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Medicalização TDAH

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PRODUÇÃO CIENTÍFICA
PROFa. RAIMUNDA ELIANA CORDEIRO BARROSO
Os impactos da medicalização na vida da criança diagnosticada com TDAH
Francisco Daury de Souza Damasceno
João Levi Torquato Landim
Liana Pinho Barros
Mayra Eduarda Ramos Lima
FORTALEZA – CE
2021
Os impactos da medicalização na vida da criança diagnosticada com TDAH
Francisco Daury de Souza Damasceno¹, João Levi Torquato Landim² Liana
Pinho Barros³, Mayra Eduarda Ramos Lima4
¹Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, francisco.daury@aluno.uece.br
²Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, levi.torquato@aluno.uece.br
³Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, liana.barros@aluno.uece.br
4Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, mayra.eduarda@aluno.uece.br
RESUMO. O presente trabalho procura discutir e pesquisar acerca dos impactos
biopsicossociais referentes à medicalização do público infantil diagnosticado com
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH. Nessa pesquisa
procuramos analisar questões relacionadas à bioética da indústria farmacêutica em
relação a saúde do sujeito com TDAH, discutir a medicalização enquanto estratégia
biopolítica e investigar efeitos colaterais no organismo dos indivíduos infantes que
fazem uso de medicamentos. Os resultados apontam que a prescrição de
medicamentos para o tratamento do transtorno não é uma mera questão de saúde,
mas envolve toda uma estrutura social.
Palavras-chave: Medicalização. TDAH. Infância.
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio
no qual afeta milhões pessoas ao redor do mundo, principalmente crianças e adolescentes, as
quais quase sempre são encaminhadas para médicos psiquiatras que irão prescrever
medicamentos para uso terapêutico no tratamento da patologia. Por isso, é extremamente
importante e relevante discutir e pesquisar sobre quais consequências e efeitos tais
medicamentos podem causar na vida desses indivíduos diagnosticados, abordando a área
social, familiar, escolar, farmacêutica e etc.
2. METODOLOGIA
Os estudos realizados na construção desta pesquisa foram de natureza qualitativa
bibliográfica. Para realização deste estudo foram realizadas buscas nas bases de dados
eletrônicos “SCIELO”, e no “Google Acadêmico”, cuja procura foi das palavras-chave:
TDAH, infância, medicalização, bioética e indústria farmacêutica.
As fontes foram analisadas em duas etapas, sendo a primeira uma discussão
acerca de como se estrutura a ideia de medicalização na sociedade, passando por esferas como
a indústria farmacêutica. E a segunda, foi feito um estudo dos impactos desta medicalização
precoce na vida das crianças diagnosticadas com TDAH.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O conceito de medicalização, segundo Rose (2017), é a incorporação de um
problema “não médico” ao âmbito da medicina. Assim, entendemos que a estratégia da
medicalização se expande para além do ato de prescrever uma droga, afetando outras áreas do
existir. Para Michel
Foucalt (1977 – 1980), a biopolítica é o âmbito biológico incidindo no político, ou seja,
esferas como saúde, mortalidade e manutenção da vida são apreendidas pelo estado e
autoridades políticas que visam o controle dessas esferas. Ainda segundo o autor: Foi no
biológico, no simpático, no corporal, que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O
corpo é uma realidade biopolítica. A medicina, uma estratégia biopolítica (1979, p. 80). O
saber médico passa a definir o que é normal e o que não é, o que é saudável e o que precisa ser
medicado. Essa definição acerca do que é a saúde acabou criando uma normatização da vida,
onde que estivesse fora desse ideal seria visto como patológico.
Sob um olhar voltado para a infância, acabou instituindo um ideal de criança
normal, com capacidade de aproveitamento máximo de suas competências cognitivas. A
medicalização da vida de crianças tem como principal alvo os campos de aprendizagem e os
modos de ser, ou seja, as esferas da educação e do comportamento são os mais afetados pelos
processos de padronização e normatização. As crianças que não correspondem a este ideal de
comportamento, podem ser vistas como doentes, e consequentemente podem ser
medicalizadas.
A psiquiatria considera os sinais e sintomas do TDAH como desvios ou doença.
Tal doença está no organismo, mais especificamente no cérebro. O TDAH é um transtorno no
qual os neurotransmissores dopamina e norepinefrina se encontram diminuídos no organismo
das pessoas diagnosticadas e, as áreas do cérebro responsáveis pelo autocontrole, atenção e
inibição apresentam imperfeições quando comparadas às pessoas que não têm TDAH. Deste
modo, são administrados estimulantes para ativar tais áreas cerebrais que se encontram
diminuídas em portadores de tal transtorno.
Nessa pesquisa, utilizamos para fins de estudo os dois medicamentos mais
utilizados para o tratamento de crianças e adolescentes diagnosticadas com TDAH. O
Cloridrato de Metilfenidato, também conhecido como Ritalina, é a droga mais amplamente
usada para o tratamento do transtorno e, o outro medicamento é o Dimesilato de
Lisdexanfetamina, também conhecido como Venvanse. Ambos são psicoestimulantes do
Sistema Nervoso Central (SNC) e não são recomendados para crianças menores de 6 anos de
idade, indivíduos que possuem transtorno de ansiedade, pessoas que fazem uso de
antidepressivos e entre outras advertências.
Os mecanismos de ação desses psicoestimulantes são semelhantes com da
cocaína. Pois, tais substâncias aumentam os níveis de dopamina no cérebro, neurotransmissor
responsável pela sensação de prazer. Como consequência desse aumento de prazer artificial, o
cérebro tornase dessensibilizado a situações de prazer, como alimentos, emoções, afetos, o
que leva a busca contínua de prazer artificial provocado pela droga. Além disso, especula-se
se aumentos desnecessários da dopamina durante a infância poderiam alterar o
desenvolvimento do cérebro. Sendo assim, esses jovens têm uma tendência maior de se
tornarem adictos à cocaína na fase adulta, como modo de substituir a droga legal que tomaram
por anos. Os psicoestimulantes atuam no SNC e faz com que a pessoa fique contida em si
mesma, obediente. Trata-se de uma reação adversa do medicamento.
O principal fator de risco são os diagnósticos realizados por profissionais de
maneira equivocada. Pois, tendo em vista que o TDAH é bastante parecido com outras
patologias como dislexia, Transtorno Desafiador de Oposição (TOD), transtorno de ansiedade
e entre outros, há um grande risco de o profissional realizar um diagnóstico errado,
prejudicando mais ainda a problematização do paciente. Muitas vezes, dificuldade de leitura e
escrita são associados à criança, quando na verdade o real problema é a escola. A criança com
dificuldade de aprendizagem é diagnosticada, procuram-se as causas, apresenta-se o
diagnóstico e em seguida a medicação.
A necessidade de pesquisar novos fármacos e sua consequente divulgação tem
levado a grandes investimentos por parte da indústria, com a utilização de técnicas
de marketing cada vez mais sofisticadas e agressivas. (FILHO, 2010, p. 149).
Baseando-se na legitimação do discurso de saúde pela medicalização, o consumo
da Ritalina vem crescendo de forma alarmante. No ano 2000 apenas 70 mil caixas foram
comercializadas no país, já em 2019 esse número cresceu para 2.240.873 caixas.
Nessa dinâmica, seja por motivos mercadológicos no consultório ou por
sobrecarregamento no setor público, o papel do profissional da saúde é de um mero carimbo,
apenas marcando com um diagnóstico. Reduzindo assim pessoas que são TDAH simples
portadores de um defeito da sua psiquê em um sistema que busca padronizar e homogeneizar
o comportamento pautado no consumo (e bio-consumo), o que for desviante do
comportamento considerado comum é patologizado.
A empresa farmacêutica quer vender o medicamento e o profissional da saúde
quer dar o diagnóstico,no meio desse fogo cruzado, como se pode analisar uma criança se não
é possível considerar o local que ela se encontra em toda sua plenitude?
É por isto que ao considerar a classe social, o mesmo resultado traz impactos
muito distintos, vejamos: para uma criança de classe alta, o diagnóstico o leva a terapia,
acompanhamento, orientação aos pais para ajudar a adaptação da criança na escola que leva
seus interesses em consideração, em contrapartida, para quem está em situação de
vulnerabilidade social o diagnóstico, que muitas vezes é procurado por indisciplina escolar,
serve apenas como um laudo de que algo está errado. Na maioria dos casos, o
acompanhamento se limita apenas à intervenção do medicamento, que é tido como um
sucesso pela “melhora” no comportamento da criança na escola - melhora que muitas vezes se
limita apenas a ficar comportado dentro da sala de aula, apenas a se enquadrar nas normas de
comportamento padrão, ser controlado.
O enraizamento da medicalização no campo educacional é reflexo de preconceitos
racistas e de classes, fruto de um sistema falho que procura bodes expiatórios para justificar
sua ineficiência. Tal sistema que mais parece um Ouroboros, um círculo fechado, onde a
criança com comportamento desviante é diagnosticada e rapidamente medicada, tudo com
aval dos pais e professores, pois com o diagnóstico a criança não é mal-educada, ela é doente,
e quem é doente toma remédio.
A medicalização do campo educacional assumiu, e ainda assume, diversas faces no
passado recente, alicerçando preconceitos racistas sobre a inferioridade dos negros e
do povo brasileiro, porque mestiço; posteriormente, a inferioridade intelectual da
classe trabalhadora foi pretensamente explicada pelo estereótipo do Jeca Tatu,
produzido pela união de desnutrição, verminose, anemia… Preconceitos, nada mais
que preconceitos travestidos de ciência (Moysés e Lima, 1982; Collares e Moysés,
1996; Moysés e Collares, 1997)
O que nos deixa a seguinte questão: será que os resultados das pesquisas médicas
não estão sendo influenciados por interesses econômicos das indústrias farmacêuticas que as
financiam?
A função de prescritor rende ao médico uma série de benefícios concedidos por
indústrias farmacêuticas, tais como: viagens para congressos, amostras grátis e, em
especial, financiamento em suas pesquisas, as quais fundamentam a eficácia da
medicação no tratamento. Na publicação de tais pesquisas deveria constar o conflito
de interesse quando acontece tal atravessamento econômico, conforme norma da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o que nem sempre acontece
(ITABORAHY, 2009).
Para discutir os possíveis conflitos de interesse no relacionamento entre os
médicos e a indústria farmacêutica é que surge a bioética, visto que a análise desses conflitos
apenas pela ótica na ética médica se mostra insuficiente.
Os princípios básicos da Bioética (autonomia, beneficência, não maleficência e
justiça) e os outros referenciais bioéticos mais recentemente incorporados à reflexão
bioética (prudência, vulnerabilidade, solidariedade e alteridade) são ferramentas
importantes que devem ser utilizadas para uma discussão bem fundamentada e
deliberações prudentes nos potenciais conflitos de interesses no relacionamento
médico-indústria farmacêutico. Esses referenciais bioéticos devem servir como base
de conduta para todos os médicos na prática de ensino, da pesquisa e da assistência
médica. Nesse sentido, a sociedade deve necessariamente participar mais
amplamente da discussão. (FILHO, 2010, p. 152)
Segundo o Conselho Federal de Psicologia, o marketing das indústrias
farmacêuticas tem aumentado muito o consumo de drogas com base em anfetaminas,
conhecidas por “tarja preta”, por atuarem diretamente no Sistema Nervoso Central e
apresentarem graves efeitos colaterais. (CFP, 2011)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o TDAH já esteja presente no vocabulário médico há pelo menos 40
anos, é notável que ainda existe um estigma ao redor do transtorno, que afeta a vida de
diversas pessoas negativamente. Não somente pessoas com TDAH, afinal, há diversas
questões que podem ou não levar ao diagnóstico correto.
Analisando por uma ótica ligada a bioética e o bioconsumo, é notável a
problemática da questão, diagnósticos muitas vezes são dados de forma apressada e incorreta,
seguidos por uma rápida medicalização que está se iniciando cada vez mais cedo na vida das
crianças.
Os impactos desse aumento desenfreado no consumo da Ritalina e medicamentos
similares só poderão de fato ser compreendidos nas próximas décadas, por meio da pesquisa
acadêmica, feita longe da influência da indústria farmacêutica. Somente assim, é possível uma
maior reflexão crítica quanto aos diagnósticos e à medicalização. Permitindo afastar-se dessa
dinâmica de controle por meio do remédio, pois o TDAH não é resolvido apenas com
medicamentos, mas com integração e acessibilidade.
5. REFERÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Campanha “Não à Medicalização da Vida”.
Gestão 2011-2013.
DECOTELLI, K. M.; BOHRE, L. C. T; BICALHO, P. P. G. A droga da obediência:
medicalização, infância e biopoder: notas sobre clínica e política. Rio de Janeiro, 2013.
FILHO, José Marques. A dimensão bioética dos conflitos de interesses na relação entre
médico e indústria farmacêutica. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, 2010.
ITABORAHY, Cláudia. A ritalina no Brasil: uma década de produção, divulgação e
consumo. Rio de Janeiro, 2009.
MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L.; Controle e medicalização da infância. Rio de
Janeiro, 2013.
NEVES, José Luís. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Caderno de
pesquisas em administração, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 1-5, 2º sem., 1996.

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