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MEDICALIZAÇÃO NA 
EDUCAÇÃO – PERSPECTIVA 
SOCIO-HISTÓRICA E 
NEUROPSICOLÓGICA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Reginaldo Daniel da Silveira 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Esta aula sobre a medicalização ressoa como um click que, no toque do 
botão, nos faz constatar que a medicalização existe e que é preciso 
desmedicalizar. Para isso, buscam-se ações públicas e privadas, terapias 
alternativas, psicoterapias e atividades físicas. Neste caminho, pesquisa-se, 
pratica-se e avalia-se resultados. Busca-se não apenas estudar a 
desmedicalização ou combater a medicalização, pois é preciso, também, 
encontrar formas de entender o comportamento humano e lidar com ele através 
de qualquer recurso, mesmo que seus preceitos nos lembrem algum tipo de 
intervenção. 
TEMA 1 – ESTUDOS DE CASO SOBRE DESMEDICALIZAÇÃO 
A reflexão de que é mais fácil criticar a medicalização do que propor a 
desmedicalização, como dizem Melo e Cunha (2008), se confirma na literatura e 
também em determinados estudos de caso. Vários destes têm sido feitos em 
diferentes lugares e tempos, alguns para entender a medicalização em possíveis 
ações futuras, e outros para investigar ações em andamento. 
Um estudo de caso do tipo único analisou como se dá o processo de 
humanização e medicalização na atenção primária em saúde para cuidado pré-
natal (Warmling, 2018). O estudo compreendeu 16 municípios (3.500 a 300.000 
habitantes no Rio Grande de Sul, 17 grupos focais, 17 Unidades Básicas de 
Saúde, 47 trabalhadores, 14 médicos, 19 enfermeiros e 14 cirurgiões-dentistas). 
Os dados mostraram que, nas práticas observadas, o protocolo 
humanizado com acompanhamento da gestante pelo generalista não é 
cumprido. O obstetra se ocupa não apenas de gestantes de alto risco, mas 
também acompanha as de baixo risco. Nesse sentido, cuidados básicos de 
acompanhamento clínico que deveriam ser feitos pelo profissional generalista 
(humanista) são direcionados ao obstetra (biológico). 
No estudo de Warmling (2018), a abordagem humanizada está em 
desvantagem em relação às práticas medicalizadas. Não há investimentos no 
desenvolvimento de relações interprofissionais, o que permite concluir que tal 
condição é legitimada pelos gestores de políticas públicas. 
Outro estudo de caso foi sobre como implementar o apoio matricial para 
situações clínicas de saúde mental na Atenção Primária à Saúde. Jorge, Sousa 
 
 
3 
e Franco (2013) relatam fatores importantes para a prática com efeito 
desmedicalizante. Esse tipo de ação pública de saúde, de acordo com Santos, 
Uchoa-Figueiredo e Lima (2017), é um novo modo de produzir saúde, em que 
duas ou mais equipes desenvolvem, de modo compartilhado, uma proposta de 
intervenção pedagógico-terapêutica. 
No caso descrito, usou-se o matriciamento numa perspectiva crítica e 
reflexiva. Depois de vivenciar algumas semanas de prescrição médica, uma 
usuária de 56 anos foi até um Centro de Atendimento Psicossocial – CAPs – com 
os sintomas de dores de cabeça, insônia e dependência de medicamentos. A 
equipe matricial composta por profissionais de várias áreas da saúde trabalhou 
dialogicamente. Entre os fatores trabalhados, observou-se: procedimento de 
acolhida, mudanças no fluxo burocrático e hierárquico de usuários na rede de 
saúde, aproximação entre profissionais e serviço, comunicação e interação, 
transcendendo-se o modelo tradicional biomédico. Também foram observadas 
situações atribuídas à inexistência de práticas de saúde mental, como 
capacitação insuficiente em transtornos mentais, inexistência de rede 
assistencial de suporte e necessidade de diagnosticar. Outro ponto crítico 
observável foi a forma de lidar com o modelo positivista de atenção à saúde, 
situação reforçada pela usuária. 
Em um relato, Jorge, Sousa e Franco (2013) observaram a usuária mais 
à vontade para relatar o episódio potencializador de sua crise. A exigência de 
virgindade e condenação à gravidez antes do casamento fez com que, por ordem 
do pai, ela doasse uma filha. Só 16 anos depois aceitou ser mãe, e segundo os 
autores, a dor psíquica no estereótipo de “mãe-abandônica, filha-transgressora” 
afetou sensivelmente seu modo de ser. 
Os autores reportam no estudo que o apoio matricial facilita o encontro do 
outro com a saúde mental em maior amplitude de possibilidades. Ao mesmo 
tempo, destacam insuficiências sobre como desterritorializar a usuária da 
condição de mãe que abandonou, filha que transgrediu. A conclusão mostra a 
utilidade de uma equipe matricial no cuidado da saúde mental e o potencial para 
problematizar práticas, agregar dispositivos e sinalizar caminhos de assistência 
à saúde, com efeitos desmedicalizantes. 
Estudos sobre medicalização são feitos em pesquisas desde a graduação 
até níveis lato e stricto sensu. Silva (2014) relata o estudo feito com uma criança 
de 8 anos, usuária de Ritalina e diagnósticada com TDAH. Por meio de 
 
 
4 
mediações inicialmente com os pais e em seguida com a criança, observou-se 
capacidade de aprendizagem sem alteração psicológica ou neurológica com 
vistas a TDAH. O esclarecimento prestado aos pais e a retirada da medicalização 
pela intervenção psicológica desmedicalizante mostrou resultados positivos. 
Um estudo mostra como pacientes psicóticos em tratamento psiquiátrico 
em uma ONG podem ser vistos e tratados sem necessariamente recorrerem ao 
uso de remédios ou diagnósticos biomédicos, apenas através de processo 
psicoterápico. Uma jovem senhora (S. S. S), queixosa de perseguição pela 
vizinha, ouvida no momento psicoterápico, foi levada a lidar com uma possível 
crise paranoica, certamente não detectável fora desse contexto. Um senhor 
ansioso (P. C. E. C.), a ponto de se ferir na cabeça de tanto se cutucar, foi 
ajudado a lidar e controlar esse comportamento através da troca psicoterápica, 
diferentemente do que seria na pratica medicalizante. Para os autores Melo, e 
Cunha (2008), o sintoma não encontra sua verdade na nosografia, mas na 
relação particular do sujeito com ele, descaracterizando a visão puramente 
médica de um comportamento. 
TEMA 2 – USO DE TERAPIAS ALTERNATIVAS 
Diante das críticas aos processos medicalizantes, temos observado 
crescente demanda por terapias complementares com aceitação confirmada por 
profissionais de saúde. Serviços substitutivos incluem, no exemplo dos CAPs, 
consulta/atendimento, visitas domiciliares, grupos terapêuticos e oficinas 
(Zanella et al., 2016). É o que verificamos no tema anterior sobre Apoio Matricial 
(AM), como estratégia para a desmedicalização no Sistema Único de Saúde 
(SUS). 
O apoio matricial é um modo de realizar a atenção em saúde de forma 
compartilhada com vistas à integralidade e à atenção, por meio do trabalho 
interdisciplinar. Em estudo junto a um Centro de Referência Especializado em 
Saúde do Trabalhador (Cerest) em Betim, MG, onde foram entrevistados 41 
profissionais, concluiu-se que o AM pode operar como estratégia de 
fortalecimento da saúde do trabalhador no SUS (Lazarino; Silva; Dias, 2019). 
Entre os aspectos mais destacados, está o atendimento individual 
compartilhado, a discussão de casos e temas técnicos específicos entre as 
equipes e o desenvolvimento conjunto de ações de vigilância epidemiológica. 
 
 
5 
A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, formou uma 
comissão com vistas a novos procedimentos de assistência psiquiátrica 
brasileira (Barroso; Silva, 2011). Foram propostas ações comuns às Práticas 
Integrativas e Complementares (PICs), como atendimento integral, 
multiprofissional e realizável em postos de saúde, ambulatórios especializados 
e em serviços criados especialmente para este atendimento, os CAPS (Thiago; 
Tesser, 2011). 
As PICs, também chamadas de terapias alternativas, são consideradas 
pela Organização Mundial da Saúde – OMS como procedimentos da Medicina 
Tradicional (Gali et al., 2012). Os tratamentos utilizam recursosterapêuticos 
baseados em conhecimentos tradicionais, na prevenção de doenças como 
depressão e hipertensão e, em alguns casos, também podem ser usados como 
tratamentos paliativos em doenças crônicas (Brasil, 2013). O SUS oferece 
atualmente, de forma integral e gratuita, 29 formas terapêuticas alternativas de 
PICs à população. Vejamos algumas: 
A acupuntura, de acordo com a ABCMED (2014), é uma forma de 
tratamento da medicina tradicional chinesa, existente há mais de 2 mil anos. 
Consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo (acupontos), 
na região correspondente à situação a ser tratada. As agulhas são aplicadas em 
terminações nervosas escolhidas pelo acupunturista. Introduzidas na pele, elas 
são manipuladas manualmente ou por meio de estímulos elétricos. Supõe-se 
que esse procedimento gere estímulos nervosos que percorrem a medula 
espinhal chegando ao cérebro, liberando neurotransmissores benéficos para a 
saúde. 
Exemplos de atendimento de acupuntura em unidades do SUS são 
considerados satisfatórios. Fernandes (2017) reporta que usuários anseiam por 
ampliação da oferta dessa terapia e a continuidade do tratamento por períodos 
mais amplos, além de apontar a necessidade de implementação de políticas 
públicas visando ampliar a oferta nos serviços vinculados ao SUS. 
Meditação e atenção plena são práticas aplicadas de modo único e 
específico ou compondo modelos psicoterápicos como a Terapia Cognitivo-
Comportamental. A meditação é considerada como uma fonte de redução da 
ansiedade e do estresse, uma vez que controla a respiração, relaxa o corpo e 
aumenta a concentração. Sobre isso, Gali et al. (2012) destaca estudos 
indicando que a prática da meditação aumenta o fluxo sanguíneo e a atividade 
 
 
6 
cerebral nos lobos frontal e occipital, além de diminuir a circulação sanguínea e 
metabólica nas demais regiões do corpo. 
Teasdale (2016, p. 38) entende que a atenção plena, também 
denominada mindfulness, “é a percepção consciente que emerge quando 
prestamos atenção de uma maneira particular às coisas como elas são: 
deliberadamente, no momento presente e de uma maneira imparcial”. 
Por nossa experiência, a meditação acalma a mente, e a atenção plena 
nos faz estar mais atento, focados no momento presente, com consciência do 
que estamos fazendo naquele instante. 
Outras modalidades de PICs disponibilizadas no SUS são as seguintes 
(Fernandes, 2017, p. 45): 
 Homeopatia – tratamento com substâncias altamente diluídas para 
estimular o sistema natural do corpo de cura. 
 Reiki – prática de imposição de mãos que usa a aproximação ou o toque 
sobre o corpo da pessoa com o objetivo de estimular os mecanismos 
naturais de autocura do corpo. 
 Quiropraxia – emprega elementos diagnósticos e terapêuticos 
manipulativos, com o intuito de tratar e prevenir as desordens do sistema 
neuromúsculo-esquelético e dos efeitos destas na saúde da pessoa. 
 Arteterapia – práticas que usam a arte como base do processo 
terapêutico, abrange diversas técnicas expressivas no cuidado à saúde. 
Pode ser realizada de forma individual ou em grupo. 
 Musicoterapia – engloba a música e seus elementos (som, ritmo, melodia 
e harmonia) em um processo para favorecer e promover a saúde em suas 
diversas dimensões. Pode ser realizada de forma individual ou em grupo. 
 Naturopatia – utiliza métodos e recursos naturais, para apoio e estímulo 
à capacidade intrínseca do corpo de recuperação da saúde. 
 Massoterapia – massagens relaxantes, estéticas ou terapêuticas 
utilizadas para promover a saúde. Por meio do toque, é possível lidar com 
aspectos físicos e mentais de cada pessoa. 
 
 
 
7 
TEMA 3 – USO DE PSICOTERAPIA 
Em diferentes perspectivas teóricas, as psicoterapias geralmente visam à 
modificação de padrões de pensamento ou comportamento, embora variem os 
modos de provocar mudanças (Gazzaniga; Heartherton, 2005). Sobre elas, 
Freitas e Amarante (2017), ao comentar o acesso do Professor Irving Kirsch, da 
Harvard Medical School, às pesquisas dos laboratórios farmacêuticos para testar 
antidepressivos1, relatam que seu uso em três mil pacientes foi tão eficaz quanto 
os psicofármacos. Esses dados ressaltam a dialética dos medicamentos por um 
lado danoso (efeitos colaterais e inconsistência científica) versus um lado útil, 
como apoio à psicoterapia, em casos estritamente necessários. 
A psicanálise inspirada em Freud para descobrir sentimentos e impulsos 
inconscientes causadores de pensamentos e comportamentos desadaptativos 
foi reformulada em abordagens psicodinâmicas modernas: o divã foi trocado 
pela poltrona, mas a “terapia da fala” foi mantida (Gazzaniga; Heartherton, 2005). 
O modelo de insight para entender os próprios processos psicológicos e se 
liberar de influências inconscientes passou a encontrar outras formas de liberar 
sintomas. 
Tratar o indivíduo como um todo deu lugar às terapias humanistas, das 
quais a mais conhecida é a terapia centrada no cliente. Nessa prática, o insight 
é obtido através da ênfase no “oferecimento de um clima emocional de apoio 
para os clientes, que desempenham um papel importante na determinação do 
ritmo e da orientação de sua terapia” (Weiten, 2010, p. 436). Se a psicanálise 
perdeu força, nas terapias humanistas poucos profissionais parecem seguir 
estritamente seus princípios, e muitas das técnicas defendidas por elas são hoje 
empregadas para estabelecer um bom relacionamento terapêutico com o 
paciente (Gazzaniga; Heartherton, 2005). 
Enquanto os modelos baseados no insight consideram o comportamento 
desadaptativo como resultado de um problema subjacente, a terapia 
comportamental vê o comportamento como o problema e o tomam alvo de 
trabalho na terapia. Ela aplica os princípios de aprendizagem e condicionamento 
para direcionar esforços no sentido de mudar comportamentos dasadaptativos 
(Weiten, 2010). 
 
1 O acesso foi conseguido mediante o Freedom of Information Act (Foia), lei americana que 
garante às pessoas o acesso a informações do governo. 
 
 
8 
Pela nossa percepção, à medida que os modelos psicoterápicos deram 
ênfase à relação pensamento-comportamento, percebeu-se a relevância dos 
fatores cognitivos para o surgimento de transtornos mentais. Essa reflexão 
passou a fazer parte das perguntas dos terapeutas comportamentais e deram 
lugar ao surgimento da terapia cognitivo-comportamental, a qual se encontra 
em franco crescimento nos meios de tratamento da saúde mental. 
Cordioli e Knapp (2008) explicam a grande aceitação da TCC pelos 
seguintes fatores: 
 Visão maior das psicopatologias dos transtornos mentais. 
 Modelos e hipóteses testáveis, com verificação de eficácia. 
 Curta duração de vários tratamentos. 
 Protocolos e manuais padronizados. 
 Escalas e ferramentas para verificação de resultados. 
Em termos simples, nossa experiência na TCC indica que o trabalho do 
terapeuta cognitivo-comportamental é ativo para descobrir pensamentos 
prejudiciais e como eles interferem nos comportamentos de uma pessoa em 
sofrimento. Nas sessões psicoterápicas, a conversa busca abordar eventos 
atuais, sem desconsiderar problemas passados. Nesse decurso, investigam-se 
pensamentos e sentimentos vivenciados e, trabalhando possíveis conexões com 
informações àquele que está sendo tratado. O seu uso pode ser aplicado a 
famílias, casais ou grupos. Em várias das práticas, ele substitui ou atua 
combinado com medicação. 
Na visão de Gazzaniga e Heatherton (2005), a TCC busca corrigir 
cognições errôneas e treinar a pessoa para que ela possa adotar novos 
comportamentos. Veja a seguir: 
Por exemplo, a pessoa com fobia social, que teme a avaliação 
negativa, poderia aprender habilidades sociais e, ao mesmo tempo, ser 
ajudada pelo terapeuta a compreender como sua avaliação das 
reações dos outros a ela pode estar errada. A TCC provou ser uma das 
formas maisefetivas de psicoterapia para muitos tipos de doença 
mental, especialmente transtornos de ansiedade e transtornos de 
humor. (Gazzaniga; Heartherton, 2005, p. 437) 
Atendendo aos transtornos mentais em geral, no TDAH, a TCC é 
desenvolvida em âmbito familiar e escolar da criança, investigando a conexão 
entre os diferentes contextos vividos e a história de sofrimento, com visão 
negativa e incapacitante de si mesma por críticas e reclamações. Nesse 
 
 
9 
entendimento, desvalia, desamor e os comportamentos condicionados mal 
adaptativos podem ser suprimidos ou amenizados. 
TEMA 4 – O USO DA ATIVIDADE FÍSICA 
Entendemos que a saúde física está relacionada ao bom condicionamento 
físico, agregando resultados positivos para a aptidão física e manutenção 
equilibrada dos sistemas vitais ao organismo. Nessa perspectiva, o 
condicionamento gera bem-estar físico, psicológico, emocional e social. 
A participação cada vez mais efetiva de profissionais da área de 
atividades físicas na saúde pública nas duas últimas décadas vem sendo 
impulsionada pelo SUS, Movimento Antimanicomial e Núcleo de Apoio de Saúde 
da Família (NASFs), de acordo com Melo, Oliveira e Vasconcelos-Raposo 
(2014). Acrescente-se a isso o fato de pesquisas internacionais ressaltarem a 
importância da prática de exercícios físicos como opção não medicalizante aos 
transtornos mentais. 
A literatura é pródiga em destacar que atividades físicas trazem benefícios 
a pacientes com transtornos mentais como a esquizofrenia. O proveito dessa 
prática propõe uma dinâmica diferenciada para os indivíduos com os transtornos, 
tornando-os agentes principais do tratamento. Uma situação que é comum em 
hospitais e unidades de saúde é o falseamento do quadro clínico de pacientes 
submetidos ao tratamento medicamentoso, e quando as atividades físicas são 
desenvolvidas, ocorre o alívio “real” (destaque nosso) da ansiedade (Melo; 
Oliveira; Vasconcelos-Raposo, 2014). 
Em pesquisas, a prática de exercícios físicos revela sua eficácia como 
terapia não medicamentosa aplicada à saúde mental. Em um desses estudos 
em pacientes (Estados Unidos) com transtornos mentais na faixa etária entre 15 
e 54 anos, Goodwin (2003) relata que as atividades físicas regulares (60,3% dos 
pacientes) foram associadas a uma prevalência significativamente reduzida dos 
principais transtornos de depressão e ansiedade. 
Em um outro trabalho realizado na Holanda, pacientes com transtornos 
mentais avaliados em entrevistas diagnósticas foram submetidos a atividades 
físicas. Have e Monshouwer (2011) dizem que foram encontrados dados que 
mostram que participantes com exercícios físicos mensurados tiveram maior 
probabilidade de recuperação de suas doenças em comparação com os colegas 
sem exercícios físicos. Os autores falam que, embora permaneça incerto se a 
 
 
10 
associação realmente reflete um efeito causal da atividade, o exercício físico é 
benéfico para a saúde mental. 
Um pequeno estudo na Universidade de Michigan, relatado por Paiva 
(2015) e publicado no Journal of Pediatrics2, observou os efeitos a curto prazo 
de uma sessão de exercícios na capacidade cognitiva das crianças. 
Diagnosticadas ou com suspeita de TDAH, 20 crianças, entre 8 e 10 anos, 
passaram por testes de soletração, leitura e matemática em dois momentos: 
após 20 minutos de exercício em uma esteira e após 20 minutos de leitura. Os 
resultados mostraram que os dois grupos tiveram melhor desempenho, ainda 
que sutil, após os exercícios físicos. O grupo com TDAH respondeu corretamente 
80% das questões após a leitura, contra 84% após o exercício físico. 
Fatores apresentados por Neves e Silva (2019) justificam a importância 
das atividades físicas para a saúde mental. Ao praticar exercícios, o indivíduo 
aumenta a produção e a liberação de neurotransmissores que atuam na 
regulação de funções como memória, aprendizagem, emoções, sede, sono, 
fome, bem-estar, ansiedade e humor. O aumento do fluxo sanguíneo cerebral 
pelo exercício físico aumenta a atividade de enzimas antioxidantes (nos 
exercícios aeróbicos, por exemplo), aumentando as capacidades de defesa. A 
liberação de neurotransmissores como norepinefrina, serotonina e endorfinas 
tem efeitos positivos gerais, entre elas a melhor do humor. Os autores destacam 
a maior resistência ao estresse e depressão pela liberação de dopamina e 
endorfina. 
TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Depois do que estudamos, o modo simples, objetivo e direto de entender 
a medicalização é vê-la como a transformação de pessoas em pacientes. 
Qualquer ansiedade, qualquer comportamento, nos coloca na denominação de 
doentes, e não sendo saudáveis, precisamos de diagnóstico, prescrição e 
tratamento. Algum tipo de intervenção com procedimentos médicos é necessária 
para quem é arbitrariamente classificado como fora da linha. Quem decide isso 
e como decide? O que chamamos de doença acaba sendo uma questão 
histórico-cultural no tempo, no contexto, no entendimento e no insight. 
 
2 Journal of Pediatrics é um periódico médico na área de pediatria, filiado nos Estados Unidos à 
Association of Medical School Pediatric Department Chairs. 
 
 
11 
Até pouco tempo (1980), homossexuais eram considerados doentes 
mentais (embora ainda hoje haja quem assim os considere). No passado, esse 
tipo de comportamento era medicalizado com estrogênio (para reduzir a libido), 
terapia eletroconvulsiva ou mesmo castração química, como ocorreu com Alan 
Turing, o pai da computação, que após ser duramente medicalizado, se suicidou. 
Não obstante, apesar da importância do remédio para a saúde humana, 
muitas vezes ele é apenas um meio para atingir-se o “normal da sociedade”. A 
primeira medida contra o Alan Turing foi a prisão. Recentemente (janeiro 2020), 
o médico chinês Li Wenliang, um dos primeiros a alertar as pessoas sobre o 
Coronavírus, recebeu a visita de policiais e teve que assinar um documento 
comprometendo-se a “mudar seu comportamento” de espalhar rumores na 
população. Infelizmente, morreu por estar infectado. 
Ante determinados diagnósticos biomédicos, é de se perguntar o que 
representa a cura por esta ou aquela prescrição. O que ela é? Para que serve? 
Quanto tempo devemos ficar em função dela? Que efeitos colaterais podem 
surgir? Por que esses medicamentos em vez de outros? Por que essa dosagem? 
Quais testes temos que fazer? Que alternativas podemos ter? 
Na sala de aula, o aluno “fora da curva”, ao prestar atenção, se mexer 
demasiadamente e não aprender, requer cuidados médicos. Na escola, no 
trabalho, na família, a “não doença” é medicalizada pela redefinição de 
fenômenos sociais que emergem por valores políticos, noções alteradas de bem-
estar, indústria farmacêutica, manuais de doenças mentais, estatísticas, mídias 
e tecnologias. 
Na busca de ciência para entendimento, a neuropsicologia aparece em 
duas vieses: a medicalizante e a não medicalizante. No primeiro caso, é usada 
para garantir a medicalização por “descobertas” do tipo “o comportamento fora 
dos padrões vem através do desequilíbrio neuroquímico do cérebro”, dado não 
evidenciado. Por outro lado, a neuropsicologia pode ajudar a entender aspectos 
básicos do funcionamento mental e servir de apoio a professores, pais e 
profissionais da saúde tanto no processo ensino-aprendizagem como no apoio 
a ações públicas de saúde. 
Entre as diversas ações, movimentos desmedicalizantes colocam em 
discussão aspectos do tipo: ambiguidade na diagnosticalização pelo DSM 5, 
patologização de comportamentos comuns à vida comum (incluindo 
12 
disseminação de pesquisas sem evidencia), prescrição generalizada de 
psicotrópicos e controle social pela autoridade biomédica. 
Não se trata apenas de enumerar ações críticas sobre falta de consenso 
científico no diagnóstico e no tratamento do TDAH, criar movimentos como o 
Stop DSM nos diagnósticos duvidáveisde distúrbios mentais, ou trocar o 
discurso especialista pela práxis generalista da ação interdisciplinar. É preciso 
olhar o contexto da sociedade capitalista na busca da eficiência a todo o custo, 
que ao unir saúde e educação, passou a oxigenar a “caçada aos anormais”. 
Nesse fluxo, se torna possível perceber a necessidade de quebrar paradigmas. 
Por fim, considera-se não ser possível incorrer no mesmo reducionismo 
da ação biomedicalizante ao agir no simplismo de considerar todo o processo 
médico como se ele apenas gerasse efeitos maléficos. Ao mesmo tempo, não 
há como ver, nas novas tecnologias na saúde, apenas comandos contra a 
liberdade e a autonomia individual. Não nos cabe dizer que a culpa de tudo é 
pelo biológico, por que antes de mais nada, ele é histórico-cultural. Precisamos 
fugir ao discurso antimédico do bem contra o mal. De outra forma, o risco de se 
envolver num establishment caleidoscópico de um único, estático e arbitrário 
movimento significa não perceber a complexidade histórica, política, social e 
econômica, e isso implica em desconhecer nossas limitações e a impossibilidade 
de atingirmos uma totalidade definitiva. 
NA PRÁTICA 
É inegável que ações terapêuticas como apoio matricial, psicoterapias, 
terapias alternativas e atividades físicas são um forte “remédio” contra a 
medicalização biologizante e patologizante. Tal constatação é resultado de 
evidências por meio de inúmeras pesquisas dentro da temática. 
FINALIZANDO 
É possível que nunca possamos encontrar uma resposta definitiva para o 
término do processo medicalizante, visto que é impossível nascer, crescer e 
evoluir num mundo sem qualquer influência do ambiente multidimensional da 
construção social, que é ideológica e política. Contudo, somos levados a crer 
que o meio em que vivemos é o espaço-tempo para um fim maior: a nossa 
humanização, e se não temos uma resposta sobre acabar ou não acabar, 
sabemos que podemos diminuir o nosso sofrimento. 
13 
REFERÊNCIAS 
BARROSO, S. M.; SILVA, M. A. Reforma Psiquiátrica Brasileira: o caminho da 
desinstitucionalização pelo olhar da historiografia. Rev. SPAGESP, Ribeirão 
Preto, v. 12, n. 1, p. 66-78, jun. 2011. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Práticas Integrativas e Complementares (PICS): 
quais são e para que servem. Brasília-DF, 2013. Disponível em: 
<https://saude.gov.br/saude-de-a-z/praticas-integrativas-e-complementares>. 
Acesso em: 2 abr. 2020. 
CORDIOLI, A. V.; KNAPP, P. Cognitive-behavioral therapy in the treatment of 
mental disorders. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 30, n. 2, p. 51-53, out. 
2008. 
FERNANDES, R. T. Receber tratamento de acupuntura no Sistema Único de 
Saúde: narrativas sobre as experiências. 158 f. Dissertação (Mestrado) – Escola 
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FREITAS, F.; AMARANTE, P. Medicalização em psiquiatria. Editora 
FIOCRUZ, 2017. 
GALI, K. S. B. et al. Saúde e equilíbrio através das terapias integrativas: Relato 
de experiência. Revista de Enfermagem, v. 8 n. 8, p. 245-255, 2012. 
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