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PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL CURSO 1 PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL CEPED/UFSC – Florianópolis, 2021. 1ª EDIÇÃO . Atualizado em maio de 2021 CURSO 1 FICHA INSTITUCIONAL REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Presidente da República Jair Messias Bolsonaro MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL – MDR Ministro Rogério Simonetti Marinho SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – SEDEC Secretário Alexandre Lucas Alves DEPARTAMENTO DE ARTICULAÇÃO E GESTÃO – DAG Diretora Karine da Silva Lopes UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC Reitor Prof. Ubaldo Cesar Balthazar, Dr. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – SEAD Secretário de Educação a Distância Prof. Luciano Patrício Souza de Castro, Dr. CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ENGENHARIA E DEFESA CIVIL – CEPED Coordenador Geral Prof. Amir Mattar Valente, Dr. Coordenadora do Projeto Profa. Ana Maria Bencciveni Franzoni, Dra. Coordenador Técnico Rafael Schadeck FUNDAÇÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONÔMICOS – FEPESE Presidente Prof. Raimundo Nonato de Oliveira Lima CURSO 1 PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL 30 horas CURSO 3 PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: GESTÃO DE RISCO 30 horas CURSO 2 PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: ATUAÇÃO NO ÂMBITO MUNICIPAL 30 horas CURSO 4 PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: GESTÃO DE DESASTRE 30 horas JORNADA DO ALUNO GUIA DE AMBIENTAÇÃO – COMO LER O E-BOOK Você sabia? Direciona para materiais complementares a fim de aprofundar conhecimentos sobre determinado assunto. Atenção! Destaca informações importantes que precisam ser vistas com maior atenção. Está na lei Reproduz o texto de uma lei, normativa ou decreto. Trazendo para a realidade Exemplifica como determinada diretriz, lei, regra ou determinação aplica-se na prática. Nota Esclarece um termo ou aprofunda uma informação que está no corpo do texto. O objetivo deste Guia de Ambientação é orientar você na leitura e utilização correta dos conteúdos dos cursos da Capacitação em Proteção e Defesa Civil. Este guia deve servir de base para que você encontre as informações necessárias para resolver suas dúvidas relacionadas ao que encontrar em cada tópico do material. SIGLAS E ABREVIATURAS AMC Adaptação às Mudanças Climáticas ANA Agência Nacional de Águas Cemaden Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Nacionais Cenad Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres Cobrade Classificação e Codificação Brasileira de Desastres Codar Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos Conpdec Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil Coredecs Coordenadorias Regionais de Defesa Civil CPRM Serviço Geológico do Brasil CPTEC Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos DAG Departamento de Articulação e Gestão DIRDN Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais DOP Departamento de Obras de Proteção e Defesa Civil ECP Estado de Calamidade Pública EIRD Estratégia Internacional de Redução de Desastres FIDE Formulário de Informações do Desastres Funcap Fundo Especial para Calamidades Públicas Geacap Grupo Especial para Assuntos de Calamidades Públicas GRD Gestão de Riscos de Desastres GT Grupo de Trabalho MDR Ministério do Desenvolvimento Regional MJNI Ministério da Justiça e Negócios Interiores ONU Organização das Nações Unidas P&DC Proteção e Defesa Civil PNDC Política Nacional de Defesa Civil PNPDEC Política Nacional de Proteção e Defesa Civil RRD Redução de Riscos de Desastres SE Situação de Emergência SEDC Sistema Estadual de Defesa Civil Sedec Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil Sedec (antigo) Secretaria Especial de Defesa Civil Sindec Sistema Nacional de Defesa Civil Sinpdec Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil UNDRR Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres Para atuar na área de Proteção e Defesa Civil (P&DC), você deve se preparar! E um dos primeiros passos para isso é entender o histórico, os órgãos relacionados e a legislação aplicada à área. Para explicar melhor esses tópicos de estudo, o curso foi organizado em três módulos. PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL CURSO 1 MARCELO CAMARGO, AGÊNCIA BRASIL SUMÁRIO MÓDULO 1 A PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL página 10 MÓDULO 2 CONCEITOS PRELIMINARES página 43 MÓDULO 3 CONTEXTO DOS DESASTRES página 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS página 97 9PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 OBJETIVOS Os conteúdos seguem uma linha de raciocínio: inicia-se falando sobre o histórico da Defesa Civil, na sequência, a discussão avança sobre os principais conceitos para, então encerrar apresentando o contexto dos desastres no Brasil e no mundo por meio de exemplos e dados históricos. Realizando o curso com dedicação e atenção, ao final de seus estudos, você deve: Compreender os principais conceitos relacionados a riscos e a desastres. Conhecer os principais aspectos normativos. Compreender a P&DC como política pública. MÓDULO 1 A PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL D U R VA L JR ., A R Q U IV O N A C IO N A L 11PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL NO BRASIL MARCELLO CASAL JR, AGÊNCIA BRASIL Neste módulo será tratado sobre a Proteção e Defesa Civil Nacional, seus conceitos e o contexto em que está inserida. Para isso, o conteúdo aborda: o histórico da Defesa Civil; a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil; o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil; a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil e as atribuições da União, estados e municípios. Comece seus estudos! 12PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL H istoricamente, o conceito de P&DC deriva de um esforço nacional para proteger populações expostas aos riscos de ataques militares e a grandes desastres. Na sua organização básica, foram incorporados cinco princípios voltados às ações de: HISTÓRICO ORIGEM DA PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL ARQUIVO SEDEC Atuação da P&DC 13PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Quando se resgata as origens da Defesa Civil, pode-se tomar como ponto de partida três momentos cruciais no seu desenvolvimento institucional: ORIGENS DA DEFESA CIVIL Em detalhes, o primeiro serviço implantado de de- fesa civil teve início no Reino Unido, durante a Primeira Grande Guerra, após um bombardeio de áreas civis por zepelins alemães, ocorrido em janeiro de 1915. Tal ex- periência estimulou a criação de programas de P&DC em outros países nas décadas seguintes (anos 1920 e 1930), à medida que as ameaças de guerra e bombardeio aéreo aumentavam, especialmente após o início das ameaças de uso de armas nucleares. Grande dirigível rígido de construção alemã, com carcaça metálica, usado para travessias do Atlântico na década de 1930 (PRIBERAM, 2020). períodos das duas grandes guerras mundiais (1914 – 1918 e 1939 – 1945). período pós-Guerra Fria e o início da era digital (1947 a 1991). 1º e 2º momentos 3º momento THE NATIONAL ARCHIVES, 1930 RICHARD R. GANCZAK, 1944 WIKIPEDIA 14PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL No entanto, foi apenas no final da Guerra Fria (1947 a 1991) que o foco da defesa civil saiu da defesa con- tra ataques militares para a prevenção, preparação e resposta de emergências, situações de crise e de- sastres em geral. O novo conceito é descrito por vários termos, cada um com seu significado específico, como: » gerenciamento de crises; » gerenciamento de emergências; » preparação para emergências; » planejamento de contingência; » contingência civil; » ajuda civil; » proteção civil. Assim, a história nos mostra que, no primeiro e se- gundoperíodo, as atenções estiveram voltadas para o risco de ataques militares, principalmente aos ataques aéreos. Em seguida, após a dissolução da URSS no fim de 1991, o que marcou o fim da Guerra Fria e resultou em uma certa "tranquilidade" no mundo quanto aos ris- cos de uma nova guerra intercontinental, os serviços de defesa civil passaram a atuar de maneira mais efeti- va no atendimento de ocorrências de desastres. Na esteira dos acontecimentos mundiais decorren- tes da 2ª grande guerra, o Brasil instituiu a sua primei- ra Defesa Civil no mesmo momento em que declarou guerra contra a Alemanha e os demais países que compunham o bloco do Eixo em 22 de agosto de 1942. Vapor Itagiba era o navio brasileiro de carga e de passageiros. Tal fato se deu após uma sequência de ataques aos navios de nacionalidade brasileira, ocupados por civis, entre os dias 15 e 17 de agosto do mesmo ano, torpede- ados pelo submarino alemão U-507. As vítimas do vapor Itagiba foram resgatadas pelo cargueiro Arará, que também acabou atacado por torpedos pelo submarino alemão, indo à pique e cau- sando a morte de 20 tripulantes e 36 passageiros. ANTES: Proteção para as família atingidas pelas guerras DEPOIS: Foco para prevenção, preparação e resposta REPRODUÇÃO 15PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A notícia dos afundamentos fez com que a po- pulação brasileira fosse às ruas exigindo do governo da época uma resposta imediata aos ataques, o que culminou na declaração de guerra do Brasil à Ale- manha e à Itália e na criação do Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, em agosto de 1942, tendo como referência o modelo britânico de proteção passiva. Isso se deve a uma difusão do que ocorria, principal- mente no continente europeu, onde os países que abrigavam as grandes batalhas vinham, paulatina- mente, desenvolvendo os seus serviços de prote- ção a ataques aéreos. Somente no ano seguinte, em 1943, a denomina- ção de Defesa Passiva Antiaérea foi alterada para Serviço de Defesa Civil, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço da Defesa Civil, do então Ministério da Justiça e Negócios Interiores (MJNI). Este órgão aca- bou sendo extinto em 1946, bem como suas respecti- vas diretorias regionais criadas nos estados, territórios e no Distrito Federal, tendo em vista o fim da Segunda Grande Guerra e a reorganização do Ministério, que acabou criando, em 1946, o Conselho de Segurança Nacional ( Decreto nº 9.775, de 6 de setembro de 1946), que passou a tratar das questões de segurança, dentre elas, a segurança global da população. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e diante do baixo risco de ataques militares, a reorganização do Serviço de Defesa Civil no Brasil foi se adaptando para atender as demandas originadas pelas ocorrên- cias de desastres. O Decreto nº 9.775 foi revogado pelo Decreto-Lei nº 348, de 1968. ACERVO, FOLHAPRESS ARAQUÉM DE ALCÂNTARA As décadas de 1960 e 1970 representam o período em que o olhar do país se voltou a essas questões, motivado pelas fortes chuvas que assolaram a Região Sudeste (foto acima) e de uma intensa seca na Região Nordeste (foto ao lado), ocorrida entre os anos de 1966 e 1967. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del9775impressao.htm 16PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Na busca por alcançar os anseios políticos em aten- dimento aos eventos desses anos, já em 1967, com a criação do Ministério do Interior, uma série de organi- zações estaduais emergiram com o viés de Defesa Civil. No entanto, antes da criação do Ministério do In- terior, o estado da Guanabara, atual estado do Rio de Janeiro, ainda em 1966, após as chuvas intensas que provocaram inundações, enxurradas e deslizamen- tos em seu território, constituiu um Grupo de Traba- lho (GT) que teve como objetivo organizar métodos de mobilização dos órgãos de governo em casos de catástrofes. Esse GT foi responsável pela elaboração do primei- ro Plano Diretor de Defesa Civil do estado da Guana- bara, o qual atribuiu diretrizes de organização estadu- al, tendo como exemplo a criação das Coordenadorias Regionais de Defesa Civil (Coredecs) e a definição de atribuições dirigidas aos órgãos que compunham o Sistema Estadual de Defesa Civil (SEDC), marcando, assim, a institucionalização da primeira estrutura esta- dual de Defesa Civil no Brasil. A Sedec foi responsável por apoiar tecnicamente e administrativamente o Geacap, sendo, portanto, o embrião do que existe atualmente em pleno funcio- namento, correspondendo à atual Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, de mesma sigla: Sedec. As duas décadas seguintes, além de marcarem o término do século XX, o fim da Guerra Fria e o início da era digital, congregaram, também nesse período, os princípios da prevenção em Defesa Civil que emer- giram paralelamente à evolução de uma consciên- cia ambiental, impulsionada por diversas campanhas mundiais sobre a necessidade de preservação da na- tureza e do meio ambiente. Foi nesse contexto que, em 1988, se criou o Sistema Nacional de Defesa Civil (Sin- dec), fortalecido dois anos após, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu: o ano de 1990 como o início da Década Internacional para Redução dos Desastres Naturais (DIRDN). O Brasil, como um dos países signatários nessa inicia- tiva da ONU – a qual tinha como objetivo central promo- ver uma campanha voltada à redução de danos huma- nos, materiais e prejuízos socioeconômicos provocados por desastres, especialmente nos países em desenvol- vimento – elaborou um plano nacional de redução de desastres para a década de 1990, estabelecendo metas e programas a serem alcançados até o ano 2000. O Ministério do Interior tinha, entre suas competências, a missão de assistir às populações atingidas por calamidades públicas em todo território nacional. Nos 10 anos seguintes, outros estados seguiram com a mesma iniciativa, como: 1970 Rio Grande do Sul. 1972 Paraná e Minas Gerais. 1973 Santa Catarina. 1976 São Paulo. Os grandes avanços desse período foram notórios na esfera federal, com destaque para a criação: » da instituição do Fundo Especial para Calamida- des Públicas (Funcap), em 1969; » do Grupo Especial para Assuntos de Calamida- des Públicas (Geacap), em 1970; » da Secretaria Especial de Defesa Civil (Sedec), em 1979. 17PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O referido documento resultou na então Política Nacional de Defesa Civil (PNDC), respaldada em qua- tro princípios básicos: 1. Prevenção; 2. Preparação; 3. Resposta; 4. Reconstrução. A partir desse momento, ganha força uma visão das fases do pré e do pós-desastre. Diante disso, as duas primeiras décadas do século XXI reuniram os anos em que a discussão em torno do tema Redução de Riscos de Desastres (RRD) ganhou força em escala mundial, com reflexos diretos na gestão federal e nas gestões estaduais e municipais no Brasil. Isso se deve às iniciativas da ONU, quando organizou as: CONFERÊNCIAS MUNDIAIS Fonte: Ceped/UFSC (2021). A RRD visa prevenir novos riscos e reduzir riscos existentes, contribuindo para o fortalecimento da resiliência e, portanto, para o alcance do desenvolvimento sustentável. Uma política global de RRD é definida no Marco de Sendai e endossada pelas Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres 2015- 2030, cujo resultado esperado é: “A redução substancial do risco de desastres e de perdas em vidas, meios de subsistência, saúde e ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais de pessoas, empresas, comunidades e países.” (UNISDR, 2015). 3ª Conferência Mundial para Redução deRiscos de Desastres, realizada em Sendai, capital de Miyagi, no Japão. 2ª Conferência Mundial para Redução de Desastres, realizada em Kobe, capital de Hyogo, no Japão. 2015 1ª Conferência Mundial para Prevenção de Desastres, realizada em Yokohama, capital de Kanagawa, no Japão. 1994 2005 O tema foi levantado pela ONU, em 1972, na Conferência de Estocolmo, evento que tratava sobre Meio Ambiente Humano. Vinte anos depois, o assunto voltou à tona e foi amplamente debatido na Conferência de 1992, no Rio de Janeiro, a qual abordou uma série de aspectos que envolvem a relação entre Desenvolvimento e Meio Ambiente, e na Cúpula de Joanesburgo, em 2002, responsável por discutir sobre o Desenvolvimento Sustentável (LAGO, 2006). 18PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A 1ª Conferência Mundial (1994) apresentou a Es- tratégia e Plano de Ação de Yokohama, primeiro plano voltado à instituição de uma política de redução de de- sastres com orientações sociais comunitárias. Além de ser precursora da Estratégia Internacional de Redução de Desastres (EIRD/UNISDR) reiterando a importância da gestão do risco integrada em todos os âmbitos da defesa civil. Como resultado da 2ª Conferência Mundial (2005), 168 países membros da ONU, entre os quais o Brasil, foram signatários de um acordo denominado de Marco de Ação de Hyogo, no qual se instituiu aos países par- ticipantes a adoção de um Quadro de Ações a serem desenvolvidas durante os 10 anos seguintes (2005 a 2015), com o objetivo de construir a resiliência das na- ções e das comunidades diante o risco de ocorrência de desastres. Já a 3ª Conferência (2015) demonstrou claramente que há um amadurecimento e um avanço no debate acerca da RRD quando, nos mesmos moldes da confe- rência anterior, o encontro teve como objetivos: » Avaliar o avanço, alcance e lacunas na execução do Marco de Ações de Hyogo; » Propor uma nova agenda com ações e metas a serem trabalhadas pelos países nos 15 anos se- guintes (2015 – 2030). Tanto o Marco de Hyogo como o Marco de Sendai são documentos que trazem em sua essência intenções de caráter político, e, em momentos diferentes, estabelecem responsabilidades aos governos em atendimento perante às necessidades de proteção da população e, consequentemente, estimulam os planejamentos estratégicos necessários à execução das ações programadas e promoção de uma cultura de prevenção a desastres. Para essa nova fase, as ações desejadas tiveram um caráter de continuidade e/ou complementarie- dade às ações iniciadas entre 2005 e 2015. Da mesma forma, como foi estabelecido na conferência anterior, o evento realizado em 2015 instituiu um novo marco, denominado de Marco de Sendai. É o compromisso vigente que se estende até 2030. Dessa vez, o objetivo abordou a prevenção e a RRD a partir da implementação de medidas que permeiam todas as áreas de gestão (economia, meio ambiente, desenvolvimento social, infraestruturas, saúde, edu- cação, legislação e outras), integrando-as de forma que seja possível reduzir a exposição a perigos e tam- bém a vulnerabilidade a desastres; assim como opor- tunizar meios de otimização das ações de preparação para resposta e recuperação, tornando os organismos institucionais mais resilientes. PRIORIDADES DO MARCO DE SENDAI O Marco de Sendai propõe quatro prioridades a serem trabalhadas até 2030. São elas: Compreensão do risco de desastres; Investimento na redução do risco de desastres para a resiliência; Fortalecimento da governança para gerenciar o risco de desastres; Melhoria na preparação para desastres para uma resposta efetiva e “reconstruir melhor” (Build Back Better) na recuperação, reabilitação e reconstrução. 1 3 2 4 Caso queira ler mais sobre o Marco de Sendai, acesse o material complementar na plataforma moodle. https://addiemooc38.escolavirtual.gov.br/pluginfile.php/10755/mod_folder/content/0/PDC_C1_Marco_Sendai_Material_Complementar.pdf?forcedownload=1 https://addiemooc38.escolavirtual.gov.br/pluginfile.php/10755/mod_folder/content/0/PDC_C1_Marco_Sendai_Material_Complementar.pdf?forcedownload=1 19PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Retomando o contexto nacional, observa-se que, após uma sequência de graves ocorrências de desastres – registradas a partir de 2008, em Santa Catarina, passando por Alagoas e Pernambuco, em 2010 e tendo como ápice o desastre da Região Serrana no Rio de Janeiro, em 2011 –, o país passou por sua última grande reformulação legal na área de P&DC. WILSON DIAS, AGÊNCIA BRASIL TÂNIA RÊGO, AGÊNCIA BRASIL ANTÔNIO CRUZ, AGÊNCIA BRASIL Palmares (PE) Blumenau (SC) Petrópolis (RJ) 20PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL No Brasil, o processo teve início em 2009, com a 1ª Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária, cujos 1.500 delegados representantes dos estados, Distrito Federal e municípios brasileiros aprovaram 104 diretrizes, reafirmando, especialmen- te, a importância do fortalecimento das instituições de Defesa Civil municipais. Esse conteúdo foi levado à Câmara dos Deputados e Senado Federal, com insta- lação de comissões para discussão, e culminou com a aprovação da Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Já em 2014, em Brasília, ocorreu a 2ª Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil com cerca de 1,5 mil pessoas representando suas localidades no debate. E das mais de 900 propostas oriundas das etapas prepara- tórias da conferência, foram priorizados 10 princípios e 30 diretrizes, os quais orientam a continuação do processo [...] políticas e práticas de gestão de riscos de desastres baseadas numa compreensão do risco em todas as suas dimensões de vulnerabilidade, ameaça, capacidade, exposição de pessoas e bens, características dos perigos e meio ambiente.” (UNISDR, 2015, p. 10). de aperfeiçoamento da cultura de P&DC em nosso país. Atualmente, tanto a legislação quanto os especia- listas da área orientam que as estruturas de P&DC de- vem ser organizadas com a participação comunitária, incluindo a construção de: Observe o exemplo das casas conjugadas, com baixa infraestrutura, em área íngreme e suscetível a deslizamentos. Aqui você pode ver um cenário suscetível a impactos de ameaças ou perigos, ou seja, trata-se de uma área vulnerável, com elementos (pessoas e bens) expostos. Esse exemplo permite compreender o risco em suas dimensões (assunto aprofundado no Módulo 2 deste curso) e permite, também, enfatizar a necessi- dade de medidas completas de atuação em P&DC. Diante disso, conclui-se que as ações de P&DC devem estar orientadas para: a gestão de riscos e de desas- tres, o aumento da resiliência e o desenvolvimento sustentável. No contexto nacional, poderíamos dizer que o esta- belecimento de uma agenda que priorize essas ações incluiria: » A atualização do Banco de Dados de Registros de Desastres; » A melhoria e ampliação do mapeamento dos riscos de desastres no Brasil; » A constante atualização do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais; » A implantação efetiva do Plano Nacional de Pro- teção e Defesa Civil; » A continuidade e o aperfeiçoamento do Sistema de Informações e Monitoramento de Desastres; » O aperfeiçoamento constante da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), mediante a regulamentação da Lei nº 12.608/2012, por meio do Decreto nº 10.593/2020, com a finalidade de garan- tir a efetividade dos direitos por ela assegurados; » O aperfeiçoamento constante do Sistema Na- cional de Proteção Civil (Sinpdec) em todos os níveis (federal, estadual e municipal). MANU DIAS, GOVERNO DA BAHIA http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm 21PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL:INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Recapitulando, reveja os principais fatos que marcaram a história da P&DC, o seu conceito e o que institui a Lei nº 12.608/12: Anos 1940 Primeiras iniciativas em resposta ao período de guerra. 1970-1980 Foco ampliado para ações de preparação e resposta. 1990-2000 ONU estabelece a década de 1990 como a Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais; 1ª Conferência Mundial sobre Prevenção de Desastres Naturais em Hyokoama, em 1994; e a criação do Escritório das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres em 1999. 1980-1990 Foco redefinido para ações de prevenção, preparação e resposta – ciclo dos desastres. 1960-1970 Primeiras estruturas com foco apenas nas ações de resposta. CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA » ARQUIVO MUNICIPAL DE CARAGUATATUBA, FUNDACC REPRODUÇÃO 22PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Fonte: Ceped/UFSC (2021). 2005-2015 Criação, em 2005, do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), sob a coordenação da Sedec, com o intuito de gerenciar as ações estratégicas de preparação e resposta a desastres em todo o território nacional; 2ª Conferência Mundial para Redução de Desastres, que aprova o Marco de Ação de Hyogo, com foco no aumento da resiliência das Nações e das Comunidades ante os desastres; 1ª Conferência Nacional de Defesa Civil e Assistência Humanitária em 2009, que aprova 104 diretrizes para o fortalecimento das instituições de defesa civil municipais; aprovação da Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec); 2ª Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil, em 2014, que aprova 10 princípios e 30 diretrizes para orientar a continuação do processo de aperfeiçoamento da cultura de P&DC. 2015-2030 3ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução do Risco de Desastres que aprova o Marco de Ação de Sendai, reforçando a ideia da importância do aprimoramento do trabalho científico e técnico sobre a redução do risco de desastres, desenvolvimento sustentável e resiliência em todos os níveis e regiões. No Brasil, o foco concentra-se no aperfeiçoamento da PNPDEC, que recentemente regulamentou a Lei nº 12.608/2012, por meio do Decreto nº 10.593, de 24/12/2020 com a finalidade de assegurar a efetividade dos direitos por ela previstos e a melhoria constante do Sinpdec. A R Q U IV O , U N D R R 23PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL LEI Nº 12.608/2012 O que institui a Lei nº 12.608/2012? Fonte: Ceped/UFSC (2021). PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O que é Proteção e Defesa Civil (P&DC)? A P&DC é um arranjo resultante de ações coordenadas pelos diferentes poderes do Estado, fortalecidas por entidades não governamentais e pela população; sendo somadas a meios viabilizadores, tais como legislações e planejamentos orçamentários. A P&DC é observada, na prática, pela atuação na Gestão de Risco e Gerenciamento de Desastres, como pode ser observado a seguir: Fonte: Ceped/UFSC (2021). Prevenção Mitigação Preparação Gestão de Risco DepoisDuranteAntes Gerenciamento de Desastres Resposta Recuperação DESASTRE Política Nacional de Proteção e Defesa Civil PNPDEC Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil – Sinpdec Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC 24PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – PNPDEC A PNPDEC determina os objetivos e as diretrizes a serem adotadas para a redução dos riscos de desas- tres, visando garantir a segurança e o bem-estar da população e promover o desenvolvimento sustentá- vel do país, em articulação com outras políticas pú- blicas correlatas. Ela consolida as medidas definidas no Marco de Ação de Hyogo (2005), que compreende as ações de prevenção, mitigação, preparação, respos- ta e recuperação, de forma articulada com as demais políticas públicas. De acordo com o que propõe a Lei nº 12.608/2012, em seu parágrafo único, artigo 3º, a PNPDEC prevê também a integração das políticas. Ela diz que: A PNPDEC deve integrar-se às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável. (BRASIL, 2012). ESTÁ NA LEI Entende-se como resiliência a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade exposta a perigos de resistir, absorver, acomodar, se adaptar, transformar e se recuperar dos efeitos de um evento adverso de maneira oportuna e eficiente, incluindo a preservação e a restauração de suas estruturas básicas essenciais e funções por meio da gestão de risco. (UNISDR, 2017, online). O artigo 5º da mesma lei institui 15 objetivos com foco na RRD, promoção e continuidade de ações de P&DC, estimulação do desenvolvimento de cidades resilientes e processos sustentáveis de desenvolvi- mento urbano. Os principais avanços que se teve em relação à po- lítica nacional nos últimos anos são: » a integração com as diversas políticas públicas, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável; » a instituição do plano nacional e dos planos es- taduais de P&DC, além dos planos de contin- gência em nível municipal; » a criação do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres; » a profissionalização e qualificação permanente dos agentes de P&DC; » o estabelecimento de Cadastro Nacional de municípios em áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto; » definição de atribuições e divisão de competên- cias entre as três esferas administrativas; » a inclusão dos princípios da P&DC e a educação ambiental nos currículos do Ensino Fundamen- tal e Médio. 25PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A PNPDEC tem como principal característica a sua natureza sistêmica que demanda a atuação integra- da e articulada entre todos os atores responsáveis. Ela está fundamentada na Constituição Federal, que garan- te a todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Portanto, tra- ta-se de uma política pública com princípios, objetivos, diretrizes e estratégias orientadores da atuação do po- der público e de suas relações com a sociedade. DIRETRIZES DA PNPDEC Estabelece no seu artigo 4º, incisos I a VI, da Lei nº 12.608/2012, as seguintes diretrizes: I. Atuação articulada entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios para redução de desastres e apoio às comunidades atingidas Atuar de forma articulada significa estabelecer canais de comunicação e integração de ações entre os diferentes níveis de governo, visando ampliar a capacidade de gestão dos riscos de desastres, de forma a minimizar os impactos dos desastres, em especial nas áreas atingidas pelos eventos adversos. Essa articulação é importante para racionalizar e otimizar recursos, bem como para uma melhor avaliação dos riscos, já que muitas vezes o risco de um desastre pode ultrapassar as fronteiras entre municípios ou estados. II. Abordagem sistêmica das ações As ações que abrangem o ciclo de P&DC – prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação – não devem ser tratadas de forma isolada, uma vez que a gestão integral dos riscos de desastres é complexa e abrangente. É indicado pensar em um ciclo de gestão com fases interligadas, complementares e continuadas. III. Priorização das ações preventivas à minimização de desastres As atividadesde prevenção devem ser priorizadas, o que significa que se deixa de focar apenas na ocorrência do desastre. Assim, a ênfase deve ser em reduzir o risco e promover ações que tornem a população mais participativa na construção da resiliência e cada vez menos vulnerável em relação aos eventos adversos. TÂNIA RÊGO, AGÊNCIA BRASIL 26PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL IV. Adoção da bacia hidrográfica como unidade de análise das ações de prevenção de desastres relacionados aos corpos d’água Boa parte dos desastres está relacionada aos cursos de água que se estendem para além das divisas municipais. Assim, a gestão do risco do desastre não deve ficar limitada ao munícipio. É de fundamental importância considerar a bacia ou as microbacias hidrográficas na análise dos riscos de desastres para poder compreender os problemas a serem tratados. V. Planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de risco e incidência de desastres no território nacional O conhecimento e a avaliação dos riscos de desastres devem ser a premissa para o planejamento das ações de P&DC, e, para isso, é importante o desenvolvimento de estudos e pesquisas que o fundamentem. Informações sobre o regime pluviométrico, características geomorfológicas do solo, secas, incêndios, entre outros, além de dados sobre as intervenções antrópicas, usos inadequados do solo, ocupações irregulares do território, infraestrutura e obras inapropriadas podem levar ao melhor conhecimento e avaliação dos riscos de desastres. Além disso, vale lembrar que a valorização do conhecimento empírico também faz parte dos estudos das áreas de risco. VI. Participação da sociedade civil A prevenção aos desastres é responsabilidade compartilhada do poder público, do setor privado e da sociedade. A participação da sociedade será mais efetiva se houver conscientização acerca dos riscos, ameaças e vulnerabilidades, bem como o comprometimento de todos. Nesse sentido, a educação é essencial como forma de conscientizar e capacitar a população para contribuir com a execução das atividades de P&DC. Trata-se de abrir-se para ouvir as demandas e o conhecimento popular, construindo, com a participação da população, o processo de mudança de cultura, por meio da adoção de práticas seguras para autoproteção e promoção da resiliência no território. ARI SCHRAMM E HELENA MARQUARDT, ADR IBIRAMA 27PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – Sinpdec A Defesa Civil no Brasil está organizada sob a forma de um sistema denominado Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), coordenado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), pertencente ao Ministério do Desen- volvimento Regional (MDR). Cabe ao Sinpdec a implementação da doutrina estabe- lecida na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) tem sua estrutura regimental e quadro de cargos/ funções organizados pelo Decreto nº 10.290, de 24 de março de 2020, que revogou o Decreto nº 9.666, de 2 de janeiro de 2019. Algumas alterações na estrutura, remanejo e transformação de cargos foram necessários em face da fusão dos extintos Ministério das Cidades e Ministério da Integração Nacional (ato realizado por meio da Medida Provisória nº 870, de 1º de janeiro de 2019, convertida para Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019). ORGANIZAÇÃO DA PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL coordena O Sinpdec é constituído por órgãos e entidades da administração pública federal, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios e por entidades públicas e privadas de atuação significativa na área de P&DC, sob a centralização da Sedec. A lei prevê, ainda, a possibili- dade de mobilização da sociedade civil para atuar em Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamida- de Pública (ECP), no apoio logístico para o desenvolvi- mento das ações de P&DC (BRASIL, 2020b). Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil Sedec Ministério do Desenvolvimento Regional MDR Doutrina estabelecida na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil PNPDEC Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil Sinpdec implementa 28PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL COMPOSIÇÃO DO SINPDEC Representado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil Responsável por coordenar as ações de P&DC em todo o território nacional Representado pelos órgãos de P&DC e órgãos setoriais em âmbito estadual, com coordenação de cada Coordenadoria e/ou Secretaria Estadual de Proteção e Defesa Civil Representado pelos órgãos de P&DC e órgãos setoriais em âmbito municipal, com coordenação de cada órgão municipal Representado pelos órgãos de P&DC e órgãos setoriais em âmbito federal, com coordenação da Sedec Responsável pela articulação, coordenação e execução do Sinpdec em nível estadual Responsável pela articulação, coordenação e execução do Sinpdec em nível federal Responsável pela articulação, coordenação e execução do Sinpdec em nível municipal Fonte: adaptado de Brasil (2012). ESTRUTURA ESTADUALESTRUTURA FEDERAL ESTRUTURA MUNICIPAL Entenda a composição do Sinpdec: ÓRGÃO CENTRAL 29PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O bom trabalho e a integração dos órgãos que com- põem um sistema produzem sinergia. Essa sinergia se traduz no esforço para alcançar objetivos e metas realizadas pelas várias partes envolvidas, trabalhando conjuntamente em prol de um bem comum. Assim: A ação organizada de forma integrada e global do Sinpdec proporciona um resultado multiplicador e potencializador, muito mais eficiente e eficaz do que a simples soma das ações dos órgãos que o compõem. (BRASIL, 2007, p. 10). Semelhante à PNPDEC, o Sinpdec também foi es- tabelecido pela Lei nº 12.608/2012. Vale destacar que todos os órgãos do Sinpdec têm atribuições relevan- tes, incluindo a atuação de extrema importância dos órgãos municipais de P&DC, pois é no município que os desastres ocorrem e iniciam as primeiras ações de atendimento à população. Significa que a população dos municípios irão sempre conviver com eventos naturais adversos, os quais tem se mostrado mais presentes nas últimas décadas. Esse aumento se dá tanto na frequência quanto na intensidade e, somados a um padrão histórico de urbanização inadequada e vulnerabilidade social, resultam em impactos humanos e econômicos crescentes. Além das ameaças naturais, os municípios estão expostos aos riscos que determinadas tecnologias – na forma de produtos ou processos industriais típicos das áreas urbanas – podem causar, como danos à saúde e ao meio ambiente. FERNANDO FRAZÃO, AGÊNCIA BRASIL 30PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Em vista disso, no contexto do Sinpdec, são os municípios que devem identificar e conhecer sobre os riscos dos desastres locais e devem estar prepa- rados para atender imediatamente as populações atingidas, reduzindo perdas, danos humanos, mate- riais e ambientais. Por isso a importância de investir esforços em P&DC, com o objetivo de realizar a gestão do risco de desas- tres, construindo cidades mais seguras e resilientes e garantindo uma resposta pronta e eficiente para aten- der aos desastres e situações de crise em geral. Essa deve ser a principal premissa do órgão de P&DC em âmbito municipal. Ainda de acordo com a Lei nº 12.608/2012, regula- mentada pelo Decreto nº 10.593/2020, o sistema atua no planejamento, na articulação e na coordenação das ações de gerenciamento de riscos e de desastres no território nacional e é integrado pelo: » Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil (Conpdec); » Órgão e entidadesdo Sistema Federal de Prote- ção e Defesa Civil; » Órgão e entidades dos sistemas estaduais e Dis- trital de P&DC; » Órgão e entidades dos sistemas municipais de P&DC; » Entidades privadas com atuação relevante na área de P&DC; » Organizações da sociedade civil. COMPOSIÇÃO DO CONPDEC Atualmente o Conpdec é composto por representantes dos seguintes órgãos e entidades: Conpdec PRESIDENTE Ministério do Desenvolvimento Regional Ministério do Meio Ambiente Ministério da Justiça e Segurança Pública Ministério da Cidadania Órgãos estaduais ou distrital de P&DC Ministério da Defesa Órgãos municipais de P&DC Ministério do Desenvolvimento Regional (Sedec) Instituição de ensino e pesquisa com notório saber na área de GRD Ministério da Saúde Secretaria de Governo da Presidência da República Organização da sociedade civil com atuação reconhecida na área de P&DC 31PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Antes de ver sobre a Sedec, veja a compilação das informações mais importantes relacionadas à legisla- ção aplicada ao Sinpdec. Acompanhe o resumo: De acordo com o artigo 14, do Decreto nº 10.593/2020, ao Conpdec, como órgão colegiado de natureza consul- tiva, integrante da estrutura do MDR, compete propor: I. os critérios para a elaboração do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil e as medidas necessárias ao cumprimento de suas metas; II. o monitoramento da implementação do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil; III. a criação de programas relacionados à matéria de proteção e defesa civil; IV. a elaboração e a alteração de atos normativos relacionados à matéria de proteção e defesa civil; V. os procedimentos destinados ao atendimento de crianças, adolescentes, gestantes, pessoas idosas e pessoas com deficiência em situação de desastre, observada a legislação aplicável; e VI. as diretrizes complementares à implementação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. ESTÁ NA LEI (BRASIL, 2020b). RESUMO DAS LEGISLAÇÕES DO SINPDEC ATO LEGAL TEMÁTICA Lei nº 12.608/2012 (Conversão da Medida Provisória nº 547, de 2011) Institui a PNPDEC, dispõe sobre o Sinpdec e sobre o Conpdec; autoriza a criação do Sistema de Informações e Monitoramento de Desastres, altera a Lei nº 12.340/2010, a Lei nº 10.257/2001, a Lei nº 6.766/1979, a Lei nº 8.239/1991 e a Lei nº 9.394/1996; e dá outras providências. Lei nº 12.340/2010 (Conversão da Medida Provisória n° 494, de 2010) Dispõe sobre as transferências de recursos da União aos órgãos e às entidades dos estados, do Distrito Federal e dos municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres e sobre o Funcap e dá outras providências. Lei nº 12.983/2014 Altera a Lei nº 12.340/2010, para dispor sobre as transferências de recursos da União aos órgãos e às entidades dos estados, do Distrito Federal e dos municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco e de resposta e recuperação em áreas atingidas por desastres e sobre o Funcap e demais providências. CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA » 32PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL ATO LEGAL TEMÁTICA Decreto nº 10.593/2020 Regulamenta a Lei nº 12.608/2012, dispondo sobre a organização e o funcionamento do Sinpdec e do Conpdec e abordando ainda questões relacionadas ao Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil e o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres. Decreto nº 7.257/2010 Regulamenta a Medida Provisória nº 494, de 2 de julho de 2010, para dispor sobre o Sinpdec, sobre o reconhecimento de SE e ECP, sobre as transferências de recursos para ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução nas áreas atingidas por desastres e dá outras providências. Instrução Normativa MDR nº 36/2020 Estabelece procedimentos e critérios para o reconhecimento federal e para declaração de SE ou ECP pelos municípios, estados e pelo Distrito Federal e dá outras providências. Portaria MI nº 413/2018 Define procedimentos sobre o envio de informações e alertas à população pelos órgãos e entidades municipais e estaduais de P&DC. FER N A N D O FR A ZÃ O , A G ÊN C IA B R A SIL Fonte: adaptado Brasil (2021). 33PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL – Sedec A Sedec integra a estrutura organizacional do MDR, atuando como órgão específico singular, sendo res- ponsável por uma das áreas finalísticas de competên- cia do Ministério. Conforme o Decreto nº 10.593/2020 estabelece em seu artigo 5º, a Sedec exerce o papel de órgão central do Sinpdec e de coordenação do PNPDEC. Dentre suas competências principais estão a coorde- nação e o suporte técnico ao Sinpdec, além da articu- lação com as entidades do âmbito federal. Cabe também à Sedec: » Implementar normas, instrumentos, programas e ações relacionadas à proteção, à defesa civil e à gestão de riscos e de desastres; » Promover o treinamento de recursos humanos para ações de P&DC, gestão de riscos e de de- sastres; » Coordenar e promover ações conjuntas dos ór- gãos integrantes do Sinpdec, em articulação com os estados, o Distrito Federal e os municípios. COMPETÊNCIAS DA SEDEC São exercidas, de forma integrada, pelos seguintes órgãos: DAG Departamento de Articulação e Gestão; DOP Departamento de Obras de Proteção e Defesa Civil; Cenad Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres. ARQUIVO SEDEC 34PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Já ao DOP compete desenvolver e implementar programas, apoiar projetos e obras de prevenção em áreas de risco de desastres, de restabelecimento de serviços essenciais e de reconstrução. O DOP, por meio de suas três Coordenações-Gerais (Coordenação Geral de Restabelecimento e Recons- trução, Coordenação Geral de Prevenção e Programas Estratégicos e Coordenação Geral de Estudos e Avalia- ção), atua ainda na: » Coordenação, em âmbito nacional, das ações de prevenção, restabelecimento e recuperação em apoio aos órgãos estaduais, distritais e mu- nicipais de P&DC; » Articulação, em âmbito nacional, das intervenções estruturantes de prevenção em áreas de risco de desastres, restabelecimento e reconstrução; » Análise e acompanhamento da execução de convênios, termos de compromissos, contratos e outros instrumentos relacionados com às suas competências. Como esses departamentos estão decompostos em coordenações, você os vê detalhadamente no or- ganograma que demonstra a composição da Sedec ao final deste tópico. De forma resumida, pode-se dizer que ao DAG compete a gestão das transferências de recursos da Sedec e a articulação com o Sinpdec. Por meio de suas duas Coordenações-Gerais (Coordenação Geral de Gestão e Coordenação Geral de Articulação do Sinp- dec), o DAG atua: » Na supervisão da elaboração do plano plurianu- al, do plano estratégico e dos orçamentos anu- ais da Sedec, incluindo o acompanhamento da execução orçamentária e financeira; » Na proposta e aperfeiçoamento dos normativos relacionados às ações de P&DC e gestão de ris- cos e de desastres; » No fortalecimento e capacitação do Sinpdec. Finalmente, ao Cenad compete promover o de- senvolvimento de estudos relacionados à avaliação e mapeamento de riscos, realizar as ações de monitora- mento e preparação para desastres, além de articular o apoio federal para o desenvolvimento de ações de resposta em âmbito nacional. Por meio de suas duas Coordenações-Gerais (Coor- denação Geral de Gerenciamento de Riscos e Coorde- nação Geral de Gerenciamento de Desastres), o Cenad atua ainda na: » Difusãode alertas de desastres e orientação so- bre ações de preparação para estados, Distrito Federal e municípios; » Análise das solicitações de reconhecimento fe- deral de SE ou de ECP; » Analise das solicitações de apoio complementar para assistência às vítimas de desastres em su- porte aos estados, municípios e Distrito Federal; » Mobilização e coordenação de equipes ope- racionais integrantes do Sinpdec nas ações de resposta em apoio a Entes Federativos afetados por desastres. Conheça todas as competências da Sedec no site do MDR. https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/competencias 35PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL ESTRUTURA DA SEDEC Compreenda melhor a estrutura da Sedec pelo organograma a seguir: Fonte: adaptado do MDR (2021). COORDENAÇÕES-GERAIS COORDENAÇÕES ESPECÍFICAS CGG Coordenação-Geral de Gestão CGA Coordenação-Geral de Articulação do Sinpdec CGGR Coordenação-Geral de Gerenciamento de Riscos CGGD Coordenação-Geral de Gerenciamento de Desastres CGRR CG. de Restabelecimento e Reconstrução CGPP CG. de Prevenção e Projetos Estratégicos CGEA Coordenação-Geral de Estudos e Avaliação CSP Coordenação de Sistematização de Processos CPP Coordenação de Planejamento e Projetos COIR Coord. de Orçamento e Instrumentos de Repasse CN Coordenação de Normatização CFA Coordenação de Fortalecimento e Capacitação CPRE Coordenação de Preparação COARI Coordenação de Análise de Riscos CMA Coordenação de Monitoramento e Alerta CRSA Coord. de Reconhecimento, Socorro e Assistência COD Coordenação de Operações em Desastres Core Coordenação de Reconstrução Corse Coord. de Restabelecimento de Serviços Essenciais Cope Coordenação de Prevenção CPE Coordenação de Programas Estratégicos CEI Coordenação de Estudos Integrados COA Coordenação de Avaliação Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – Sedec Departamento de Articulação e Gestão – DAG Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – Cenad Departamento de Obras de Proteção e Defesa Civil – DOP Gabinete – GAB-Sedec COORDENAÇÕES-GERAIS COORDENAÇÕES CGG CGGD CGRR CGPP CGEACGGRCGA CSP CPP COIR CN CFA CPRE COARI CRSA CMA COD Core Corse Cope CPE CEI COA 36PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL ATRIBUIÇÕES DA UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS Mais uma vez é necessário se fundamentar na Lei nº 12.608/2012 para tratar das atribuições dos Entes Federados em relação à P&DC no Brasil. Assim, em seu artigo 9º, a lei estabelece que compete a todos os Entes Federados o desenvolvimento de uma cul- tura nacional de prevenção de desastres destinada ao desenvolvimento da consciência nacional acerca dos riscos de desastre em todo o país. União Especificamente em âmbito federal, como já dito, a Sedec representa a União como órgão central do Sinpdec. É ela a responsável por coordenar as ações de P&DC em todo o território nacional, com o objetivo de reduzir os riscos de desastres, compreendido pelas ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação, de forma multissetorial e nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), buscando integração e ampla participação comunitária. O artigo 6º da Lei nº 12.608/2012 estabelece como competência da União, entre outras atribuições, a expedição de normas e diretrizes gerais para a implementação e execução da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), bem como a coordenação do Sinpdec, em articulação com os estados, o Distrito Federal e os municípios. D EFESA C IV IL D E SA N TA CATA R IN A 37PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Estado Por sua vez, em âmbito estadual, todas as Unida- des Federativas no Brasil possuem um órgão respon- sável por desenvolver as atividades de P&DC em seus respectivos territórios. Esses órgãos são responsáveis pela articulação, coordenação e execução do Sinpdec em nível estadual. Para que isso ocorra, é importante que haja a ins- titucionalização da política, aprovada em lei estadual, que indique com clareza: » As competências e as formas de articulação do estado e dos municípios relativas às atividades de P&DC; » Os órgãos e instituições que devem atuar, isto é, os membros do sistema de P&DC no âmbito estadual; » A forma de atuação desses órgãos; » Os mecanismos de articulação com os órgãos setoriais; » As formas de participação da população. A institucionalização estadual da PNPDEC estabele- cerá o marco referencial para a atuação administrativa dos órgãos estaduais de P&DC, assim como dos inte- grantes do Sinpdec no estado (órgãos setoriais, de apoio, setor privado, entidades comunitárias, entre outros). É no artigo 7º da mesma lei que está estabelecida a competência das Unidades Federativas que, entre outras atribuições, devem executar a PNPDEC em seu âmbito territorial, coordenar as ações do Sinpdec em articulação com a União e os municípios e instituir o Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil correspondente. ED SO N L O PE S JR , G O V ER N O D E SÃ O P A U LO 38PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 Município Em relação aos órgãos municipais de P&DC, de acordo com o artigo 8º da Lei nº 12.608/2012, entre outras atribuições, estão a execução da PNPDEC e a coordenação das ações do Sinpdec em âmbito local, ambos em articulação com a União e os estados, assim como a incorporação das ações de P&DC no planeja- mento municipal. No entanto, apenas planos bem elaborados pelos órgãos de governo não são suficientes. É preciso que a comunidade seja envolvida para participar das atividades de P&DC no espaço municipal, atuando em parceria com a administração pública desde o planejamento até a execução das ações de P&DC. A partir desse conhecimento, é possível prepa- rar-se para enfrentá-los, utilizando-se de planos para prevenir e mitigar os riscos de desastres, bem como para responder e recuperar-se de seus efei- tos, construindo cidades com capacidade de resis- tir, absorver ou se recuperar de forma eficiente dos efeitos de um desastre. Dentre as funções primordiais do órgão municipal de P&DC está conhecer e identificar os riscos de desastres no município. M A R C ELO CA M A R G O , A G ÊN C IA B R A SIL 39PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL COMPETÊNCIAS EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PARA CADA ESFERA Confira no quadro a seguir as atribuições que competem à esfera municipal, estadual e federal: PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec) Coordenar as ações do Sinpdec em articulação com os estados, o Distrito Federal e os municípios. Coordenar as ações do Sinpdec em âmbito estadual em articulação com a União e os municípios. Coordenar as ações do Sinpdec em âmbito local em articulação com a União e os estados. Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) Expedir normas para a implementação e execução da PNPDEC. Executar em âmbito estadual a PNPDEC. Executar localmente a PNPDEC. Plano de Proteção e Defesa civil Instituir em seu âmbito. Instituir em seu âmbito. Incorporar as ações de P&DC no planejamento municipal. Sistema de Informações de desastres – S2ID Instituir e manter sistema de informações de monitoramento de desastres, em ambiente informatizado, visando o oferecimento de informações atualizadas para prevenção, mitigação, alerta, resposta e recuperação em situações de desastre em todo o território nacional. Fornecer dados e informações sobre desastres e processos de reconhecimento e transferência de recursos. Registrar desastresocorridos no estado. Consultar e acompanhar processos de reconhecimento federal de SE ou ECP e processos de transferência de recursos para ações de resposta e recuperação. Registrar desastres ocorridos no município. Consultar e acompanhar processos de reconhecimento federal de SE ou ECP e processos de transferência de recursos para ações de resposta e recuperação. Conheça mais sobre o S2ID. CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA » https://s2id.mi.gov.br/paginas/sobre.xhtml 40PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS Áreas de risco Apoiar os estados, o Distrito Federal e os municípios no mapeamento das áreas de risco, nos estudos de identificação de ameaças, suscetibilidades, vulnerabilidades e risco de desastre e nas demais ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. Identificar e mapear as principais áreas de risco, em articulação com a União e os municípios. Apoiar os municípios no levantamento das áreas de risco. Estabelecer medidas de segurança contra desastres nas proximidades de escolas e hospitais situados em áreas de risco. Identificar e mapear as principais áreas de risco no território municipal. Promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas ocupações nessas áreas. Vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso, a intervenção preventiva e a evacuação da população das áreas de alto risco ou das edificações vulneráveis. Manter a população informada sobre as áreas de risco e sobre como agir diante de emergências. Elaborar planos de contingência e realizar simulados. Estabelecer medidas de segurança contra desastres em escolas e hospitais em áreas de risco. CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA » Conheça mais exemplos de planos de contingência no Banco de Boas Práticas do MDR. https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/capacitacoes-e-boas-praticas 41PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS Decretação de SE ou ECP Instituir e manter sistema próprio para o reconhecimento em nível federal. Estabelecer critérios e condições para a declaração e o reconhecimento de SE e ECP. Apoiar a União, quando solicitado, na homologação do decreto municipal de SE e ECP. Declarar SE ou ECP, quando for o caso, em nível estadual. Declarar SE ou ECP. Avaliar danos e prejuízos. Promover a coleta, a distribuição e o controle de itens de assistência e suprimentos em situações de desastre. Organizar e administrar abrigos provisórios ou prover solução de moradia temporária às famílias atingidas por desastres. Monitoramento de riscos meteorológicos, hidrológicos e geológicos Realizar ações de monitoramento e alerta em articulação com os estados, o Distrito Federal e os municípios. Emitir avisos e alertas em articulação com Centros de Monitoramento oficiais. Instituir e manter cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de desastres. Realizar ações de monitoramento e alerta em articulação com a União e os municípios. Emitir avisos e alertas em articulação com Centros de Monitoramento oficiais. Realizar ações de monitoramento e alerta em articulação com a União e os estados. Criar centros de monitoramento locais para emitir avisos e alertas em articulação com a União e os estados. Manter a população informada sobre riscos e a ocorrência de eventos extremos. Organizar e administrar a emissão de alerta e alarme. CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA » 42PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS Promoção de estudos e capacitação Promover estudos e fomentar a pesquisa sobre riscos e desastres no âmbito nacional. Oferecer capacitação de recursos humanos para as ações de P&DC. Oferecer capacitação de recursos humanos para as ações de P&DC. Oferecer capacitação de recursos humanos para as ações de P&DC. Mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na ocorrência de desastres. Cultura de prevenção de riscos e desastres Desenvolver uma cultura nacional de prevenção de riscos e desastres. Apoiar a comunidade docente no desenvolvimento de materiais didáticos relacionados ao desenvolvimento da cultura de prevenção de desastres. Estimular comportamentos preventivos capazes de evitar ou minimizar a ocorrência de desastres em âmbito nacional. Desenvolver a cultura de prevenção de riscos e desastres em âmbito estadual. Estimular comportamentos preventivos capazes de evitar ou minimizar a ocorrência de desastres em âmbito estadual. Desenvolver a cultura de prevenção de riscos e desastres em âmbito municipal. Estimular comportamentos preventivos capazes de evitar ou minimizar a ocorrência de desastres em âmbito municipal. Fonte: adaptado de Brasil (2017c, 2020c). Mais detalhes sobre as funções e estrutura dos órgãos municipais estão no próximo módulo. Siga conosco! MÓDULO 2 CONCEITOS PRELIMINARES TO M A Z SILVA , A G ÊN C IA B R A SIL 44PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL CONCEITOS PRELIMINARES ARQUIVO SEDEC Neste módulo você deve refletir sobre as principais discussões que se articulam às ações de um gestor de proteção e defesa civil, reunindo alguns pressupostos do contexto internacional com definições que permitem compreender o processo do desastre, por meio da gestão integrada de risco em P&DC. 45PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A o final dos seus estudos, você deve conseguir recordar detalhes do contexto internacional e reconhecer algumas definições fundamentais para o entendimento do processo de desastre, desde a sua ocorrência até a sua gestão adequada. Para começar a compreender esse tema, você deve saber que os estudos sobre riscos e desastres ocorrem em todo o mundo e têm na Organização das Nações Unidas (ONU) uma das referências mais importan- tes e difundidas. Ao longo de décadas, profissionais e pesquisadores trabalham atualizando conceitos e dire- trizes de gestão para, cada vez mais, adequarem-se à realidade de nossa sociedade. Conforme estudado no Módulo 1, é nesse contexto que a ONU estabeleceu a década de 1990 como a Dé- cada Internacional para a Redução de Desastres Na- turais. A partir desse período, alguns acontecimentos foram fundamentais para a evolução dessa temática. Acompanhe na linha do tempo. Yokohama LINHA DO TEMPO 1994 Ocorre a 1ª Conferência Mundial sobre Prevenção de Desastres Naturais na cidade de Yokohama, no Japão. 1999 Lançamento da Década Internacional para Redução de Desastres Naturais (IDNDR, na sigla em inglês), quando a ONU passou a fazer recomendações sobre a importância da criação de redes associativas interdisciplinares para a investigação integrada e aplicada em todos os campos relacionados com a gestão do risco. 2000 As Nações Unidas estabelecem a Estratégia Internacional para Redução de Desastres (UNISDR, na sigla em inglês) como uma força- tarefa e uma secretaria sob a autoridade direta do Subsecretário-Geral para Assuntos Humanitários, definindo o Dia Internacional para Redução de Desastres para segunda quarta-feira de outubro. 2015 A 3ª Conferência Mundial para Redução de Riscos de Desastres validou o Marco de Sendai. Ambos os acordos, tanto o Marco de Ação de Hyogo quanto o Marco de Sendai, reforçam a importância do aprimoramento do trabalho técnico e científico sobre a RRD e sua mobilização por meio da coordenação de redes existentes e de institutos de pesquisa científica em todos os níveis e regiões. O Marco de Sendai está vigente até o ano de 2030. 2005 As recomendações apontadas após a criação da UNSDRforam reiteradas na 2ª Conferência Mundial para Redução de Desastres, que aprovou o Marco de Ação de Hyogo, como compromisso das nações para execução de políticas públicas relacionadas ao tema. Esse compromisso teve sua vigência iniciada a partir da data de realização da conferência e vigorou até o ano de 2015. As informações completas sobre os acontecimentos citados acima você encontrará, em inglês, no site da UNDRR. Fonte: Ceped/UFSC (2021). https://www.undrr.org/about-undrr/history 46PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNDRR) surgiu como estratégia internacional das Nações Unidas para redução de desastres, correspondendo pela sigla ISDR em inglês ou EIRD (Estratégia Internacional das Nações Unidas para Redução de Desastres) em português. Com o avanço da importância do tema, passou para o status de escritório, assumindo a denominação United Nations Office for Disaster Risk Reduction, ou seja, Escritório das Nações Unidas para Redução de Desastres. Hoje, como retrato da evolução conceitual, o escritório tem a missão de servir como ponto focal da ONU para a coordenação da Redução de Risco de Desastres (RRD em português ou DRR em inglês) em todo o mundo, respondendo pela sigla UNDRR. Esses conceitos são desenvolvidos mais detalhadamente ao longo deste módulo, tenha atenção! Como visto, o Marco de Sendai, validado na 3ª Con- ferência Mundial das Nações Unidas sobre a Redução de Riscos de Desastres, teve papel fundamental para reforçar a importância do aprimoramento do trabalho técnico e científico sobre a RRD e sua mobilização. Esse importante acordo também dispõe em sua prio- ridade 1 sobre a compreensão clara do risco e suas dimensões. Veja: As políticas e práticas para a gestão do risco de desastres devem ser baseadas em uma compreensão clara do risco em todas as suas dimensões de vulnerabilidade, capacidade, exposição de pessoas e bens, características dos perigos e meio ambiente. Tal conhecimento pode ser aproveitado para realizar uma avaliação de riscos pré- desastre, para prevenção e mitigação e para o desenvolvimento e a implementação de preparação adequada e resposta eficaz a desastres. (UNISDR, 2015, p. 10). Marco de Sendai PRIORIDADE 1. COMPREENSÃO DO RISCO DE DESASTRES. ARQUIVO, UNDRR 47PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL O tempo vem demonstrando que os compromis- sos estabelecidos nas Conferências Mundiais têm sido importantes instrumentos para aumentar a percepção pública e corporativa sobre a RRD, gerando compro- misso político, concentrando e catalisando as ações de uma série de partes interessadas em todos os níveis. Como resultado, observa-se uma diminuição da mortalidade em alguns casos de desastres, eviden- ciando que a “[...] redução do risco de desastres é um investimento custo-eficiente na prevenção de perdas futuras.” (UNISDR, 2015, p. 3). No entanto, os desastres continuam a gerar diversos impactos, e estudos indicam que a exposição de pes- soas e bens crescem em escala maior e mais veloz do que a redução da vulnerabilidade. Tendo como conse- quência “[...] novos riscos e um aumento constante em perdas por desastres, com significativo impacto sobre a Evidências e relatórios em diversos âmbitos demonstram que, desde a aprovação do Marco de Ação de Hyogo (2005-2015) e do Marco de Sendai (2015-2030), houve um significativo avanço na RRD em âmbito local e global. economia, a sociedade, a saúde, a cultura e o meio am- biente, a curto, médio e longo prazo [...]. É urgente e fun- damental prever, planejar e reduzir o risco de desastres, a fim de proteger de forma mais eficaz pessoas, comu- nidades e países, seus meios de vida, saúde, patrimônio cultural, patrimônio socioeconômico e ecossistemas, fortalecendo, assim, sua resiliência.” (UNISDR, 2015, p. 4). Para tanto, o primeiro passo é compreender os conceitos associados à RRD, expressão tão utilizada pelas Nações Unidas e órgãos de P&DC em todo o mundo. Para começar, você deve compreender a ideia de construção social do risco e sua implicação para o entendimento de gestão de riscos de desastres (GRD), passando tanto pelos aspectos normativos e legais como pelos teóricos, técnicos e práticos. No próximo tópico, o risco e seus elementos são os temas focais de estudo. Siga alerta! Perceba que, apesar do conteúdo que se segue apresentar-se de forma densa, a proposta é concentrar toda a parte conceitual neste início de curso para facilitar sua retomada sempre que necessário. Ou seja, no decorrer dos outros módulos de estudos dessa capacitação, alguns conceitos serão abordados de forma mais aplicada, e, se houver necessidade de reforçar suas definições, você sabe que pode retornar a este ponto do conteúdo. 48PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A construção social do risco, ou produção social do risco, remete à ideia de que entre os fatores gerado- res das circunstâncias de risco sempre haverá um pro- cesso social (interação do ser humano com o ambiente) que os desencadeiam. São problemas de desenvolvi- mento, na maior parte das vezes relacionados ao plane- jamento inadequado do uso e ocupação do solo. Portanto, é fundamental aos gestores públicos, em especial, e a toda a sociedade, de forma geral, com- preender que riscos, e consequentemente desastres, são resultado da intervenção humana no ambiente. Isso explica por que a expressão “desastres naturais” está cada vez mais em desuso, dando-se preferência ao emprego da expressão “desastres” apenas. Essa mudança é sutil e ainda está em processo de consolidação. Veja, por exemplo, que a própria Lei nº 12.608/2012 ainda utiliza a expressão “desastres natu- rais”, assim como a Classificação e Codificação Brasi- leira de Desastres (Cobrade), ao dividir os desastres em naturais ou tecnológicos. A Cobrade é a referência legal quanto aos tipos de desastres e foi construída com base na origem dos eventos causadores, sendo instituída pela Instrução Normativa nº 1, de 24 de agosto de 2012, em substi- tuição à antiga Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (Codar). RISCO DE DESASTRE Logo, quando se admite que riscos e desastres são resultado da intervenção humana no ambiente, admi- te-se também a responsabilidade pelas ocorrências e a possibilidade de atuar para reduzi-los. Dessa forma, é importante que se tenha uma atuação voltada para a redução de riscos por parte do gestor público à frente de um órgão de P&DC. Essa atuação deve refletir nos fatores de ameaça, exposição e vulnerabilidade; po- dendo ser contraposta pelo desenvolvimento de ca- pacidades e resiliência. Entenda melhor observando a ilustração a seguir. A Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012, foi substituída pela Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016, que, atualmente, foi substituída pela Instrução Normativa nº 36, de 4 de dezembro de 2020 (IN MDR nº 36/2020). Todas adotam a Cobrade como a classificação padrão para desastres. RISCOS DE DESASTRES Fonte: adaptado de UNDRR (2019). 49PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Os conceitos sobre risco de desastres podem so- frer variações conforme a maneira como as instituições abordam o tema. O fundamental é que seja compreen- dido que o risco é composto por: ameaça, exposição e vulnerabilidade. E, para sua minimização, é neces- sário atuar em um ou em todos esses componentes. Com o objetivo de promover um entendimento comum dos conceitos sobre risco de desastres, o Es- critório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres (UNDRR) apresentou,em 2017, uma revisão da terminologia, disponível em um glossário on-line. Essa atualização foi desenvolvida por um grupo in- tergovernamental de especialistas, estabelecido pela Assembleia Geral da ONU. Não há tradução oficial do glossário para o português. Dessa forma, ao longo da capacitação, são apresentados os conceitos principais. Para compreender cada um dos elementos que compõe o risco de desastre, acompanhe as definições a seguir: O risco é circunstância potencial ou, segundo cons- ta na IN MDR nº 36/2020, “[...] potencial de ocorrência de um evento adverso sob um cenário vulnerável [...]” (BRASIL, 2020c). São três os fatores que, combinados, influenciam na concretização dessa possibilidade: a ameaça, a exposição e a vulnerabilidade, cada um de- les descritos na sequência. A ameaça é definida como “[...] um processo, fenô- meno ou atividade humana que possa causar perdas de vidas, lesões ou outros impactos à saúde, danos materiais, perturbação social e econômica ou degra- dação ambiental” (UNISDR, 2017, tradução nossa). Por sua vez, a exposição refere-se às pessoas, pro- priedades, infraestruturas e outros elementos ou sis- temas localizados em áreas sujeitas a ocorrências de ameaças. Essas situações podem referir-se ao número de pessoas ou variar em função do tipo de infraestru- tura e edificações expostas. Pode ser combinada com a vulnerabilidade e a capacidade dos elementos frente a uma ameaça para avaliar o seu impacto nas pessoas ou na economia, por exemplo, e suas consequências futuras (UNISDR, 2017). A vulnerabilidade é determinada por fatores ou processos físicos, sociais, econômicos e ambientais Observe na sequência (nas próximas páginas) dois exemplos fictícios de uma cidade que tem uma praça com uma enorme árvore, que é considerada um símbolo, e uma área de morros com construções precárias. que aumentam a predisposição aos impactos de um evento natural, tecnológico ou de origem antrópica em um indivíduo, uma comunidade, infraestruturas, pro- priedades ou sistemas (UNISDR, 2017). Por padrão, está sendo utilizanda as referências con- ceituais das Nações Unidas (conforme o Glossário Onli- ne do UNISDR, de 2017). O importante é compreender os conceitos e aplicá-los à sua realidade local. Uma vez que há diversas definições possíveis, o objetivo não é promover discussão entre conceitos certos ou errados, nem em referências melhores ou piores. Cada profissio- nal tem total liberdade de adotar para si outras defini- ções se perceber que atende melhor sua realidade. Para facilitar o entendimento, é hora de ver, na prá- tica, como esses conceitos funcionam. undrr.org/terminology 50PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL A PRAÇA Por ser uma árvore muito antiga, alguns galhos estão apodrecidos e têm grande possibilidade de cair. Portanto, o órgão local de P&DC foi acionado para avaliar a situação e tomar as providências. AMEAÇA A possibilidade de queda de um ou mais galhos da árvore. EXPOSIÇÃO As pessoas que utilizam e passeiam pela praça ou os carros que estão estacionados próximos à árvore e podem, eventualmente, ser atingidos. VULNERABILIDADE As características dessas pessoas ou carros (se estão protegidos de alguma forma, em segurança) e como poderiam reagir ao perigo. 51PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PREVENÇÃO Como prevenção, a árvore poderia ser completamente cortada ou os galhos maiores ou mais prejudicados poderiam ser podados. Qualquer uma dessas opções seria adequada para prevenir o risco, mas um dos grandes símbolos da cidade deixaria de existir. MITIGAÇÃO Uma outra opção a ser considerada para manter a árvore seria mitigar o risco apoiando os galhos maiores, reduzindo o perigo, ou cercando a área, reduzindo a exposição. Entendido este cenário, o órgão municipal de P&DC poderia coordenar algumas ações para agir na PREVENÇÃO ou MITIGAÇÃO dos riscos. 52PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Também nesta cidade, existiu uma área de morro com construções muito precárias. Foram muitos anos de ocupação desordenada, obras irregulares e falta de fiscalização. A vegetação foi retirada em quase sua totalidade e, com o tempo, a área tornou-se muito insegura. Durante alguns dias ocorreu uma chuva fraca que foi se intensificando cada vez mais, até que em um determinado dia choveu em algumas horas o que estava previsto para uma semana inteira. A chuva continuou durante o resto da semana e, por fim, aconteceu um grande deslizamento de terra. Veja que a área exposta engloba a parte do morro com as construções irregulares e a via. Já as partes com construções planejadas estão fora da área de exposição. 2. EXPOSIÇÃO As pessoas, as casas e as estruturas que poderiam ser atingidas. 3. VULNERABILIDADE As características dessas pessoas, construções e estruturas, e como elas poderiam reagir ao perigo. 1. AMEAÇA Possibilidade de deslizamento de todo aquele terreno em função das características do morro, como inclinação, falta de vegetação e saturação do solo. DESLIZAMENTO Observe mais um exemplo sobre os elementos do risco. 53PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL: INTRODUÇÃO À POLÍTICA NACIONAL – CURSO 1 CAPACITAÇÃO EM PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Vistos os conceitos de risco, ameaça, exposição e vulnerabilidade, vamos agora analisar os conceitos de capacidade e resiliência. Acompanhe! No que diz respeito à capacidade, podemos dizer que ela exerce uma força contrária aos efeitos de um desastre, ou seja, é um dos principais focos da redu- ção do risco de desastres e pode ser trabalhada sob o ponto de vista financeiro, socioeconômico e de gestão. Para as Nações Unidas (UNISDR, 2017), capacidade se define pela combinação de todas as forças, atributos e recursos existentes em uma comunidade, socieda- de ou organização para gerir e reduzir os riscos e au- mentar a resiliência. Por fim, a resiliência é definida como a habilidade de um sistema, comunidade ou sociedade exposta a ameaças em resistir, absorver, acomodar, adaptar-se, transformar e recuperar-se de maneira eficaz dos efei- tos de um evento adverso, inclusive por meio da pre- servação e restauração de suas estruturas e funções básicas essenciais de gestão de riscos. (UNISDR, 2017). Você chegou ao final da conceituação sobre o tema Risco de Desastre. A seguir, você deve compreender como ocorre a classificação dos Desastres. Siga com seus estudos! O investimento público e privado na prevenção e na RRD por meio de medidas estruturais e não estruturais é essencial para melhorar a resiliência econômica, social, cultural e de saúde de pessoas, comunidades, países e ativos, bem como do meio ambiente. Esses podem ser fatores de estímulo para inovação, crescimento e criação de empregos. Tais medidas são custo-eficientes e fundamentais para salvar vidas, prevenir e reduzir perdas e garantir a recuperação e reabilitação eficaz. (UNISDR, 2015, p. 14). Marco de Sendai PRIORIDADE 3. INVESTIR NA REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRES PARA A RESILIÊNCIA. O entendimento desses conceitos favorece a aplica- ção da prioridade 3 do Marco de Sendai, que diz que: QUATRO ELEMENTOS o que reduz as vulnerabilidades de infraestruturas; o que institucionaliza os processos de resposta; o que garante a capacidade financeira e de funcionamento de uma comunidade; o que garante o bem-estar social dos cidadãos. 1 2 3 4 Do ponto de vista operacional, a resiliência está re- lacionada à forma como o governo e a sociedade civil compreendem os riscos que enfrentam e são capazes de se auto-organizarem. São quatro componentes que se articulam nesse processo: R O V EN A R O SA , A G ÊN C IA B R A SI L 54PROTEÇÃO
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