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DIDÁTICA E AVALIAÇÃO NA APRENDIZAGEM EM FÍSICA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Fernando Augusto Silva Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. xxxxx xxxx, xxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xx. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. xxx p.; il. ISBN xxxxxxxxxxxxxxxxxxx ISBN Digital xxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD xxxxxx Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA .................................................7 CAPÍTULO 2 SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS/FÍSICA ..61 CAPÍTULO 3 A AVALIAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA .......................................129 APRESENTAÇÃO Olá, estudante! Com prazer, vamos iniciar os nossos estudos sobre a Didática e Avaliação na Aprendizagem em Física. Este tema parece simples, mas atualmente é uma das preocupações de docentes e pesquisadores e pesquisadoras da área de Ensino de Física, pois ainda é frequente a imagem negativa que essa área tem com os estudantes, principalmente a educação básica, adicionado à falta de perspectiva que os estudantes veem sobre o significado da física em sua formação geral, seja ela pessoal ou profissional. Assim, é nesta realidade em se colocar esta disciplina: buscar apresentar os desafios propostos pela área e as formas de diminuir o distanciamento entre aquilo que o ensino de Física tem a oferecer e aquilo que efetivamente se manifesta nas salas de aula. Vamos nessa? No primeiro capítulo propomos discutir a Didática da Física, apresentando inicialmente um breve histórico da Didática e quais foram as preocupações e proposições que ainda hoje se fazem presentes no contexto escolar. Em seguida, discutiremos as Didáticas das Ciências, tendo em vista ser a área que compreende os mais complexos e desafiadores questionamentos do ensino, ainda mais nos últimos tempos, em que vêm aumentando os problemas, tendo em vista a inserção de novas e cada vez mais específicas teorias. No bojo dessas amplas discussões é que se enquadra a Didática da Física, com seus problemas oriundos da Didática das Ciências acrescidos de problemas da epistemologia da Física. Por conseguinte, discutiremos brevemente sobre a relação professor-aluno- conhecimento, buscando analisar as concepções da ciência e o posicionamento que o docente deve ter, pois uma visão superficial ou simplificada pode contribuir para o negacionismo da Física como parte relevante para a vida de cada estudante. Em seguida, analisaremos o papel que as concepções espontâneas possuem, primeiramente na relação do estudante com o conhecimento e, depois, o que o docente pode fazer com as concepções tendo em vista a melhoria do processo de ensino. E, ainda, analisaremos o papel da Transposição Didática nessa relação, tendo em vista modificar consideravelmente o conhecimento que geralmente é produzido pelos cientistas em virtude de um processo didático mais claro e objetivo. Por fim, discutiremos as três dimensões necessárias para que a Didática da Física seja efetivamente compreendida, visando à complexidade em que se coloca o ensino e o seu campo. Bons estudos! Professor Fernando Augusto Silva CAPÍTULO 1 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • conhecer a organização e gestão da sala de aula de Física; • conhecer algumas concepções dos estudantes acerca de alguns fenômenos; • conhecer o papel da crítica como processo de contribuição para a aula de Física; • conhecer e refl etir alguns pressupostos teórico-metodológicos; • apropriar-se do processo didático como elemento fundamental para uma boa gestão da sala de aula de Física; • elaborar diferentes formas de atuar diante das críticas à Física; • utilizar-se das concepções dos estudantes como estratégia para a aula; • aplicar as diferentes dimensões da didática da Física. 8 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA 9 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo sobre a Didática da Física se propõe a apresentar de modo breve os desafi os em que o ensino de Física se coloca e a complexidade com que deve ser tratado. Para isso, discutiremos como o processo didático se desenvolve, analisando particularmente a história da Didática, a Didática das Ciências e, o que tange aos nossos estudos, a Didática da Física. Em seguida, discutiremos a relação professor-aluno-conhecimento na medida em que o modo como o conhecimento em Física deve ser refl etido em sala de aula, na medida em que a apropriação dos diferentes desafi os apresentados ao longo da história da Física reforça a maneira como deve se manifestar em sala de aula. Por fi m, uma discussão com exemplos das dimensões da Didática da Física, tendo em vista ser o reconhecimento destas, papel fundamental para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem em Física. 2 O PROCESSO DIDÁTICO Segundo o dicionário Michaelis (2021, s.p.), DIDÁTICA signifi ca: “1 Técnica ou arte de ensinar, de transmitir conhecimentos. 2 [PEDAG] Ramo ou seção específi ca da pedagogia que se concentra nos conteúdos do ensino e nos processos próprios para a construção do conhecimento; ciência e arte do ensino”. E quando dizemos que alguém é didático? Como adjetivo, esse termo se coloca como alguém que explica determinado conhecimento de forma clara, de forma que as pessoas que lhe dão atenção conseguem compreender. Neste tópico sobre o Processo Didático, iremos discutir de maneira breve a história da didática, a Didática das Ciências e como isso reverbera na Didática da Física. Destaca- se a necessidade de iniciar com este olhar mais panorâmico até ir afunilando no aspecto que mais propomos a discutir neste Capítulo 1: Didática da Física. 2.1 HISTÓRIA DA DIDÁTICA Em geral, podemos supor que já sabemos sobre isto; afi nal, ou somos docentes e/ou temos a lembrança de nosso passado como estudante da educação básica e da educação superior e todos os processos pelos quais vivenciamos, que contribuíram e contribuem para nossa formação e compreensão de aspectos/ 10 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA estratégias/metodologias que poderiam ser continuadas e utilizadas em outras situações e outras não. Porém, a imitação por si só, sem justifi cativas e fundamentos teóricos podem se esvair ou evaporar diante de questionamentos mais profundos e complexos. E ainda, por outro lado, o Ensino, em muitas situações e níveis, são comumente subjugados como uma mera técnica ou metodologia, que pode ser reproduzida de modo “mecânico”. No entanto, essa visão muito se distancia da Didática proposta em A Didática Magna, de Comênio, considerado o pai da Didática Moderna, sustentada por uma proposta que, com suas limitações e contexto, propõe um ensino humanizador e transformador. A imitação por si só, sem justifi cativas e fundamentos teóricos podem se esvair ou evaporar diante de questionamentos mais profundos e complexos. O nome Comênioé o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca). Para saber mais: https://bit.ly/2Y4krnd. De acordo com A Didática Magna, todos, inclusive os pobres, deveriam frequentar a escola para receber uma educação voltada principalmente para que os indivíduos compreendessem que deveriam ser virtuosos, racionais e piedosos. E para alcançar a todos com esse objetivo desafi ador, Comênio defende que não bastaria apenas o conhecimento, mas também a forma como ensinar. Essa importante obra para os estudos da Didática no Brasil institui a nova disciplina como a “arte de ensinar tudo a todos”, superando uma mera prática costumeira, do mito ou do uso. E aqui já se coloca um desafi o: mas é possível ensinar tudo a todos? Como seria isso? Essas são apenas algumas perguntas gerais, ainda sem intenção de se estabelecer uma resposta, mas sim, fomentar a discussão de como esse desafi o de desenvolveria. 11 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 A preocupação com o Ensino existe desde tempos imemoriais, pois podemos considerar que desde os primórdios já havia esse cuidado de querer passar para o outro, em particular, os fi lhos, seus conhecimentos e práticas laborais. Para alguns autores, Sócrates poderia ter sido considerado o primeiro a se dedicar a introduzir diferentes práticas/metodologias ao ensino, cuja teoria era baseada na refutação: o “discípulo” deveria assumir a sua ignorância e depois construir o conhecimento com o apoio do orientador. Platão, discente de Sócrates, também se preocupou com o ensino, propondo um espaço (academia) para que ocorresse o ensino. E Aristóteles, discente de Platão, também propõe uma nova prática/metodologia que seria o de caminhar enquanto ensina. Ao longo do tempo, a Didática, ou seja, a preocupação em como lecionar, foi sendo aprimorada por outros pedagogos. Johann Heinrich Pestalozzi (1746 – 1827) acreditava que o ser humano nascia bom, porém, ao longo do tempo, em contato com outros indivíduos poderia contribuir para uma interferência negativa na formação do caráter. A partir disso, a educação seria o agente de transformação para que o ser humano pudesse não ter uma interferência negativa. Nesse sentido, defendia como estratégia/método a observação e a apresentação de conhecimentos simples e concretos para estimular o interesse. Em geral, é conhecido como o pedagogo do afeto. Johann Friedrich Herbart (1776-1841), fi lósofo alemão, discente de Pestalozzi, já não se preocupava tanto com o ser humano ser bom ou mal e o papel da educação nesse aspecto. Herbart propunha que o indivíduo se desenvolve a partir das infl uências externas. E, por isso, discute sobre a importância do interesse pelos conhecimentos a serem ensinados e, para que o interesse seja efi caz e permanente, ele deve surgir do que está sendo ensinado e não necessariamente dos meios externos implementados por quem ensina. Por fi m, John Dewey, fi lósofo norte-americano, considerando a infl uência positiva de outros indivíduos, propõe que o ensino na escola deve ser realizado de maneira coletiva, devido à necessidade do homem pela socialização. VAMOS PENSAR? Até aqui, a partir de uma breve apresentação de alguns pedagogos que infl uenciaram a educação, será que muito mudou? Precisaria mudar? As propostas apresentadas fazem sentido? 12 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA Utilizamos, como docentes, algumas destas propostas? Novamente, perguntas para refl etirmos sobre a prática docente. Para complementar a discussão, apresentaremos algumas defi nições do que seria a Didática, segundo alguns autores: • É ou está a caminho de ser, uma ciência e uma tecnologia que se constrói desde a teoria e a prática, com ambientes organizados de relação e comunicação intencionais onde se desenvolvem processos de ensino-aprendizagem para a formação do aluno (ANTOLÍ, 1987). • A ciência que estuda a organização da situação de aprendizagem e educação para o aluno, a partir deste mesmo aluno e para o alcance de seus objetivos (SCHIMITZ, 1993). • É a ciência que deve compreender e guiar a aprendizagem integradora da cultura e ao mesmo tempo possibilita ao homem incorporar-se numa cultura de forma criativa (SACRISTÁN, 1998). • É a ciência e tecnologia do sistema de comunicação intencional onde desenvolvemos processos de ensino-aprendizagem com o objetivo de otimizar a formação intelectual (PÉREZ-GÓMEZ, 2000). • É, atualmente, esse campo de conhecimento, pesquisas e propostas teóricas e práticas que se concentram, principalmente, nos processos de ensino e aprendizagem (ZABALZA, 2006). Como podemos perceber, há certa congruência entre as defi nições, mas é interessante perceber que a preocupação da didática que se instala no ensino transcende também o processo de aprendizagem. Ademais, é importante observarmos que a Didática, como disciplina e campo de estudos, se localiza em preocupações e refl exões entre o homem e o meio, numa relação dialética, que permeia prioritariamente o processo de ensino, ou seja, elenca propostas/análises/metodologias que tangenciem ao modo de ensinar, centralizado no papel do docente. E, ainda, que as propostas apresentadas não se apresentam como predominantes de determinada época, como podemos observar em alguns conceitos Físicos ao longo da História (Teoria do calórico x 13 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Teoria cinético-molecular), mas são utilizadas de maneira concomitante, sempre na busca por melhores resultados dos estudantes. Atualmente, a Didática refere-se a uma importante área da Pedagogia e trata de uma das disciplinas mais importantes na formação de professores. Porém, o que se perpetuou por muito tempo, particularmente no Brasil, foi o caráter prescritivo e instrumental, tido, até certo ponto, como correto e inviolável. Por isso, de certo modo, a busca e/ou fi xação por técnicas e metodologias acabadas para serem implementadas, ainda aparece no âmbito educacional e, por muitos docentes, utilizadas indiscriminadamente. Contudo, demarcadamente após a ditadura no Brasil, acompanhado pelas mudanças sociais e econômicas, buscou romper com o engessamento, discutindo o papel da Didática, retomando aspectos mais profundos já evidenciados em Comênio, no que diz respeito à humanização e transformação. Só que nesse tempo, considerando as necessidades locais, a cultura em constante transformação e a economia inclinada à globalização, se propõe uma formação que colocasse o discente no papel de protagonista desse Ensino. Assim, a palavra “técnica” apresentada pelo dicionário no início deste tópico inicial se coloca de maneira a apontar uma situação possivelmente antiga (MICHAELIS, 2021). A Didática se preconiza por propor discussões mais amplas e, até certo ponto, complexa, de como poderia se dar a gestão em sala de aula, mas de modo relativamente geral, pois prevalece a ciência, ou seja, estudos e refl exões que apontam para características singulares de cada realidade, limitando e reforçando que as técnicas por si só estão fadadas ao insucesso. Não podemos descartar que há algumas técnicas que podem contribuir para que haja uma melhor gestão na sala de aula. Mas elas tangenciam a outros aspectos mais gerais, que servem como sugestão para a melhoria da “postura” do docente. Ou seja, quando um docente quer que os seus estudantes lhes deem atenção, gritar não seria a melhor solução, mas em muitos casos, se o docente fi car parado, apenas olhando para seus estudantes, poderá obter o que deseja. Talvez essa seria, então, uma possível técnica aplicável. Mas será que funciona sempre? Claro que não podemos garantir! 14 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA É nesse sentido que apontamos que as técnicas, principalmente as que estão ligadas à postura do docente, podem contribuir, mascom ressalvas, além de serem muito específi cas. Por outro lado, há técnicas que viram costume do docente, pois foi uma técnica que funcionou numa determinada situação e que funciona em outras, com outras turmas e escolas. Isso é ótimo! Porém, pode não servir para um outro docente para a mesma sala de aula, pois é plausível que o desenvolvimento das características (posturas) que já são boas, possam melhorar o ensino, tanto quanto ou mais do que trabalhar as fraquezas e desafi os. Entretanto, a combinação das duas abordagens (o que já são boas com aquilo que precisa melhorar) produzam os melhores resultados, até mesmo no sentido de barganhar mais tempo para o desenvolvimento de mais conteúdos e de maneira mais complexa. Contudo, no bojo dessas discussões que aqui foram apresentadas de maneira breve é que se coloca a Didática e seu papel de encontrar as melhores orientações para que os docentes possam propagar e sistematizar o conhecimento produzido por vários séculos de existência da produção humana e ofertar um ensino de qualidade, necessários para a qualidade de vida da população. Portanto, não há apenas uma forma de ensinar oriunda dos estudos do campo da Didática, mas diferentes formas para que o docente fi que com a responsabilidade de utilizar-se da melhor maneira possível, quando possível, dependendo do seu contexto, o que lhe é oferecido, articulando a Didática em sala de aula com a transformação social, política e econômica. Por fi m, apenas para alguns esclarecimentos, é importante diferenciar Didática de Pedagogia. A Pedagogia pode ser compreendida como o estudo sistemático da educação e/ou a ciência que estuda a educação com suas refl exões e desafi os. Já Didática pode ser compreendida como um ramo da Pedagogia e se refere aos processos específi cos para a construção do conhecimento. 2.2 DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS No contexto europeu e ibero-americano em que se baseia, de maneira geral, a educação brasileira, a Didática das Ciências pode ser entendida como o repertório de conhecimentos da área de Ensino de Ciências. Mas se o objetivo é a Didática da Física, por que precisamos estudar a Didática das Ciências? De forma breve, podemos dizer que as preocupações e questionamentos que tangenciam à Didática das Ciências fomentam e contribuem para a Didática da Física. 15 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Dado que a função principal da didática é aprender a ensinar e aprender a aprender, ou seja, ensinar e aprender é inerente ao homem e à sociedade, com isso temos ciência de que trazemos o que aprendemos com aqueles que nos antecederam e por isso é importante não descartar o passado, mas, pelo contrário, aprender com o passado para podermos compreender melhor o presente, e, ao mesmo tempo, nos preparar para o futuro. Assim, este subtópico se propõe a ampliar a compreensão da área da Didática das Ciências focalizando, de maneira breve, estudar alguns autores reconhecidos internacionalmente, através de suas convergências e divergências. Pois, o ensinar e o aprender se altera com o momento vivido pela sociedade. Na medida em que vão se desenvolvendo estudos mais específi cos, os objetivos da pesquisa na área de Didática aumentam e também contribuem para uma mudança no que é ciência, ou pelo menos, no que seria ensinar ciências e, concomitantemente, o que é formar professores de Ciências. A área busca responder a perguntas como: qual ênfase dar à formação dos professores?; como inovar em estratégias de ensino?; quais conteúdos ensinar?; como explicar as ciências?; como gerar modelos e práticas adequados a cada conteúdo?; como superar o senso comum?; entre outras. A fundamentação teórica se apoia em diversos conhecimentos, como da Psicologia, História, Filosofi a, Pedagogia, Educação, Ciências Exatas, entre outros, e outros que podem vir a ser acrescidos ao longo do tempo, numa tendência de aperfeiçoamento e diversifi cação dos problemas de pesquisa, por isso podemos considerar uma fundamentação multidisciplinar. E quanto à metodologia utilizada, em geral, são conhecimentos de Antropologia, Filosofi a, Sociologia e/ou das próprias práticas de ensino que têm evidenciado uma tendência de aumento de técnicas que aperfeiçoam a coleta e análise de dados. No quadro a seguir, apresentamos uma síntese das ideias fundamentais em cada uma das obras dos autores conhecidos internacionalmente, segundo Nardi e Castiblanco (2018), em que se focaliza a formação inicial de professores, a relação entre pesquisa e docência e a perspectiva da Didática das Ciências. 16 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA QUADRO 1 – SÍNTESE DOS PRINCIPAIS AUTORES QUE DISCUTEM A DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS SOBRE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES, RELAÇÃO ENTRE PESQUISA E DOCÊNCIA E A PERSPECTIVA DA DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS Obras Formação Inicial de Professores (FIP) Relação entre pesquisa e docência Perspectiva da Didática das Ciências Astolfi e De- velay (1989) A FIP deve ser uma forma- ção profi ssional que inclua o aprendizado da Didática das Ciências sob quatro variáveis: ensinar é co- municar; dominar tramas conceituais dos conteú- dos; refl exão didática; e modelo pedagógico. A formação em pesquisa no Ensino de Ciências deve ser feita com relação a: conteúdos disciplinares; processos de aprendiza- gem a partir das dimen- sões humanas; regulação de um modelo pedagógico que busque se desven- cilhar do tradicional; e a organização escolar com refl exão didática. O termo “Didática” é inde- pendente da Pedagogia. A Didática estuda: as si- tuações de aula, as repre- sentações dos alunos e as formas de o professor intervir. Ela usa aportes da Psicologia, História e Epis- temologia. Adverte para os perigos da Didática geral e das didáticas específi cas. Carvalho e Gil-Perez (1993) A FIP deve considerar resultados de pesquisas sobre a aprendizagem em Ciências e oferecer um preparo adequado para desenvolver o currículo. Propõe uma licenciatura com dois anos para as disciplinas específi cas, e dois para as didáticas específi cas, Pedagogia e Psicologia. Docência e pesquisa de- vem estar ligadas, tanto na formação do professor, quanto em seu exercício profi ssional. O futuro pro- fessor deve adquirir sabe- res como: romper com vi- sões simplistas, conhecer o que ensina, duvidar das ideias docentes do “senso comum” e relacionar com a pesquisa didática. A Didática não pode ser um campo isolado de co- nhecimentos; ela deve ser um eixo articulador, que permita resolver proble- mas utilizando todos os saberes necessários. A Didática específi ca é o nú- cleo que permite articular a formação e a prática do professor. Cachapuz, Praia e Jorge (2002) Na FIP é preciso uma re- novação curricular a partir das perspectivas inter e transdisciplinares, emba- sada nas perguntas de por que e para que ensi- nar Ciências. Deve incluir Epistemologia, História das Ciências e Psicologia da Aprendizagem. O papel do professor pesquisador e seu reco- nhecimento no contexto social e político são pri- mordiais para pensar a escola como instrumento a serviço de uma mudan- ça sustentável, a partir de relações CTSA – Ciência, Tecnologia, Sociedade e meio Ambiente. É preciso pensar na “Nova Didática” como estratégia de inovação. Aquela que busca contribuições de Epistemologia, História das Ciências e Psicolo- gia da Aprendizagem, e que precisa responder às especifi cidades das dis- ciplinas a fi m de superar os desafi os educacionais mais amplos, envolvendo os contextos sociais. 17 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Sanmartí (2002) A FIP deve incluir áreas como Epistemologia e Filosofi a das Ciências. O professor deve estudar sua visão de natureza das ciências e os objetivos de ensinar Ciências, o que implica refl etir acerca do que ensinar, como ensinar e como ocorre o aprendi- zado. A relação entre ciência escolar, quem ensinao aprendiz, deve ser me- diada pela pesquisa do professor no sentido de fazer da atividade de ensi- no uma atividade científi ca escolar. A Didática das Ciências tem o desafi o de defi nir critérios de seleção dos conteúdos a ensinar, ge- rar modelos e práticas adequadas a cada tio de conteúdo. Considerar que cada disciplina tem uma problemática e estrutura específi ca. Fensham (2004) Na história da formação de professores de Ciên- cias existe uma “tradição curricular” que separa os conteúdos científi cos dos conteúdos pedagógicos e uma “tradição didáti- ca” que se preocupa por entender o que é que se ensina, para que, e como fazer para que os alunos saibam o que estão apren- dendo. Um dos indicadores de maturidade da área de En- sino de Ciências é a for- mulação de perguntas de pesquisa, as quais vêm se acumulando a partir da dé- cada de 1960. Estas ques- tionam a forma como os alunos aprendem e como os professores ensinam. O termo didaktik tem implícito um conteúdo do Ensino de Ciências. Nos últimos 30 anos, os pes- quisadores anglo-ameri- canos e os pesquisadores do continente europeu e da América Latina têm se diferenciado. A palavra “didática” gera rupturas na comunicação entre os pesquisadores de cada grupo. Viennot (2004) Na FIP de Física devem- -se estudar os processos com que os alunos cons- troem coerência em suas explicações, visando em- basar o planejamento de estratégias de ensino. O professor deve estudar o raciocínio espontâneo não apenas para identifi - car os erros, mas para ge- rar estratégias de ensino que formem habilidades; por exemplo, aprender a ler relações entre variáveis a partir de uma perspecti- va funcional, indo além de fazer cálculos. O professor precisa co- nhecer as tendências de raciocínio em Física para planejar novas estratégias de ensino que façam com que os alunos ganhem em coerência e compreensão do que estão estudando. FONTE: Adaptado de Nardi e Castiblanco (2018) Essa característica ampla e diversa em que se enquadra a Didática das Ciências quanto ao seu ensino revela a complexidade e o quanto é desafi ador o ensino de forma geral e, ao mesmo tempo, contribui para reforçar o papel do professor em estabelecer metodologias que lhe façam sentido e que efetivamente favoreçam a aprendizagem de seus estudantes. 18 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA Como podemos observar no quadro anterior, Fensham (2004) reforça a importância da área com suas pesquisas e refl exões, pois são elas que dariam a maturidade para a área se consolidar. Um dos exemplos mais concretos nesse sentido são os estudos sobre concepções alternativas (tópico que estudaremos com mais detalhes mais adiante). Nesse estudo se discute a concepção que os alunos vão adquirindo ao longo de suas vidas “fora” da escola e infl uenciam (positiva ou negativamente) na consolidação do conhecimento discutido em sala de aula. Outros pontos tão amplos como este é a inserção e uso da concepção epistemológica da ciência, numa perspectiva sociocultural que deve também infl uenciar a forma de ensinar, considerando aspectos externos à escola. Percebe-se também que há uma divergência na decisão de focar em diferentes preocupações na forma de ensinar. Ora nos saberes necessários do professor de Ciências, ora nas formas como se aprende a ciência, ora em por que e para quê ensinar ciência. Contudo, diante da diversidade de discussões e refl exões sobre a Didática das Ciências é que se coloca o desafi o do docente em utilizar os apontamentos, principalmente os mais concretos, mas de maneira a obter uma refl exão sobre quais foram os aspectos que mais contribuíram para a aprendizagem dos seus estudantes, seja a idade e escola que estiverem. 2.3 DIDÁTICA DA FÍSICA Os dois subtópicos anteriores, a saber: História da Didática e Didática das Ciências foram apresentados de maneira geral, numa proposta de fomentar uma discussão mais ampla, mas que contribua diretamente para a Didática da Física, ou seja, as refl exões realizadas e a verifi cação da existência da área de Ensino de Ciências com certo reconhecimento de seus objetivos de pesquisa, fundamentação teórica e métodos de pesquisa são indispensáveis, pois fomentam diretamente as discussões que serão realizadas por uma Didática específi ca. Em geral, podemos concordar com Astolfi e Develay (1989), em que a Didática geral não responde a processos reais de ensino, mas, por outro lado, a Didática específi ca, somente se preocupa com o ensino de Física em si (poderiam ser outras disciplinas, como Biologia, Química, Astronomia), esquecendo os objetivos educacionais mais amplos. Desse modo, entende-se que o específi co alimenta o geral e vice-versa. 19 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 A Didática da Física tem como objetivo discutir, através de diferentes conhecimentos, a forma como um professor deve ensinar física, ou seja, o professor deve compreender o que, como, por que e para quem ensinar. De outro modo, o objetivo da Física é observar, descrever e entender e, eventualmente, prever fenômenos naturais e o do ensino de Física é fazer com que determinados conhecimentos sejam aprendidos de forma a utilizá-los no cotidiano e reconhecer tais fenômenos e chamar a atenção para eles, associando-os ao dia a dia. A Física começou a ser ensinada nas escolas de forma tardia, no fi nal do século XVII. E no Brasil essa disciplina veio associada à necessidade dos conhecimentos considerados básicos para o acesso ao Ensino Superior, ou seja, após a introdução da Física em cursos de Ensino Superior, observaram a necessidade de que na educação básica também estudassem essa disciplina. Pontualmente, destaca-se que os primeiros livros de Física utilizados eram estrangeiros e possuíam um foco relativamente genérico, sem grandes comparações/aplicações ao cotidiano. A Física se distingue de outras disciplinas por ser uma ciência exata (fundamentação matemática) e que requer, de alguma maneira, vivenciar o processo de observação e/ou demonstração e/ou experimentação. Esses aspectos devem ser levados em consideração ao apresentar os conteúdos aos alunos, ou seja, a Física tem uma epistemologia diferenciada da disciplina de Química ou Biologia e requer processos de ensino e aprendizagem particulares. Alguns dos aspectos a serem levados em consideração, quando se fala em Didática da Física são: o reconhecimento do docente como indivíduo e como detentor do conhecimento, o docente em sala de aula, as novas tecnologias e seus usos, os materiais didáticos, a experimentação, o formalismo matemático, a escola (direção e pais), a carga horária, a motivação dos alunos, o aspecto interdisciplinar, entre outros, que fomentam a discussão em busca de uma didática que favoreça a melhoria da qualidade do ensino oferecido aos estudantes. Assim, partindo do pressuposto de que o professor de Física precisa utilizar conhecimentos além do conhecimento específi co da Física, a principal orientação é que os professores tenham uma visão emancipadora de sua realidade, ou seja, desenvolver habilidades e competências que fomentem uma crítica mais refl exiva. Isso poderia parecer ser responsabilidade apenas de professores de Ciências Humanas, mas não! Uma das propostas da Didática da Física é a compreensão de que há diferentes maneiras de tratar os conteúdos específi cos de Física a fi m de que desenvolva no estudante o senso crítico e refl exivo. Essa refl exão em que o professor deve se preocupar em estabelecer em seus conteúdos também deve favorecer uma refl exão pessoal do profi ssional acerca de aspectos de seu A Física se distingue de outras disciplinas por ser uma ciência exata (fundamentação matemática) e que requer, de alguma maneira, vivenciar o processo de observação e/ou demonstração e/ou experimentação. 20 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA entorno, aspectos sobre seu exercícioprofi ssional e aspectos sobre si mesmo, levando ao que alguns autores chamam de prática refl exiva. No que tange à habilidade metacognitiva (refl exão pessoal do profi ssional), ela deve ser desenvolvida de tal forma que seu aprendizado perdure e o eduque para uma constante mudança, em vista da melhoria, do seu exercício profi ssional. Além disso, as discussões sobre a Didática também devem fomentar aquilo que o docente busca, dentro de suas limitações, realizar uma pesquisa em ensino, ou seja, o profi ssional deve aprender a pesquisar sobre sua própria ação, desenvolvendo níveis de aperfeiçoamento, uma vez que além de aprender a aprender a partir de sua prática, também será possível desenvolver métodos para aperfeiçoar modos de superar alguns problemas em sala de aula. Nesse sentido, há diferenças na compreensão do que seria pesquisar e consequentemente do que seria um professor pesquisador. Em geral, a pesquisa propriamente dita seguiria alguns passos, com fl exibilidade, é claro, que não necessariamente contemple todas as visões de pesquisa. Ou seja, há a pesquisa desenvolvida prioritariamente no âmbito acadêmico que segue determinadas condições e, a priori, regras. Por outro lado, há pesquisas feitas de maneiras mais diretas, sem preocupações com o rigor e a consistência metodológica. Assim, difere-se, então, certa diferença de professor pesquisador, que assume uma postura investigativa, mas que por um lado, no âmbito acadêmico está relativamente condicionado ao uso de metodologias e “regras” e por outro, o professor pesquisador mais preocupado com sua prática, em remodelar a prática de maneira que efetive o processo de aprendizagem. Em outras palavras, o professor pesquisador da escola tem uma preocupação mais imediata com seus problemas cotidianos e um menor distanciamento com eles; sua preocupação maior é (ou deveria ser) desenvolver sua ação docente para obter sucesso na aprendizagem dos alunos. O professor pesquisador acadêmico objetiva resultados em longo prazo, possibilidade e distanciamento para uma refl exão mais ampla, e compromisso com a geração de novos conhecimentos. Os intentos e os resultados das ações são, portanto, diferentes, variando a natureza do papel, o grau de envolvimento e a responsabilidade pelos resultados. Não se trata de defi nir uma ordem de importância para essa ou aquela atividade, mas tão somente de reconhecer que há diferenças nos objetivos perseguidos e, consequentemente, nos fi ns atingidos. Em relação ao professor pesquisador de escola, Lüdke (2005) alerta que a refl exão não é sinônimo de pesquisa e o professor que refl ete sobre a sua prática pode produzir conhecimento sem, necessariamente, ser um pesquisador. Quando 21 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 ele avança, indo ainda além da refl exão, do ato de debruçar-se outra vez para entender o fenômeno, encurta a distância que o separa do trabalho de pesquisar, que apresenta, entretanto, outras exigências, entre as quais a análise à luz da teoria. Não se pode esquecer que a didática também deve elucidar a complexidade em que se coloca a profi ssão docente, pois além de todos os desafi os, está condicionada a relações humanas, com diferentes interações e com diferentes pessoas, mesmo que permeadas pelos conteúdos de Física. Há de se reconhecer que, em muitos casos, no processo de ensino e aprendizagem de Física, tem como um dos principais traços, a realização de atividades voltadas à apresentação de leis, fórmulas e conceitos de modo descontextualizado da realidade do estudante. Além disso, há alguns aspectos que podem passar despercebidos pelo docente e que podem infl uenciar o processo, como: falar baixo, não ter organização na lousa, escrita ilegível, não ter o domínio (mínimo) no uso de tecnologias e recursos digitais, não motivar os alunos, entre outros. Adicionado a esses apontamentos, a sociedade do século XXI é caracterizada pelas incertezas, desconstruções, fragmentações, fl exibilidade e mudança de valores, e já não comporta uma escola pensada para o início da era da industrialização. Ela precisa ser redimensionada e indubitavelmente isso recai sobre os docentes, tendo em vista poder ser uma das principais ações em direção a essa nova realidade, pois uma ação docente com base na racionalidade técnica e na reprodução do conhecimento não tem mais sentido em um mundo com signifi cativo avanço tecnológico e científi co, onde a informação, de modo geral, está disponível a todos que a ela acessam. Por isso, o docente deve reconhecer seu papel que vai além de ensinar: promover o aprendizado do aluno de maneira signifi cativa e efi ciente, reconhecer que é uma profi ssão como tantas outras e, portanto, possui relações sociais e políticas explícitas ou implícitas que devem ser consideradas e que a ação do professor vai além de apenas transmitir conhecimento, sendo um dos principais agentes de transformação social. Por isso, reforça-se a importância da refl exão sobre o ato de ensinar. A refl exão pode ajudar os docentes a problematizarem, analisarem, criticarem e compreenderem suas práticas, produzindo signifi cado e conhecimento que direcionam ao processo de transformação das práticas escolares. Contudo, é importante salientar que a culpabilização de outras esferas pelo insucesso da Didática em sala de aula é relativamente limitada, tendo em 22 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA vista, particularmente no que tange ao Ensino de Física, das diferentes formas de aprendizagem, ou seja, se não há laboratórios, pode-se utilizar laboratórios virtuais, entre outros exemplos. Para fi nalizar, vamos olhar brevemente para algumas ações em sala de aula de modo a fazer com que os estudantes sejam incentivados a realizarem uma refl exão sobre os seus conhecimentos, ou seja, muito além de diversifi car atividades em sala de aula, a proposta tangencia realizar ações que favoreçam o debate e a construção coletiva, como aspecto fundamental de contribuição para uma visão mais panorâmica (metacognitiva). O que você sugeriria? Nardi e Castiblanco (2018) sugerem nove diferentes dinâmicas. A primeira, chamada “Dinâmica do ‘individual ao coletivo’”, compreende ações que possam favorecer inicialmente uma refl exão individual e pessoal e, em um momento posterior, serem socializadas em grupo por meio de um representante. O docente tem o papel fundamental de orientar as refl exões para que não se estendam e também não saiam do foco de interesse da aula. A segunda, chamada “Dinâmica ‘do coletivo ao individual’”, tem como proposta relativamente inversa à anterior, em que será apresentado um problema, solicitando a opinião livre, com o objetivo de verifi car as diversas linhas de pensamento e essa dinâmica vai sendo orientada pelo docente até mesmo em sugestões corretas e corrigindo as incorretas. No fi m, pode pedir alguma atividade individual, por exemplo, uma atividade escrita. A terceira, chamada “Dinâmica ‘o trabalho colaborativo’”, se caracteriza por organizar diferentes grupos de trabalhos e estes realizarem parte de um todo coletivo, seja para montar algum material, seja para realizar parte de um problema. Em seguida, faz- se uma socialização do que cada grupo fez, fi nalizando de forma com que todos atinjam o objetivo geral da aula. A quarta, chamada “Dinâmica ‘a pesquisa’”, a partir de um questionário que pode ser aplicado em diferentes momentos de aula, mas com o intuito de diagnóstico e também contribuir para fomentar mais questionamentos em sala. Em seguida, as respostas podem ser discutidas em sala e, por fi m, um esclarecimento de quais seriam as respostas corretas com as determinadas interpretações e uma socialização e conclusão geral do tópico estudado. A quinta, chamada “Dinâmica ‘o rodízio’”, compreende em organizar um grande grupo em sala de aula, preferencialmente 23 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 em um círculoe, em seguida, cada estudante deve produzir algo escrito, seja a resolução de um exercício, seja a refl exão sobre algo que se propõe a discutir. Posteriormente, todos os estudantes farão um rodízio, passando a folha para outro estudante (todos de forma coerente), a fi m de que o outro estudante possa avaliar, criticar e escrever a sua refl exão em cima do que o colega fez. Para fi nalizar é interessante abrir para o grupo geral discutir o que aprenderam. A sexta, chamada “Dinâmica de ‘retroalimentação’”, tem como propósito a realização de um exercício metacognitivo, ou seja, a partir de determinada atividade que foi realizada pelos estudantes, o docente faria uma categorização e, por conseguinte, uma discussão com os estudantes sobre os resultados alcançados, buscando apontar o que poderia melhorar e o que já está coerente com o que foi solicitado. A sétima, chamada “Dinâmica ‘o debate’”, talvez seja a mais conhecida entre os docentes, consiste na discussão de alguma problemática real já da sociedade, particularmente da Física, no que tange a temas como aquecimento global, pós-verdade, história da ciência, entre outros. O professor tem papel fundamental nesse tipo de dinâmica, pois deve controlar as discussões para que não ultrapasse o tempo e espace daquilo que é de interesse da aula. Esse tipo de dinâmica também trabalha nos estudantes a possibilidade de se expressar de forma coerente em público. A oitava, chamada “Dinâmica ‘o relógio’”, tem como característica o diferente posicionamento dos estudantes e as possibilidades de diferentes interações. Ela pode ser aproveitada para realizar uma refl exão, análise, socialização etc. O papel do professor se concentra na elaboração de um determinado tópico de Física ou do Ensino de Física e as respostas serão discutidas com outros estudantes, em outras posições. A nona, chamada “Dinâmica de ‘coavaliação’”, como o próprio nome já menciona, consiste em estabelecer situações que o próprio estudante possa ter a oportunidade de avaliar o seu colega, desde que sejam estabelecidos os critérios e o material de forma adequada. Posteriormente, pode haver algum momento de socialização das refl exões realizadas a partir da avaliação realizada. 24 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA 1) Todas as dinâmicas, com suas diferentes oportunidades de aprendizagem, possuem a característica de interação entre os colegas e o docente em diferentes momentos. Das atividades apresentas, qual seria o papel do docente? Contudo, essas dinâmicas visam ampliar o leque de ações que os docentes poderiam realizar em sala de aula, tendo em vista a participação, a refl exão e certa criticidade oriunda das análises e observações durante as atividades. Há de se lembrar, para fi nalizar, que em geral essas atividades já tendem a favorecer a aprendizagem também por alterarem o modo tradicional de lecionar. Ainda se observa que a quantidade de dinâmicas não é pequena. Por que isso? Para que você tenha ciência de que não há uma única técnica que possa solucionar o desinteresse dos estudantes, mas várias que devem ser realizadas das mais diferentes maneiras e/ou acrescidas de outras possibilidades que possam vir a ser apresentadas. 3 A RELAÇÃO ALUNO-PROFESSOR- CONHECIMENTO Este subtópico do capítulo se propõe a fazer uma breve discussão sobre a relação do professor com o conhecimento, particularmente o conhecimento científi co, em seguida, a relação do aluno com o conhecimento, baseados em sua maneira de ver, nas concepções espontâneas vislumbrando uma mudança conceitual e, por fi m, como o conhecimento foi sendo modifi cado até chegar à sala de aula. Todos esses temas têm como propósito o reconhecimento dessas relações e/ou suas fragilidades e aquilo que já está consolidado de maneira positiva. 3.1 CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA Faremos uma breve discussão da relação que o docente tem (ou deve ter) com o conhecimento científi co, na medida em que isso pode infl uenciar diretamente no foco que será dado em sala de aula, quando fi rmados na 25 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 possibilidade da autonomia pedagógica. Nesse ponto há dois aspectos gerais que deverão ser observados em relação à construção do processo científi co, a saber: num primeiro momento, como o mesmo foi sendo construído/consolidado e, por outro lado, qual o posicionamento de um docente diante dos conhecimentos que devem ser levados à sala de aula em relação ao seu posicionamento. Podemos destacar três concepções de Ciência, a saber: racionalista, empirista e construtivista. A ciência racionalista está relacionada à fi losofi a no sentido de contemplar e conhecer a natureza, ou seja, ela é um conhecimento racional e dedutivo, por exemplo, a Física, quando embasada na linguagem matemática e as experiências são utilizadas apenas como forma de confi rmar e verifi car as teorias. Em geral, grande parte da Física Moderna foi constituída nesse movimento, em que as teorias avançaram de forma mais “rápida” que a experimentação, que nesse caso, é justifi cada principalmente pala falta de aparatos experimentais. E ainda, as experiências, mesmo que pontuais podem levar a generalizações. Já a ciência empirista, que tem Aristóteles como mentor desse modelo, sistematiza o conhecimento e cria determinado método, dado que a organização do conhecimento é importante como aspecto que caracteriza o processo científi co. Nesse caso, a interpretação dos fatos através dos sentidos (da visão em destaque) são desenvolvidos nas observações e experimentação, permitindo estabelecer induções que oferecem às propriedades e leis de determinado objeto e a sua própria defi nição e isso faz com que conduza o conhecimento. Essa visão é encontrada nas tabelas de coefi cientes, como o da dilatação térmica, em que são obtidos experimentalmente e a partir dos mesmos podem surgir algumas interpretações. Ou seja, partindo do caso particular, indo do caso particular, para o caso geral. Em geral, essa visão de ciência empirista é oposta à ciência racionalista, mesmo tendo como mote inicial, conhecer para dominar a natureza. Na primeira, a experiência leva à teorização, e na segunda, a teorização leva à experiência. Por fi m, a ciência construtivista, consolidada a partir do século XX, propõe que parte da ciência racionalista e parte da ciência empirista esteja presente no processo de consolidação de determinado conhecimento, ou seja, exige a 26 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA experimentação e exige o método científi co. Essa ciência não espera apresentar uma verdade absoluta, como ciência empirista, mas uma verdade aproximada em que se possa abrir espaço para novos conhecimentos, em que a discussão é constantemente construída. Em suma, essas são as três principais concepções científi cas, em que podemos nos basear: racionalista, empirista e a construtivista. Em suma, essas são as três principais concepções científi cas, em que podemos nos basear: racionalista, empirista e a construtivista. Sugerimos a leitura das seguintes obras: SOUZA, Matheus Henrique de. Caracterização das concepções de ciência e de ensino-aprendizagem presentes nas propostas experimentais nos livros didáticos de física PNLD 2018. 2018. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2018. GARCIA, Simone Domingues; DEITOS, Greyze Maria Palaoro; STRIEDER, Dulce Maria. Aspectos epistemológicos da experimentação no ensino de ciências. Revista Eletrônica Científi ca Ensino Interdisciplinar, v. 6, n. 16, 2020. Disponível em: http://natal. uern.br/periodicos/index.php/RECEI/article/view/1650. Acesso em: 26 jul. 2021. 1) Com relação às concepções de ciência apresentadas anteriormente, relacione as alternativas de acordo com as afi rmações: A - Construtivista B - Racionalista C - Empirista ( ) Utiliza-se de métodos dedutivos. ( ) Utiliza-sede métodos dedutivos e indutivos. ( ) Utiliza-se de métodos indutivos. 27 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Essa discussão é importante e necessária, e vai nos acompanhar nos próximos passos. Por isso, voltaremos nosso olhar para as pesquisas em Física e, particularmente, no Ensino de Física, tendo em vista ser um dos parâmetros para a construção de novos saberes que possam contribuir para a prática docente. Ou seja, mudanças advindas de novas formas de se desenvolver a ciência, de modo geral, podem fomentar olhares diferentes para a construção do conhecimento. Nesse sentido, é interessante nos questionarmos como tem funcionado a adesão a um paradigma, pois, às vezes, esse movimento pode se assemelhar a uma profi ssão de fé em uma teoria, gerando o culto ou a subserviência a certos termos e concepções compartilhadas pela comunidade científi ca de determinado momento. Essa postura relativamente ingênua não permite enxergar além dos limites. Um exemplo simples seria o estudo de caso em escolas de região de baixo poder econômico que se estenda para situações relativamente diferentes, principalmente para situações de alto poder econômico. Um exemplo Físico poderia ser, sem “sair” do Planeta Terra, concordar com o modelo geocêntrico. É importante compreender como foi o processo de construção e mudança conceitual nesse aspecto e que observações cotidianas podem facilitar a incompreensão de como a natureza se desenvolve. De forma pontual destaca-se que as teorias científi cas nascem e se desenvolvem em meio a inúmeras “anomalias” ou contraexemplos empíricos. A teoria de Copérnico conviveu, até o advento do telescópio, com o contraexemplo da observação da invariância das dimensões de Vênus ao longo do ano. Há outros exemplos que circundam o contexto histórico da construção do conhecimento de Física que também esclareceriam os desafi os que foram estabelecidos, e as possíveis objeções. Porém, o que se destaca é o resultado “positivo”, correto, oriundo de tudo que contribui para algum embate. Outrossim, pode se fazer ciência de modo normal, seguindo os processos ditos normais, sem invenção. A visão comum da ciência se enquadra nessa situação, em que se constitui de uma crença generalizada de que o conhecimento fornecido se distingue por um grau de certeza alto, atingindo uma posição privilegiada, também devido as suas técnicas, métodos e teorias. E que deve haver alguma “receita” que justifi caria a forma como o conhecimento vai sendo construído, fortalecendo-o como seguro. De forma pontual destaca-se que as teorias científi cas nascem e se desenvolvem em meio a inúmeras “anomalias” ou contraexemplos empíricos. 28 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA Consequentemente, devido a concepções inadequadas acerca da natureza da Ciência, a imagem de Ciência e da comunidade científi ca é apresentada como desligada dos problemas reais do mundo, demasiado tecnicista, só acessível a privilegiados detentores do saber, existindo um desconhecimento das interações Ciência-Tecnologia-Sociedade (VIEIRA; MARTINS, 2005). No entanto, pode se fazer ciência de modo revolucionário, em que se baseia na mudança e na criatividade como motores propulsores que levam à proposição de novos olhares para os mesmos desafi os e/ou propondo diferentes perguntas, originando novas soluções. Ou seja, a pergunta se destaca como elemento fundamental para essa mudança. Assim, o docente deve se comportar como um cientista revolucionário em sala de aula, perante os conhecimentos que possui e a partir das experiências vividas e supostamente reinventadas. Isso não exclui o trabalho com rigor e objetividade, mas deve ser complementado por um aspecto de posicionamento em relação ao conhecimento físico de maneira a questionar e/ou buscar novas formas de compreensão. Um dos caminhos para esse posicionamento revolucionário no Ensino de Física pode se dar pela promoção de conhecimentos associados à Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS). Nesse sentido, segundo Vieira e Martins (2005, p. 103-104), seguem alguns aspectos que podem ser inseridos: [...] (a) extrair da história problemas relevantes; mostrar a existência de grandes crises no desenvolvimento da Física e da Química; mostrar o carácter hipotético e indutivo da Ciência, as limitações das teorias, problemas pendentes de solução; (b) evidenciar a natureza colectiva e controversa da investigação científi ca para contrariar a ideia da Ciência feita basicamente por génios, na sua maioria homens; (c) apresentar grandes problemas que hipotecam o futuro da humanidade (crescimento da população, contaminação ambiental, esgotamento dos recursos, degradação dos ecossistemas, violência, fome, doenças) e medidas a tomar; (d) apresentar exemplos de atitudes de responsabilidade social de cientistas e técnicos (por exemplo, as de Einstein e Pauling) e como o uso irracional da Ciência na Guerra Fria colocava em perigo a paz entre as nações ou, na actualidade, o resultado de investigações que têm manifestado, pese embora a oposição de muitas empresas, que a radioactividade é prejudicial, que o tabaco e outros produtos são cancerígenos; e (e) mostrar a contribuição da Ciência no desenvolvimento geral da humanidade e de uma concepção do mundo baseada na racionalidade e no pensamento crítico contra todos os tipos de fundamentalismos (como o racismo) e de ideias pseudo-científi cas (como a astrologia). Um dos caminhos para esse posicionamento revolucionário no Ensino de Física pode se dar pela promoção de conhecimentos associados à Ciência-Tecnologia- Sociedade (CTS). 29 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 O desafi o está colocado! E assim, esses aspectos apontados, que somente relatam alternativas em relação à CTS vão ao encontro do posicionamento do docente como um profi ssional que constrói ao longo do tempo uma postura crítica e refl exiva, como comentado no tópico anterior. Para fi nalizar, particularmente sobre o método científi co, proposto por René Descartes no século XVII, em que há uma ordem para a elaboração de leis e teorias na construção do conhecimento científi co, é importante ressaltar que esse método atualmente já não é consolidado de maneira geral, para todos os processos científi cos, pois isso depende de como o processo foi construído. Há situações em que as leis são estabelecidas sem mesmo haver um experimento sequer. 3.2 CONCEPÇÕES ESPONTÂNEAS Ainda na discussão sobre a relação aluno-professor-conhecimento, este subtópico se propõe a discutir os conhecimentos prévios dos estudantes, ou melhor, como eles devem ser considerados no processo de ensino e aprendizagem. Antes de avançar é importante lembrar que na literatura há alguns sinônimos para os conhecimentos prévios dos estudantes, a saber: concepções espontâneas, concepções alternativas ou pré-conceito dos estudantes, entre outros. Concepções Espontâneas ou Conceitos Espontâneos são conceitos naturais ao nosso pensamento que não nos remetem a nenhum ensino formal, sendo aprendido no dia a dia, por inferência ou por conclusões lógicas. 30 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA Muitos conhecimentos são formados na infância, pois nessa fase de nossa vida estamos aprendendo a lidar com o meio que nos cerca, mas continuam sendo formadas a vida inteira. Ou seja, são conhecimentos ou inferências adquiridas antes de uma explicação escolar ou acadêmica sobre determinado tema. Vamos pensar? Poderíamos nos questionar: o que sabem nossos estudantes antes de apresentarmos determinado assunto? Ou como justifi cariam determinado fenômeno físico? De acordo com Krause e Scheid (2018, p. 230), as características gerais das Concepções Alternativas são: [...] a) representações subjetivas: as CAs possuem natureza pessoal; cada indivíduo interioriza a sua experiência de um modo próprio, e as CAs são infl uenciadas, mas nãoditadas, por contribuições do meio; b) natureza estruturada: as CAs são constituídas como uma estrutura organizada de conhecimentos solidários, de simples e isolados para gerais e complexos; c) dotados de certa coerência interna: as CAs são sentidas pelos alunos como sensatas, coerentes e úteis; considerando seus modelos de pensamento, têm um valor signifi cativo; d) esquemas mutuamente inconsistentes: os alunos usam diferentes CAs para interpretar situações que exigiriam a mesma explicação e CAs iguais para interpretar situações que exigiriam diferentes explicações; e) esquemas que fazem lembrar modelos históricos da ciência já ultrapassados: utilizam-se de conceitos já tidos como corretos pela ciência; f) esquemas resistentes a mudanças e persistentes: as CAs têm um caráter regressivo. Particularmente, quando nos questionamos como o estudante aprende, poderíamos utilizar várias teorias cognitivas de aprendizagem. Focalizando nas ideias construtivistas de Piaget e Vygotsky, em especial, a aprendizagem se dá através da relação com aquilo que o estudante já sabe, em que depende dos conhecimentos prévios e ocorre uma construção do conhecimento, não apenas uma reprodução, como se o estudante fosse uma “tábua rasa” ou uma esponja. Segundo Piaget, esses conceitos são formados de dentro para fora, ou seja, a partir de experiências relacionadas a contatos com objetos ou situações do cotidiano. 31 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Para Vygotsky, não é possível conceber o processo de aprendizagem dos estudantes independente da sua história, de seu contexto social, histórico e cultural. E os conhecimentos seriam estruturados numa ampliação do que já se conhece. A partir disso, a proposta para que haja uma transformação efetivamente conceitual do estudante, a partir da conscientização da existência dos conhecimentos prévios e dos estudos da aprendizagem, particularmente as construtivistas, alguns procedimentos são interessantes de serem realizados. Primeiramente, conhecer as concepções prévias dos estudantes; isso poderia ser realizado de diferentes formas, desde que haja espaço para que os estudantes possam se manifestar. Em seguida, seria interessante acontecer algum tipo de troca de ideias entre os próprios estudantes, mediada pelo docente. Essa breve discussão pode fomentar o surgimento de confl itos cognitivos e é nesse momento em que se abre espaço para que novas ideais possam ser construídas. Por fi m, a concretização dessa transformação conceitual se daria na confi rmação e/ou revisão relacionado a outras situações. Vale ressaltar que, em muitas situações, os casos são semelhantes. Um exemplo simples que normalmente é tomado como início de diálogo sobre calor e temperatura é a discussão do quanto é válida a sensação térmica para pessoas que vivem em países com diferenças consideráveis de temperatura. Nesse sentido, entende-se que identifi car as concepções prévias dos estudantes é necessário para promover o confl ito cognitivo, na tentativa de fazer o estudante perceber a sua concepção como errônea ou incompleta para abandoná- la em detrimento de um conceito mais complexo e elaborado. Um exemplo importante aqui é referente à evolução do conceito do modelo geocêntrico x modelo heliocêntrico. Normalmente, os estudantes que adentram ao Ensino Médio já têm relativamente estabelecido que o modelo vigente é o modelo heliocêntrico e isso se dá, normalmente, pelas imagens/fotos de satélites. Entretanto, é interessante buscar discutir como esse conhecimento foi sendo construído e estabelecido ao longo de séculos, por diferentes cientistas e o desafi o de “descobrir” o movimento, antes mesmo se “sair” da Terra. Por fi m, a concretização dessa transformação conceitual se daria na confi rmação e/ou revisão relacionado a outras situações. 32 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA Há outros exemplos na Física? A discussão sobre o que seria o calor, a compreensão do que seria o éter, entre outros acontecimentos. Vale a pena ler mais sobre isso! Até mesmo para ajudar a estruturar confl itos cognitivos mais coerentes com o que ocorreu durante a construção de determinado conhecimento. Além disso, a situação que gera confl itos cognitivos deve ser inteligível, no sentido de compreender a situação. E deve ser plausível, fértil e suprir alguma satisfação, buscando sanar pequenos equívocos em relação a determinado conhecimento. Isso favoreceria a transformação de uma concepção alternativa para uma concepção científi ca. De acordo com Krause e Scheid (2018, p. 231), são necessárias três condições para que efetivamente a aprendizagem ocorra: a) disponibilidade na estrutura cognitiva de conceitos ou proposições relevantes (ideias âncoras, subsunçores) que possibilitem a interação; b) disposição, por parte do aprendiz, em relacionar as ideias novas com as ideias existentes, já ancoradas em sua estrutura cognitiva; c) existência de um material (nova informação) potencialmente signifi cativo. No entanto, é importante ressaltar que a aquisição de um determinado conhecimento pode ocorrer sem que o anterior seja modifi cado, sendo apenas reorganizado ao conhecimento já existente. Existe na literatura vários trabalhos que buscam evidenciar a existência de concepções prévias. Estas podem ser inferidas através de questionários, provas, exames nacionais ou internacionais, entrevistas, entre outros, em diversos níveis educacionais, o que signifi ca que se deve ater-se também ao instrumento e à validação do mesmo. 33 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Um exemplo comum de difi culdade dos estudantes se encontra na descrição de forças durante o movimento de lançamento vertical ou queda livre. Em geral, os estudantes associam que como um objeto está sendo lançado para cima, há uma força que atua enquanto o objeto sobe, e quando o objeto está em queda, uma força, às vezes idêntica à anterior, mas em sentido oposto, está atuando sobre o objeto. Assim, mais importante do que identifi car as lacunas existentes nos estudantes, é importante o docente identifi car os contextos nos quais foram construídos, fornecer oportunidades para que os estudantes possam confrontar suas concepções e auxiliar os estudantes na reconstrução e internalização de novos conhecimentos baseados em modelos científi cos. Sugerimos a leitura das seguintes obras: LOUZADA, Alexandre Neves; ELIA, Marcos da Fonseca; SAMPAIO, Fábio Ferrentini. Concepções alternativas dos estudantes sobre conceitos térmicos: um estudo de avaliação diagnóstica e formativa. Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 37, n. 1, p. 1508, mar. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S180611172015000101508&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 7 fev. 2021. PASCÚI, M. Z.; ALTARUGIO, M. H. Concepções prévias e obstáculos epistemológicos no ensino de atomística: uma abordagem a partir do método educacional psicodramático. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 11, n. 5, p. 53-70, 8 ago. 2020. ZARA, R. A.; WEIZENMANN, L. M. (2020). Sequência didática para ensino de eletricidade a partir de concepções espontâneas. Arquivos Do Mudi, v. 24, n. 3, p. 256-266. Disponível em: https://doi. org/10.4025/arqmudi.v24i3.55486. Acesso em: 7 fev. 2021. VILANCULO, J. A.; MUTIMUCUIO, I. V.; SILVA, C. S. Avaliação da infl uência das concepções alternativas no ensino e aprendizagem da física: um estudo de caso em Moçambique. REAMEC - Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, [S. l.], v. 8, n. 3, p. 515-532, 2020. Disponível em: https://periodicoscientifi cos.ufmt. br/ojs/index.php/reamec/article/view/10599. Acesso em: 7 fev. 2021. 34 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA 1) Com relação aos conhecimentos dos estudantes sobre os conteúdos de Física, analise as sentenças e assinale V para as verdadeiras e F para as Falsas: ( ) Os estudantes, em geral,possuem conhecimentos prévios sobre o que se estuda em física, mas estes não são equivocados, pois foram construídos desde a infância. ( ) É importante reconhecer que os estudantes vêm para a sala de aula com conhecimentos prévios, para que possa se tornar uma ferramenta de problematização inicial. ( ) Os estudantes não possuem concepções alternativas sobre os conteúdos de Física, somente os docentes. 3.3 TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA A partir da relação professor-aluno-conhecimento, a Transposição didática se coloca como uma discussão sobre o conhecimento que será apresentado aos estudantes, comparado ao conhecimento que foi sendo estabelecido ao longo dos anos, por diversos cientistas. Quando o docente prepara a sua aula para determinada turma, de determinada série, normalmente um dos materiais de referência utilizado é o livro didático, além da experiência, a consideração da característica dos estudantes (concepção espontânea), a escola, entre outros. Porém, em muitos casos, o docente não se dá conta de que ocorreu uma “diferença” – mutação – entre aquilo que estava no livro e os seus apontamentos. Analisando com mais profundidade, observa-se que a diferença se amplia consideravelmente quando se compara os apontamentos do docente com aquilo que os cientistas escreveram em seus manuscritos originais. Ou seja, geralmente, a ciência elaborada pelos cientistas não é idêntica à ciência ensinada em sala de aula. Essa discrepância tem justifi cativa? Sim! Entre outras justifi cativas, entende- 35 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 se que a forma como determinado conhecimento foi descrito não é de domínio geral, afi nal, a didatização é uma exigência incontestável. Um dos aspectos mais observados nesse ponto é que muitos manuscritos foram escritos em latim, o que contribui para que boa parte da sociedade, que não tinha acesso a esse tipo de linguagem/escrita não se apropriasse dos conhecimentos. No entanto, responder onde, como e quando tais “tradições” começaram a fazer parte da estrutura escolar é extremamente difícil e desafi ador. Apenas sabe-se que estão presentes no currículo e no cotidiano escolar de forma que possa ser explicado e compreendido. Isso tudo se dá através do que chamamos de Transposição Didática. Um conceito que tem origem na didática francesa, ao ser formulada originalmente pelo sociólogo Michel Varret, em 1975. Porém, só foi utilizado de maneira extensiva em 1980 pelo matemático Yves Chevallard, que retoma a ideia e a insere em um contexto mais específi co ao discutir as modifi cações da noção matemática de “distância” desde a sua origem até se tornar objeto de ensino. Sugerimos a leitura das seguintes obras: LIMA, Luís Gomes de; CORRALO, Márcio Vinicius. Trinta anos de física também é cultura: apresentação de estratégias didáticas para o ensino da interface física-literatura por meio de indicadores. XXIII Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF, 2019. ARAÚJO, Davi Rêgo. A transposição didática e o processo de ensino aprendizagem: uma discussão com professores de física. Orientadora: Cláudia Maria Lima da Costa. 2019. 17 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Física) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, Teresina, 2019. Segundo Chevallard (1991 apud MARTINS, 2020, p. 120), Transposição Didática é defi nida como: “Um conteúdo de saber que tenha sido designado como saber a ensinar, sofre um conjunto de transformações adaptativas que vão torná- lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O “trabalho” que transforma o objeto de saber em objeto de ensino é denominado de transposição didática”. Esse trabalho transformador que se faz necessário quando a intenção é a materialização no ensino, Martins (2020, p. 121) menciona que foram identifi cados saberes de três níveis, a saber: 36 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA [...] o Saber Sábio; o Saber a Ensinar e o Saber Ensinado. A teoria da transposição didática confi gura-se como uma ferramenta potencialmente capaz de analisar o processo por meio do qual o saber elaborado pelos cientistas (o Saber Sábio) se transforma nos conhecimentos que estão presentes nas estruturas curriculares e nos livros didáticos (o Saber a Ensinar) e, principalmente, naqueles que efetivamente são abordados no cotidiano escolar (o Saber Ensinado). A existência desses saberes ou níveis apontam para a existência de grupos sociais diferentes que respondem pela composição de cada um dos saberes. São grupos relativamente diferentes, que estabelecem interesses e regras próprias, mas que estão interligados pelo saber, coexistindo e infl uenciando, num espaço mais amplo. De modo geral, o primeiro, o saber sábio, é resultado do trabalho produzido de uma esfera própria, composta pelos cientistas e intelectuais que constroem ao longo do tempo, o conhecimento científi co. Este saber se apresenta ao público em publicações próprias, com uma linguagem específi ca da área. Isso não é realizado de maneira rápida e muito menos objetiva, mas é oriundo de diálogos internos e externos que se consolidam nesse tipo de trabalho. O segundo, o saber a ensinar, tem como aspecto fundamental se apropriar daquilo que foi produzido pelos cientistas e intelectuais. O processo de transformação, aqui, envolve muito mais pessoas do que o primeiro. Normalmente, é composto por pessoas que não pertencem ao mesmo grupo, vinculados a diferentes pensamentos, e que têm em comum o pertencimento ao um mesmo nicho epistemológico. Então, esse grupo é caracterizado por ser mais eclético e diversifi cado, que defende seus próprios interesses ou posições ideológicas. Os componentes dessa esfera são, predominantemente (1) os autores dos livros ou manuais didáticos ou aqueles que emprestam o nome como responsáveis por publicação dirigida aos estudantes; (2) especialistas da disciplina ou matéria; (3) os professores (não cientistas) e (4) a opinião pública em geral, que infl uencia de algum modo o processo de transformação do saber. Os cientistas e intelectuais, mesmo não pertencendo a tal esfera de poder também podem infl uenciar as decisões relativas ao saber que irá ser processado e transformado, o que ocorre quando se tornam professores ou quando publicam manuais didáticos (ALVES FILHO, J. P. et al., 2005 apud MARTINS, 2020, p. 124). É importante apontar que esse patamar de saber não gera um saber científi co, mas sim um novo saber, que, como mencionado anteriormente, possui Este saber se apresenta ao público em publicações próprias, com uma linguagem específi ca da área. O processo de transformação, aqui, envolve muito mais pessoas do que o primeiro. 37 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 seus interesses, regras, especifi cidades e linguagem específi ca. Buscando estabelecer uma sequência de conteúdos, com seus termos, de forma racional e pode corroborar com uma má compreensão da construção do processo científi co. Entretanto, esses dois primeiros saberes ainda se esforçam para manter o diálogo com a realidade, em que alguns experimentos, conceitos e defi nições se preservam. Por fi m, o saber ensinado, que é o saber que chega à sala de aula, é apoiado no material didático (currículo estabelecido, ou livro didático, entre outros materiais). Diferente daquele disposto à outra etapa educacional, o docente apropria-se de um processo de simplifi cação que busca adequar a linguagem e recursos matemáticos mínimos para manter o corpo estrutural do saber. Então, em última instância, o docente é o responsável por essa última modifi cação. Segundo Martins (2020, p. 125): A esfera do Saber Ensinado é instável e passível a muitas infl uências. São muitos os personagens envolvidos, estudantes e seus respectivos familiares, diretores ou responsáveis pelas instituições de ensino, o contexto social em que a escola está inserida, etc., e em níveis diferentes de grausde interesse exercem imposições sobre a aula a ser planejada e ministrada pelo professor sobre um período de tempo também variável. É neste ambiente de interferências externas que o professor é conduzido a realizar uma nova transposição didática. O novo saber, o Saber Ensinado, oriundo desse processo, refl ete as angústias, as aspirações e os interesses, tanto do professor quanto dos outros personagens, como por exemplo, a equipe administrativa da escola e os estudantes. Assim, revelando certa volatilidade em virtude da adequação aos meios que são solicitados. Ao se afastar da lógica interna da ciência, o docente deve reconhecer que há o surgimento de uma nova área de conhecimento: o Ensino de Física. Para além disso, de modo geral, o docente tende a se afastar, em virtude das exigências de sua profi ssão, dos aspectos históricos, sociais, econômicos etc., que envolviam a construção do conhecimento de modo abrangente e consistente. Portanto, grande parte do conhecimento escolar já existe em outros contextos, sendo apenas reproduzido na escola e, por isso, sempre passa por mudanças consideráveis. Segundo Chevallard (2013, p. 13): A legitimidade de qualquer instituição de ensino deriva em parte de sua promessa de representar fi elmente o conhecimento que pretende ensinar. Neste sentido, a instituição de ensino deve agir em nome da sociedade. Mas a própria sociedade não funciona como uma única peça. Em quase todos os casos, pelo menos alguns segmentos da sociedade irão defi nir e O saber ensinado, que é o saber que chega à sala de aula. 38 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA proclamar visões sobre o conhecimento a ser ensinado. Essas visões, muitas vezes, estarão em desacordo – simplesmente pela forma como o conhecimento em questão é utilizado, ou mais geralmente, pela forma como as pessoas se relacionam com ele, a qual se difere de um segmento para o outro, ou seja, de uma prática social para a outra. No cumprimento da sua missão, o sistema de ensino é, portanto, obrigado a entrar em acordo com pontos de vista divergentes. E vai fazê-lo através da imposição sobre a sociedade de uma versão comum e autorizada do conhecimento a ser ensinado. Essas considerações são relevantes no momento de estabelecer conexões ou abrir espaços de diálogo entre os saberes e/ou o aprofundamento de compreensões, que por um lado são mais limitadas e, por outro, são mais complexas. De modo geral, a Transposição Didática leva a um processo de despersonalização, descontextualização e desincretização. Segundo Ricardo (2020, p. 5-+) a desincretização consiste: [...] na delimitação de campos de saberes, o que resulta na especialização e nas divisões em disciplinas escolares, em capítulos e seções. Ao mesmo tempo em que é uma exigência da organização escolar, pode criar a falsa ideia de que é a única sequência possível de apresentação dos conteúdos a ensinar. Um exemplo ilustrativo dessa delimitação e separação de campos de saberes é o conceito de energia e sua conservação, tratado na mecânica e na termodinâmica, muitas vezes entendido pelos alunos como sendo coisas diferentes. Outro exemplo ocorre na disciplina de química do ensino médio: no primeiro e no segundo ano, muitos conteúdos são oriundos de pesquisas em física (modelos atômicos, ligações químicas, transformações gasosas etc.). Em geral, justifi cado pela necessidade de que determinado saber chega à sala de aula. Dentre tantos aspectos que devem ser levados em consideração na estruturação de determinado saber, no processo de transposição deve haver Criatividade didática, que consiste na apresentação de temas da ciência que não fazem parte direta do campo da pesquisa. Essa característica é relativamente comum no Ensino de Física, por exemplo, nos estudos da associação de resistores e suas diversas práticas que, a priori, distanciam-se de como o conhecimento foi estabelecido ao longo dos anos, mas em geral, é operacionalizável e avaliável. 39 DIDÁTICA NO ENSINO DE FÍSICA Capítulo 1 Para fi nalizar este subtópico, apresentaremos um exemplo de um conteúdo de Física, a saber: Quantidade de Movimento. Quantidade de movimento é o conceito que relaciona velocidade e massa de um objeto, principalmente contextualizados em colisões e as consequências das velocidades dos objetos após a colisão. Nesse sentido, é necessário compreender o conceito de velocidade e massa. O momento (momentum) tem talvez como marco histórico Descartes e Newton, no entanto, antes deles já haviam discussões quanto ao conceito, porém, numa visão mais voltada à velocidade e à “aceleração”. Historicamente, o conceito de quantidade de movimento (momentum) talvez esteja referenciado no século XVII, com Descartes, Kepler, Galileu, Leibniz e Newton, em que por um lado, havia o questionamento em relação ao movimento de objetos e suas colisões, e por outro lado, a matemática começa a ser considerada com a “linguagem do mundo”. Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 –1716) e René Descartes (1596 – 1650), que após observações de corpos, tanto em colisões como em queda livre, perceberam que estes “possuíam” uma força, que seria nomeada, por Leibniz, de Vis Viva (mv2) ou Quantidade de Movimento (mv), por René Descartes. Depois de muitos embates para melhor descrever o movimento de um corpo e suas colisões, considerando as possíveis comparações com a força newtoniana, em que uma se origina no interior de um corpo e a outra se origina na vizinhança, Descartes, nessa discussão, parece ter contemplado melhor as descrições do movimento. Entretanto, analisando como este conteúdo específi co chega em sala de aula, podemos observar que, em um âmbito histórico de discussão da compreensão de movimento para Descartes e Leibniz, pouco (ou nada) está presente. Muitas vezes, se dá a Newton o mérito do conceito de quantidade de movimento, pois relações entre a variação da quantidade de movimento e a força (especifi camente o impulso), podem ser feitas. Desse modo particular, a quantidade de movimento gera uma forte operacionalização (Chevallard) em estudos práticos de colisão e os tipos de colisão. E, neste sentido, o saber a ser ensinado não possui diferenças expressivas 40 DiDáTiCA E AVALiAÇÃo NA APrENDiZAGEm Em FÍSiCA em relação ao saber sábio, que foi “produzido”. E em relação aos efeitos escolares e cultural (Fourquin) parecem infl uenciar, mas apenas em apresentar situações de aplicabilidade da quantidade de movimento que possam estar mais próximas do estudante. Ou seja, neste conteúdo, a Transposição Didática do saber sábio ao saber a ser ensinado – expressado, por exemplo, em livros didáticos – passa por alterações que tangenciam mais a sua historicidade, mas como conteúdo e maneira de ver e aplicar a quantidade de movimento (matematicamente), pouca diferença podemos observar. E, portanto, a maneira como está presente na escola, passa por uma “seleção cultural escolar”, mas que modifi ca apenas as exemplifi cações e aplicabilidade, porém, no geral, pouco se modifi ca em relação à matematização e reconhecimento da utilização da quantidade de movimento. Quando analisamos a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), observamos que há um avanço nesse sentido, buscando contemplar competências que desenvolvam a prática investigativa e, consequentemente, aspectos que sobrevoam a matematização, com análises experimentais e práticas das mais diversas possibilidades de atividades. Dentre as competências para o Ensino Médio, a saber: Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis (BRASIL, 2018). Em que revela a preocupação com um ensino que seja coerente também com as práticas investigativas do modo de fazer e dialogar na ciência. 4 DIMENSÕES DA DIDÁTICA
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