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Brumadinho - ACP Principal - _rea socioec_nomica

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
1 
 
EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL, 
CRIMINAL E DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DA COMARCA DE 
BRUMADINHO/MG 
 
Autos nº 5000053-16.2019.8.13.0090 
 
 
“Meu coração bate lá, lá naquela lama onde está meu filho, lá naquela lama 
onde mataram meu filho. Não consegui enterrar meu filho ainda. Meu 
coração bate lá! E vou conseguir enterrar ele!” 
[Mãe de uma das pessoas desaparecidas, em reunião realizada no 
dia 13.02.2019 Câmara Municipal de Brumadinho] 
 
Sou o único morador desse arraial. Meus vizinhos vinham passear todos os 
fins de semana, não vem mais. Nos fundos do meu lote tem um córrego que 
era limpinho onde usava água para tudo. Cozinhar, lavar roupas, banhar e 
até beber também perdi. Os meus amigos que vinham passeando para 
pescaria não vem mais(...). Estou ficando doente. 
[Morador de Pequi, Genésio Joaquim Nunes, em carta 
endereçada ao MPMG] 
 
 
 
 
 
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (MPMG), 
por intermédio de seus promotores de Justiça que esta subscrevem, com fulcro nos art. 3º, 
art. 5º, art. 127, caput, art. 129, III e IX, todos da Constituição da República, art. 25, IV, a 
da Lei 8.625/93, art. 1º, I, IV e VII e art. 5º, I da Lei 7.347/85, art. 200, VIII da Lei 
8.069/90, art. 45, caput e art. 71, I da Lei 10.741/2003, art. 79, §3º da Lei 13.146/2015 e 
artigo 308 e seguintes do CPC vêm, à presença de Vossa Excelência, propor a presente 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
com pedido principal em aditamento ao pedido de tutela provisória cautelar em 
caráter antecedente e com pedido de tutelas de urgência e evidência 
 
em face de VALE S.A., sociedade empresária, inscrita no CNPJ sob o nº 33.592.510/0001-
54, com sede na Rua Sapucaí, 383 - 4º andar, Floresta - CEP: 30150-904, Belo Horizonte – 
MG e na Av. Graça Aranha, 26, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 22640-100, pelas 
asserções fáticas e jurídicas a seguir expostas. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
2 
 
ÍNDICE 
1 DO OBJETO E DO CABIMENTO DA AÇÃO 
2 DA TEMPESTIVIDADE DA AÇÃO 
3 DA INTRODUÇÃO AOS FATOS 
4 DOS FATOS 
4.1 Perda de vidas humanas 
4.1.1 O luto que não chega 
4.1.2. O horror no recebimento de segmentos corpóreos 
4.1.3. Brumadinho: a cidade inteira em luto 
4.2 Destruição de casas, quintais, moradias 
4.3 Destruição e inviabilização das plantações e estruturas de 
produção 
4.4 Deslocamento forçado de pessoas 
4.5 Mudança abrupta do modo de viver das populações atingidas 
4.6 Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento das 
relações comunitárias e familiares 
4.7 Impedimento e/ou dificuldade de acesso à água 
4.8 Problemas relativos ao direito à informação 
4.8.1 Falta de informação e incertezas das pessoas atingidas sobre 
as repercussões futuras dos danos 
4.9 Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento das 
formas de produção rural nos municípios banhados pelo rio 
Paraopeba 
4.9.1 Pesca como fonte de renda no Rio Paraopeba 
4.10 Perda da segurança alimentar das populações atingidas 
4.11 Perda e/ou diminuição das atividades econômicas e/ou 
comerciais 
4.12 Cadeias Produtivas afetadas 
4.13. Perda das práticas de lazer e turismo 
4.14. Interrupção de práticas culturais 
4.15 Perda ou dificuldade da capacidade de locomoção 
4.16 Morte de animais domésticos e/ou de produção 
4.17. Ofensa à saúde coletiva (saúde física e mental) 
4.18. Perda dos bens pessoais (veículos, mobília, documentos etc.) 
4.19. Perda dos bens imateriais 
4.20. Impactos e necessidade de gastos extraordinários com 
infraestrutura e políticas públicas 
4.21 Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento da 
cadeia econômica do turismo nos municípios atingidos 
4.22 Desvalorização dos imóveis 
4.23. Práticas abusivas da Requerida e do insatisfatório 
atendimento das medidas emergenciais 
4.24. Revitimização das populações atingidas 
4.25 Impactos preliminares relatados por alguns municípios que 
integram a Bacia do Rio Paraopeba e oficialmente reportados ao 
MPMG 
4.25.1. Município de Brumadinho – Ofício GABADM nº 
59/2019 (subscrito pela Secretária Municipal de Administração) 
a) Prejuízos à infraestrutura pública e urbanismo 
b) Danos ao setor de comércio e serviços 
c) Impactos diretos no setor de Turismo, decorrentes do 
rompimento da barragem 
d) Danos ao setor de comércio e serviços 
e) Impactos na saúde 
f) Impactos ao atendimento socioassistencial 
g) Danos à agricultura e atividade pesqueira 
h) Danos ao meio ambiente e urbanismo 
i)Outros Impactos sentidos pelo Município Brumadinho 
4.25.2 Município de Mário Campos - Ofício nº 16/2019 (4.25.3. 
Município de Juatuba - Ofício 0011/2019 (subscrito pelo 
conselheiro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba 
4.25.4 Município de Igarapé - Ofício nº 03/2019 (subscrito pelo 
Secretário Municipal de Meio Ambiente e por Analista Ambiental) 
4.25.5 Município de Papagaios – Ofício nº 179/2019GP 
(subscrito pelo Prefeito de Papagaios) 
4.25.6. Município de Esmeraldas - nº 017/2019/SEPLAG 
(subscrito pelo Secretário Municipal de Planejamento e Gestão) 
4.25.7 Município de Fortuna de Minas – Ofício S/N (subscrito 
pela Subsecretária de Meio Ambiente) 
4.25.8. Município de Florestal - Ofício nº 0013/2019 (subscrito pelo Chefe 
do Setor de Urbanismo) 
4.25.9 Município de Curvelo – Ofício nº 03/2019-
GER.AMB/SEC.ADM (subscrito pelo Secretário Municipal de 
Administração, Políticas Sociais e Desenvolvimento Sustentável e 
Gerente Ambiental) 
4.25.10 Município de São Joaquim de Bicas Ofício nº 
44/2019/ADM (subscrito pelo Secretário de Administração e 
Recursos Humanos) 
4.25.11 Município de Betim - Ofício nº SEADEC nº 013/2019 
(subscrito pelo Chefe da Divisão de Desenvolvimento 
Agropecuária e Secretário Adjunto de Desenvolvimento 
Econômico) 
4.25.12 Município de Pequi – Ofício nº 057/2019 (subscrito pelo 
Prefeito de Pequi) 
5 DOS FUNDAMENTOS E DAS REPERCUSSÕES 
JURÍDICAS E DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E 
HUMANOS VIOLADOS 
5.1. Dos direitos humanos e fundamentais violados 
5.1.1. Do direito à vida e à integridade física 
5.1.2. Direito à moradia e à propriedade 
5.1.3. Direito ao trabalho 
5.1.4. Direito ao lazer 
5.1.5 Direito à saúde 
5.1.7 Do direito à ordem urbanística 
5.1.7. Do direito à educação e o direito de aprender 
5.1.8 Do direito à Integridade física e psíquica e o direito ao livre 
desenvolvimento da personalidade 
5.1.9 Do direito à identidade cultural 
5.2. Do dever de indenizar e da responsabilidade objetiva pelos 
danos causados 
5.3. Do direito à assessoria técnica independente e do direito à 
participação informada das pessoas atingidas 
5.4. Dano moral coletivo 
5.5. Dano social 
5.6. Direito à reparação integral dos danos socioeconômicos e 
humanos 
5.7 Dos tratados de direitos humanos e da jurisprudência da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos que subsidiam a integral 
reparação de danos 
5.8 Da valoração dos danos socioeconômicos 
5.9. Da inversão do ônus da prova 
6. PEDIDOS DE TUTELA PROVISÓRIA 
6.1. Tutela provisória de urgência relativa às necessidades vitais 
imediatas dos atingidos 
6.2. Da tutela provisória de evidência em face do acordo 
celebrado entre a Requerida e a DPMG 
6.3 Da produção antecipada de provas 
6.3. Da produção antecipada de provas 
7 DOS PEDIDOS 
7.1 Dos pedidos de liminares a título de tutela de urgência 
7.2 Da antecipação de provas 
7.3 Dos pedidos a título de tutela de evidência ou, 
subsidiariamente, de urgência antecipada 
7.4 Dos pedidos definitivos 
7.5 Dos requerimentos 
 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
3 
 
1 DO OBJETO E DO CABIMENTO DA AÇÃO 
 
Em 26 de janeiro de 2019, durante plantão judiciário, o MPMG propôs tutela 
cautelar antecedente, autos n.º 5000053-16.2019.8.13.0090, em face da Vale S.A., 
distribuída a esse juízo, com o fim de bloquear o valor de 5 bilhões de reais para a garantia 
da reparaçãointegral dos danos socioeconômicos e humanos das pessoas atingidas pelo 
rompimento da Barragem B-I e soterramento das Barragens B-IV e B-IV A da Mina 
Córrego do Feijão, ocorrido em Brumadinho/MG (“Desastre da Vale”). 
Ademais, nestes autos, foram feitos outros pedidos - todos deferidos - de caráter de 
urgência, tais como, responsabilização pelo acolhimento e abrigamento das pessoas que 
tiveram comprometidas sua condição de moradia, disponibilização de transporte, integral 
assistência aos atingidos por equipe intermultidisplicinar, prestação de informação 
adequada, fornecimento de alimentação, transporte, água potável, gastos com sepultamento 
e apoio logístico e financeiro às famílias. 
Diante do bloqueio financeiro realizado, a Requerida interpôs agravo de 
instrumento unicamente com relação ao bloqueio, sendo-lhe negado efeito suspensivo. 
Nesse contexto, com fulcro no disposto no artigo 308 e seguintes do CPC, propõe-
se a presente ação civil pública com o objetivo de obter provimento jurisdicional 
que afirme a responsabilidade civil da Vale S/A e sua consequente condenação 
para a reparação integral relativa aos danos sociais, morais e econômicos 
provocados às pessoas, comunidade e outras coletividades, ainda que 
indeterminadas, atingidas pelo Desastre da Vale, ressalvado o objeto das ações 
promovidas pelo Ministério Público do Trabalho no âmbito da Justiça do Trabalho.1 
Assim, em outras palavras, pretende-se aqui obter tutela jurisdicional capaz de 
reparar, recompor e/ou compensar os danos socioeconômicos difusos, coletivos e 
individuais homogêneos das pessoas, famílias, comunidades, localidades/distritos 
e municípios atingidos. 
 
 
1 A petição inicial da ação promovida pelo MPT está disponível no seguinte endereço eletrônico: 
<http://portal.mpt.mp.br/wps/portal/portal_mpt/mpt/sala-imprensa/mpt-noticias/82ed3b0c-68a8-41ec-871b-
64004bcd20f2>. Acesso em: 27 abr. 2019. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
4 
 
2 DA TEMPESTIVIDADE DA AÇÃO 
 
De acordo com o artigo 308 do CPC, efetivada a tutela cautelar, o pedido principal 
terá de ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias. Contudo, o Ministério 
Público goza de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, cujo início se dá a partir de 
sua intimação pessoal, nos termos dos artigos 180 e 186 do CPC. 
Nesse sentido, aliás, a decisão de ID 0062824223, proferida por este juízo. 
É de se verificar ainda que, conforme dispõe o artigo 219 do CPC, na contagem de 
prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. 
Além disso, Portaria da Direção do Foro de Brumadinho n. 2/2019, dispôs que 
ficaram suspensos os prazos no período compreendido entre os dias 28 de janeiro de 2019 
a 04 de fevereiro de 2019. 
Cumpre aclarar que o prazo de 30 (trinta) dias estipulado para formular o pedido 
principal destina-se à manutenção da efetividade da tutela cautelar concedida. É esse o 
entendimento a que se filia a doutrina e jurisprudência ao reconhecerem que “o prazo de 
trinta dias só começa a correr a partir do momento em que a medida é executada, e não da data em que o 
juiz profere a decisão, ou em que as partes são intimadas”.2 Nesse sentido já decidiu o Tribunal de 
Justiça de Minas Gerais (TJMG): 
 
Efetivada a medida cautelar requerida em caráter antecedente, incumbe 
ao autor formular o pedido principal no prazo legal de 30 dias, nos 
termos do art. 308 do NCPC. (TJMG-Apelação Cível 1.0000.18.078035-
5/001, Relator(a): Des.(a) Wander Marotta, 5ª CÂMARA CÍVEL, 
julgamento em 31/10/2018, publicação da súmula em 05/11/2018) 
 
Sublinhe-se que, no caso em apreço, as medidas cautelares deferidas no processo n° 
5000053-16.2019.8.13.0090, ainda não foram cumpridas in totum pela requerida, de modo 
que o prazo para propositura da ação principal sequer começou a correr. Mas, mesmo 
assim, os pedidos principais são trazidos a este juízo em observância ao prazo legal e à 
tutela eficaz dos direitos das pessoas atingidas. 
 
 
2 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios, coordenador Pedro Lenza. Direito Processual Civil Esquematizado, 6ª ed., São Paulo: 
Saraiva, 2016. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
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3 DA INTRODUÇÃO AOS FATOS 
 
No dia 25/01/2019, ganhou repercussão nacional e internacional o rompimento 
das barragens I, IV e IV-A localizadas na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho 
(Desastre da Vale). A barragem I destinava-se à deposição de rejeitos e as barragens IV e 
IV-A à contenção de sedimentos, cujo dano potencial era classificado como alto – classe C. 
 
 
Fonte: https://pt.slideshare.net/comcbhvelhas/barragens-de-mineracaovale 
 
Fonte: https://pt.slideshare.net/comcbhvelhas/barragens-de-mineracaovale 
 
Fonte: https://pt.slideshare.net/comcbhvelhas/barragens-de-mineracaovale 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
6 
 
Com o rompimento das três barragens, foram lançados cerca de 13 milhões de 
metros cúbicos de rejeitos de mineração contendo diversos metais pesados e substâncias 
químicas oriundas do processo minerário. 
O volume dos rejeitos fez com que se formasse uma enxurrada de lama e materiais 
tóxicos com força para devastar o território por onde passou e também suas proximidades, 
deixando um rastro de destruição em todas as formas de vida que ali existiam. 
 
Fonte: CAOMA/MPMG 
 
Nos primeiros instantes do Desastre da Vale, a avalanche de lama, rejeitos e 
minério de ferro soterrou o refeitório matando centenas de funcionários que trabalhavam 
no momento do rompimento. Além disso, outro local soterrado foi parte da comunidade 
da Vila Ferteco, área rural do município de Brumadinho. 
Os rejeitos de minério provenientes do rompimento das barragens engoliram 
pessoas, casas, propriedades rurais, vegetação, animais, carros, alcançaram o Rio Paraopeba, 
alterando o equilíbrio do seu ecossistema, dentre inúmeros outros danos e reflexos 
socioeconômicos e socioambientais. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
7 
 
 
Não bastasse isso, na madrugada do dia 27/01/2019 (domingo), por volta das 05 
(cinco) horas, foi acionada a sirene de alerta de mais uma barragem nas proximidades da 
Mina Córrego do Feijão, ocasionando a evacuação emergencial de várias localidades e 
bairros, causando ainda mais pânico na população de Brumadinho, já aterrorizada pelo 
desastre iniciado dois dias antes. 
O desastre afetou milhares de pessoas, que ficaram sem ter acesso às suas 
necessidades básicas, tais como, abrigamento, água, roupas e comida. 
As vidas perdidas pairaram sobre Brumadinho, em sacos com segmentos 
corpóreos, conduzidos pelos céus por um verdadeiro enxame de helicópteros que zoaram 
por semanas. Crianças indagavam suas mães perguntando se aquele saco no céu era seu 
pai. Os cidadãos, familiares e amigos que perderam seus entes queridos jamais apagarão 
essa marca indelével de suas vidas. 
 Para além das casas e quintais soterrados pelo mar de lama, devastaram-se 
comunidades, afetos, histórias e projetos de vida. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
8 
 
A vida da região sempre esteve interconectada com o Rio Paraopeba que, agora 
morto, não pode mais amparar a vasta cadeia de produção que sustentava e moldava toda 
uma miríade de comunidades e modos de vida que se encontram seriamente ameaçados. 
Não há como negar que um desastre dessa magnitude varreu memórias, sonhos, 
projetos e esperanças. Destruiu vínculos, comunidades e relações. As marcas na saúde não 
atingiram somente a pele dos atingidos e bombeiros que tiveram contato com o rejeito 
tóxico, mas chegou às mentes e corações de todos aqueles que conviveram e convivem 
diariamente com essa tragédia.Manchas na pele, enjoos, dificuldade de sono, angústia, depressão, transtorno pós-
traumático e mesmo o luto coletivo são algumas das facetas perversas do desastre causado 
pela Vale. 
Alguns familiares esperam até hoje poder sepultar seus entes queridos e, com medo 
da interrupção das buscas, são obrigados a conviver diariamente com as negligências da 
Requerida no processo de atendimento das demandas emergenciais, com o assédio da 
imprensa e com o estigma causado pelo desastre. 
A produção agrícola, a pecuária, a piscicultura, a pesca, o turismo, o lazer, os 
pequenos comércios, os hotéis e pousadas, que vicejavam graças ao rio Paraopeba, agora 
minguam à espera de Justiça. 
Para se ter uma ideia do tamanho do desastre, registre-se que os rejeitos já atingiram 
dezessete municípios ao longo da calha do rio Paraopeba, rota da lama e da destruição que 
já assola os municípios de: Brumadinho, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, 
Igarapé, Juatuba, Esmeraldas, Florestal, Pará de Minas, São José da Varginha, Fortuna de 
Minas, Pequi, Maravilhas, Paraopeba, Papagaios, Curvelo, Pompéu. 
As consequências socioeconômicas do Desastre da Vale são avassaladoras e os 
efeitos negativos e danos provocados repercutem para além da área que recebeu os rejeitos 
e da calha do rio, já tendo sido detectados impactos sociais e econômicos nos municípios 
que estão além da barragem de Retiro Baixo, como Felixlândia, e fora da calha do rio, 
como Caetanópolis, por exemplo. 
De acordo com as Secretarias de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento 
Sustentável (SEMAD), de Estado de Saúde (SES) e de Agricultura, Pecuária e 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
9 
 
Abastecimento (SEAPA), o uso da água bruta do Rio Paraopeba foi suspenso após a 
detecção de metais em nível acima do permitido pela legislação ambiental. A vedação 
abrange o uso da água para qualquer finalidade seja humana, animal ou para atividades 
agrícolas3. 
Recentemente, no dia 28/03/2019, foi publicada pelo IGAM nota técnica conjunta 
IGAM-SES nº 001/2019, mantendo a medida de não utilização da água do rio Paraopeba 
para consumo humano, atividades de piscicultura, agricultura e pecuária. 
É fato que nos municípios ao longo da bacia do Paraopeba, os danos causados pelo 
Desastre da Vale também atingiram imensas proporções. Cadeias produtivas inteiras foram 
desarticuladas com a interrupção de uso da água e produtos do rio. E os danos constatados 
nesses municípios vão muito além de qualquer delimitação de distância da calha do 
Paraopeba. 
O Desastre da Vale atingiu todos os produtores rurais do leito do rio, atingiu a 
comunidade quilombola de Pontinha e suas atividades econômicas; atingiu os vendedores 
de iscas do “Shopping da Minhoca” em Caetanópolis; atingiu a indústria têxtil de 
Paraopeba, que se viu obrigada a interromper um processo de expansão, por causa da 
contaminação da água do rio; atingiu todos os moradores de Pará de Minas, Paraopeba e de 
todos os municípios que utilizavam do rio para abastecimento urbano; atingiu os 
piscicultores da barragem de Três Marias, que, mesmo que não tenham perdido a produção 
pela contaminação por lama, não conseguem mais vender a sua produção por fazerem 
parte do grupo de “produtores do Rio Paraopeba”; atingiu os areeiros e trabalhadores da 
extração de areia; atingiu os proprietários de canoas e balsas que faziam a travessia em 
vários pontos ao longo do Rio; atingiu, enfim, todas estas e dezenas de outras categorias 
sociais e econômicas, algumas das quais somente poderão ser devidamente identificadas 
com trabalhos de campo mais profundos realizados pela assessoria técnica multidisciplinar 
aos atingidos e por perícia técnica especializada. 
De toda sorte, objetivando obter informações preliminares, que pudessem auxiliar 
no início de compreensão da magnitude dos danos e da extensão, ainda que minimamente, 
da área atingida, o Ministério Público, por meio da Coordenadoria do Centro de Apoio 
 
3
 Disponível em: <http://www.meioambiente.mg.gov.br/noticias/1/3770-suspensao-do-uso-de-agua-bruta-e-
ampliada-no-rio-paraopeba>. Acesso em: 25 abr. 2019. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
10 
 
Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio 
Comunitário (CAO-DH), requisitou aos municípios atingidos pela pluma de rejeitos 
informações acerca dos impactos sofridos. 
Concomitantemente, o MPMG, por meio de sua Coordenadoria de Inclusão e 
Mobilização Sociais (CIMOS), órgão especializado no tema das repercussões 
socioeconômicas de grandes empreendimentos e desastres, realizou um mapeamento 
preliminar dos danos com a realização de diversas reuniões, entrevistas e visitas técnicas 
com as pessoas atingidas em todos os 17 municípios acima citados e mais os municípios de 
Caetanópolis e Felixlândia. 
Em razão desse trabalho em campo do Ministério Público, foi possível ter contato 
próximo com as repercussões irradiadas do desastre, registrando-se uma gama de 
reclamações, demandas e prejuízos que revelaram novas dimensões da magnitude dos 
danos e dos direitos violados. Registre-se que o mapeamento preliminar realizado pelo 
Ministério Público acompanha a presente ação e está consubstanciado em relatórios ora 
acostados. 
Importante, aqui, ressaltar que o levantamento de informações supracitado teve 
caráter preliminar, permitindo apenas uma exemplificação dos diferentes tipos de danos 
sofridos pelas pessoas atingidas, não podendo, portanto, ser considerado um estudo 
exaustivo. O que se quer dizer é que os danos levantados não esgotam a gama de danos 
que acometem os atingidos pelo Desastre da Vale e que, para além destes, outros 
desdobramentos ainda não perceptíveis irão surgir a curto, médio e longo prazo. 
 
 
4 DOS FATOS 
A seguir serão relacionados e expostos os fatos que ensejam a presente demanda e 
os consequentes danos deles advindos. Mas é preciso deixar claro que a divisão proposta a 
seguir tem a finalidade única de sistematização e organização dos dados já obtidos a 
respeito dos danos, não se pretendendo aqui, em nenhuma hipótese, a descrição exaustiva, 
uma vez que a repercussão dos danos é ainda incalculável, devido tanto à complexidade e 
magnitude dos sistemas socioeconômicos e ambientais afetados, quanto ao caráter 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
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dinâmico do rejeito e de seus impactos. Qualquer levantamento, portanto, que se pretenda 
exaustivo dependerá da participação qualificada das pessoas atingidas, com o auxílio de 
assessoria técnica independente, para que assim se consiga apurar adequadamente todos os 
danos socioeconômicos provocados pelo Desastre da Vale. 
Assim, deve ficar claro que a causa de pedir desta ação não é composta 
exclusivamente pelos fatos aqui descritos, mas por todas as consequências, 
humanas e ambientais, sociais e econômicas, individuais e coletivas, que derivam 
do Desastre da Vale e que ainda venham a ser apuradas no curso da instrução, ou, 
futuramente, em liquidações e execuções de sentença, coletivas ou individuais. 
 
4.1 Perda de vidas humanas 
 
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47034499 
 
Filhos, filhas, pais, avós, primos, primas, tias, tios, grávidas, crianças, bebês. São 
centenas de pessoas mortas e desaparecidas. Pessoas, no entanto, não são números. Era o 
“meu pai”, “minha filha”, “minha mulher”, “meu tio”. Para trás, esposas sem marido, 
órfãos, pais que viveram a dor de perderem seus filhos, familiares e amigos que não mais 
desfrutam de sua convivência. Histórias interrompidas, sonhos dilacerados, futuros que se 
foram. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
12 
 
A primeira coisa que este processo judicial pretende é evitar que se mimetizeno 
Brasil a frase atribuída ao sanguinário ditador Joseph Stalin, para quem "a perda de uma vida é 
uma tragédia; a de milhões, uma estatística". Cada perda causada pelo desastre da Vale é uma 
tragédia que deve ser considerada vivamente pelo juízo na apreciação dos fatos. 
A atividade mineradora exercida pela Requerida causou a morte de centenas de 
pessoas: trabalhadores da Vale S.A., trabalhadores terceirizados, moradores de Brumadinho 
e turistas. 
A população local não foi alertada pela Requerida quando do rompimento das 
barragens, não se ouviu nenhuma sirene. Surpreendidas pela tsunami de lama, as pessoas 
fugiram às pressas para os pontos mais altos da região. A maioria dessas pessoas não 
conseguiu resgatar seus documentos, roupas, mantimentos ou qualquer outro bem. Outras 
não conseguiram salvar nem sequer a própria vida. 
É importante registrar que só a tragédia humana vivenciada pelo Município de 
Mário Campos somou 21 vítimas fatais, número superior aos 19 mortos de Mariana 
quando do rompimento da barragem de Fundão em 2015. 
Entre os mortos, os quais o Ministério Público faz questão de que sejam 
individualmente mencionados, até o momento4, foram identificadas 233 (duzentas e trinta e 
três) vítimas: 
 
❖ ADAIL DOS SANTOS JUNIOR 
❖ ADAIR CUSTODIO RODRIGUES 
❖ ADEMARIO BISPO 
❖ ADILSON SATURNINO DE SOUZA 
❖ ADNILSON SILVA NASCIMENTO 
❖ ADRIANO AGUIAR LAMOUNIER 
❖ ADRIANO CALDEIRA DO AMARAL 
❖ ADRIANO GONÇALVES DOS ANJOS 
❖ ADRIANO JUNIO BRAGA 
❖ ADRIANO RIBEIRO DA SILVA 
❖ ADRIANO WAGNER DA CRUZ DE OLIVEIRA 
❖ ALAÉRCIO LUCIO FERREIRA 
❖ ALANO REIS TEIXEIRA 
❖ ALEX MARIO MORAES BISPO 
 
4 Conforme relatório da Defesa Civil de Minas Gerais datado de 24 de abril de 2019 às 10h:30 min. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
13 
 
❖ ALEX RAFAEL PIEDADE 
❖ ALEXIS ADRIANO DA SILVA 
❖ ALEXIS CESAR JESUS COSTA 
❖ ALISSON MARTINS DE SOUZA 
❖ ALISSON PESSOA DAMASCENO 
❖ AMANDA DE ARAUJO SILVA 
❖ AMARINA DE LOURDES FERREIRA 
❖ AMAURI GERALDO DA CRUZ 
❖ ANAILDE SOUZA PEREIRA 
❖ ANDERSON LUIZ DA SILVA 
❖ ANDRE LUIZ ALMEIDA SANTOS 
❖ ANDREA FERREIRA LIMA 
❖ ANGELICA APARECIDA AVILA 
❖ ANGELO GABRIEL DA SILVA LEMOS 
❖ ANIZIO COELHO DOS SANTOS 
❖ ANTONIO FERNANDES RIBAS 
❖ ARMANDO DA SILVA ROGGI GRISSI 
❖ BRUNA LELIS DE CAMPOS 
❖ BRUNO EDUARDO GOMES 
❖ CAMILA APARECIDA DA FONSECA SILVA 
❖ CAMILA SANTOS DE FARIA 
❖ CAMILA TALIBERTI RIBEIRO DA SILVA 
❖ CAMILO DE LELIS DO AMARAL 
❖ CARLA BORGES PEREIRA 
❖ CARLOS AUGUSTO DOS SANTOS PEREIRA 
❖ CARLOS EDUARDO DE SOUZA 
❖ CARLOS EDUARDO FARIA 
❖ CARLOS ROBERTO DA SILVA 
❖ CARLOS ROBERTO DA SILVEIRA 
❖ CARLOS ROBERTO DEUSDEDIT 
❖ CASSIA REGINA SANTOS SOUZA 
❖ CASSIO CRUZ SILVA PEREIRA 
❖ CLAUDIO JOSE DIAS REZENDE 
❖ CLAUDIO LEANDRO RODRIGUES MARTINS 
❖ CLAUDIO MARCIO DOS SANTOS 
❖ CLAUDIO PEREIRA SILVA 
❖ CLEIDSON APARECIDO MOREIRA 
❖ CLEITON LUIZ MOREIRA SILVA 
❖ CLEOSANE COELHO MASCARENHAS 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
14 
 
❖ CRISTIANO BRAZ DIAS 
❖ CRISTIANO VINICIUS OLIVEIRA DE ALMEIDA 
❖ CRISTINA PAULA DA CRUZ ARAUJO 
❖ DAIANA CAROLINE SILVA SANTOS 
❖ DANIEL GUIMARÃES ALMEIDA ABDALLA 
❖ DANIEL MUNIZ VELOSO 
❖ DAVID MARLON GOMES SANTANA 
❖ DAVYSON CHRISTHIAN NEVES 
❖ DENILSON RODRIGUES 
❖ DENNIS AUGUSTO DA SILVA 
❖ DIEGO ANTONIO DE OLIVEIRA 
❖ DIOMAR CUSTÓDIA DOS SANTOS SILVA 
❖ DIRCE DIAS BARBOSA 
❖ DJENER PAULO LAS-CASAS MELO 
❖ DUANE MOREIRA DE SOUZA 
❖ EDENI DO NASCIMENTO 
❖ EDGAR CARVALHO SANTOS 
❖ EDIMAR DA CONCEIÇAO DE MELO SALES 
❖ EDIONIO JOSE DOS REIS 
❖ EDIRLEY ANTONIO CAMPOS 
❖ EDNILSON DOS SANTOS CRUZ 
❖ EDSON RODRIGUES DOS SANTOS 
❖ EDYMAYRA SAMARA RODRIGUES COELHO 
❖ EGILSON PEREIRA DE ALMEIDA 
❖ ELIANDRO BATISTA DE PASSOS 
❖ ELIANE DE OLIVEIRA MELO 
❖ ELIANE NUNES PASSOS 
❖ ELIVELTOM MENDES SANTOS 
❖ ELIZEU CARANJO DE FREITAS 
❖ ERIDIO DIAS 
❖ EUDES JOSE DE SOUZA CARDOSO 
❖ EVA MARIA DE MATOS 
❖ EVERTON GUILHERME FERREIRA GOMES 
❖ EVERTON LOPES FERREIRA 
❖ FABRICIO HENRIQUES DA SILVA 
❖ FABRICIO LUCIO FARIA 
❖ FAULLER DOUGLAS DA SILVA MIRANDA 
❖ FELIPE JOSE DE OLIVEIRA ALMEIDA 
❖ FERNANDA BATISTA DO NASCIMENTO 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
15 
 
❖ FERNANDA CRISTHIANE DA SILVA 
❖ FERNANDA DAMIAN DE ALMEIDA 
❖ FLAVIANO FIALHO 
❖ FRANCIS ERICK SOARES SILVA 
❖ FRANCIS MARQUES DA SILVA 
❖ GEORGE CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA 
❖ GILMAR JOSE DA SILVA 
❖ GIOVANI PAULO DA COSTA 
❖ GISELE MOREIRA DA CUNHA 
❖ GISLENE CONCEIÇÃO AMARAL 
❖ GLAYSON LEANDRO DA SILVA 
❖ GUSTAVO ANDRIE XAVIER 
❖ GUSTAVO SOUSA JUNIOR 
❖ HEITOR PRATES MAXIMO DA CUNHA 
❖ HELBERT VILHENA SANTOS 
❖ HERMINIO RIBEIRO LIMA FILHO 
❖ HERNANE JUNIOR MORAIS ELIAS 
❖ HUGO MAXS BARBOSA 
❖ ICARO DOUGLAS ALVES 
❖ IZABELA BARROSO CAMARA PINTO 
❖ JANICE HELENA DO NASCIMENTO 
❖ JHOBERT DONADONNE GONÇALVES MENDES 
❖ JOAO PAULO DE ALMEIDA BORGES 
❖ JOAO PAULO PIZZANI VALADARES MATTAR 
❖ JOICIANE DE FATIMA DOS SANTOS 
❖ JONATAS LIMA NASCIMENTO 
❖ JONIS ANDRÉ NUNES 
❖ JORGE LUIZ FERREIRA 
❖ JOSE CARLOS DOMENEGUETE 
❖ JOSIANE DE SOUZA SANTOS 
❖ JOSUÉ OLIVEIRA DA SILVA 
❖ JULIANA ESTEVES DA CRUZ AGUIAR 
❖ JULIANA PARREIRAS LOPES 
❖ JULIO CESAR TEIXEIRA SANTIAGO 
❖ JUSSARA FERREIRA DOS PASSOS SILVA 
❖ KATIA APARECIDA DA SILVA 
❖ KATIA GISELE MENDES 
❖ LAYS GABRIELLE DE SOUZA SOARES 
❖ LEANDRO ANTONIO SILVA 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
16 
 
❖ LEANDRO RODRIGUES DA CONCEIÇÃO 
❖ LENILDA CAVALCANTE ANDRADE 
❖ LENILDA MARTINS CARDOSO DINIZ 
❖ LEONARDO ALVES DINIZ 
❖ LEONARDO DA SILVA GODOY 
❖ LEONARDO PIRES DE SOUZA 
❖ LETÍCIA MARA ANIZIO DE ALMEIDA 
❖ LETICIA ROSA FERREIRA ARRUDAS 
❖ LEVI GONÇALVES DA SILVA 
❖ LOURIVAL DIAS DA ROCHA 
❖ LUCIANA FERREIRA ALVES 
❖ LUCIO RODRIGUES MENDANHA 
❖ LUIS PAULO CAETANO 
❖ LUIZ CORDEIRO PEREIRA 
❖ LUIZ DE OLIVEIRA SILVA 
❖ LUIZ TALIBERTI RIBEIRO DA SILVA 
❖ MARCELLE PORTO CANGUSSU 
❖ MARCELO ALVES DE OLIVEIRA 
❖ MARCIANO DE ARAUJO SEVERINO 
❖ MARCIEL DE OLIVEIRA ARANTES 
❖ MARCILEIA DA SILVA PRADO 
❖ MARCIO COELHO BARBOSA MASCARENHAS 
❖ MARCIO DE FREITAS GRILO 
❖ MARCIO FLAVIO DA SILVA 
❖ MARCIO FLAVIO DA SILVEIRA FILHO 
❖ MARCIO PAULO BARBOSA PENA MASCARENHAS 
❖ MARCO AURELIO SANTOS BARCELOS 
❖ MARCUS TADEU VENTURA DO CARMO 
❖ MARLON RODRIGUES GONÇALVES 
❖ MARTINHO RIBAS 
❖ MAURICIO LAURO DE LEMOS 
❖ MILTON XISTO DE JESUS 
❖ MIRAMAR ANTONIO SOBRINHO 
❖ MOISES MOREIRA DE SALES 
❖ NATALIA FERNANDA DA SILVA ANDRADE 
❖ NINRODE DE BRITO NASCIMENTO 
❖ NOE SANCAO RODRIGUES 
❖ OLAVO HENRIQUE COELHO 
❖ PAMELA PRATES DA CUNHA 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
17 
 
❖ PAULO GEOVANE DOS SANTOS 
❖ PAULO NATANAEL DE OLIVEIRA 
❖ PEDRO BERNARDINO DE SENA 
❖ PETERSON FIRMINO NUNES RIBEIRO 
❖ PRISCILA ELEN SILVA 
❖ RAFAEL MATEUS DE OLIVEIRA 
❖ RAMON JUNIOR PINTO 
❖ RANGEL DO CARMO JANUÁRIO 
❖ REGINALDO DA SILVA 
❖ REINALDO FERNANDES GUIMARÃES 
❖ REINALDO GONÇALVES 
❖ REINALDO SIMAO DE OLIVEIRA 
❖ RENATO RODRIGUES DA SILVA 
❖ RENATO RODRIGUES MAIA 
❖ RENATO VIEIRA CALDEIRA 
❖ RENILDO APARECIDO DO NASCIMENTO 
❖ RICARDO EDUARDO DA SILVA 
❖ RICARDO HENRIQUE VEPPO LARA 
❖ ROBSON MAXIMO GONÇALVES 
❖ RODNEY SANDER PAULINO OLIVEIRA 
❖ RODRIGO HENRIQUE DE OLIVEIRA 
❖ RODRIGO MONTEIRO COSTA 
❖ ROLISTON TEDS PEREIRA 
❖ RONNIE VON OLAIR DA COSTA 
❖ ROSARIA DIAS DA CUNHA 
❖ ROSELIA ALVES RODRIGUES SILVA 
❖ ROSIANE SALES SOUZA FERREIRA 
❖ ROSILENE OZORIO PIZZANI MATTAR 
❖ RUBERLAN ANTONIO SOBRINHO 
❖ SAMARA CRISTINA DOS SANTOS SOUZA 
❖ SAMUEL DA SILVA BARBOSA 
❖ SANDRO ANDRADE GONÇALVES 
❖ SEBASTIÃO DIVINO SANTANA 
❖ SERGIO CARLOS RODRIGUES 
❖ SIRLEI DE BRITO RIBEIRO 
❖ SUELI DE FÁTIMA MARCOS 
❖ THIAGO LEANDRO VALENTIM 
❖ THIAGO MATEUS COSTA 
❖ TIAGO AUGUSTO FAVARINIMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
18 
 
❖ TIAGO BARBOSA DA SILVA 
❖ TIAGO COUTINHO DO CARMO 
❖ VALDECI DE SOUSA MEDEIROS 
❖ VINICIUS HENRIQUE LEITE FERREIRA 
❖ WAGNER VALMIR MIRANDA 
❖ WALACI JUNHIOR CANDIDO DA SILVA 
❖ WALISSON EDUARDO PAIXÃO 
❖ WANDERSON CARLOS PEREIRA 
❖ WANDERSON DE OLIVEIRA VALERIANO 
❖ WANDERSON PAULO DA SILVA 
❖ WANDERSON SOARES MOTA 
❖ WARLEY GOMES MARQUES 
❖ WARLEY LOPES MOREIRA 
❖ WEBERTH FERREIRA SABINO 
❖ WELLINGTON ALVARENGA BENIGNO 
❖ WELLINGTON CAMPOS RODRIGUES 
❖ WENDERSON FERREIRA PASSOS 
❖ WESLEI ANTONIO BELO 
❖ WESLEY ANTONIO DAS CHAGAS 
❖ WESLEY EDUARDO DE ASSIS 
❖ WILLIAN JORGE FELIZARDO ALVES 
❖ WILSON JOSE DA SILVA 
❖ WIRYSLAN VINICIUS ANDRADE DE SOUZA 
❖ ZILBER LAGE DE OLIVEIRA 
 
Quanto ao número de pessoas desaparecidas, até então,5 contabilizam-se 37 (trinta 
e sete). São elas: 
○ ANGELITA CRISTIANE FREITAS DE ASSIS 
○ AROLDO FERREIRA DE OLIVEIRA 
○ BRUNO ROCHA RODRIGUES 
○ CARLOS HENRIQUE DE FARIA 
○ CARLOS ROBERTO PEREIRA 
○ CRISTIANE ANTUNES CAMPOS 
○ CRISTIANO JORGE DIAS 
○ CRISTIANO SERAFIM FERREIRA 
○ ELIS MARINA COSTA 
○ ELIZABETE DE OLIVEIRA ESPINDOLA REIS 
 
5 Conforme relatório da Defesa Civil de Minas Gerais datado de 24 de abril de 2019 às 10h:30 min. 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
19 
 
○ EMERSON JOSE DA SILVA AUGUSTO 
○ EVANDRO LUIZ DOS SANTOS 
○ GERALDO DE MEDEIRO FILHO 
○ JOAO MARCOS FERREIRA DA SILVA 
○ JOAO PAULO ALTINO 
○ JOAO PAULO FERREIRA DE AMORIM VALADAO 
○ JOAO TOMAZ DE OLIVEIRA 
○ JULIANA CREIZIMAR DE RESENDE SILVA 
○ LECILDA DE OLIVEIRA 
○ LUCIANO DE ALMEIDA ROCHA 
○ LUIS FELIPE ALVES 
○ LUIZ CARLOS SILVA REIS 
○ MANOEL MESSIAS SOUSA ARAUJO 
○ MARIA DE LURDES DA COSTA BUENO 
○ MAX ELIAS DE MEDEIROS 
○ MIRACEIBEL ROSA 
○ NATHALIA DE OLIVEIRA PORTO ARAUJO 
○ NILSON DILERMANDO PINTO 
○ NOEL BORGES DE OLIVEIRA 
○ OLIMPIO GOMES PINTO 
○ RENATO EUSTAQUIO DE SOUSA 
○ ROBERT RUAN OLIVEIRA TEODORO 
○ RODRIGO MIRANDA DOS SANTOS 
○ ROGERIO ANTONIO DOS SANTOS 
○ TIAGO TADEU MENDES DA SILVA 
○ UBERLANDIO ANTONIO DA SILVA 
○ VAGNER NASCIMENTO DA SILVA 
 
Cada uma dessas vidas, que desapareceu de forma abrupta, era fruto de uma 
história particular, estava inserida em uma rede de relações afetivas e sociais, deixando em 
cada ausência o vazio da perda na vida de milhares de pessoas, entes queridos que tem, a 
partir da tragédia, que reconstruir suas vidas, suas relações, seus afetos, que lhes foram 
tomados com a violência da onda de lama. 
 
 
4.1.1 O luto que não chega 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
20 
 
A questão da espera pelo encontro de corpos foi, até mesmo nos veículos de 
comunicação, amplamente debatida, e abordada por muitos especialistas como fator de 
ampliação da dor. Com efeito, despedir-se do seu ente querido e de seu corpo, para alguns 
familiares, é indispensável, materializando-se o luto e sua vivência nas etapas de choque, 
negação, depressão e reconstrução. 
Mesmo passados 03 meses desde o desastre, dezenas de pessoas permanecem 
desaparecidas e, por conseguinte, ainda há quem permaneça com o difícil sentimento de 
perder alguém, mas não ter o corpo para realizar os rituais de despedida. 
 
 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47149958 
 
Não foram incomuns relatos de familiares que compareceram diuturnamente, por 
longos períodos, ao Instituto Médico Legal e ao próprio local do Desastre da Vale na 
incessante busca pelo encontro de seus entes. Com o passar do tempo, é certo, a angústia 
aumenta de forma intensa e avassaladora. Sentimento comum relatado é de um enorme 
“vazio” até que o último adeus possa ser dado: 
Que eles aguardaram notícias por quase oitenta dias… ‘foram 80 dias 
de um velório sem corpo.’ Que foram encontrados partes dos 
membros inferiores do sogro em 13/04/2019 e foi então realizado o 
velório e o enterro no dia 14/04/2019. Nas palavras da declarante: “Ele 
foi encontrado no dia 13/04/19, ele não né...os pedacinhos dele. 
(Declarações de Juliana Cardoso Gomes Silva ao Ministério Público do 
Estado de Minas Gerais) 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
21 
 
 
Foto: Alenice Baeta 
 
4.1.2 O horror no recebimento de segmentos corpóreos 
Não fosse o bastante a dor da perda, em razão do impacto do Desastre da Vale, 
muitos familiares de vítimas fatais ainda precisaram lidar com a tristeza e o horror de terem 
sido localizados apenas segmentos corporais de seus entes, como se deflui dos relatos 
abaixo: 
[...] que é muito difícil criar um filho até os 23 anos de idade e ver o “o 
sonho dele acabar assim”; que ele era um rapaz de 1.90 de altura e pesava 
120 quilos; que demoraram a encontrar o corpo do seu filho; que o 
declarante e a filha não tiveram coragem de ver o corpo porque o 
declarante “esperava ver ele inteiro, mas cheguei lá e vi um 
embrulho pequeno, um pacote, ou seja, eu veria algo muito feio, 
pedaços dele [...] (Declarações de Adail dos Santos ao Ministério 
Público do Estado de Minas Gerais). 
 
A pessoa sai para trabalhar um adulto de mais de 1,70 m e 90 quilos e 
quando volta te entregam um saco com menos de um quilo […]. 
(Declarações de Juliana Cardoso Gomes Silva ao Ministério Público do 
Estado de Minas Gerais) 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
22 
 
Aliás, houve casos, em que, inclusive, mais de um segmento de um mesmo corpo 
foi encontrado em momento diverso, com necessidade de nova inumação e, por óbvio, 
novos reflexos negativos no estado emocional de seus entes queridos. 
 
4.1.3 Brumadinho: a cidade inteira em luto 
A pequena Brumadinho, particularmente, se viu envolta em um generalizado clima 
de luto e tristeza. O sorriso evadiu-se do rosto das pessoas e deu lugar a orações e à 
tristeza. Os dias subsequentes ao Desastre foram marcados por sucessivos sepultamentos, 
repetidas idas ao IML, na tentativa de identificação dos corpos, comércios de porta 
fechadas, a rotina de toda a cidade foi tomada pelo caos e pelo medo. Sendo Brumadinho 
uma cidade pequena e pacata, é fácil concluir que todos os moradores têm parente, amigo 
ou conhecido entre as vítimas fatais. 
O clima generalizado do município pode ser ilustrado por este trecho de relato de 
uma moradora de Córrego do Feijão ao MPMG: 
Ela estava em casa no momento do rompimento da barragem, que ela 
ouviu um barulho muito alto de água rolando e viu uma nuvem de 
poeira, muitas pessoas abandonaram os carros na estrada, saíram 
correndo e gritando. “…aqueles gritos nunca vão sair da minha 
cabeça, até hoje eu escuto...” O marido da declarante saiu correndo de 
casa e gritando pelo pai dele, Levi Gonçalves da Silva, que trabalhava 
debaixo da barragem, em uma empresa terceirizada da VALE. A 
declarante, o marido e os dois filhos pequenos, um de três e o outro de 
seis anos, ficaram dentro do carro rodando na região esperando que o 
sogro aparecesse. Eles ficaram com medo de ele voltar para casa 
machucado ou desorientado e não haver ninguém para recebê-lo, porque 
eles levaram a sogra para outra localidade por precaução. Que eles ainda 
ficaram aguardando a chegada do sogro durante o final de semana, mas 
eles não aguentavam ficar dentro de casa em razão, nas palavras da 
declarante: “da tortura dos helicópteros...que faziam muito barulho 
e o pior eles carregavam bolsões de lama e restos mortais que 
pingavam sobre a casa da declarante e sobre a sua horta... 
(Depoimento de Juliana Cardoso Gomes Silva ao MPMG) 
 
4.1.4 Lesões à integridade física das pessoas 
Além das vidas que foram ceifadas impiedosamente pelo desastre, outras pessoas 
sofreram lesões à sua integridade física. 
Tal fato poderia ser minorado se a requerida tivesse tomado as cautelas mais básicas 
com relação aos cuidadosem se manter uma barragem de rejeitos próxima a comunidades, 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
23 
 
como, por exemplo, ter um sistema de sirenes que efetivamente funcionasse em caso de 
emergências. 
Diversos depoimentos prestados ao Ministério Público no bojo do inquérito civil 
MPMG 0090.19.000012-6 confirmam que se rompeu barragem da requerida sem que (mais 
uma vez!) nenhuma sirene fosse tocada para alertar a população, entregando a fuga das 
pessoas à própria sorte. A título de exemplo, vejamos o seguinte depoimento: 
[...] que no dia 25 de janeiro de 2019, quando houve o rompimento da 
barragem, não tocou sirene na comunidade e todos foram pegos de 
surpresa; que um sobrevivente conhecido da declarante disse que tudo 
foi muito rápido e, ao ver as ondas de lama, o restaurante foi atingido em 
cheio. (Termo de Declarações prestado no IC MPMG 0090.19.000012-6, 
folhas 165/166) 
 
Pegas de surpresa, pessoas foram arrastadas pela lama, tendo seus corpos 
dilacerados, ossos quebrados, membros feridos. Em matéria publicada no site G1, foram 
reunidos diversos relatos de pessoas que escaparam da lama, dos quais se destaca: 
 
Thalyta Cristina de Oliveira Souza, de 15 anos, estava quase sufocada 
quando conseguiu sair da lama de rejeitos e pedir ajuda. Foi resgatada 
por bombeiros, com a bacia e o fêmur quebrados e foi internada, junto 
com a irmã, no hospital de pronto-socorro João XXIII. 
 
Alessandra contou que a força da onda era tanta que a sensação era a de 
estar dentro de um liquidificador: "A única imagem que a gente tem é 
como se você estivesse dentro de um liquidificador gigante, sendo girada 
de um lado e para o outro, e sendo esmagada por pedra, pau, ônibus, 
veículo, porta, tudo que estava vindo para baixo, esmagando as pessoas, 
quebrando tudo".6 
 
Como demonstrado, a conduta da requerida causou inequívocos danos à 
integridade física de pessoas, para além do aspecto moral. 
 
4.2 Destruição de casas, quintais, moradias 
A onda de lama de rejeitos passou por centenas de imóveis em seu percurso até o 
leito do Rio Paraopeba. Nesse trajeto cobriu dezenas de moradias, quintais e construções, 
levando o cenário de destruição ao espaço de reprodução social e vivência de centenas de 
 
6 Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/29/veja-historias-de-quem-sobreviveu-por-
pouco-ao-rompimento-da-barragem-em-brumadinho.ghtml>. Acesso em: 29 abr. 2019. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
24 
 
famílias. Foram soterradas e inviabilizadas a permanência no local, o uso de espaços de 
moradia, de convivência. Submergiram histórias, memórias familiares, pessoais e coletivas. 
 
 Fonte: Marcelo Vilarino 
 
 Fonte: Marcelo Vilarino 
 
Um exemplo é o Sr. Hélio Murta que nasceu e foi criado em uma casa na 
comunidade do Parque da Cachoeira (município de Brumadinho/MG) até o local ser 
invadido pela lama tóxica. Ao ser entrevistado pela BBC News Brasil disse que: 
 
Esta casa é centenária. Aqui, minha mãe ganhou seus 11 filhos. A gente 
brincava de descer morro de carrinho, tudo a gente mesmo que 
construía. Meu pai tirava leite da vaca aqui e, às 6h, tinha que estar em 
Brumadinho para o trem levar tudo para Belo Horizonte. Estamos com 
o umbigo enterrado aqui. Sentimos muito ao ver o que era antes e o que 
veio depois. Quando abrir a janela da cozinha (que dá para onde ficava o 
Córrego do Feijão e onde está a lama hoje), vou ficar imaginando quem 
são as pessoas aí debaixo.7 
 
7 Disponivel em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47165090>. Acesso em 25 abr. 2019. 
 
 
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25 
 
O fato acima apresentado ocorreu na comunidade de Alberto Flores, assim batizada 
em homenagem ao patriarca da família Murta, fundadora da localidade. Segundo as 
moradoras Ione e Ilda Murta, Alberto Flores foi o criador do bairro Parque da Cachoeira. 
Estes relatos demonstram a importância do local não apenas como fonte de memórias 
pessoais e familiares, mas para as memórias coletivas da região. 
Outro caso marcante, pode ser encontrado no relato do senhor Geraldo Divino 
Medeiros, 91 anos. O antigo morador do bairro de Parque da Cachoeira, que se locomove 
com o auxílio de um andador, teve sua casa destruída pela lama e só sobreviveu ao desastre 
pois foi retirado pela janela de casa por um de seus funcionários, conhecido como 
“Maguinho”. No momento do relato, no dia 05 de fevereiro, o morador se encontrava 
hospedado na casa de um amigo, com o andador parcialmente amassado, angustiado por 
não saber da condição em que se encontrava seu salvador. 
Edison Luiz Albanez, em depoimento que prestou ao MPMG, também narrou sua 
percepção quando se deparou com a residência coberta pela lama: 
Não havia mais nada; não havia mais casa, jardins, piscina, cozinha 
gourmet, casa de hóspedes, todo o trabalho construído em 40 anos, foi 
destruído em 70 segundos, com a perda maior, que foi a perda de sua 
esposa Sirlei. A partir daí perdeu todos os seus pertences, computadores, 
documentos, enfim, tudo que havia em sua casa. Ficou com a roupa do 
corpo e foi acolhido pela comunidade de brumadinho e por parentes que 
o receberam e hospedaram em suas casas provisoriamente. (Depoimento 
de Edison Luiz Albanez ao MPMG) 
 
 
A comunidade de Pires, por sua vez, não teve suas moradias invadidas pela lama, 
todavia, devido ao risco de contaminação, as casas mais próximas ao rio Paraopeba foram 
interditadas pela Defesa Civil. As moradoras entrevistadas, hospedadas com suas famílias 
em pousadas, queixaram-se de furtos e vandalismo em suas moradias, deixadas abertas e 
abandonadas após o Desastre da Vale. O relato das moradoras mostra ainda a importância 
do rio Paraopeba para os moradores da comunidade. As atingidas queixaram-se durante 
seus relatos de manchas na pele e coceiras causadas após o contato que tiveram com a água 
do rio na tentativa de salvar os peixes da lama tóxica. 
 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
26 
 
4.3 Destruição e inviabilização das plantações e estruturas de produção 
Com a passagem da onda de lama pelas áreas próximas às comunidades de Córrego 
do Feijão, Parque da Cachoeira e Alberto Flores, uma grande porção das terras produtivas 
utilizadas pelos moradores das comunidades para atividades econômicas foram soterradas. 
Sobretudo a agricultura, horticultura e olericultura foram inviabilizadas e, dessa forma, uma 
das principais atividades produtivas dessas comunidades. 
 
 
Fonte:https://revistagloborural.globo.com/Colunas/bruno-blecher/noticia/2019/01/os-impactos-do-rompimento-da-
barragem-produtores-rurais-de-brumadinho.html (Foto: Lalo de Almeida / Ed.Globo) 
 
Os produtores que tinham suas áreas de cultivo nas imediações das Comunidades 
de Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão vendiam sua produção para o CEASA de Belo 
Horizonte, para redes de sacolões e o mercado local de Brumadinho. Deve-se destacar que 
a produção de hortaliças é atividade de alto investimento e de uso intenso de mão de obra, 
com arranjos produtivos que envolvem os proprietários dos terrenos, arrendatários, 
meeiros e diaristas. A lama proveniente do desastre soterrou em segundos muitas dessas 
áreas, levando junto maquinário, insumos, sistemas de irrigação e cobriu, ainda, várias vias 
de acesso às plantações remanescentes. Aos produtores sobrou um rastro de prejuízo e 
desespero pela perda da produção, das propriedades, dos investimentos e das fontes de 
trabalho e renda. Não bastasse, restou a eles ainda a angústia e o constrangimento de ver a 
lama da requerida ameaçar sujar-lhes “o nome”, pelo fato de, agora, não poderem arcar 
 
 
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com o pagamento dos financiamentos e dívidas decorrentes da atividade produtiva. As 
imagens de satélite a seguir retratam bem o soterramento e isolamento de plantações da 
região próxima à comunidade do Parque da Cachoeira. 
A onda de lama deu continuidade aos seus impactos na desestruturação 
socioeconômica da população residente na bacia do Paraopeba. A impossibilidade de uso 
das águas do rio Paraopeba bem como de qualquer fonte de água subterrânea localizada na 
região da calha do Paraopeba, tornou inviável a manutenção das estruturas produtivas que 
utilizavam sistemas de irrigação ou captação, na esmagadora maioria das propriedades às 
margens do rio Paraopeba ao longo de todo o seu curso. 
 
Imagem de Satélite - Plantações às margens do Rio Paraopeba no Município de Mário Campos/ MG - Detalhe para o 
aspecto do Rio Paraopeba após o Desastre da Vale - Fonte: CAOMA/MPMG 
 
Com isso, sistemas de irrigação das mais diversas dimensões se viram do “dia para a 
noite” inutilizados, gerando drásticas consequências econômicas para a população ali 
residente. Na comunidade da Reta do Jacaré, por exemplo, localizada no município de 
 
 
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Mário Campos, praticamente todos os moradores desenvolviam atividade de horticultura 
irrigada com água do rio Paraopeba, em uma área que totalizava mais de 40 hectares. Com 
a chegada dos rejeitos ao rio a atividade de plantio de hortaliças, que ocupava as dezenas de 
famílias da comunidade, teve de ser bruscamente paralisada, restando sem qualquer 
utilidade toda a estrutura de irrigação ali instalada. 
 
Em reunião realizada na referida comunidade em 07 de fevereiro de 2019 foram 
colhidas as seguintes informações a respeito desse tema: 
O técnico da EMATER informou que 1 ha de horta consome de 50.000l 
a 70.000 litros de água por dia (em dias de alta insolação). Havendo na 
comunidade mais de 40 ha de horta plantada, podemos dizer da 
existência de uma alta demanda de abastecimento de água para garantir a 
continuidade da produção. O volume demandado é inexequível para o 
fornecimento em quantidade suficiente. 
A comunidade manifesta grande preocupação com a impossibilidade de 
manutenção de sua renda e subsistência, com a impossibilidade de 
manutenção do plantio das hortas, sendo demandada o pagamento de 
auxílio mensal emergencial. 
A comunidade relata perdas nas hortas por ter ficado 7 dias sem acesso à 
água para irrigação após a proibição da utilização da água do rio 
Paraopeba. Manifesta ainda preocupação com as dívidas (aluguéis e 
 
 
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financiamentos formais e informais para investimentos na produção) que 
podem se acumular com a impossibilidade de manutenção da atividade 
produtiva. 
Segundo relato de um fazendeiro atingido do município de Papagaios à equipe 
técnica do Ministério Público, representado pela CIMOS, em reunião pública no dia 16 de 
abril de 2019, sua plantação consumia cerca de 800.000 (oitocentos mil) litros de água por 
hora, originados de três pivôs de irrigação no Rio Paraopeba, utilizados para a produção de 
milho e sorgo, que, por sua vez, são utilizados na propriedade para alimentação na granja 
de suínos. O impacto da paralisação de uma estrutura produtiva desta magnitude não 
ocasiona prejuízos econômicos apenas a seus proprietários, deixando atrás de si um rastro 
de estagnação econômica para o contexto local, com a redução de circulação de produtos e 
serviços e arrecadação, assim como impactando diretamente os trabalhadores empregados 
no referido empreendimento agropecuário. 
Segue abaixo, trecho do relatório de campo de visita técnica realizada na região de 
Citrolândia em Betim no dia 09/04/2019, discorrendo a respeito da situação junto à área 
de produção agrícola de um casal de produtores de milho e silagem. Como não podem 
mais captar água do rio Paraopeba, estão dependendo da água fornecida pela Vale através 
de caminhões-pipa, que estaria disponibilizando quantidade menor do que a necessária para 
manter o volume de produção. 
O fato de não poderem mais captar água do rio Paraopeba para irrigação 
está trazendo prejuízos aos produtores rurais. Um deles alegou que a 
quantidade de água que a Vale está fornecendo é insuficiente para a 
demanda referente ao tamanho da plantação de milho de um atingido. A 
empresa estaria entregando apenas 20 mil litros, quantidade suficiente 
para o cultivo de apenas 20% da área que ele possui, sendo que antes ele 
plantava em 100% do terreno. O mesmo produtor também alega que a 
escassez de água torna a produção mais lenta, pois as plantas demoram 
mais a crescer. 
 
Outra atividade produtiva importante, que utiliza as terras às margens do rio 
Paraopeba é a pecuária, principalmente bovina e bubalina. As pastagens cultivadas e 
consolidadas ao longo do rio constituem-se historicamente em espaços preferenciais para 
exercício da atividade de bovinocultura em virtude, principalmente, da facilidade de acesso 
à água para dessedentação animal, seja diretamente extraída do rio Paraopeba, com acesso 
direto do gado ao leito ou com a utilização de sistemas de captação, seja através do uso de 
 
 
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águas subterrâneas retiradas de áreas nas imediações do leito do rio. Ambas as formas de 
uso atualmente estão inviabilizadas em virtude do Desastre da Vale. 
A impossibilidade de utilização dos supramencionados recursos hídricos tem 
causado sérios prejuízos ao setor que se ocupa da pecuária nos municípios que margeiam o 
rio Paraopeba. Com o cercamento do rio e a impossibilidade e/ou diminuição da área 
utilizada para pastagem às margens do rio Paraopeba, os prejuízos à população que se 
dedica à pecuária nas regiões afetadas pelo Desastre da Vale têm se multiplicado, e variam 
em intensidade em razão do acesso a recursos econômicos no caso de cada produtor, 
sendo mais dramáticas as consequências na medida em que o produtor disponha de menos 
recursos econômicos. 
Em alguns casos os produtores tiveram que mover seus rebanhos para outras 
pastagens disponíveis dentro dos limites de suas propriedades, tendo que incorrer em 
custos de instalação de estrutura para dessedentação animal. Em outros casos os 
produtores têm que recorrer ao aluguel de pastos em propriedades vizinhas incorrendo em 
custos adicionais à sua atividade produtiva. Em outros casos ainda, a opção foi pela venda 
do rebanho diante da incerteza e insegurança quanto a capacidade de garantir aos animais 
alimentação e água em quantidade suficiente. Verifica-se, portanto, a completa 
desestruturação produtiva de unidades econômicas em virtude dos impactos decorrentes 
do Desastre da Vale. 
Durante as visitas à campo, realizadas pelo MPMG, foram também recorrentes 
relatos de que proprietários/pecuaristas que não veem “saída” diante da contaminação das 
águas do rio Paraopeba pela lama de rejeitos provenientes do Desastre da Vale, a não ser 
continuar dar a água, agora contaminada, ao gado, sob pena de perderem todo o seu 
rebanho. Em relatório de reunião realizada no município de Florestal, destaca-se o seguinte 
trecho: 
Produtores relataram que em algumas propriedades o gado ainda está 
bebendo a água do rio. Disseram ainda, que alguns animais bebem água 
de cisterna ou de poços artesianos localizados próximos ao rio. 
Demandam a implantação por parte da Vale de poços artesianos seguros 
para a irrigação de plantações e consumo de água pelos animais, e o 
cercamento do rio. Demandam também a realização de análise da 
qualidade da água dos poços e cisternas próximas ao rio. 
 
 
 
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Tal situação, para além dos riscos de danos econômicos eventuais aos produtores, 
decorrentes da morte e adoecimento dos rebanhos,faz com que se espalhem riscos de 
danos a saúde de todos os consumidores em potencial dos produtos da agropecuária da 
região. 
Outra preocupação recorrente dos produtores de alguns municípios, em especial 
nos municípios de Papagaios e Paraopeba, refere-se ao período de cheias do rio. Nesses 
municípios, as áreas agricultáveis mais férteis consistiam justamente nas áreas de várzea do 
rio Paraopeba, nas quais, era comum que nos períodos de cheia ocorressem inundações. 
Estas enchentes, segundo os próprios atingidos, fazem parte da dinâmica de agricultura 
local, era rotineiro que, após os períodos de cheias, as terras fossem aradas e reviradas de 
modo a permitir que os nutrientes trazidos com o rio tornassem a terra mais fértil. Segundo 
relatório da equipe técnica do Ministério Público, representado pela CIMOS, referente à 
reunião realizada no município de Papagaios: 
A maior parte das terras férteis do município se localizam em terreno de 
baixada, a dinâmica de fertilização dessas terras dependia dos períodos de 
cheia do rio, no qual as áreas eram alagadas. Há um grande medo de 
contaminação dessas áreas férteis de pastagem pela lama proveniente do 
rompimento. 
As lagoas próximas ao rio Paraopeba, lagoas marginais, conhecidas como 
“Rio Velho”, formadas com as águas do próprio rio ao longo do tempo, e 
muito utilizadas pela população residente, correm grave risco de 
contaminação nos períodos de cheia. (Relatório Técnico da 
CIMOS/MPMG, 15 e 16 de abril de 2019, município de Papagaios) 
 
Após o desastre da Vale, a esperança de renovação da terra tornou-se medo de 
destruição de grande parte das áreas férteis da região. Com novas cheias no Paraopeba, o 
rio trará sua lama tóxica, contaminando propriedades e acarretando novos sofrimentos para 
a população local. 
 
 
 
 
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Inundação do rio Paraopeba. Ao fundo observa-se o rio passando do nível das árvores. Fonte: Acervo pessoal de 
Monalisa Cardoso Mota 
 
4.4. Deslocamento forçado de pessoas 
Os dados obtidos até o momento dão conta de que no município de Brumadinho 
273 pessoas/famílias (cerca de 94 núcleos familiares) foram obrigadas a se deslocar das suas 
residências, seja pelo fato de terem suas casas soterradas pela lama ou por suas residências 
passarem a se encontrar em áreas de risco, próximas ao derramamento de lama. 
Já não fosse o bastante, famílias que se viram obrigadas a deixarem suas casas por 
causa do mar de lama, foram vítimas de saques. Um exemplo é Camila, moradora da região 
do Pires que teve a sua casa saqueada, completamente revirada e tendo ocorrido, inclusive, 
a subtração dos pneus novos do veículo que estava no quintal. Camila e seus filhos foram 
obrigados a deixar a residência apenas com a roupa do corpo, horas após o desastre, não 
podendo levar nada consigo. No dia 21/02/2019, quase um mês após o Desastre da Vale, 
ao tentar retornar para casa, esse foi o cenário com o qual se deparou. 
 
 
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 Fotos fornecidas pela atingida Camila, Comunidade Pires, Brumadinho. 
 
 
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Há também situações de famílias e comunidades que não conseguem lidar com a 
situação de continuarem vivendo nas cercanias dos locais onde centenas de pessoas foram 
soterradas e mortas, ou onde corpos foram resgatados. 
Note-se que, não obstante a grave situação das famílias do município de 
Brumadinho, hoje obrigadas a residirem em hotéis, pousadas e casas de parentes ou 
alugadas, verificou-se nos recentes trabalhos de campo da equipe técnica do MPMG a 
ocorrência de processos de deslocamento forçado de pessoas residentes em áreas muito 
distantes daquelas próximas ao local em que ocorreu o derramamento de lama no 
município de Brumadinho. 
Com efeito, a magnitude dos danos causados pelo Desastre da Vale afetaram de 
forma tão intensa o conjunto de relações sociais e econômicas que dependiam do Rio 
Paraopeba que já foi identificado, no município de Pompéu/MG, localizado a uma 
distância quase 200 quilômetros de Brumadinho, um caso em que uma família, em razão do 
Desastre da Vale, foi forçada a deixar sua moradia. Em declaração apresentada à prefeitura 
de Pompéu e encaminhada ao MPMG, o senhor o Sr. Raimundo Otávio da Silva, 
informou: 
que morava e residia em uma ilha mais conhecida como Ilha do 
Mundinho, dentro do rio Paraopeba no município de Pompéu, onde vivia 
da Pesca de lá tirava o meu sustento e da minha família, e depois do 
rompimento da Barragem Córrego do Feijão no dia 25 de Janeiro de 2019, 
que veio a atingir o rio Paraopeba fui obrigado a mudar para o Município 
de Pompéu onde estou desempregado e morando de favor passando por 
muitas dificuldades. 
 
Na região de Curvelo, na localidade de Cachoeira do Choro, foi levantado pela 
equipe técnica do MPMG situação de pessoas que também se viram obrigadas a deixar seu 
lugar de origem devido às consequências do Desastre da Vale: 
 
Com a queda brusca do movimento de pessoas da Cachoeira do Choro, 
diversas pessoas que lá trabalhavam como comerciantes, caseiros, 
trabalhadores da construção civil - entre outras ocupações que dependiam 
do intenso fluxo de turistas, pescadores e sitiantes - ficaram sem renda e 
estão passando necessidade. Muitos estão vendo-se obrigados a deixar a 
localidade e mudar-se para outras cidades à procura de emprego e renda. 
(Relatório CIMOS/MPMG - 08/04/2019) 
 
 
 
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Situação semelhante é a vivida pelo Sr. Antônio Carlos de Almeida Barbosa 
residente à 70 metros do leito do rio Paraopeba, na região conhecida como Fazenda dos 
Macacos, na região conhecida como Córrego de Areia, em Fortuna de Minas. 
Relatou que mora lá há 5 anos e que inicialmente foi trabalhar na draga 
de areia, porém quando esse trabalho terminou o proprietário o deixou 
continuar morando na Fazenda, cobrando o acesso de pescadores ao rio 
(10 reais). Disse que a movimentação de pescadores era grande (em 
média 70 pescadores por dia), pois a quantidade de peixes no local é 
grande, em razão dos “buracos” formados pelas máquinas de dragar 
areia. Informou que ele também pescava e vendia peixes para esses 
pescadores. Disse que está totalmente sem renda, pois após o 
rompimento os pescadores pararam de frequentar o rio. (Relatório 
CIMOS/MPMG- 09/04/2019) 
 
Durante a realização da visita, o referido atingido relatou à equipe do MPMG que 
encontrava-se na iminência de mudar-se, pretendendo residir na casa de um filho em 
virtude da impossibilidade de garantir sua subsistência naquele local, como fizera nos 
últimos 5 anos. 
Cabe destacar, também, a retirada de internos do “Pavilhão” da Colônia Santa 
Izabel, em Betim, no dia do Desastre da Vale, mediante alerta feito pela Defesa Civil. 
Tratam-se de pessoas com sequelas de hanseníase, muitas delas cadeirantes, que 
expressaram pavor diante da situação caótica enfrentada no dia 25/01/2019, quando a 
unidade foi evacuada. Segue, trecho de relatório de visita técnica realizada na referida 
unidade de atendimento: 
 
Segundo funcionária do Pavilhão, no primeiro momento levaram todos 
os internos para o segundo andar, depois o corpo de bombeiros chegou 
e avisou que o local teria que ser interditado. Assim, todos os internos 
foram retirados do prédio e distribuídos em hospitais, casas/lares, 
residência de cuidadores, casas de parentes. Houve muita 
resistência dos internos, que não queriam sair do local. No 
processo um deles se feriu. (Relatório Cimos, de 09/04/2019 em 
Betim). 
 
Também foi noticiado à equipe do MPMG uma situação de migração compulsória 
de pescadores. Em relatório de visita técnica à região de Pompéu foi noticiado: 
que os moradores tomaram conhecimento que diversos pescadoresdo 
Rio Paraopeba e do Lago de Três Marias viram-se obrigados a mudar de 
região onde pescavam e estariam deslocando-se para o Rio Pará e para a 
 
 
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parte alta do Rio São Francisco, antes dele desaguar na represa de Três 
Marias. (Relatório CIMOS/MPMG - 09/04/2019) 
 
Assim, fica evidente que a conduta da requerida trouxe como consequência o 
deslocamento compulsório de pessoas dos seus locais de moradia e trabalho, culminando 
no surgimento de verdadeiros grupos de “refugiados ambientais”. 
 
4.5 Mudança abrupta do modo de viver das populações atingidas 
No presente tópico serão descritas as diversas situações que, isoladamente 
consideradas, não seriam notadas pela urgência das situações decorrentes e das 
repercussões de um desastre dessa magnitude. 
 
Fonte:https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/25/barragem-da-vale-se-rompe-em-brumadinho-mg-fotos.ghtml 
 
Desde o dia 25/01/2019, o caos generalizado instaurou-se no município de 
Brumadinho: estradas interditadas, comunidades como Melo Franco, São José do 
Paraopeba, Marinhos, Casinhas, Sapé e Aranha ilhadas, centenas de pessoas desalojadas de 
suas casas, helicópteros que sobrevoam a região carregando corpos, sistema de transporte 
prejudicado, arrefecimento ou fechamento de comércios, crianças impossibilitadas de irem 
à escola, suspensão da captação de água do rio Paraopeba pela COPASA devido à 
contaminação do rio, soterramento de pessoas, animais e plantas, são alguns dos efeitos 
dramáticos mais evidentes causados pelo Desastre provocado pela Requerida. 
 
 
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Os danos causados pelo Desastre da Vale deixaram, além de centenas de mortos e 
desaparecidos, um rastro de horror incalculável, que repercutiu na saúde mental, física e 
emocional da população. Além disso, o mar de lama solapou projetos de vidas, 
estabelecimentos comerciais, propriedades privadas, destruiu o patrimônio social e cultural 
e, por conseguinte, a memória de um povo, suas famílias e indivíduos. 
Durante semanas, os brumadinhenses observaram as dezenas de helicópteros que 
cortavam o céu de sua cidade, na esperança de que os bombeiros trouxessem os corpos de 
seus familiares e amigos e que tais corpos ou segmentos de corpos pudessem ser velados. 
Até hoje, dezenas de famílias ainda aguardam o corpo de seu ente querido a fim de 
realizarem uma despedida digna. 
Como se não bastasse, ainda vivenciaram um verdadeiro cenário de operação de 
guerra, montado para localizar as vítimas da avalanche de lama tóxica. O campo de futebol 
em frente à Igreja Nossa Senhora das Dores no Córrego do Feijão virou pista de pouso e 
decolagem de helicópteros; a igreja foi o quartel general de dezenas de socorristas; 
caminhões frigoríficos onde seriam colocados os corpos encontrados que chegavam no 
município acompanhados pelo rabecão. No bairro Parque da Cachoeira, foi o campo de 
futebol, uma das duas principais áreas de lazer do bairro - a outra era o Córrego Ferro do 
Carvão (e o próprio Rio Paraopeba) que recebeu o rejeito que desaguou no Rio Paraopeba 
- que foi o ponto de instalação da estrutura de apoio montado pela empresa responsável 
pelo Desastre para atuação local, contribuindo ainda mais para a sensação de 
intranquilidade e transformação do modo de vida local. 
 
 
 
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Em meio a tudo isso, no dia 27/01/2019, por volta das 05h30min, os moradores 
foram acordados pelo alarme da sirene de evacuação, o que provocou grande susto e 
 
 
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alvoroço, bem como a interrupção das buscas. O alarme soou depois que a barragem VI, 
situada no complexo da Mina Córrego do Feijão, e, repleta de água, atingiu o nível 2, 
havendo risco de se romper. Como narrado por uma atingida: 
A sirene tocou no domingo (27/01/19) às cinco horas da manhã e foi 
um desespero geral, carros correndo, pessoas de pijama na rua, sem 
saber o que estava acontecendo. A defesa civil retirou a declarante de 
casa no dia 26/01/19 porque a outra barragem corria o risco de 
rompimento devido a estresse causado pelo rompimento da primeira 
barragem”. (Declarações de Juliana Cardoso Gomes, ao MPMG). 
 
O temor de que a barragem VI se rompesse passou a aterrorizar a população 
brumadinhense e dos municípios vizinhos atingidos pelo primeiro rompimento, pois em 
caso de ruptura, para além do derramamento de milhões de metros cúbicos de água no 
meio ambiente, os danos provocados pelo Desastre da Vale no dia 25/01/2019 seriam 
agravados pelo revolvimento do rejeito já derramado. 
População sofrida diante da tragédia vivida, não esperava que na madrugada do dia 
04/02/2019, o desespero tomaria novamente conta do lugar quando nova sirene soou. 
Todavia, desta vez não era o que se imaginava. Apurou-se que ela teria sido acionada por 
uma empresa da região, sendo este um procedimento corriqueiro do empreendimento para 
evitar que seus funcionários se acidentassem. Esse episódio foi destaque nos veículos de 
comunicação.8 O espectro da lama invisível é que passa a assombrar toda uma população. 
A interrupção do modo de vida das pessoas abarcou inúmeros aspectos da vida das 
pessoas, como, por exemplo, na área da educação: houve a interrupção das aulas no 
município durante alguns dias no pós-Desastre, a perda de inúmeros dias letivos nas 
unidades escolares do município em função da interrupção da principal via de acesso da 
região leste do município ao Centro da cidade, relato de crianças que não queriam mais 
frequentar a escola, com medo de rompimento de novas barragens e, caso acontecesse, 
estariam longe dos pais. 
 
8 Por exemplo: Jornal Hoje em Dia: <https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/cidades/sirene-toca-na-madrugada-e-
assusta-moradores-em-brumadinho-1.691370>; Jornal Estado de Minas: 
<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/02/04/interna_gerais,1027585/bombeiros-desmentem-que-sirene-
tenha-sido-acionada-novamente.shtml>; Portal da Rádio Itatiaia: <http://www.itatiaia.com.br/noticia/sirene-de-alerta-
toca-de-madrugada-e-assusta>; Portal Sete Lagoas S.A. <http://www.setelagoassa.com.br/sirene-toca-na-madrugada-e-
assusta-moradores-em-brumadinho-cidades/>; Agência Brasil <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-
02/bombeiros-desmentem-que-sirene-tenha-sido-acionada-na-madrugada>; Potal BHAZ 
<https://bhaz.com.br/2019/02/04/sirene-toca-brumadinho/>. Todos acessos em: 04/04/2019 
 
 
 
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De um modo geral, dentre os inúmeros problemas houve: o cancelamento de 
consultas e procedimentos médicos, dificuldade de acessar bancos (para saques de dinheiro 
e quitação de boletos bancários), dificuldade em algumas regiões de acessar os comércios 
para realização de compras e quitação de prestações sobretudo para moradores da região 
leste de Brumadinho, procura por ansiolíticos, etc. 
Para os moradores da região Leste de Brumadinho que possuem veículos 
automotores, o tempo para acesso ao centro da cidade foi alterado de aproximadamente 20 
(vinte) a 30 (trinta) minutos, para 03 (três) horas em média, aumentando em cerca de 150 
km a distância a ser percorrida. Por outro lado, os que dependiam de transporte público 
tiveram dificultadas as opções de traslado de seus bairros ao Centro da cidade mediante a 
redução drástica no fornecimento de transporte urbano. Casos emblemáticos ocorreram 
neste ínterim, como o falecimento de dois moradores da região da Comunidade de 
Marinhos/São José do Paraopeba que, tendo passado mal, não obtiveram acesso a 
ambulâncias com a rapidez necessária ao salvamento de suas vidas. 
Também como reflexo do Desastreda Vale, temos o anúncio, pela requerida, do 
pagamento de doações por mortes, que acabaram por gerar inúmeros casos encaminhados 
pelo Conselho Tutelar, noticiando disputas por crianças órfãs, em um momento de vida 
que demandava todo cuidado para que o trauma não fosse ainda maior. Quer dizer, mesmo 
as desastradas tentativas da Vale de reduzir, ainda que minimamente, os efeitos 
incalculáveis do evento que protagonizou ainda geraram mais consequências negativas 
sobre as vítimas. 
As demandas por documentação a ser apresentada para a Vale, para fins de 
requerimento de direitos, também têm provocado verdadeiro caos no Município, havendo 
reclamações por parte de Cartório, profissionais de saúde, Secretaria de Educação, dentre 
outros, com reflexos no serviço rotineiro prestado nesses locais. 
Todos os fatos acima narrados evidenciam a mudança abrupta do modo de vida das 
populações atingidas, sem que tenha havido nenhuma opção de escolha destas pessoas. 
Destaque-se que o impacto no modo de vida da população atingida pelo Desastre 
da Vale em Brumadinho, ocorreu em todas as outras comunidades por onde a lama passou 
através do Rio Paraopeba. Nos diversos municípios, a mudança na estrutura de 
 
 
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sociabilidade e lazer é recorrentemente levantada nos discursos, conforme os relatos e 
coletas de dados realizados em campo. No relatório produzido pelo Ministério Público, 
representado pela CIMOS, em visita às comunidades de Igarapé, um comunitário denuncia: 
“o desastre tirou o lazer do povo”. 
 Na região, as poucas opções de lazer da comunidade tinham o rio como suporte 
para práticas de socialização comunitária como nadar, pescar e as brincadeiras das crianças. 
O apontamento para a perda das fontes de lazer, socialização e convivência comunitária 
são informados também pelos afetados em Pará de Minas na Comunidade Córrego do 
Barro. 
Em Igarapé, a Comunidade do Brejo traz ainda as práticas no rio como 
constitutivas da experiência de vida coletiva passada através das gerações. O trecho do 
relatório elaborado pela equipe técnica do MPMG traz esse registro: 
 
Comunidade do Brejo aponta que é uma quebra de uma tradição do uso 
do rio. Alertam para a quebra de uma tradição do uso do rio, 
expressaram tristeza, pois os filhos não poderão mais conhecer o rio, 
pescar, nadar, como os pais faziam. (Relatório Cimos/MPMG, 08 de 
Abril). 
 
As maneiras de produção de subsistência também foram alteradas. Aqueles que 
dependiam da água do rio para atividades rurais de subsistência, dessedentação humana e 
animal e, até mesmo, abastecimento da própria residência, se veem frente a dificuldades 
para a manutenção da vida. Em Pará de Minas, o comunitário José Martins Barbosa, em 
encontro com equipe do MPMG, afirma seu medo quanto à contaminação através do uso 
da água de cisterna próxima do rio (300m) para abastecimento de sua residência. 
Em Papagaios, produtores rurais dependiam da água do rio para todas as atividades; 
consumo próprio e de seus animais, irrigação da horta, abastecimento da residência. 
Enfim, há inúmeros estudos que tratam (e comprovam) da singularidade da vida de 
populações ribeirinhas que têm suas identidades/existência organizadas a partir da relação 
mítica, lúdica e objetiva com o Rio, sendo ele lugar de descanso, lugar de reflexão - busca 
de paz interior, instrumento para garantia do sustento, espaço de diversão, lazer, aventura, 
recanto de sonho de viver próxima à natureza, dentre outros. 
 
 
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Força-Tarefa Brumadinho 
 
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4.6 Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento das relações comunitárias 
e familiares 
Aspectos relativos ao modo tradicional da vida em comunidade foram 
profundamente afetados. O modo de vida da população pode ser considerado simples e 
interiorano, o que foi substancialmente modificado pelo Desastre da Vale. As mudanças 
significaram não só uma insegurança generalizada, como também fragilizaram os 
laços entre as famílias. 
No município de Pequi, o morador Genésio Joaquim Nunes afirma, em carta 
endereçada ao MPMG: 
Sou o único morador desse arraial. Meus vizinhos vinham passear 
todos os fins de semana, não vem mais. Nos fundos do meu lote tem 
um córrego que era limpinho onde usava água para tudo. Cozinhar, lavar 
roupas, banhar e até beber também perdi. Os meus amigos que 
vinham passeando para pescaria não vem mais. Investi o que tinha 
na casa por causa do rio que perdeu muito valor. Quero uma indenização 
de tudo isso para ir embora daqui. Estou ficando doente. 
 
Outro exemplo desse tipo de situação pode ser encontrado no relatório de campo 
da Cimos/MPMG referente a diligência realizada no Conjunto FHEMIG, em São Joaquim 
de Bicas, no dia 10/04/2019: 
Um jovem disse que antes saía para pescar e conversar com os amigos. A 
pesca, além de lazer era também uma oportunidade de interação e 
convivência entre eles [...]. O rio também era ponto de encontro dos 
homens adultos no fim de semana. Eles pescavam, faziam churrasco às 
margens do rio e ficavam conversando. Após o rompimento quase não 
estariam convivendo mais. 
 
Outros aspectos relevantes e que foram interrompidos foram os campeonatos de 
futebol amador e infantil, que mobilizavam diversas comunidades e moradores, algumas 
festas religiosas, que envolviam fiéis e também jovens com intuitos lúdicos e financeiros, 
como as barracas de produtos comercializados nas quermesses, as feiras de produtos 
agroecológicos interrompidas, o fornecimento de serviços informais como manicures, 
vendas de produtos (Natura e Avon), os donos de caminhões que prestavam serviços às 
mineradoras na região que tiveram seus contratos durante dias/meses cancelados, tudo isso 
são exemplos, dentre outros, de mudanças abruptas que prejudicaram aspectos para além 
do econômico, religioso, recreativo dos atingidos pelo Desastre da Vale. 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Força-Tarefa Brumadinho 
 
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4.7 Impedimento e/ou dificuldade de acesso à água 
A questão do acesso à água é assunto recorrente em todas as manifestações das 
pessoas atingidas. É despiciendo falar da essencialidade da água na vida das pessoas. Mas é 
importante ressaltar que, para as comunidades rurais, a água é também insumo para a 
produção dos alimentos de subsistência, além de existir, nessas comunidades, uma 
relação que transcende o mero materialismo e atinge uma relação de contemplação 
espiritual das pessoas com os rios. Ademais, os rios, ribeirões e córregos da região eram 
parte muito importante do lazer dos atingidos. 
O rompimento das barragens liberou cerca de 13 milhões de metros cúbicos de 
rejeito no meio ambiente, provocando alteração na qualidade dos cursos d'água e a 
mortandade de organismos aquáticos, impossibilidade de utilização das águas do Rio 
Paraopeba para a dessedentação dos animais nas áreas dos municípios atingidos pelo 
Desastre da Vale, irrigação e consumo doméstico. 
Essa situação, além de ter causado manifesta degradação ao meio ambiente, 
restringiu o acesso de vários municípios à água potável, alterando significativamente o 
modo de vida dos seus habitantes. 
In casu, os níveis de turbidez e de metais encontrados nas águas do Rio Paraopeba, 
levaram à interrupção das atividades humanas realizadas em municípios atingidos pela 
pluma de rejeitos. 
O impacto do crime ambiental não se resumiu a proibir/recomendar a não 
utilização das águas do Rio Paraopeba, comprometeu e ainda compromete o abastecimento 
de água potável de milhares de pessoas, já que o referido rio é utilizado pela Copasa na 
captação de água para atender a vários municípios mineiros, dentre os quais podemos citar 
Belo Horizonte, Pará de Minas e Paraopeba, sendo que, nos dois últimos, a totalidade da 
captação de água do município depende do rio Paraopeba. 
Mesmo aqueles que residem

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