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Prévia do material em texto

Unidade 1
Livro Didático 
Digital
Adriana Ferreira Serafim de Oliveira 
Patrícia Valéria Vieira da Costa
Análise do 
Discurso
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoras 
ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA 
PATRÍCIA VALÉRIA VIEIRA DA COSTA
Adriana Ferreira Serafim de Oliveira
Olá. Meu nome é Adriana Ferreira Serafim de Oliveira. Sou Doutora 
em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco em inclusão social, 
direitos fundamentais e políticas públicas para as mulheres vítimas de 
violência de gênero. Estágio doutoral em Psicologia Social com bolsa 
PSDE - CAPES na “Universidad Complutense de Madrid - Facultad de 
Ciencias Políticas y Sociología” com pesquisas desenvolvidas em Madrid 
e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento à mulher vítima 
de violência de gênero e quanto à legislação dessa temática a pesquisa 
foi desenvolvida com a orientação de professor da “Facultad de Derecho 
de la Universidad Complutense de Madrid”. Tem experiência em trabalhar 
com a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais Difusos 
e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, com foco em Direitos Humanos 
e Direito Internacional, com bolsa do programa PROSUP-CAPES. Pós-
graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de 
Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacharel em Direito pela 
Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado em curso pela 
FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos qualificados. Professora 
universitária. Advogada 
Patrícia Valéria Vieira da Costa
Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. Sou formada 
em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade 
Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade 
e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos 
pela mesma instituição. Tenho experiência docente no ensino básico, por 
meio das disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando por 
turmas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. Sou apaixonada pelo 
que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão 
iniciando em suas profissões. 
Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu 
elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar 
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
AS AUTORAS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda 
vez que:
ICONOGRÁFICOS
INTRODUÇÃO: 
para o início do 
desenvolvimento 
de uma nova com-
petência;
DEFINIÇÃO: 
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA: 
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE: 
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA? 
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA: 
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou 
discutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO: 
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das 
últimas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO: 
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
A Linguística Imanente Versus Linguística do Discurso..........10
A Linguística Imanente .........................................................................................................10
Estruturalismo..................................................................................................11
Gerativismo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
A Linguística do Discurso...........................................................................................................14
Linguística Cognitiva ..................................................................................................14
Sociolinguística Variacionista ............................................................................16
A Língua Enquanto Objeto da Linguística- Consequências 
dessa Perspectiva Teórica ......................................................................19
A Subjetividade da Linguagem .....................................................................................20
A enunciação ...................................................................................................................................23
O Discurso Enquanto Objeto de Estudo da Linguística (a Análise 
do Discurso) – Consequências Dessa Perspectiva Teórica..........26
A interpretação ...............................................................................................................................28
Condições de produção e Interdiscurso ................................................................32
Outros Aspectos Relevantes à Análise do Discurso ......................35
Formação Discursiva....................................................................................................................36
O discurso se constitui em seus sentidos: ..............................................36
Ideologia e Sujeito..........................................................................................................................37
Análise do Discurso 7
LIVRO DIDÁTICO DIGITAL
UNIDADE
01
Análise do Discurso8
Você sabia que a área da Linguística é uma das mais importantes 
para o conhecimento da Língua? Desde o início do Século XX que 
linguistas de variados países mergulham nessa área, com o intuito de 
desvendar os mistérios que circundam a linguagem. Nesta disciplina, 
você conhecerá o percurso teórico que se inicia com o famoso Saussure, 
considerado o “O pai da linguística moderna”, até as concepções mais 
contemporâneas relativas aos estudos sobre a linguagem. Nessa primeira 
unidade, apresentaremos a você um estudo convidativo a conhecer a 
Linguística Imanente, bem como a Linguística do Discurso, chegando ao 
interessante conteúdo que é objeto da nossa disciplina em questão: A 
Análise do discurso. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar 
neste universo!
INTRODUÇÃO
Análise do Discurso 9
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar 
você a atingir os seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta 
etapa de estudos:
1. Compreender as diferenças entre a Linguística Imanente e a 
Linguística do Discurso;
2. Entender como a Língua se torna objeto da enunciação para a 
Linguística moderna, e como a compreensão da enunciação interfere 
positivamente na origem da Análise do Discurso;
3. Conceber a Análise do Discurso enquanto resultante dos estudos 
que a antecedem, além de assimilar como essa perspectiva amplia as 
compreensões linguísticas anteriores;
4. Investigar como a Análise do Discurso se tornou uma perspectiva 
crítica, nos contextos históricos, sociais, econômicos e etc., para o estudo 
da linguagem. 
Então? Preparado(a) para conhecer o fantástico mundo da Análise 
do Discurso? Vamos ao trabalho! 
OBJETIVOS
Análise do Discurso10
A Linguística Imanente Versus Linguística 
do Discurso
INTRODUÇÃO
Caro aluno(a), ao término deste capítulo, você será capaz 
de entender como funciona a Análise do Discurso. Isso será 
fundamental para a compreensão de uma das grandes 
correntes de estudo do curso de Letras, responsável por 
grande parte das pesquisas na área, bem como contribuirá 
para exercício de sua docência em salade aula. E então? 
Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. 
Avante!
A Linguística Imanente 
Desde a antiguidade, o homem passa por motivações práticas que o 
leva a refletir sobre a estrutura das línguas e seus usos. Apesar de Pêcheux 
(1990, p.38) afirmar que a “reflexão sobre a linguagem não tem evidentemente, 
começo histórico assimilável”, desde o antigo Egito, passando por Fenícios 
e Hindus, além de outros povos, o registro escrito é problematizado pela 
tomada de consciência, geralmente empírica, da estrutura da língua para 
fins de comunicação. Essa realidade nos leva a compreensão da imanência 
da língua, ou, mais propriamente, sua realidade material. Formalmente, 
a linguística imanente está para a “teoria da linguagem”, como coloca o 
dinamarquês Hjelmslev, em seu livro “Prolégomenès à une théorie du 
langage” (Prolegômenos a uma teoria da linguagem). 
Como, então, consideramos as Linguística Imanente nos dias de hoje?
Hoje em dia, a linguística Imanente é um dos princípios do que 
chamamos mais comumente de Linguística formal, que antecede e 
ilumina o posterior surgimento da Linguística do discurso. 
Em se tratando de Linguística formal, é necessário compreender 
que essa concebe a língua enquanto estrutura. Sendo assim, “A língua 
é entendida como um objeto autônomo independente das intenções de 
uso e da situação comunicativa (MALELOTTA, 2008, p.87). No contexto 
Análise do Discurso 11
formalista, surgiram duas vertentes: O estruturalismo, do suíço Ferdinand 
Saussure, que inaugura a Linguística moderna; e o Gerativismo, do norte-
americano Noan Chomsky (1957). 
Estruturalismo
Preparado (a) para conhecer o famoso “Pai da linguística moderna”? 
Vamos lá! 
A teoria Saussuriana ganha espaço nos estudos linguísticos por 
meio da publicação póstuma do “Curso de Linguística geral” (1916), um 
compilado de escritos de Saussure efetivado por seus alunos Charles 
Bally e Albert Sechehaye. Para Fiorin (2002), apesar de, no livro, não estar 
claramente exposto dessa forma, os estudiosos costumam dividir a teoria 
saussuriana em quatro princípios ou dicotomias, são elas:
Sincronia versus Diacronia
Indo de contra ao estudo da evolução histórica das línguas, a 
diacronia, (vigente até fins do século XIX), Saussure prioriza a descrição 
sincrônica, objetivando descrever a estrutura de uma determinada língua 
em seu recorte temporal, sem levar em consideração seu processo 
evolutivo. Sobre essa perspectiva, Fiorin (2002, p. 79) comenta que:
Contrariamente ao estudo da mudança linguística, o ponto 
de vista sincrônico vê a língua como um sistema em que 
um elemento se define pelos demais elementos. No estudo 
sincrônico, um determinado estado da língua é isolado de 
suas mudanças através do tempo de e passa a ser estudado 
como um sistema de elementos linguísticos. Esses elementos 
são estudados não mais em suas mudanças históricas, mas 
nas relações que eles contraem, ao mesmo tempo, uns com 
os outros. 
Língua versus fala
Saussure elege a língua como seu objeto de estudo na linguística, já 
que a considera sistêmica e coletiva. Para ele, a língua define-se enquanto 
um sistema composto por signos linguísticos, encadeados para formar 
Análise do Discurso12
um todo organizado em que cada signo é interdependente e definido por 
sua ordem e função. 
Significado versus significante
Para o estudioso, essa é a dicotomia mais importante, posto que 
forma o signo linguístico acima mencionado. Para Saussure tudo é signo, já 
que tudo significa algo. Sendo assim, significante seria a imagem acústica, 
material, de algo, como por exemplo escrever a palavra “computador”. Já 
o significado é o conceito imaterial disso, ou seja, as interpretações que 
competem a esse signo: aparelho tecnológico; meio comunicacional, etc. 
Sintagma versus paradigma
O Paradigma é o conjunto de componentes do qual o sujeito pode 
se valer para compor seu enunciado; já Sintagma é a escolha. Por exemplo, 
um sujeito pode dizer “A água está fria”. A palavra “fria” poderia facilmente 
ser substituída por “temperatura”, por exemplo. No entanto, a escolha feita 
foi “água”, o que caracteriza o eixo do sintagma. Já os outros termos como 
“temperatura”, etc., que poderiam ser escolhidos, constituem o paradigma. 
 Como vimos, o Estruturalismo Saussuriano pode ser pensado 
como o estudo da língua enquanto um sistema fechado em si mesmo, sem 
interferência de fatores extralinguísticos como o contexto situacional, dentre 
outros. Críticas à parte, o Estruturalismo influenciou diversas vertentes da 
produção de conhecimento linguístico no decorrer do século XX. 
Gerativismo
A partir da segunda metade do século XX, surgiu uma nova 
abordagem linguística, o Gerativismo. Formulado pelo linguista Chomsky, 
manifestou-se como uma nova proposta de investigação da linguagem. 
Esse estudioso optou por uma postura racionalista para formular sua 
teoria dos estudos linguísticos. Para Chomsky (2005), a língua deve 
ser estudada de forma lógica e abstrata. Nesse contexto, essa passa a 
constituir um sistema de regras e princípios compostos na mente humana, 
Análise do Discurso 13
considerando que qualquer sujeito exposto a um ambiente apropriado 
pode adquirir (a gramática de) qualquer língua. 
Pragmático, Chomsky tem como base da gramática gerativa três 
questões básicas, a saber: “a) O que constitui o conhecimento da Língua? 
b) Como é adquirido o conhecimento da Língua? c) Como é usado o 
conhecimento da língua?” (CHOMSKY, 1994, p.23). A resposta a essas 
questões, para o pesquisador, está na mente humana, que possui uma 
gramática internalizada, explicada de duas maneiras: Gramática enquanto 
dicionário mental de formas da língua; gramática enquanto sistema de 
regras e princípios que atuam sobre as formas. Nesse ínterim, a gramática 
une-se com os demais sistemas conceituais mentais para articular o som. 
No processo formal, as expressões primeiro passam pelas regras para só 
depois ganharem significação. 
Para o Gerativismo, o ser humano nasce com um conjunto de 
princípios relacionados ao funcionamento da língua, ou seja, a aquisição da 
linguagem torna-se uma herança genética. Se genético, portanto, comum 
entre todas as línguas. Assim, a abordagem gerativa busca as características 
gerais da linguagem, explicando e descrevendo propriedades que 
compõem o que o Chomsky chama de Gramática Universal (GU).
Considerado um dos maiores teóricos contemporâneos, Chomsky 
contribuiu de diversas maneiras para os estudos linguísticos. Apesar de 
formalista tal como Saussure, o estudioso não concorda com a concepção 
de que a língua é uma convenção social, mas sim um fenômeno biológico 
humano. Ambos, Saussure e Chomsky, aproximam-se quando consideram 
a língua uma forma homogênea e idealizada. No entanto, diferem-se 
quando, por exemplo, para o primeiro, a língua é um conjunto de signos 
sociais; enquanto que, para o segundo, ela é um conjunto de sentenças 
formuladas com bases biológicas.
Análise do Discurso14
A Linguística do Discurso
A linguística do discurso ultrapassa os limites da linguagem 
enquanto um sistema formal, passando a valorizar os usos da língua em 
situações reais de comunicação, além das relações entre função e forma. 
Ou seja, para a Linguística do discurso a língua é uma estrutura formal 
perpassada por realidades subjetivas tanto históricas quanto sociais, que 
influenciam e são influenciadas pelo sistema. 
Essa nova perspectiva motivou o surgimento de diversas vertentes 
que, apesar de suas particularidades, de uma maneira geral:
(...) considera a língua em uso, observando os fenômenos de 
variação e mudança linguísticas, as interpretações face a face (e 
de outros tipos) entre falante e ouvinte, as influências sociais e 
psicossociais na estrutura da língua, a ideologia e a construção 
da subjetividade, os atos de fala no lugar de frases e sentenças 
verdadeiras e gramaticais, as implicaturasconversacionais 
entre outros fatores. (MARTELLOTA, 2008, p.88)
Dentre muitas vertentes, ressaltaremos duas das principais, a 
saber: a Linguística cognitiva e a Sociolinguística variacionista, refletindo 
proximidades e distanciamentos em relação ao paradigma formalista. 
Linguística Cognitiva 
O que seria a Linguística cognitiva? 
Surgiu no final da década de 1970, na Califórnia, a Linguística 
Cognitiva, resultante de rupturas teóricas de alguns dos gerativistas. Nesse 
período, se destacaram nomes como George Lakoff e Charles Fillmone. 
Com o tempo, essa abordagem passou a ser chamada de Sociocognição, 
visando destacar o poder do contexto social para a linguagem (já 
não mais autônoma): Cultura e sociedade como bases da cognição 
humana, da compreensão do mundo. Portanto, essa vertente não separa 
conhecimento linguístico do conhecimento não linguístico, assumindo 
uma postura que vai de contra a visão racionalista do gerativismo. 
Análise do Discurso 15
Para a Sociocognição, os interlocutores são o centro da construção 
de sentido, ou seja, a comunicação entre indivíduos em situações reais de 
interação discursiva é o ponto chave.
A linguagem deixa de ser um sistema que independe 
do falante ou um conjunto de regras finitas e ganha uma 
dimensão social e cognitiva cuja função é possibilitar a seus 
usuários meios para reportar o discurso alheio, influenciar 
outras pessoas, narrar acontecimentos, fazer avaliações, ser 
impreciso, falsear informações, predizer o futuro, expressar 
sentimentos. (SALOMÃO, 199, p.65)
Para Lakoff & Johnson (1999), a mente não é separada do corpo, assim, 
muitos dos significados se dão por meio da estrutura corporal humana, 
chamados teoricamente de pensamentos corporificados. Aqui, consideramos 
a soma da inferência conceptual à inferência sensório-motora.
EXPLICANDO MELHOR
Quando usamos expressões relativas ao espaço, sendo 
que esse significa tempo. Vejamos:
Dias atrás estive em São Paulo.
Temos acima, originalmente, a palavra “atrás” como um 
referente espacial (atrás de algum lugar, posicionamento). 
No entanto, no contexto dessa oração a palavra sublinhada 
refere-se a um tempo anterior, sensorial.
Como vimos, a mente humana desenvolve um processo de 
reelaboração de informações que surgem inicialmente de domínios 
cognitivos distintos. A esse processo damos o nome de “mesclagem”, em 
que relações sintáticas abrem margem para os aspectos semânticos, em 
busca de sentido (s). 
Análise do Discurso16
Observe a figura abaixo:
Figura 1: Modelo esquemático do processo de mesclagem conceptual Baseado em 
Fouconnier e Turner (2002). Fonte: o autor.
Segundo Fouconnier e Turner (2002), esse processo se dá por pelo 
menos a conexão de quatro domínios: dois inputs de entrada; um esquema 
genérico (possibilidade de interação) e a mescla (o novo significado).
Podemos perceber, portanto, que a Sociocognição ultrapassa 
o Formalismo em diversos aspectos. Dentre eles, a crítica à limitação 
gerativa, posto que apesar de se aproximar das ciências cognitivas, o 
Gerativismo entende a linguagem como autônoma, priorizando a sintaxe, 
enquanto que a Sociocognição valoriza a semântica por meio da utilização 
dos sentidos para o processo de construção da linguagem. 
Por fim, enquanto que na linguística formal o sujeito é irrelevante, 
na Sociocognição o sujeito é o centro na construção de sentido, ou seja, 
o homem significa o mundo de acordo com suas experiências pessoais, 
sociais, econômicas e culturais. 
Sociolinguística Variacionista 
As pesquisas em torno da Variação linguística surgiram nos 
Estados Unidos na década de 60, pela iniciativa de Willian Labov. 
Para Labov (2008), um dos principais intuitos dessa nova perspectiva 
Análise do Discurso 17
é identificar, descrever e interpretar as variações da língua levando em 
consideração grupos étnicos, etários, regionais, de gênero, etc., que 
compõem a sociedade. 
Segundo Wenreich, Labov & Herzog (2006), a sociolinguística 
enfoca a língua em seu contexto usual. Para tanto, torna-se relevante 
aspectos linguísticos formais, sociais e culturais quando da necessidade 
de investigação sobre variações e mudanças linguísticas, principalmente 
pela consciência de que a variação em seu uso não ocorre de maneira 
aleatória, mas sim condicionada por um arcabouço de regras organizadas 
pela divisão social em classes. 
É possível identificar, primeiramente, dois grandes grupos: O da 
norma padrão, linguagem de prestígio social, regida, comumente, pelo 
domínio da gramática normativa, geralmente trabalhada de maneira 
intensiva nos ambientes escolares, principalmente por estar articulada, 
sobretudo, à ascensão social dos indivíduos; e a norma não padrão, 
geralmente estigmatizada por não oferecer os mesmos acessos 
socioeconômicos que a padrão disponibiliza aos sujeitos. 
No combate a construção de estigmas linguísticos, a Sociolinguística 
elege a diversidade linguística, que considera não só as regras da língua 
como, sobretudo, as relações de poder. Essa consideração é resultado da 
ciência da língua enquanto instituição social locada historicamente e que, 
por isso, funciona em diversos contextos situacionais.
Vejamos a tirinha abaixo:
Fessora a senhora ia mi 
castiga pur arguma coisa 
que eu num �z?
Claro que não, Bento!
Inda bem, fessora, 
pruque eu num �z a lição 
di casa, hoje!
Fonte: Adaptado de https://bit.ly/32E3C16
Análise do Discurso18
Chico Bento é um personagem cujo modo de falar difere da norma 
culta padrão, já que caracteriza, em sua fala, uma variação regional. 
A tirinha, para registrar esse modo de fala, reproduz a linguagem 
proveniente do contexto social a que ele está inserido. No diálogo com a 
professora (que domina a norma padrão, o que lhe garante status social 
para exercer o cargo que ocupa) percebemos que o “susto” dela se deve 
não aos supostos “erros” linguísticos cometidos por Chico, mas sim, 
pela sua esperteza em se livrar da hipótese de um castigo, revelando a 
compreensão da professora não só do uso oral da língua, como também 
o domínio das Variações linguísticas. 
Em relação ao Estruturalismo, a Sociolinguística se aproxima dessa 
linha de pensamento ao, como Saussure, considerar a linguística como 
um fenômeno social. Apesar disso, as diferenças são mais reconhecíveis. 
Dentre elas, o fato Sociolinguística Variacionista fazer uso de uma reflexão 
diacrônica (diferentemente de Saussure) já que essa valoriza os processos 
sócio históricos influenciadores das mudanças da língua. Além disso, 
diferentemente do Gerativismo, para a Sociolinguística é fundamental a 
coleta do maior número de dados de falantes possível em situações de 
fala reais, por meio de recursos de áudio. 
SAIBA MAIS
Para aprofundar seus conhecimentos em torno da 
Sociolinguística, recomendamos os livros “A língua de 
Eulália”, bem como “Preconceito linguístico”, ambos de 
Marcos Bagno.
Análise do Discurso 19
A Língua Enquanto Objeto da Linguística- 
Consequências dessa Perspectiva Teórica 
INTRODUÇÃO
Anteriormente vimos que Saussure, considerado “pai” 
da Linguística moderna, em suas dicotomias, privilegia a 
língua, já que essa “é um sistema supra individual utilizado 
como meio de comunicação entre membros da sociedade” 
(COSTA, 2008, p.116). Ela se faz, para o estudioso, enquanto 
parte essencial da linguagem, posto que, sem ela, é 
impossível conceber o contato entre indivíduos de uma 
mesma sociedade, daí surge seu caráter social. A fala, nesse 
contexto, tem um papel secundário, já que é considerada 
específica de cada indivíduo. 
Aprendemos, no decorrer dos estudos entre Linguística imanente 
e Linguística do Discurso que a língua, bem como a fala, tomam maiores 
amplitudes conceituais que ultrapassaram as concepções estabelecidas 
por Saussure, conforme os estudos linguísticos foram avançando durante 
o século XX, o que não tira de Saussure a iniciativa ter colocado a língua 
como um dos principais objetos da linguísticamoderna. 
A partir de Saussure, muitos estudiosos debruçaram-se sobre o 
estudo da língua. Dentre eles temos o linguista francês Èmile Benveniste, 
e porque vamos enfocá-lo? A escolha por esse teórico justifica-se, pois, 
apesar de partir de Saussure, ele conseguiu ampliar a concepção de 
língua por meio da possibilidade de análise de sua particularidade à luz 
de outras grandes ciências, como a Psicologia social, Filosofia, Pragmática 
e a Antropologia, por exemplo. Assim, Benveniste contribuiu de maneira 
significativa para o legado da língua e para consequências positivas no 
sentido da ampliação desse conceito no âmbito da linguística.
Vamos conhecê-lo? Vejamos o trecho a seguir:
Não atingimos nunca o homem separado da linguagem e 
não o vemos nunca inventando-a [...]. É um homem falando 
que encontramos no mundo, um homem falando com outro 
Análise do Discurso20
homem, e a linguagem ensina a própria definição do homem 
(BENVENISTE, 2005, p. 285)
Ou seja, para Benveniste a linguagem é natural, compõe a natureza 
humana, portanto, é nela que se faz o sujeito, é por meio dela que se pode 
emergir um “eu”, subjetivo, consciente de sua existência. A subjetividade 
é, para o linguista, norte para a compreensão da linguagem e, por isso, 
daremos ênfase a ela agora. 
A Subjetividade da Linguagem 
Para compreender a concepção do homem enquanto sujeito, 
Benveniste elabora uma relação dialética em que o “eu” cria uma 
interdependência com o “tu”, chamada de “eco”. Essa polaridade 
constituída torna-se a condição fundamental da linguagem, já que existe 
no homem para fazê-lo sujeito, na medida em que o “eu”, marca absoluta 
de subjetividade, é transcendente ao “tu”, ou seja, necessita de um tu 
para estabelecer sua existência. É nesse ponto que Benveniste concebe 
a língua enquanto categoria de maior importância enunciativa. Isso 
porque “eu” e “tu”, pronomes pessoais existentes em todas as línguas, não 
existem por si mesmos, mas sim, pela atribuição de uma referência. Em 
outras palavras, Benveniste quis dizer que o “eu” não existe sozinho, há a 
necessidade de um outro, o “tu”, para afirmar a existência do sujeito e vice-
versa, portanto, é a língua, na enunciação, que concretiza a existência. 
Na subjetividade da linguagem os pronomes “eu” e “tu” são 
essenciais. Vejamos esta colocação de Juchem (2008, p.17):
Esses pronomes, assim como outros indicadores 
autorreferenciais, diferem de todos outros signos linguísticos 
por terem como referência o sujeito que enuncia e a instância 
de discurso em que são enunciados. Eu e tu só têm referência 
na “realidade do discurso”, sendo o eu a pessoa que enuncia a 
instância de discurso que diz eu em referência a um tu, dada 
a situação de alocução. Eu e tu sofrem um duplo processo: de 
eu referente enquanto enunciado e de eu referido enquanto 
tu enuncia, assim sucessivamente. Pode-se dizer que eu e tu 
Análise do Discurso 21
transitam entre os locutores nas instâncias de discurso porque 
se pressupõem. 
Portanto, “eu” e tu”, instituídos pela língua, constituem, por meio 
da linguagem, o sujeito e seu interlocutor e vice-versa. Para Benveniste 
(2005), a subjetividade reside na ciência de que o “eu” só existe quando 
tem consciência de si por meio da enunciação, permitindo ao “tu” que 
esse também seja “eu”, como um retorno.
EXPLICANDO MELHOR
Para esclarecer essa concepção, vejamos a tirinha a seguir:
As vezes eu me per-
gunto a mesma coisa
As vezes me pergunto 
por que estou aqui. Você também se 
pergunta por que 
está aqui?
Eu me pergunto 
por que você está 
aqui
Fonte: Adaptado de https://bit.ly/31H8bIF
Repare que o “eu” e o “tu” trocam de posição durante o 
diálogo, e é exatamente a essa consciência subjetiva da 
existência de dois indivíduos por meio da língua, ou seja, 
eles existem por meio da linguagem.
Além dos pronomes pessoais supraditos, Benveniste (2005) conclui 
que há, nas instâncias do discurso, enunciados que rementem ao que 
chamamos de situações objetivas, representadas pela terceira pessoa, 
assim, “o membro não marcado da correlação de pessoa [...] sendo o 
único modo de enunciação possível para as instâncias de discurso que 
não devam remeter a elas mesmas” (ibid., p. 282). Exemplificando, existem 
quatro propriedades que diferenciam a terceira pessoa “ele”, do “eu” e 
“tu”: a) de combinar com qualquer referência de objeto; b) de não refletir 
a instância de discurso; c) de ter uma grande variação pronominal ou 
demonstrativa; d) de não se equiparar ao aqui-agora. Nesse contexto, o 
pronome “ele” “não remete a nenhuma pessoa, porque se refere a um 
Análise do Discurso22
objeto colocado fora da alocução. Ele só existe e se caracteriza por 
oposição a pessoa eu. (BENVENISTE, 2005, p. 292).
RESUMINDO
Até agora vimos que, para Benveniste, uma das formas de 
organização da língua se dá pelo par dialético eu/tu, que 
subjetivamente constitui sujeitos quando esses enunciam.
Além do par opositivo eu/tu, Benveniste elege também, para a 
organização das línguas, a noção de tempo. Se é no exercício da língua 
que encontramos sua subjetividade, logo, o tempo é presente a todo 
instante, posto que é “O tempo em que se fala”. É no presente em que se 
manifesta o “eu” e tudo atribuído a ele. O tempo, portanto, marca o aqui-
agora da linguagem. 
Figura 2 – Os tempos
Quadro da 
Enunciação
Eu Tu
Aqui / 
Espaço
Agora / 
Tempo
Fonte: @Slideshare
Acima, temos o quadrinômio eu-tu-aqui-agora, representado 
pelo quadro da enunciação, perspectiva basilar dos estudos da língua 
propostos por Benveniste que veremos com mais profundidade a seguir. 
Análise do Discurso 23
A enunciação 
Para Benveniste, a enunciação é definida como “o colocar em 
funcionamento a língua por um ato individual de utilização” (BENVENISTE, 
2006, p. 82). Ou seja, enunciar é o ato de colocar a linguagem em 
funcionamento. Segundo Juchem (2008, p.18), ela é vista por meio de três 
principais aspectos: 
a) o primeiro remete à realização vocal da língua, possível por 
um ato individual no interior da fala, sendo que, nem mesmo 
para o mesmo sujeito essa realização é idêntica, ainda que 
sobre a mesma experiência vivida; logo, a irrepetibilidade 
da enunciação ocorre até para o próprio locutor; b) dessa 
produção individual decorre o segundo aspecto, que supõe 
“a conversão individual da língua em discurso”, processo 
definido como semantização da língua, segundo Benveniste 
(ibid., p. 83)11; c) a terceira abordagem pretende traçar um 
quadro formal da enunciação sob consideração do ato em si, 
as situações e os instrumentos de sua realização.
Essencial para a existência da enunciação é o interlocutor: sem ele 
só há apenas uma possibilidade de língua, não o ato concreto. Entretanto, 
o interlocutor só existe se houver, da parte do locutor, uma apropriação 
da língua que estabelece um movimento de referência e correferência, já 
que um pede o outro, um “tu”, uma via de mão dupla. Em outras palavras, 
é na enunciação que o “eu” apropria-se da língua, concretizando-se no 
tempo, o presente. Para Benveniste (2006), passado e futuro não fazem 
parte da enunciação, pois o enunciado é sempre atualização. Assim, o 
tempo é sempre presente, contínuo e coextensivo, um aqui-agora que só 
existe pelo ser. 
Dessa maneira, podemos entender a referência como importante 
para o enunciado, já que o “eu” se encontra no centro da língua, marcado 
pelo presente. Nesse âmbito, se toda língua perpassa o sujeito, toda 
ela tem referenciação, ou seja, todos os signos estão ligados ao “eu” e 
são, portanto, referenciais. A língua, na teoria da enunciação, é sempre 
Análise do Discurso24
referência, não diretamente ao mundo, mas sim em relação ao sujeito 
com o mundo.
REFLITA
Se a língua é referência, como, então, os signos são 
referenciados na enunciação? 
A resposta é simples. Para Benveniste há, na língua, um aparelho 
de “funções”, que se adequa ao contexto comunicacionalda enunciação. 
Essas funções são a intimação, interrogação e asserção, e todas denotam 
sentidos específicos de comunicação. 
RESUMINDO
O quadro formal da enunciação, para Benveniste, é o eu-
tu-aqui-agora, considerando índices de pessoa, espaço/
tempo, referindo-se, sempre, a enunciação. Flores e 
Teixeira (2005, p.36) esclarece que “o aparelho formal da 
enunciação é uma espécie de dispositivo que as línguas 
têm para que possam ser enunciadas. Esse aparelho nada 
mais é que a marcação da subjetividade na estrutura da 
língua”. O aparelho pode ser sempre universal, porém, seu 
uso é sempre individual, mesmo que o propósito da teoria 
enunciativa não seja o sujeito em si, antes, as suas marcas 
no ato da enunciação. 
ACESSE
Tem curiosidade em entender ainda mais sobre o 
processo de enunciação de Benveniste? Acesse https://bit.
ly/2YHlYNv, disponível no Youtube. 
http://https://bit.ly/2YHlYNv
http://https://bit.ly/2YHlYNv
Análise do Discurso 25
Colocadas as concepções de Benveniste sobre a língua, resta-nos 
a pergunta: Quais as consequências dessa perspectiva teórica? Podemos 
listar algumas, vejamos: 
1. Diferentemente da linguística formal, Benveniste 
reconhece o sujeito como pertencente ao sistema da 
língua; além disso, o linguista considera a natureza da 
subjetividade, marcando a necessidade de reconhecer a 
língua enquanto instância(s) do discurso, não apenas um 
repertório de signos como outrora colocado por Saussure;
2. Benveniste atribui à língua o status de significação, que só 
se dá por vias do discurso, ou seja, na enunciação. Flores 
(2008, p. 12) exemplifica com clareza essa perspectiva 
quando diz que “É no uso da língua que um signo tem 
existência; o que não é usado não é signo; e fora do uso o 
signo não existe. Não há estágio intermediário; ou está na 
língua, ou está fora da língua”;
3. Para Benveniste o foco é o sujeito, é ele quem atualiza 
o sistema linguístico, articulando e significando. Desse 
modo:
A língua- Subjetividade
Sujeito- Intersubjetividade 
(Relembramos aqui a relação interdependente entre os pronomes 
pessoais “eu” e “tu”) 
4. Por fim, Benveniste inaugura um pensamento novo sobre 
a língua: A enunciação, que contribuirá, mais a frente, 
para os pressupostos da Análise do Discurso estudada na 
contemporaneidade e proposta por essa disciplina. 
Análise do Discurso26
O Discurso Enquanto Objeto de Estudo 
da Linguística (a Análise do Discurso) – 
Consequências Dessa Perspectiva Teórica
INTRODUÇÃO
Até então, os capítulos anteriores propuseram um percurso 
dos estudos linguísticos até que pudéssemos chegar, de 
maneira mais clara, ao ponto central de nossa disciplina: A 
Análise do Discurso. Vamos conhecê-la?
Como vimos anteriormente, existem muitas maneiras de estudar 
a linguagem: a língua enquanto sistema de signos; as diferentes normas 
de linguagem (lembremos da norma culta e da variação linguística); a 
enunciação, dentre outras. Essa variedade expõe muitas maneiras de 
significar, e foi a partir dessa ciência que surgiu a Análise do Discurso. 
O que seria então, caro aluno (a), a Análise do Discurso?
Considerada enquanto uma teoria política de Leitura, A análise do 
Discurso nasce na França na década de 1960, tendo como Fundador o 
estudioso Michel Pêcheux. Para Orlandi (2007 p. 15) essa perspectiva, 
como seu próprio nome refere: 
Não trama a língua, não trata da gramática, embora todas 
essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra 
Discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de 
percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim 
palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo 
do discurso observa-se o homem falando. (Grifo nosso).
Ou seja, a Análise do discurso, diferente de algumas das concepções 
anteriores, não trabalha com a língua na qualidade de um sistema abstrato. 
Ela procura entender a língua enquanto sentido (s), como um trabalho 
simbólico, parte constitutiva do homem e da história desse. Nesse âmbito, 
por meio dessa perspectiva surge a oportunidade de entender o que 
faz o homem ser o que é, compreender sua capacidade de significar e 
Análise do Discurso 27
significar-se. Portanto, na Análise do Discurso a linguagem (o discurso) 
torna-se mediadora entre o homem e sua realidade individual e social.
O que interessa à Análise do Discurso é o movimento: as maneiras de 
significar; pessoas se comunicando e trocando experiências, compreendendo 
sentidos, compreendendo seu lugar na sociedade, por meio da interpretação. 
Se o meio em que o discurso é produzido é significativo, vale à Análise do 
Discurso a consideração da linguagem à sua exterioridade. Assim, ela se 
materializa na ideologia, ou seja, ela tem, em parte, uma ordem própria (as 
regras de uso, as gramáticas); em outra, uma relativa autonomia (o campo da 
semântica, das possibilidades de interpretação). 
Exemplo:
Para compreender melhor a questão ideológica, atentemos para a 
charge abaixo:
Fonte: @Wordpress
Se analisássemos a charge acima à luz de unicamente de seu 
conteúdo, leríamos de maneira literal, e seu objetivo (a crítica à corrupção 
por meio da sátira), não seria atingido. A Análise do Discurso propõe 
olhar o texto acima unindo sentidos e contexto situacional, considerando 
a compreensão da ideologia que lhe cerca: a linguagem pode sugerir 
múltiplos efeitos de sentido em um único texto. Assim, essa perspectiva 
Análise do Discurso28
sugere interpretar as linguagens que produzimos e que lemos/ ouvimos/ 
vemos e etc. 
A interpretação, nessa conjuntura, é o primeiro destaque que 
daremos no estudo da Análise do Discurso.
A interpretação 
Para Orlandi (2007, p. 25), 
A proposta intelectual em que se situa a Análise do Discurso 
é marcada pelo fato de que a noção de leitura é posta em 
suspenso. Tendo como fundamental a questão do sentido, a 
Análise do Discurso se constitui no espaço em que a Linguística 
tem a ver com a Filosofia e com as Ciências Sociais. Em outras 
palavras, na perspectiva discursiva, a linguagem é linguagem 
porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido porque se 
inscreve na história. 
Ou seja, a perspectiva discursiva enfatiza a questão do contexto 
(Social, histórico, político, econômico) enquanto peça chave para haver 
sentido e, assim, linguagem. Nesse sentido, a interpretação ganha espaço 
por permitir a leitura e compreensão desses variados contextos. 
A Análise do Discurso, por esse viés, acaba por teorizar a 
interpretação, colocando-a como uma proposta de análise que não se 
fecha em si, mas trabalha seus mecanismos, limites, como partes do 
processo de construção de significação. Na interpretação proposta pela 
perspectiva discursiva não há um sentido verdadeiro, único, revelado por 
um método. Há, sim, uma construção de dispositivos teóricos capazes de 
dar conta das mais diversas produções emergidas da linguagem. 
Análise do Discurso 29
EXPLICANDO MELHOR
Para compreender como funciona a perspectiva discursiva 
com mais clareza, vamos agora distinguir inteligibilidade, 
interpretação e compreensão, unido as explicações à 
exemplos.
Inteligibilidade
A inteligibilidade faz referência ao sentido da língua. 
Vejamos este exemplo: “Ela pediu esse”. Essa frase é 
inteligível, basta dominarmos o português para ler esse 
enunciado. Entretanto, ela não pode ser interpretada, pois 
não conseguimos chegar à conclusão de quem era ela e/
ou o que ela pediu. 
Interpretação 
Pensemos na seguinte situação hipotética: 
Maria vai ao restaurante com seu noivo, Carlos, e sua amiga, 
Júlia. Enquanto Júlia vai ao banheiro, Maria solicita ao garçom 
um dos pratos do Menu. Ao voltar à mesa, Júlia pergunta 
a Carlos o que Maria pediu e ele prontamente responde, 
indicando com os dedos no Menu: “Ela pediu esse”.
Pelo exemplo acima podemos perceber que a interpretação 
necessita de um co-texto (as outras faces do texto) e o 
contexto em si. Interpretando, ela é Maria e esse é o prato 
solicitado.Compreensão 
Utilizando a mesma situação hipotética, nas palavras 
de Carlos poderíamos compreender que Júlia pediu 
determinado prato porque gosta mais, ou porque pode ter 
alguma restrição alimentícia, por exemplo. A compreensão, 
nesse sentido, é entender como um objeto simbólico (texto, 
pintura, enunciado, etc.), produz sentidos. É compreender 
como funcionam as interpretações. Quando interpretamos 
já estamos presos a um sentido. Assim, a compreensão 
procura explicitar os processos de significação presentes 
na situação comunicacional para que assim possam ser 
entendidos outros sentidos possíveis. 
Análise do Discurso30
Resumindo, a Análise do Discurso, para Orlandi (2007, p. 26):
Visa a compreensão de como um objeto simbólico produz 
sentidos, como ele está investido de significância para 
e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica 
explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação 
que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas 
práticas de leitura.
Se a interpretação é um dispositivo teórico de análise da Análise do 
Discurso há, portanto, o analista e o método produzido no alcance teórico 
da perspectiva discursiva. Cada analista necessita formular uma questão 
que desencadeie uma análise, e cada material de análise pede que seu 
analista eleja conceitos que outro analista não elegeria, criando assim 
conceitos diferentes de análises. Embora a teoria ilumine a análise, essa é 
escolhida dentre tantas pelo analista, em sua liberdade para a construção 
de interpretações. 
O Analista analisa e compreende o processo discursivo, podendo, então, 
interpretar seus resultados de acordo com os instrumentos teóricos escolhidos 
dos campos disciplinares dos quais ele optou. Dessa maneira, o analista do 
discurso desfaz a ilusão da transparência da linguagem, já que passou por um 
processo material de constituição e significação do (s) sujeito (s). 
É desse estudo detalhado, metódico, teórico e principalmente 
interpretativo que deriva, Para Orlandi (2007, p. 28), a riqueza da Análise do 
Discurso “ao permitir explorar de muitas maneiras essa relação trabalhada 
com o simbólico, sem apagar diferenças, significando-as teoricamente.”
Nesse contexto, o que se dizemos não são apenas mensagens a 
serem decodificadas, mas sim: 
Efeitos de sentidos que são produzidos em condições 
determinadas e que estão de alguma forma presentes no 
modo como se diz, deixando vestígios que o analista de 
discurso tem de apreender. São pistas que ele aprende a 
seguir para compreender sentidos aí produzidos, pondo em 
relação o dizer com sua exterioridade, suas condições de 
Análise do Discurso 31
produção. Esses sentidos têm a ver com o que é dito, e com o 
que poderia ser dito e não foi. Desse modo, as marfes do dizer, 
do texto, também fazem parte dele. (ORLANDI, 2007, p.30)
Para compreender melhor, vejamos o exemplo a seguir:
Exemplo: 
Mais cedo ou mais tarde sua esposa 
vai dirigir.
Esta é uma das razões para você pos-
suir um Volkswagen
Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2QxUUfc
Enquanto analista do Discurso, quais vestígios precisamos 
apreender para interpretar o anúncio acima?
Considerando o universo dos anúncios, propagandas, não basta 
apenas decodificar a linguagem verbal. Há de se levar em consideração o 
contexto situacional; as escolhas linguísticas; o texto não verbal; dentre outros. 
No exemplo acima nos deparamos com um anúncio publicitário 
dos anos 60. Na época era comum e, inclusive, engraçado, sentenças 
que maculassem a imagem da mulher. O texto verbal, portanto, pode ser 
interpretado como uma “piada” em relação às capacidades limitadas da 
mulher ao fato de dirigir. A empresa, em contrapartida, oferece um produto 
Análise do Discurso32
que “alivia” a preocupação masculina, já que possuí peças baratas e fáceis 
de encontrar. Ou seja, o homem não precisaria se preocupar com mais 
esse “problema”: a WV se preocupa por ele. 
Fica claro aqui como a condição de produção de um discurso 
afeta a construção da linguagem. Se hoje, no século XXI, o mesmo 
anúncio publicitário fosse veiculado em jornais, revistas e internet, muito 
provavelmente seria tachado como machista e anacrônico, e a empresa 
sofreria as represálias cabíveis. 
Portanto, as condições de produção e Interdiscurso são de grande 
significado para o analista do discurso e, mais amplamente, para a 
Análise do Discurso em geral. Assim, cabe-nos agora aprofundar essas 
perspectivas. 
Condições de produção e Interdiscurso 
Para Orlandi (2007), as condições de produção compreendem 
sujeitos, situação e a memória. Essa última, inclusive, bastante significativa, 
como veremos mais à frente. 
As condições de produção, para a autora, consideram duas 
circunstâncias: o contexto imediato e o contexto sócio histórico, ideológico. 
No último exemplo que apresentamos (o caso do fusca da Volkswagen), o 
contexto imediato é o “simples” anúncio de um carro e a sugestão de que 
esse é resistente e acessível e, por isso, deve ser comprado. Já o contexto 
amplo é o que revela efeitos de sentidos inerentes do funcionamento 
da nossa sociedade, como por exemplo o mercado automobilístico e a 
antiga cultura de que veículos eram destinados a homens, já que à mulher 
destinava-se o lar. Nas entrelinhas, observamos que a suposta aceitação de 
uma mulher dirigindo, reação lenta do Feminismo no decorrer do século XX, 
vem transvestida do machismo que reinava com todas as forças naquele 
contexto em particular. O anúncio, assim, revela um posicionamento sócio 
histórico social comum à época em que fora publicado. 
É aqui que o conceito de memória ganha forças quando pensada 
em relação ao discurso. No contexto teórico da Análise do Discurso, 
inclusive, podemos chamá-la de Interdiscurso:
Análise do Discurso 33
Definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, 
independentemente. Ou seja, é o que chamamos de memória 
discursiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que 
retorna sob a forma do pré-construído, o já-dito que está na base 
do dizível, sustentando cada palavra. (ORLANDI, 2007, p.31)
Ora, só conseguimos, hoje, interpretar de maneira significativa o 
anúncio produzido no século XX graças a nossa memória discursiva: o 
discurso do machismo não é novo, é um já-dito não só naquela época, 
como se perpetua na nossa. Lá nos anos 60, o texto verbal anunciava 
uma forma de pensamento traduzida discursivamente que antecede 
sua produção. Assim, o texto a que tivemos contato caracteriza-se 
como um interdiscurso, um conjunto de formulações já existentes sócio 
historicamente que se traduzem em um novo texto.
Assim como a interdiscursividade, enquanto memória, nos faz 
considerar acontecimentos passados como matéria para os novos, 
também é esquecimento, outro aspecto importante da Análise do 
Discurso que conheceremos agora. 
ACESSE
Quer saber mais sobre a interdiscursividade na Análise 
do Discurso? Acesse ao vídeo “Interdiscurso e memória 
discursiva”, disponível no Youtube por meio do Link: https://
bit.ly/3jtiypH
Para Pêcheux (1975) existem dois tipos de esquecimento no 
discurso, são eles: 
1. O esquecimento número dois, da ordem da enunciação:
Ao falarmos sempre optamos por uma forma e não outra. 
No entanto, o que dizemos sempre poderia se dito de outra 
maneira, com outras escolhas linguísticas. Ao falarmos “Feliz”, 
poderíamos ter optado por “alegre” ou “contente”, por exemplo. 
Entretanto, nós nem sempre temos consciência disso. Este 
https://bit.ly/3jtiypH
https://bit.ly/3jtiypH
Análise do Discurso34
“esquecimento” é parcial, semiconsciente, que exemplifica 
que o modo de dizer tudo tem a ver com os sentidos.
2. O esquecimento número um, ou esquecimento ideológico:
Instância do inconsciente, é resultante do modo como somos 
afetados ideologicamente. Por ele temos, quando elaboramos 
um discurso, a ilusão de sermos originais, os primeiros a 
dizer/escrever/falar, etc. No entanto,quando nascemos, 
os discursos já estão em processo, apenas entramos no 
movimento. Na verdade, a língua se materializa em nós e o 
esquecimento é, voluntariamente, uma necessidade para que 
a linguagem funcione na produção de sentidos e sujeitos: 
retomando palavras já existentes como se fossem deles e, 
assim, movimentando as possibilidades da linguagem. 
Análise do Discurso 35
Outros Aspectos Relevantes à Análise do 
Discurso 
INTRODUÇÃO
Além dos aspectos supraditos, outros se fazem importantes 
para uma compreensão mais completa em relação à análise 
do Discurso, são eles: Paráfrase e Polissemia; Formação 
Discursiva e Ideologia e sujeito. Iremos, agora, vê-los um 
por um, antes de concluirmos nosso estudo.
 Paráfrase e Polissemia 
Quando pensamos a linguagem de maneira discursiva, é impossível 
dissociar essa compreensão da tensão entre processos parafrásticos e 
polissêmicos. Para Orlandi (2007, p.36):
Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo 
dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a 
memória. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos 
espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações 
do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da 
estabilização. Ao passo que, a polissemia, o que temos é 
deslocamento, ruptura com os processos de significação. Ela 
joga com o equívoco. 
Ou seja, sempre falamos algo dito, porém, pela polissemia, esse 
algo dito se transforma em outro. É assim que os sujeitos (re) significam 
e (se) significam a todo instante. Dessa maneira, acabamos por concluir 
que a incompletude é condição para a linguagem: os discursos (sujeitos e 
sentidos) já estão prontos, contudo, eles estão sempre se refazendo, em 
um movimento constante da história e do simbólico. 
Análise do Discurso36
Formação Discursiva
A noção de Formação Discursiva é basilar na Análise do Discurso, e 
o porquê é simples: é ela que permite entender o processo de produção 
de sentidos e sua relação com as questões ideológicas. 
A formação discursiva é definida por meio de uma formação 
ideológica dada, ou seja, a partir de um contexto sócio histórico dado, 
que define o que pode e/ou deve ser dito. Para compreendermos melhor 
como isso funciona, prestemos atenção nos dois pontos a seguir:
O discurso se constitui em seus sentidos: 
Isoladas, as palavras não possuem sentido nelas mesmas, é 
necessária uma conjuntura na qual o sujeito se insere em uma dada 
formação discursiva e não em outra, para atingir um sentido ao invés 
de outro. Ou seja, as formações ideológicas são representadas pelas 
formações discursivas que as inscrevem. Daí vem o peso da ideologia. 
Para Orlandi (2007p. 43):
Os sentidos sempre são determinados ideologicamente. Não 
há sentido que não o seja. Tudo o que dizemos tem, pois, um 
traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto 
não está na essência das palavras mas na discursividade, isto 
é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz efeitos, 
materializando-se nele. O estudo do discurso explicita a 
maneira como a linguagem e ideologia se articulam, se afetam 
em sua relação recíproca. 
EXPLICANDO MELHOR
Ou seja, todas as nossas escolhas discursivas, tudo o que 
falamos ou escrevemos, a maneira como nos posicionamos, 
sempre estará correlacionada a uma determinada 
ideologia. As ideologias regem, portanto, nossas formações 
discursivas.
Análise do Discurso 37
Os diferentes sentidos são assimilados pela refe-
rência a uma formação discursiva:
As palavras, mesmo sendo iguais, podem significar coisas diferentes 
dependendo da formação discursiva em que estão. Por exemplo, a palavra 
“Floresta” não significa a mesma coisa para um produtor rural, para um 
índio ou um cidadão. Além disso, alterada sua letra inicial entre maiúscula 
e minúscula, podemos obter novos sentidos. 
O analista do discurso, aqui, tem papel fundamental para a 
compreensão: ele precisa observar as condições de produção do texto, 
verificando sempre o funcionamento da memória; além disso, ele 
necessita verificar o porquê dessa formação discursiva (ao invés de outra), 
para assimilar os sentidos ali presentes. 
Para Orlandi (2007), o sentido que, na verdade, é efeito ideológico, 
não nos deixa perceber, em uma primeira análise, seu fundo material, 
histórico. Porém, todo sujeito, carregado de ideologia traz, obviamente, 
uma historicidade em construção que alimenta essa mesma ideologia. 
Assim, Ideologia e sujeito caminham juntos e, por isso, a partir de agora, 
caro aluno, iremos conhecer um pouco mais sobre esses dois princípios 
importantes à Análise do Discurso. 
Ideologia e Sujeito
É interessante perceber como a Análise do Discurso ressignifica a 
noção de ideologia por meio dos estudos da linguagem. Dessa forma, a 
ideologia passa a ser definida ideologicamente e é isso que veremos a seguir. 
Segundo Orlandi (2007, p.44), o fato de que não há sentido sem o 
movimento de interpretação evidencia a presença da ideologia. Sempre, 
em contato com um objeto simbólico, há no homem a motivação para se 
perguntar: “o que isso quer dizer?”. Nesse contexto, no ato de interpretar 
o sentido surge como evidência, como se ele sempre tivesse estado lá. 
O trabalho da ideologia, nesse contexto, é colocar o homem em uma 
relação imaginária com suas condições existenciais e materiais. 
Análise do Discurso38
A ideologia, portanto, passa a ser condição para a constituição de 
sujeitos e sentidos. Para Orlandi (2007, p.46):
O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que 
se produza o dizer. Partindo da afirmação de que a ideologia e 
o inconsciente são estruturas-funcionamentos, M Pêcheux diz 
que sua característica comum é a de assimilar sua existência 
no interior do seu próprio funcionamento, produzindo um 
tecido de evidências “subjetivas”, entendendo “subjetivas” (...) 
como “nas quais se constitui o sujeito.” 
Assim, a subjetividade, enquanto constituinte do sujeito, está para 
a ideologia do que ele pretende dizer. Entretanto, ao se colocar enquanto 
sujeito, muitas vezes o homem apaga o fato de que é interpelado pela 
ideologia. Esse apagamento já nos foi colocado acima: o homem acredita 
estar dizendo algo novo, nunca antes pronunciado. 
Para o analista, nesse sentido, entender ideologia enquanto relação 
necessária entre mundo é linguagem é fundamental. 
Exemplo:
Enquanto analistas, podemos nos perguntar: Como a ideologia atua 
na charge abaixo?
Acabei de ligar
Oi, Miguelito! Coisa 
boa na TV?
Mas parece que se você passa 
desodorante, depois come sal-
sichas e aí compra uma máqui-
na de lavar roupas, só não é 
feliz se for muito idiota
Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2Z3rier
Considerando o “esquecimento”, para nós, enquanto sujeitos, a 
resposta de Miguelito poderia ser inocentemente a compreensão de um 
todo original, “novo” do que está passando na TV. Entretanto, a charge 
acima ultrapassa esses limites ao ironizar a ideia de felicidade vendida nas 
propagandas e programas de TV. 
Análise do Discurso 39
Nesse sentido, a formação discursiva, se analisada por esse viés, 
revela um sentido novo pertencente a uma ideologia dominante nos dias 
atuais que está aparentemente velado na resposta do personagem: O 
consumo, incentivado como gerador de felicidade em nossa sociedade 
capitalista das mais diversas formas. 
Para Orlandi (2007, p.47) o sentido, 
É assim uma relação determinada pelo sujeito-afetado pela 
língua- com a história. É o gesto da interpretação que realiza 
essa relação do sujeito com a língua, com a história, com os 
sentidos. Esta é a marca da subjetivação e, ao mesmo tempo, 
o traço de relação da língua com a exterioridade: não há 
discurso sem sujeito. E não há sujeito sem ideologia. 
EXPLICANDO MELHOR
Nós, enquanto sujeitos, somos formados pela ideologia e 
história que nos cerca, e esses dois elementos são, mesmo 
que inconscientemente, norteadores do nosso discurso. 
Muitas vezes ésó pela interpretação, na busca pelo sentido 
do que dissemos, falamos ou agimos, que compreendemos 
a (s) origem (s) daquele discurso. 
Por fim, é importante esclarecer que o trabalho com 
a ideologia é um trabalho baseado na memória-
esquecimento. É justamente o esquecimento que motiva 
a iluminação de qualquer discurso proposto. No pensar, 
por exemplo: “Por que ‘fulano’ se colocou dessa forma?”; 
“Por que eu me posicionei dessa maneira”? temos o 
primeiro passo para a investigação da formação discursiva 
de determinado contexto, chegando às conclusões 
ideológicas na construção de sentidos. 
Análise do Discurso40
Após essa produtiva imersão teórica em relação à Análise do 
Discurso, nos perguntamos: Quais as consequências dessa perspectiva 
teórica? Iremos, agora, indicar algumas: 
1. A Análise do discurso, ao unir campos de conhecimento, 
rompe suas fronteiras e elege um novo recorte de 
disciplinas, constituindo um novo objeto de estudo: o 
discurso;
2. Para a Análise do Discurso, não há apenas transmissão 
de informação, muito menos linearidade nos elementos 
comunicacionais. Para ela, a língua não é apenas um mero 
código, em que se separa emissor e receptor; em que um 
fala e outro, na sequência, decodifica. Não há transmissão 
de informação apenas, há um complexo processo de 
formulação de sujeitos que produzem constantemente 
sentidos;
3. A língua, para a Análise do Discurso, tem sua ordem 
própria, porém, é relativamente autônoma;
4. Na perspectiva discursiva, o sujeito da linguagem se 
constitui enquanto descentralizado, pois é afetado pelo 
real da língua, bem como o real da história, e o modo 
como essas o afetam não pode ser controlado por ele. 
Isso possibilita concluir que o sujeito discursivo age pela 
ideologia e inconsciente;
5. Por fim, podemos concluir que na Análise do Discurso 
“Em seu quadro teórico, nem o discurso é visto como 
uma liberdade em ato, totalmente sem condicionantes 
linguísticos (...) nem a língua como fechada em si mesma, 
sem falhas ou equívocos.” (ORLANDI, 2007, 22). A língua, 
assim, sempre será condição para a oportunidade do 
discurso. 
Análise do Discurso 41
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Adriana Ferreira Serafim de Oliveira 
Patrícia Valéria Vieira da Costa
Livro Didático Digital
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