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Apg 11 – Doença Arterial Obstrutiva Periférica 1. Revisar a anatomia da vascularização dos membros inferiores; 2. Compreender a fisiopatologia da DAOP; 2.1 –Fatores de risco, manifestações clinicas e diagnóstico; 2.2 –Diferenciar a oclusão arterial aguda da DAOP 3. Entender como os aspectos socioeconômicos interferem na adesão ao tratamento ANATOMIA DAS ARTÉRIAS ANATOMIA DAS VEIAS Doença oclusiva aterosclerótica (doença arterial periférica) A aterosclerose é uma causa importante de doença arterial periférica (DAP) e é mais comumente observada nos vasos dos membros inferiores. A condição por vezes é denominada arteriosclerose obliterante. As artérias femorais superficiais e poplíteas são os vasos mais comumente afetados. Quando ocorre o desenvolvimento de lesões nas pernas e nos pés, as artérias tibiais, artérias fibulares comuns ou artérias dos pés são os alvos mais frequentes. Fatores de Risco: Os fatores de risco para PAD incluem idade mais avançada, tabagismo, hipertensão, sexo masculino, ser uma pessoa negra, aterosclerose conhecida em outros locais, um histórico familiar de aterosclerose, diabetes, hiperlipidemia e homocistemia. Esses fatores de risco e outros são discutidos em detalhes em outros lugares. Pessoas com diabetes melito desenvolvem doença vascular mais extensa e com progressão mais rápida do que as pessoas não diabéticas. Fisiopatologia Ao longo da vida, as artérias podem sofrer um processo chamado de aterosclerose, no qual placas de gordura se formam na parede desses vasos, obstruindo parte ou totalmente o fluxo de sangue. Assim, os órgãos que recebem sangue dessas artérias podem sofrer com a redução do fluxo de sangue, evento que chamamos de “isquemia”. A aterosclerose é um processo inflamatório que se instala lentamente, ao longo de muitos anos. Dessa forma, o organismo muitas vezes consegue se adaptar com o desenvolvimento de outras artérias menores (circulação colateral) e com a adaptação das células a uma oferta menor de oxigênio. Esse processo é conhecido como obstrução arterial crônica, ou doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). Manifestações clínicas Assim como na aterosclerose em outros locais, os sinais e sintomas da oclusão do vaso são graduais. Normalmente, antes do surgimento dos sintomas de isquemia, há um estreitamento vascular de no mínimo 50%. O sintoma primário da doença arterial obstrutiva crônica é a claudicação intermitente ou dor ao caminhar. As pessoas com o distúrbio tipicamente se queixam de dor na panturrilha, porque o músculo gastrocnêmio consome mais oxigênio do que qualquer grupo muscular da perna durante a caminhada. Algumas pessoas podem se queixar de uma discreta sensibilidade ou dormência, em vez de dor. Outras atividades, como nadar, andar de bicicleta e subir escadas utilizam outros grupos musculares e podem não incitar o mesmo grau de desconforto que a caminhada. Outros sinais de isquemia incluem alterações atróficas, adelgaçamento da pele e dos tecidos subcutâneos da perna, e diminuição no tamanho dos músculos da perna. Em geral, os pés estão frios, enquanto os pulsos poplíteos e podais são fracos ou ausentes. A cor do membro empalidece com a elevação da perna, devido aos efeitos da gravidade sobre a pressão de perfusão, e se torna intensamente avermelhada quando a perna está na posição pendente, devido à intensificação autorreguladora do fluxo sanguíneo e ao aumento da ação gravitacional sobre a pressão de perfusão. Quando a extensão da redução do fluxo sanguíneo impede que as necessidades mínimas dos músculos e nervos sejam atendidas, ocorre o aparecimento de dor isquêmica em repouso, ulceração e gangrena. Com o desenvolvimento da necrose tecidual, tipicamente surge uma dor forte na região de ruptura da pele, a qual piora à noite e com a elevação do membro, melhorando em posição ortostática. Assintomática – 20 a 50% Dor atípica na perna – 40 a 50% Claudicação clássica – 10 a 35% Membro ameaçado – 1 a 2% Diagnóstico Os métodos diagnósticos incluem a inspeção dos membros quanto à presença de sinais de isquemia crônica de grau baixo, como atrofia subcutânea, unhas dos pés quebradiças, perda de pelos, palidez, frio ou rubor dependente. A palpação dos pulsos femorais, poplíteos, tibiais posteriores e podais dorsais possibilita uma estimativa do nível e do grau de obstrução. As pressões arteriais podem ser aferidas em diversos pontos da perna, para determinar o nível da obstrução. Um dispositivo com ultrassom Doppler também pode ser utilizado para a detecção dos pulsos. Exames de imagem por ultrassom, arteriografia com ressonância magnética (RM), arteriografia com tomografia computadorizada (TC) espiral e angiografia contrastada invasiva também podem ser utilizados como métodos diagnósticos. Tratamento Os dois objetivos do tratamento de pacientes com DAP são diminuir o risco cardiovascular considerável e minimizar os sintomas. Pessoas com DAP devem ser avaliadas quanto à coexistência de aterosclerose coronariana e aterosclerose vascular cerebral. Também é importante abordar outros fatores de risco cardiovascular, incluindo tabagismo, hipertensão, níveis altos de lipídios e diabetes. A cessação do tabagismo deve ser encorajada, e as condições de saúde coexistentes devem ser tratadas adequadamente. Os medicamentos que podem ser úteis incluem agentes antiplaquetários, para minimizar a trombose, e estatinas, para reduzir o colesterol. Os tecidos dos membros afetados pela aterosclerose são facilmente lesionados e demoram a cicatrizar. O tratamento inclui medidas direcionadas à proteção dos tecidos comprometidos e à preservação da capacidade funcional. Recomenda-se encorajar caminhadas (lentas), até o momento em que ocorra claudicação, para aumentar a circulação colateral. A intervenção vascular percutânea ou cirúrgica é tipicamente reservada aos casos de claudicação debilitante ou isquemia que ameace o membro. Oclusão arterial aguda A oclusão arterial aguda é um evento súbito, que interrompe o fluxo arterial para os tecidos ou órgãos afetados. A maior parte das oclusões arteriais agudas resulta de um êmbolo ou trombo. Embora seja muito menos comum do que com um êmbolo ou trombo, um traumatismo ou um espasmo arterial causado pela punção arterial pode ser outra das causas de oclusão arterial aguda. Etiologia e patogênese Um êmbolo é uma partícula que se movimenta livremente, como um coágulo sanguíneo que se destaca e percorre os vasos de maior calibre da circulação, até se alojar em um vaso de menor calibre e obstruir o fluxo sanguíneo. A maior parte dos êmbolos tem origem no coração e é causada por condições que ocasionam o desenvolvimento de coágulos sanguíneos na parede de uma câmara cardíaca ou na superfície de uma válvula. Os êmbolos normalmente são a complicação de uma doença cardíaca: doença cardíaca isquêmica com ou sem infarto, fibrilação atrial ou doença cardíaca reumática. Próteses de valvas cardíacas podem ser outra fonte de êmbolos. Outros tipos de êmbolo são os êmbolos de gordura oriundos da medula óssea de ossos fraturados, êmbolos de ar do pulmão e êmbolos de líquido amniótico desenvolvidos durante o parto. Um trombo é um coágulo sanguíneo que se forma na parede vascular e aumenta progressivamente, até atingir um tamanho que obstrui o fluxo sanguíneo. Os trombos frequentemente resultam da erosão ou ruptura da cápsula fibrosa de uma placa aterosclerótica. Manifestações clínicas Os sinais e sintomas de oclusão arterial aguda dependem da artéria envolvida e da adequação da circulação colateral. Os êmbolos tendem a se alojar nas bifurcações das artérias de grande calibre, incluindo a aorta e as artérias ilíacas, femorais e poplíteas.4A apresentação da embolia arterial aguda costuma ser descrita como os sete “P”: •Tiro de pistola (início agudo) •Palidez •Caráter polar (frio) •Ausência de pulso •Dor (do termo pain, em inglês) •Parestesia •Paralisia. A oclusão de um membro causa dor aguda de início súbito acompanhada de dormência, formigamento, fraqueza, palidez e frio. Com frequência, existe uma fina linha de demarcação entre o tecido oxigenado acima do ponto de obstrução e o tecido isquêmico abaixo dele. Não há pulso abaixo do nível da oclusão. Essas alterações são rapidamente seguidas por cianose, manchas e perda da função sensorial, reflexa e motora. Ocorre morte tecidual, exceto se o fluxo sanguíneo for restaurado. Aspectos socioeconômicos e adesão ao tratamento Fatores que influênciam na adesão ao tratamento: confiança na equipe, redes de apoio, nível de escolaridade, aceitação da doença, efeito colateral da terapêutica, falta de acesso aos medicamentos, tratamento longo, esquema terapêutico complexo e ausência de sintomas. A relação entre fatores socioeconômicos, como renda e escolaridade, e adesão ao tratamento é amplamente investigada e estudos prévios encontraram associação entre essas variáveis e a adesão, principalmente em doenças crônicas. No presente estudo, a baixa adesão ao tratamento foi maior naqueles indivíduos com menor escolaridade, mostrando que este é um fator que deve ser considerado no processo de cuidado. Para esses pacientes, estratégias de orientação em relação ao tratamento precisam ser utilizadas para melhor entendimento dos regimes terapêuticos prescritos. Por outro lado, a classe econômica dos indivíduos não se mostrou associada ao tratamento de doenças crônicas no Brasil. Em relação aos fatores demográficos, a literatura sugere que os mais jovens, homens e negros apresentam menor adesão ao tratamento. Os achados aqui encontrados indicam que na população brasileira não há diferença significativa entre homens e mulheres, mas os indivíduos mais jovens apresentam maior baixa adesão ao tratamento. Os residentes das regiões Nordeste e Centro-Oeste tiveram uma prevalência de baixa adesão ao tratamento maior que as demais regiões, resultado encontrado anteriormente por estudo que avaliou prevalência e fatores associados à não utilização de medicamentos de uso contínuo entre indivíduos que relataram diagnóstico de hipertensão na Pesquisa Nacional de Domicílios PNAD-2008. Apg 12 – Insuficiência venosa crônica 1. Compreender a fisiopatologia, manifestações clinicas, complicações e tratamento da Insuficiência Venosa Crônica (ulcera e dermatite) Fisiopatologia da doença venosa crônica As veias varicosas são veias dilatadas, salientes, tortuosas e superficiais que medem pelo menos 3 mm de diâmetro. As veias reticulares menores e menos tortuosas são veias intradérmicas dilatadas que aparecem azul- esverdeadas, medem 1 a 3 mm de diâmetro e não se sobressaem na superfície da pele. Telangiectasias, ou veias aracniformes, são pequenas veias dilatadas, com < 1 mm de diâmetro, localizadas próximo à superfície da pele, as quais formam padrões lineares, ramificados ou em teia de aranha, azuis, arroxeados ou vermelhos. As veias varicosas podem ser classificadas como primárias ou secundárias: As veias varicosas primárias originam-se no sistema superficial e resultam de função e estrutura defeituosa das válvulas das veias safenas, fraqueza intrínseca da parede venosa e alta pressão intraluminal. Cerca de metade desses pacientes tem história familiar de veias varicosas. Outros fatores associados com veias varicosas primárias incluem envelhecimento, gravidez, terapia hormonal, obesidade e longa permanência em pé. As veias varicosas secundárias resultam de hipertensão venosa, associada com insuficiência venosa profunda ou obstrução venosa profunda, e veias perfurantes incompetentes que causam aumento das veias superficiais. As fístulas arteriovenosas também causam veias varicosas no membro afetado. A insuficiência venosa crônica é uma consequência de veias incompetentes nas quais há hipertensão venosa e extravasamento de líquido e elementos sanguíneos para os tecidos dos membros. Ela pode ocorrer em pacientes com veias varicosas, mas geralmente é causada por doenças das veias profundas. A condição também é classificada em primária e secundária. A insuficiência venosa profunda primária é consequência de uma anormalidade intrínseca estrutural ou funcional na parede venosa ou nas válvulas, levando ao refluxo valvular. A insuficiência venosa profunda secundária é causada por obstrução e/ou incompetência valvular por trombose venosa profunda prévia. A insuficiência venosa profunda ocorre após a trombose venosa profunda, uma vez que os delicados folhetos valvulares tornam-se espessados e contraídos e não podem mais impedir o fluxo retrógrado de sangue, e a própria veia torna-se rígida e espessada. Embora a maioria das veias se recanalize após um episódio de trombose, as grandes veias proximais podem permanecer ocluídas. Incompetência secundária se desenvolve nas válvulas distais porque a elevada pressão distende a veia e separa os folhetos. Outras causas de insuficiência venosa profunda secundária incluem a síndrome de May-Thurner, na qual a veia ilíaca esquerda é ocluída ou estenosada por compressão extrínseca por sobreposição da artéria ilíaca comum direita; as fístulas arteriovenosas resultando em aumento da pressão venosa; a agenesia e a hipoplasia congênitas de veia profunda; e as malformações venosas, como pode ocorrer nas síndromes de Klippel-Trénaunay e Parkes-Weber. Apresentação clínica Pacientes com varicosidades venosas com frequência são assintomáticos, mas ainda preocupados com o aspecto estético de suas pernas. A trombose venosa superficial pode ser um problema recorrente e, raramente, uma variz rompe e sangra. Os sintomas em pacientes com veias varicosas ou insuficiência venosa, quando ocorrem, incluem dor entorpecida, latejamento ou peso, ou sensação de pressão nas pernas, geralmente após ficar em pé por muito tempo; esses sintomas costumam ser aliviados com a elevação das pernas. Sintomas adicionais podem inclui cãibras, queimação, prurido, edema das pernas e ulceração da pele. As pernas são examinadas em posição supina e em pé. A inspeção visual e a palpação das pernas na posição em pé confirmam a presença de veias varicosas. A localização e a extensão das veias varicosas devem ser observadas. Edema, dermatite de estase e ulceração da pele próximo ao tornozelo podem estar presentes se houver insuficiência venosa superficial e hipertensão venosa. Os achados de insuficiência venosa profunda incluem aumento da circunferência da perna, varizes, edema e alterações cutâneas. O edema, que geralmente é depressível, pode ser confinado aos tornozelos, estender-se acima dos tornozelos até os joelhos, ou envolver as coxas nos casos graves. Ao longo do tempo, o edema pode se tornar menos depressível e mais endurecido. Os achados dermatológicos associados com estase venosa incluem hiperpigmentação, eritema, eczema, lipodermatoesclerose, atrofia branca e uma flebectasia corona. A lipodermatoesclerose é a combinação de endurecimento, deposição de hemossiderina e inflamação, ocorrendo em geral na parte inferior da perna, logo acima do tornozelo. A atrofia branca é uma mancha branca de tecido cicatricial, frequentemente com telangiectasia focal e uma borda hiperpigmentada; ela costuma se desenvolver próximo ao maléolo medial. A flebectasia corona é um padrão em leque das veias intradermais próximo ao tornozelo ou no pé. A ulceração da pele pode ocorrer perto do maléolo medial e lateral. Uma úlcera venosa com frequência é rasa e caracterizadapor uma borda irregular, uma base de tecido de granulação e a presença de exsudato. Manobras à beira do leito podem ser usadas para distinguir as veias varicosas primárias das secundárias causadas por insuficiência venosa profunda. Com o uso atual da ultrassonografia venosa (ver adiante), todavia, raramente essas manobras são usadas. O teste de Brodie- Trendelenburg é usado para determinar se as veias varicosas são secundárias à insuficiência venosa profunda. Com o paciente em posição supina, a perna é elevada possibilitando o esvaziamento das veias. Então, é colocado um torniquete na parte proximal da coxa e solicita-se ao paciente que fique em pé. O enchimento das veias varicosas dentro de 30 segundos indica que as veias varicosas são causadas por insuficiência venosa profunda e veias perfurantes incompetentes. As veias varicosas primárias com insuficiência venosa superficial são o diagnóstico provável se o enchimento venoso ocorrer imediatamente após a remoção do torniquete. O teste de Perthes avalia a possibilidade de obstrução venosa profunda. Um torniquete é colocado no meio da coxa após o paciente ter ficado em pé, possibilitando o enchimento das veias varicosas. O paciente é, então, instruído a andar por 5 minutos. Um sistema venoso profundo patente e as veias perfurantes competentes permitem que as veias superficiais abaixo do torniquete colapsem. A obstrução venosa profunda provavelmente está presente se as veias superficiais se distenderem ainda mais com o caminhar. Diagnóstico diferencial A duração do edema das pernas ajuda a distinguir a insuficiência venosa crônica da trombose venosa profunda aguda. O linfedema, costuma ser confundido com insuficiência venosa crônica, e ambos podem ocorrer juntos. Outros distúrbios que causam edema das pernas devem ser considerados e excluídos quando se avalia um paciente com insuficiência venosa presumida. O edema bilateral dos membros inferiores ocorre em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, hipoalbuminemia secundária à síndrome nefrótica ou à doença hepática grave, mixedema causado por hipotireoidismo ou mixedema pré-tibial associado com doença de Graves e com fármacos como bloqueadores dos canais de cálcio di-hidropiridínicos e tiazolidinedionas. As causas unilaterais de edema dos membros inferiores também incluem ruptura dos músculos das pernas, hematomas secundários a trauma e cistos poplíteos. Celulite pode causar eritema e edema do membro afetado. Úlceras de perna podem ser causadas por doença grave das artérias periféricas e isquemia crítica dos membros; neuropatias, em particular aquelas associadas com diabetes; e, menos comumente, câncer de pele, vasculite ou, raramente, como uma complicação de hidroxiureia. A localização e as características das úlceras venosas ajudam a diferenciar estas de outras causas. Medidas De Suporte As veias varicosas geralmente são tratadas com medidas conservadoras. Os sintomas frequentemente diminuem quando as pernas são elevadas periodicamente, quando se evita ficar de pé por muito tempo e quando se usam meias elásticas de compressão. A compressão externa com meias elásticas ou bandagens equilibram a pressão hidrostática nas veias. Embora as vestimentas de compressão possam melhorar os sintomas, elas não impedem a progressão das veias varicosas. As meias de compressão graduada com pressões de 20 a 30 mmHg são adequadas para a maioria dos pacientes com veias varicosas simples, embora pressões de 30 a 40 mmHg possam ser necessárias para pacientes com manifestações de insuficiência venosa como edema e úlceras. Pacientes com insuficiência venosa crônica também devem ser aconselhados a evitar ficar em pé ou sentados por tempo prolongado; a elevação frequente das pernas é útil. A terapia de compressão graduada, consistindo em meias elásticas ou bandagens de compressão de múltiplas camadas, é o padrão de cuidados para a insuficiência venosa crônica avançada caracterizada por edema, alterações cutâneas ou úlceras venosas definidas como classe clínica CEAP C3 a C6. As meias de compressão graduada de 30 a 40 mmHg são mais eficazes do que graus menores para a cicatrização de úlceras venosas. O comprimento das meias depende da distribuição do edema. Meias até a panturrilha são mais bem toleradas pela maioria dos pacientes, em particular idosos; em pacientes com veias varicosas ou edema que se estende até a coxa, meias até a altura das coxas ou meias-calças devem ser consideradas. O treinamento com exercícios, incluindo o fortalecimento dos músculos das pernas, pode melhorar a função de bomba muscular da panturrilha e o fluxo venoso anterógrado, além de reduzir a gravidade da insuficiência venosa crônica. Pacientes com sobrepeso e obesos devem ser aconselhados a perder peso por meio de restrição calórica e exercício. Além de uma bandagem ou meia de compressão, os pacientes com úlcera venosa também podem ser tratados com curativos absorventes de baixa aderência que captam os exsudatos enquanto mantêm um ambiente úmido. Outros tipos de curativos incluem hidrocoloide (um curativo adesivo que compreende polímeros como carboximetilcelulose que absorvem exsudatos, formando um gel), hidrogel (um curativo não absorvente, compreendendo > 80% de água ou glicerina que hidrata os ferimentos), esponja (um curativo absorvente feito com polímeros como o poliuretano) e alginato (um curativo absorvente e biodegradável que é derivado de algas), mas há pouca evidência de que eles sejam mais eficazes do que curativos absorventes de baixa aderência. A escolha de curativos específicos depende da quantidade de secreção, da presença de infecção e da integridade da pele em torno da úlcera. As úlceras devem ser desbridadas do seu tecido necrótico. Os antibióticos não estão indicados a não ser que a úlcera esteja infectada. A bandagem de compressão de múltiplas camadas ou a meia de compressão graduada é colocada sobre o curativo. Terapias Clínicas Não há fármacos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para o tratamento de insuficiência venosa crônica. Os diuréticos podem reduzir o edema, mas com risco de depleção de volume e comprometimento na função renal. Os esteroides tópicos podem ser usados por um curto período de tempo para tratar a inflamação associada com dermatite de estase. Vários suplementos herbários – como extrato de semente de castanha-da-índia (escina); flavonoides incluindo diosmina, hesperidina ou ambos combinados como fração flavonoide purificada micronizada; e extrato da casca de pinho-marítimo – são recomendados por ter propriedades venoconstritoras e anti- inflamatórias. Embora metanálises tenham sugerido que a escina reduz o edema, o prurido e a dor e que a fração flavonoide purificada micronizada junto com a terapia de compressão facilitam a cicatrização de úlceras venosas, não há evidências suficientes para recomendar o uso geral dessas substâncias em pacientes com insuficiência venosa crônica. Terapias Cirúrgicas E Intervencionistas Procedimentos ablativos, incluindo ablação térmica intravenosa, escleroterapia e cirurgia, são usados para tratar veias varicosas em pacientes selecionados que têm sintomas persistentes, incompetência da veia safena maior e complicações da insuficiência venosa, incluindo dermatite, edema e úlceras. A terapia ablativa também pode ser indicada por motivos estéticos. Os procedimentos de ablação térmica intravenosa das veias safenas incluem a terapia a laser intravenoso e ablação por radiofrequência. Para a ablação da veia safena maior, é colocado um cateter por via percutânea que é avançado a partir do nível do joelho até logo abaixo da junção safenofemoral usando orientação ultrassonográfica.A energia térmica é fornecida à medida que o cateter é retirado. O calor lesiona o endotélio e a camada média e promove trombose e fibrose, resultando em oclusão venosa. As taxas de oclusão média de 1 a 5 anos excedem 90% após terapia com laser intravenoso e são discretamente menores após ablação por radiofrequência. A trombose venosa profunda da veia femoral comum adjacente à junção safenofemoral é uma complicação incomum, porém potencial, da ablação térmica intravenosa. Outros efeitos adversos dos procedimentos de ablação térmica incluem dor, parestesias, contusões, hematoma e hiperpigmentação. A escleroterapia envolve a injeção de uma substância química em uma veia para causar fibrose e obstrução. Os agentes esclerosantes aprovados pela FDA incluem tetradecilsulfato de sódio, polidocanol, morruato de sódio e glicerina. O agente esclerosante é administrado como um líquido ou misturado com ar ou CO2/O2 para criar uma espuma. Primeiramente, ele é injetado na veia safena maior ou suas tributárias afetadas, frequentemente com orientação ultrassonográfica. Daí em diante, veias menores mais distais e veias perfurantes incompetentes são injetadas. Após o término do procedimento, bandagens elásticas são aplicadas ou são usadas meias de compressão de 30 a 40 mmHg por 1 a 2 semanas. As taxas de oclusão média em 1 e 5 anos são de 81 e 74%, respectivamente, após escleroterapia. As complicações são incomuns e incluem trombose venosa profunda, hematomas, dano aos nervos safeno ou sural adjacentes e infecção. Anafilaxia é uma complicação muito rara, porém grave. A terapia cirúrgica em geral envolve a ligadura e a retirada das veias safena maior e menor. O procedimento é realizado sob anestesia geral. As incisões são feitas na virilha e na panturrilha superior. A veia safena maior é ligada abaixo da junção safenofemoral e um guia fleboextrator é inserido na veia safena maior e avançado distalmente. A parte proximal da veia safena maior é fixada ao guia e recuperada, ou seja, retirada, por meio da incisão da panturrilha. A retirada da veia safena maior abaixo do joelho e da veia safena menor geralmente não é realizada devido aos riscos respectivos de lesão ao nervo safeno e sural. As complicações da ligação e retirada da veia safena maior incluem trombose venosa profunda, sangramento, hematoma, infecção e lesão nervosa. As veias varicosas recorrentes ocorrem em até 50% dos pacientes em cerca de 5 anos, devido a falhas técnicas, insuficiência venosa profunda e veias perfurantes incompetentes. A flebotomia por incisões é outro tratamento cirúrgico para as veias varicosas. Uma pequena incisão é feita ao longo da veia varicosa e ela é avulsionada por meio de um fórceps ou gancho. Esse procedimento pode ser realizado com a ligação e retirada ou ablação térmica da veia safena. A cirurgia endoscópica subfascial das perfurantes (CESP) usa a endoscopia para identificar e ocluir veias perfurantes incompetentes. Ela também pode ser realizada com outros procedimentos ablativos. Intervenções endovasculares, derivações cirúrgicas e reconstrução das válvulas das veias profundas são realizadas, quando exequíveis, para tratar pacientes com insuficiência venosa crônica avançada que não responderam a outras terapias. Intervenções com cateter, em geral envolvendo a colocação de stents intravenosos, podem ser consideradas para tratar alguns pacientes com oclusões crônicas das veias ilíacas. As taxas de sucesso técnico excedem 85% na maioria das séries, e a patência em longo prazo é obtida em cerca de 75% desses pacientes. A derivação iliocaval, a derivação venosa femoroilíaca e a derivação venosa cruzada femorofemoral são procedimentos usados ocasionalmente para tratar a oclusão venosa iliofemoral; a derivação venosa safenopoplítea pode ser usada para tratar a obstrução venosa femoropoplítea crônica. As taxas de patência em longo prazo para procedimentos de derivação venosa geralmente excedem 60% e estão associadas com melhora nos sintomas. A reconstrução cirúrgica das válvulas das veias profundas e os procedimentos de transferência valvular são usados para tratar incompetência valvular. A valvuloplastia envolve o ajuste da válvula por aposição da comissura. Com os procedimentos de transferência da válvula, um segmento da veia com uma válvula competente, como a veia braquial ou a veia axilar, ou a veia safena adjacente ou a femoral profunda, é inserido como um enxerto de interposição na veia incompetente. Tanto a valvuloplastia quanto as operações de transferência venosa resultam em cicatrização da úlcera na maioria dos pacientes, embora as taxas de sucesso sejam, de certo modo, melhores com a valvuloplastia. Referências: Uptodate: Características clínicas e diagnóstico da doença arterial periférica da extremidade inferior. Autores: David G Neschis, MD, Michael A Golden, MD. Revisão de literatura atual: Agosto de 2022. MOTA, THAMIRYS DE CARVALHO et al. Doença arterial obstrutiva periférica: revisão integrativa. Revista Uningá, v. 53, n. 1, 2017. Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20ª edição). Grupo A, 2019. Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia Humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007 Remondi, Felipe Assan, Cabrera, Marcos Aparecido Sarria e Souza, Regina Kazue Tanno deNão adesão ao tratamento medicamentoso contínuo: prevalência e determinantes em adultos de 40 anos e mais. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2014, v. 30, n. 1 [Acessado 3 Setembro 2022] , pp. 126-136.. Maldaner CR, Beuter M, Brondani CM, Budó MDLD, Pauletto MR. Fatores que influenciam a adesão ao tratamento na doença crônica: o doente em terapia hemodialítica. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 19º de fevereiro de 2009 [citado 3º de setembro de 2022];29(4):647. Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas no Brasil. Revista de Saúde Pública, 2016. https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-and-diagnosis-of-lower-extremity-peripheral-artery-disease/contributors https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-and-diagnosis-of-lower-extremity-peripheral-artery-disease/contributors
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