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ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA WWW.SIMPLESEAD.COM.BR ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA WWW.SIMPLESEAD.COM.BR SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 DEFINIÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 5 2.1 DIFERENÇA ENTRE UBS E UPA 8 SITUAÇÕES QUE MOTIVAM À PROCURA DO SERVIÇO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 10 ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 11 CLASSIFICAÇÃO DE RISCO 16 AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 18 ASSISTÊNCIA AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 19 7.1 SIGNIFICADO DAS LETRAS ABCDE 19 7.1.1 (X) – Exsanguinação 19 7.2 CHOQUE E SUAS CONSEQUENCIAS NO ORGANOSMO 21 7.3 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 22 7.4 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) 23 7.5 TRAUMA CRANIO ENCEFALICO (TCE) 24 O TRABALHO DA ENFERMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 27 CONCLUSÃO 29 AVALIAÇÃO Erro! Indicador não definido. REFERÊNCIAS 30 ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 3 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 01 INTRODUÇÃO Os serviços de emergência / urgência prestam cuidados a milhões de pessoas por ano. As constantes mutações no atendimento são inúmeras e dependem da natureza de cuidados que os mesmos implicam e de muitas outras condições inerentes à condição humana. A utilização do Serviço Hospitalar de Urgência (SHU) no Brasil tem sido motivo de inquietação para gestores dos sistemas de saúde, profissionais e a sociedade em geral, pois o seu uso tem se tornado crescente. A maioria desses serviços funciona acima de sua capacidade instalada, com profissionais sem capacitação, gerenciamento inefetivo, ausência de planejamento, excesso de demanda e demanda inadequada (O’DWYER; OLIVEIRA; SETA, 2009). De acordo com Garlet et al. (2009), ressaltam-se ainda o crescente aumento do atendimento no SHU relacionado ao aumento dos acidentes e da violência urbana, às questões socioeconômicas, à falta de leitos para internação na rede pública, ao aumento da longevidade da população, assim como à falta de agilidade e de resolutividade dos serviços de saúde (VALENTIM; SANTOS, 2009). A crise no SHU é agravada, também, pela procura por pessoas em situação de urgência, juntamente com aquelas em condições de saúde não graves, dificultando o estabelecimento de prioridades (MARQUES; LIMA, 2008). As principais situações que envolve as urgências e emergências são as situações de traumas, se configurando estatisticamente como a principal causa de morte em pessoas entra 1 a 44 anos de idade, sendo responsável por mais de 70% das mortes entre as idades de 18 e 24 anos, e mais de 40% entre as idades de 1 a 14 anos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os acidentes de trânsito são um enorme problema de saúde pública, ocasionando essas situações de traumas, e levando a 1,24 milhão de óbitos por ano em todo o mundo. Sendo assim, é importante ajustar os serviços de urgência e emergência, com equipe multidisciplinar e tecnologias, associado a estratégias de gestão para intervir nessa situação exposta. Para Bellucci Júnior e Matsuda (2012), quando se pensa em qualidade nos serviços hospitalares, surge a necessidade de discutir formas de gestão que deem suporte às instituições para que possam atender às necessidades e exigências do usuário em todas as suas dimensões. Nesse contexto é que o governo federal propõe a reorganização e a normatização do atendimento no SHU em todo território nacional, por meio da Política Nacional de Atenção às Urgências e da Política Nacional de Humanização, contemplando estratégias para o Acolhimento com Classificação de Risco (BRASIL, 2009). Essas políticas visam ampliar o acesso, reduzir as filas e o tempo de espera para o atendimento, diminuir o risco de mortes evitáveis, a extinção das triagens por profissional não qualificado e a priorização de acordo com critérios clínicos em vez da ordem de chegada (BRASIL, 2009). Configura-se como ação potencialmente decisiva na reorganização dos serviços de saúde em rede por propiciar assistência resolutiva e humanizada àqueles em situações de risco (SOUZA ET AL., 2011). No Brasil, o Ministério da Saúde propõe a implantação de um sistema com denominação de Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR) em vez de triagem, por pressupor que o verbo triar exprime exclusão (DURO; LIMA, 2010). ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 4 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR A identificação da demanda de acesso dos usuários aos serviços de saúde é fundamental no gerenciamento da capacidade de utilização dos recursos disponíveis, assim como a superlotação nos serviços de emergência com problemas de saúde não urgentes tem atraído atenção mundial e motivado vários estudos nesta área (VAN UDEN et al., 2005). Assim, ainda na década de 1960, nos Estados Unidos da América, iniciou-se a implantação de sistemas de triagens em serviços de atendimento às urgências. Paralelamente, no Canadá foi desenvolvido um sistema que somente em 1995 tornou-se realidade. Na Austrália, uma escala de classificação das urgências foi adotada em 2000, porém foi no Reino Unido que, em 1997, iniciou-se a triagem de Manchester, reconhecida internacionalmente e mais utilizada nos dias atuais, pois apresenta os critérios de gravidade, do tempo alvo de atendimento e de reavaliação do paciente. A partir de 2001, na Espanha, também foi introduzido um sistema classificatório de urgências hospitalares (DURO; LIMA, 2010). As ações de acolhimento podem ser realizadas por qualquer profissional de saúde, desde que capacitado. Entretanto, cabe ao enfermeiro reunir as condições necessárias, as quais incluem linguagem clínica orientada para os sinais e sintomas, para a realização das escalas de avaliação e classificação de risco do usuário de acordo com o grau de urgência de seu agravo, com base em um sistema predefinido: emergência, urgência, menor urgência e baixa complexidade (BRASIL, 2009). ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 5 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 02 DEFINIÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA A definição de urgência, segundo a Resolução 1451/95 do Conselho Federal de Medicina, é "a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata", e emergência como "a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato" (CONSELHO, 2014). A área de Urgência e Emergência, segundo o Ministério da Saúde (2002), constitui-se em um importante componente da assistência à saúde, assim, é necessário definir esses termos utilizados cotidianamente. As definições são as mais diversas possíveis de vários autores, todavia todas concluem os mesmos significados. URGÊNCIA EMERGÊNCIA Dicionário Aurélio Do latim urgentia, que significa qualidade de urgente; caso ou situação de emergência, de urgência. Do latim emergentia, que significa ação de emergir; situação crítica, incidente; caso de urgência. Ministério da Saúde Quando há ocorrência imprevista de agravo à saúde, com ou sem risco potencial de morte, cujo portador necessite de assistência imediata. Constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de morte ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato.Fonte: Dicionário Aurélio (2010) e Ministério da Saúde (2010). De acordo com Ferreira (1988) Urgência e Emergência se configuram da seguinte maneira: ‘urgência’ faz referência a ‘urgente’ e ‘urgir’ que significa urgência. (do lat. urgentia) = Qualidade de urgente; Caso ou situação de emergência, de urgência; Urgência urgentíssima. Ao passo que ‘emergência’ é vista por essa ótica como sinônimo, se configurando com emergência (do lat. emergentia) = Ação de emergir; Nascimento (do Sol); Situação crítica; acontecimento perigoso ou fortuito; incidente; caso de urgência, de emergência: emergências médicas; emergências cardíacas. A literatura biomédica já traz um esclarecimento maior sobre essa discussão, a definição de urgência, segundo a Resolução 1451/95 do Conselho Federal de Medicina, é "a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou se risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata", e emergência como "a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato" (CONSELHO, 2014). Os termos urgência e emergência geram muitas dúvidas no meio da saúde, por esta razão passou-se a utilizar somente o termo “urgência”, para os casos que necessitem de cuidados imediatos. Classificam-se os vários graus de urgência da seguinte forma: nível 1, emergência ou urgência de prioridade absoluta, casos em que há risco imediato de morte ou perda funcional grave; nível 2, urgência de prioridade moderada, casos de ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 6 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR necessidade de atendimento médico não imediato, porém dentro de poucas horas; nível 3, urgência de prioridade baixa, com necessidade de avaliação médica, podendo aguardar várias horas; nível 4, urgência de prioridade mínima, situações em que o médico pode fornecer orientações por telefone (MORISHITA; SILVA; SOUZA, 2009). A Portaria Nº 354, de 10 de Março de 2014, que relata sobre boas práticas para organização e funcionamento de serviços de urgência e emergência, traz como significado: Emergência: constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem sofrimento intenso ou risco iminente de morte, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Urgência: Ocorrência imprevista de agravo à saúde como ou sem risco potencial a vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Assim, entende-se por emergência entidades patológicas que acarretam risco de morte imediato ou debilitação relevante e devem ser tratadas em poucos minutos, enquanto que as urgências são aquelas que necessitam de tratamento em um tempo menor que 12 horas. Os serviços de urgência e emergência são caracterizados pelo atendimento a pacientes em situações agudas com risco de morte e/ou sofrimento intenso, porém a maioria dos usuários que procuram estes serviços poderiam ter seus problemas resolvidos na atenção primária “Unidade Básica de Saúde” – UBS (LOPES JB, 2011). O atendimento de urgência/emergência, na maior parte dos hospitais públicos do Brasil, é ineficaz, resultando num atendimento de pouca qualidade, demora na espera e acumulo de pacientes nos corredores das unidades de pronto atendimento. Esses fatos são concedidos pelas insuficiências do andamento da atenção básica e refletem na grande demanda das unidades de pronto atendimento (OLIVEIRA, 2013). ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 7 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR O Enfermeiro destaca-se pelas suas características generalistas, que lhe permitem na realização de triagem no setor de emergência assumir a responsabilidade pela avaliação inicial do paciente, iniciar a obtenção do diagnóstico, encaminhar paciente para a área clínica adequada, supervisionar o fluxo de atendimento, ter autonomia e dirigir os demais membros da equipe. Sendo ainda prioritário um conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões que habilitam o profissional a um atendimento humanizado (CORENDF, 2010). Urgência e emergência são termos usados na área da medicina, que muitas vezes são confundidos por usuários e também pelos profissionais de saúde. Urgência é uma situação que requer assistência rápida, no menor tempo possível que não ultrapasse a duas horas, a fim de evitar complicações e sofrimento emergência é toda situação em que há ameaça eminente à vida, sofrimento intenso ou risco de lesão permanente, havendo necessidade de atendimento imediato (OLIVEIRA GN et al., 2011). Os serviços de emergência hospitalares no Brasil são um fenômeno mundial caracterizado por todos os leitos da unidade de emergência ocupados, pacientes acamados nos corredores, tempo de espera para o atendimento acime de uma hora, alta tensão na equipe assistencial, grandes pressões na demanda do atendimento o que pode resultar em baixo desempenho do sistema de saúde (BITTENCOURT; HORTALE, 2009). O atendimento de urgência e emergência é essencial para manutenção da vida. Por tanto se torna necessário a capacitação das equipes de saúde em todos os âmbitos da assistência, a partir de um enfoque estratégico promocional, abarcando toda a gestão e atenção extra hospitalar fixa e móvel, hospitalar e pós-hospitalar, envolvendo profissionais de nível superior e de nível técnico, em comum acordo com as diretrizes do SUS e alicerçada nos polos de educação onde deve estar estruturado o atendimento de urgência e emergência normatizado pelas leis vigentes do Ministério da SAÚDE (SOUSA; DIAS; OLIVEIRA, 2011). Nos últimos anos tem se estudado amplamente os Serviços de Urgência e Emergência o mundo, devido ao aumento exagerado na utilização deste serviço pelos usuários. Conforme Marques et.al. (2007): A falta de definições políticas, a baixa resolutividade e a qualidade oferecida nos serviços, aliada à dificuldade de mudança nos hábitos culturais e crenças da população tem levado o usuário a buscar a assistência médica onde exista a porta aberta. Algumas situações podem ser identificadas na maioria das unidades públicas de urgência do Brasil, interferindo consideravelmente o processo de trabalho e a qualidade do cuidado prestado à população, pois os serviços hospitalares de atendimento ficam abertos 24 horas e assim, apresentam situações que vão desde aquelas de sua estrita responsabilidade, até atendimentos com um volume considerável de ocorrências não urgentes que poderiam ser atendidos em estruturas de menor complexidade (GARLET et. al., 2009). Um estudo realizado por Furtado et. al. (2004), em um hospital geral de Pernambuco, constatou que 74,5% dos atendimentos poderiam ser realizados na atenção básica, por não se caracterizar como urgências, pois eram queixas típicas. Com esta demanda os casos graves e agudos acabam prejudicados, acarretando no acúmulo de tarefas e ainda no aumento de custos de atendimento e a sobrecarga da equipe dos profissionais de saúde. E ainda existem situações extremas que dificultam a capacidade de resolutividade dos serviços, com o encaminhamento dos pacientes para outros hospitais, tornando as salas de observação, que deveriam ser de permanência temporária dos pacientes, em alas de internação, sem as devidas condições de estrutura e equipe para cuidados contínuos, expondo os pacientes a riscos (GIGLIO-JACQUEMOT 2005). Com base neste contexto, os usuários utilizam os serviços hospitalares de urgência e emergência por entenderem que esta alternativa é mais resolutiva, pois recebem um ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 8 WWW.SIMPLESEAD.COM.BRsomatório e recursos, como: consultas, remédios, exames, procedimentos de enfermagem e internações (MARQUES et. al. 2007). Os serviços de atendimento as urgências e emergências seguem instituídos pela Política Nacional de Atenção as Urgências (PNAU), tendo como finalidade atender usuários em estado grave, como também casos não urgentes que deverão após ser encaminhados aos serviços ambulatoriais ou especializados da rede de atenção à saúde. O Ministério de Saúde (2002) define: Pronto atendimento: Unidade prestadora de atendimento dentro do horário de funcionamento do estabelecimento de saúde. Unidade de Atendimento de Emergência: Unidade prestadora de atendimento 24 horas por dia, realizando o primeiro atendimento, e, após, encaminhados para os centros de especialidades. Pronto Socorro: Deverá prestar atendimento 24 horas do dia e dispõe apenas de leitos de observação. A rede de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) é estruturada de forma que cada tipo de atendimento tem um destino certo. A rede é dividida em atenção básica – UBS e equipes de Saúde da Família; nível intermediário feito pelo Serviço de Atendimento Móvel as Urgência (Samu) e UPAs; e o atendimento de média e alta complexidade é feito nos hospitais. As UBS são locais onde os usuários do SUS podem receber atendimento médico para diagnóstico e tratamento de cerca de 80% dos problemas de saúde dos usuários. É nessas unidades que a população tem acesso a medicamentos gratuitos e vacinas, faz atendimento pré-natal, acompanhamento de hipertensos e diabéticos e de outras doenças como tuberculose e hanseníase. As UBS são a porta de entrada do SUS, e contribuem para o aumento da qualidade de vida e para a redução dos encaminhamentos aos hospitais. Já as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana e podem resolver grande parte das urgências e emergências, como pressão e febre alta, fraturas, cortes, infarto e derrame. A estrutura simplificada, com Raio-X, eletrocardiografia, pediatria, laboratório de exames e leitos de observação, colabora para a diminuição das filas nos prontos-socorros. Quando o paciente chega às unidades, os médicos prestam socorro, controlam o problema e detalham o diagnóstico. Nas localidades em que estão em pleno atendimento, as unidades têm capacidade para atender sem necessidade de encaminhamento ao pronto-socorro hospitalar mais de 90% dos pacientes. 2.1 DIFERENÇA ENTRE UBS E UPA ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 9 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Segundo o Ministério da Saúde, os serviços de urgência e emergência têm como objetivo diminuir a morbi-mortalidade e as sequelas incapacitantes. Para tanto, é preciso garantir os elementos necessários para um sistema de atenção de emergência, considerando recursos humanos, infraestrutura, equipamentos e materiais, de modo a assegurar uma assistência integral, com qualidade adequada e contínua (BRASIL, 2009). NASCIMENTO et al(2011), complementa informando que a grande procura por atendimento nos serviços de urgência hospitalar tem inúmeras causas que podem estar associadas ao aumento de acidentes e da violência urbana, as questões socioeconômicas, a falta de leitos para internação na rede pública, o aumento da longevidade da população. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 10 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 03 SITUAÇÕES QUE MOTIVAM À PROCURA DO SERVIÇO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA No Brasil as Unidades de Urgência e Emergência, contrariando o que para elas havia sido planejado tornaram-se, principalmente a partir da última década do século passado, as principais portas de entrada no sistema de atenção à saúde, eleitas pela população como o melhor local para a obtenção de diagnóstico e tratamento dos problemas de saúde, independentemente do nível de urgência e da gravidade destas ocorrências (GALLO, MELLO, 2009). Assim um grande número de pacientes prefere abrir mão do atendimento oferecido nos postos de saúde, apesar de sua maior acessibilidade, para se dirigir às Unidades de Urgências e Emergências que oferecem, em geral, atendimento de 24 horas, maior oferta de clínicas especializadas, exames de maior complexidade e, caso necessário, a possibilidade de internação (PAIVA et al., 2010). Segundo Giglio-Jacquemot (2005), as percepções de profissionais e usuários do Sistema de Saúde sobre urgências são distintas. Para os profissionais, situações de urgências são aquelas em que há o risco de vida a partir de definições biomédicas. Em contrapartida, os usuários julgam como urgências problemas que atrapalham gravemente sua vida cotidiana. A mesma autora cita que os Serviços de Urgência e Emergência, quando observados, podem ser um panorama do funcionamento do Sistema de Saúde da região onde estão inseridos. A irritação frequente de usuários pode ser resultado de obstáculos na utilização da rede de serviços, tais como a dificuldade no acesso e/ou pouca resolutividade nos Serviços da Rede Básica. A procura frequente por parte de alguns usuários pode estar relacionado à condição crônica de saúde. E essa condição necessita de um gerenciamento contínuo por anos, exigindo esforço do Sistema de Saúde, pois requer ações tanto de caráter continuado quanto de pronto atendimento, no qual o uso de Serviços de Emergência se torna imprescindível (MATTOS, 2008). No entanto, as exacerbações e agudizações de condições crônicas, poderiam ser evitadas com um bom manejo e assistência da Rede Básica (SCHULL, 2005), retomando a hipótese de que os Serviços de Urgência estão atendendo pacientes com problemas que seriam resolvidos na Atenção Primária. De acordo com Dallari et al(2009), a atenção em urgência, o crescimento do número de acidentes, a violência urbana e a insuficiente estruturação da rede de serviços de saúde são fatores que têm contribuído decisivamente para a sobrecarga dos serviços hospitalares. O conhecimento desta realidade em nosso meio é de importância fundamental, no sentido de evidenciar a necessidade de reestruturação do atual sistema de saúde, na perspectiva de consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). A Portaria GM 2048/2012 alerta para uma preocupante realidade, na necessidade de escoar a demanda não absorvida pela atenção básica, com um crescente número de Pronto Atendimento (PA), com atendimento médico, mas sem estrutura e apoio de diagnósticos, sem elucidação diagnóstica, sem equipamento, sem estrutura e fora da rede de assistência, colaborando para um atendimento de baixa qualidade sem resolutividade, oportunizando um retorno para estas unidades de saúde. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 11 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 04 ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Superlotação, demora no atendimento e custos cada vez mais altos são apenas algumas das consequências causadas pelo uso inadequado do serviço dos prontos atendimentos. A área de urgência e emergência sempre foi considerada uma área crítica na implementação do SUS, tendo em vista que a falta ou mesmo a desorganização da atenção nesta área provoca crises envolvendo gestores, prestadores de serviços e os usuários, estes os mais prejudicados. (SILVA, 2011). De acordo com Marques (2010) e Pasarín (2006), a utilização do Serviço de Urgência e Emergência se inicia pela percepção que o usuário tem quanto aos Sinais e Sintomas que são valorizados por eles, como perda ou comprometimento da saúde. A partir disso, as pessoas utilizam mecanismos simbólicos que os levam à decisãodo que poderá ser feito para investigar o problema ou para recuperar a normalidade perdida. De um modo geral, a utilização é descrita pela soma dos fatores relacionados à necessidade de saúde, ao usuário, ao prestador de serviços, à organização e a política. A necessidade de saúde diz respeito à morbidade, gravidade e urgência da doença de quem procura o Serviço. A escolha quanto ao serviço que deverá ser procurado, é, também, fortemente influenciada pela busca por profissionais competentes para o atendimento e pela confiança na experiência e capacidade dos membros da equipe de saúde. A satisfação do usuário com o serviço é determinante para a sua reutilização. No entanto, conforme descrito por Batistela et. al. (2008), o conhecimento da população sobre a qualidade da assistência, pode ser confundida pela crença de que em hospitais serão mais bem atendidos do que em outros Serviços de Saúde. Essa crença é voltada para o modelo assistencial biomédico, em que os hospitais são a peça central do sistema de saúde e a rede básica é considerada desqualificada. Atualmente em nosso país, o acesso aos serviços de saúde é articulado e complementado pelo Acolhimento, que foi implantado em 2003 pela Política Nacional de Humanização (PNH), que trata de uma proposta de reorganização da lógica e funcionamento dos serviços de saúde, em que o serviço garante o acesso assumindo a função de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas aos usuários. E dentre as propostas de acolhimento, está a avaliação e classificação de risco para os Serviços de Urgência e Emergência (BRASIL, 2004). Porém, esse modelo de atendimento, requer uma melhora em nossa Atenção Básica de Saúde, pois prepara o usuário que não tem necessidade de estar utilizando os serviços de Pronto Atendimento, para que procure a rede básica de saúde. Mas, de nada vai adiantar se o usuário procurar esse serviço primário e este não funcionar de acordo com a sua necessidade, que com certeza da próxima vez procurará o Pronto Atendimento, pois a seu ver “resolve o seu problema”. Considerando a importância da área de Urgência e Emergência enquanto componente da assistência à saúde, o crescimento da demanda por serviços nesta área e a insuficiente estruturação da rede assistencial o Ministério da Saúde em parceria com as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, em novembro de 2002, editou a Portaria 2048/GM que dispõe sobre o regulamento técnico dos sistemas estaduais de urgências e emergências, estabelecendo normas e critérios de funcionamento para o atendimento pré-hospitalar, atendimento pré-hospitalar móvel, atendimento hospitalar, transporte inter-hospitalar, prevê a criação de Núcleos de Educação em Urgências e a ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 12 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR proposição de grades curriculares para capacitação de recursos humanos nesta área (BRASIL, 2006). A Política Nacional de Atenção às Urgências foi instituída pela Portaria 1863/GM, de setembro de 2003, para garantir a organização dos sistemas regionalizados, a universalidade, equidade e integralidade no atendimento às urgências clínicas, cirúrgicas, gineco obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e as relacionadas às causas externas (BRASIL, 2006). A necessidade de reordenar os fluxos de referência e contra referência de pacientes no SUS, de integrar os serviços de urgência hospitalar aos demais níveis de atenção, seja por meio da regulação médica das urgências ou de outras centrais do complexo regulador da atenção no SUS, justificou em setembro de 2004, a publicação da Portaria 1828/GM, que estabeleceu as atribuições gerais e específicas das Centrais de Regulação Médica de Urgências e o respectivo dimensionamento técnico para estruturação e operacionalização destas centrais (BRASIL, 2006). Não é possível organizar hospitais terciários de urgência e emergência sem retirar deles o grande número de pessoas portadoras de urgências menores. Por outro lado, para que as pessoas com situações de urgências que requerem menor densidade tecnológica possam ser atendidas na atenção primária à saúde, faz-se necessário implantar um modelo de atenção adequado às demandas das condições crônicas para que assim possa atender às urgências menores e, no médio e longo prazos, diminuir a demanda às unidades de urgência e emergência maiores (MENDES, 2009). De acordo com o Ministério da Saúde, os principais problemas da assistência às urgências e emergências no Brasil são: estrutura física e tecnológica inadequada, insuficiência de equipamentos, recursos humanos limitados e com capacitação insuficiente para trabalhar em emergências, baixa cobertura do atendimento pré-hospitalar móvel, número insuficiente de unidades de pronto atendimento não-hospitalares e que têm baixa resolutividade, insuficiente retaguarda para transferência de doentes, entre outros (BRASIL, 2005). A assistência às urgências e emergências há muitas décadas é um dilema para o sistema público de saúde. Considerando as mudanças do perfil demográfico e de morbimortalidade ocorridas no país nos últimos anos, tendo como um dos principais destaques o aumento dos casos de acidentes e violência, podemos afirmar que hoje os serviços de UE exercem um papel muito relevante dentro da assistência à saúde no Brasil. O aumento desse tipo de demanda assistencial começou a pautar fortemente o Sistema Único de Saúde e cada vez mais tornou-se latente a necessidade de se pensar políticas que possibilitassem a organização, qualificação e consolidação da atenção às urgências e emergências. Embora continuasse a priorizar a Estratégia da Saúde da Família enquanto proposta de reorientação do modelo assistencial, o Ministério da Saúde, a partir da década de 2000, começa a se dedicar a organizar a atenção às urgências e emergências no país (MACHADO; BAPTISTA; NOGUEIRA, 2011). Segundo Machado et al. 2001 o processo de construção da política federal de atenção às urgências pode ser dividido em três momentos. Um primeiro período envolveu as primeiras iniciativas de regulamentação, localizado entre 1998 e 2002. No período seguinte, entre 2003 e 2008, identifica-se a formulação e implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências, com priorização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e, por fim, desde 2008 temos como foco a continuidade do SAMU e a implantação das Unidades de Pronto Atendimento. Essas iniciativas visaram organizar e direcionar a atenção às urgências e emergências no país e, apesar das dificuldades, alcançaram alguns avanços no que tange à definição de conceitos, organização do sistema em rede, incorporação de novas tecnologias e financiamento dos serviços. Através delas ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 13 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR foi possível reorganizar os serviços e a assistência de forma a envolver todos os níveis de atenção à saúde, desde a atenção básica até os hospitais de grande porte, definindo assim a competência de cada um dos serviços pertencentes à rede assistencial do SUS, não ficando mais restrito somente às unidades de pronto socorro e hospitalares. Além disso, foi instituído que as unidades de UE também funcionassem como uma das portas de entrada do SUS, com possibilidade de reordenamento do fluxo de referência e contrarreferência e de integrá-las através da regulação médica (ODWYER, 2009). A Política Nacional de Atenção às Urgências está estruturada em: componente Pré- Hospitalar Fixo, componente Pré-Hospitalar Móvel, componente Hospitalar e componente pós-hospitalar (BRASIL, 2003). O componente Pré-Hospitalar Fixo é composto por unidades básicas de saúdee unidades de saúde da família, equipes de agentes comunitários de saúde, ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapias, e unidades não-hospitalares de atendimento às urgências, como as UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento), por exemplo. O componente Pré-Hospitalar Móvel é composto pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgências) e os serviços associados de salvamento e resgate. O componente Hospitalar são os hospitais gerais de pequeno, médio e grande porte, bem como todos os leitos de internação, passando pelos leitos gerais e especializados de retaguarda, de longa permanência e os de terapia semi-intensiva e intensiva, mesmo que esses leitos estejam situados em unidades hospitalares que atuem sem porta aberta às urgências. O componente Pós-Hospitalar é composto pela atenção domiciliar, hospitais- dia e projetos de reabilitação integral com componente de reabilitação de base comunitária. A atual Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU) tem como principais focos o SAMU e as UPA’s. O SAMU é um componente fundamental dentro da PNAU, pois tem como objetivo chegar precocemente à vítima de um agravo à saúde (de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica e entre outras) e possa prestar os primeiros atendimentos o mais rápido possível. O SAMU tem unidades de suporte básico de vida (equipe composta por técnicas de enfermagem) e unidades de suporte avançado de vida (equipe composta por médico e enfermeira), sendo ambas coordenadas por uma central de regulação. O atendimento deste serviço pode ser tanto primário, quando o pedido de socorro for oriundo de um cidadão, quanto secundário, quando a solicitação parte de um serviço de saúde no qual o paciente já tenha recebido o primeiro atendimento (BRASIL, 2011). No início da implantação da PNAU esse componente foi eleito como prioridade. Isso foi justificado pelo Ministério da Saúde devido aos índices de morbimortalidade relativa ao trauma e a violência no país e também pela insuficiência na oferta de serviços de atendimento pré-hospitalar móvel22. Com a consolidação do SAMU o próximo passo foi a implantação/adequação das UPA’s e Salas de Estabilização (BRASIL, 2008). O projeto das UPA’s 24h integra a Política Nacional de Urgência e Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde em 2003, e baseou-se em experiências de cidades como Campinas (SP), Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG). Mesmo sendo criado em 2003, a denominação UPA 24 h só começa a se tornar usual a partir de 2008 e, quando há um maior esforço por parte do Governo Federal em normatizar esse tipo de serviço de saúde. Nos anos subsequentes foram publicadas mais sete portarias sobre o tema estabelecendo uma nova prioridade para o Governo Federal, que disponibilizou recursos financeiros para sua implementação (BRASIL, 2011). A implantação da UPA é feita de acordo com a população da região a ser coberta, o que irá condicionar a capacidade instalada (área física, número de leitos disponíveis, recursos ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 14 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR humanos e capacidade diária de atendimentos médicos). A partir desses critérios, as UPA’s são classificadas em três diferentes portes (BRASIL, 2009). UPA Porte I: tem de 5 a 8 leitos de observação. No mínimo 2 médicos por plantão (um pediatra e um clínico geral). Capacidade de atender até 150 pacientes por dia. População na área de abrangência de 50 mil a 100 mil habitantes. UPA Porte II: 9 a 12 leitos de observação. No mínimo 4 médicos por plantão (distribuídos entre pediatras e clínicos gerais). Capacidade de atender até 300 pacientes por dia. População na área de abrangência de 100 mil a 200 mil habitantes. UPA Porte III: 13 a 20 leitos de observação. No mínimo 6 médicos por plantão (distribuídos entre pediatras e clínicos gerais). Capacidade de atender até 450 pacientes por dia. População na área de abrangência de 200 mil a 300 mil habitantes. As UPA’s são unidades não-hospitalares de atendimento às urgências. Elas podem ser compreendidas como estabelecimentos de saúde de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde/Saúde da Família e a Rede Hospitalar. As principais competências das UPA’s são (BRASIL, 2011): Funcionar de modo ininterrupto nas 24 horas, em todos os dias da semana, incluídos feriados e pontos facultativos; Acolher todos os pacientes e seus familiares sempre que buscarem atendimento; Implantar processo de Acolhimento com Classificação de Risco, em ambiente específico; Prestar atendimento resolutivo e qualificado aos pacientes acometidos por quadros agudos ou agudizados de natureza clínica, e prestar primeiro atendimento aos casos de natureza cirúrgica e de trauma, estabilizando os pacientes e realizando a investigação diagnóstica inicial, de modo a definir, em todos os casos, a necessidade ou não de encaminhamento a serviços hospitalares de maior complexidade; Fornecer retaguarda às urgências atendidas pela Rede de Atenção Básica; Funcionar como local de estabilização de pacientes atendidos pelo SAMU 192; Realizar consulta médica em regime de pronto atendimento aos casos de menor gravidade; Manter pacientes em observação, por período de até 24 horas, para elucidação diagnóstica e/ou estabilização clínica; Encaminhar para internação em serviços hospitalares os pacientes que não tiverem suas queixas resolvidas nas 24 horas de observação, por meio das centrais reguladoras; Essas competências atribuídas às UPA’s demonstram o seu caráter assistencial, sobretudo sua natureza de pronto atendimento, ao definir o acolhimento de todos os pacientes que buscarem atendimento, mesmo os casos de menor gravidade. Desse modo, temos uma lógica de trabalho mais permeável às demandas consideradas não urgentes, operando assim como um contraponto às expectativas dos profissionais que esperam atender somente casos urgentes na unidade (KONDER, 2013). A atuação das UPA’s em rede se expressa na obrigatoriedade dessas unidades se articularem com outros componentes da rede, sendo retaguarda para SAMU e atenção básica e recorrendo aos hospitais e centrais de regulação, através da pactuação de grades de referência e contrarreferência. Essa articulação entre os níveis de atenção é fundamental, pois como se sabe, não cabe a essas unidades, considerando tanto seus objetivos, quanto sua estrutura física, permanecer com pacientes por mais de 24 horas (BRASIL, 2011). Também destacamos entre as competências atribuídas as UPA’s a implantação do acolhimento com Classificação de Risco. Em consideração a Política Nacional de Humanização (PNH), editada em 2004, essa estratégia deve fazer parte do funcionamento de todas as UPA’s. O acolhimento com classificação de risco baseia-se em um processo dinâmico que visa identificar os usuários que necessitam de tratamento imediato de acordo com o potencial ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 15 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento, proporcionando atenção centrada na complexidade da demanda e não na ordem de chegada. Para tanto, preconiza a agilidade no atendimento com base em uma análise sob a ótica de protocolos clínicos pré- estabelecidos e do grau da necessidade de acesso ao serviço de saúde do usuário (BRASIL, 2004). A terminologia Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco foi proposta em substituição ao termo triagem, empregado no Brasil, historicamente, com o objetivo de classificar as necessidades de cuidados dos usuários visando à exclusão, ou seja, decidir quem será ou não atendido. Essa nova nomenclatura remete à ideia de estratificação dos pacientes entreaqueles que necessitam ser atendidos primeiro, aqueles que podem aguardar, e até mesmo os que podem ser encaminhado a outros serviços, sendo necessário realizar efetivamente o encaminhamento, de modo a garantir o atendimento ao usuário (SANTOS, 2010). Quando falamos de acolhimento não estamos falando de um espaço ou de um local, mas de uma postura ética, que não pressupõe hora ou profissional específico. Todos os profissionais de saúde devem fazer o acolhimento, tomando para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” as demandas dos outros com a resolutividade necessária para cada caso em questão. Todavia, nas “portas de entrada”, os serviços de saúde podem demandar a necessidade de um grupo de profissionais de saúde preparado para promover o primeiro contato com o usuário, identificando sua demanda, orientando-o quanto aos fluxos internos do serviço e quanto ao funcionamento da rede de saúde local. Esse processo denominado classificação de risco é uma ferramenta que ajuda a organizar a fila de espera e propor outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada. Além disso, tem outros objetivos importantes como, por exemplo, garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado e informar o paciente que não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo provável de espera (BRASIL, 2009). Geralmente, os serviços de saúde dispõem de uma técnica de enfermagem já na porta de entrada para realizar um primeiro contato com o usuário, que a depender da unidade pode consistir em atividades variáveis, como uma orientação, uma avaliação de sinais vitais, entre outras. Após isso, esses usuários são identificados e passam pela classificação de risco, executada por enfermeiras, sendo que algumas unidades funcionam com uma enfermeira e outras com duas (KONDER, 2013). A classificação de risco ocorre de acordo com um protocolo elaborado pelo Ministério da Saúde, oriundo da modificação de um protocolo internacionalmente conhecido, denominado Manchester. Esse protocolo é composto de quatro estratos de gravidade, identificados por cores: azul, verde, amarelo e vermelho, representando gravidade progressivamente maior (KONDER, 2013). Considerando a lógica do acolhimento com classificação de risco, o próprio espaço físico das unidades deve ser pensado tendo como base a diversidade e os níveis de complexidade da assistência prestada nos serviços de UE. A construção do acolhimento com classificação de risco significou um avanço no sentido de humanizar a assistência e priorizar os casos mais graves. Também serviu para normatizar e orientar as unidades em relação às adequações necessárias dos espaços físicos quanto ao atendimento das demandas assistenciais das urgências e emergências. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 16 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 05 CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Diante das peculiaridades da população que busca assistência e, também, dos problemas vivenciados nas UPAs, a priorização dos atendimentos, de acordo com a ordem de chegada, não é efetiva, tornando-se premente estabelecer critérios clínicos de classificação e avaliação dos usuários a serem atendidos. Destarte, no ano de 2004, o Ministério da Saúde estabeleceu a Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS), a qual, dentre as suas diretrizes, propõe a reestruturação dos Serviços de Urgência/Emergência, com a implantação do Acolhimento com Classificação e Avaliação de Risco (ACCR). A classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e propor outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada, tem também como objetivo garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado; informar o paciente que não corre risco imediato, sobre o tempo provável de espera; promover o trabalho em equipe; dar melhores condições de trabalho para os profissionais; aumentar a satisfação dos usuários e principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas de atendimento (BRASIL, 2010). O protocolo de Manchester como guia orientador na gestão do atendimento favorece um fluxo adequado no processo de trabalho, na organização e uso do espaço e clareza no atendimento. Este protocolo é composto por dois extremos e áreas que evidenciam os níveis de risco dos pacientes. Sendo um denominado vermelho que identifica o paciente grave com risco de morte e o outro denominado azul que identifica o paciente aparentemente não grave, mas que necessita ou procura o atendimento de urgência (BRASIL, 2010). Cada uma destas áreas possui atuações diferente, de acordo com a clínica do paciente e os processos de trabalho que nele se estabelecem, sendo que essa identificação também define a composição espacial por dois acessos diferentes (BRASIL, 2010). A área vermelha está relacionada a clínica do paciente grave com risco de morte e é composta pelo o seguinte agrupamento: vermelha, laranja, amarela e verde de acordo com a gravidade, sendo a vermelha a mais grave e necessita de intervenção imediata e a verde a menos grave, mas não necessariamente sem importância. E a área azul que representa os pacientes não graves, mas que necessitam de acolhimento e classificação do grau de risco para facilitar o fluxo de atendimento (BRASIL, 2010). O Sistema de Triagem por Prioridades foi implantado na cidade de Manchester na Inglaterra em 1997. Esse método consiste em promover um atendimento de acordo com o critério clinico definindo qual o tempo recomendado para o atendimento médico. O protocolo de Manchester norteia uma triagem baseada nos sintomas do doente e o classifica por cores, que representa o grau de gravidade e o tempo de espera recomendado para o atendimento (MADEIRA; LOUREIRO; NORA, 2010). O acolhimento com classificação de risco pelo sistema de triagem é apresentado na figura 1 encontramos o sistema de cores cuja classificação corresponde à priorização no atendimento ao paciente, lembrando que para cada uma delas será delimitado o tempo de espera no atendimento (COREN-SP, 2012, 2012). O protocolo de Manchester só pode ser realizado por enfermeiros ou médicos e tem como finalidade garantir critérios uniformes com as diferentes equipes, acabar com a triagem sem fundamentação científica, garantir a segurança do paciente e profissional de saúde, ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 17 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR aumentar o nível de prioridades dos pacientes, oferecer maior segurança e neutralidade nos processos de classificação feita pelo enfermeiro (LOPES, 2011). É importante ressaltar que para utilização de protocolos de avaliação com classificação de risco enfermeiros e médicos devem ser certificados por meio de capacitação proporcionada pelo Grupo Brasileiro de Classificação de Risco (GONÇALVES, 2011). Figura 1. Classificação de Risco – Protocolo de Manchester Assim o acolhimento com avaliação e classificação de risco pode resultar em um processo dinâmico de identificação das condições dos usuários que necessitam de tratamento imediato, de acordo com o seu potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento; o profissional de saúde deverá ser capacitado para ouvir as queixas, medos e expectativas do usuário, humanizando o atendimento e oferecendo resolutividade para o problema apresentado. A triagem de Manchester também prevê a re-triagem do doente quando o seu estado clínico se agrava durante o tempo de espera para o atendimento médico devendo nestas situações ser re-triado para prioridade superior à anterior. Contudo, a re-triagem também poderá ser efetuada quando um doente refere melhoria da dor após analgesia, implementada segundoprotocolo na triagem, mas ainda aguarda pela observação clínica. Neste caso específico visto existir melhoria da dor o mesmo poderá ser re-triado para prioridade inferior à atribuída anteriormente. A escala de Manchester prevê uma prática fiável, uniforme e objectiva ao longo do tempo sendo passível de ser auditada quer interna ou externamente. Todos os termos encontram- se definidos de uma forma precisa a fim de garantir a uniformidade do entendimento e aplicação dos conceitos. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 18 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 06 AVALIAÇÃO DAS SITUAÇÕES QUE ENVOLVEM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Os sinais vitais (SSVV) são os principais indicadores do estado de saúde e da garantia das funções circulatórias, respiratória, neural e endócrina do corpo. Podem servir como mecanismos de comunicação universal sobre o estado do paciente e da gravidade da doença. Esses parâmetros, medidos de forma seriada, contribuem para que o profissional identifique a gravidade da situação, avalie as intervenções implementadas e tome decisões sobre a resposta do paciente à terapêutica e classifique a necessidade de assistência desse paciente. As medições estão ancoradas na verificação da temperatura, do pulso, da pressão arterial, da frequência respiratória, seguida da avaliação da dor, se configurando como o 5º sinal vital. TEMPERATURA: A temperatura reflete o balanceamento entre o calor produzido e o calor perdido pelo corpo. RESPIRAÇÃO: A finalidade é a troca gasosa entre o sangue e o ar dos pulmões. A avaliação da respiração como sinal vital inclui: a frequência (movimentos respiratórios por minuto), caráter (superficial e profunda) e ritmo (regular e irregular). Método de verificação: ver, ouvir e sentir. PULSO: O pulso é causado pela pressão do sangue contra a parede arterial em cada batimento cardíaco. O pulso é tomado onde uma artéria possa ser comprimida contra um osso. Verifica-se a: Frequência, ritmo e volume. PRESSÃO ARTERIAL: é a força exercida sobre a parede de uma artéria pelo sangue pulsante sob a pressão do coração. O pico máximo da pressão no momento em que a ejeção ocorre é a pressão sistólica. Quando os ventrículos relaxam, o sangue que permanece nas artérias exerce uma pressão mínima ou pressão diastólica, ela é a pressão mínima exercida contra as paredes arteriais. A pressão arterial reflete as inter-relações do débito cardíaco, resistência vascular periférica, volume do sangue, viscosidade do sangue e elasticidade da artéria. A unidade padrão para medir a pressão arterial é dada em milímetros de mercúrio (mmHg). ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 19 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 07 ASSISTÊNCIA AS SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Todos esses fatores que compõe os sinais vitais são considerados essências e base na assistências as urgências e emergências. Contudo algumas analises ainda são fundamentais para determinar a criticidade do paciente. Em pacientes traumáticos o atendimento deve ser de imediato, realizado por meio de uma sequência denominada A, B, C, D, E do trauma, onde o controle da cervical faz-se de grande importância nessa assistência, prevenindo possíveis agravamentos e lesões de coluna cervical, contudo, também seguindo um padrão de prioridades vitais na avalição do ser humano. Esse famoso mnemônico do trauma "abcde" guia o socorrista que padroniza o atendimento inicial ao paciente politraumatizado e define prioridades na abordagem ao trauma, no sentido de agilizar o atendimento. Ou seja, é uma forma rápida e fácil de memorizar todos os passos que devem ser seguidos com o paciente em politrauma. Ele foi pensado para identificar lesões potencialmente fatais ao indivíduo, e é aplicável a todos as vítimas com quadro crítico, independentemente da idade. O protocolo tem como principal objetivo reduzir índices de mortalidade e morbidade em vítimas de qualquer tipo de trauma. Antes de iniciar a abordagem ABCDE, é relevante ressaltar que a última atualização do PHTLS, na sua na 9ª edição trouxe uma nova letrinha para esse mnemônico do trauma. O "x' de hemorragia exsanguinante ou seja hemorragia externa grave. Ainda não publicado oficialmente e não traduzido, mas já fica aqui registrado essa alteração, a qual vai dá ênfase às grandes hemorragias externas, antes mesmo do controle cervical ou da abertura das vias aéreas. 7.1 SIGNIFICADO DAS LETRAS ABCDE 7.1.1 (X) – Exsanguinação Contenção de hemorragia externa grave, a abordagem a esta, deve ser antes mesmo do manejo das vias aérea uma vez que, epidemiologicamente, apesar da obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, o que mais mata no trauma são as hemorragias graves. Vias aéreas e proteção da coluna vertebral No A, deve-se realizar a avaliação das vias aéreas. No atendimento pré-hospitalar, 66- 85% das mortes evitáveis ocorrem por obstrução de vias aéreas. Para manutenção das vias aéreas utiliza-se das técnicas “jaw thrust”: anteriorização da mandíbula. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 20 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Fig. Manobra de chin Lift Fig. Manobra de Jaw Thrust A manobra de “chin Lift” também é uma técnica muito utilizada para a abertura de vias aéreas, contudo nos pacientes vítimas de trauma é contra indicada por hiperextender o pescoço, e gerar maior dano na cervical. No A também, realiza-se a proteção da coluna cervical. Em vítimas conscientes, a equipe de socorro deve se aproximar da vítima pela frente, para evitar que mova a cabeça para os lados durante o olhar, podendo causar lesões medulares. A imobilização deve ser de toda a coluna, não se limitando a coluna cervical. Para isso, uma prancha rígida deve ser utilizada. Considere uma lesão da coluna cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos. Boa Ventilação e Respiração No B, o socorrista deve analisar se a respiração está adequada. A frequência respiratória, inspeção dos movimentos torácicos, cianose, desvio de traqueia e observação da musculatura acessória são parâmetros analisados nessa fase. Para tal, é necessário expor o tórax do paciente, realizar inspeção, palpação, ausculta e percussão. Verificar se a respiração é eficaz e se o paciente está bem oxigenado. Circulação com Controle de Hemorragias No C, a circulação e a pesquisa por hemorragia são os principais parâmetros de análise. A maioria das hemorragias é estancada pela compressão direta do foco. A Hemorragia é a principal causa de morte no trauma. Essa parte refere-se a hemorragias internas, onde deve-se investigar perdas de volume sanguíneo não visível, analisando os principais pontos de hemorragia interna no trauma (pelve, abdomem e membros inferiores), avaliando sinais clínicos de hemorragia como tempo de enchimento capilar lentificado, pele fria e pegajosa e comprometimento do nível e qualidade de consciência. Disfunção Neurológica No D, a análise do nível de consciência, tamanho e reatividade das pupilas, presença de hérnia cerebral, sinais de lateralização e o nível de lesão medular são medidas realizadas. Nessa fase, o objetivo principal é minimizar as chances de lesão secundária pela manutenção da perfusão adequada do tecido cerebral. Importante aplicar a escala de goma de Glasgow atualizada. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 21 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Fig. Escala de Coma de Glasgow Exposição Total doPaciente No E, a análise da extensão das lesões e o controle do ambiente com prevenção da hipotermia são as principais medidas realizadas. O socorrista deve analisar sinais de trauma, sangramento, manchas na pele etc. A parte do corpo que não está exposta pode esconder a lesão mais grave que acomete o paciente. 7.2 CHOQUE E SUAS CONSEQUENCIAS NO ORGANOSMO Nas situações de intensa gravidade do paciente politraumatizado, apesar da execução de todas as manobras para minimizar os danos gerados pelo trauma, é imprescindível ficar atento a situações que podem ocorrer, as quais exigem condutas emergências para salvaguardar a vida. Nesse atendimento é essencial a identificação de risco iminente de morte, causado, principalmente por fatores externos e imediatos, mas quando exercidas as devidas atitudes pode não só evitar graves danos a vida como também evitar fatalidades. Um fator muito constante encontrado em muitas emergências é a presença do choque. Sendo este uma manifestação clínica de profunda desorganização celular, que por sua vez pode ser causado por inúmeros fatores subjacentes que acarreta um distúrbio funcional e se não tratado de imediato pode acarretar a morte. O choque também pode ser definido como uma síndrome que gera anormalidades no sistema circulatório, resultando em inadequada perfusão orgânica e oxigenação tecidual. Outras definições abordam também a síndrome do choque como uma sequência de eventos iniciada por um fator agressor, seguida de respostas endócrino-metabólicas e falência na manutenção dos mecanismos de homeostasia, com decréscimo da perfusão tecidual. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 22 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Esta síndrome atinge todos os sistemas corporais, podendo desenvolver-se de forma acelerada ou muito lenta, dependendo da causa subjacente. Durante o processo de choque, o organismo esforça-se para sobreviver, exigindo que todos os mecanismos homeostáticos restaurem o fluxo sanguíneo e a perfusão tecidual. A problemática do choque está na hipoperfusão dos tecidos vitais. Após a diminuição da perfusão, o oxigênio (O²) torna-se insuficiente para o metabolismo aeróbio, as células mudam para o metabolismo anaeróbio com aumento do dióxido de carbono (CO²) e acúmulo de ácido lático. Com a diminuição da função celular e persistência do choque, podem ocorrer danos irreversíveis e morte celular. A isquemia em qualquer região do organismo irá disparar uma resposta inflamatória que terá um impacto sobre órgãos não- isquêmicos, mesmo após ter sido restaurada a adequada perfusão sistêmica. Comumente a causa do choque é mal definida num primeiro momento. O diagnóstico do choque é eminentemente clinico, sendo assim, a história clinica deve ser evidenciada para que seja direcionada à procura da etiologia, fornecendo assim subsídios para a terapêutica mais adequada e eficaz dessa síndrome clínica. As manifestações clínicas resultam, por um lado, da resposta neuroendócrina à hipoperfusão, e, por outro, da disfunção orgânica induzida pela lesão celular. Deste modo, o choque caracteriza-se clinicamente pela combinação de hipotensão (PAM<60 mmHg), podendo a pressão arterial estar normal ou mesmo aumentada na fase inicial do choque, taquicardia, taquipneia, hipersudorese e sinais de hipoperfusão periférica caracterizando- se por palidez, cianose, extremidades frias e húmidas, oligúria, acidose metabólica, alterações sensoriais e do estado de consciência. Quando o choque é persistente ou muito grave, o transporte inadequado de O² causa lesão irreversível; assim a rápida restauração do transporte de O² pode reverter a progressão do estado de choque. Por isso, a abordagem terapêutica fundamental é reconhecer o choque e intervir de forma emergencial para restaurar a perfusão, o que frequentemente requer a expansão ou reexpansão do volume sanguíneo intravascular. Simultaneamente, deve ocorrer o controle de qualquer processo patológico que desencadeou essa ação. Atualmente a compreensão da fisiopatologia do choque em que a falência circulatória promove resposta sistêmica compensatória que gera metabolismo anaeróbio, aumento do consumo de oxigênio, liberação de substâncias de efeito deletério para o organismo e risco de colapso de múltiplos órgãos e sistemas, tem sido primordial para o fornecimento da assistência adequada e manejo destes pacientes, usando de intervenções rápidas para reverter essa situação de tanto risco ao organismo. Então, se houver um diagnóstico precoce acompanhada a uma boa assistência, onde haja os subsídios necessários para cessar o mecanismo que gera toda essa disfunção orgânica, estabilizando-se hemodinamicamente e combatendo o fator que gera esse estresse celular, seja ele uma bactéria, como acontece no choque séptico ou perda de líquido por hemorragia, como no hipovolêmico, é totalmente viável a recuperação do indivíduo. 7.3 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA Uma das principais consequências do choque é a parada cardiorrespiratória (PCR), sendo assim, está também se configura como uma relevante emergência. O Sistema Cardiovascular é responsável por fornecer e manter o fluxo sanguíneo adequado aos diversos tecidos do organismo. E o coração se configura como protagonista desse sistema, ficando apoiado sobre o diafragma, perto da linha média da cavidade torácica, no mediastino, entre os pulmões, sendo a força motriz para que a circulação ocorra e leve nutrientes para toda a parte do corpo. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 23 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR Na ocorrência de um distúrbio nesse sistema ocorre essa parada cardíaca, se configurando como ausência de bombeamento cardíaco para garantir a circulação sanguínea do indivíduo e de respiração adequada para promover a oxigenação. Tendo como característica a irresponsividade, ausência de respiração e de pulso. Assim, faz-se uso da corrente da sobrevivência, isto é, reconhecimento imediato da PCR e acionamento do serviço especializado de emergência, ressuscitação cardiopulmonar (RCP) precoce com ênfase nas compressões torácicas, rápida desfibrilação, suporte avançado de vida eficaz e cuidados pós PCR integrados. O objetivo da RCP é dar suporte ou restabelecer a circulação e a boa oxigenação e ventilação até que se possa restabelecer a circulação espontânea ou iniciar as intervenções de suporte avançado. A Ressuscitação Cardiorrespiratória se dá: Avaliar responsividade e presença de respiração Na vítima irresponsiva com respiração ausente, lenta ou agônica: Suspeitar de PCR Solicitar DEA Verificar a presença de pulso central Se pulso central ausente, caracteriza-se a PCR. Iniciar 30 compressões torácicas. Abrir vias aéreas e realizar 2 ventilações Manter 30:2 por 2 minutos. Reavaliar responsividade, respiração e pulso. Se ausentes, reiniciar 30:2 por 2 minutos OBS: Em crianças usa-se somente uma das mãos na massagem cardíaca, mantendo-se 15:2 por 2 minutos, se houver dois socorristas. 7.4 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) São sinais súbitos e rapidamente evolutivos de déficit neurológico focal ou global com duração maior que 24 horas ou levando à morte, sem outra causa aparente que não a de origem vascular. Se caracteriza uma situação de urgência e emergência, sendo um grave problema de saúde pública. É de imensa relevância por estar entre as principais causas de morte no país, a maior em idosos. Daqueles que conseguem sair da emergência 8% dos permanecem inválidos. O AVC pode ser causado por uma trombose aterosclerótica, um ataque isquêmico transitório, embolias cerebrais, arterites, tromboflebite cerebral, distúrbios hematológicos, traumas, hipotensão associada a estenosearterial, enxaqueca com déficit persistente além de causas indeterminadas. O AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico, o primeiro se caracteriza pela obstrução de um vaso no cérebro, impossibilitando a passagem de sangue para a região subsequente. No hemorrágico há um rompimento do vaso, gerando uma grave hemorragia no cérebro. Os sinais de alerta para a suspeita de AVC incluem quaisquer déficits neurológicos de início súbito, especialmente os localizados, destacando a fraqueza muscular súbita ou alteração sensitiva súbita unilaterais; dificuldade repentina para falar ou compreender; perda visual súbita, especialmente se unilateral; perda súbita do equilíbrio ou incoordenação motora repentina, rebaixamento súbito do nível de consciência e cefaleia súbita. Sendo assim, no AVC isquêmico vai ocorrer diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, diminuição da oferta de oxigênio, de glicose e do pH intracelular, podendo haver edema cerebral. A apresentação clássica dos AVC hemorrágico é um déficit neurológico focal súbito que progride em minutos ou horas, com rebaixamento do nível de consciência, acompanhado por cefaleia, náusea, vômitos e elevação da pressão arterial. As principais alterações ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 24 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR fisiopatológicas para a gênese do AVCH ocorrem nas pequenas artérias e arteríolas por efeito da hipertensão arterial. No entanto, outras causas podem ser encontradas em AVCs hemorrágicos. Medidas terapêuticas gerais visam favorecer a viabilidade do tecido cerebral, através da adequação e estabilização de certos parâmetros fisiológicos. Como realizar monitoramento multiparamétrico contínuo pelo menos durante as primeiras 24 horas de evolução do AVC; manter o paciente em decúbito elevado a 30 graus; manter a saturação de oxigênio 95% da maneira menos invasiva possível (cateter nasal, máscara, CPAP ou BIPAP); considerar intubação orotraqueal (IOT) para proteção de vias aéreas em pacientes com rebaixamento do nível de consciência ou disfunção bulbar que traga risco de broncoaspiração; manter a temperatura corpórea; corrigir hipotensão e hipovolemia para manter os níveis sistêmicos de perfusão necessários para suportar a função orgânica, utilizando solução salina isotônica e, se necessário, infusão de aminas vasoativas (dopamina 2 – 20 µg/kg/min ou noradrenalina 0,05 – 0,2 µg/kg/min). Evitar o uso das soluções glicosadas conhecidas como soro de manutenção, reduzindo assim o risco de hiperglicemia e distúrbios do sódio. Dessa forma, as melhores evidências clínicas disponíveis no momento demonstram que o atendimento adequado, rápido e bem estruturado aos pacientes com AVC reduz a mortalidade e a morbidade dos mesmos. 7.5 TRAUMA CRANIO ENCEFALICO (TCE) O TCE é uma das causas mais frequentes de morbidade e mortalidade em todo o mundo, com impacto importante na qualidade de vida. Embora ocorra em questão de segundos, seus efeitos perduram por longos períodos sobre a pessoa, seus familiares e a sociedade. Esse trauma se configura como qualquer lesão decorrente de um trauma externo, que tenha como consequência alterações anatômicas do crânio, como fratura ou laceração do couro cabeludo, bem como o comprometimento funcional das meninges, encéfalo ou seus vasos, resultando em alterações cerebrais, momentâneas ou permanentes, de natureza cognitiva ou funcional. Múltiplos são os fatores que determinam as lesões causadas pelo TCE. Há mecanismos que começam a agir tão logo o TCE ocorre, bem como outros que vão se estender por dias, semanas ou meses após o evento. Há ainda fatores sistêmicos que podem agravar o quadro neurológico, levando a um pior prognóstico. Assim, pode-se dividir as lesões cerebrais em primárias e secundárias. As lesões primárias são aquelas que ocorrem como resultado imediato e direto do trauma. Exemplo: em um ferimento por arma branca que penetra o crânio, a lesão primária é aquela que vem em decorrência do trauma direto ao parênquima cerebral. As lesões secundárias são aquelas que se iniciam após o momento da agressão. Podem decorrer da interação de fatores intra e extracerebrais, levando à morte de células que não foram afetadas no momento exato do acidente, mas que sofrem consequências posteriores. O atendimento aos pacientes vítimas de TCE grave deve ter enfoque na prevenção das lesões secundárias, uma vez que as lesões primárias, causadas pelo choque mecânico direto, não sofrem influência da terapêutica. As lesões secundárias, entretanto, podem ser prevenidas, se o atendimento for conduzido corretamente, proporcionando oxigenação adequada, equilíbrio hemodinâmico e tratamento da hipertensão intracraniana, permitindo perfusão cerebral adequada. O cuidado deve ser contínuo, pois a desestabilização de quaisquer destes parâmetros pode causar ou aumentar, em qualquer momento, a lesão secundária. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 25 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR A prevenção do agravamento da lesão cerebral inicial requer atendimento imediato e a rápida estabilização cardiopulmonar. A parada respiratória transitória e a hipóxia são comuns e podem causar lesão cerebral secundária. A intubação endotraqueal precoce, portanto, deve ser feita em doentes comatosos. A hipotensão arterial sistêmica precisa ser evitada, uma vez que pode causar redução no fluxo sanguíneo cerebral. De maneira geral, ela não representa consequência isolada da lesão cerebral, desde que a hemorragia intracraniana não determine choque hemorrágico. A reposição volêmica deve ser feita enquanto se tenta determinar a causa da hipotensão. O exame neurológico necessita ser feito de forma rápida e objetiva, após a estabilização do estado cardiopulmonar do doente. É fundamental a avaliação do valor da Escala de Coma de Glasgow e a resposta pupilar ao estímulo luminoso. Exames neurológicos seriados devem ser realizados para detectar piora neurológica, logo que possível. Para a classificação de gravidade do TCE utiliza-se a Escala de Coma de Glasgow – ECG. Esta é uma escala mundialmente aceita, já que constitui um método fácil para avaliar não só a gravidade do TCE, mas também da deterioração do quadro neurológico à medida que se deve repetir a aplicação da escala ao longo do atendimento clínico. Permite, portanto, a construção de um parâmetro mensurável sobre a evolução do quadro clínico do paciente. Além disso, esta escala uniformiza o atendimento, dando aos profissionais uma maneira simples e rápida de comunicação ao citar a “nota” dada ao paciente após cada avaliação. Fig. Escala de Coma de Glasgow Seguindo esta escala, o TCE pode ser classificado como leve (13 a 15 pontos), moderado (9 a12 pontos) ou grave (3 a 8 pontos). Pela gradação obtida com a aplicação da Escala de Glasgow, pode-se ter uma indicação dos cuidados assistenciais requeridos pela pessoa com TCE. Assim, sabe-se, por exemplo, que todo o paciente com ECG < 8 deve ser intubado para proteção de vias aéreas e manutenção da ventilação. Os demais cuidados ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 26 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR preconizados serão descritos mais detalhadamente no item de cuidados à pessoa com TCE. Após a avaliação inicial do paciente, podem ser acrescentados dados referentes à manutenção ou não da consciência e da memória, assim como a duração destes sintomas. Isso permite um refinamento da classificação e, consequentemente, do atendimento ao TCE, com a utilização ainda da ECG com algumas modificações baseadas na sintomatologia apresentada. O suporte hemodinâmico se configurapela implementação de estratégias para a manutenção da pressão arterial sistêmica, baseado na forte associação entre hipotensão arterial sistêmica e prognóstico ruim. As soluções salinas intravenosas precisam ser administradas, conforme a necessidade. Recomenda-se o uso de solução NaCl 0,9% ou de Ringer lactato. Não devem ser usadas soluções hipotônicas. As aminas vasoativas podem ser utilizadas no choque associado. Deve ser realizada a tomografia computadorizada de crânio-encéfalo (TCC) de urgência, como forma de confirmação do diagnóstica, tão logo seja possível, após a normalização hemodinâmica. Deve ser repetida sempre que houver mudança no estado clínico do doente e rotineiramente 12 e 24 horas após o trauma, quando há contusão ou hematoma, identificado a tomografia computadorizada inicial. Algumas medidas são consideradas para neuroproteção, tais como: elevação da cabeceira a 30° (se PAM > 65 mmHg) e posição centrada da cabeça, controle glicêmico – máx. 150 mg%, profilaxia de trombose venosa profunda, profilaxia de úlceras de pressão, profilaxia de hemorragia digestiva alta, balanço hídrico rigoroso, cuidados com cateteres e sondas e fisioterapia respiratória e motora precoces. Outras posturas básicas também devem ser relevantes como a correção de distúrbios ácido-básicos e hidroeletrolíticos, nutrição precoce adequada, monitorização não- invasiva e controle rigoroso da temperatura. Apesar de todos esses cuidados, o TCE pode resultar em algumas incapacidades, podendo ser divididas em três categorias: físicas, cognitivas e emocionais/comportamentais. As físicas são diversificadas, podendo ser motoras, visuais, táteis, entre outras. As cognitivas frequentemente incluem principalmente problemas de atenção, memória, e funções executivas. As incapacidades comportamentais/emocionais são, em geral, a perda de autoconfiança, motivação diminuída, depressão, ansiedade, dificuldade de autocontrole, está representada mais comumente por desinibição, irritabilidade e agressão. Os prejuízos físicos são os mais aparentes, mas, a longo prazo, os problemas com cognição, personalidade e comportamento são mais importantes para a qualidade de vida da pessoa acometida. ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 27 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR 08 O TRABALHO DA ENFERMAGEM EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Durante o ato de classificação de risco o enfermeiro pode avaliar sinais vitais e dosagem de glicemia, realizar exame físico, estabelecendo a gravidade do paciente que procura o serviço de urgência e emergência da instituição (BELLAGUARDA, 2009). O profissional enfermeiro considera-se capacitado para a função, pois em sua formação é enfatizada a valorização das necessidades do paciente, as biológicas, as sociais e psicológicas. Além disso, o enfermeiro está habituado a ser líder, o que o leva a ter uma visão abrangente do setor incluindo recursos humanos, área física e fluxo de pacientes. (GATTI, 2008). Para ser um enfermeiro de triagem devem-se apresentar três habilidades consideradas fundamentais: avaliação, conhecimento e intuição. A intuição se desenvolve com experiência, sensibilidade e o uso da observação. (GATTI, 2008). O enfermeiro é o primeiro contato da equipe multidisciplinar com o paciente, pois ele coleta dados sobre a sintomatologia, medicações em uso e detecta possíveis déficits de conhecimento nesses aspectos, ou ainda relativos à questões de fluxo e especificidade de atendimento do setor. Quando da realização do registro, da entrevista e do exame físico, realizados com ênfase na observação do comportamento, expressão verbal e não verbal de dor, postura e sinais clínicos, determina-se a classificação da prioridade do atendimento. (GATTI, 2008). A enfermagem organiza-se e expressa sua ação no cuidado ou na assistência ao indivíduo em vários ambientes, nas suas condições de saúde. A saúde é definida como um fenômeno multidimensional, com características individuais e coletivas, que envolve, de forma dialética, aspectos físicos, psicológicos e sociais da natureza humana. Todo o contexto, as multiplicidades de fatores que condicionam o bem-estar, o estado de saúde das pessoas, são objetos de preocupação do profissional de enfermagem. O exercício desta profissão tem significado, alcança sua finalidade, ao voltar a atenção ao agir especificamente em favor das pessoas (JORDI et al., 2015). A abundante demanda nas emergências é um problema importante e tem como resultado o estresse dos profissionais, a sobrecarga de trabalho, a insuficiência de recursos humanos, materiais e tecnológicos para satisfazer a demanda, pacientes mal atendidos, enormes filas de espera por atendimento, entre outros problemas. Percebeu-se que um dos mais importantes determinadores da superlotação dessas unidades é a carência da assistência prestada pela rede de atenção primária (OLIVEIRA, SILVA, COSTA, 2012). É fundamental apontar quanto à qualidade da assistência prestada ao paciente pela profissional enfermeira, pois esta, se associa diretamente com a condição de saúde/doença da população já carente de tais serviços. Entretanto, essa profissional precisa de condições de trabalho que beneficiam a melhor execução possível de suas práticas, a diminuição da sobrecarga de trabalho, a realização dos programas de capacitação e reconhecimento profissional. Diversos estudos já foram realizados com a finalidade de apresentar soluções para o problema, mas não se mostraram efetivos. Frente a esses desafios, na tentativa de reduzir as incoerências entres os testes realizados, esse estudo busca agregar conhecimento de como as variáveis podem influenciar nos resultados obtidos (OLIVEIRA, SILVA, COSTA, 2012). Segundo Azevedo et al (2010), nos serviços hospitalares de atenção à urgência e emergência, a atuação do enfermeiro envolve especificidades e articulações indispensáveis à gerência do cuidado a pacientes com necessidades complexas, que ATUALIZAÇÃO EM URGENCIA E EMERGENCIA 28 WWW.SIMPLESEAD.COM.BR requerem aprimoramento científico, manejo tecnológico e humanização extensiva aos familiares pelo impacto inesperado de uma situação que coloca em risco a vida de um ente querido. Esse conjunto de elementos justifica um olhar pormenorizado para a organização desses serviços. De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (2013) cabe ao enfermeiro à direção do serviço de enfermagem em instituições de saúde e de ensino, públicos, privados e a prestação de serviço, as atividades de gestão como planejamento da assistência de enfermagem, consultoria, auditoria, consulta de enfermagem, a prescrição da assistência de enfermagem, os cuidados diretos a pacientes com risco de morte e todos os cuidados de maior complexidade técnica. De acordo com Galvão & Wehbe (apud Fincke, 2011), o papel do enfermeiro na unidade de emergência consiste em obter a história do paciente, fazer exame físico, executar tratamento, aconselhando e ensinando a manutenção da saúde e orientando os enfermos para uma continuidade do tratamento e medidas vitais. O enfermeiro que atua nesta unidade necessita ter conhecimento científico, prático e técnico, a fim de tomar decisões rápidas e concretas, transmitindo segurança a toda equipe e principalmente diminuindo os riscos que ameaçam a vida do paciente. Segundo Galvão & Wehbe (2006) dentre as atividades assistências exercidas pelo enfermeiro no setor de emergência as principais são: Fornecer cuidado ao paciente juntamente com o médico; Preparar e administrar medicamentos; Proporcionar a realização de exames especiais procedendo à coleta; Instalar sondas nasoenterais e vesicais em clientes; Realizar troca de
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