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Tecnologias de informação e comunicação APRESENTAÇÃO As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) transformaram as práticas humanas em diversas setores, como o entretenimento, a educação e a comunicação. Hoje, graças ao advento da internet, dos smartphones e de outros recursos tecnológicos, os processos de consumo, troca de informações e comunicação se tornam cada vez mais interativos, dinâmicos e personalizados. As TICs surgiram a partir da revolução digital e começaram a ser implementadas em diferentes áreas, entre elas a educacional, a empresarial e a do jornalismo. Essas tecnologias digitais são responsáveis por agilizar a produção das fábricas, automatizando algumas das etapas de produção. No jornalismo, ferramentas como bases de dados passaram a automatizar os processos de busca e coleta de informações, enquanto as redes sociais facilitaram a conexão com colaboradores e fontes de informação. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer o contexto de surgimento das TICs e o modo como elas foram sendo apropriadas ao nosso cotidiano. Você também vai compreender as contribuições das mesmas para a prática jornalística atual. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contextualizar o surgimento das TICs.• Identificar os principais usos das TICs.• Identificar o papel das TICs no jornalismo.• DESAFIO A prática jornalística precisou se adaptar ao novo cenário das tecnologias digitais, que 1 impulsiona uma economia e cultura baseadas na interatividade e na flexibilidade dos fluxos de comunicação. Os dispositivos móveis, como smartphones e tablets, são elementos propulsores de um novo ciclo da tecnologia, denominado comunicação móvel. Segundo Scolari et al. (2009), esse novo ciclo é caracterizado pela Onipresença (capacidade de estar presente em qualquer lugar); convergência de funções e linguagens; integração de modelos broadcasting (um-todos), unicasting (um-um) e multicasting (todos-todos); bidirecionalidade (o usuário pode consumir e produzir conteúdo ao mesmo tempo) e conteúdos e serviços planejados de acordo com a localização. O consumo de informações em mobilidade também impulsionou a criação recursos diferentes. A tactilidade, propriedade de uso do tato para manipular telas sensíveis ao toque, é uma característica marcante dos smartphones e tablets atuais. Nos smartphones se pode explorar uma lógica de consumo baseada no áudio e, no tablet, utilizar conteúdos multimídia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A partir destas informações, escreva um resumo do seu projeto de aplicativo. O texto deve conter: a) nome do aplicativo e conceito central; b) tipo de linguagem e formatos usados (áudio, vídeo, etc.); c) tipo de propriedade explorada (tactilidade, por exemplo); d) justificativa de consumo (porque esse produto seria inovador). INFOGRÁFICO A introdução das TICs nas redações jornalísticas trouxe maior agilidade e flexibilidade para o processo de produção de notícias. O computador e as bases de dados funcionam hoje como uma espinha dorsal da redação, pois passam a estruturar todas as atividades de produção da matéria 2 jornalística: pré-produção, produção, disponibilização/circulação, consumo e pós-produção. Confira no Infográfico a seguir o modo como as TICs podem ser usadas nas diferentes fases de produção jornalística. 3 4 CONTEÚDO DO LIVRO As tecnologias têm amplo impacto nas atividades humanas. De maneira geral, elas são criadas pelo ser humano para desempenhar determinadas tarefas. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), por exemplo, são utilizadas para aprimorar as trocas de informação e as práticas comunicativas entre as pessoas. Desde a década de 1980, várias tecnologias, como computadores, Internet, smartphones, bancos de dados, foram apropriadas e passaram a trazer agilidade, flexibilidade e interatividade para as nossas trocas de informação e interações cotidianas. Hoje, as TICs podem ser consideradas como uma ferramenta essencial para o ser humano. No capítulo Tecnologias da Informação e Comunicação da obra Jornalismo Digital e Cibercultura, você irá entender o contexto de surgimento das TICs, seus usos em diferentes setores da sociedade e seu papel no jornalismo. Boa leitura. 5 Tecnologias de informação e comunicação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contextualizar o surgimento das TICs. Identificar os principais usos das TICs. Identificar o papel das TICs no jornalismo. Introdução As tecnologias ganham, cada vez mais, um papel de protagonismo no processo de comunicação, e se transformam em verdadeiros agentes comunicativos. A inserção de tecnologias de informação e comunicação como telefones celulares, computadores, redes sem fio, smartphones e algoritmos provocaram uma revolução em diversos setores da sociedade. Para se inserir no mundo como cidadão e profissional de comunicação, o jornalista precisa conhecer o contexto dessas tecnologias, desde o seu surgimento até sua apropriação por comunidades diversas. Além disso, é interessante que o jornalista tenha noção das potencialidades das novas ferramentas tecnológicas no seu cotidiano de trabalho. Neste capítulo, você vai ver como surgiram as tecnologias de in- formação e comunicação, quais são seus principais usos na sociedade contemporânea e quais papéis elas desempenham no jornalismo. Neste último item, você verá como tais tecnologias transformam a produção e o consumo de informação jornalística. Origem das tecnologias da informação e comunicação Para começar o nosso estudo, vamos conceituar o que entendemos por tecno- logias da informação e comunicação (TICs). Em sentido amplo, chamamos 6 de tecnologia qualquer ferramenta apropriada pelo homem para realizar suas tarefas específi cas. Para McLuhan, a tecnologia é uma extensão do corpo humano, desenvolvida, historicamente, para expandir a sua capacidade de ação. Pensando por essa lógica, os óculos, canetas e papel, e até mesmo smartphones, que utilizamos no nosso dia-a-dia são artefatos tecnológicos que ampliam capacidades humanas como a visão, o tato, a memória e a cognição. O modo como a tecnologia molda a forma como pensamos e nos comuni- camos tem sido explorado por vários pesquisadores da área da comunicação e informação. Uma das referências mais conhecidas são os estudos de Marshall McLuhan (1974), centrados nas tecnologias comunicacionais como agentes de transformação das culturas, das relações sociais e dos comportamentos humanos. Ele é o responsável por elaborar a tese de que os meios comunicativos seriam extensões do homem e provocariam mudanças no seu contexto social. Por isso, para McLuhan (1974), o estudo dos suportes de comunicação — o rádio, a televisão, a Internet — poderia trazer dados interessantes sobre as transformações da nossa sociedade. Segundo a lógica mcluhiana, falar de meios e tecnologias de comunicação significa abordá-los como objetos que constroem uma ambiência em torno de si, em vez de serem meros canais de transmissão de informação. Nesse universo, a constante interação entre artefatos — redes digitais, eletricidade, entre outros — e seres humanos produziria mudanças capazes de afetar as estruturas do nosso pensamento e da nossa sociedade. Chamamos de TICs os recursos tecnológicos oriundos da Era da Informa- ção ou Sociedade em Rede (CASTELLS, 1999; 2003), criadas e difundidas globalmente a partir da década de 1960. Envolvem tecnologias informacionais, que produziram uma Revolução Tecnológica, conectando o mundo através da informação (CASTELLS, 1999). Castells (1999) comenta que a difusão global de tecnologias como o computador e a Internet se deu de forma rápida, em menos de duas décadas, e trouxe modificações substanciais para a cultura e economia global. Lévy (1999) chama as tecnologias surgidas nocenário digital de tecnolo- gias intelectuais, pois são capazes de expandir e até mesmo simular funções cognitivas e mentais humanas. Os computadores e, mais tarde, as nuvens de informação na Internet tornam-se espaços de armazenamento de informação da cultura humana num volume sem precedentes na história. As redes digitais como a Internet também são responsáveis por expandir as formas de comunica- ção e interação humana, tornando-as globais. As TICs também potencializam a produção e o compartilhamento de saberes entre comunidades virtuais. de informação e comunicação Tecnologias 7 Assim, mediante a ação de microatores, que se apropriam de tecnologias digitais, forma-se uma ecologia cognitiva (LÉVY, 1999) de saberes coletivos. À medida que as tecnologias vão evoluindo, os artefatos tecnológicos ganham cada vez mais protagonismo. Hoje, tecnologias assumem papeis importantes no campo da educação, no meio empresarial e nas empresas de comunicação. Aplicativos que ajudam a coletar, armazenar, acumular, mani- pular e compartilhar dados e informações são a base da era da informação. Por isso, conhecer essas possibilidades técnicas torna-se primordial para o profissional do futuro em todos os campos, incluindo o jornalismo. As fases das tecnologias A evolução tecnológica da comunicação se confunde com a própria história das mídias. Por isso, para entender como surgem as TICs e verifi car como elas revolucionam o modo como produzimos, distribuímos e consumimos informação, precisamos analisar a linha temporal da comunicação e de suas tecnologias. Santaella (2007) nos ajuda nessa empreitada. Para ela, as ino- vações tecnológicas são elementos utilizados para incrementar o processo de produção da linguagem humana. Partindo dessa ideia, ela descreve cinco gerações tecnológicas, conforme mostrado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Santaella, 2007. Geração tecnológica Meios técnicos de comunicação Tecnologias do Reprodutível Jornal, cinema, fotografia Tecnologias da Difusão Rádio e televisão Tecnologias do Disponível TV a cabo, videocassetes, Walkman, fotocopiadoras Tecnologias do Acesso TICs Tecnologias da Conexão Contínua Dispositivos móveis (smartphones e tablets) Quadro 1. Gerações tecnológicas A Primeira Geração Tecnológica, de Tecnologias do Reprodutível, remete à era de surgimento e consolidação do jornal, da fotografia e do cinema como tecnologias de comunicação. Apesar de terem naturezas diferentes, esses Tecnologias de informação e comunicação 8 três meios têm em comum a propriedade da reprodutibilidade técnica, ou seja, de serem e possibilitarem a reprodução de imagens e textos. Santaella (2007) localiza a emergência desse tipo de tecnologia no que se convencionou chamar de cultura de massa das grandes cidades industriais. A reprodução mecânica das mensagens fez com que a comunicação pudesse se transformar em produto e acessar públicos mais amplos, ampliando seu poder comunicativo (SANTAELLA, 2007). Em seguida, no final do século XIX, temos o surgimento das Tecnologias de Difusão, consolidadas no rádio e, nos anos 1950, na televisão. Segundo Santaella (2007), essas tecnologias são baseadas em seu poder de distribuir mensagens para um público espacialmente mais abrangente, se comparadas às tecnologias anteriores. Isso foi acentuado ainda mais com a transmissão via satélite. As tecnologias de difusão foram responsáveis por produzir uma evolução no modo como nos relacionamos com o espaço social. Com o telégrafo e o telefone, já havíamos conseguido gerar uma comunicação simultânea entre dois lugares distantes, mediada por uma tecnologia. Com o rádio e a televisão, a comunicação mediada ganha aspecto mais amplo e permite a criação de um espaço midiático próprio. Não é à toa que estudiosos da comunicação se referem ao rádio e à TV como vetores de coesão social de uma sociedade. Como primeiro jornal televisivo transmitido ao vivo em rede nacional, o Jornal Nacional, por exemplo, foi o responsável por fortalecer os laços da identidade nacional. De norte a sul do Brasil, criou-se a cultura de assistir a esse programa, apesar das disparidades regionais, em termos de cultura. A fase posterior, das Tecnologias do Disponível, é enquadrada por Santaella (2007) como uma etapa de predomínio de dispositivos de pequeno porte, como videocassetes e fotocopiadoras, Walkmans e também TV a cabo. Essa fase se inicia na década de 1980, com a proliferação desses dispositivos, que trazem uma maior personalização do consumo de informação pelo indivíduo, em contraposição aos modelos massivos anteriores. Videocassetes que gravam a programação televisiva, por exemplo, visam atender a demandas segmentadas do público e, de certa forma, já preparam o sistema de consumo e produção para a próxima fase. A etapa de Tecnologias do Acesso é caracterizada por Santaella (2007) como sendo o contexto de surgimento do computador e das redes telemáticas. Inicialmente usado para fins militares, o computador ganha potencial princi- palmente a partir da década de 1970, quando passa a ser usado para vários tipos de serviço, abandonando o status de máquina de calcular (BRIGGS; BURKE, de informação e comunicação Tecnologias 9 2006). O desenvolvimento da Internet, em particular, e sua apropriação comer- cial, a partir da década de 1990, vai proporcionar a popularização das TICs. É interessante notar que as TICs estão intrinsecamente ligadas à linguagem digital que surge com a era do computador. O digital, segundo Manovich (2001), traria a principal revolução tecnológica da comunicação contemporâ- nea, que é a unificação dos processos tecnológicos em torno de uma mesma linguagem. Assim, passamos a armazenar, tratar e compartilhar informações a partir do computador, que se conecta a outros mundos pela Internet e pelos seus circuitos digitais. Lemos (2006) ressalta o processo de conexão generalizado de computa- dores como uma das características da cibercultura, que nasce a partir do fenômeno das tecnologias digitais. Num primeiro momento, essa conexão em redes telemáticas transforma o computador individual (PC) em um computa- dor coletivo (CC), acessado por várias pessoas por meio da Internet. Depois disso, ocorre ainda um aprimoramento deste computador, transformado em computador móvel (CC móvel), com o surgimento dos celulares e das redes Wi-Fi. É aí que chegamos na última fase tecnológica que estamos vivenciando: a da tecnologia móvel. A fase das Tecnologias de Conexão Contínua remete à fase de ubiquidade e mobilidade da comunicação, em que as redes de pessoas e de tecnologias se desprendem do aparelho fixo de conexão — modem, PCs e similares — e passam a ser nômades (SANTAELLA, 2007). Nessa fase, os dispositivos móveis (smartphones e tablets) se destacam como agentes comunicativos importantes e potencializam ainda mais o uso de TICs. O acesso a serviços de podcasting, streaming, Internet e redes sociais se faz, hoje, prioritariamente pelo mesmo aparelho (o smartphone) e a partir de qualquer lugar — no trânsito, no banheiro, na academia. O uso das TICs O uso das TICs revolucionou vários setores de produção na nossa sociedade. Podemos categorizar pelo menos três dimensões que progrediram a partir do emprego dessas tecnologias: o setor da comunicação; o setor da informática; o setor de controle e automação. Tecnologias de informação e comunicação 10 O setor da comunicação abrange as telecomunicações e a telemática. As telecomunicações envolvem a transmissão de sinais por sistemas eletromag- néticos, por fio ou fibra ótica. O uso de novas tecnologias permitiu que a reprodução de textos, imagens e sons se desse de forma mais rápida e ampla por esses canais. A telemática, por outro lado, envolve tecnologias como modens, linhas telefônicas e satélites, que permitem uma transmissão dessa informação à distância. Em alguns casos, essas tecnologias são usadas na mediação de processos de comunicação interpessoal. As redesde satélites encurtam distâncias, pois permitem, por exemplo, que um usuário da Internet se comunique via vídeo ao vivo com outro usuário de qualquer região do mundo. Outras tecnologias, como Wi-Fi e smartphones, vão permitir que o consumo de informações se dê em movimento. Na comunicação, o uso das TICs está relacionado a um processo de hori- zontalização e de interatividade crescentes. A digitalização e a comunicação em redes permitiu chegarmos a uma comunicação em que todos os usuários estão aptos a produzir conteúdo para todos — um modelo que Lévy (1999) chama de Todos–Todos. O smartphone personaliza essa dinâmica, reunindo em um único aparelho múltiplas funcionalidades. Ele pode ser usado para a comunicação interpessoal entre dois usuários, para o consumo de informações e de entretenimento ou ainda para a publicação de vídeos e outros conteúdos em redes sociais. As TICs potencializam um tipo de comunicação ágil, interativo e horizontal. As redes telemáticas tornam os fluxos de informação intensos e dinâmicos. A interação mediada pelo computador tornam-se molas propulsoras desse sistema de comunicação. Por outro lado, natureza digital dessas tecnologias abre a possibilidade de uma manipulação maior do seu conteúdo pelo usuário, que pode estabelecer processos comunicativos mais horizontais. Outro setor que tem investido no uso das TICs é o setor da informática. Novas tecnologias têm permitido um processamento, armazenamento e tra- tamento de dados mais eficiente. Bancos de dados remotos ajudam nesse processo, assim como a conexão entre redes, que amplificam a circulação da informação. de informação e comunicação Tecnologias 11 As tecnologias dos setores de informática e comunicação foram popula- rizadas e hoje são utilizadas por uma gama enorme de pessoas de diferentes segmentos sociais. Produtores rurais utilizam aplicativos informáticos e sis- temas automatizados para gerenciar seus sistemas de produção agrícola e smartphones para se comunicar com outras comunidades. Escolas também começam a usar as TICs para aprimorar os seus processos de ensino–apren- dizagem. Ferramentas como blogs, fóruns de discussão na Internet e outras plataformas colaborativas trazem uma dinâmica mais interativa para a sala de aula. Por fim, outro setor que faz uso de TICs são os de controle e automação das empresas. Eles inseriram sistemas de gerenciamento de informações nos seus processos industriais, o que tem produzido formas mais ágeis e dinâmicas de produção e de administração de equipes. A era da inteligência artificial As ferramentas baseadas em inteligência artifi cial (IA) ganham grande destaque na atualidade, principalmente devido à sua fl exibilidade de aplicação em várias áreas. A IA é uma área de estudos das ciências da computação relacionada à robótica, desenvolvida a partir de 1950. Grosso modo, ela se aplica ao uso de máquinas para desenvolver atividades e capacidades humanas, como apren- dizagem, raciocínio e tomada de decisão. Seria possível, então, ensinar uma máquina a pensar e aprender como um ser humano, desenvolvendo processos de decisão embasados em dados. Na prática, a IA automatiza os processos de manipulação de dados computacionais. Isso otimiza processos de produção, delegando boa parte das funções exercidas por pessoas para uma máquina. Muitos setores, como a indústria do entretenimento, a medicina e o jornalismo, têm usado a IA. Máquinas ajudam a identificar padrões em grandes bancos de dados, melhorando serviços de saúde e de entretenimento, por exemplo. Alguns modelos de negócios, como as plataformas Netflix e Spotify, funcionam à base de IA, automatizando a seleção de filmes e músicas a partir do mapeamento do perfil do usuário. Tecnologias de informação e comunicação 12 As TICs no jornalismo As TICs vêm sendo incorporadas paulatinamente à prática do jornalismo nas redações. Suzana Barbosa (2008) nos ajuda a entender o papel que essas tecnologias cumprem no jornalismo com base em seu modelo Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD). A lógica é que, ao contrário de outras fases, a tecnologia digital — e especialmente as bases de dados — estruturam todas as fases da atividade jornalística, desde o seu processo de pré-produção, pas- sando por produção, disponibilização/circulação, consumo até pós-produção. Desde sua inserção nas redações jornalísticas a partir da década de 1980, o computador ganha um protagonismo crescente na execução de práticas jor- nalísticas. Com a digitalização das redações, a máquina passa a centralizar os processos de gestão de informações, ajudando os jornalistas a organizar bancos de dados e redes internas. Num segundo momento — período que Barbosa (2008) chama de JDBD — o computador deixa de ser apenas um acessório na produção jornalística e passa a centralizar todas as tarefas, por meio dos mecanismos de bases de dados. Em seguida, com o advento da Internet, o computador se transforma no modo de conexão da redação jornalística com o mundo externo. Hoje, as bases de dados cumprem a função de agilizar os processos de produção jornalística, facilitando a obtenção de informações para a preparação de pautas, automatizando o modo como as informações são estruturadas dentro das redações e dinamizando a forma de apresentação do conteúdo jornalístico para o seu público (BARBOSA, 2008). Salaverría e García Avilés (2008) chamam esse modelo de gestão de in- formações das redações jornalísticas de convergência digital, o que envolve uma mudança nas três fases distintas de produção jornalística: de captação de informações, de edição/elaboração e de distribuição de conteúdo. Listamos, a seguir, alguns usos de TICs nessas fases específicas da produção no jornalismo. Captação de informações No jornalismo, a etapa de captação de informações se insere no processo de apuração de informações, etapa constitutiva do trabalho jornalístico tradicional. A apuração envolve desde a elaboração da pauta e sondagem de fontes (pré- -produção) até a coleta/checagem de informações relevantes junto a fontes jornalísticas e documentos. No processo de convergência digital, os sistemas de apuração se tornam menos hierarquizados, como comenta Barbosa (2008). Os computadores e, mais tarde, a Internet permitem uma fl exibilização do de informação e comunicação Tecnologias 13 acesso a fontes jornalísticas. As redes sociais, o e-mail e os bancos de dados se inserem na própria forma do jornalista procurar e acessar fontes. O telefone, tradicional amigo do jornalista, passa a ser apenas mais um dentre os vários mecanismos para contatar entrevistados. O uso de fóruns de discussão, blogs e outros recursos da Internet para elaborar pautas jornalísticas também é uma prática de uso de TICs bastante comum no jornalismo. Nas redes sociais, os jornalistas podem participar de grupos de discussão específicos para troca de pautas e indicação de fontes jornalísticas. Essas tecnologias potencializam as formas de trabalho colabo- rativas entre repórteres. A inovação tecnológica também vai aparecer na forma de captar as infor- mações, com o uso de tecnologias digitais para gravação de voz e imagem (gravadores, câmeras de vídeo portáteis, etc.). Aplicativos e outras tecno- logias de transmissão de vídeos e áudios permitem que o jornalista grave essas entrevistas e armazene-as direto no computador ou smartphone. Outra questão a ressaltar quando falamos de captação de informações é o fato do jornalista precisar capturá-las em diferentes formatos — áudio, vídeo, texto —, pois provavelmente ele utilizará esse material bruto para produzir peças informativas para diferentes plataformas com linguagem textual e audiovi- sual. Com o advento do smartphone, o jornalista passa a integrar diferentes tarefas — captação, edição e distribuição — num mesmo aparelho, processo que Salaverría (2003) chama de convergência instrumental. Nas redações jornalísticas atuais, exige-se uma série de habilidades do jornalista, que o transformamem um profissional multimídia. Segundo Salaverría (2003), ele deve: dominar técnicas de gravação e edição digital de vídeo, fotografia e publicação na Web; ser proficiente na elaboração de conteúdos em imagem, áudio e infográficos; ter facilidade para trabalhar em equipe; ser capaz de reagir diante de informações de última hora. Para Machado (2002), a apuração na Internet permite que os jornalistas diversifiquem suas fontes de informação. Na cobertura de eventos institucio- nais, por exemplo, antes de buscar fatos e declarações oficiais, o jornalista pode usar a Internet como uma ferramenta de pesquisa para aprofundar seu Tecnologias de informação e comunicação 14 conhecimento sobre temas específicos. Outra questão levantada pelo pesqui- sador é o fato das mídias sociais ampliarem o leque de potenciais fontes para os jornalistas, estendendo-se para qualquer usuário da rede. A democratização de acesso a dados também se refere a fontes documen- tais. Na Internet, a disponibilização de bases de dados de domínio público de diversos órgãos governamentais permite ao jornalista acessar uma enorme quantidade de dados sem precisar sair da frente do seu computador na reda- ção. Machado (2002) se refere a esse processo como uma transferência das fontes oficiais para as fontes de domínio público. Esse acesso facilitado a dados diminui os custos de produção da reportagem, pois não envolve mais o deslocamento de pessoal para buscar documentos em arquivos físicos. Mesmo pequenas redações com poucos recursos financeiros têm a chance de trabalhar em grandes furos de reportagem mediante o acesso a esses bancos de dados. O uso de TICs no processo de captação de informações acabou dando origem ao Jornalismo Guiado por Dados, especialidade do jornalismo que se utiliza da manipulação de dados para a construção de conteúdo. Essa prática jornalística de uso de dados potencializa a capacidade do repórter de identificar notícias em um grande volume de dados e coloca-se cada vez mais como uma das formas do jornalismo digital produzir reportagens inovadoras. Edição do conteúdo jornalístico O uso de TICs faz com que o processo de edição jornalística também se transforme em uma fase mais dinâmica e fl exível. A inserção do computador nas redações jornalísticas informatizou os sistemas de edição de notícias. Nesse sentido, etapas que eram feitas manualmente ou com pouco auxílio do computador — como o corte de textos ou a edição de fotografi as — passaram a ser centralizadas nessa máquina. Sistemas editoriais modernos e multimídia ajudaram a integrar e descentralizar os processos de produção de notícias. Aplicativos e tecnologias de edição fotográfi ca e de vídeo ampliaram as pos- sibilidades de produção de conteúdo de alta qualidade nas redações. O pesquisador Fernando Firmino Silva (2014) estuda as modificações causadas pela inserção do smartphone e outras TICs nos processos de pro- dução e consumo do jornalismo. Ele cita as seguintes modificações na esfera da produção: edição remota nos dispositivos móveis (celulares); geolocalização contextual da notícia via GPS; uso de aplicativos de edição multimídia; Tecnologias de informação e comunicação 15 acesso ao gerenciador de conteúdo remoto; novas linguagens de narrativa; transmissão ao vivo por streaming. Segundo Silva (2014), a inserção de dispositivos móveis no jornalismo produz rupturas com relação aos instrumentos do jornalismo tradicional, fazendo com que suas práticas se adaptassem a um cenário de produção multiplataforma e em mobilidade. Assim, vemos o surgimento da redação móvel, em que os trabalhos do repórter são feitos de forma remota. Hoje, de fato, os sistemas editoriais multimídia das redações funcionam de forma remota. Repórteres e fotógrafos conseguem abastecer o sistema durante a cobertura da notícia enviando textos, áudios e vídeos pela Internet. Essa forma de atuação só foi possível devido aos avanços tecnológicos, trazendo uma agilidade maior para o processo de produção de notícias. Da mesma forma, editores conseguem revisar o conteúdo remotamente, de qualquer lugar, podendo checar alterações em todas as fases de produção em tempo real pelo smartphone e tablet. Em relação aos aspectos de produção e edição, também vemos que o cenário digital multimídia fornece aos jornalistas as ferramentas para produzir con- teúdos mais dinâmicos e interconectados. Segundo Barbosa (2008), a inserção de bases de dados nos processos de edição e produção jornalística dá origem a produtos com densidade informativa e com novos tipos de visualização. Tecnologias de informação e comunicação 16 O Nexo Jornal é um bom exemplo de como o jornalismo vem utilizando ferramentas tecnológicas para construir e gerar visualizações diferenciadas para seus produtos. A seção Gráficos desse jornal digital apresenta matérias informativas na forma de gráficos interativos. Na matéria “A expectativa de vida desde 1800 no Brasil e no mundo” (Figura 1), por exemplo, o usuário pode visualizar dados referentes à expectativa de vida da população em diferentes países, no decorrer dos anos (SOUZA; SANLORENSSI, 2019). Figura 1. Matéria do Nexo Jornal em forma de gráfico interativo. Fonte: Souza e Zanlorenssi (2019, documento on-line). As TICs também dão origem a sistemas de edição jornalística mais hori- zontais na Web, inserindo o público como produtor ou curador de conteúdo jornalístico. Machado (2008a) refere-se a pelo menos a três sistemas de edição potencializados pelas ferramentas digitais e pela Internet: o sistema de edição compartilhada, o sistema de revisão aberta e o sistema de edição aberta. No sistema de edição compartilhada, existem duas fases de edição: a etapa inicial, assumida por não jornalistas, que exercem funções preliminares de edição de conteúdo, e a segunda etapa, de responsabilidade dos jornalistas. Nesse sistema, a publicação de conteúdo ainda está centralizada nas mãos dos jornalistas, que dão a palavra final de edição, o que faz com que Ma- chado (2008a) o vincule aos modelos tradicionais de edição, com estrutura verticalizada. de informação e comunicação Tecnologias 17 No sistema de revisão aberta, há uma ampliação das etapas de edição em que os usuários podem participar, o que traz mais complexidade aos processos de edição. A edição é, então, dividida em três etapas: uma de responsabilidade do colaborador, uma segunda de participação de todos os membros da rede, e uma terceira etapa que é assumida pelos jornalistas. Por fim, o sistema de edição aberta seria o sistema mais horizontalizado, pois permitiria a parti- cipação de todos os membros — jornalistas e não jornalistas — em todas as etapas de produção, sem diferenciar funções. Distribuição de conteúdo A inserção de novas tecnologias nas redações também afeta a forma de dis- tribuição dos conteúdos jornalísticos. As mídias digitais, por exemplo, pro- porcionam uma ampliação dos espaços de consumo e circulação do discurso jornalístico. Se antes tínhamos a distribuição de conteúdo para um veículo de comunicação preponderante — como era o caso do rádio e da televisão —, hoje a produção jornalística passa a abarcar outras plataformas e dispositivos, como dispositivos móveis (tablets e smartphones) e mídias sociais. É isso que alguns pesquisadores chamam de distribuição multiplataforma. As redes sociais digitais tornam o sistema de circulação do jornalismo mais flexível, fazendo com que o próprio usuário da rede se transforme em propagador de notícias e informações jornalísticas. Assim, a distribuição que era feita de forma centralizada, com hierarquia rígida entre os participantes, em que o meio de comunicação exercia um papel fundamental de entrega de informações para o consumidor, adquire um caráter menos hierárquico e descentralizado nas redes (MACHADO, 2008b). Mais uma vez, vemos que o protagonismo da produção e distribuição de conteúdo jornalístico começa a ser assumido também pelo público.Algoritmos e robôs no jornalismo Novas tecnologias algorítmicas também têm sido aplicadas ao jornalismo, automatizando a produção e consumo de notícias. Antes de descobrir como isso funciona nas redações, é interessante explicarmos o que são algoritmos. Eles podem ser defi nidos como “[...] um conjunto de operações autossufi cien- tes a serem desempenhadas passo a passo, como cálculos, processamento de dados e raciocínio — um conjunto de regras que defi nem precisamente uma sequência de instruções que serão compreendidas por um computador” (LINDEN; BATISTA; RICCIULLI, 2018, documento on-line). Assim como Tecnologias de informação e comunicação 18 em outras atividades, os algoritmos podem ser adaptados para as rotinas de produção jornalísticas, ou seja, pode-se criar um algoritmo jornalístico que desempenhe atividades antes desempenhadas por jornalistas. Magalhães (2017) comenta que os algoritmos cumprem a função de orientar jornalistas na filtragem de conteúdo na Internet nos processos de produção jornalística, além de ajudar a distribuir esse material de forma personalizada. Outro elemento citado pelo mesmo autor se refere à produção de notícias pela própria máquina, sem intervenção humana no processo. O chamado jornalismo algorítmico (ANDERSON, 2012 apud MAGALHÃES, 2017) começou como um experimento em pequena escala, mas já tem sido usado em larga escala devido à expansão da big data para a produção de notícias automáticas em múltiplas línguas, por exemplo (MAGALHÃES, 2017). Em um cenário de difusão de informações falsas, ou fake news, o jornalismo também tem utilizado robôs para a checagem de fatos — ou fact checking. O site jornalístico Aos Fatos, cujo modelo de negócio gira em torno dessa prática de fact checking, inaugurou em 2018 a robô Fátima, cuja tarefa principal é checar informações em sites de redes sociais. Vemos, então, que a tecnologia a serviço do jornalismo ajuda a ampliar os seus ramos de atuação. No link a seguir, você pode conhecer Fátima, robô de checagem de dados do site jornalístico Aos Fatos. https://qrgo.page.link/KYdds de informação e comunicação Tecnologias 19 BARBOSA, S. Modelo jornalismo digital em base de dados (JDBD) em interação com a convergência jornalística. Textual & Visual Media, v. 1, p. 87-106, 2008. BRIGGS, A.; BURKE, P. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, negócios e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz & Terra, 1999. v. 1. LEMOS, A. Les trois lois de la cyberculture. Libération de l’émission, connexion au réseau et reconfiguration culturelle. Sociétés, v. 91, n. 1, p. 37-48, 2006. LÉVY, P. Cibercultura. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 1999. LINDEN, C. G.; BATISTA, G. M.; RICCIULLI, S. L. S. Algoritmos para o jornalismo: o future da produção de notícias. LÍBERO, v. 21, n. 41, p. 5-27, 2018. Disponível em: http://seer. casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/973/977. Acesso em: 23 dez. 2019. MACHADO, E. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. 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Leituras recomendadas CURVELLO, J.; RUSSI, P. 100 anos de McLuhan. Brasília: Casa das Musas, 2012. LEMOS, A. A comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura. São Paulo: Ana- blume, 2013. PRIMO, A. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2007. de informação e comunicação Tecnologias 21 DICA DO PROFESSOR As TICs são usadas em diversas áreas do conhecimento e são adaptadas conforme a necessidade de cada área. Conhecer seus diferentes usos ajuda a refletir sobre suas aplicabilidades no jornalismo. Na Dica do Professor, você vai entender como os professores estão utilizando as TICs em sala de aula para aprimorar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Um repórter da editoria de saúde de um jornal digital resolveu elaborar uma matéria sobre a dengue e seu alastramento na cidade de São Paulo. Para executar essa pauta, ele deu preferência para o uso de tecnologias digitais na apuração das informações. Selecione a opção que contém apenas ferramentas e procedimentos digitais que podem ser utilizados pelo repórter para encontrar entrevistados e levantar documentos, respectivamente: A) Comunidades virtuais de redes sociais para encontrar entrevistados; site da Secretaria Municipal de Saúde para acesso a relatórios e outros documentos oficiais. B) Localizar entrevistados em pontos de ônibus e locais de transição da população; ida à prefeitura para ter acesso a relatórios de saúde impressos. C) Grupos presenciais de pacientes; site da Secretaria Municipal de Saúde para acesso a relatórios. 22 D) Acesso ao banco de dados da prefeitura; Grupos de família no Whatsapp. E) Google; visita e entrevista presencial com o Secretário Municipal de Saúde. 2) Criada em 2001 pela Fundação Wikimedia, a Wikipédia é uma plataforma que trabalha para a disponibilização de informações gratuitas sobre conhecimentos do mundo. Hoje, ela tem versões em várias línguas e sua versão brasileira conta com 1.016.699 artigos em português e 6.268 usuários ativos. A plataforma funciona a partir da colaboração de milhares de pessoas, que podem criar páginas sobre determinado tema ou editar o conteúdo de páginas já existentes. O usuário não precisa ter seu texto aprovado, ou seja, ele é automaticamente publicado no site. O único tipo de controle são os históricos de edição das páginas, que ficam registrados. Esse sistema de edição, que envolve usuários desempenhando as mesmas funções, é o que Elias Machado chama de: A) Sistema fechado de edição. B) Sistema de revisão aberta. C) Sistema de edição compartilhada. D) Sistema de edição aberta. E) Sistema de revisão compartilhada. Imagine o seguinte cenário: uma repórter de televisão estava envolvida na produção de uma reportagem sobresustentabilidade para o telejornal local. Para isso, além de entrevistar lojistas e pessoas que trabalham na prefeitura, para ter uma dimensão oficial sobre a questão, a repórter também buscou ouvir um grupo de pessoas engajadas com o movimento social Lixo Zero e índividuos que resolveram rever as suas práticas de consumo e adotar uma abordagem mais consciente. O uso das redes sociais foi essencial para localizar essas fontes. Qual o fenômeno proporcionado pela 3) 23 inserção da Internet nas redações jornalísticas que se relaciona, diretamente, a esse relato? A) Processos de edição mais estáticos. B) Fluxos de informação hierarquizados. C) Centralização da apuração nas redações jornalísticas. D) Verticalização do processo de comunicação. E) Diversificação das fontes de informação. 4) Uma reportagem produzida pelo Jornal Nacional sobre a Lava Jato ganhou ampla repercussão nas mídias sociais. Essa dinâmica de circulação de notícias nas redes sociais, que partem da atuação do usuário, têm as seguintes características: A) Unidirecional e centralizada. B) Hierárquico e descentralizado. C) Flexível e centralizado. D) Flexível e descentralizado. E) Hierárquico e centralizado. 5) A popularização das TICs de forma global deu origem à Sociedade da Informação, ou ao que Castells denomina de Sociedade em rede. Marque a alternativa que descreve essas tecnologias: 24 A) São tecnologias baseadas na linguagem eletrônica, da televisão e do rádio. B) São tecnologias baseadas na linguagem digital e na inteligência coletiva em rede. C) São tecnologias informacionais baseadas na linguagem eletrônica. D) São tecnologias que não dependem da estrutura de redes e da internet. E) São tecnologias baseadas na linguagem eletrônica e na inteligência coletiva. NA PRÁTICA A Inteligência Artificial (IA) consiste em uma tecnologia aplicada para otimizar processos e sistemas que eram antes gerenciados por mãos humanas. Hoje em dia vivemos rodeados de robôs que automatizam tarefas em diferentes setores da sociedade. Neste Na Prática, você vai conhecer alguns exemplos de aplicação da Inteligência Artificial (IA) nas áreas de comunicação, controle e automação das indústrias e da informática. Confira! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Ferramentas multimídia para jornalistas Dominar ferramentas digitais é uma das exigências para um jornalista. No link a seguir, você tem acesso a dicas de recursos multimídias que podem ser usados na rotina jornalística. 25 Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O novo Universo do Jornalismo No texto “O novo universo do jornalismo”, publicado no Observatório da Imprensa, Ethevaldo Siqueira, jornalista especializado em Tecnologias Digitais, faz um balanço sobre as mudanças do jornalismo trazidas pelas TICs. Confira: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Inteligência artificial não vai matar nem salvar o jornalismo, mas quanto mais cedo entrar na redação, melhor Que possibilidades a Inteligência Artificial (IA) traz para o jornalismo? O Polis, think tank de mídia da London School of Economics, nos convida a refletir sobre essa questão na pesquisa global “Novos poderes, novas responsabilidades”. Leia mais no link a seguir: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! 26 Transformações tecnológicas e sociedade em rede APRESENTAÇÃO A pesquisa científica nas principais universidades da Europa e da América do Norte transformaram a tecnologia analógica em digital, o que modificou as relações pessoais, de trabalho e principalmente a economia. Dessa maneira, as tecnologias da comunicação e informação foram introduzindo novas maneiras de organizar e informar; as dinâmicas sociais começaram a ser observadas por sociólogos como sendo tecidas em rede. Manuel Castells (1999, 2001, 2005) observou como a internet e as tecnologias a ela ligadas estavam formando redes de criação de conteúdo e experimentação do espaço on-line. E, com isso, nos traz a visão de uma vida social que é constituída como um tecido, nó por nó. Nesta Unidade de Aprendizagem iremos reconhecer a atuação da tecnologia na sociedade, faremos um sobrevoo para identificar as principais marcas tecnológicas do século XX e passaremos brevemente pelas peculiaridades da sociedade em rede. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o papel da tecnologia na sociedade.• Identificar os principais marcos tecnológicos no século XX.• Caracterizar a sociedade em rede.• DESAFIO Frente às transformações tecnológicas que vêm ocorrendo desde o século XX, diversas áreas como a Sociologia, a Antropologia e a Comunicação têm desenvolvido pesquisas para alcançar teorias que possam, de alguma maneira, fornecer explicações, fomentar questionamentos e 27 principalmente descrever a contemporaneidade. De que maneira você proporia essa mudança? Levando em consideração as características da sociedade em rede, de que maneira o jornal impresso poderia ofertar informação e possibilitar a participação de seus públicos de maneira mais ativa? INFOGRÁFICO O pesquisador Jorge Souza (2008) nos aponta os principais marcos vividos no século XX. As tecnologias da comunicação acompanharam o desenvolvimento tecnocientífico e a mediação eletrônica dos indivíduos, mas também esteve presente em guerras e conflitos internacionais. Neste Infográfico, você será capaz de identificar as principais transformações ocorridas no período entre 1901e 2000. 28 29 CONTEÚDO DO LIVRO Tomar o avanço tecnológico como a causa do desenvolvimento social pode ser uma armadilha aos países menos desenvolvidos. Isso porque as transformações tecnológicas são sentidas de maneiras diferentes em cada região do mundo. Manuel Castells (2005) nos chama atenção para o fato de que o objeto tecnológico nem sempre trará efeitos de desenvolvimento ou transformações reais na vida das pessoas. Mais do que apenas implementar computadores nas escolas, é necessário investir força no uso dos meios, em sua potência de organização social. As tecnologias oferecem espaço livre de criação e experimentação; pensemos na internet: ela é atualmente o tecido de nossas vidas. No capítulo Transformações tecnológicas e sociedade em rede, da obra Jornalismo digital e cibercultura, você será capaz de reconhecer como a tecnologia tem proporcionado transformações na vida social. Poderá identificar os principais marcos tecnológicos do século XX e, com o apoio de autores da área da Comunicação e Informação, perceber as características da sociedade em rede. Boa leitura. 30 Transformações tecnológicas e sociedade em rede Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o papel da tecnologia na sociedade. Identificar os principais marcos tecnológicos no século XX. Caracterizar a sociedade em rede. Introdução São inegavelmente imensos os efeitos e as atribuições que as tecnologias produzem nas sociedades contemporâneas. O papel da organização social e a descentralização das relações econômicas e culturais são as principais transformações apontadas por teóricos como Manuel Castells. Por isso, qualquer exame dessa sociedade em rede requer a observação de como as tecnologias da comunicação e informação são usadas na organização cotidiana dos usuários. Neste capítulo, você verá os principais marcos tecnológicos que emergiram no século XX dentro da perspectiva da comunicação, em que o rádio, a televisão e a Internet são adventos fundamentais. Além disso, você poderá aprender mais sobre a noção da sociedade em rede, como ela opera, quais transformações ela traz e o que o pensamento em rede pode oferecer. Sociedade e tecnologia Ao observarmos a vida cotidiana atual,é perceptível a desintegração dos objetos do mundo. A biblioteca física ganha espaço on-line e arquivos digitais ganham circulação na Internet. A maneira como adquirimos informações também 31 adquire maior mobilidade, já que elas podem ser acessadas de qualquer local a qualquer momento. É evidente que as tecnologias — e pensemos tecnologias aqui a partir de sua etimologia: diversos métodos para aperfeiçoamento de técnicas — têm efeito de transformação. Mas exatamente quais transforma- ções? Como as técnicas em constante aperfeiçoamento têm sido utilizadas? Seria possível tomar as tecnologias como sendo organizadoras da vida social? Caso pensemos nas tecnologias computacionais por sua usabilidade, po- deríamos cair no engano de que, por exemplo, bastam alguns computadores e acesso à Internet em uma escola para transformar a vida de seus alunos, facilitar seu cotidiano ou até mesmo levar inovação com giro econômico para sua comunidade. Castells (2005) nos chama atenção precisamente para esse ponto. Ao observarmos a sociedade e suas tecnologias na tentativa de reco- nhecer o seu papel em nossas vidas, é preciso ter em mente onde, por quem e para quê são usadas tais tecnologias. A partir desse ponto de vista, seria mais eficaz fazer uso e se apropriar das máquinas levando em consideração a questão da compatibilidade com outros dispositivos digitais, o que permite o compartilhamento de informações pela Internet. Entretanto, é importante frisar que a tecnologia não se resume à Web. O advento da Internet marcou a história, mas é importante entendê-la em perspectiva, como parte de um todo; a Internet nos ajuda a entender o papel da tecnologia em uma sociedade em rede. Sob esse modelo de sociedade, cada indivíduo compõe um nó de um grande tecido que reveste o campo social. As redes se interligam globalmente em um campo de informação cada vez mais complexo (CASTELLS, 2001). Transformações tecnológicas e sociedade em rede 32 Figura 1. Dentro do pensamento teórico de Manuel Castells, nossa sociedade é composta como uma rede. Cada indivíduo compõe um nó de um grande tecido que reveste o campo social. As redes se interligam globalmente em um campo de informação cada vez mais complexo. Fonte: NicoElNino/Shutterstock.com. Nessa linha de raciocínio, a pesquisadora norte-americana Donna Haraway (2000) nos ajuda a enfrentar o fascínio que obtemos com aparelhos eletrônicos. Em vez de temê-los, é possível tomá-los como um instrumento útil e com objetivos nítidos quanto à sua utilização. “A máquina não é uma coisa a ser animada, idolatrada e dominada. A máquina coincide conosco, com nossos processos; ela é um aspecto de nossa corporificação” (HARAWAY, 2000, p. 97). Com isso, é possível demarcar alguns aspectos da relação entre tecnologias e sociedade contemporânea. Será com o pensamento de Castells (2005) e Rüdiger (2011) que exploraremos a seguir as atribuições que as tecnologias da comunicação e informação têm trazido ao desenvolvimento das sociedades. Processos de aprendizagem Não estamos passando exatamente por uma “sociedade do conhecimento”, já que, na verdade, isso sempre esteve presente entre as motivações humanas. O que acontece atualmente, na visão de Castells (2005), é o alargamento das possibilidades de organização e de acesso a canais de conhecimento. A exi- Transformações tecnológicas e sociedade em rede 33 gência é pela capacidade de visualizar a vida em rede e com isso ser capaz de conhecer a dinâmica e trazer as tecnologias para transformações sociais locais. Organização social As tecnologias da informação e comunicação oferecem ampla criação de espaços virtuais. Por isso, é preciso conhecer as possibilidades dessa nova estrutura social. A Internet e os produtos que dela se desenvolvem operam por experimentação. Por mais que já existam bibliografi as sobre o tema, esse é um terreno a ser construído. O que vale é encontrar maneiras de organizar a imensa quantidade de informação digital, para que assim se possa usufruir dos benefícios desse novo sistema. Descentralização Por operar em uma dinâmica em rede, formatos e sistemas verticais perdem lugar para uma experiência horizontal. Quando as tecnologias operam a favor de seus usuários, ocorre a descentralização de serviços, de trabalho e da vida social. O papel das tecnologias na sociedade em rede está relacionado também à autonomia dos indivíduos frente às suas demandas. São as chamadas ações autoprogramadas. As operações sociais, sejam elas econômicas ou culturais, não mais dependem exclusivamente de grandes instituições, havendo a procura por atividades criativas e tempo livre no próprio trabalho. Nesse sentido, a sociedade se modifica a partir dos interesses e dos usos feitos das tecnologias, e não necessariamente a partir da tecnologia. As trans- formações sentidas desde o século XX dentro dessa perspectiva são principal- mente de cunho sociocultural. Isso porque uma sociedade em rede é feita por pontos, ou nós. Esses pontos são os próprios indivíduos a criar, experimentar e descobrir usabilidades para os meios digitais. Castells (2005, documento on-line, grifo nosso) discorre sobre essa questão no trecho a seguir: O nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas décadas. É um processo multidimensional, mas está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 60 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Nós sabemos que a tecnologia não determina a sociedade [...]. A sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias. Além disso, as tecnologias de comunicação e informação são particularmente sensíveis aos efeitos dos usos sociais da própria tecnologia. Transformações tecnológicas e sociedade em rede 34 Se as tecnologias são “particularmente sensíveis” ao seu uso é porque existe uma dimensão de experimentação. Pensemos ainda em sua flexibilidade e adap- tabilidade, reconhecendo que o papel das tecnologias na sociedade é admitir que cada indivíduo é responsável e cocriador delas. Os aplicativos e as mídias sociais podem ofertar a função de ferramentas em benefício das relações de trabalho e afetivas. Entretanto, essas tecnólogas são flexíveis e não determinantes de um modo de vida (CASTELLS, 2001). A sociedade em rede requer criatividade, senso crítico e olhar micro nas relações sociais, para um fazer tecnológico que é coletivo. Tecnologias do século XX As transformações tecnológicas ocorridas durante o século XX (1901–2000) são visíveis nos objetos da comunicação. A criação do telégrafo (ainda no fi nal do século XIX), as ondas radiofônicas e a expansão da televisão no começo do século XX abriram caminhos para o desenvolvimento dos computadores individuais e, mais adiante, no fi nal do século, foi possível acompanhar o surgimento da Internet (IJUIM; TELLAROLI, 2008). Um dos objetos da comunicação que deixaram sua marca no século XX foi a máquina fotográfi ca Leica. De acordo com Souza ([2008]) em 1930 o modelo recebeu uma versão portátil de menor tamanho, o que trouxe mobilidade ao fotojornalista, além de avanços técnicos na revelação dos fi lmes. A ampliação das pesquisas científicas na área da tecnologia da comunicação, em especial nos Estados Unidos e Europa, possibilitou a experimentação e criação de diferentes plataformas e canais de comunicação. A partir dos anos 1970, um ambiente propício uniu diferentes campos do saber. Assim, “[...] na segunda metade do século XX, estabeleceram-se condições e o cenário para convergência entre a informática, a eletrônica e a comunicação” (IJUIM; TELLAROLI, 2008, documento on-line). Esse cenário propício ao desenvolvimento tecnológico foi resultado de descobertas científicas de séculos anteriores. A invenção da prensa móvel por Johannes Gutenberg no século XV (SOUZA, [2008]), quepossibilitou agilidade na impressão de textos, foi uma delas. Assim, o que favoreceu o desenvolvimento dos meios de comunicação foram “[...] os constantes inventos (técnicas de impressão de grandes tiragens) e o crescimento da difusão da notícia através do telégrafo (e dos outros meios que surgiram com o uso da eletricidade )) rádio, telefone, cinema)” (PATERNOSTRO, 1999, p. 20). Nesse sentido, no âmbito da comunicação a televisão pode ser considerada uma das principais invenções do século XX, pois representa a convergência Transformações tecnológicas e sociedade em rede 35 de áreas do conhecimento como eletrônica, química e física. A Internet tam- bém é um forte marco deste século, ela que até os anos 1970 esteve presente apenas dentro das universidades, como objeto de pesquisa científica. A partir de Paternostro (1999) e Cury e Capobianco (2011), elencamos a seguir alguns marcos históricos relevantes no campo da comunicação: 1901 — O princípio do rádio: com a comprovação da existência das ondas eletromagnéticas, a partir das pesquisas de Heinrich Hertz (1857– 1894), o italiano Guglielmo Marconi construiu o primeiro aparelho capaz de codificar as ondas e transmitir mensagens sem fio. 1923 — O princípio da TV: nos Estados Unidos, o pesquisador russo- -americano Vladimir Zworykin (1888–1982) criou o iconoscópio (tubo a vácuo com tela de células fotoeletrônicas), invenção que possibilitou a transmissão de imagens a longas distâncias. 1942 — O princípio do computador: na Universidade Estadual de Iowa, Estados Unidos, os pesquisadores John Vincent Atanasoff (1903–1995) e Clifford Berry (1918–1963) apresentaram em um congresso o “ABC”, uma máquina capaz de realizar cálculos matemáticos e ler dados in- troduzidos por um teclado simples; nascia então (a partir de inúmeras pesquisas anteriores) o primeiro computador moderno. 1969 — A criação da Internet: com a função de interligar diferentes laboratórios de pesquisa nos Estados Unidos, o primeiro uso da Internet foi chamado de ARPANET. Mais tarde, em 1987, ela deixou de pertencer apenas aos laboratórios acadêmicos e foi comercializada, tendo na década de 1990 a sua ampliação. 1976 — O princípio dos computadores pessoais: surgimento das em- presas Apple e Microsoft; pesquisas na IBM avançam no conhecimento técnico-científico. Com investimento na área, foi possível a criação de sistemas operacionais e desenvolvimento de programas. Nesse período, nasce o e-mail e o navegador Internet Explorer. 1980 — O nascimento das redes: os computadores passam a se co- municar entre si em diferentes locais. Em 1981, a IBM lança o PC, com códigos de comando (DOS), e em 1984 a Apple lança o seu produto Ma- cintosh, introduzindo a interface gráfica nos computadores individuais. 1990 — A ampliação das redes: o cientista da computação Timothy John Berners-Lee ainda em 1989 lança a proposta inaugural de criação do primeiro Servidor Web (World Wide Web), além de desenvolver ao longo de sua pesquisa a linguagem HTML. Transformações tecnológicas e sociedade em rede 36 As pesquisas tecnológicas desenvolvidas no século XX, como se pode perceber, acumulou saberes rumo às tecnologias digitais. Foi um período de transformação e aprimoramento nos aparatos de informação e comunicação que avançariam no século seguinte com produtos cada vez mais individualizados. As modificações nessa área aconteceram de maneira desigual nas economias globais, o que ao mesmo tempo impulsionou certos países rumo ao crescimento econômico e também tornou outros países (emergentes) dependentes desse conhecimento (CASTELLS, 2005). Em parceria com a IBM, o canal do YouTube The Enemy (mantido pelo site informativo e cultural Omelete) apresenta uma série de vídeos sobre “tecnologias do futuro”. No vídeo disponível no link a seguir, os temas abordados incluem tecnologias de transmissão, transmissão de dados e faixas de frequência. Com uma apresentação histórica da evolução da Internet móvel, é possível perceber os caminhos futuros desse meio e os impactos possíveis sobre a administração e segurança públicas e, principalmente, o cotidiano dos usuários. https://qrgo.page.link/wR3vg Relações na sociedade em rede As relações na sociedade atual estão fortemente ligadas às interações tecnoló- gicas de comunicação e informação. A imagem de uma rede funciona bem para visualizarmos a extensa camada de um tecido virtual onde pontos elétricos se conectam. A ampliação desse tecido está associado ao desenvolvimento das sociedades e para que esse tecido cresça é necessário que haja também a criação de conteúdos. Tanto indivíduos quanto grupos e instituições tecem essa rede de comunicação, onde cada nó desse tecido representa uma área do conhecimento, um novo e pequeno negócio ou a publicação de uma nova imagem. Dessa maneira, as relações na sociedade em rede (sejam de trabalho ou afe- tivas) acontecem via aparatos tecnológicos em que “[...] as pessoas integraram as tecnologias nas suas vidas, ligando a realidade virtual com a virtualidade real, vivendo em várias formas tecnológicas de comunicação, articulando-as conforme as suas necessidades” (CASTELLS, 2005, p. 23). Transformações tecnológicas e sociedade em rede 37 Nesse sentido, pensando a partir de Castells (2001; 2005), estaríamos criando uma sociedade em rede. E justamente por isso, diversas atividades econômicas, políticas, sociais e culturais estão passando por transformações. Essa mudança ocorre de forma gradual e na maneira como se vive; se “[...] a internet é o tecido de nossas vidas”, estar fora das relações comunicativas na Web tornou-se umas das maneiras de exclusão social (CASTELLS, 2001, p. 7). Assim, na sociedade em rede ignorar suas ferramentas e negar os benefícios que ela traz poderá gerar isolamento e exclusão. Observa-se, nesse sentido, que é necessário adquirir conhecimento sobre as redes, experimentá-las e acompanhar as suas mudanças. Para compreendermos melhor algumas carac- terísticas desse momento histórico, selecionamos a seguir alguns pontos-chave do trabalho de Manuel Castells (2001; 2005), pensador referencial nos estudos de comunicação e informação e entusiasta da sociedade em rede. Nova economia Não que a economia tradicional esteja sendo substituída, mas ocorre sem dúvida uma modifi cação e ampliação de suas ferramentas. Na era da nova economia, a produção, divulgação, distribuição e comercialização dos produtos operam por diferentes lógicas, não mais apenas pela instituição e industria- lização. Ela é realizada também por pequenos grupos e indivíduos. Assim, as tecnologias de comunicação acrescentam novas regras ao jogo econômico dentro da sociedade em rede. Transformações no mercado de trabalho Por toda parte ocorrem mudanças nos contratos de trabalho e em suas cargas horárias, bem como exigência de novas competências além do letramento digital. Os indivíduos procuram maior mobilidade e constante aprendizado. Assim, o perfi l do trabalhador na sociedade em rede é o “autoprogramado”, aquele que encontra em si mesmo a fonte de sua criatividade e capacidade de produzir e inovar. Mudança na sociabilidade Própria das redes de comunicação e perfeitamente adaptável às ferramentas da Internet é a sociabilidade individualizada. A sociedade em rede está se constituindo como uma sociedade em que há uma emergência do individu- alismo e cada pessoa representa um ponto entre diferentes nós dessa rede. Transformações tecnológicas e sociedade em rede 38 Dos telefones individuais com fi o aos perfi s virtuais das mídias sociais, não há exatamente novas relações, o que há são transformações de um modo de vida a procura de comunicação. Transformação da área da comunicação Informação digital, interatividade, sistema multimídia e audiência segmentada são algumas das transformações na sociedade em rede. Com a expansão das tecnologias e das mídias individualizadas, a comunicação está ao mesmo tempo global e local, ou seja, perpassa grandesmercados e pequenos produtores, cria conteúdos informativos desde instituições à indivíduos autônomos. A informação é produto maleável e experimentável tanto de grandes empresas quanto de indivíduos organizados. Os mapas on-line, especialmente do Google Maps, podem ser encarados como um tecido virtual que reveste cidades e bairros. Por ser uma ferramenta colaborativa, é possível acrescentar informações e alimentar o banco de dados da empresa. Para inserir informações no mapa da cidade a respeito, por exemplo, de um estabelecimento comercial simples, é preciso ter uma conta vinculada ao sistema da Google. O serviço não é cobrado, mas os dados coletados serão armazenados e explorados pela empresa. O procedimento é relativamente simples: basta fazer o cadastramento do local a ser registrado, inserir corretamente a descrição do empreendimento e vincular esse “novo local” a um endereço físico. Uma carta será enviada para esse endereço e, com o código fornecido nessa correspondência, será possível liberar o acesso. Nessa lógica, quanto mais indivíduos alimentarem esse sistema, mais detalhado ele ficará. Seu desenvolvimento não depende apenas da empresa, mas também de cada pessoa interessada em produzir e usufruir desse conteúdo. Percebe-se que, sob a ótica da sociedade em rede, cada indivíduo pode experimentar os serviços oferecidos pelas empresas de tecnologia, em que a informação é o bem mais valioso. Na extensa rede, os usuários são os nós. Por fim, as possibilidades que as tecnologias trazem ao cotidiano dos indivíduos são experienciadas de modos distintos, isso porque seu desenvol- vimento (em nível de conhecimento) ocorreu de maneira diferente na América Latina em comparação com a América do Norte e Europa. Refletindo sobre isso, Rüdiger (2011), citando Mark Slouka (1995), nos oferece um pensamento Transformações tecnológicas e sociedade em rede 39 diferente em meio à expansão de comunicação que as novas tecnologias ofe- recem. Dentro da sociedade em rede, estaríamos recebendo realmente o que nos satisfaz? É possível se ter autonomia na criação, produção e divulgação de qualquer produto que se queira comercializar, mas qual o real valor que se paga por isso? A quantidade de possibilidades e de informação que nos é oferecida, na visão dos autores, acaba por “oferecer muito pouco e exigindo demais”. CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. CASTELLS, M. A sociedade em rede: do conhecimento à política. In: CASTELLS, M.; CARDOSO, G. (org.). A sociedade em rede: do conhecimento à ação política: Confe- rência promovida pelo Presidente da República. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005. Disponível em: https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/a_socie- dade_em_rede_-_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf. Acesso em: 18 dez. 2019. CURY, L.; CAPOBIANCO, L. Princípio da história das tecnologias da informação e co- municação: grandes invenções. In: ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 8., 2011, Guarapuava. Anais [...]. Paraná: Unicentro, 2011. HARAWAY, D. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo socialista no final do século XX. In: SILVA, T. T. (org.). Antropologia do ciborgue. as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. IJUIM, J. K.; TELLAROLI, T. Comunicação no mundo globalizado — tendências no século XXI. Revista Ciberlegenda. , v. 10, n. 20, 2008. Disponível em: http://periodicos.uff.br/ ciberlegenda/article/view/36666/21246. Acesso em: 26 dez. 2019. PATERNOSTRO, V. Í. O texto na TV: manual de telejornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 1999. RÜDIGER, F. A reflexão teórica em cibercultura e a atualidade da polêmica sobre a cultura de massas. Matrizes, v. 5, n. 1, p. 45–55, 2011. Disponível em: http://repositorio. pucrs.br/dspace/handle/10923/9818. Acesso em: 26 dez. 2019. SOUZA, J. P. Uma história breve do jornalismo no ocidente. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, [2008]. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge- -pedro-uma-historia-breve-do-jornalismo-no-ocidente.pdf. Acesso em: 26 dez. 2019. Leitura recomendada SLOUKA, M. War of the worlds. Nova York: Basic Books, 1995. Transformações tecnológicas e sociedade em rede 40 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Transformações tecnológicas e sociedade em rede 41 DICA DO PROFESSOR Com a popularização da internet o acesso à comunicação se modificou, isso porque cada indivíduo pode ter ao seu alcance ferramentas de divulgação, criação de conteúdo e de vendas on-line, por exemplo. Com esse cenário social prevalece a descentralização da produção e nesse ambiente de rápida mutação será preciso encontrar uma maneira de administrar a complexidade. Na chamada sociedade em rede, as tecnologias transformam cotidianamente a vida social. Nesta Dica do Professor separamos algumas características observadas por Manuel Castells (2001) a respeito da sociedade em rede; nela a internet é a base de organização das relações sociais, culturais e econômicas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Em relação às transformações ocasionadas pela tecnologia nas sociedades contemporâneas, podemos afirmar que o modo como se ensina e aprende se transformou. Assinale a alternativa que explore essa mudança a partir da sociedade em rede de Manuel Castells (2005). A) Na sociedade em rede, há um alargamento de possibilidades de organização e de acesso a canais de conhecimento. B) Na sociedade em rede, há um encurtamento de possibilidades de organização e de acesso a canais de conhecimento. C) Na sociedade em rede, há um alargamento de possibilidades de organização e de acesso a livros físicos. Na sociedade em rede, não há um alargamento de possibilidades de organização e deD) 42 acesso a canais de conhecimento. E) Na sociedade em rede, há um uma desconexão entre usuários e dificuldade de acesso a canais de conhecimento. 2) As tecnologias da comunicação e da informação na sociedade em rede funcionam como um campo elétrico que, em redes, se conecta com diferentes pontos. Nessa perspectiva, o usuário consegue certa mobilidade e autonomia. Os sistemas verticais de criação de conteúdos são transformados em horizontais. Não apenas as instituições consolidadas irão ofertar conteúdo informativo, por exemplo. Assinale a alternativa que contenha a palavra utilizada por Manuel Castells (2005) para conceituar esse fenômeno. A) Organizacional. B) Descentralização. C) Hierarquização. D) Horizontalidade. E) Centralização. 3) Em relação aos marcos tecnológicos do século XX, para se chegar às pesquisas que transformaram as tecnologias analógicas, qual invento do século anterior possibilitou a expansão das ferramentas da comunicação, trazendo agilidade à reprodução textual? Assinale a alternativa correta. A) A prensa de tipos móveis de Johannes Gutenberg. B) A tábua de cera de Johannes Gutenberg. 43 C) As ondas eletromagnéticas de Heinrich Hertz. D) A máquina fotográfica Leica. E) O iconóspio de Vladimir Zwrykin. 4) Com as inovações tecnológicas, as relações se transformaram, não exatamente em algo novo, mas o meio no qual elas acontecem tem se modificado. Na sociedade em rede, conceituada por Manuel Castells, o que faz a mediação nas relações sociais? Assinale a alternativa correta. A) A mediação das relações na sociedade em rede se realiza por meio de aparatos tecnológicos. B) A mediação das relações na sociedade em rede se realiza em praças e espaços públicos. C) A mediação das relações na sociedade em rede se realiza na natureza encontrada aindanas cidades. D) A mediação das relações na sociedade em rede se dá por meio de viagens multiculturais. E) A mediação das relações na sociedade em rede se realiza por meio de amizades e relacionamentos presenciais. 5) Na sociedade em rede, a tecnologia da informação e comunicação medeiam as relações e oferecem diferentes modos de vida. Seria necessário adquirir conhecimento sobre as redes on-line, experimentá-las e acompanhar as suas mudanças. Assinale abaixo a alternativa que descreve as três principais características da sociedade em rede. Há uma nova economia, o mercado de trabalho se transforma e a vida social se funde comA) 44 a comunicação. B) Há uma nova era, o mercado de trabalho se mantém e a vida social se funde com o entretenimento. C) Há um novo mercado, o trabalho se consolida instituicionalmente e a vida social se funde com a comunicação. D) Há uma nova economia, o mercado de trabalho se transforma e a vida social se limita ao digital. E) Há uma nova economia, o mercado de trabalho se mantém e a vida social se transforma em analógica. NA PRÁTICA Observar as transformações tecnológicas na área da Informação e Comunicação são tão importantes quanto reconhecer o seu papel no cotidiano das profissões. Em especial, o Jornalismo tem passado por modificações em seu sistema de trabalho, já que os conteúdos informativos estão cada vez mais digitalizados e disponíveis on-line. O avanço tecnológico traz transformações no modo como as práticas jornalísticas ocorrem. Além da nítida substituição das máquinas de escrever por computadores, os tablets atualmente fazem parte da rotina de trabalho da maioria dos jornalistas. Diante das tecnologias da comunicação, é fundamental reconhecer que, por si sós, os objetos não trazem avanço ou organização do trabalho. Entender a usabilidade dos objetos tecnológicos é reconhecer o papel que ocupam na vida social. Neste Na Prática, você conhecerá o editor chefe Rodrigo Mansil. Com a possibilidade de trazer à redação novos objetos tecnológicos, em especial o tablet, Rodrigo se depara com o fato de que muitos dos jornalistas de sua equipe nunca haviam utilizado tablets como ferramenta útil de organização do trabalho. Quais soluções Rodrigo Mansil vai propor à equipe? Acompanhe aqui. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! 45 SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Juventude e a autocomunicação Na sociedade que se desenvolve em rede, se pensa de forma digital. Manuel Castells, neste vídeo, faz uma rápida análise das possibilidades de liberdade e existência em sociedade. A autoinformação e a cultura global, de acordo com o teórico, são características da sociedade em rede. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Tecnologias e transformações subjetivas A sociedade em rede está em transformação continuamente; consequentemente, quem vive nela também. Por meio do campo da Psicologia, a pesquisadora Ana Maria Nicolaci-da-Costa aponta que estamos, como sociedade e indivíduo, passando por transformações internas radicais em função de nossa exposição a novas tecnologias. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! The people vs Tech Nesta publicação na plataforma Observatório da Imprensa (publicado originalmente pela Agência Pública, o jornalista Ethel Rudnitzki entrevista o escritor Jamie Bartlet, autor do livro O povo vs tecnologia: como a internet está matando a democracia – e como podemos salvá-la. Bartlett fala sobre a radicalização promovida pelo ambiente on-line, desinformação, campanhas digitais e outros perigos da rede para a democracia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! 46 Globalização e Cibercultura. APRESENTAÇÃO Nesta Unidade da Aprendizagem, trabalharemos o conceito de globalização e seus possíveis reflexos na construção das relações interpessoais na contemporaneidade. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Construir um conceito de globalização;• Distinguir os efeitos dessa questão na ideia de humanidade que possuímos hoje;• Relacionar como a cibercultura está inserida na vida das pessoas nos dias atuais.• DESAFIO Neste desafio, propomos a elaboração de um pequeno texto que aborde a questão: "E quem não é global?" Para tal, percorra os seguintes caminhos: • encontre um conceito de globalização; • faça a inserção desse conceito no tema para evidenciar possíveis classes que estejam fora do processo de globalização, apontando vantagens e pontos negativos. INFOGRÁFICO Neste infográfico, você poderá observar as conexões permitidas pelo mundo globalizado, que discutem um novo conceito do próprio ser humano global, certamente. 47 CONTEÚDO DO LIVRO Aprofunde seus conhecimentos a partir da leitura de um trecho Globalização e Cibercultura. Boa leitura. 48 Globalização e cibercultura Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Construir um conceito de globalização. Distinguir os efeitos da globalização na noção contemporânea de humanidade. Relacionar como a cibercultura está inserida na vida das pessoas nos dias atuais. Introdução Neste capítulo, você vai ver qual conceito de globalização é mais ade- quado à sociedade contemporânea. Também vai verificar como essa configuração do mundo tem impacto na vida cotidiana das pessoas. Em seguida, você vai refletir sobre os efeitos da globalização e pensar em seus pontos positivos e negativos para o globo terrestre. Nesse sentido, há tanto ganhos relacionados à conexão entre diferentes partes do mundo quanto consequências negativas em diferentes áreas da sociedade. Por fim, você vai ver como relacionar a cibercultura como a globalização e refletir sobre suas potencialidades e possibilidades no mundo atual. Conceito de globalização O mundo contemporâneo está cada vez mais conectado. Desde as grandes nave- gações do século XV até os dias de hoje, as distâncias entre os continentes dimi- nuíram muito. Além disso, têm sido realizadas diversas trocas entre as diferentes sociedades que habitam o globo. Assim, diversos produtos são comercializados entre os países, a possibilidade de viajar para longas distâncias num curto espaço de tempo aumentou e as trocas culturais também se tornaram mais frequentes entre sociedades totalmente diferentes. Logo, o mundo de hoje é globalizado. Prova disso são as músicas dos Estados Unidos que fazem sucesso no Brasil, as roupas da moda europeia que são copiadas por jovens de países 49 distantes, os jogos virtuais que são produzidos na China e jogados por pessoas do mundo inteiro. Para entender esse processo e se aproximar do conceito de globalização, acompanhe o que diz Santos (2000, p. 12): A globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Para entendê-la, como, de resto, a qualquer fase da história, há dois elementos fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o estado da política. [...] As técnicas são oferecidas como um sistema e realizadas combinadamente através do trabalho e das formas de escolha dos momentos e dos lugares de seu uso. É isso que fez a história. No fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes. Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência
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