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Caderno de Direito Coletivo

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Caderno de Direito Coletivo
Evolução dos Direitos Coletivos
Para tratar do tema, a doutrina registra que existem duas percepções desse fenômeno surgimento dos direitos coletivos. A primeira percepção é oriunda do Direito Constitucional, enquanto a segunda percecpção é oriunda do Direito Processual Civil. 
Evolução à luz do Direito Constitucional
Direitos de 1ª Geração/Dimensão
Tendo como marco histórico as revoluções liberais do século XVIII, surgem aqui os direitos civis e políticos, momento em que se reforça a ideia de controle do Estado Absolutista e surgimento do movimento do liberalismo (Estado Liberal).
Exigia-se do Estado um não fazer, razão pela qual destacam-se as liberdades negativas, cuja defesa do cidadão passava por uma abstenção do Estado.
OBS: tais direitos são essencialmente individuais (direito de propriedade, direito de herança, livre iniciativa, entre outros)
Direitos de 2ª Geração/Dimensão
Os direitos de segunda dimensão tem marco histórico na Revolução Industrial do Século XIX, em que exigia-se do Estado uma volta para regular as relações sociais e econômicas para conferir igualdade material. Exige-se do Estado uma atuação positiva em defesa dos interesses sociais ali explorados.
Daí surgem os denominados direitos prestacionais (liberdades positivas). São os direitos sociais, econômicos e culturais. (ex: surgimento dos sindicatos)
Direitos de 3ª Geração/Dimensão
São os direitos da coletividade, chamados de direitos metaindividuais, cuja titularidade é difusa. Não adianta tutelar os direitos indifidualmente considerados. Percebeu-se que para que haja vida humana digna, é necessário conferir direitos também para a coletividade.
Ex: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito à paz, ao desenvolvimento e à moralidade administrativa.
Os direitos coletivos surgem no século XX.
A partir de então, veremos o surgimento dos direitos coletivos na perspectiva do Processo Civil. Nesse sentido, nota-se que a concepção dos direitos coletivos nasce a partir das fases do processo civil.
1ª Fase: Sincretista/civilista/privatista
Vigorando desde o Direito Romano até 1850 (aproximadamente), tal fase é marcada pela confusão entre o direito material e o direito processual. O processo civil não era visto enquanto uma ciência autônoma. As regras processuais estava ao lado das regras de direito material no Código Civil. O direito de ação confundia-se com o direito material.
2ª. Fase: Autonomista
Tal fase tem início a partir de 1850 (aproximadamente). Oskar Von Bulow foi quem primeiro identificou a existência de duas relações jurídicas distintas entre o direito material e o direito processual. Explica-se: Uma coisa é a relação jurídica entre A e B, que é regida normalmente pelas regras do Direito Civil. Outra coisa bem distinta é a relação jurídica existente dentro do processo, não mais somente entre A e B, mas agora na presença de juiz de direito, com normas próprias de condução do processo.
Assim sendo, o processo passou a ter autonomia em relação ao direito material.
3ª Fase: Instrumentalismo
Tendo por base as inúmeras críticas surgidas com os excessos da fase autonomista, a partir de 1950 surge um momento em que o processo passa a ser entendido enquanto um instrumento de viabilização do direito material. Leia-se: o processo não tem fim em si mesmo. Ele serve para concretizar pretensões oriundas do direito material.
A obra de referância da fase instrumentalista é do autor Mauro Cappelletti, denominada de Acesso à Justiça. Em tal obra, revisitando a concepção de um processo que seja, de fato, instrumento de concretização de direitos, o autor recomenda a adoção de 3 ondas renovatórias do processo.
1ª onda: justiça aos pobres. Para o autor, não há que falar em acesso à justiça se a maioria da população ficar à margem da obtenção de um provimento jurisdicional que lhe dê o direito pretendido. A partir de então, começou-se a conceber um órgão vocacionado para a defesa dos necessitados (Defensoria Pública), bem como de normas que assegurassem a gratuidade do acesso à justiça.
2ª onda: Efetividade do processo. Para Cappelletti, o acesso à justiça não deve ser interpretado como o mero ingresso de uma ação judicial. O acesso à justiça deve ser lido como acesso tempestivo ao provimento jurisdicional vindicado. Justiça tardia não é justiça. Justiça tardia produz o denominado “dano marginal do processo”, causado pela demora irrazoável da sua tramitação.
3ª onda: Coletivização do Processo. Para Cappelletti, o acesso à justiça deve contemplar a defesa de direitos coletivos que não são defendidos individualmente. Tratando-se de direitos que têm titularidade difusa, não se pode conceber uma ofensa a direito de muitos sem a correspondente defesa dos seus titulares.
Por mais que a defesa de determinados direitos não seja economicamente viável sob o ponto de vista individual (ex: litro de leite que é vendido, na verdade, em recipiente que comporta, no máximo, 970 ml), é necessário conceber a defesa de tais direitos de toda a coletividade. Por essa razão, é importante pensar em uma instituição que tenha a vocação para a defesa de interesses coletivos, já que individualmente considerado, não é economicamente viável.
Princípios do Direito e Processo Coletivo
- Indisponibilidade mitigada da ação coletiva
- interesse jurisdicional no conhecimento do mérito
- prioridade da tramitação do processo coletivo
- ampla divulgação da demanda
- máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva
- ativismo judicial
- adequada representação do legimitado coletivo
1 Indisponibilidade mitigada da ação coletiva
Tratando-se de uma ação que veicula direitos da coletividade, não é possível dispor sobre o conteúdo material da ação. Nesse sentido, não há que se falar em DESISTÊNCIA no processo coletivo. Leia-se: uma vez proposta a ação, ela deve ir até o final.
Nesse sentido, eventual DESISTÊNCIA por parte do autor da ação coletiva, não há que se falar em extinção do processo sem o exame (resolução) de mérito tal qual ocorre no processo civil individual. No processo coletivo, havendo desistência do autor da ação, o artigo 5º, §3º da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) orienta que haja a SUCESSÃO PROCESSUAL, para a continuidade da ação coletiva.
Artigo 5º 
(…)
§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
Nos termos do artigo 5º, §3º, nota-se que é vedada a DESISTÊNCIA INFUNDADA. A contrario sensu, se houve uma desistência com fundamento, com uma justificativa razoável, plausível, nada impede que haja desistência na ação coletiva, com a respectiva extinção do processo sem exame de mérito. Ex: asfalto construído na entrada de Bocaiúva e ação popular respectiva.
2 Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito
Trata-se de princípio que não tem previsão expressa no ordenamento jurídico. Decorre da leitura do sistema de processo coletivo (microssistema) que recomenda que uma ação coletiva não venha a ser extinta sem o correspondente exame de mérito, uma vez que isso seria um verdadeiro fracasso do poder judiciário.
Ex: legitimidade superveniente da ação popular em caso de desistência infundada do autor da ação – leia-se: o juiz não irá extinguir o processo sem exame de mérito por carência da ação (ilegitimidade ativa), mas sim deverá intimar o MP para assumir o pólo ativo (mesmo sem ser cidadão) para continuar nos demais termos da ação proposta.
3 – Princípio da prioridade da tramitação do processo coletivo
Trata-se de princípio que também não tem previsão normativa expressa. É desdobramento da própria noção de que o processo coletivo aproxima o judiciário da democracia, de modo que o juiz da ação coletiva deve priorizar o julgamento de um caso dessa natureza (que envolve o direito de muitos) em detrimento de uma ação civil individual, ressalvadas as hipóteses legais de prioridade. Ex. mandado de segurança, habeas corpus, habeas data, entre outros.4- Princípio da ampla divulgação da demanda
Tal princípio tem previsão expressa no Código de Defesa do Consumidor
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva
Primeiramente, cumpre destacar que uma das principais diferenças entre o processo individual e o processo coletivo é a COISA JULGADA. Se no processo individual a coisa julgada opera-se INTER PARTES, no processo coletivo a coisa julgada opera-se ERGA OMNES (leia-se: atinge a todos, inclusive a terceiros)
O princípio em questão favorece as vítimas e sucessores do evento, na medida em que eles jamais serão prejudicados pela eventual improcedência do processo coletivo. Somente em caso de procedência é que a coisa julgada coletiva (erga omnes) irá operar em benefício das vítimas e sucessores. Jamais em seu prejuízo.
O princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva está previsto no artigo 103, § 3º do CDC: 
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
OBS: quando a decisão do processo coletivo for no sentido da procedência, haverá o denominado fenômeno do transporte “in utilibus” da coisa julgada coletiva. É o transporte que só pode ocorrer para beneficiar a vítima e sucessores. Não haverá transporte in utilibus em caso de improcedência da ação coletiva.
Princípio do Ativismo Judicial ou da máxima efetividade do processo coletivo
Diferentemente do processo civil individual, em que, por desdobramento do princípio da inércia da jurisdição, o juiz não pode julgar além, nem aquém, nem fora daquilo que foi pedido (princípio da congruência – correlação entre aquilo que foi pedido e aquilo que restou decidido), no processo coletivo vigora o princípio do ativismo judicial, segundo o qual o juiz tem amplos poderes de instrução e de condução do processo, mesmo que isso signifique uma tutela jurisdicional que não coincida com os pedidos do autor.
Esse ativismo decorre do sistema americano denominado “defining function” (função de definidor).
Normalmente, quando a ação coletiva é contra o poder público (ex: Ação civil pública conta o Município para dotar de creche e pré-escola), é recorrente a alegação pelo réu da ausência de recursos financeiros (teoria da reserva do possível), bem como da suposta ofensa à separação da poderes, uma vez que não caberia ao Judiciário, nem ao MP, definir como, quando e onde gastar os recursos provenientes do erário público. 
Segundo o STF, não procedem tais alegações, uma vez que contra a reserva do possível opõe-se o mínimo existencial, assim entendido enquanto aquele mínimo previsto na constituição, de fornecimento de serviços básicos e essenciais, sobre os quais nada justifica a omissão do Poder Público. Não haveria que se falar em ofensa à separação de poderes pois em tais casos não é o Judiciário ou o MP quem aponta onde devem ser gastos os recursos públicos, mas, sim, a própria Constitiução Federal.
Princípio da adequada representação do legitimado coletivo
Diferentemente do sistema americano, no Brasil, a legitimidade para defesa da coletividade é determinada pelo artigo 5º da Lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública):
Art. 5o  Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)       (Vide Lei nº 13.105, de 2015)    (Vigência)
I - o Ministério Público;  
II - a Defensoria Pública;      
 III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;       
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; 
V - a associação que, concomitantemente:      
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;      
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.        
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.       
§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.  
§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.       
No Brasil, o princípio da adequada representação do legitimado coletivo traduz a noção segundo a qual é necessário examinar se o legitimado encontra-se autorizado por lei para tal defesa. Nesse sentido, pessoas físicas não podem propor ação civil pública. É necessário que o legitimado esteja no rol do artigo 5º da LACP (e todos ali são pessoas jurídicas), razão pela qual a legitimidade é OPE LEGIS. Não obstante, além da necessidade de que o legitimado figure no rol do mencionado artigo 5º, há ainda necessidade de uma segunda análise sobre a representativade adequada que é feita pelo juiz do caso concreto. Nesse sentido, o juiz deverá analisar a denominada PERTINÊNCIA TEMÁTICA (conexão institucional) entre o objeto defendido na ação e a respectiva vocação institucional daquela pessoa jurídica. Ex: associação do meio ambiente não pode propor ACP para defender a moralidade administrativa. Por essa razão, o princípio da representatividade adequada informa que, no Brasil, essa legitimidade é também OPE JUDICIS. 
OBJETO DOS DIREITOS COLETIVOS
IMAGEM DO QUADRO
Direitos Difusos
Previstos no artigo 81, inciso I, do CDC, possuem titulares indeterminados e indetermináveis, cujos titulares ligados por uma cicunstância de fato.
Ex: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito à moralidade administrativa, direito à saúde pública, etc.
Direitos Coletivos (Stricto sensu)
…
Direitos Individuais Homogêneos
Tais direitos são, na verdade, individuais. Cada pessoa lesada tem sua relação jurídica específica com aquele que deu causa à lesão, razão pela qual cada um possui o direito de demandar individualmente reclamando perdas e danos em virtude do evento. Ex: danos em produtos nas relações de consumo (aquisição de produto com defeito). Ex2: pílulas de farinha (microvlar)
Em que pese sejam direitos individuais, em virtude da multiplicidade de sujeitos titularizando relações jurídicas idênticas, esses direitos individuais acabam tomando dimensões coletivas.
Mas porquê tratar como coletivo um direito que é individual?
Há várias razões para tanto. Uma primeira é sobre a economia processual, uma vez que um só juiz poderia resolver a situação de milharesde pessoas, ao invés de pulverizar essa questão em todo o Judiciário Brasileiro. Outra razão consiste em evitar-se decisões contraditórias caso houvesse vários processos discutindo a mesma questão. Não obstante, o principal argumento é mesmo sobre a possiblidade de conferir acesso à justiça com um só processo coletivo.
OBS: Os interesses individuais homogêneos consubstanciam direitos divisíveis, com titulares determinados ou determináveis, que sejam decorrentes de origem comum. Estão previstos no artigo 81, parágrafo único, inciso III, do CDC.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
Inquérito Civil
Trata-se de um procedimento preparatório destinado à colheita de dados e informações sobre a existência e a autoria de um dano a um interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo.
Previsão normativa
O Inquérito Civil tem previsão no artigo 129, III, da CRFB.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
O Inquérito Civil também tem previsão na Resolução 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP.
O inquérito civil é marcado pela existência de 3 fases, quais sejam, instauração, instrução e conclusão.
INSTAURAÇÃO
Via de regra, a instauração do Inquérito Civil ocorre mediante PORTARIA, assim entendida enquanto um documento que dá início às investigações acerca da existência e autoria de um dano a um interesse difuso. Quem instaura o Inquérito Civil e confecciona a Portaria é o presidente do IC, qual seja, o Promotor de Justiça (Ministério Público Estadual) ou Procurador da República (Ministério Público Federal).
A instauração do IC pode se dar de ofício ou mediante representação. Será de ofício quando o Presidente do IC, por vontade própria, deflagrar início das investigações considerando ter chegado ao seu conhecimento a prática de algum ilícito civil que recomende a apuração. Será mediante representação quando algum interessado solicitar a instauração para investigar a possível existência de um ilícito civil gerador de um dano difuso.
INSTRUÇÃO
Tal fase destina-se à reunião de provas sobre a existência do dano cível a um direito difuso e a correspondente autoria.
O MP pode realizar vistorias e inspeções. Além disso, o MP também tem o poder de requisitar informações para instruir o Inquérito Civil. Tal tem previsão no artigo 26 da Lei Orgânica do MP (Lei 8.625/93)
OBS: O não atendimento à requisição configura o crime do artigo 10 da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85)
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
Além da requisição, há também o poder de notificação para comparecimento, sob pena de condução coercitiva. Tais poderes estão contemplados no artigo 26 da Lei 8.625/93:
Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá:
I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los:
a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;
b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior;
II - requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir procedimentos ou processo em que oficie;
III - requisitar à autoridade competente a instauração de sindicância ou procedimento administrativo cabível;
IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los;
V - praticar atos administrativos executórios, de caráter preparatório;
VI - dar publicidade dos procedimentos administrativos não disciplinares que instaurar e das medidas adotadas;
VII - sugerir ao Poder competente a edição de normas e a alteração da legislação em vigor, bem como a adoção de medidas propostas, destinadas à prevenção e controle da criminalidade;
Outro poder do MP para a instrução do Inquérito Civil é a RECOMENDAÇÃO. Diferentemente da requisição e da notificação, a recomendação não possui caráter vinculativo, obrigatório, servindo mais para sugerir, recomendar a adoção de um ou outro comportamento conforme a lei. Ex: recomendação para não realização de vaquejada.
Termo de Ajustamento de Conduta - TAC
Trata-se de um acordo celebrado entre o órgão público e o investigado para tentar resolver a questão que é objeto de investigação sem recorrer ao Poder Judiciário. Leia-se: consiste numa tentativa de resolução extrajudicial da demanda. Por essa razão, o TAC possui natureza jurídica negocial, de transação.
OBS1: Em que pese tenha natureza jurídica negocial, o TAC assemelha-se a um contrato de adesão, uma vez que não é possível discutir substancialmente as obrigações ali previstas.
OBS2: O TAC está previsto no artigo 5º, §6º, da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85)
Art. 5o  Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007)       (Vide Lei nº 13.105, de 2015)    (Vigência)
l - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio-ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO).
II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.      (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 11.9.1990)
II - inclua entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio ambiente ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;      (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
II - a Defensoria Pública;      (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;      (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;     (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
V - a associação que, concomitantemente:     (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;     (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.      (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor,à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.      (Redação dada pela Lei nº 12.966, de 2014)
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.       (Redação dada pela  Lei nº 13.004, de 2014)
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.      (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (DANGER!!!!!!!)
Celebrado o termo de ajustamento de conduta com o interessado para resolução do caso concreto, alguns caminhos podem surgir na sequência. Se o interessado cumpre as obrigações assumidas em tempo e modo devidos, resolvido estará o caso que é objeto de investigação no Inquérito Civil. Se está resolvido, não há necessidade de judicializar a questão por meio de uma ação civil pública, uma vez que além da inexistência de objeto a ser corrigido, não haveria também interesse de agir (enquanto condição da ação). Por outro lado, se o interessado não cumprir as obrigações em tempo e modo devidos, o órgão público legitimado que celebrou o TAC com o investigado deverá judicializar a questão aforando a competente EXECUÇÃO, seja por obrigação de fazer ou não fazer, ou ainda EXECUÇÃO por quantia certa (para pagamento da multa prevista no TAC em caso de inadimplemento). Isso se dá uma vez que o TAC é um Título Executivo Extrajudicial.
OBS: Caso o interessado não queira celebrar o TAC, não restará outra oportunidade que não seja ajuizar a competente ação civil pública, mormente pela adoção do princípio da indisponibilidade mitigada da ação coletiva.
CONCLUSÃO
Tendo em vista que o Inquérito Civil apura a existência de um dano a um interesse difuso ou coletivo, a conclusão do IC pode se dar de duas formas.
A primeira forma guarda conexão com a não resolução da questão trazida ao exame do Inquérito Civil. Leia-se: o ilícito ali mencionado não foi suficientemente resolvido uma vez que o seu autor não se disponibilizou a resolver a situação de forma extrajudicial (ex: não quis celebrar termo de ajustamento de conduta). Assim sendo, o MP deverá propor uma ação civil pública para tentar resolver tal situação de forma judicial. Nesta hipótese, os autos do IC acompanharão a inicial da ação civil pública.
Já a segunda forma refere-se à resolução do ilícito no bojo do Inquérito Civil, seja porque o investigado celebrou termo de ajustamento de conduta e o cumpriu, seja porque restou apurado que não há ilícito a ser tutelado. Nestas hipóteses, o MP fará o arquivamento do IC e remeterá os autos, em 3 dias, ao Conselho Superior do Ministério Público – CSMP para revisão da promoção de arquivamento.
OBS1: O CSMP poderá homologar a promoção de arquivamento ou, discordando, poderá devolver os autos para cumprir alguma diligência final (ex: notificar o representante).
OBS2: Na hipótese em que o CSMP identificar na promoção de arquivamento que a questão não foi suficientemente resolvida, deverá encaminhar os autos a outro Promotor de Justiça para propor a ação civil pública para a completa resolução da questão. Não pode devolver os autos ao mesmo Promotor de Justiça pois isso ofenderia sua independência funcional. Assim sendo, só resta enviar a outro Promotor que atuará como longa manus do Procurador Geral de Justiça, mediante a propositura de uma ACP.
CARACTERÍSTICAS
Procedimento informativo: trata-se de um procedimento para reunir informações para subsidiar a atuação do Promotor de Justiça. Ao final dele não há imposição de sanção.
Procedimento administrativo: leia-se: não judicial. Como é só um procedimento (e não processo administrativo), não há ali contraditório e ampla defesa. Não resulta em aplicação de sanção. O investigado não precisa de estar representado por advogado. Não há coisa julgada ou litispendência.
Dispensável: se o MP já possuir documentação suficiente acerca do dano ao direito difuso e sua respectiva autoria, não há sentido em se instaurar um IC para tanto. Poderá deflagrar de imediato a ação civil pública.
Público: leia-se: não sigiloso. Em algumas hipóteses, com justificativa idônea, pode ser decretado o sigilo das investigações.
Ato privativo do MP: nenhum outro órgão pode instaurar Inquérito Civil. Só o MP.
Temporário: o IC tem a duração de 1 ano, sendo prorrogável para conclusão das investigações (por quantas prorrogações forem necessárias)
Ação Civil Pública
Caso o dano ao interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo não tenha sido suficientemente tutelado no âmbito administrativo (ex: no Inquérito Civil Público), a ação civil pública deverá ser proposta para tutelar devidamente a questão. A ação civil pública tem previsão na Lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública – LACP)
Obs: Em que pese a literalidade do artigo 1º da LACP, em que prevê o cabimento de ação civil pública para responsabilidade civil por danos morais, a jurisprudência brasileira, inicialmente, era contrária a essa tese, ao argumento de que as noções de dor e abalo psicológico (próprias da caracterização do dano moral) eram incompatíveis com a dimensão de um direito difuso, eis que não se poderia mensurar quanto uma coletividade se sentiu internamente e psicologicamente abalada com um evento. Não obstante, o STJ e o STF, atualmente, possuem jurisprudência pacífica no sentido da existência e do cabimento do dano moral coletivo. Ex: propaganda ofensiva aos direitos do consumidor por veicular ofensa aos direitos raciais.
Art. 1º  Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:       (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.       (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
V - por infração da ordem econômica;       (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011).
VI - à ordem urbanística.      (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.      (Incluído pela Lei nº 12.966, de 2014)
VIII – ao patrimônio público e social.       (Incluído pela  Lei nº 13.004, de 2014)
Parágrafo único.  Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

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