Prévia do material em texto
1 ANAEL PREMAN KRELLING COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DE AÇO AISI 1020 BORO-NIOBIZADO Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais do Centro de Ciências Tecnológicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais. Orientador: César Edil da Costa JOINVILLE 2016 2 K92c Krelling, Anael Preman Comportamento tribológico de aço aisi 1020 boro- niobizado/Anael Preman Krelling – 2016. 227 p. : il. ; 21 cm Orientador: César Edil da Costa Bibliografia: 205-226 p. Tese (doutorado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Tecnológicas, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Joinville, 2016. 1. Metais. 2. Aço (metalurgia). 3.Tribologia. 4. Nióbio. I. Costa,César Edil da. II. Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais. III. Título. CDD: 620.16 - 23. ed. 3 4 5 À Roberta, pessoa com quem escolhi compartilhar a vida. Obrigado por sua capacidade de me trazer paz. Esta conquista é tão sua quanto minha. Amo tanto! 6 7 AGRADECIMENTOS À Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) pela infraestrutura que permitiu a realização desta tese. Ao meu orientador, professor Dr. César Edil da Costa. Pelas conversas, sérias e descontraídas. Orientador não só do doutorado, mas também de carreira. Um amigo e exemplo de profissional. Ao professor Dr. Júlio César Giubilei Milan pela orientação durante o Mestrado, por compartilhar seus conhecimentos sem reservas e por indicar um caminho quando os resultados pareciam confusos. À professora Marilena Valadares Folgueras por ter me ensinado a ―pilotar‖ o MEV e pelas análises de área superficial. A todos os professores do Programa de Pós- graduação em Ciência e Engenharia de Materiais pelos ensinamentos durante as disciplinas e convivência do dia-a-dia. Aos amigos do ―Grupo do Pó‖, Alexandre Galiotto, Bruna Zapelinno, Eliana Franco, Elisangela Aparecida dos Santos de Almeida, Everton Rafael Breitenbach, Fernanda Brietzig, Flávia Costa da Silva, Ivandro Bonetti, Kamila Kazmierczak, Marcel Pietsch Mondardo, Mateus Arcego, Marcia Hagedorn e Fernando Demboski. Agradeço especialmente à Elisangela por tornar os dias de estudos menos pesados e mais divertidos, pelos dias gastos no microscópio eletrônico de varredura e microscópio confocal. À Bruna pelas dicas fit e ao Galiotto pelos cafés fortes que não deixam ninguém dormir e pelas discussões de artigos para publicação. Aos bolsistas de iniciação científica Douglas pela preparação das amostras e Filipi pela ajuda com os 8 ensaios de microabrasão. A ajuda de vocês foi fundamental. Aos graduandos em Engenharia Mecânica, alguns hoje engenheiros, da UDESC Joinville que fizeram o Trabalho de Conclusão de Curso em temas relacionados a esta pesquisa: Douglas Grings, Renan Frassetto Rosa e Murillo da Silva Santana. Agradeço de maneira especial à Jéssica Garcia Alves por ter trabalhado comigo tanto na iniciação científica quanto no TCC e ao Felipe de Souza Pinto Barbosa cujo TCC foi fundamental para o desenvolvimento desta tese. À minha mãe Tania Quandt pelo amor incondicional e pelas várias conversas sobre educação durante nossos almoços, por ser uma batalhadora. Ao meu pai Ingo Gilmar Krelling pelo amor incondicional, meu ―ser do suposto saber‖. À Omi, Ivone Setti Quandt Rosa, que com todo o carinho sempre cuidou de mim, das mamadeiras aos almoços 31 anos depois. Por todo cuidado e amor com que ajudou na minha criação. Ao meu irmão gêmeo, Gabriel Preman Krelling, para quem cito Allan Kardec quando trata da semelhança de caráter que existe, frequentemente, entre dois irmãos, principalmente entre gêmeos definindo-os como ―Espíritos simpáticos que se aproximam por semelhança de seus sentimentos e que ficam felizes por estarem juntos‖. E à sua esposa Joice Grabovski Krelling. À minha sogra, Orlandina Vanderlinder de Souza, que mesmo antes do casamento já havia se tornado minha segunda mãe. À minha esposa, Roberta Nazaré de Souza Krelling, para quem esta tese é dedicada. Pelo companheirismo, carinho e por estar presente em todos os momentos da minha vida. Por prestar atenção 9 enquanto eu falava por horas sobre o doutorado, mesmo que a recíproca nem sempre fosse verdadeira. Nossos planos para a vida vão se concretizando, objetivos vão sendo traçados, alterados, alcançados. Com você ao meu lado sempre fica mais fácil. A Deus, que se mostrou criador, que foi criativo. 10 11 ―O destino costuma estar na curva de uma esquina. Como se fosse um ladrão, uma puta ou um vendedor de loteria: as três encarnações mais comuns. Mas uma coisa que ele não faz é visitas em domicílio. É preciso ir atrás dele.‖ (A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón) 12 13 RESUMO KRELLING, Anael Preman. Comportamento tribológico de aço AISI 1020 boro-niobizado. 2016. 227 p. Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais – Área: Engenharia de Materiais e Metalurgia) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Joinville, 2016. Revestimento a base de boretos de nióbio foi depositado em aço AISI 1020 previamente boretado. O tratamento de boretação foi realizado por via sólida com uso de agente boretante comercial Ekabor 1-V2. O tratamento de niobização foi realizado através de um tratamento termo-reativo por deposição e difusão (TRD) com utilização de uma mistura contendo ferro-nióbio, cloreto de amônia e alumina a 1000 °C durante 4 horas. As amostras foram caracterizadas por difração de raios-X, microscopia eletrônica de varredura, espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e microdureza Knoop. Ensaios de desgaste microabrasivo foram realizados em um equipamento de microabrasão por esfera rotativa fixa para a avaliação do comportamento tribológico. A carga utilizada e a concentração da lama abrasiva foram 0,49– 0,98 N e 0,5–1,0 g/cm³, respectivamente. O coeficiente de desgaste, coeficiente de atrito e mecanismos de desgaste foram comparados com os de amostras boretadas e sem tratamento. Difrações de raios-X mostraram a presença da fase Fe2B para as amostras boretadas e Fe2B, Al2O3, NbB, B6Nb5, Fe2O3 e NbC para as amostras boroniobizadas. A camada de boreto de ferro apresentou espessura de 177 µm e dureza de 14 aproximadamente 2100 HK0,01 enquanto a camada de boretos de nióbio apresentou 2 µm e 1369 HK0,005. O maior e o menor valor do coeficiente de desgaste foram obtidos para as amostras boroniobizadas e sem tratamento, respectivamente. Para as amostras boretadas e boroniobizadas o mecanismo de desgaste predominante foi de abrasão por rolamento. As amostras sem tratamento apresentaram mecanismo de abrasão por deslizamentocom ocorrência de micro-rolamento e misto, dependendo das condições de ensaio. Palavras-chave: Microabrasão, Comportamento Tribológico, Tratamento TRD, Boretação, Aço AISI 1020. 15 ABSTRACT KRELLING, Anael Preman. Tribological behavior of boro-niobized AISI 1020 steel. 2016. 227 p. Thesis (Doctorate in Materials Science and Engineering – Area: Materials Engineering and Metallurgy) – University of the State of Santa Catarina. Post-graduate Program in Materials Science and Engineering, Joinville, 2016. Niobium boride based coating was applied on pre- boronized AISI 1020 steel. Boriding treatment was carried out in solid medium with commercial Ekabor 1-V2 agent. Niobizing was carried out by Thermoreactive Deposition/Diffusion (TRD) treatment in a powder mixture consisting of iron-niobium, ammonium chloride and alumina at 1000 °C for 4 hours. Samples were characterized by X-ray diffraction, scanning electron microscopy, energy dispersive spectroscopy (EDS) and Knoop microhardness test. Tribological behavior was evaluated using a micro-abrasion wear tester with fixed- ball configuration. The load and abrasive slurry concentration were 0,49–0,98 N and 0,5–1,0 g/cm³, respectively. Wear coefficient, friction coefficient and wear mechanisms were compared with borided and untreated samples. X-ray diffraction analysis showed the presence of Fe2B phase on borided samples and Fe2B, Al2O3, NbB, B6Nb5, Fe2O3 and NbC phases on boroniobized samples. The iron borided layer showed 177 µm thickness and 2100 HK0,01 hardness, while niobium borides layer showed 2 µm and 1369 HK0,005. The highest and the lowest wear coefficient was obtained for boroniobized and untreated samples, respectively. For borided and boroniobized samples rolling abrasion 16 takes place. For untreated samples grooving abrasion with micro-rolling occurrence and mixed abrasion takes place depending of wear tests conditions. Keywords: Microabrasion, Tribological Behavior, TRD Treatment, Boriding, AISI 1020 steel. 17 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Perfil de dureza para nióbio puro boretado a 940 ºC por 8 horas ........................................ 41 Figura 2 – Esquema das reações que ocorrem em tratamento TRD de niobização por via sólida42 Figura 3 – Efeito do teor de carbono na matriz na espessura da camada de carboneto de vanádio obtida por tratamento TRD em banho de bórax contendo 20%p de pó de Fe-V. Tempo de imersão de 4 horas ...................... 43 Figura 4 – Espessura de camada x raiz quadrada da atividade de carbono para vários substratos tratados a 1000°C ......................................... 44 Figura 5 – Micrografia Eletrônica de Varredura (MEV), de uma camada de carboneto de nióbio em substrato de aço 1040 obtida por tratamento TRD por via sólida a 900 °C por 2 horas ...... 47 Figura 6 – Diagrama de equilíbrio Fe-B ......................... 49 Figura 7 – Seção transversal de uma camada de FeB/Fe2B em ferro, mostrando a morfologia colunar das fases e a trinca propagando-se preferencialmente na interface das fases FeB e Fe2B ........................................................... 50 Figura 8 – Representação esquemática dos estágios de crescimento termoquímico dos cristais de Fe2B: estágio 1, crescimento na superfície metálica; estágio 2, crescimento nas regiões mais externas da amostra metálica; e estágio 3, crescimento em maior profundidade, levando a uma forte orientação preferencial (002) ............................................................. 52 Figura 9 – Micrografias mostrando a influência do teor de liga na morfologia e espessura da camada de boretos. (a) 1018, (b) AISI 304 ..................... 55 18 Figura 10 – Micrografias ópticas de: (a) 1040 boretado a 900 °C por 4 h; (b) 1040 boro-cromatizado a 1000 °C por 2 h .......................................... 59 Figura 11 – (a)-(c) crateras de desgaste das esferas de AISI 52100 (a) temperada, (b) boro- cromatizada e (c) boretada. (d)-(f) pistas de desgaste formadas em aço AISI 1040 contra esferas (d) temperada, (e) boro-cromatizada e (f) boretada ............................................. 60 Figura 12 – Micrografia eletrônica de varredura de aço AISI 52100 com capada de NbC ................ 61 Figura 13 – Microscopia eletrônica de varredura das pistas de desgaste para as condições sem recobrimento (a) e borocromatizada (b). As setas indicam microtrincas na pista de desgaste .................................................... 62 Figura 14 – Superfícies das amostras boretadas a 1000 °C por 8 horas, após o ensaio abrasivo ..... 64 Figura 15 – Microscopia eletrônica de varredura das amostras de aço AISI 8620 desgastadas com lixas de 120 mesh e carga de 30 N. (a) não boretada, (b) boretada a 850 °C por 2 h .... 65 Figura 16 – Microscopia eletrônica de varredura da superfície de desgaste de amostras boretadas a 1000 °C por 4 horas com cargas de (a) 22 N e (b) 42 N após desgaste abrasivo ..................................................... 66 Figura 17 – Microscopia eletrônica de varredura da superfície de desgaste da amostra boretada a 1050 °C por 6 horas com carga de 42 N após desgaste abrasivo ............................. 67 Figura 18 – Microscopia eletrônica de varredura das pistas de desgaste do aço AISI 8620 boretado por 5 horas: (a) e (b) 100% B2O3, 19 (c) e (d) 100% bórax, (e) e (f) 70% B2O3 + 30% B4C, (g) e (h) 70% bórax + 30% B4C .. 69 Figura 19 – Esquema do ensaio de desgaste do tipo quatro-esferas ............................................ 70 Figura 20 – Micrografias eletrônicas de varredura das superfícies de desgaste das esferas boretadas. Ensaio sem lubrificação. (a) 98 N, (b) 147 N..................................................... 71 Figura 21 – Microscopia eletrônica de varredura das calotas de desgaste após 400 rotações das amostras (a) recozida, (b) Temperada e revenida e (c) boretada .............................. 73 Figura 22 – Microscopia eletrônica de varredura das pistas de desgaste das amostras que passaram por: (a) Têmpera e Revenimento, (b) Boretação com ―Mistura‖, (c) Boretação com Ekabor e (d) Boretação com Ekabor + Tempera e Revenimento ............................ 75 Figura 23 – Mecanismos de desgaste abrasivo ............ 77 Figura 24 – Mecanismos de microcorte (a), formação de aresta (b) e microsulcamento (c) ................ 77 Figura 25 – Mecanismo de desgaste abrasivo em função da forma do abrasivo .................................. 78 Figura 26 – Microscopia eletrônica de varredura do mecanismo de microfratura para diferentes materiais. (a) e (b) ferro fundido cinzento com grafita lamelar, (c) zinco a -196 °C e (d) aço com 0,9 %peso de C temperado ......... 80 Figura 27 – Microscopia eletrônica de varredura da superfície de desgaste para abrasão a 2 corpos (a) e três corpos (b) ........................ 81 Figura 28 – Modos de desgaste abrasivo a dois e três corpos ......................................................... 82 Figura 29 – Diagrama esquemático das duas configurações para ensaio de desgaste 20 micro-abrasivo. (a) esfera rotativa fixa e (b) esfera rotativa livre ..................................... 85 Figura 30 – Representação esquemática da cratera de desgaste gerada em ensaios de desgaste micro-abrasivo em amostras sem recobrimento .............................................. 87 Figura 31 – Representação esquemática da cratera de desgaste gerada em ensaios de desgaste micro-abrasivo em amostras com recobrimento .............................................. 88 Figura 32 – Diagrama esquemático mostrando a obtenção de ks e kc .................................... 89 Figura 33 – Obtenção do RPD em amostras recozidas deaço AISI H13 .............................................. 90 Figura 34 – Ocorrência de scuffing na região externa de uma cratera de desgaste ........................... 92 Figura 35 – Ocorrência de scuffing. Definição dos diâmetros ―d‖ e ―ds‖ .................................... 93 Figura 36 – Ilustração esquemática da formação de ―ridge‖......................................................... 95 Figura 37 – Microscopia eletrônica de varredura de ―ridge‖ formado em aço ferramenta com recobrimento de TiN .................................. 95 Figura 38 – Transição entre os modos de desgaste abrasivo em função da concentração da lama abrasiva e da força normal. Abrasivo: SiC F1200 .................................................. 97 Figura 39 – Cratera de desgaste obtida em ensaios de desgaste micro-abrasivo por esfera livre. Corpo-de-prova de metal-duro, distância de deslizamento de 8,8 metros ....................... 98 Figura 40 – Comportamento dos modos de desgaste abrasivo em função da severidade de contato e da relação Hs/He ....................... 100 Figura 41 – Fluxograma do trabalho experimental ...... 103 21 Figura 42 – Esquema do arranjo das amostras dentro do cadinho para boretação ............................ 105 Figura 43 – Esquema do arranjo das amostras dentro do cadinho para niobização ........................... 106 Figura 44 – Resumo da norma VDI 3198 .................... 108 Figura 45 – Equipamento para ensaio de desgaste micro-abrasivo. (a) Visão geral do equipamento; (b) detalhe da interface de contato e fornecimento de lama abrasiva . 109 Figura 46 – Microscopia eletrônica de varredura (MEV) das partículas abrasivas de SiC ............... 110 Figura 47 – Distribuição granulométrica média do abrasivo .................................................... 111 Figura 48 – Difratogramas de raios-X .......................... 115 Figura 49 – Rugosidade inicial. Parâmetros Ra, Rq, Rp e Rv ............................................................. 117 Figura 50 – Rugosidade inicial. Rarâmetros Rz, Rt, Rsk e Rku ........................................................... 118 Figura 51 – Microestrutura da seção transversal do aço AISI 1020 boretado ................................... 120 Figura 52 – Presença de um gradiente de quantidade de grãos de perlita (a) e detalhe da formação da perlita abaixo da camada de boretos ........ 121 Figura 53 – Porosidade na superfície da camada de boretos ..................................................... 122 Figura 54 – Microestrutura da seção transversal do aço AISI 1020 boroniobizado .......................... 123 Figura 55 – Presença de alumínio na superfície de uma amostra boroniobizada ............................. 125 Figura 56 – Mapeamento por EDS da seção transversal da amostra boroniobizada ........................ 126 Figura 57 – Microdureza em diferentes regiões .......... 128 Figura 58 – Micrografias eletrônicas do teste de aderência. (a) amostra boretada, (c) amostra boroniobizada, (b) e (d) aumento das áreas 22 representadas por retângulos em (a) e (c) respectivamente ....................................... 130 Figura 59 – Amostra sem tratamento. (a) cratera de desgaste, (b) perfil obtido pela linha preta horizontal em (a), (c) raio da esfera que melhor se ajusta à topografia da cratera .. 132 Figura 60 – Amostra boretada. (a) cratera de desgaste, (b) perfil obtido pela linha preta horizontal em (a), (c) raio da esfera que melhor se ajusta à topografia da cratera ................................ 133 Figura 61 – Amostra boroniobizada. (a) cratera de desgaste, (b) perfil obtido pela linha preta horizontal em (a), (c) raio da esfera que melhor se ajusta à topografia da cratera .. 134 Figura 62 – Amostra sem tratamento, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 136 Figura 63 – Amostra sem tratamento, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 137 Figura 64 – Amostra sem tratamento, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 138 Figura 65 – Amostra sem tratamento, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 139 Figura 66 – Amostra boretada, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 140 Figura 67 – Amostra boretada, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 141 Figura 68 – Amostra boretada, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................ 142 23 Figura 69 – Amostra boretada, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................. 143 Figura 70 – Amostra boroniobizada, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................. 144 Figura 71 – Amostra boroniobizada, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 0,5g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................. 145 Figura 72 – Amostra boroniobizada, carga de 50g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................. 146 Figura 73 – Amostra boroniobizada, carga de 100g, concentração da lama abrasiva de 1,0g/cm³. (a) k = f(S), (b) V = f(S) ............................. 147 Figura 74 – Coeficientes de desgaste ......................... 148 Figura 75 – Coeficiente de desgaste em função da relação Hs/He ........................................... 150 Figura 76 – Microestrutura da seção transversal da amostra boroniobizada. Indicação da profundidade da cratera após 96 metros de deslizamento ............................................ 152 Figura 77 – Diagrama de contorno para as amostras sem tratamento submetidas a ensaio de desgaste microabrasivo. Variável resposta: ―k‖ ....... 154 Figura 78 – Diagrama de contorno para as amostras boretadas submetidas a ensaio de desgaste microabrasivo. Variável resposta: ―k‖ ....... 155 Figura 79 – Diagrama de contorno para as amostras boroniobizadas submetidas a ensaio de desgaste microabrasivo. Variável resposta: ―k‖ ............................................................. 156 Figura 80 – Relação entre taxa de desgaste e concentração da lama abrasiva ................ 158 24 Figura 81 – Comportamento dos modos de desgaste abrasivo em função da severidade de contato e da relação Hs/He. Dados experimentais ........................................... 160 Figura 82 – Crateras de desgaste das amostras sem tratamento após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 40x ........................................................... 161 Figura 83 – Crateras de desgaste das amostras sem tratamento após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 200x ......................................................... 162 Figura 84 – Crateras de desgaste das amostras sem tratamento após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 2000x ....................................................... 164 Figura 85 – Mapeamento por EDS das amostras sem tratamento. Presença de átomos de Si. As imagens (a)–(b), (c)–(d), (e)–(f) e (g)–(h) referem-se às condições de ensaio de 50 g, 0,5 g/cm³; 50 g, 1,0 g/cm³; 100 g, 0,5 g/cm³ e 100 g, 1,0 g/cm³, respectivamente ........... 166 Figura 86 – Incrustação de partículas de SiC nas crateras de desgaste das amostras sem tratamento ................................................169 Figura 87 – Crateras de desgaste das amostras boretadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 40x ........................................................... 170 Figura 88 – Crateras de desgaste das amostras boretadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 25 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 2000x ........................................................ 171 Figura 89 – Detalhe das crateras de desgaste das amostras boretadas. Ocorrência de trincas e arrancamento da camada ......................... 172 Figura 90 – Bordas das crateras de desgaste das amostras boretadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 200x ..................................................... 173 Figura 91 – Scuffing em amostra boretada. (a) micrografia óptica e (b) perfil da cratera ... 175 Figura 92 – Mapeamento por EDS das amostras boretadas. Presença de átomos de Si. As imagens (a)–(b), (c)–(d), (e)–(f) e (g)–(h) referem-se às condições de ensaio de 50 g, 0,5 g/cm³; 50 g, 1,0 g/cm³; 100 g, 0,5 g/cm³ e 100 g, 1,0 g/cm³, respectivamente ........... 178 Figura 93 – Crateras de desgaste das amostras boroniobizadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 40x ............................................................ 180 Figura 94 – Crateras de desgaste das amostras boroniobizadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 0,5 g/cm³; (b) 50 g, 1,0 g/cm³; (c) 100 g, 0,5 g/cm³ e (d) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 2000x ........................................................ 181 Figura 95 – Bordas das crateras de desgaste das amostras boroniobizadas após 1200 rotações. (a) 50 g, 1,0 g/cm³; (b) 100 g, 1,0 g/cm³. Ampliação de 1000x ...................... 183 Figura 96 – Mapeamento por EDS das amostras boroniobizadas. Presença de átomos de Si. 26 As imagens (a)–(b), (c)–(d), (e)–(f) e (g)–(h) referem-se às condições de ensaio de 50 g, 0,5 g/cm³; 50 g, 1,0 g/cm³; 100 g, 0,5 g/cm³ e 100 g, 1,0 g/cm³, respectivamente ........... 185 Figura 97 – Mapeamento por EDS. Amostra boroniobizada, 50 g, 0,5 g/cm³, 1200 rotações ................................................... 187 Figura 98 – Mapeamento por EDS. Amostra boroniobizada, 50 g, 1,0 g/cm³, 1200 rotações ................................................... 188 Figura 99 – Mapeamento por EDS. Amostra boroniobizada, 100 g, 0,5 g/cm³, 1200 rotações ................................................... 189 Figura 100 – Mapeamento por EDS. Amostra boroniobizada, 100 g, 1,0 g/cm³, 1200 rotações ................................................. 190 Figura 101 – Evolução da severidade de ensaio em função da distância de deslizamento. Força normal de 0,49 N ................................... 192 Figura 102 – Evolução da severidade de ensaio em função da distância de deslizamento. Força normal de 0,98 N ................................... 192 Figura 103 – Morfologia das partículas de SiC antes do ensaio (a) e depois do ensaio para as amostras Sem Tratamento (b), Boretada (c) e Boroniobizada (d). Força normal de 0,98 N e concentração da lama abrasiva de 0,5 g/cm³ ...................................................... 197 Figura 104 – Coeficientes de atrito médios após a obtenção do RPD ................................... 200 27 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resumo de informações a respeito da formação de recobrimentos por difusão em ferro por elementos metálicos....................... 45 Tabela 2 - Proposta de classificação de desgaste abrasivo baseado na severidade .................. 83 Tabela 3 - Classificação qualitativa das influências das grandezas envolvidas na transição entre os modos de desgaste abrasivo ...................... 101 Tabela 4 - Esquema dos experimentos de desgaste ... 112 Tabela 5 - Espessura da camada de boretos obtida nesta tese em comparação com outros trabalhos 122 Tabela 6 - Coeficientes de desgaste ........................... 149 Tabela 7 - Taxa de desgaste ....................................... 157 Tabela 8 - Valores estimados para o cálculo da Severidade de Contato (Sc) ....................... 159 Tabela 9 - Severidade de Contato (Sc) e relação Hs/He159 Tabela 10 - Quantidade de átomos de Si (%peso) nas crateras de desgaste analisadas por EDS. Amostras sem tratamento......................... 165 Tabela 11 - Quantidade de átomos de Si (%peso) nas crateras de desgaste analisadas por EDS. Amostras boretadas ................................. 176 Tabela 12 - Quantidade de átomos de Si (%peso) nas crateras de desgaste analisadas por EDS. Amostras boroniobizadas ......................... 184 Tabela 13 - Área superficial das partículas de SiC. Força normal de 0,98 N e concentração da lama abrasiva de 0,5 g/cm³ ............................... 196 28 29 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................... 31 1.1 OBJETIVO GERAL .................................................. 33 1.1.1 Objetivos Específicos ........................................ 33 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................... 35 2.1 TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE ......................... 35 2.1.1 Boretação Multicomponente ............................. 38 2.1.1.1 Tratamento termoreativo por deposição e difusão (TRD) ............................................................................. 41 2.1.1.2 Tratamento termoquímico de boretação ............ 47 2.2 COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO ..................... 56 2.2.1 Desgaste Abrasivo ............................................. 76 2.2.2 Desgaste Microabrasivo .................................... 83 2.2.2.1 Modos de Desgaste Microabrasivo.................... 96 3 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................... 102 3.1 MATERIAIS ........................................................... 102 3.2 MÉTODOS EXPERIMENTAIS .............................. 102 3.2.1 Preparação das Amostras ............................... 104 3.2.2 Boretação Multicomponente ........................... 104 3.2.3 Caracterização Microestrutural ....................... 107 3.2.4 Ensaio de Desgaste Micro-Abrasivo ............... 109 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................. 114 4.1 IDENTIFICAÇÃO DE FASES POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X ...................................................................... 114 4.2 TOPOGRAFIA ....................................................... 115 4.3 ANÁLISE MICROESTRUTURAL ........................... 119 4.4 MICRODUREZA .................................................... 127 4.5 ADERÊNCIA DAS CAMADAS DE BORETOS ...... 129 4.6 COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO ................... 131 4.6.1 Perfil da Calotas de Desgaste ......................... 131 4.6.2 Regime Permanente de Desgaste ................... 135 4.6.3 Mecanismos de Desgaste ................................ 147 4.6.4 Coeficiente de Atrito......................................... 199 5 CONCLUSÕES ........................................................ 203 30 6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...... 205 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................ 206 31 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento e estudo de novas técnicas de tratamento de superfície são de extrema importância para o aumento da vida útil de ferramentas e componentes mecânicos em geral e consequente diminuição dos custos envolvidos. Com o desenvolvimento industrial houve a consequente busca por materiais de maior desempenho. Diante disso, tem-se tentado melhorar as características superficiais e comoobter as melhores propriedades para essas superfícies, reduzindo os custos para sua obtenção. A área de engenharia de superfície abrange uma vasta gama de processos como: tratamentos mecânicos, químicos, térmicos, por bombardeamento de íons, por difusão, entre outros (ALMEIDA, 2001). Entre os tratamentos realizados por difusão estão a boretação e tratamentos termo-reativos por deposição e difusão (TRD). No primeiro, camadas superficiais de boretos são formadas, normalmente, em substratos ferrosos para aumentar a dureza e resistência ao desgaste (CAMPOS et al., 2008). No segundo, são formadas camadas de carbonetos através da difusão de algum elemento formador de carbonetos (Nb, V, Cr, etc.) na superfície do material. O tratamento termoquímico de boretação normalmente leva à formação de camadas muito duras, porém muito frágeis, na superfície metálica não permitindo, assim, o aumento da vida em serviço de ferramentas e componentes mecânicos. Dessa forma, é essencial que se modifique o tratamento de boretação (AGHAIE-KHAFRI; MOHAMADPOUR NAZAR ABADY, 2012). Uma linha futura para o desenvolvimento da técnica de boretação é a produção de camadas de 32 boretos de múltiplos elementos ou camadas compostas (PERTEK; KULKA, 2002). Recobrimentos duros com boretos, carbetos, nitretos e carbonitretos de metais de transição são comuns para melhoria da resistência ao desgaste de metais ferrosos (HAKAMI; SOHI; GHANI; et al., 2011). Os boretos de nióbio são reconhecidos entre os boretos de metais de transição como candidatos potenciais para aplicações estruturais em temperaturas elevadas devido à sua temperatura de fusão, resistência mecânica, condutividade térmica e elétrica, estabilidade química e resistência ao desgaste (SEN et al., 2008; YEH; WANG, 2010). Diante disso, quando se trata de tratamentos superficiais em aços para rolamentos, por exemplo, os boretos de nióbio são boas alternativas, visto que os aços para rolamentos devem apresentar alta dureza, resistência ao desgaste e estabilidade dimensional (FERNANDES et al., 2010). Em aços ferramenta os boretos dos metais de transição também podem ser considerados como alternativas vantajosas em termos de melhoria do comportamento tribológico. Devido à versatilidade de aplicações o comportamento ao desgaste dos aços ao carbono tem sido investigado ao longo dos anos (KUMAR et al., 2011). Aços com baixo teor de carbono são muito aplicados devido ao baixo custo e disponibilidade, tornando interessante a troca de um substrato com elevado teor de elementos de liga, e consequentemente mais caro, por um aço mais barato, porém com algum tipo de tratamento superficial (BELIARDOUH et al., 2014). Como o teor de carbono é reduzido a dureza da superfície é baixa se comparada com outros tipos de aços. Isso se torna um problema na medida em que a 33 dureza da superfície deve ser elevada para resistir ao desgaste em uma variedade de aplicações de engenharia (ALIAS et al., 2013). Para substratos de aço ao carbono, recobrimentos superficiais de boretos, carbonetos ou nitretos dos metais de transição produzem camadas superficiais duras e resistentes ao desgaste mantendo o substrato dúctil e tenaz. Além disso, permite explicar melhor a influência de tratamentos de alteração de superfície e sua influência na resistência ao desgaste. 1.1 OBJETIVO GERAL O objetivo geral deste trabalho é o desenvolvimento e caracterização do comportamento tribológico de materiais utilizados em aplicações que exijam elevada resistência ao desgaste. Até o momento não está difundido na literatura científica o comportamento ao desgaste microabrasivo de aços boretados e, principalmente, boroniobizados. Diante disso, esta pesquisa se faz importante para o desenvolvimento de futuros trabalhos no Grupo de Metalurgia do Pó, Materiais Particulados e Tribologia do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade do Estado de Santa Catarina. 1.1.1 Objetivos Específicos Como objetivos específicos, então, podem ser destacados: Obter recobrimentos de boretos de nióbio na superfície de substratos de aço AISI 1020 por tratamento duplex de boro-niobização por via sólida; 34 Caracterizar microestruturalmente as camadas/recobrimentos de boretos obtidos; Avaliar a aderência das camadas/recobrimentos através de indentação Rockwell C; Caracterizar o comportamento tribológico dos recobrimentos de boretos de nióbio e camadas de boreto de ferro. 35 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são abordados assuntos sobre tratamentos de superfície, mais especificamente boretação multicomponente que envolve Tratamento Termoreativo por Deposição e Difusão (TRD) e Boretação. Além destes temas, o comportamento tribológico de metais também é abordado, principalmente o comportamento ao desgaste micro-abrasivo. 2.1 TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE Os processos de modificação de superfície podem ser entendidos como tratamentos nos quais a superfície e a matriz são desenvolvidas em conjunto, de forma que o material adquira propriedades superficiais que não podem ser obtidas por cada um dos materiais separadamente (ATIK et al., 2003). Os recobrimentos, dessa maneira, proporcionam um meio de otimizar a desempenho dos materiais permitindo que as propriedades mecânicas do substrato possam ser mantidas enquanto o recobrimento atua como barreira térmica ou no sentido de proteger a superfície contra desgaste ou corrosão (SIDKY; HOCKING, 1999). Os tratamentos superficiais são alternativas importantes para possibilitar a otimização do comportamento tribológico através da obtenção de propriedades específicas onde elas são mais necessárias. Dessa forma, o uso de revestimentos adequados pode aumentar a vida útil e melhorar o desempenho de ferramentas de corte e matrizes de forjamento e de injeção, entre outros, e com isso, minimizar a maioria dos problemas existentes nos processos de fabricação mecânica (de OLIVEIRA, 2006). 36 Elementos de máquinas e peças sujeitas a ambientes agressivos e condições de desgaste severo necessitam de superfícies normalmente, com elevada dureza e resistência à corrosão (CASTILLEJO et al., 2014). O uso dos processos de tratamento superficial nos materiais de engenharia pode melhorar suas propriedades tribológicas, aumentar a resistência à oxidação e corrosão, entre outros fatores. A maioria dos elementos de máquinas usados hoje operam sob severas condições envolvendo desgaste adesivo e abrasivo, erosão por partículas sólidas, corrosão e oxidação que podem diminuir sua durabilidade e desempenho (KARTAL et al., 2010). A escolha de um tratamento em particular depende de uma série de fatores como: temperatura do ambiente de trabalho, carga aplicada, velocidade relativa, material do contra-corpo de contato, lubrificação, etc. Os recobrimentos, por isso, podem variar entre duros ou dúcteis, finos ou espessos, porosos ou densos, multicamadas ou com camada única, dependendo da aplicação, sendo inviável considerar uma única solução para todos os problemas de desgaste (SUBRAMANIAN et al., 1996). Uma série de métodos de recobrimento e tratamento superficial podem ser utilizados para a deposição de recobrimentos ou obtenção de camadas obtidas por difusão em diferentes tipos de materiais. Almeida (2001) considera como tratamento de superfície processos que levam à modificação da superfície em pequenas profundidades, através de transição de fases, interdifusão ou implantação iônica, ou tratamentos que modificam a superfície em si, alterando sua morfologia, estrutura ou composição química, sempre com a necessidade de intervenção da própria 37 superfície que está sendo modificada. Recobrimentos/revestimentos, por sua vez, são obtidos por deposição de elementos estranhos à superfície, sendo o estado inicial da superfície metálica um fatorde grande importância. Para efeitos de padronização de termos, neste trabalho a modificação da superfície obtida através de tratamentos que envolvam difusão atômica e conseqüente formação de uma ―camada‖ a partir da superfície e em direção ao interior da matriz metálica serão chamados de tratamentos de superfície. Por sua vez, quando o resultado do processo de modificação de superfície for a obtenção de um ―recobrimento‖ sobre a superfície metálica, este será considerado como um processo de deposição/recobrimento. Processos por PVD (Deposição Física de Vapor) e CVD (Deposição Química de Vapor) são largamente utilizadas industrialmente. Além desses, outras técnicas como nitretação e carbonitretação a plasma, aspersão térmica, revestimento por solda e implantação iônica podem ser utilizados na melhoria do desempenho de ferramentas (de OLIVEIRA, 2006). Processos CVD envolvem a formação reativa de recobrimentos através do equilíbrio das condições termodinâmicas necessárias para que o recobrimento ocorra. Precursores gasosos são usados. Nas superfície da peça os reagentes são decompostos e formam o recobrimento desejado (DeMasi-Marcin; Gupta, 1994). A deposição física de vapor (PVD) é caracterizada pela condensação de vapor sobre um substrato frio a baixa pressão e temperatura (Sanchette et al., 2011). Em se tratando de tratamentos termoquímicos, o adjetivo ―termoquímico‖ deve ser interpretado como indicando uma mudança deliberada na composição química do material que está sendo tratado a uma temperatura elevada. É acompanhado por uma reação 38 química da superfície com um ou mais componentes fornecidos por um ambiente apropriado como gases, plasma, banho de sais, pós, entre outros (MITTEMEIJER; SOMERS, 2015). Nos processos de aspersão térmica o material a ser depositado é introduzido em um fluxo de gás (plasma) a alta temperatura na forma de pó. As partículas de pó fundidas são transportadas para o plasma e impelidas contra o substrato, o qual é aquecido a uma temperatura controlada para reduzir tensões (DeMasi-Marcin; Gupta, 1994). Tratamentos TRD (Termoreativos por Deposição e Difusão) são uma alternativa de processo para o recobrimento de aços com uma camada dura e resistente ao desgaste composta por carbonetos, nitretos e boretos (PAZARLIOGLU et al., 2012). Dentre as vantagens dos tratamentos TRD estão o baixo custo, já que estes tratamentos são realizados à pressão atmosférica, não necessitando de equipamentos sofisticados como no caso de recobrimentos obtidos por PVD e CVD (CASTILLEJO et al., 2014). Estas técnicas de modificação de superfície, no entanto, não devem ser entendidas como processos concorrentes e sim, em muitos casos, complementares como ocorre nos tratamentos duplex nos quais há o endurecimento do substrato através de algum processo de difusão como nitretação, cementação, boretação, etc., combinado com técnicas de recobrimento/deposição como PVD ou CVD por exemplo (RODRÍGUEZ- BARACALDO et al., 2007). 2.1.1 Boretação Multicomponente A boretação multicomponente envolve a boretação e a difusão de algum elemento metálico 39 formador de boretos, por via sólida ou em banho de bórax (SINHA, 1991). Neste processo a boretação pode ser feita previamente ou posteriormente à difusão de algum elemento metálico. Na boretação multicomponente as fases complexas de boro podem proporcionar o aumento da dureza, resistência à corrosão, ao desgaste e resistência à oxidação em temperaturas elevadas em comparação com as fases simples de boretos de ferro obtidas pelo tratamento termoquímico convencional de boretação (SUWATTANANONT; PETROVA, 2012). Essas fases complexas de boro são obtidas mediante a reação de átomos de boro com outros átomos metálicos como cromo (CHEN; WANG, 1999; GRACHEV et al., 1999; SEN; SEN, 2009), alumínio (MARAGOUDAKIS et al., 2002; TSIPAS et al., 2008), vanádio (GIDIKOVA, 2000; SEN, 2005), níquel (WIERZCHON et al., 1995), titânio (SAMADI; HABIBOLAHZADE, 2010), nióbio (SEN et al., 2008; PAZARLIOGLU et al., 2012), entre outros. Por se tratar de um tratamento controlado por difusão, a boretação multicomponente proporciona uma melhor adesão da camada de boretos com o substrato, em comparação com tratamentos mais conhecidos como PVD e CVD nos quais há pouca ou nenhuma difusão do recobrimento desejado. Além desse aspecto, o equipamento utilizado para este tipo de tratamento é muito mais simples do que para as técnicas de PVD e CVD (AGHAIE-KHAFRI; MOHAMADPOUR NAZAR ABADY, 2012). Devido à forte ligação covalente presente na maioria dos diboretos dos metais de transição, eles são os únicos materiais que apresentam elevado ponto de fusão, elevada dureza, resistência mecânica e módulo de elasticidade, são quimicamente inertes e apresentam 40 elevada condutividade elétrica (USTA et al., 2006; MA et al., 2009). Dentre esses diboretos, os diboretos de nióbio são reconhecidos como candidatos potenciais para aplicações estruturais em temperaturas elevadas, além de apresentarem propriedade de super-condutividade (SEN et al., 2008; MA et al., 2009). Usta (2005), realizou boretação sólida em substrato de nióbio e obteve camada de boretos com morfologia lisa e densa, sendo predominante a presença da fase NbB2. A dureza da camada de boretos foi de 2500 HV, enquanto a dureza do substrato não ultrapassou 110 HV. A Figura 1 mostra a variação de dureza em substrato de nióbio puro boretado. Além do tratamento de boro-niobização, os boretos de nióbio podem ser sintetizados por uma variedade de métodos que envolvem alta pressão ou alta temperatura (MA et al., 2009) como processos por Deposição Química de Vapor (CVD)(MOTOJIMA et al., 1975), combustão auto-propagante (TAKEYA et al., 2004; YEH; CHEN, 2006), reação em estado sólido entre pó de nióbio e boro amorfo (MATSUDAIRA et al., 1989) entre outros. 41 Figura 1 – Perfil de dureza para nióbio puro boretado a 940 ºC por 8 horas. Fonte: Usta, 2005 2.1.1.1 Tratamento termoreativo por deposição e difusão (TRD) O Tratamento Termoreativo por Deposição e Difusão (TRD) é um método de recobrimento de aços com camadas duras de carbonetos, nitretos, carbonitretos (ARAI; HARPER, 1991) e boretos (SEN, 2005). Esses recobrimentos são utilizados para o aumento da vida útil de componentes mecânicos como ferramentas de conformação e usinagem (AZIZI; SOLTANIEH, 2010). Neste processo, o carbono, nitrogênio ou boro contido no substrato difunde até a superfície e reage com uma camada depositada de algum elemento formador de carboneto, nitreto ou boreto como vanádio, nióbio, tântalo, cromo, molibdênio ou 42 tungstênio. Um esquema das reações que acontecem durante o tratamento termorreativo de niobização em meio sólido foi apresentado por (FRANCO, 2014) e está ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Esquema das reações que ocorrem em tratamento TRD de niobização por via sólida. Fonte: FRANCO, 2014. O processo acontece em temperaturas elevadas e pode ser realizado por banho de sais (bórax fundido) (CASTELETTI et al., 2009; FAN et al., 2010), leito fluidizado (CHEN et al., 1998; KING et al., 2004) ou por via sólida (OZDEMIR et al., 2007; TSIPAS et al., 2008; SEN; KOCAMAN, 2011; KILINC et al., 2013). O tratamento em meio líquido é conhecido como TD ―Toyota Diffusion‖ e foi desenvolvido inicialmente no 43 Japão a mais de 20 anos (ARAI; HARPER, 1991). O teor de carbono do substrato, quando se deseja a formação de camadas de carbonetos, é um fator importante no tratamento. Aços submetidos ao processo TRD devem possuir, no mínimo, 0,3%p de carbono (OLIVEIRA, DE, 2006). A influência do teor de carbono do substrato na espessura da camada de carboneto formada é ilustrada na Figura 3. Dessa maneira, a concentração de carbono livre na superfície deve ser zero. Figura 3 – Efeito do teor de carbono na matriz na espessura da camadade carboneto de vanádio obtida por tratamento TRD em banho de bórax contendo 20%p de pó de Fe-V. Tempo de imersão de 4 horas. Fonte: Adaptado de ARAI; HARPER, 1991. 44 Devido a isso, a força motriz para a difusão de carbono livre da interface substrato/camada para a superfície externa é a diferença de potencial químico (concentração) de átomos de carbono livre. Quanto maior a concentração de átomos de carbono livre, medida em termos da ―atividade de carbono‖, maior será a espessura da camada, como indicado na Figura 4. Figura 4 – Espessura de camada x raiz quadrada da atividade de carbono para vários substratos tratados a 1000°C. Fonte: Adaptado de FAN et al., 2012 Os elementos formadores de carbonetos, nitretos ou boretos, por sua vez, devem ser capazes de formar camadas de difusão na superfície do substrato. Drewett (1969) em um artigo de revisão sobre tratamentos 45 difusionais resumiu as condições necessárias para a formação dessas camadas em: (a) O diâmetro atômico do metal do recobrimento não pode exceder o diâmetro atômico do Fe em mais de 15-16%; (b) O metal do recobrimento deve ser solúvel em Fe na temperatura ambiente e em temperaturas elevadas; (c) Um ―contato elementar‖ deve ser obtido entre o substrato e o metal de recobrimento. A Tabela 1 resume a formação, ou não, de recobrimentos por difusão em ferro por elementos metálicos levando em conta o ―fator de tamanho‖. Tabela 1 – Resumo de informações a respeito da formação de recobrimentos por difusão em ferro por elementos metálicos. Formam recobrimentos por difusão no Fe Formação de recobrimentos por difusão incerta no Fe Não formam recobrimentos por difusão no Fe Elemento Fator Tamanho Elemento Fator Tamanho Elemento Fator Tamanho Alumínio 1,15 Cério 1,47 Bário 1,75 Cromo 1,01 Gálio 0,98 Bismuto 1,25 Cobalto 1,01 Platina 1,12 Cádmio 1,20 Cobre 1,03 Zircônia 1,26 Lítio 1,23 Níquel 1,00 Magnésio 1,29 Nióbio 1,15 Prata 1,16 Titânio 1,18 Vanádio 1,05 Fonte: Adaptado de DREWETT, 1969. 46 Dentre os metais possíveis de formarem camadas de difusão no ferro estão o nióbio, vanádio e cromo, que são os principais elementos formadores de carbonetos, nitretos ou boretos estudados na literatura. Quando realizado por via sólida, o pó para tratamento TRD normalmente é composto pelos seguintes componentes: elemento metálico que será depositado na forma de ferro-liga ou puro (formador de carbonetos, nitretos ou boretos); um ―diluente‖ inerte que não toma parte nas reações de formação das camadas e evita a sinterização das partículas do elemento metálico, normalmente Al2O3 ou SiC; e um ativador, NH4Cl por exemplo, que quando dissociado liga-se quimicamente com o formador de carboneto forma cloretos com este. Estes cloretos, então, reagem com o substrato formando, por exemplo, as camadas de carbonetos (GIDIKOVA, 2000; SAMADI; HABIBOLAHZADE, 2010). Uma variedade de composições podem ser usadas para a realização deste tipo de tratamento (CHEN; WANG, 1999). Os tratamentos TRD são realizados em temperaturas elevadas, 850 – 1050 °C, com tempos de duração entre 0,5 e 10 horas. Como resultado, são obtidas camadas que variam entre 5 e 15 µm (ARAI; HARPER, 1991). Um exemplo de camada é mostrada na Figura 5. 47 Figura 5 – Micrografia Eletrônica de Varredura (MEV), de uma camada de carboneto de nióbio em substrato de aço 1040 obtida por tratamento TRD por via sólida a 900 °C por 2 horas. Fonte: SEN, 2004. Os tratamentos termoreativos por deposição e difusão, por serem processos difusionais estes tratamentos podem produzir camadas mais espessas, com maior capacidade de suporte de carga e com melhor aderência ao substrato do que tratamentos PVD e CVD (HAKAMI; SOHI; GHANI, 2011). 2.1.1.2 Tratamento termoquímico de boretação Boretação é um tratamento termoquímico no qual átomos de boro se difundem para o interior da matriz metálica. Por ser de pequeno tamanho, os átomos de boro difundem-se em uma variedade de materiais como metais ferrosos, ligas de níquel e cobalto, ligas 48 refratárias, ligas de titânio e materiais sinterizados como WC – TiC com Co ou Ni como ligantes, etc. (BÉJAR; MORENO, 2006; MU et al., 2010). O tratamento termoquímico de boretação é geralmente aplicado na indústria em ligas ferrosas para melhorar sua dureza superficial e resistência ao desgaste (CAMPOS et al., 2008; CAMPOS-SILVA et al., 2010). A boretação em aços, tipicamente, ocorre na faixa de temperaturas entre 840 e 1050°C (JAIN; SUNDARARAJAN, 2002; SAHIN, 2009) e pode ser realizada em uma variedade de meios como: pós, sais, óxidos fundidos, gases e pastas (PETROVA et al., 2008; SAHIN, 2009). Dentre os meios para realização da boretação, os agentes boretantes sólidos têm suas vantagens sobre outros processos em termos toxicológicos e econômicos (HECK, 2010; KEDDAM, 2011) além de poderem ter sua composição alterada para otimização do processo. Quando comparados com tratamentos em meio gasoso os processos de tratamento em escala industrial feitos com pós são mais caros, complicados e demorados, mais difíceis de controlar e automatizar, impedindo os tratamentos de boretação de serem largamente aplicados (MARTINI, C et al., 2004a). De acordo com o diagrama Fe-B (Figura 6) a difusão de boro no retículo cristalino de ligas ferrosas leva a formação de boretos ferrosos, como FeB (16,23%p B, ortorrômbica) e Fe2B (8,83%p B, tetragonal) (MARTINI, C et al., 2004a; ALLAOUI et al., 2006). 49 Figura 6 – Diagrama de equilíbrio Fe-B. Fonte: Adaptado de ALLAOUI et al., 2006. A formação de uma camada monofásica de Fe2B ou bifásica, composta por Fe2B (interna) + FeB (externa) pode ocorrer. Como a fase mais rica em boro (FeB) é 50 mais frágil do que a fase Fe2B, a formação da primeira deve ser evitada. Quando há formação de camada dupla de boretos existe uma maior possibilidade de ocorrência de trincas na interface entre as fases de boretos, como mostrado na Figura 7. Figura 7 – Seção transversal de uma camada de FeB/Fe2B em ferro, mostrando a morfologia colunar das fases e a trinca propagando-se preferencialmente na interface das fases FeB e Fe2B. Fonte: MARTINI, et al., 2004b. A formação destas trincas é favorecida pelo fato do coeficiente de expansão térmica das fases de boreto ser muito diferente 𝛼𝐹𝑒𝐵 = 23 ∙ 10 −6 °𝐶−1,𝛼𝐹𝑒2𝐵 = 7,85 ∙ 10−6°𝐶−1 (GUNES, 2013). 51 A dinâmica de crescimento dos boretos de ferro pode ser descrita, segundo Martini, Palombarini e Carbucicchio (2004a), em três estágios subseqüentes. No primeiro estágio de crescimento, cristais aciculares da fase Fe2B crescem em direções radiais a partir das zonas de contato entre a superfície metálica e as partículas boretantes, alongando-se sobre a superfície do metal base. Essas características são explicadas pelo fato de que apenas reações no estado sólido acontecem, portanto, o boro ativo é fornecido apenas na região de contato entre a superfície e as partículas boretantes; os cristais de Fe2B crescem preferencialmente nas direções cristalográficas [001], ou seja, a região que apresenta a menor distância da vizinhança de átomos de B, sendo o caminho mais fácil para a difusão de boro no reticulado tetragonal de corpo centrado da fase Fe2B; as agulhas de Fe2B que crescem na superfície do metal encontram um mínimo de resistência mecânica do metal base devido ao considerável aumento no volume (~16%) associado com a transformação de Fe em Fe2B. Esse mecanismo leva à formação da primeira camada de cristais com orientação cristalográfica aleatória. Algumas agulhas de Fe2B podem crescer para o interior do substrato já que essas agulhas produzem tensões e distorções particularmente elevadas nas regiões à frente das agulhas, a grande disponibilidade de energia livre torna esses locais maisreativos, favorecendo o crescimento da fase de boreto. No entanto, esse crescimento para o interior do substrato é limitado pela pequena quantidade de boro ativo que se difunde através da camada formada até a ponta das agulhas. Como esquematizado na Figura 8, cristais de Fe2B podem crescer em diferentes regiões na mesma 52 camada com seus eixos [001] paralelos à superfície externa. Figura 8 – Representação esquemática dos estágios de crescimento termoquímico dos cristais de Fe2B: estágio 1, crescimento na superfície metálica; estágio 2, crescimento nas regiões mais externas da amostra metálica; e estágio 3, crescimento em maior profundidade, levando a uma forte orientação preferencial (002). Fonte: Adaptado de MARTINI, et al., 2004a. No segundo estágio, o crescimento dos cristais Fe2B dentro do metal é prevalecente. É caracterizado pela transição de uma região externa, fina e mecanicamente inconsistente de cristais orientados aleatoriamente, ou localmente orientados (110) ou (200), para uma região interna, mais grossa e compacta de cristais orientados (002). Com o aumento do número de cristais formados no estágio 1, há o encontro de alguns 53 desses cristais não paralelos adjacentes, provocando elevadas tensões mecânicas. Devido a esses obstáculos, alguns cristais param de crescer, enquanto outros continuam a crescer apenas depois de mudarem suas direções na superfície do metal. Nesse estágio, há um aumento no número de cristais forçados a crescerem para o interior do metal com seus eixos [001], de crescimento mais fácil, não paralelos à superfície do metal. Além disso, o crescimento das agulhas é favorecido pelo fato de que quantidade de boro consumida pelos cristais na superfície do metal diminui e, consequentemente, mais boro pode se difundir para as pontas das agulhas que crescem para o interior do substrato. No estágio 3 há a estabilização de uma forte textura (002) da fase Fe2B. Durante o estágio 2, alguns cristais não paralelos entraram em contato, consequentemente, há um aumento no número de cristais forçados a crescerem ao longo da direção de mínima resistência [001]. Dessa forma, um terceiro estágio de crescimento ocorre, onde todas as agulhas de boretos tendem a crescer perpendicularmente á superfície do metal. Para camadas polifásicas de boretos, observações em MEV mostram que os cristais mais externos de FeB são orientados aleatoriamente e mecanicamente inconsistentes, vindo da transformação da camada mais externa de Fe2B. Ao contrário, as regiões mais profundas de FeB, vindas da transformação de regiões compactas orientadas (002) de cristais Fe2B, são texturizadas e muito compactas. Além disso, a orientação (002) de FeB aumenta em profundidades cada vez maiores para a interface FeB-Fe2B, de acordo com o perfil de textura das regiões de Fe2B transformadas em FeB (MARTINI, C. et al., 2004a). 54 A formação desses boretos depende da temperatura, composição da liga, tempo de tratamento e potencial de boro na vizinhança da superfície (GENEL, 2006). Os elementos de liga do substrato também têm influência na espessura e morfologia da camada de boretos. Normalmente, quanto maior o teor de elementos de liga, mais fina e lisa será a interface entre a camada boretada e o substrato. Os elementos de maior influência são C, Cr e Ni (CAMPOS et al., 2008). Petrova e colaboradores (2008), estudando o efeito da boretação em ligas metálicas para aplicações automotivas comprovaram a influência da quantidade de elementos de liga na morfologia da camada boretada. Os autores concluem que a espessura da camada boretada diminui com o aumento dos elementos de liga. Aços comuns ao carbono apresentaram espessura da camada de boretos da ordem de 75-80 μm e morfologia dente-de-serra, enquanto aços de alta resistência, com maior quantidade de elementos de liga, apresentaram camada mais fina, da ordem de 50-55 μm para as mesmas condições de tratamento. No caso de aços inoxidáveis, a grande quantidade de elementos de liga (especialmente Cr e Ni) reduziram a camada de boretos para 21-23 μm e favoreceram a formação de uma interface mais lisa entre a camada de boretos e o substrato (PETROVA et al., 2008). A Figura 9 apresenta uma comparação da morfologia da interface camada/substrato para um aço AISI 1018 e AISI 304. 55 Figura 9 – Micrografias mostrando a influência do teor de liga na morfologia e espessura da camada de boretos. (a) 1018, (b) AISI 304. Fonte: PETROVA et al., 2008. Na boretação com pó, as peças a serem tratadas são colocadas em caixas feitas de aço inoxidável de 3 a 5mm de espessura e as superfícies a serem boretadas são cobertas com aproximadamente 10 a 20mm de pó boretante. As caixas são então aquecidas entre 840 a 1050°C. O resfriamento é feito ao ar. Os pós boretantes são compostos de uma substância responsável pelo fornecimento de boro (B4C, ferro-boro, boro amorfo ou bórax [Na2B4O7.10H2O]), como diluentes são utilizados, geralmente SiC ou Al2O3, não tomando parte na reação e um ativador (NH4Cl, KBF4, etc.). Existem marcas comerciais de pós para boretação, como as várias classes de Ekabor® (MARTINI, C et al., 2004b; TARAKCI et al., 2010). A espessura da camada de pó, quando do tratamento de aço-carbono na temperatura de 940°C por aproximadamente 2 horas, precisa ser de no mínimo 10mm para que se obtenha as melhores características de espessura, microestrutura e propriedades. Para espessuras da camada de pó menores do que 10mm ocorre a redução da camada boretada devido à 56 insuficiente quantidade de boro na fonte boretante (JAIN; SUNDARARAJAN, 2002). 2.2 COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO O método tradicional de modificação do comportamento tribológico é a introdução de um fluido lubrificante entre as superfícies. Esta abordagem, porém, apresenta algumas falhas devido ao fornecimento de lubrificante, degradação, contaminação, etc. Uma alternativa que não sofre com essas limitações é o recobrimento, que pode ser feito por uma série de técnicas como PVD, CVD (STACHOWIAK, 2005), TRD, entre outros. As propriedades das superfícies podem ser modificadas por técnicas de tratamento superficial ou pela aplicação de uma ou muitas camadas na superfície. Além da resistência à oxidação ou corrosão superficial, a avaliação do comportamento tribológico é importante. Nos últimos dez anos, estudos têm sido realizados para obtenção e caracterização de camadas duras de boretos, carbonetos e nitretos de metais de transição. Usta e colaboradores (2006) realizaram boretação por via sólida com Ekabor em substratos de nióbio, tungstênio e cromo. Ensaios de pino-sobre-disco foram realizados sem lubrificação, com esferas de aço AISI 52100 de 6 mm de diâmetro e carga de 5N. Após a boretação houve formação de camadas de NbB2, WB e CrB na superfície dos substratos de nióbio, tungstênio e cromo, respectivamente. O comportamento tribológico foi modificado de dúctil (apresentando mecanismo de deformação plástica) para frágil (apresentando mecanismos de deformação por fratura) após o tratamento superficial. Boretos de tântalo, TaB e TaB2 foram obtidos após a boretação por via sólida com Ekabor em 57 substratos de tântalo puro por Ribeiro e colaboradores (2007). O comportamento tribológico foi avaliado através de ensaios de deslizamento do tipo recíproco sem lubrificação e lubrificados com fluido corporal simulado com esferas de aço AISI 52100 de 6 mm de diâmetro e carga de 5N. A dureza aumentou de 870 HV para 3419 HV após a boretação. Este aumento na dureza faz o tântalo tornar-se propenso à nucleação e propagação de trincas devido a fragilidade da superfície. A boretação do tântalo por via sólida durante 4 horas foi considerada não adequada para aplicações tribológicas. Camadas superficiais de nitreto de cromo Cr2N e nitreto de ferro e cromo (Cr,Fe)2N(1-x) foram obtidas por Ozdemir e colaboradores(2007) em substratos de aço AISI 1010 pré-nitretados através de tratamento TRD por via sólida. A dureza da camada de nitretos foi de 1785 HV0,05 com espessura máxima de aproximadamente 14 µm. Sen e colaboradores (2008) obtiveram, através de tratamento de boretação multicomponente, camadas de boretos de nióbio (NbB e Nb3B2) em substrato de aço AISI M2. A camada de boretos de nióbio atingiu aproximadamente 2700 HV0,01 e espessura de 3,25 µm. Camadas superficiais de carbonetos de nióbio, por sua vez, também aumentam a resistência ao desgaste de aços. Para ensaios de desgaste do tipo pino-sobre- disco sem lubrificação com contra-corpo de alumina (esfera de 9,5 mm de diâmetro) sobre superfície de aço 1040 observou-se que o mecanismo de desgaste atuante é oxidativo/abrasivo. Quando o contra-corpo utilizado é de aço AISI 52100, o mecanismo passa a ser predominantemente adesivo/oxidativo. A velocidade de deslizamento foi de 0,1 m/s, carga aplicada de 2,5; 5 e 10 N e umidade relativa de 65%. Ainda, para todas as condições, com o aumento da carga houve aumento da 58 taxa de desgaste e do coeficiente de atrito (SEN; SEN, 2008). Casteletti e colaboradores (2009) analisaram a resistência ao desgaste de camadas superficiais de NbC, VC e boretos (FeB e Fe2B) em aço AISI H13 e AISI D2 utilizando micro-abrasômetro. Em aço AISI 1060 foram analisadas camadas de boretos e carbeto de cromo. Todas as camadas melhoraram a resistência ao desgaste em comparação com os resultados obtidos para os substratos sem tratamento. A maior dureza e maior resistência ao desgaste foi obtida para camadas de VC. As camadas de NbC e de carbeto de cromo apresentaram resultados intermediários em termos da resistência ao desgaste e as camadas de boretos foram as que apresentaram o maior desgaste entre as condições avaliadas. Cabe ressaltar, porém, que a metodologia utilizada pelos pesquisadores para a avaliação do comportamento tribológico foi a realização de desgaste micro-abrasivo (esfera rotativa fixa) sem a utilização de agente abrasivo, descaracterizando o ensaio como ―abrasivo‖. Velocidade de rotação da esfera foi de 148 RPM e carga de 18,7 N foram outros parâmetros utilizados. Boretação multicomponente foi utilizada para obtenção de camadas de Cr2B em esferas de aço AISI 52100 (SEN; SEN, 2009). O comportamento tribológico foi avaliado através de ensaio pino-sobre-disco. Os discos utilizados foram de aço AISI 1040 boro- cromatizados. As cargas utilizadas foram de 2, 5 e 10 N, velocidade de deslizamento de 0,1 e 0,3 m/s, distância de deslizamento de 320 m e esferas de 9 mm de diâmetro. Os ensaios foram realizados a seco. A Figura 10 apresenta a seção transversal dos discos de aço AISI 1040. 59 Figura 10 – Micrografias ópticas de: (a) 1040 boretado a 900 °C por 4 h; (b) 1040 boro-cromatizado a 1000 °C por 2 h. Fonte: SEN; SEN, 2009. Nota-se que os ―dentes-de-serra‖ estão menos pronunciados após o tratamento TRD de cromatização. Além disso, é possível perceber a formação de uma camada externa de boreto de cromo. O menor coeficiente de desgaste foi obtido para a condição boro- cromatizada, seguida da condição boretada. O maior coeficiente de desgaste foi obtido para a condição temperada. A Figura 11 apresenta as microscopias ópticas das esferas e dos discos. 60 Figura 11 – (a)-(c) crateras de desgaste das esferas de AISI 52100 (a) temperada, (b) boro-cromatizada e (c) boretada. (d)-(f) pistas de desgaste formadas em aço AISI 1040 contra esferas (d) temperada, (e) boro- cromatizada e (f) boretada. Fonte: SEN; SEN, 2009 Segundo os autores, como mostrado na Figura 11, o mecanismo de desgaste predominante para as amostras boretadas e boro-cromatizadas é desgaste abrasivo, enquanto para as amostras temperadas e revenidas, além de abrasão, há ocorrência de adesão. Fernandes e colaboradores (2010) avaliaram a resistência ao desgaste do aço AISI 52100 com camada de NbC obtida por tratamento TRD. A resistência ao desgaste foi avaliada utilizando equipamento de micro- abrasão por esfera rotativa fixa, sem o uso de agentes abrasivos. A velocidade de rotação da esfera foi de 500 RPM e as cargas utilizadas foram 6,65 N, 14,59 N e 18,26 N. A camada de NbC apresentou dureza de 1992 61 HV e espessura de 6,1 µm. A morfologia pode ser observada na Figura 12. Figura 12 – Micrografia eletrônica de varredura de aço AISI 52100 com camada de NbC. Fonte: FERNANDES et al., 2010. O volume de material removido foi aproximadamente 10 vezes menor para as amostras que receberam tratamento TRD. Não foi observada nenhuma tendência à estabilização do volume de desgaste para as amostras tratadas para as condições estudadas. Os autores atribuem isso ao fato da camada de NbC ser rompida nos primeiros instantes do ensaio, expondo o substrato mais dúctil e com menor resistência ao desgaste. Tratamentos termoquímicos de boretação multicomponente em aço inoxidável AISI 316L foram realizados por Samadi e Habibolahzade (2010). Como primeira etapa foram realizados tratamentos TRD por via sólida para difusão de cromo, titânio e vanádio na superfície metálica. Após o tratamento TRD foi realizada boretação, também por via sólida. Como consequência desses tratamentos, camadas com presença de fases CrB, TiB2 e VB foram obtidas após a boretação das 62 amostras que haviam sido previamente tratadas em meio sólido. O desgaste, avaliado em teste de desgaste do tipo pino-sobre-disco foi o menor para a condição borocromatizada tanto para carga de 75 N quanto para 115 N. Todas as amostras submetidas a tratamento de boretação multicomponente (ou boretação duplex) apresentaram menor desgaste em comparação com a condição sem recobrimento. Após o tratamento superficial, o mecanismo de desgaste passou de sulcamento e deformação plástica para um mecanismo predominante de fadiga/oxidação (SAMADI; HABIBOLAHZADE, 2010). A Figura 13 apresenta a pista de desgaste para as condições sem tratamento (a) e borocromatizada (b). Figura 13 – Microscopia eletrônica de varredura das pistas de desgaste para as condições sem recobrimento (a) e borocromatizada (b). As setas indicam microtrincas na pista de desgaste. Fonte: Adaptado de SAMADI; HABIBOLAHZADE, 2010. 63 Também houve grande interesse no estudo da resistência ao desgaste de substratos ferrosos boretados nos últimos dez anos. Béjar e Moreno (2006) boretaram, por meio de sais fundidos, aços AISI 1020, 1045, 4140 e 4340. Foram utilizadas várias misturas boretantes, tempos e temperaturas de tratamento. Ensaios de desgaste do tipo roda de borracha foram utilizados para avaliar a resistência ao desgaste abrasivo. A velocidade periférica da roda foi de 2-2,5 m/s e a força de 130 N. O agente abrasivo utilizado foi areia de quartzo com granulometria de 200 µm. Os melhores resultados de resistência ao desgaste abrasivo foram encontrados para o aço AISI 1020, apesar deste ter apresentado a menor dureza da camada boretada. Os pesquisadores atribuem este resultado ao fato do aço AISI 1020 ter apresentado a maior espessura de camada (200 µm) e a menor fragilidade da camada de boretos em comparação com os outros substratos. A fragilidade da camada de boretos pode ser observada qualitativamente na Figura 14 com a formação de trincas após os ensaios de desgaste. Aços AISI 1018, 4340 e 304 foram boretados por via sólida em uma mistura de B4C e KBF4 em atmosfera de argônio a 850 °C por 4 horas por Petrova e colaboradores (2008). Após ensaios de desgaste do tipo pino-sobre-disco a 70 RPM com carga de 500 g e duração de 1 hora, os pesquisadores concluíram que as amostras boretadas apresentaram melhor resistência ao desgaste devido à formação da camada dura de boretos. Essa resistência ao desgaste das amostras boretadas depende, segundo os autores, da dureza do revestimento e microestrutura.64 Figura 14 – Superfícies das amostras boretadas a 1000 °C por 8 horas, após o ensaio abrasivo. Fonte: Adaptado de BÉJAR; MORENO, 2006. Tabur e colaboradores (2009) realizaram boretação por via sólida com Ekabor em substratos de aço AISI 8620. As temperaturas de tratamento foram de 850, 900 e 950 °C e os tempos 2, 4 e 6 horas. O comportamento ao desgaste abrasivo foi avaliado através de ensaios do tipo pino-sobre-disco não lubrificado. Nos discos eram fixadas lixas de Al2O3 de 80 e 120 mesh. As cargas utilizadas foram de 10, 20 e 30 N e velocidade de 0,2 m/s. A distância de deslizamento de cada ensaio foi de 10,25 metros e o pino estava sempre em contato com partículas abrasivas novas da lixa. Os pinos possuíam ponta plana que foram boretadas e 65 deslizavam contra as superfícies abrasivas. As amostras que apresentaram camada dupla de boretos, com formação de FeB e Fe2B foram as que mais desgastaram. Segundo os autores isso se deve ao fato de que, para tempos maiores de tratamento (6 horas), ocorre a formação de FeB frágil e quebradiça. A Figura 15 mostra as superfícies de desgaste para a condição de 30 N e lixa de 120 mesh das amostras não boretadas (a) e boretadas a 850 °C por 2 horas (b). Figura 15 – Microscopia eletrônica de varredura das amostras de aço AISI 8620 desgastadas com lixas de 120 mesh e carga de 30 N. (a) não boretada, (b) boretada a 850 °C por 2 h. Fonte: TABUR et al., 2009. Os autores concluem que a taxa de desgaste abrasivo aumenta com o aumento da carga e com o aumento do grão abrasivo e que o processo de boretação proporciona melhor resistência ao desgaste do que a cementação quando os pinos são abradados em lixas de 80 mesh. A resistência ao desgaste por abrasão e por deslizamento do tipo bloco-sobre-disco em substratos boretados de aço AISI 4140 foi avaliada por Ulutan e colaboradores (2010). O tratamento termoquímico de 66 boretação foi realizado por via sólida com pó para boretação Ekabor nas temperaturas de 900, 950, 1000 e 1050 °C por 2, 4 e 6 horas. Para os testes abrasivos, um disco de 60 mm de diâmetro foi recoberto com lixa de SiC número 500 (tamanho de grão de 30 µm). Para todos os ensaios a velocidade de deslizamento foi de 0,63 m/s e as cargas foram 22, 32 e 42 N. A resistência ao desgaste abrasivo das amostras boretadas foi aproximadamente 3-4 vezes maior do que das amostras não boretadas. A melhor resistência ao desgaste foi obtida para a amostra boretada a 900 °C por 6 horas. A Figura 16 apresenta as superfícies de desgaste das amostras boretadas a 1000 °C por 4 horas submetidas a desgaste abrasivo com cargas de 22 N (a) e 42 N (b). Figura 16 – Microscopia eletrônica de varredura da superfície de desgaste de amostras boretadas a 1000 °C por 4 horas com cargas de (a) 22 N e (b) 42 N após desgaste abrasivo. Fonte: ULUTAN et al., 2010. Na Figura 16 (a) como há poucos riscos profundos, os autores concluem que há pouca abrasão com esta carga. Para a Figura 16 (b) os riscos são mais pronunciados e há presença de algumas partículas de 67 óxidos. Na Figura 17 é mostrada a superfície de desgaste da amostra boretada a 1050 °C por 6 horas e submetida a ensaio abrasivo com carga de 42 N. Esta condição apresentou o maior volume de material removido dentre todas as avaliadas. Nota-se a presença de alguns riscos característicos de desgaste abrasivo e algumas ―cavidades‖ na superfície. Segundo os autores, as partículas fraturadas pela carga elevada durante a abrasão atuam como partículas abrasivas, aprofundando ainda mais as marcas de abrasão. Figura 17 – Microscopia eletrônica de varredura da superfície de desgaste da amostra boretada a 1050 °C por 6 horas com carga de 42 N após desgaste abrasivo. Fonte: ULUTAN, et al., 2010. Kiratli e Findik (2011), após tratamento termoquímico de boretação por via sólida em substratos de aço AISI 1035 concluem que com o aumento do tempo e da temperatura de boretação, a resistência ao 68 desgaste por deslizamento aumenta. Os autores boretaram pinos de aço AISI 1035 de 6 mm de diâmetro e 50 mm de comprimento. O disco era de aço 5190 com 62 HRC de dureza, distância de deslizamento de 360 – 1440 metros, carga de 40 N e velocidade de deslizamento de 1 m/s. A resistência ao desgaste do aço AISI 8620, boretado por via sólida com pastas de boretação, foi avaliada por meio de desgaste por deslizamento do tipo pino-sobre-disco por Gunes (2013). As esferas utilizadas como contra-corpo eram de Wc-Co com 8 mm de diâmetro e os discos eram de aço AISI 8620 boretado com pasta através da técnica de boretação a plasma com utilização de pasta para boretação. Os ensaios de desgaste foram realizados sem lubrificação, temperatura ambiente, carga de 10 N, velocidade de deslizamento de 0,2 m/s e distância de deslizamento de 500 metros. Após o tratamento de boretação foi observada a redução do coeficiente de atrito de 0,72 (amostras não boretadas) para 0,54 – 0,66 para as amostras boretadas. Foi observado o aparecimento de trincas nas superfícies de desgaste das camadas boretadas e, como consequência, a delaminação da camada de boretos ocorre. A Figura 18 apresenta as superfícies de desgaste das amostras boretadas a 700 °C por 5 horas para várias misturas boretantes. É possível perceber, além da presença de grande quantidade de trincas na figura (h), a presença de pequenas porosidades. Essas características indicam que fratura frágil da camada de boretos está ocorrendo, resultando em delaminação desta camada. 69 Figura 18 – Microscopia eletrônica de varredura das pistas de desgaste do aço AISI 8620 boretado por 5 horas: (a) e (b) 100% B2O3, (c) e (d) 100% bórax, (e) e (f) 70% B2O3 + 30% B4C, (g) e (h) 70% bórax + 30% B4C. Fonte: GUNES, 2013. 70 A Figura 19 ilustra esquematicamente o ensaio de desgaste do tipo quatro-esferas. Este ensaio é utilizado principalmente para avaliação do comportamento tribológico de materiais submetidos a cargas elevadas e com lubrificação, podendo ser avaliado, também, o comportamento sem lubrificação. Figura 19 – Esquema do ensaio de desgaste do tipo quatro-esferas. Fonte: Adaptado de ASTM D4172-94, 2010. Este ensaio foi utilizado por Garcia-Bustos e colaboradores (2013) para avaliar a resistência ao desgaste de camadas de boretos sobre substratos de aço AISI 52100. A boretação foi realizada por via sólida com Ekabor como agente boretante a 1050 °C durante 1 hora. Foram avaliados o comportamento tribológico em condições sem lubrificação e com lubrificação a óleo. Cargas de 147 e 393 N foram utilizadas nos ensaios lubrificados e 49, 98 e 147 N foram as cargas utilizadas para avaliação da condição sem lubrificação. A velocidade utilizada foi de 0,46 m/s e os tempos de ensaio foram de 3600 segundos para a condição 71 lubrificada e 150 segundos para a condição sem lubrificação. As amostras boretadas apresentaram coeficiente de atrito menor em comparação com as amostras não-boretadas, especialmente para a condição não lubrificada. Para a carga de 147 N o coeficiente de atrito para as amostras boretadas e não-boretadas foi de 0,32 e 0,62, respectivamente. Os autores atribuem o baixo coeficiente de atrito das amostras boretadas ao fato de ocorrer a formação de uma camada de ferro-boro na superfície que reage com o oxigênio presente na atmosfera. O coeficiente de atrito foi similar entre as amostras boretadas e não-boretadas devido à formação de um filme lubrificante entre as superfícies. Segundo os autores, não foi observado desgaste significativo para as amostras boretadas, mesmo na condição não lubrificada. Apenas alguns riscos foram observados nas amostras boretadas (Figura 20). Figura 20 – Micrografias eletrônicas de varredura das superfícies de desgaste das esferas boretadas. Ensaio sem lubrificação. (a) 98 N, (b) 147 N. Fonte: Adaptado de GARCIA-BUSTOS,