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1 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Varizes dos Membros Inferiores INTRODUÇÃO • Conceito: o Varizes podem ocorrer em diversos territórios, mas a aula de hoje será de varizes de membros inferiores o Varizes são qualquer tipo de veia dilatada, alongada e tortuosa, geralmente apresentando refluxo vascular o As varizes clássicas ficam de forma serpentiforme, porque dilatam e alongam sem a extremidade acompanhar esse crescimento (fazendo a sinuosidade) o Devemos separar as varizes clássicas de outros tipos de apresentação que também fazem parte do grupo da doença varicosa ▪ Telangiectasias → Apresentação dos vasos na pele como um mapa geográfico ▪ Veias reticulares → Veias que não fazem relevo na pele, mas que visualizamos mais nitidamente, que se exibem na pele (esverdeado, arroxeado) • Epidemiologia: o Incidência na população geral (menos gestantes) em estudo de Botucatu → 47,6% o Na gestação, podem aparecer varizes que só vão durar enquanto ocorre a gestação (varizes na gestação) e varizes que vão perdurar até depois da gestação (varizes da gestação, decorrente da gestação) o Há uma prevalência em mulheres maior do que em homens em todos os estudos • Classificação: o Quanto à etiopatogenia: ▪ Varizes primárias → Ex.: Uma obstrução de veia profunda vai gerar uma pressão nas veias perfurocomunicantes (comunicam as veias superficiais e profundas) que irá afetar as válvulas e aumentar o fluxo nas veias superficiais, que irá aumentar/dilatar gerando varizes ▪ Varizes secundárias → Ex.: Por fístula arteriovenosa (promove dilatação e alteração do sistema valvular) o Quanto à distribuição anatômica ▪ Sistêmicas → Depende de alteração de retorno venoso (refluxo venoso) de um dos troncos superficiais principais (safena interna/magna/maior e safena externa/parva/menor) ▪ Não sistêmicas → Não está relacionado com refluxo venoso o Quanto à apresentação: ▪ Congênita → Aparece desde o nascimento ▪ Não congênita o Quanto ao calibre: ▪ Pequeno calibre PROF. ANTÔNIO AUGUSTO 2 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Médio calibre ▪ Grosso calibre FISIOPATOGENIA • Fatores envolvidos: o Incompetência valvular primária → Ex.: Flebectasia genuína de Freund (particularmente no homem, nasce sem nenhuma válvula nas suas veias, afetando tanto o sistema venoso superficial quanto o profundo) o Enfraquecimento da parede venosa → Principalmente em mulheres (sobre influência de hormônios femininos, que são fragilizantes do colágeno, podendo desenvolver varizes) o Anastomoses (fístulas) arteriovenosas → Anomalias congênitas do território vascular que persistem da formação embrionária para a vida adulta o Microtrombose das perfurantes → Induzindo neovascularização • Fatores predisponentes e desencadeantes: o Hereditariedade (predisponente) → Não tem um gene que diz que terá varizes, mas é hereditário ao ponto que pessoas que têm defeito no colágeno tipo III (que é hereditário) tenham uma propensão maior a varizes ▪ Herança cruzada → Se a herança vier do pai serão varizes não numerosas, mas muito calibrosas, se vier da mãe serão varizes de pequeno calibre, mas muito numerosas o Idade → Varizes começam a se formar por volta dos 15 anos de idade, predomínio entre os 20 e 60 anos o Sexo → Mais comum em mulheres do que homens (1:2-4) o Etnia → Quadro varicoso é mais notável na pele branca, provavelmente relacionado à condição genética o Gestação → Quanto mais gestações maior a chance de varizes (quando a mulher já é predisposta, estando relacionado com o aumento da pressão venosa) o Obesidade → Fator muito negativo para desenvolvimento de doença venosa o Postura no trabalho (controverso) → Indivíduos que trabalham a pé e parados por muito tempo teriam mais propensão a adquirir varizes o Dieta e constipação (controverso) → A manobra de valsava gera parada de fluxo nos MMII e aumento de fluxo nos MMSS, então a força na defecação geraria momentos de menor fluxo nas pernas o Posição de defecação → Angula muito o território vascular AVALIAÇÃO CLÍNICA • História: o Avaliar todo o contexto relacionado ao desenvolvimento de varizes o Buscar possíveis fatores predisponentes e desencadeantes • Comprometimento estético: o Observar se a presença de varizes tem um impacto psicológico na vida do paciente • Sintomas ditos associados a varizes: o Só podem ser associados às varizes os sintomas de natureza superficial (epicríticos) e bem definidos ▪ Queimação 3 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Ardor, prurido e formigamento o Sintomas mal definidos e profundos não podem ser associados às varizes (mas erroneamente às vezes são) ▪ Peso e cansaço → Sintomas de estrutura muscular (profundo e não superficial) ▪ Desconforto → Mal definido, então não está relacionado às varizes ▪ Câimbras noturnas → Impossível de ser venoso (nem superficial nem profundo) • Exame físico / Inspeção: o Edema → Não é frequente inchar as pernas em varizes o Telangiectasias → Podem vir junto das varizes o Veias reticulares → Veias verdes na perna, mas que não fazem relevo (podem vir junto das varizes) o Veias varicosas o Grave hipertensão venosa gera sinal de insuficiência venosa crônica ▪ Hiperpigmentação ▪ Dermatite ▪ Lipodermatosclerose ▪ Atrofia branca ▪ Úlcera venosa → Pode ser úlcera varicosa (quando resulta de um ponto de onde sangrou uma veia) ou úlcera de IVC (que é ferida recorrente de alterações que começa com edema de MMII) • Avaliação do padrão do refluxo: o Testes clínicos → Brodie-trendelenburg, Adams, Anderson-hayerdale, Schwartz, Perthes ou auscultação o Doppler → Ondas contínuas, ondas pulsáteis ou Eco-color Doppler • Complicações de varizes: o Varicotromboflebite → Tromboflebite da variz (inflamação e trombose) o Varicorragia → Sangramento de uma variz (sangra mais facilmente a mais fina, por estar mais superficial) o Úlcera varicosa → Variz calibrosa que sangrou e deixa uma úlcera (é pequena, raramente cresce e é extremamente dolorosa, diferente da úlcera da IVC) TRATAMENTO • Tratamento clínico conservador: o Medidas gerais → Perda de peso, atividade física (caminhadas, natação), repouso (botar perna pra cima) etc. o Terapia compressiva → Uso de meias elásticas e enfaixamento (técnica perigosa) o Medicamentos venoativos → Não muito eficazes para os sintomas relatados, mais para sintomas profundos (medicamentos com ação anti-inflamatória) • Tratamento cirúrgico convencional: o Paciente candidato → Boa saúde geral, sem contraindicações e com interesse específico em tratar (desde que conscientemente informados que o que as varizes fazem não é o que o normalmente pensam) o Fazer avaliação pré-operatória com exames laboratoriais e de imagem 4 CC3 – CIRURGIA VASCULAR RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Temos que ter alguns cuidados pré-operatórios → Saber sobre uso prévio de antiagregante e contraceptivos orais e ter termos de consentimento informados (principalmente sobre possíveis complicações) o Preparo pré-operatório → Higiene corporal (água e sabão, não depilar), informar horário de chegada no hospital, sobre o jejum que tem que fazer, exames pré-operatórios e marcar a extremidade o Anestesia • Contraindicações do tratamento cirúrgico: o Presença de úlcera ativa e infectada → Dá para tratar com escleroterapia o Varizes em membro isquêmico o Hipo ou agenesia do sistema venoso profundo o Infecção sistêmica o Doença grave associada o Linfedema da extremidade o Diátese hemorrágica o Gravidez o Idade avançada (relativo) • Tratamento esclerosante de pequenas varizes e telangiectasias: o Tratamento químico ▪ Técnica de Orbach é a mais usada (com oleato de monoetanolamina ou polidocanol)→ Efeito de detergente ou efeito alcoólico ▪ Técnica de Tessari → Feita com polidocanol (não é utilizada para telangiectasias, pois vai ulcerar a pele) o Tratamento físico ▪ Eletrocoagulação ▪ Laser transdérmico (resultados discutíveis) o Tratamento cirúrgico → Mini-incisões • Tipos de cirurgia: o Ligadura das veias safenas nas respectivas crossas o Fleboextração/Retirada de safenas (total ou parcial) o Retirada de trajetos varicosos o Ligadura de perfurantes insuficientes (principalmente quando diâmetro > 3,5 mm) o Ligadura subaponeurótica de perfurantes (Linton, Felder ou Vídeo-assistida) • Opções terapêuticas recentes: o Escleroterapia ecoguiada com espuma hiperdensa (guiada por ultrassom) o Oclusão venosa com radiofrequência o Oclusão venosa com laser o Oclusão venosa com cola (metacrilato)