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Atenção e suas alteraçõesAtenção e suas alterações Referências: DALGALARRONDO. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. CAP 13 A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. A atenção se refere, portanto, ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas. Os termos “consciência” e “atenção” estão estreitamente relacionados. A determinação do nível de consciência é essencial para a avaliação da atenção. Tomando-se em consideração a natureza da atenção, pode-se discernir dois tipos básicos de atenção: a voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre um objeto, e a espontânea, que é aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, que desperta este ou aquele objeto. Esta última geralmente está aumentada nos estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua atividade mental. Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas formas básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos. Difere-se da atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude atencional, há a atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado. Foi o psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1857-1939) que sugeriu, no início do século XX, que a atenção tinha duas qualidades fundamentais: tenacidade e vigilância. Tais qualidades são com frequência antagônicas; por exemplo, nos estados maníacos, os pacientes costumam apresentar hipotenacidade (redução da capacidade de fixar a atenção) e hipervigilância (uma atenção que salta rapidamente de um estímulo para outro). A tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar e manter sua atenção sobre determinado estímulo, em um tema da conversa ou em um campo de atenção. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixando se sobre ele. A vigilância (nessa conceitualização de Bleuler) é definida como o aspecto da atenção relacionado à mudança de foco, de um objeto para outro. Tipos de Atenção Capacidade e foco de atenção - referem-se à focalização da atenção e estão intimamente associados à experiência subjetiva de concentração. Ela não é constante. Atenção seletiva - diz respeito aos processos que permitem ou facilitam a seleção de estímulos e informações relevantes. A atenção seletiva diz respeito, portanto, à manutenção da atenção apesar da presença de estímulos concorrentes. Quando a atenção elege certos estímulos, a capacidade de responder a outros diminui proporcionalmente. Atenção dividida - Os processos atencionais não se limitam a um único alvo ou foco da atenção; com frequência, ocorre o processamento simultâneo e paralelo mais estímulos captados pela atenção.. A atenção dividida é, portanto, acionada quando duas ou mais tarefas ou estímulos concorrentes se apresentam ao sistema atencional. Nas últimas décadas, a psicologia, fortemente marcada pelas abordagens cognitivistas e neuropsicológicas, passou a abordar e a subdividir a atenção em alguns aspectos fundamentais: Atenção alternada - diz respeito à capacidade de mudança do foco de atenção alternando voluntariamente o foco atencional de um estímulo a outro durante a execução de tarefas. Atenção sustentada - diz respeito à capacidade de manter a atenção ao longo do tempo, geralmente durante uma atividade contínua e repetitiva. Seleção de resposta e controle seletivo - são de extrema relevância, pois o ato de prestar atenção está, quase sempre, associado a uma ação planejada, voltada a certos objetivos. A atenção vincula-se a processos cognitivos complexos que envolvem a intenção, o planejamento e a tomada de decisões. Psicopatologia da Atenção Os déficits em funções executivas impedem o indivíduo de iniciar, parar ou mudar seus comportamentos, conforme as exigências ambientais. As funções executivas incluem processos cognitivos relacionados à ação apropriada sobre o ambiente, ou seja, processos relacionados ao agir. A atenção resulta da interação complexa de diversas áreas corticais e subcorticais do sistema nervoso, não sendo, portanto, um processo unitário. A alteração mais comum e menos específica da atenção é sua diminuição global, a chamada hipoprosexia. Nessa condição se verifica uma perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão; as lembranças tornam-se mais difíceis e imprecisas. Denomina-se aprosexia a total abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos utilizados. Por sua vez, a hiperprosexia consiste em um estado de atenção exacerbada, no qual há uma tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos objetos com surpreendente infatigabilidade. Quadros de delirium causados por distúrbios sistêmicos, neurológicos e neuropsicológicos em que se verificam diminuição do nível de consciência e déficit de atenção. Os distúrbios da atenção estão sempre ou quase sempre presentes nos quadros de delirium. As alterações mais frequentes da atenção são encontradas nas seguintes condições: transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), transtornos do humor (depressão e mania), transtorno obsessivo- compulsivo (TOC) e esquizofrenia. No TDAH, há dificuldade marcante de direcionar e manter a atenção a estímulos internos e externos, pois o paciente tem a capacidade prejudicada em organizar e completar tarefas, assim como graves dificuldades em controlar seus comportamentos e impulsos. Os processos atencionais prejudicados, inibição falha e impulsividade são aspectos importantes dessa condição. Pessoas com TDAH têm, portanto, prejuízo relacionado à filtragem de estímulos irrelevantes à tarefa. Já os pacientes com transtornos do humor têm importantes dificuldades de concentração e atenção sustentada. Há, nos quadros maníacos, diminuição marcante da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, com hipervigilância e hipotenacidade. A atenção do indivíduo em fase maníaca salta rapidamente de um estímulo para outro, sem se fixar em algo. Nos quadros depressivos, com muita frequência há diminuição geral da atenção, ou seja, hipoprosexia. Em alguns casos graves, ocorre a fixação da atenção em certos temas depressivos (hipertenacidade), com rigidez e diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção (hipovigilância). Já pessoas com TOC apresentam atenção e vigilância excessivas e desreguladas e alterações em funções executivas que geralmente se sobrepõem aos déficits atencionais. Foi identificado, no TOC, prejuízo na atenção alternada, no planejamento, na inibição de respostas, na memória de trabalho e na velocidade de processamento. Na esquizofrenia, o déficit de atenção também é muito importante. A inadequada filtragem de informação irrelevante é uma dificuldade comum em pacientes com o transtorno. Tais indivíduos costumam ter dificuldade em anular adequadamente estímulos sensoriais irrelevantes enquanto realizam determinada tarefa e são muito suscetíveis a distrair-se com estímulos.