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REGIME DE PREVIDÊNCIA - É HORA DE MIGRAR - RODRIGO TENÓRIO


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REGIME DE PREVIDÊNCIA:
 
É HORA DE MIGRAR?
 
 
 
 
 
O guia definitivo para o servidor público sobre vantagens e desvantagens da
migração para o regime de previdência complementar
 
 
 
 
 
Rodrigo Tenório
REGIME DE PREVIDÊNCIA: É HORA DE MIGRAR?
 
 
O guia definitivo para o servidor público sobre vantagens e desvantagens da
migração para o regime de previdência complementar
 
 
 
 
 
Rodrigo Antonio Tenório Correia da Silva
 
Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo(2001). Mestre em
Direito pela Harvard Law School(2009). Pós-graduado em Gestão Pública
pela Fundação Getúlio Vargas(2016). Doutorando em Direito pela
Universidade Federal de Pernambuco(2018-2022). Procurador da República
desde 2005. Ex-Juiz Substituto no Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo(2004-2005). Ex-Procurador Regional Eleitoral no Estado de
Alagoas(2010-2013). Diretor de Assuntos Jurídicos da Associação Nacional
do Procuradores da República(2017-2019)
Escrito por Rodrigo Antonio Tenório Correia da Silva em 2018. Todos os
direitos reservados.
Aos servidores públicos federais, transformados recentemente em vilões da
previdência por mentirosos contumazes.
Apresentação
 
Caro(a) servidor(a),
 
Esse livro é destinado a você. Não se engane: sem previdência seu futuro será
um inferno. De acordo com o art. 1º, da Lei 8.213/01, “a previdência social,
mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios
indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego
involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão
ou morte daqueles de quem dependiam economicamente”. Ler o conceito
legal de previdência é o que basta para que saibamos o importantíssimo papel
que ela desempenha em nossas vidas. Hoje, há três regimes de previdência
vigentes para os servidores públicos:
 
1) o dos que tomaram posse antes da Emenda Constitucional 41/2003,
em que são garantidas a paridade e integralidade, com contribuição
previdenciária de 11% sobre os vencimentos;
2) o dos que ingressaram entre 2004 e 2013, cuja aposentadoria
equivalerá à média aritmética dos 80% maiores salários, com
contribuição previdenciária de 11% ou mais – em alguns estados chega
a 14% - sobre os vencimentos;
3) o regime de previdência complementar, no qual a aposentadoria
equivale ao teto do regime geral de previdência social - R$ 5.645,80,
em 2018 - e a contribuição previdenciária incide somente sobre tal
montante.
 
As duas primeiras modalidades constituem o chamado regime próprio de
previdência. É possível sair delas para ingressar na terceira. Você, servidor
público federal, tem até 28 de julho de 2018 para decidir se permanece no
regime próprio de previdência ou se migra para o regime de previdência
complementar . Servidores de outros entes da federação terão os prazos
dados pelas leis locais criadoras dos regimes complementares de previdência
de estados e municípios. Feita a opção pela migração, ela é irretratável e
irrevogável. Em outros termos: impossível desistir. Migrou, fim de conversa.
 
Afinal, vale a pena migrar? Recentemente, vi-me diante dessa dúvida que
assola centenas de milhares de pessoas. Integro o serviço público há 14 anos,
dos quais 13 como membro do Ministério Público Federal(MPF). Tomei, no
final do ano passado, a decisão de migrar de regime. Não encontrei textos que
abordassem fundamentadamente muitos pontos que considerava essenciais
para a tomada de decisão, o que me obrigou a destrinchá-los sozinho. Antes
de decidir, diversas perguntas me atormentaram. Como será composta minha
aposentadoria se eu migrar? É mais arriscado migrar ou permanecer no
regime próprio de previdência? Se eu migrar, como aplicarei o dinheiro que
antes iria para os cofres da União? O que vai acontecer com as contribuições
já feitas? O que é esse tal benefício especial de que todos falam e que compõe
minha aposentadoria? O cálculo que a administração pública federal tem feito
dele está mesmo correto? Receberei o teto do INSS? Como serão reajustados
o benefício especial e o teto do INSS? Qual o impacto no imposto de renda
da redução da contribuição previdenciária? Vale a pena para mim aderir a
FUNPRESP? Quando poderei gozar o benefício especial? Como ficará minha
pensão por morte e minha aposentadoria por invalidez? Precisarei fazer
seguro? Essas são apenas algumas das questões que precisam ser resolvidas
pelos que estão diante do dilema da migração.
 
Nos artigos que li para tentar dirimir minhas dúvidas, em poucas
oportunidades encontrava a fundamentação legal e a conta matemática que
explicasse a tese neles adotada. Para quem, como eu, busca decidir com
segurança, essa lacuna retirava-lhes grande parte da utilidade. Em defesa
deles, ressalto que a matéria é extremamente intricada e exige a análise de um
sem número de normas.
 
Como diretor jurídico da Associação Nacional dos Procuradores da
República, coordenei uma campanha para esclarecer os membros do MPF
sobre a migração. Na execução da tarefa, notei que há diversos falsos dogmas
sobre a migração, como o de que a migração nunca será boa para quem tem
paridade. O contato com tais dogmas e os questionamentos dos colegas
iluminam muitos dos temas aqui desenvolvidos.
 
Nesse livro, pretendo expor, de maneira sucinta, fundamentada e sincera o
caminho que percorri para chegar à decisão e as dúvidas com que precisei – e
preciso - lidar. Para não cometer o mesmo pecado das explicações a que tive
acesso, ao fundamentar um raciocínio exporei contas e textos de lei. Quanto a
esses, evitarei o juridiquês ao máximo; quanto àquelas, transmitirei em
gráficos e tabelas os resultados para facilitar a compreensão.
 
O rumo que tomei pode ou não ser bom para você, leitor. Como veremos, há
inúmeros fatores que influenciam da decisão, do momento do ingresso no
serviço público à tolerância ao risco. Ao transpor minha experiência para o
livro, espero que você não tenha que passar pelo que passei na busca de
informação para ter instrumentos necessários à decisão. Não prometo paz de
espírito nenhuma, tampouco comentários estilo “autoajuda” que lhe trarão
consolo. Não espere frases como “a vida vai te ajudar a decidir”. A vida não
faz contas nem conhece a lei. Se busca por esse tipo de conselho, melhor
parar por aqui. Garanto, porém, informação e sinceridade absolutas. Lasciate
ogni speranza voi che entrate, diria Dante.
 
Um último aviso: minha opinião aqui é simplesmente minha opinião. Nada
do que for escrito no livro tem qualquer relação com minha atuação
profissional. Boa leitura!
Lista de ilustrações e tabelas
 
Gráfico 1 - Gráfico 1 – Evolução INPC
Gráfico 2 - Aumentos do salário-mínimo e do valor do teto
Gráfico 3 - Contribuição previdenciária antes e depois da migração
Gráfico 4 - Imposto de renda antes e depois da migração
Gráfico 5 - Imposto de renda com e sem aporte em PGBL
Gráfico 6 - Alíquotas de Imposto de Renda
Gráfico 7 - Alíquotas regressivas do imposto de renda nos fundos de
previdência
Gráfico 8 – Expectativa de vida nas tábuas AT-83 e RP2000
Tabela 1 – Data da posse e migração de regime
Tabela 2 – Alíquotas e base de cálculo do imposto de renda
Índice
 
1. O regime de previdência complementar e a migração: você está entre
os que podem escolher?
2. Aspectos a serem analisados para a migração
3. O benefício especial: forma de cálculo e o erro da administração
pública.
3.1. O que é o benefício especial
3.2. O erro de cálculo
3.3. O método do cálculo do benefício especial: o art. 3°,
“caput” e §3° da Lei 12.618/13 O teto do INSS
3.4. O art. 40, §9° da Constituição Federal quanto à
equiparação do tempo de contribuição federal, estadual e
municipal para efeito de aposentadoria A contribuição
previdenciária após a migração
3.5. O art. 40, §10, da CF/88 e da proibição de se estabelecer
qualquer forma de tempo de contribuição fictício e do
enriquecimento sem causa
3.6. A ofensa à isonomia
3.7. Conclusão sobre o cálculo
3.8. O reajuste do benefícioespecial
3.9. Benefício especial: direito adquirido?
4. O teto do Regime Geral de Previdência Social
5. Reflexos tributários da migração para o servidor: a contribuição
previdenciária e o imposto de renda.
5.1. A redução do pagamento de tributos para os aposentados
pelo regime de previdência complementar
5.2. Efeitos da migração para o servidor da ativa: a
diminuição da contribuição previdenciária e o aumento do
imposto de renda.
6. A pensão por morte e a aposentadoria por invalidez
6.1. A proteção do regime próprio e a do regime de
previdência complementar
6.2. A necessidade de contratar um seguro
7. Vantagens e desvantagens de aderir a um dos planos de benefício da
FUNPRESP
7.1. Noções gerais do funcionamento da FUNPRESP
7.2. As desvantagens de aderir
7.3. Por que eu não aderi a FUNPRESP-JUD?
8. Como migrar: aspectos operacionais
9. Migrei, e agora? Onde investir?
10. Conclusão
Capítulo 1 – O regime de previdência
complementar e a migração: você está entre os que
podem migrar ?
 
A possibilidade ou não de migrar de regime está relacionada à data de
ingresso nos quadros do serviço público federal. Se a posse se deu antes da
criação da Fundação de Previdência Complementar - FUNPRESP ligada ao
órgão que você integra, e se você ganha mais do que o teto do regime geral
de previdência social, poderá migrar.
 
De acordo com o art. 40, § 16, da CF/88 “somente mediante sua prévia e
expressa opção, o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor
que tiver ingressado no serviço público até a data da publicação do ato de
instituição do correspondente regime de previdência complementar”. Muitos,
equivocadamente, imaginam que o ato de instituição corresponde a Lei
12.618/12, que regulamentou a previdência complementar e foi publicada em
02 de maio de 2012. Para esses, todos os que entraram antes da vigência da
lei no serviço público poderiam optar por migrar. Não é isso que a legislação
prevê.
 
O art.1° da Lei 12.618/12 dispõe que “é instituído, nos termos desta Lei, o
regime de previdência complementar a que se referem os §§ 14, 15 e 16 do
art. 40 da Constituição Federal para os servidores públicos titulares de cargo
efetivo da União, suas autarquias e fundações, inclusive para os membros do
Poder Judiciário, do Ministério Público da União e do Tribunal de Contas da
União”. No parágrafo primeiro desse artigo determina-se que “os servidores e
os membros que tenham ingressado no serviço público até a data anterior ao
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40�14
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40�15.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40�16
início da vigência do regime de previdência complementar poderão, mediante
prévia e expressa opção, aderir ao regime de que trata este artigo, observado
o disposto no art. 3° desta lei”. No art. 33 da Lei 12.618/12 afirma-se que a
lei entrará em vigor, quanto ao disposto no capítulo I – que trata da migração
- na data em que forem criadas as entidades de que trata o art. 4°. Tais
entidades são a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público
Federal do Poder Executivo (Funpresp-EXE), a Fundação de Previdência
Complementar do Servidor Público Federal do Poder Legislativo (Funpresp-
LEG), e a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público
Federal do Poder Judiciário e do Ministério Público (Funpresp-JUD). 
 
A constituição e o funcionamento de qualquer entidade fechada de
previdência depende, segundo a Lei 12.154/09 e o art. 33 da Lei
Complementar 109/2001 de autorização da Superintendência Nacional de
Previdência Complementar - PREVIC , a qual há de ser publicada no Diário
Oficial da União. A portaria com a aprovação da PREVIC dos planos de
benefício dos servidores do Executivo foi publicada somente em 4 de
fevereiro de 2013(Portaria MPS/PREVIC/DITEC Nº 44); em 07 de maio de
2013, para os servidores do Poder Legislativo e do TCU(Portaria
MPS/DITEC/PREVIC 239/2013); e em 14 de outubro para os do Poder
Judiciário, MPU e Conselho Nacional do MP(Portaria MPS/DITEC/PREVIC
nº 559/2013).
 
Direto ao ponto
 
Na tabela abaixo são expostas as datas limites da posse no serviço publico
federal daqueles que podem migrar de regime
Tabela 1 – Data da posse e migração de regime
 
 
 
 
 
Capítulo 2 - Aspectos a serem analisados para a
migração
 
Na apresentação, adiantei algumas das perguntas que devem ser respondidas
por quem pretende decidir se vale a pena ou não migrar. Voltemos a elas.
 
1) Se migrar, como será composta minha aposentadoria?
 
A aposentadoria dos que migrarem será composta necessariamente pelo
benefício especial e pelo teto do Regime Geral de Previdência Social. Aos
que optarem pela adesão à FUNPRESP, os investimentos nela realizados
também comporão a aposentadoria. Diga-se o mesmo sobre os frutos de
quaisquer outros investimentos feitos ao longo da vida.
 
2) É mais arriscado migrar ou permanecer no regime próprio de
previdência?
 
Essa resposta depende da situação individual de cada um. O maior risco para
quem não migrar é o de alteração do regime jurídico da aposentadoria. Claro
que quanto menos tempo faltar para se aposentar, menor o risco. Esse é
infinitamente menor para quem está a um ano da aposentadoria do que para
aqueles, como eu, que estão a 20 anos dela, nas regras atuais. 
 
Já que os servidores públicos federais são sempre a “Geni” da previdência
pública, o risco de aqueles que permanecerem no regime próprio passarem
por diversas reformas antes de aposentar não é pequeno. Nada impede que o
tempo de contribuição ou a idade de aposentadoria sejam aumentados (vide
Proposta de Emenda Constitucional 287, que pretende aumentar para 65 anos
a idade mínima para homens e 60 a idade mínima para mulheres), ou que a
alíquota da contribuição previdenciária seja elevada. Lembremos que a
Medida Provisória 805/2017, suspensa por decisão do STF em 18 de
dezembro, previa alíquota de 14% - muito maior que os 11% atuais - para os
servidores que ganhassem acima de R$ 5.000,00 .
 
3) Como garantir que a paridade e integralidade aos que ingressaram antes
da EC 41/2003 será mantida?
 
Não há como garantir. Ainda que elas sejam preservadas, há o risco da
remuneração dos da ativa ser composto por itens que não se refletem nas
aposentadorias, como verbas indenizatórias (auxílio-moradia, por exemplo),
incentivos por eficiência ou honorários advocatícios (no caso da advocacia
pública). Nessa hipótese, a paridade e integralidade serão puramente
ilusórias. Tem-se ainda o risco de ausência de reajuste, que, embora previsto
constitucionalmente, tem sido sistematicamente negado a determinadas
categorias como membros do Ministério Público(MP) e do Judiciário.
 
Não se deve ignorar o risco de mudança no cálculo da média dos salários de
benefício de quem entrou no serviço público entre 2004 e 2013. Hoje, levam-
se em conta as 80% maiores remunerações. Na PEC 287, propõe-se que
sejam consideradas todas as remunerações, o que fará a média, e
consequentemente a aposentadoria, cair. Afinal, é natural que comecemos
nossa vida profissional ganhando pouco. Se os 20% menores salários hoje
são excluídos da conta da média aritmética que servirá de base para a
aposentadoria, em pouco tempo poderão ser incluídos.
 
4) Os que migrarem enfrentarão outro tipo de incerteza: a do mercado. Com
o dinheiro que deixa de ser descontado da contribuição previdenciária,
conseguirei fazer investimentos adequados a meus objetivos? Terei
conhecimento e disciplinas suficientes para investir? Se não os tiver, a
adesão ao FUNPRESP poderá me auxiliar?
 
Para quem não tiver disciplina nenhuma, a FUNPRESP pode ser uma boa
alternativa sim, já que não será preciso esforço algum para investir.
Vantagens e desvantagens da adesão à FUNPRESP serão abordadas no
capítulo 7.
 
Particularmente, considero que conhecimento se adquire e que disciplina não
é uma questão de escolha, masde necessidade. Acho perfeitamente possível a
qualquer servidor público obter a educação financeira necessária para que
consiga fazer os investimentos apropriados a suas estratégias. No meu caso, a
primeira providência após o depósito do salário é investir o montante que
considero necessário para a aposentadoria. O servidor tem liberdade plena
para investir esse dinheiro. Abordarei com vagar o que resolvi fazer no
capítulo 9.Você poderá, por exemplo, tomar o caminho da maioria e aplicar
num fundo de previdência privado, de olho no benefício tributário. Retira-se
da base de cálculo do imposto de renda aquilo que for aplicado no fundo de
previdência, até o limite de 12% da renda. Em outros termos: você não
pagará IR sobre os valores que investir na previdência.
 
Muita atenção com a escolha do fundo de previdência para não cair em
nenhuma armadilha. Confira sempre as taxas que incidem sobre a aplicação.
Via de regra, cobram-se taxas de carregamento (um percentual sobre cada um
de seus aportes) e taxas de administração (um percentual sobre o montante
total aplicado). Prefira os planos que não cobram carregamento e de taxa de
administração baixa, de preferência menor que 1%. A imensa maioria dos
fundos investe somente em títulos de tesouro direto, o que não justifica
cobrança de altas taxas de administração.
 
Com a SELIC a menos de 7% ao ano, a taxa de carregamento e a de
administração dos fundos mais conservadores podem ser suficientes para
tornar seus rendimentos inferiores aos da poupança. Preste atenção na
tributação. Caso precise resgatar o dinheiro total aplicado com menos de dois
anos de investimento, pagará Imposto de Renda de 35% sobre o total
investido, e não sobre o lucro. No meu caso, optei por um fundo agressivo
sem taxa de carregamento.
 
A FUNPRESP pode ser um bom parceiro – não foi o caminho que segui, é
bom que se diga – para os que acham que a disciplina e o conhecimento não
lhe são possíveis. Os que aderem a FUNPRESP terão percentual que
escolherem, até o máximo de 8,5%, descontados do salário e investidos
automaticamente.
 
Note-se que os questionamentos quanto aos investimentos referem-se
somente a uma das três parcelas da aposentadoria de quem migrar. Outras
duas estarão garantidas: o benefício especial e o teto do INSS, que serão
tratados em capítulos próprios.
 
 
5) O que vai acontecer com as contribuições já feitas se eu migrar?
 
O melhor dos mundos seria a devolução integral das contribuições. Esqueça.
Isso não vai acontecer, por vedação expressa da lei (art.3°, §8°). Você já deve
ter ouvido várias vezes que o regime de previdência é “contributivo e
solidário”. Por ser o regime solidário, você, servidor público, paga não só
para você se aposentar mas também para os outros se aposentarem. Assim,
parte de suas contribuições serão perdidas. O restante lhe será devolvido por
meio do pagamento do benefício especial, calculado segundo o valor das
contribuições já pagas e o tempo de contribuição. O benefício especial e sua
forma de cálculo serão tratados no capítulo 3.
 
6) Como serão reajustados o benefício especial e o teto do INSS?
 
Serão reajustados pelo INPC. Segundo o art. 3°, §6°, da Lei 12.618/12, o
benefício especial será atualizado pelo mesmo índice aplicável ao benefício
de aposentadoria ou pensão mantido pelo regime geral de previdência social.
Já o 41-A da Lei 8.213/01 assegura que o valor dos benefícios em
manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do
salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do
último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor
- INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE.
 
7) Qual o impacto no imposto de renda da redução da contribuição
previdenciária?
 
Ao pagar contribuição previdenciária menor, os que migrarem pagarão mais
imposto de renda. No capítulo 5 tema será abordado a fundo.
 
8) Quando poderei gozar o benefício especial?
 
Somente quando se aposentar.
 
10) Se eu migrar e depois me exonerar sem ter cumprido os requisitos para
me aposentar, perco direito ao benefício especial?
 
Sim, perde. Somente os que se aposentarem terão direito ao benefício
especial. 
 
11) Como ficarão a pensão por morte e a aposentadoria por invalidez?
 
Esse é um dos temas mais caros aos que se encontram diante do dilema da
migração. No capítulo 6 a questão será respondida.
 
12) Precisarei fazer seguro de vida?
 
Depende do tamanho do seu benefício especial e da segurança que você
deseja para sua família. Maiores informações podem ser encontradas no
capítulo 6.
 
13) Até quando posso migrar?
 
Até 28 de julho de 2018, segundo o art. 92 da Lei 13.328/16.
 
 
14) Qual o risco político de permanecer no Regime Próprio?
 
Há alguns. A cúpula das carreiras, em algumas décadas, será composta por
pessoas que ingressaram já sob e égide do regime de previdência
complementar. Provavelmente, o interesse deles por aumento de subsídios
que impactem a aposentadoria de quem se aposentou no regime próprio será
pequeno. Afinal, para toda a classe na ativa será paga pela União sempre o
teto do RGPS. Outro risco político é a pouca força em vista da escassez dos
números. Os aposentados pelo regime próprio serão raros. Componentes de
um grupo pequeno, terão força de pressão bastante reduzida diante de
instâncias como o congresso. O terceiro risco nasce da pressão constante por
reformas na previdência dos servidores públicos, taxados injustamente de
privilegiados. Quem permanecer no regime geral, enfrenta risco perene de
aumento da alíquota previdenciária e de idade de aposentadoria, dentre
outros.
Capítulo 3 - O benefício especial: forma de cálculo e
o erro da administração pública
 
3.1. O que é o benefício especial?
 
Conhecer o benefício especial é o primeiro passo para analisar se vale a pena
ou não migrar. Já sabemos que quem migrar terá direito a ele. De acordo com
o art. 3°, §1°, da Lei 12.618/12, o benefício especial é calculado “com base
nas contribuições recolhidas ao regime de previdência da União, dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios de que trata o art. 40 da Constituição
Federal, observada a sistemática estabelecida nos §§ 2° e 3° deste artigo e o
direito à compensação financeira de que trata o § 9º do art. 201 da
Constituição Federal, nos termos da lei”. Conforme o §2° do art. 3° da Lei
12.618/12, o benefício especial será “equivalente à diferença entre a média
aritmética simples das maiores remunerações anteriores à data de mudança do
regime, utilizadas como base para as contribuições do servidor ao regime de
previdência da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios,
atualizadas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo
desde a competência julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se
posterior àquela competência, e o limite máximo a que se refere o caput deste
artigo, na forma regulamentada pelo Poder Executivo, multiplicada pelo fator
de conversão”. Difícil de entender, não? Traduzamos.
 
Primeiramente, levantam-se as remunerações que serviram como base para as
contribuições do servidor ao regime da previdência da União, dos Estados, do
DF e dos Municípios. Após, faz-se a atualização pelo IPCA. Em seguida,
estabelece-se a média aritmética simples das 80% maiores remunerações. O
passo posterior é subtrair dessa média o teto de aposentadoria do Regime
Geral de Previdência Social. Por fim, multiplica-se o resultado dessa
subtração pelo fator de conversão definido no art. 3º, §3º, da Lei
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art201�9
12.618/2012. Esse fator equivale à divisão do tempo de contribuição efetivo,
em meses, pelo tempo de contribuição que deveria ser cumprido para a
aposentadoria integral, também em meses. Eis o que reza o art. 3º, §3º, da Lei
12.618/2012:
O fator de conversão de que tratao §2o deste artigo, cujo resultado é limitado ao
máximo de 1 (um), será calculado mediante a aplicação da seguinte fórmula:
FC = Tc/Tt
Onde:
FC = fator de conversão;
Tc = quantidade de contribuições mensais efetuadas para o regime de previdência
da União de que trata o art. 40 da Constituição Federal, efetivamente pagas pelo
servidor titular de cargo efetivo da União ou por membro do Poder Judiciário, do
Tribunal de Contas e do Ministério Público da União até a data da opção;
Tt = 455, quando servidor titular de cargo efetivo da União ou membro do Poder
Judiciário, do Tribunal de Contas e do Ministério Público da União, se homem, nos
termos da alínea “a” do inciso III do art. 40 da Constituição Federal;
Tt = 390, quando servidor titular de cargo efetivo da União ou membro do Poder
Judiciário, do Tribunal de Contas e do Ministério Público da União, se mulher, ou
professor de educação infantil e do ensino fundamental, nos termos do § 5º do art.
40 da Constituição Federal, se homem;
Tt = 325, quando servidor titular de cargo efetivo da União de professor de
educação infantil e do ensino fundamental, nos termos do § 5º do art. 40 da
Constituição Federal, se mulher.
Imaginemos que Maria assumiu o cargo de auditor da receita federal, seu
primeiro emprego, em janeiro de 2006 e que em 20 de janeiro de 2018 ela
resolveu migrar. Vamos considerar que a média das 80% maiores
remunerações, atualizadas pelo IPCA, seja de R$ 19.000,00. Desse valor
devemos subtrair o valor do teto do INSS, aproximadamente R$ 5.650,00.
Teríamos, portanto R$ 13.350,00. O fator de conversão equivale 0,4,
resultado da divisão de 156(número de contribuições em 12 anos) por
390(número de contribuições totais para se aposentar). O benefício especial,
portanto, seria igual a:
R$ 13.350,00 x 0,4 = R$ 5.340,00
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40�5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40�5
 
Assim, Maria, se migrar, terá direito a um benefício especial de R$ 5.340,00,
mais o teto do INSS (R$ 5.650,00) e o que conseguir capitalizar de seus
investimentos. Ou seja, Maria terá garantidos, pela União, R$ 10.990,00.
Veja-se que o benefício especial pode ser bastante alto se o tempo de
contribuição for grande. Por isso, deve-se ver com reservas a tese de que
quem tem muito tempo de contribuição não deve migrar. O fator de
conversão, no limite, pode chegar a 1, o que significa que a soma do
benefício especial com o teto do regime geral seria equivalente à média de
80% do maiores salários. Acrescente-se que a redução de contribuição
previdenciária de 11% sobre o todo para 11% sobre o teto do regime
geral(ou R$ 621,03) gerará saldo relevante para o servidor. Vemos, assim,
que é possível vislumbrar vantagens na migração mesmo para quem tem
muitos anos de contribuição para o regime próprio.
 
3.2. O erro de cálculo
 
A conta de Maria não enfrentou maiores problemas porque todo o tempo de
contribuição considerado relaciona-se a órgãos da União. Acontecem
dificuldades quando o servidor passou por cargos em Estados, Municípios e
DF antes de ingressar nos quadros federais. Nessa hipótese, a administração
pública federal tem se equivocado ao calcular o benefício especial. Embora
considere todo o tempo no serviço público para determinar a média dos 80%
maiores salários de contribuição, tem levado em conta apenas o número de
contribuições para a União na apuração da quantidade de contribuições que
compõem o fator de conversão. Desconsiderar a quantidade de contribuições
para todos os entes da federação impacta o fator de conversão, reduzindo-o
indevidamente, o que faz com que o benefício especial calculado também
seja menor que o devido. Como se demonstrará a seguir, a legislação exige
outra maneira de se fazer o cálculo.
3.3. O método de cálculo do benefício especial: o art. 3º,
“caput” e §3º, da Lei 12.618/2012.
 
Os adeptos da tese aqui combatida fundamentam-na em interpretação
equivocada do art. 3º, §3º, da Lei 12.618/2004. Bastaria a justificar a
exclusão das contribuições a entes diversos da União o fato do art. 3º, §3º,
prever que o TC, dividendo da operação para chegar ao fator de conversão, é
igual a “quantidade de contribuições mensais efetuadas para o regime de
previdência da União de que trata o art. 40 da Constituição Federal,
efetivamente pagas pelo servidor titular de cargo efetivo da União ou por
membro(...) do Ministério Público da União até a data da opção”. Tal
interpretação ignora o “caput” do citado art. 3º, a Lei 10.887/04, os arts. 40 e
201 da Constituição Federal, além do princípio da isonomia. Vejamos.
 
É regra de hermenêutica que os parágrafos de qualquer artigo devem ser
interpretados segundo seu “caput”. O “caput” do art. 3º, que prevê o
benefício especial, reza o seguinte:
Aplica-se o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social às aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de
previdência da União de que trata o art. 40 da Constituição Federal, observado o
disposto na Lei n. 10.887, de 18 de junho de 2004, aos servidores e membros
referidos no caput do art. 1º desta Lei que tiverem ingressado no serviço público.
 
A lei 10.887/04 referida no “caput”, de seu turno, assevera, no art. 1º, que
Art. 1o. No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo
efetivo de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, previsto no § 3º do art. 40 da
Constituição Federal e no art. 2º da Emenda Constitucional no 41, de 19 de
dezembro de 2003, será considerada a média aritmética simples das maiores
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.887.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.887.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui�ao.htm#art40�3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui�ao.htm#art40�3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art2
remunerações, utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes
de previdência a que esteve vinculado, correspondentes a 80% (oitenta por cento) de
todo o período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde a do início
da contribuição, se posterior àquela competência.
 
O art. 1º da Lei 10.887/04 é claro ao não diferenciar o tempo de contribuição
do servidor de nenhum regime próprio de previdência a que esteve vinculado.
Em outros termos: basta ao servidor ter sido titular de cargo efetivo em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados do DF e dos Municípios, para
que seu tempo de contribuição em todos os entes federativos seja
considerado. Se esse é o norte dado pelo “caput” do art. 3º, que prevê o
benefício especial, como imaginar que as normas extraídas de qualquer dos
parágrafos seguintes rumariam para direção diversa? O parágrafo primeiro
segue a trilha traçada pelo “caput”:
§1º - É assegurado aos servidores e membros referidos no inciso II do caput deste
artigo o direito a um benefício especial calculado com base nas contribuições
recolhidas ao regime de previdência da União, dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios de que trata o art. 40 da Constituição Federal, observada a
sistemática estabelecida nos §§ 2o a 3o deste artigo e o direito à compensação
financeira de que trata o § 9º do art. 201 da Constituição Federal, nos termos da lei.
 
Conforme o parágrafo primeiro, o benefício especial deve ser calculado com
base nas contribuições recolhidas ao regime de previdênciada União, dos
Estados do DF e dos Municípios de que trata o art. 40 da CF/88. Logo,
evidente que tais contribuições, recolhidas a qualquer ente da federação, não
podem ser ignoradas em nenhum dos aspectos relevantes ao cálculo do
benefício especial. Dentre esses estão incluídos não só a média da 80%
maiores contribuições, mas também o fator de conversão.
 
O trecho final do parágrafo primeiro faz referência ao art. 201, §9° da CF,
segundo o qual “para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art201�9
recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade
privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência
social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em
lei”. Se não se pode excluir da contagem o tempo de nenhum dos regimes,
devendo os diversos regimes se compensarem financeiramente, a expressão
“quantidade de contribuições mensais efetuadas para o regime da previdência
da União” do art. 3º, §3º não corresponde à “quantidade contribuições pagas
diretamente a União”. Na realidade, as contribuições que foram, num
primeiro momento, pagas pelo titular de cargo efetivo da União a outros
regimes quando a eles vinculado, serão repassadas para a União por meio da
compensação. Tais contribuições poderão ser consideradas, portanto,
“efetuadas para o regime da previdência da União”, mesmo que tenham sido,
outrora, pagas a regimes diversos.
 
3.4. O art. 40, §9º, da Constituição Federal quanto à
equiparação do tempo de contribuição federal, estadual e
municipal para efeito de aposentadoria
 
A parte do art. 3º, §3º, que define o fator de conversão faz referência ao
regime de previdência da União tratado no art. 40 da Constituição Federal, o
qual, no §9º, determina que o tempo de contribuição federal, estadual ou
municipal será contado para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço
correspondente para efeito de disponibilidade. Por sua vez, §3º do art. 40
estipula que “para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por ocasião da
sua concessão, serão consideradas as remunerações utilizadas como base para
as contribuições do servidor aos regimes de previdência de que tratam este
artigo e o art. 201, na forma da lei”. Já que, segundo a CF, para efeito de
aposentadoria devem ser considerados tanto o tempo de contribuição federal,
estadual ou municipal quanto as remunerações utilizadas como base para
contribuição a todos os regimes de previdência, é claramente inconstitucional
interpretação que afasta do cálculo do fator de conversão do benefício
especial o tempo de contribuição a entes estaduais e municipais. Afinal, o
benefício especial é elemento acessório à aposentadoria - só gozado quando
ela for implementada - e seguirá as normas que a regulam.
 
Acrescente-se que a fórmula do benefício especial busca levar em conta o
tempo faltante para a aposentadoria, pois apresenta, como divisor, o total de
contribuições que deveriam idealmente ser feitas nos regimes próprios (13 x
35 para homens e 13 x 30 para mulheres). Uma vez que se consideram no
divisor todas as contribuições que deveriam ser feitas para os regimes
próprios, por que motivo deveriam ser ignoradas no dividendo todas as
contribuições efetivamente pagas a eles?
 
3.5. O art. 40, §10, da CF/88, a proibição de se estabelecer
qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício
e o enriquecimento sem causa
 
Ignorar o tempo de contribuição de entes diversos da União é ofender, às
avessas, a proibição de tempo fictício de contribuição consagrada no art. 40,
§10, da CF, de acordo com o qual a lei não poderá estabelecer qualquer
forma de contagem de tempo de contribuição fictício. Tal proibição serve não
só à proteção da Administração Pública, mas também ao trabalhador em
relação a abusos dessa. Desprezar totalmente a quantidade de contribuições
estaduais, municipais e distritais, como a interpretação ora atacada pretende,
é afirmar inexistente, ou fictício, tempo de contribuição efetivamente
transcorrido. A adoção dessa tese gera o enriquecimento sem causa do ente
público, pois reduz ilicitamente o benefício especial, o qual constitui
consequência das contribuições efetivamente pagas pelo servidor antes da
migração.
 
Não é demais lembrar que o a Lei 9.796/99, no art. 8º-A e o art. 201, §9° da
CF estabelecem, nos casos de contagem recíproca de tempo de contribuição
para efeito de aposentadoria, a compensação entre os regimes próprios.
Assim, havendo mudança de regime próprio, o regime de origem repassará ao
regime instituidor a compensação devida. A prevalecer a posição que ignora
o tempo de contribuição a estados, municípios e Distrito Federal, acontecerá
uma de duas possibilidades: a) a União, apesar de receber a compensação,
não a utilizará para pagar o devido, o que lhe enriquecerá ilicitamente; b)
Estados e Municípios não repassarão a compensação nem a União a usará, o
que gerará o enriquecimento ilícito daqueles.
 
O formato de cálculo aqui atacado gerará injustiças gritantes. Imaginemos
duas pessoas com o mesmo salário de contribuição (consideremos R$
7.000,00). Pedro foi analista do Tribunal de Justiça de São Paulo por 10 anos
e passou para o concurso de procurador da Fazenda Nacional nem janeiro de
2013. João foi analista do MPU por iguais 10 anos e foi aprovado no mesmo
concurso. Ambos resolveram fazer a migração assim que empossados em
janeiro de 2013. O benefício especial de Pedro será zero. O de João, R$
2.163,97. Esse valor corresponderá à diferença mensal na parte da
aposentadoria deles pagas pela administração pública federal. É como se
Pedro nunca tivesse contribuído por tempo algum, embora na realidade o
tenha feito por 10 anos.
 
3.6. Da ofensa à isonomia
 
A tese aqui combatida ainda ofende gravemente o princípio da isonomia. Isso
porque o art. 22 da Lei 12.618/12 expressamente permite a contagem do
tempo de contribuição estadual, distrital ou municipal aos que ingressarem
em cargo público federal a partir da instituição do regime de previdência
complementar, nos termos que se seguem:
Art. 22. Aplica-se o benefício especial de que tratam os §§ 1o a
8o do art. 3o ao servidor público titular de cargo efetivo da
União, inclusive ao membro do Poder Judiciário, do
Ministério Público e do Tribunal de Contas da União, oriundo,
sem quebra de continuidade, de cargo público estatutário de
outro ente da federação que não tenha instituído o respectivo
regime de previdência complementar e que ingresse em cargo
público efetivo federal a partir da instituição do regime de
previdência complementar de que trata esta Lei, considerando-
se, para esse fim, o tempo de contribuição estadual, distrital ou
municipal, assegurada a compensação financeira de que trata o
§ 9° do art. 201 da Constituição Federal.
 
Se aquele que ingressa nos quadros do serviço público federal após a
instituição do regime de previdência complementar pode ter considerado no
cálculo do benefício especial o tempo de contribuição em outros entes, por
que motivo os que estavam no serviço púbico federal antes não poderiam
fazê-lo? O fator de diferenciação não tem qualquer relação com tratamento
diferenciado, o que evidencia a existência da ofensa à igualdade consagrada
no art. 5º, “caput”, da CF/88. Que relação tem a data de ingresso no serviço
público federal com a possibilidade de se considerar tempo de contribuição
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art201�9
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art201�9
para todos os entes da federação? Absolutamente nenhuma.
 
3.7. Conclusão sobre o cálculo
 
Parece claro que a União deve levar em conta o tempo de contribuição
estadual, federal, distrital ou municipal no cálculo do fator de conversão
previsto no art. 3º, §3º, da Lei 12.816/12. Ao não fazê-lo, prejudica
servidores públicos e adota a interpretação que : a) ignora o “caput”e o §1º
art. 3º da Lei 12.816/12; b) viola os artigos 40, §9º e 10, e 201, §9º, da
Constituição Federal; c) ofende a isonomia consagrada no art. 5º, “caput” da
CF/88.
 
Para os servidores que desejam migrar, recomenda-se pedir o quanto antes o
cálculo do benefício especial ao órgão a que está vinculado e começar a
debater, desde já, a correção desse cálculo. Se não conseguir a mudança de
postura pelas vias administrativas, o Judiciário é a melhor saída, em ação em
face da União fundada nos argumentos aqui expostos. 
 
3.8. O reajuste do benefício especial
 
O art. 3 ° , §6 ° , da Lei 12.618/12 estabelece que o benefício especial
calculado será atualizado pelo mesmo índice aplicável ao benefício de
aposentadoria ou pensão mantido pelo regime geral de previdência social.
Dispõe o art. 41-A da Lei 8.213/01 que o valor dos benefícios ou pensões
serão reajustados anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo,
com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, apurado pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
 
Assim, feita a opção pela migração, o valor do benefício especial calculado
naquele momento passará a ser reajustado pelo INPC – Índice Nacional de
Preços ao Consumidor, índice aplicado aos benefícios do regime geral de
previdência social que ultrapassam o salário mínimo. Normalmente, o
aumento se dá no primeiro mês do ano. Em 2018, Portaria do Ministério da
Fazenda publicada em 11 de janeiro determinou o reajuste de 2,07%,
correspondente ao INPC. Abaixo, gráfico com a evolução do INPC nos
últimos 05 anos
 
Nos últimos anos, a União tem desrespeitado sistematicamente a previsão
constitucional acerca dos reajustes anuais dos servidores públicos. A
prevalecer essa postura inconstitucional, é mais vantajoso ter reajuste do
benefício especial (e do teto do INSS) pelo INPC do que ter a aposentadoria
vinculada aos reajustes dos servidores da ativa. A razão disso é que esses, na
última década, têm sido muito menores para algumas categorias, como
membros do MP e da Magistratura, que o INPC. Vê-se, assim, que a garantia
da paridade, quando o subsídio dos servidores da ativa não são reajustados
nos termos da lei, deixa de ser um ponto positivo a ser considerado pelos que
não desejam migrar de regime previdenciário.
 
3.9 Benefício especial: direito adquirido ?
 
Uma das grandes dúvidas de quem pensa em migrar gira em torno do futuro
benefício especial. Poderia ele ser simplesmente revogado após a migração?
A forma de cálculo poderia ser alterada para prejudicar quem migrou? O
benefício especial seria parte de um regime jurídico que poderia ser, portanto,
alterado a qualquer tempo, já que ninguém tem direito a regime jurídico,
segundo o STF?
 
Ainda que haja tentativa de alteração de tais vantagens, as chances de defesa
judicial são bastante altas, em vista da proteção constitucional à segurança
jurídica consagrada no (art. 5°, XXXVI, da CF).
 
Não será possível, a meu ver, afirmar que o direito ao benefício especial é
direito a mero regime jurídico para permitir alterações. Estamos a tratar de
valor composto por contribuições já feitas e que foi oferecido como
contraprestação à mudança de regime. Como a opção pela migração é
irretratável, a vantagem ofertada também não pode ser modificada. É
essencial proteger a confiança legítima depositada pelo servidor que migrou e
a segurança jurídica. Haveria, com o cancelamento do benefício especial 
reversão de expectativa intolerável. O ato de migração é ato jurídico perfeito,
consumado por manifestação de vontade segundo a lei vigente ao tempo em
que se efetuou, na expressão empregada pelo art. 6°,§1°, da Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro .
 
Aos que consideram que há risco demais envolvendo o benefício especial,
peço-lhes que façam um exercício a que me submeti antes de me decidir pela
migração. Primeiro, imaginem que vocês precisam defender a estabilidade do
benefício especial e a estabilidade do regime próprio de previdência para
evitar alterações nas regras que lhe sejam extremamente prejudiciais. Em
seguida, responda esta questão: em quais das duas hipóteses você teria maior
chance de sucesso?
Capítulo 4 - O teto do Regime Geral de Previdência
Social
 
Conforme o art. 3°, II, da Lei 12.816/12, “aplica-se o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social às
aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de previdência da
União de que trata o art. 40 da Constituição Federal, observado o disposto na
Lei no 10.887, de 18 de junho de 2004, aos servidores e membros referidos
no caput do art. 1° desta Lei que tiverem ingressado no serviço público até a
data anterior ao início da vigência do regime de previdência complementar de
que trata o art. 1° desta Lei, e nele tenham permanecido sem perda do vínculo
efetivo, e que exerçam a opção prevista no § 16 do art. 40 da Constituição
Federal”. Não entendeu? Esclareçamos.
Não se pode esquecer que além do benefício especial, quem migrar para o
regime de previdência complementar, ganhará, ao se aposentar, o teto do
Regime Geral de Previdência Social. Em 2018, o teto foi fixado em R$
5.645,80. Tal valor será corrigido de forma diversa do salário-mínimo, cujo
fator de reajuste é composto por uma fórmula que envolve o INPC e o
crescimento do PIB no biênio. Nos termos do art. 41-A da Lei 8.213/01 o
valor dos benefícios serão reajustados, anualmente, na mesma data do
reajuste do salário mínimo, com base somente no INPC. Analisemos a
evolução do teto de benefício do RGPS e do salário mínimo de 2005 a 2018.
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.887.htm
 
O valor do teto dos benefícios do RGPS saiu de R$ 2.668,15 em 2005 para
R$ 5.645, 80, aumentando, portanto, 111,6%. No mesmo intervalo, o salário
mínimo subiu 318%: de R$ 300,00 a R$ 954,00. Se o reajuste do valor do
teto não foi tão intenso quanto o do salário mínimo, foi muito maior do que
categorias de servidores públicos federais – como os membros do MP e da
Magistratura – receberam.
 
Num quadro histórico em que aumentos dos servidores escasseiam, é
indubitavelmente vantajoso ter parcela dos vencimentos da aposentadoria
sempre agraciada com o reajuste do INPC. Não nos esqueçamos que é a CF,
no art. 201, § 4º , da CF, que assegura o reajustamento dos benefícios para
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real.
Capítulo 5 - Reflexos tributários da migração para
o servidor da ativa e o aposentado: a contribuição
previdenciária e o imposto de renda
 
O servidor aposentado no regime próprio é duramente tributado. Seu
contracheque sofrerá reduções em virtude tanto do imposto de renda - que
pode chegar a 27,00% - quanto da contribuição previdenciária, de 11% no
serviço público federal. Lembremos que a Medida Provisória 805/2017,
suspensa por decisão do STF em 18 de dezembro de 2017, previa alíquota de
14% - muito maior que os 11% atuais - para os servidores que ganhassem
acima de R$ 5.000,00 .
 
5.1. A redução do pagamento de tributos para os aposentados
pelo regime de previdência complementar
 
Se a migração tem uma vantagem que salta aos olhos é a redução dos
tributos. Você já sabe que a aposentadoria de quem migra é composta por três
itens: benefício especial, teto do INSS e, para os que investirem na
FUNPRESP ou fora dela, capitalização dos investimentos. Há isenção da
contribuição quanto ao valor máximo do RGPS, nos termos do art. 195, II, da
CF. Também não incide cobrança previdenciária sobre a capitalização que
você conseguiu em seus investimentos. Por fim, o benefício especial, hoje,
não constitui base de cálculo para fixação do valor da contribuição
previdenciária. Vê-se que se o aposentado no regime próprio sofre com
cobrança de 11% (ou 14%) até falecer, quem se aposentar no regime
complementar não pagará contribuição alguma, mantidas as regras atuais.
Como para o leão todo dia é dia de maldade para o assalariado, em breve obenefício especial fatalmente passará a sofrer o desconto previdenciário.
Ainda assim, as parcelas referentes ao regime geral e à capitalização
escaparão.
 
E o imposto de renda? Quem se aposentar pela previdência complementar
continuará na situação do aposentado no regime próprio, que tem que
enfrentar os 27,5% de IR? Felizmente, não. A tabela do IR continuará
incidindo sobre o benefício especial e o teto do regime geral. No entanto, a
escolha minimamente adequada dos investimentos que comporão a terceira
parte da aposentadoria – a capitalização – farão com que o servidor que
migrar tenha regime tributário menos extorsivo do que os que não o fizerem.
A razão é muito simples: ninguém é tão tributado quanto o assalariado e o
aposentado.
 
As normas que regulam a matéria aqui tratada estão espalhadas em inúmeras
leis. A IN - Instrução Normativa 1585 de 31 de agosto de 2015, da Receita
Federal, compila essa legislação e faz referência às normas de fato aptas a
fixar as bases de cálculos e as alíquotas do IR. Os artigos a seguir citados são
os da IN. 
 
Iniciemos por fundos de renda fixa, compostos, segundo o art. 3º, §2º de
“títulos privados ou públicos federais, prefixados ou indexados a taxa de
juros, a índices de preço ou à variação cambial, ou por operações
compromissadas lastreadas nos referidos títulos públicos federais e por outros
títulos e operações de renda fixa com características assemelhadas”. O IR nos
fundos de renda fixa de longo prazo será de 22,5% sobre o rendimento para
os resgates até 180 dias; 20%, entre 180 e 360 dias; 17,5%, entre 361 e 720
dias; e 15%, após 720 dias(artigos 6° e 8º). Nos de curto, prazo, de 22,5%
para os resgastes até 180 dias e 20% para os posteriores(art. 8º). A mesma
tributação incide sobre os títulos do tesouro nacional e Certificados de
Depósitos de Bancário.
 
Ainda na renda fixa, são isentos de imposto de renda os rendimentos
produzidos por LCIs e LCAs(letras de crédito imobiliário e letra de crédito do
agronegócio), letras hipotecárias, rendimentos de poupança, certificados de
recebíveis imobiliários, certificados de recebíveis do agronegócio, dentre
outros (art. 55).
 
A isenção, ainda nos investimentos de renda fixa, também incidirá sobre os
rendimentos oriundos da chamadas debêntures incentivadas. As debêntures
são títulos emitidos por empresas para captar recursos. As debêntures
incentivadas servem para financiar projetos que o governo considere
prioritários e portanto merecedor de incentivos. As debêntures incentivadas
mais comuns são as emitidas por concessionária ou permissionária de
serviços públicos para captar recursos com vistas a implementar projetos de
investimento na área de infraestrutura ou de produção econômica intensiva
em pesquisa, desenvolvimento e inovação, considerados como prioritários
nos termos do Decreto nº 7.603, de 2011(art. 48, §2º).
 
Vamos à renda variável. Dividendos – distribuição de lucros - são isentos de
tributação. Assim, o servidor que tiver investimentos em ações que geram
bons dividendos ou em fundos de investimento imobiliários, por exemplo,
não pagará imposto de renda algum sobre o que receber. Nos fundos de ações
– aqueles que aplicam ao menos 67% de seus ativos na Bolsa de Valores – a
alíquota é sempre de 15% sobre os rendimentos, pouco importando o tempo
transcorrido entre aporte e resgate(art. 19, III). Nos fundos previdenciários
que investem em ações, a tributação se dá progressivamente sobre o lucro, no
VGBL, e regressivamente sobre o resgate, no PGBL, como já explicado
acima.
 
Não há motivo para preocupação, prezado servidor, se você nunca ouviu falar
de alguns dos investimentos citados acima. Em primeiro lugar, porque
voltarei a falar de alguns deles no capítulo 9. Em segundo, porque minha
intenção em citá-los é simplesmente demonstrar que o regime tributário de
qualquer investidor é melhor do que o do assalariado ou aposentado pelo
regime próprio. Com a exceção do PGBL resgatado em prazo menor que 04
anos, nos demais investimentos citados o cálculo do imposto de renda será
mais favorável que o do aposentado. Se há alguém que sofre com o imposto
de renda no país, é o assalariado e o aposentado. O investidor, papel que terá
que ser assumido pelo servidor que pretende se aposentar pelo regime de
previdência complementar, em verdade, irá se beneficiar de regime tributário
muitíssimo mais favorável que aquele incidente sobre o aposentado do
regime próprio.
 
5.2 – Efeitos da migração para o servidor da ativa: a
diminuição da contribuição previdenciária e o aumento do
imposto de renda.
 
No regime próprio de previdência social, a contribuição previdenciária é de
11% sobre a remuneração. Você já sabe, servidor, que no regime próprio de
previdência você pagará a contribuição de 11% até morrer. Macabro? Sim, e
custoso. Ao migrar para o regime de previdência complementar o servidor
passa a contribuir somente com 11% sobre o teto do regime geral. Migrei em
dezembro do ano passado para o regime complementar, o que fez com que
minha contribuição caísse de R$ 3.184,23 para R$ 621,03. Não, você não leu
errado: como o próximo gráfico demonstra a redução foi mesmo de R$
2.563,17. Seria ainda maior se Medida Provisória 805/2017 não tivesse sido
suspensa por decisão do STF em 18 de dezembro. Ela previa alíquota de 14%
- 27,27% maior que os 11% atuais - para os servidores que ganhassem acima
de R$ 5.000,00 .
 
 
 
A queda dos valores de contribuição descontados do contracheque levará,
fatalmente, ao aumento do recolhimento de imposto de renda, já que os
primeiros eram integralmente subtraídos da base de cálculo do segundo. No
meu caso, o imposto de renda pago cresceu de R$ 6.111,27 para 6.816,15, ou
R$ 704,88.
 
Há alternativas para se precaver contra o aumento do IR: os fundos de
previdência. Existem dois tipos de fundos previdenciários: o PGBL (Plano
Gerador de Benefício Livre) e VGBL(Vida Gerador de Benefício Livre).
Nesse, o imposto de renda incide somente sobre os rendimentos. Naquele,
sobre o total de cada resgate. Se, de um lado, no PGBL a perda com o IR é
maior, de outro ele permite o benefício tributário da dedução dos montantes
investidos da base de cálculo do imposto de renda. Explico.
 
Vimos que a redução da contribuição previdenciária com a minha migração
foi de R$ 2.563,17. O aumento do IR mensal, R$ 704,88. Caso aplique os R$
2.563,17 integralmente naFUNPRESP ou em outro fundo de previdência
PGBL, não sofrerei aumento algum do imposto de renda. A razão disso é que
haverá dedução dos aportes ao fundo da base de cálculo do imposto de renda
até o limite de 12% da renda tributável, como determina o art. 4 ° da Lei
9.250/95 e o art. 11 da Lei 9.532/97. Falei grego? Traduzamos.
 
Imaginemos que minha renda tributável anual seja R$ 200.000,00 e que eu
investi R$ 24.000,00 (ou 12%) num fundo de previdência PGBL. A base de
cálculo do imposto de renda deixa de ser 200 mil e passa a ser 200 mil menos
os 24 mil que aportei, ou R$ 176.000,00. Logo, as alíquotas do imposto de
renda incidirão sobre os R$ 176.000,00 - e não sobre os 200 mil que recebi- ,
o que reduzirá o valora ser pago. Não acredita? À prova, usando as faixas de
imposto de renda fixadas pela Receita Federal para 2018. A tabela de IR,
consideradas os vencimentos mensais e anuais, é esta:
Tabela 2 – Alíquotas e base de cálculo do imposto de renda
 
Considerada a tabela, o imposto de renda de quem tem renda tributável de R$
200.000,00 e não utiliza fundos PGBL será de R$ 44.567,79. De quem o faz,
R$ 37.967,79. Há, portanto, um ganho de quase 7 mil reais nascido das
deduções. Resumamos essas informações num gráfico:
 
 
A dedução no IR será concretizada imediatamente no contracheque para
quem aderir à FUNPRESP, ou via restituição após a declaração anual do IR
para aquele que usar fundos previdenciários outros. Relembrando: benefício
tributário virá somente aos que aderirem ao PGBL, em que a tributação
ocorrerá sempre sobre todo o valor do fundo. Os que optam pelo VGBL não
terão o mesmo benefício. Note-se ainda que a estratégiade buscar a
restituição é mais viável para quem faz a declaração completa de imposto de
renda, já que na simplificada existe limite de dedução de 20% do total de
receitas tributáveis.
 
Como demonstrado, se eu investir todo o meu saldo oriundo da diminuição
da contribuição previdenciária em PGBL receberei de volta tudo o que paguei
mensalmente a mais de imposto de renda. Parece bom, não? No meu caso,
não aplico todo o meu saldo em previdência complementar. Por quê? Por
conta da tabela regressiva de imposto de renda no PGBL. Vamos a ela.
 
Ao aderir a um plano de previdência privado, é necessário optar não só entre
PGBL e VGBL, mas também entre as tabelas de imposto de renda regressiva
e progressiva. Essa funciona segundo a tabela de IR usualmente aplicável aos
salários já exposta acima: quanto maior o saque, maior o pagamento de IR,
até o máximo de 27,5%.
 
 
Passemos à tabela de imposto de renda regressiva. Quanto mais antigo o
investimento, menor será a tributação. As alíquotas variam de 35% a 10%, a
depender do tempo do investimento: o máximo incidirá sobre os
investimentos com menos de dois anos; o mínimo, sobre os com mais de 10.
Eis as alíquotas:
 
 
O usuário do PGBL que resolver resgatar seu investimento – como pretendo
fazer - terá que arcar com essas alíquotas sobre o total dos saques que
realizar. O tempo é contado da data de cada aporte. Assim, ainda que alguém
permaneça por 30 anos num fundo, tudo aquilo investido nos últimos dois
anos será tributado com 35%; de dois a quatro, com 30%; de quatro a seis,
com 25%, e assim por diante. A alternativa é realizar pequenos saques
mensais, os quais recairão preferencialmente sobre os investimentos antigos.
Nessa hipótese, a liquidez do investimento – fator relevantíssimo para mim - 
será prejudicada. Conforme será explicado no capítulo 9, a tributação me fez
escolher com bastante cuidado um PGBL e não aplicar nele todo o meu saldo
da diminuição da contribuição previdenciária conseguida com a migração.
Capítulo 6 – A pensão por morte e aposentadoria
por invalidez
 
6.1. A proteção do regime próprio e a do regime de previdência
complementar
 
Uma das coisas que mais me preocupavam em relação à migração foram os
aspectos relacionados à pensão por morte e à aposentadoria por invalidez.
Com dois filhos pequenos, precisaria garantir a segurança da minha família
se eu falecesse bruscamente ou ficasse inválido. Inicialmente, imaginei que
todas as minhas contribuições em nada influenciariam a pensão e a
aposentadoria por invalidez, o que me obrigaria a contratar um seguro
bastante caro. Enganei-me duplamente: por superestimar a proteção do
regime próprio – sim, você não está tão protegido quanto pensa - e por
subestimar a do regime complementar.
 
Comecemos examinando as definições de aposentadoria por invalidez e
pensão por morte dadas pela Constituição Federal. Determina seu art. 40, §1º,
I, que os servidores públicos serão aposentados “por invalidez permanente,
sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave,
contagiosa ou incurável, na forma da lei.” Ao contrário do que comumente se
diz, a aposentadoria por invalidez, ordinariamente, será proporcional ao
tempo de contribuição. Excepcionalmente, nas hipóteses em que a invalidez
for gerada por moléstia profissional, doença grave, contagiosa, ou incurável
nos termos da lei, os proventos serão integrais.
 
O rol das doenças geradoras da aposentadoria integral está no art. 186, da
Lei 8.112/90, §1º: tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla,
neoplasia maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço público,
hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson, paralisia irreversível e
incapacitante, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados
avançados do mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na
medicina especializada . No Recurso Extraordinário 656.860/MT, o
Supremo Tribunal Federal definiu que esse rol é taxativo, o que significa que
não poderá ser ampliado por mera interpretação. Logo, deve a doença estar
expressamente prevista em lei para que a invalidez por ela gerada tenha como
consequência a integralidade dos proventos de aposentadoria. 
 
Passemos à pensão. O art. 40, § 7º, da CF/88 dispõe que “lei disporá sobre a
concessão do benefício de pensão por morte, que será igual: I - ao valor da
totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo
estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que
trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este
limite, caso aposentado à data do óbito; II - ao valor da totalidade da
remuneração do servidor no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o
limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência
social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela
excedente a este limite, caso em atividade na data do óbito.
 
A regra constitucional para calcular o limite máximo da pensão por morte é:
teto do INSS + 70% do subsídio subtraído do teto do INSS.
 
Em 2015, com a Lei 13.135, houve uma profunda mudança na
regulamentação da pensão por morte dos servidores públicos federais regidos
pela Lei 8.112/90. Criou-se carência de 18 contribuições mensais e de dois
anos de casamento ou união estável para o pagamento da pensão(art. 222 da
Lei 8.112/90), salvo nos casos de morte por acidente ou doença profissional.
Estipularam-se prazos para cessação do benefício aos cônjuges/companheiros
conforme a idade deles na data do óbito. Quanto menor essa, mais curto o
período de gozo. Aquele que tiver menos de 21 anos, receberá a pensão
somente por três anos, por exemplo. O recebimento será vitalício apenas para
o cônjuge/companheiro que tiver mais de 44 anos na data do falecimento do
servidor.
 
Tais mudanças, estabelecidas por lei ordinária, não alteram o disposto nas leis
complementares regedoras de algumas carreiras, como as do membros do
Ministério Público e da magistratura.
 
Traçados os contornos da pensão por morte e da aposentadoria por invalidez,
vamos às conclusões sobre elas. O servidor não está minimamente protegido
em relação à invalidez nascida de moléstias não profissionais ou doenças que
não se incluam no rol legalmente estipulado. Quanto à pensão por morte, os
que foram atingidos pela Lei 8.112 tiveram a proteção extremamente
reduzida, em especial se seu cônjuge tiver menos de 44 anos. Os demais,
desde a reforma promovida pela Emenda Constitucional 41, não deixarão
seus proventos integrais para seus cônjuges ou filhos menores de 21 anos,
mas pensão equivalente a, no máximo, o teto do INSS acrescido de 70% do
subsídio que excedê-lo.
 
Vê-se, pois, que mesmo os que não migrarem para o regime de previdência
complementar deveriam fazer um seguro para aumentar o grau de proteção a
si e à sua família.
 
Aos que migrarem, o art. 3º, §2º, da Lei 12.618/12 esclarece que o benefício
especial será pago pelo órgão competente da União, por ocasião da concessão
de aposentadoria, inclusive por invalidez, ou pensão por morte pelo regime
próprio de previdência da União, de que trata o art. 40 da Constituição
Federal, enquanto perdurar o benefício pago por esse regime. Minhas
contribuições feitas antes da migração, portanto, não serão perdidas.
 
Além do benefício especial, a pensão por morte e a aposentadoria por
invalidez serão compostas pelo teto do INSS, tendo em vista o disposto no
art. 29 e 44 da Lei 8.213/91, e as normas regedoras do regime de previdência
complementar. Isso porque, para os que migram, o conceito de média de
salários de benefício, utilizado pela Lei 8.213/91 para fixar o valor da
aposentadoria por invalidez e da pensão, é o teto do INSS.
 
Consoante o art. 12, §2°, da Lei 12.618/12, os planos de benefícios da
FUNPRESP terão também que assegurar “os benefícios decorrentes dos
eventos invalidez e morte e, se for ocaso, a cobertura de outros riscos
atuariais”. Segundo o regulamento do plano de benefícios do FUNPRESP-
JUD(art. 23), o cálculo da pensão levará em conta o valor já aportado no
fundo e, a expectativa de sobrevivência de cada beneficiário ou, no caso dos
filhos, o tempo faltante para atingir a idade limite de 21 (vinte e um) anos. O
valor pago pela FUNPRESP não será inferior a 5% da remuneração de
participação (art. 23, §5°), a qual corresponde ao valor do subsídio menos o
teto do regime geral da previdência social.
6.2. A necessidade de contratar um seguro
 
Como ainda não estava satisfeito com a cobertura oferecida pelo benefício
especial e pelo regime geral, resolvi fazer um seguro de vida e de invalidez. 
Veja-se, porém, que necessidade não surge da migração. Contrataria a
proteção mesmo que ficasse no regime próprio, face à ausência de cobertura,
no regime geral, para doenças não consideradas graves e à limitação
constitucional do valor da pensão por morte já citada.
 
Nenhuma das opções de seguro oferecidas pelos grandes bancos me agradou.
Encontrei uma que considerei razoável diretamente com um corretor de
seguros. Optei por um contrato com empresa renomada, aparentemente
sólida, por R$ 600,00 mensais, com indenização por morte e invalidez por
qualquer doença no valor de 2 milhões de reais. Em caso de morte acidental,
a indenização é dobrada. Calculei o valor do prêmio levando em consideração
o que receberia a título de benefício especial. Havendo mudança na legislação
- que hoje me garante a percepção desse benefício – buscarei um seguro que
pague uma indenização maior.
Capítulo 7 – Vantagens e desvantagens de aderir a
um dos planos de benefício da FUNPRESP
 
Além da União, 17 Estados, como Pernambuco e São Paulo, criaramsuas
fundações de previdência complementar a cujos planos de previdência os
servidores podem aderir. Muitos servidores confundem a migração para o
regime complementar com a filiação a um dos planos da FUNPRESPs ou de
suas congêneres estaduais e municipais. Deixemos claro: é perfeitamente
possível ingressar naquele sem se filiar nesses. Migrar e filiar-se ao
FUNPRESP, portanto, são coisas absolutamente distintas.
 
Elenquemos abaixo as vantagens e desvantagens da adesão, não antes sem
abordar aspectos gerais do funcionamento da FUNPRESP-JUD e os áridos
cálculos(quem avisa amigo é...) que determinam os valores de seus
benefícios. Esclareço que eu poderia ter aderido à FUNPRESP-JUD, mas
não o fiz. Os comentários terão como foco minha experiência, razão pela qual
a FUNPRESP-JUD será o personagem principal do tópico a seguir. No
entanto, o que se falar para a FUNPRESP-JUD, com algumas variações, pode
se aplicar também à FUNPRESP-EXE(dos servidores do Executivo) e à
FUNPRESP-LEG(do Legislativo). Vale notar que hoje a FUNPRESP-EXE
gerencia também o plano de benefício do Poder Legislativo.
 
7.1 Noções gerais do funcionamento da FUNPRESP-JUD
 
Saiba, desde já, leitor, que: 1) em regra, o valor dos benefícios depende do
quanto foi aportado (art. 12, §2° da Lei 12.618/12; arts. 1° e 19 da LC
109/03); 2) é impossível saber com previsão o montante exato do benefício
no momento da aposentadoria; 3) O plano de benefício da FUNPRESP não é
instrumento para que você ganhe na aposentadoria o que ganhava na ativa; 4)
Nem tudo que você pagar para a FUNPRESP comporá os seus benefícios; 5)
Mesmo na FUNPRESP, você pode estar pagando benefícios para outros,
exatamente como ocorre no regime próprio.
 
Vamos às explicações dos tópicos 1, 2 e 3. O regime financeiro do plano
FUNPRESP é, por força de lei(art. 18, §1°, da LC 109/01), o de
capitalização. Nesse modelo o benefício a ser pago depende da reserva
acrescida da capitalização que o servidor constituir. Não há dependência dos
pagamentos das gerações anteriores, como acontece no regime próprio de
previdência social, que usa parte das contribuições dos servidores para pagar
os aposentados. Os regimes de capitalização podem ser de benefício
definido(em que se sabe o valor do benefício a receber) ou de contribuição
definida, em que se fixa o montante a ser pago mensalmente pelo usuário.
Adota a FUNPRESP a segunda opção, o de contribuição definida(art. 31, §2°,
II, da LC 109).
 
Há duas ressalvas importantes a serem feitas quanto ao item 1. Segundo o
artigo 21 da LC 109/01, eventual resultado deficitário nos planos ou nas
entidades fechadas será equacionado por patrocinadores, participantes e
assistidos, na proporção existente entre as suas contribuições, sem prejuízo de
ação regressiva contra dirigentes ou terceiros que deram causa a dano ou
prejuízo à entidade de previdência complementar. O equacionamento do
déficit pode ser feito, dentre outras formas, por meio do aumento do valor das
contribuições ou instituição de contribuição adicional. Logo, é possível que
nos planos de contribuição definida, seja necessário, em caso de déficit,
aumentá-la ou criar uma nova. Em suma: a contribuição é definida, mas não
tanto.
 
A segunda ressalva refere-se aos benefícios de pensão por morte e
aposentadoria por invalidez. Se na FUNPRESP-JUD eles dependem do
tamanho da reserva acumulada(art. 22 e 23 do regulamento plano de
benefícios), na FUNPRESP-EXE eles variam conforme o percentual da
contribuição escolhido de 6,5% e 8,5% (art.23,§1º e 23,§1º do regulamento
pertinente). Assim, a proteção é maior para os usuários da FUNPRESP-EXE,
no que toca de pensão por morte e aposentadoria por invalidez, uma vez que
é irrelevante se no momento do concessão do benefício havia mil ou um
milhão de reais na conta individual.
 
Feitas as ressalvas, passemos às explicações dos tópicos 4 e 5. Nos termos do
art. 15, §1º, do regimento da FUNPRESP-JUD, o servidor definirá a alíquota
de contribuição vinculada – entre 6,5% e 8,5% - no formulário de inscrição
no plano e, facultativamente, em novembro de cada ano. É possível ainda a
realização contribuição facultativa, no valor máximo de 2,5%. Essa, porém,
não gerará a contrapartida do patrocinador. Sobre ela também não incidirão
os descontos descritos abaixo.
 
Somente uma fração do aporte do servidor irá compor a reserva acumulada
normal – RAN - , a qual servirá de lastro para seus benefícios. O restante é
utilizado para custeio das despesas administrativas - taxa de carregamento de
7% - e para a formação do FCBE - Fundo de Cobertura de Benefício
Extraordinário(14,61% da contribuição, desde 2017). Tal fundo é usado para
pagar, dentre outras coisas, pensão por morte, aposentadoria por invalidez –
as duas já bastante conhecidas – e o benefício por sobrevivência do assistido.
Vamos a ele.
 
Quando o servidor adere a um plano, espera-se que viva determinado número
de anos. As reservas que fez servirão para cobrir o pagamento durante esse
período. E se ele viver mais que o esperado, de modo a esgotar reservas?
Ficará à míngua? Não. Receberá o benefício por sobrevivência, equivalente,
na FUNPRESP-JUD, a 70% da última parcela da aposentadoria(art. 25 do
regulamento do plano do FUNPRESP-JUD). Na FUNPRESP,-EXE, a 80%.
Mas, se a reserva já acabou, quem pagará o benefício por sobrevivência?
Todos os demais participantes da FUNPRESP que colaboraram para o Fundo
de Custeio de Benefício Extraordinário. Então, como dito, um servidor pode
sim pagar benefício para o outro. Ainda não está claro? Explico novamente.
 
É essencial a todo plano de previdência prever o prazo de sobrevida de seus
aposentados. Sem tal previsão é inviável estipular as contribuições que vão
compor as reservas que pagarão as aposentadorias cujo valor depende da
duração da vida do aposentado. A expectativa de vida é fixada segundo um
tábua de mortalidade geral. A FUNPRESP utiliza a “tábua geracional
RP2000”. Não se assuste: é só a denominação pomposa de uma tabela com
projeção de quando você vai morrer.
 
Não é dado a FUNPRESP adotar a tábua de mortalidade que quiser. De
acordo com o a Resolução da PREVIC CGPC n. 18, de 28/03/06, a tábua
utilizada para a projeção da longevidade dos participantes do plano de
benefícios será sempre a mais adequada ao conjunto departicipantes e
assistidos, “não se admitindo, exceto para a condição de inválidos, tábua
biométrica que gere expectativas de vida completa inferiores às resultantes da
aplicação da tábua AT-83”. A seguir, comparativo – elaborado a partir de
dados da FUNPRESP-EXE - com as expectativas de vida ao nascer de acordo
com as duas tábuas, a RP-2000 e a AT-83.
 
 
 
A adequação da tábua biométrica deverá ser atestada por meio de estudo
específico cujos resultados comprovem a aderência nos três últimos
exercícios entre o comportamento demográfico da massa de participantes e
assistidos e a tábua utilizada(Resolução 18, item 2.4). Em outros termos:
periodicamente, é preciso checar se as previsões estão de fato dando certo. 
 
O benefício de sobrevivência está, ao lado da pensão por morte e por
invalidez, no rol dos benefícios não programados pagos pelo plano. Além
deles, há os programados, aqueles que ocorrem com data certa, como a
aposentadoria normal.
 
Nessa altura você não aguenta mais ler conceitos e quer saber, finalmente,
quanto ganharia aderindo a FUNPRESP. Verdade seja dita: não é fácil
entender como funcionam fórmulas matemáticas da FUNPRESP-JUD para
calcular o valor dos benefícios. Para quem não gosta de matemática, um
pesadelo. Explicarei aqui os cálculos do benefício mais comum, a 
aposentadoria normal, a qual “corresponderá a uma renda por prazo certo, em
meses, correspondente à expectativa de sobrevivência do participante
apurada, na data de sua concessão, a partir da tábua de mortalidade geral”,
adotada para o PLANO, cujo valor inicial será obtido de acordo com a
seguinte fórmula:
(RAN+AEAN)/Fator (Exp:i%)
 
Fácil, não? Não, nada fácil. As variáveis são o saldo da reserva do servidor -
ou RAN, reserva de aposentadoria normal no FUNPRESP-JUD e RAP,
reserva de aposentadoria do participante, no FUNPRESP-EXE - eventuais
aportes extraordinários (AEAN) e um fator de conversão em renda. Falei
grego? Traduzo.
 
Recordemos que parte da contribuição do servidor serve para compor a
remuneração de outras pessoas, via FCBE – Fundo de Custeio de Benefícios
Extraordinários. Nas fórmulas, essa parte será denominada “aporte
extraordinário”. Em se tratando de aposentadoria normal, o aporte é
denominado AEAN: “Aporte Extraordinário da Aposentadoria Normal”.
Segundo o regulamento do plano, ele corresponde a um valor destinado ao
participante contemplado no art. 17, §2°, III e IV da lei 12.618/12. O
dispositivo se refere a quem se aposenta com menos tempo de contribuição:
mulheres, professores do ensino fundamental e médio, portadores de
deficiência e quem exerce atividades de risco(art. 40, §§ 1°, 4° e 5° da
CF/88). O AEAN é calculado por esta fórmula: 
RAN X 35 (Tempo de Contribuição – 1).
 
Vê-se, pela fórmula, que quanto menor o tempo de contribuição maior será o
AEAN. Em consequência, maior será o aporte do FCBE. Em outros termos:
você que não se aposenta por tempo menor que o ordinário pagará, via
contribuição ao FCBE, para quem o faz.
 
Definido o AEAN, tornemos claros todos os elementos da fórmula da
aposentadoria normal pela FUNPRESP-JUD: 
(RAN + (RAN x 35)/(Tempo de contribuição -1))/Fator (Exp:i%)
 
O Fator (Exp:i%) é definido pelo regulamento como o fator financeiro de
conversão de saldo em renda, detalhado em nota técnica atuarial e apurado
com base na taxa mensal equivalente à taxa de juros atuarial anual i%
adotada para o PLANO e no prazo, em meses, estipulado pelo plano segundo
a tábua de mortalidade. Conforme nota técnica atuarial do FUNPRES-JUD
de dezembro de 2016, tal fator é formado por mais de 10 variáveis.
 
Disse antes que seria impossível saber o valor de aposentadoria normal no
momento da adesão ao plano. Agora já se sabe o porquê. Primeiramente, o
benefício depende da RAN, composta por pelos aportes e resultado da
capitalização do investimento, o qual, obviamente, só se conhecerá ao final.
Ademais, as reservas dependerão dos valores das taxas de carregamento e de
cobertura do FCBE, que variarão de acordo com o que for fixado anualmente
pelo Conselho Deliberativo da FUNPRESP no plano de custeio. Acrescente-
se que a aposentadoria depende de fator atuarial e de tábua de mortalidade.
Um será fixado no momento da concessão do benefício; a outra será,
fatalmente, diversa da que vigia no instante de adesão ao plano.
 
Agora, unamos as explicações sobre a aposentadoria normal e o benefício por
sobrevivência. Imaginemos que João se aposente com 65 anos e que a tábua
de mortalidade preveja uma expectativa de vida de 87. Ele receberá 13
parcelas por 22 anos do benefício da aposentadoria normal, ou 286 parcelas,
calculadas nos termos da fórmula acima. Findo os 286 meses, terá direito ao
benefício por sobrevivência, equivalente a 70% da última parcela da
aposentadoria normal, na FUNPRESP-JUD e a 80%, na FUNPRESP-EXE.
 
Pronto! Terminamos o tópico de mais difícil compreensão do livro. Se não
conseguiu compreender tudo – o que é absolutamente natural – peço que
guarde isto: a) os benefícios da FUNPRESP são, via de regra, proporcionais
ao tamanho da reserva constituída ao longo da vida pelo servidor, mas nem
tudo por ele pago a constituirá; b) haverá usuários do plano da FUNPRESP,
os que se aposentam com menor tempo de contribuição, que serão
financiados por outros em vista dos aportes extraordinários sacados do
FCBE.
 
Passemos às vantagens e desvantagens da adesão.
 
7.2 Vantagens de aderir
 
Existem quatro grandes vantagem na adesão. A maior delas, sem dúvida, é a
contribuição paritária do patrocinador. Nos termos do art.40, §14 e §15, e art.
202 da Constituição Federal, a União poderá, na qualidade de patrocinador,
aportar recursos a entidade fechada de previdência complementar de natureza
pública, como as FUNPRESPs, desde que sua contribuição não exceda a do
segurado. A contribuição é fixada pelo art. 16, §2° e § 3° da Lei 12.618/12
em valor igual a do participante e não poderá exceder o percentual de 8,5%.
Ao participante é dado contribuir com mais que isso; a União, não. Nos
planos da FUNPRESP-JUD as contribuições possíveis são de 6,5%, 7%,
7,5%, 8,0% e 8,5% sobre o valor do subsídio que exceder o teto (art. 14, I, do
Regulamento do Plano de Benefícios da FUNPRESP-JUD). Para cada real
que eu aportasse, a ente da União que estivesse vinculado(o MPU, no meu
caso), aportaria outro.
 
Imaginemos que alguém com um subsídio de R$ 20.000,00 resolva migrar e
contribuir para o plano da FUNPRESP com 8,5%. Sua contribuição seria
equivalente a:
8,5% x (subsídio – teto do INSS) = 8,5% x ( R$ 20.000,00 - 5.645,80) = R$
1.220,11.
 
A União contribuiria paritariamente com os mesmos R$1.220,11. Você deve
estar pensando: que maravilha, terei R$ 2.440,22 aplicados mesmo tendo
gasto metade disso, ou seja, terei um rendimento de 100%!!! Sinto desiludi-
lo. Sobre as contribuições de patrocinado e patrocinador incidem dois
descontos: a taxa de carregamento de 7% e o FCBE – Fundo de Cobertura de
Benefício Extraordinários, atualmente de 14,61% na FUNPRESP-JUD e
21,53% FUNPRESP-EXE. Os descontos podem ser alterados anualmente por
decisão do Conselho Deliberativo da FUNPRESP. O valor do FCBE caiu de
15,35% para 15,02% em 2016 e de 15,02% para 14,61% em 2017, na
FUNPESP-JUD. Feitos os descontos, teríamos um montante líquido,
consideradas as contribuições do patrocinado e do patrocinador, de R$
1.912,89, quantia 56,78% maior que os R$ 1.220,11. Embora menor que os
100% inicialmente esperados, 56,78% continuam sendo rendimentos
extraordinários. Para os que optarem pela FUNPRESP, a alíquota que os fará
aproveitar melhor a maior vantagem da adesão é a de 8,5%, já que é com ela
que se obterá a maior contribuição do patrocinador. 
 
A segunda vantagem é a comodidade. Aos que aderirem, não serão
necessários disciplina ou estudo para fazer investimentos em sua
aposentadoria. Mensalmente, os valores serão descontados do contracheque e
repassados ao plano de benefícios. Para os que não se acham suficientemente
disciplinados ou consideram que não conseguirão estudar para aprender a
investir, a FUNPRESP