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Neoplasias malignas da cavidade oral – Parte 1 • Carcinoma epidermoide/ carcionoma espinocelular/ carcinoma de células escamosas - Representa mais de 90% das neoplasias malignas orais; - 11° câncer mais frequente em homens; - Diferença racial no CE de orofaringe HPV positivos; - Aumento na incidência de CE de língua em pacientes jovens (18 a 44 anos); - CE de lábio: semelhante ao comportamento do CE cutâneo – homens leucodermas; - Incidência alta: Subcontinente indiano, Taiwan, Hungria, França, Brasil, parte da África Austral – diferença de hábitos, expectativa de vida, educação preventiva e rigor nos relatórios de doenças; Etiologia - Multifatorial -Fatores extrínsecos: álcool, luz solar, sífilis, fumo; -Fatores intrínsecos: hereditariedade, estados sistêmicos FUMO (fator extrínseco) - produtos de tabaco contem uma gama diversificada de produtos químicos com potencial oncogênico; - Evidencias implicam o habito de fumar com o desenvolvimento do CEO; - A proporção de tabagista entre paciente com CEO é duas ou três vezes maior do que na população em geral; - As chances de recidiva são maiores para pacientes tratados de CEO que continuam a fumar do que para aqueles que abandonam o habito; - Fumo de cachimbo e charuto representam um risco maior do que o cigarro; - Risco relativo dose dependente: 5x – 40 cigarros; 17x – 80 cigarros; - TABACO SEM FUMAÇA: risco relativo aumentado de CEO para o usuário crônico (de 2 para 26x); risco maior quando associado ao rapé seco, exerce ação local; - SACHÊ DE BETEL: composto de substancias naturais (nozes da palmeira areca, folha de betel, cal hidratada e, às vezes, folha de tabaco), risco de desenvolvimento de câncer oral é de 8% para os usuários; - ÁLCOOL: isolado tem poder etiológico incerto, o álcool em combinação com o tabaco consiste em um importante fator de risco para o desenvolvimento de câncer oral, com um risco relativo relatado de 15 ou mais entre os usuários crônicos de ambas as substâncias; 1/3 dos pacientes masculinos com câncer oral é alcoolatra; O etanol nas bebidas alcoólicas é metabolizado em acetaldeído, que é um conhecido agente cancerígeno. Além disso, o álcool pode ajudar a solubilizar outros compostos carcinogênicos e aumentar a permeabilidade do epitélio oral. - EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL E POLUENTES AMBIENTAIS: aumente do risco de CO em trabalhadores da indústria de produtos de madeira → ácido fenoxiacético; (carcinoma nasal e nasofaringeo); - RADIAÇÃO: causam incidência aumentada de CEO, carcinoma basocelular e melanosmas de pele; Grau de risco dependente: tipo de raio uv, intensidade de exposição e quantidade de “manto protetor”; genes supressores do tumor: p53; - VITAMINA A: papel protetor ou preventivo no pré-câncer e no câncer oral, ação inibitória da ceratinização e terapia prolongada com ácidos retinoicos e betacaroteno também tem sido associada à regressão de pelo menos algumas lesões leucoplásicas; - FERRO: síndrome de Plummer-Vinson: associada ao elevado risco para CEO, pacientes mais jovens, imunidade mediada por células prejudicadas; -BACTÉRIAS: Estudos sugerem que as bactérias orais podem interagir com o tabaco e o álcool. O etanol é metabolizado em acetaldeído carcinogênico; - SÍFILIS: em seu estágio terciário tem forte associação com CEO em dorso de língua, embora rara atualmente; - CANDIDA: candidíase hiperplásica: condição potencialmente maligna, pacientes com candidíase podem apresentar placas brancas não removíveis à raspagem; - VÍRUS ONCOGÊNICOS Muitos vírus de DNA e RNA são oncogênicos: Herpes simples (HSV), Epstein-Barr (EBV), HIV, HPV; - HPV -Alto risco: 16 -Risco 4x maior de desenvolver CEO e 14x maior de desenvolver CE de orofaringe; -Prevalencia de HPV: 20% a 40% do CEO e 90% CE de orofaringe; - DNA integrado → HPV E6 → HPV E7 - Lesão exofítica: superfície irregular, vegetante, papilífera e verruciforme e poderá variar da coloração normal ao vermelho ou branco (depende da queratina e da vascularização no local). A superfície é frequentemente ulcerada e a neoplasia é dura à palpação; ativam ciclinas bloqueio da apoptose Inibem supressores do tumor Combatem a senescência celular - IMUNOSSUPRESSÃO: pode ser um fator causador do desenvolvimento de algumas neoplasias malignas do trato aerodigestivo superior, Pessoas infectadas pelo HIV e aquelas que estão sob terapia imunossupressora para neoplasias malignas ou transplante de órgãos têm maior risco de desenvolver um carcinoma epidermoide de boca e outras neoplasias de cabeça e pescoço, especialmente quando o tabagismo e etilismo estão presentes; Características clínicas e radiográficas - Maior frequência em homens mais velhos; - No início a sensibilidade dolorosa é mínima; - Se o profissional de saúde não tem um elevado índice de suspeição, semanas ou meses podem transcorrer antes da realização de uma biopsia; - O carcinoma epidermoide de boca tem uma apresentação clínica variada, incluindo as seguintes: Exofítica (aumento de volume; vegetante, papilífera, verruciforme); Endofítica (invasiva, escavada, ulcerada) Leucoplásica (mancha branca); Eritroplásica (mancha vermelha); Eritroleucoplásica (combinação de áreas vermelha e brancas); - Os exemplos leucoplásicos e eritroplásicos são provavelmente casos em fases iniciais, que ainda não produziram um aumento de volume ou ulceração, e as características clínicas são idênticas às descritas para as leucoplasias e eritroplasias; - Lesão endofítica: área central deprimida, de formato irregular, ulcerada, com uma borda em “rolete”, de mucosa normal, vermelha ou branca; • Carcinoma Intraoral - Localização: língua, assoalho, gengiva, mucosa jugal, mucosa labial e palato duro; - Língua: sítio de maior prevalência, 2/3 são tumores ou ulceras indolores endurecidos na borda lateral, 20% ocorrem na parte lateral anterior ou superfícies ventrais e 4% ocorrem no dorso. Local + comum em pacientes jovens; - Assoalho bucal: surgem a partir de uma leucoplasia ou eritroplasia preexistente; associado a um segundo tumor primário; linha média perto do freio lingual; - Rebordo alveolar e gengiva: mimetizam lesões reacionais benignas, destroem osso alveolar e causam mobilidade dentária; maxila: podem se estender para o palato duro; - Mucosa jugal: 30 a 80% de taxas de recorrências locorregionais; comum em áreas do mundo onde o uso de betel quid é prevalente; - Trígono retromolar: podem se espalhar: orofaringe, mucosa jugal, rebordo alveolar e rafe pterigomandibular; invasão da rafe pterigomandibular: comprometimento da basse do crânio, espaço mastigador e assoalho da boca; - Orofaringe: subsítios: palato mole, base da língua, região tonsilar (amígdalas, fossa tonsilar e pilares) e parede posterior da faringe; 70 a 80% : região da amígdalas – local preferido para os carcinomas associados ao HPV; • Carcinoma do vermelhão do lábio -Geralmente é encontrado em pessoas de pele clara com exposição crônica à radiação ultravioleta do sol; - Setenta por cento dos indivíduos afetados possuem ocupações que envolvem atividades ao ar livre; - Geralmente associada à queilite actínica; - Quase 90% das lesões estão localizadas no lábio inferior; -Se manifesta como uma ulceração endurecida, indolor, crostosa e exsudativa que apresenta geralmente menos de 1 cm no seu maior diâmetro quando descoberta; - É caracterizada por um crescimento lento, A metástase é um evento tardio; - Invasão perineural para mandíbula; - Embora essa neoplasia seja diagnosticada e tratada em um estágio precoce, em um paciente negligente, pode ocasionar destruição considerável do lábio; • Carcinoma orofaríngeo - Subsítios para carcinomaorofaríngeo incluem o palato mole, base da língua, região tonsilar (ou seja, amígdalas, fossa tonsilar e pilares) e parede posterior da faringe; - A região das amígdalas é acometida na maioria (cerca de 70% a 80%) dos casos; - A região amigdaliana é um local preferido para os carcinomas associados ao HPV; - No momento do diagnóstico, o tamanho do tumor é maior do que o de carcinomas orais, e a proporção de casos com metástase cervical e distante é maior; - Sintomas comuns do carcinoma orofaríngeo incluem dor de garganta persistente, dificuldade em engolir (disfagia), e dor à deglutição (odinofagia). A dor pode ser surda ou aguda e muitas vezes é referida para o ouvido; Carcinoma Epidermoide. Grande lesão eritroplásica envolvendo o palato mole esquerdo e região tonsilar. B, Imuno-histoquímica demonstrou marcação positiva para p16, que é um marcador substituto para o alto risco do papilomavírus humano (HPV) transcricionalmente ativo, entre os carcinomas epidermoides da orofaringe. C, Hibridização in situ (ISH) demonstra a presença intranuclear de DNA do HPV 16. Metástase - As metástases do carcinoma epidermoide bucal ocorrem principalmente através dos vasos linfáticos para os linfonodos cervicais ipsilaterais; - Se houver perfuração da cápsula do linfonodo e células neoplásicas invadirem os tecidos circundantes, então uma sensação de fixação do linfonodo com consequente falta de mobilidade será sentida durante a palpação; - A disseminação extracapsular (extensão das metástases para fora da cápsula do linfonodo) é uma característica microscópica associada a um prognóstico desfavorável, incluindo risco aumentado de recidiva locorregional, metástase à distância e menores taxas de sobrevida; - 2 – 22% dos pacientes apresentam metástase à distância (pulmão, fígado, ossos); - CE de lábio inferior e assoalho bucal: linfonodos submentonianos; - CEO em regiões posteriores da boca: linfonodos jugulares superiores e digástricos; - CE de orofaringe: metástase precoce – linfonodos jugulodigástrica ou linfonodos retrofaríngeos; - 21% apresentam metástases cervicais ao diagnóstico; Estadiamento - O tamanho da neoplasia e a extensão da metástase do carcinoma epidermoide bucal são os melhores indicadores do prognóstico do paciente. O processo de quantificar esses parâmetros clínicos é denominado estadiamento da doença; - Esse protocolo de estadiamento depende de três características clínicas básicas: T – Tamanho do tumor primário, em centímetros; N – Envolvimento de linfonodos locais; M – Metástases à distância; -Estes três parâmetros são agrupados para determinar o estágio. Em geral, quanto maior for a estágio, pior o prognóstico; Características histopatológicas - O carcinoma epidermoide origina-se do epitélio displásico; - É histopatologicamente caracterizado por ilhas e cordões de células epiteliais malignas; - A invasão é representada pela extensão irregular epitélio neoplásico através da membrana basal em direção ao tecido conjuntivo; - A neoplasia invade e destrói o tecido normal e pode se estender em profundidade para o tecido adiposo, músculo ou osso; - As células neoplásicas geralmente mostram abundante citoplasma eosinofílico com núcleos volumosos e hipercromáticos e uma relação núcleo-citoplasma aumentada; - Graus variados de pleomorfismo celular e nuclear são observados; Carcinoma Epidermoide. A, Invasão perineural. Neoplasia invadiu o perineuro que recobre a fibra nervosa. B, Invasão vascular. Células neoplásicas presentes no interior do lúmen deste vaso. Displasia Epitelial Alterações estruturais - Cristas epiteliais em formato bulbar ou em forma de gota de orvalho; - Pérolas de ceratina ou epiteliais; - Perda da polarização; - Perda da coesão típica entre as células epiteliais; Alterações celulares - Células e núcleos aumentados; - Nucléolos grandes e proeminentes; - Relação núcleo-citoplasma aumentada; - Núcleos hipercromáticos; - Células e núcleos pleomórficos; - Disceratose; - Atividade mitótica aumentada; - Figuras de mitose anormais; Uma neoplasia diferenciada a ponto de lembrar o tecido de origem parece crescer em uma velocidade levemente menor e gerar metástases em um estágio avançado de seu curso clínico. Tal neoplasia é denominada carcinoma epidermoide de baixo grau, grau I ou bem diferenciado Carcinoma Epidermoide Bem Diferenciado. A, Fotomicrografia em menor aumento exibindo ilhas de epitélio pavimentoso maligno invadindo a lâmina própria. B, Visão em maior aumento exibindo células epiteliais displásicas com a formação de pérolas de queratina. Uma neoplasia com acentuado pleomorfismo e pouca ou nenhuma produção de queratina pode ser tão imaturo que se torna difícil a identificação do tecido de origem. Tais neoplasias muitas vezes apresentam um crescimento rápido, metástase precoce, e são denominadas de alto grau, de grau III/IV, mal diferenciadas ou anaplásicas; Carcinoma Epidermoide Mal Diferenciado. As numerosas células pleomórficas na lâmina própria representam um carcinoma anaplásico; Carcinoma Epidermoide Moderadamente Diferenciado. Embora nenhuma queratinização seja observada nesta visão em um aumento intermediário, essas células malignas ainda são facilmente reconhecíveis como de origem epitelial. Uma neoplasia com uma aparência microscópica entre esses dois extremos é denominada moderadamente diferenciada; Tratamento e prognóstico - O estadiamento clínico orienta o tratamento do carcinoma epidermoide; - Carcinomas de vermelhão do lábio são detectados em uma fase mais precoce e tratados por excisão cirúrgica (tipicamente com ressecção em cunha) com excelentes resultados. Em contraste, casos avançados podem ser tratados por radioterapia definitiva ou associada à quimiorradioterapia; - O carcinoma epidermoide intraoral, as lesões em fase inicial normalmente são tratadas com cirurgia; a radioterapia pode ser uma alternativa para pacientes com lesões inoperáveis. Lesões moderadamente avançadas costumam ser tratadas por cirurgia, seguida de radioterapia associada à quimioterapia. Doença muito avançada ou casos em que a cirurgia resultaria em resultados funcionais inaceitáveis podem ser tratados com radioterapia e/ou quimioterapia; - Pelo fato de que a maioria dos carcinomas do vermelhão do lábio são diagnosticados em estágio inicial, a taxa de sobrevida relativa global em cinco anos é excelente (aproximadamente 95%). Em contraste, carcinomas intraorais e orofaringe muitas vezes são diagnosticados em estágios mais avançados, com menores taxas de sobrevida relativa em cinco anos (p.ex., 51% das lesões em assoalho bucal e 65%das lesões da orofaringe); - Metástase cervical oculta: biópsia do linfonodo sentinela, análise da profundidade da invasão e espessura do epitélio (risco quando maior que 3 a 5 mm); - Terapias promissoras: anticorpos monoclonais, inibidores de tirosina-quinase (EGFR); anticorpos anti- fator de crescimento endotelial vascular (VEGF); • Carcinoma Verrucoso - Variante de baixo grau do carcinoma epidermoide oral; - Pode estar relacionado ao uso do tabaco; - Ocorre também em sítios extra-orais; - Presença de HPV 6, 11, 16 e 18 em alguns casos; - Câncer de usuário de rapé ou tumor de Ackerman; Características clínicas - Homem com idade acima de 55 anos; - Sítios de predileção: fundo de vestíbulo, gengiva, mucosa jugal, língua, palato duro; - O sítio de ocorrência corresponde ao local de colocação crônica do tabaco; - A lesão surge como uma placa espessa, difusa, bem delimitada, indolor, com projeções papilares ou verrucosas na superfície; - As lesões são brancas, contudo podem parecer eritematosas ou róseas; - Acoloração depende da quantidade de queratina produzida e do grau de resposta inflamatória do hospedeiro ao tumor; - Se não forem tratadas, as lesões destruirão estruturas subjacentes tais como osso, cartilagem, músculo e glândulas salivares; - Pode se desenvolver a partir da leucoplasia verrucosa proliferativa; Carcinoma Verrucoso. Lesão branca papilar extensa no fundo de vestíbulo superior. Carcinoma Verrucoso. Grande aumento de volume papilar, exofítico, na crista alveolar superior. Características histopatológicas - O carcinoma verrucoso possui uma aparência microscópica benigna enganosa; - Caracterizado por grandes cristas epiteliais alongadas que parecem “empurrar” o tecido conjuntivo subjacente; - As lesões geralmente mostram abundante produção de queratina (frequentemente paraqueratina) e uma superfície papilar ou verrucosa; - As células epiteliais neoplásicas mostram um padrão normal de maturação sem um grau significativo de atipia celular; - Intenso infiltrado inflamatório crônico no tecido conjuntivo; - Diagnóstico: avaliação da configuração geral da lesão; - Amostras adequadas também são desejadas, pois o carcinoma epidermoide pode se desenvolver simultaneamente em até 20% dos carcinomas verrucosos; Carcinoma Verrucoso. A, Fotomicrografia em menor aumento exibindo uma marcante hiperplasia epitelial com superfície irregular, papilífera e com a formação de tampões de queratina. B, Visão em maior aumento exibindo cristas epiteliais bulbosas sem displasia significativa. Tratamento e prognóstico - Excisão cirúrgica; - Se linfadenomegalia cervical é clinicamente evidente, o esvaziamento cervical seletivo pode ser realizado; - 90% dos pacientes são livres da doença após a cirurgia; - A radioterapia é uma modalidade alternativa de tratamento primário, com pior controle local, sendo considerada menos eficaz do que a cirurgia; Referência bibliográfica: NEVILLE, Brad W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
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