato 50 a 90mg/kg/dia ou cefuroxima de 10 a 14 dias. o Dependendo do caso, associa-se corticóide. o Rinossinusite com celulite pós septal, indica-se internação e atb EV. Otite média aguda OMA: secreção no ouvido médio acompanhada de sinais e/ou sintomas de doença aguda locais ou sistêmicos (dor ou febre). OME – otite média com efusão: secreção no ouvido médio sem sinais e/ou sintomas de doença aguda locais ou sistêmicas. o A criança tem a infecção, melhora mas a secreção continua. o Pode ter disfunção da acuidade auditiva. OMR – otite média recorrente: episódio repetidos de OMA 3 ou + episódios em 6 meses, ou, 4 ou + em 12 meses. Depois do resfriado comum as otites são as doenças mais comuns da infância. Faixa etária mais acometida: 6 aos 18 meses. Principais fatores de risco para OMR: frequência a creches, idade do primeiro episódio, desmame precoce, história familiar, posição da alimentação com mamadeira, fumo passivo dentro de casa e atopia. A condição fundamental para a OMA é a falha da tuba auditiva para manter ouvido médio aerado. Principais agentes etilógicos: mesma da rinossinusite. PROVA o Streptococcus pneumoniae (40 a 50%). o Haemophilus influenzae (20 a 30%). ANA ROSSINI XXII o Moraxella catarrhalis (10 a 15%). Com a vacina do pneumococo diminui a otite média. Quadro clínico: geralmente resfriado prévio. o Após alguns dias febre, irritabilidade e otalgia. o Ás vezes otorréia (perfura o tímpano e sai a secreção) = otite média aguda supurada. o Otoscopia para diagnóstico membrana timpânica perde o brilho, há redução do reflexo luminoso, hiperemia, abaulamento e perda da mobilidade. Às vezes perfuração e secreção purulenta. Tratamento: o OMA: Sintomático antitérmicos, analgésicos e calor local. Antimicrobiano: amoxacilina 50 mg/kg/dia 8/8 horas por 7 a 10 dias. o Otite média com efusão: não precisa tratar. Deve ser acompanhado se possível com otoscopia pneumatica pois a secreção demora a ser absorvida. o Otite média recorrente: a intervenção principal está nos fatores de risco: Abolição do fumo passivo. Correção da posição da mamada. Rever necessidade de creche. Tratamento pode ser feito com dose aumentada de amoxacilina 90 mg/kg dia associada ao ácido clavul clavulánico. o Na prática os mesmos atb da rinossinusite. o Não usar Bezentacil ou Cefalosporina de primeira geração.
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