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SÍNDROME METABÓLICA

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1)	Revisar a síndrome metabólica; *tratamento da síndrome metabólica (consenso brasileiro de síndrome metabólica);
A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência a insulina. É importante destacar a associação da SM com a doença cardiovascular, aumentando a mortalidade geral em cerca de 1,5 vezes e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes.
A definição da OMS preconiza como ponto de partida a avaliação da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, o que dificulta a sua utilização. A definição do NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico e não exige a comprovação de resistência à insulina, facilitando a sua utilização.
Para a World Health Organization (WHO), a resistência à insulina deve ser identificada pela presença de uma das seguintes alterações do metabolismo glicídio: diabetes mellitus tipo 2, glicose de jejum alterada ou teste de tolerância à glicose alterada e, ainda mais, a presença de 2 dos seguintes fatores de risco: uso de anti- hipertensivos e/ou pressão arterial ≥140/90mmHg, triglicerideos ≥150mg/dL, colesterol HDL30kg/m2 ou relação cintura quadril >0,9 para homens e >0,85 para mulheres, excreção urinária de albumina >20μg/min. Esta classificação apresenta uma complexidade muito grande para ser realizada em um país como o Brasil, com diferentes níveis de desenvolvimento socioeconômico e cultural.
NCEP–ATP III: presença de 3 dos 5 fatores de risco é bastante para o diagnóstico da SM. A demonstração de resistência insulínica não é um requisito necessário para o diagnóstico da SM, mas a sua presença pelo critério da ATP III está presente na maioria dos indivíduos, principalmente quando a obesidade abdominal está presente. Pela sua simplicidade e praticidade é a definição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (I-DBSM).
A I-DBSM recomenda que para os componentes – pressão arterial e triglicerídeos–, o uso de medicação anti-hipertensiva ou de hipolipemiantes, assim como diagnóstico prévio de diabetes, preencham os critérios específicos.
Fatores de risco:
· História clínica - idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policísticos (SOP), doença hepática gordurosa não-alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteróides, betabloqueadores, diuréticos).
· A predisposição genética, a alimentação inadequada e a inatividade física estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento da SM.
· Peso e estatura. Devem ser utilizados para o cálculo do índice de massa corporal através da fórmula: IMC = Peso/Altura2.
· Exame da pele para pesquisa de acantose nigricans. Examinar pescoço e dobras cutâneas.
· Exame cardiovascular.
· Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDL-colesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria, proteína C reativa, TOTG (glicemia de jejum e após duas horas da ingestão de 75g de dextrosol), eletrocardiograma. A presença de LDL aumentado não faz parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, porém, frequentemente, os pacientes portadores de resistência à insulina e síndrome metabólica apresentam aumento da fração pequena e densa do LDL colesterol que tem um potencial aterosclerótico maior.
Tratamento: 
A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica.
Para o consumo de bebidas alcoólicas, o limite máximo recomendado é de 30 g de etanol ao dia para o sexo masculino e metade para as mulheres.
HIPERTENSÃO
O tratamento medicamentoso da hipertensão arterial na síndrome metabólica tem como objetivo reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovascular e renal, além de prevenir o agravamento metabólico. Esses benefícios podem ser alcançados em pacientes tratados com diuréticos, inibidores adrenérgicos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II (BRA), antagonistas de canais de cálcio e vasodilatadores diretos. Deve-se considerar o tratamento farmacológico da hipertensão arterial nela presente a partir de 140/ 90mmHg ou 130/85mmHg na presença de diabetes mellitus.
Redução da pressão arterial para cifras inferiores a 130mmHg/ 85mmHg pode ser útil em pacientes com elevado risco cardiovascular. Nos pacientes diabéticos, recomenda-se reduções da pressão arterial para níveis inferiores a 130/80mmHg e para os pacientes com proteinúria maior que 1g/24h, cifras inferiores a 120/75mmHg deverão ser a meta.
Diuréticos = a redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular, inclusive em pacientes com diabetes. FUROSEMIDA, HCTZ.
IECA = reduzem a morbidade e a mortalidade cardiovascular dos pacientes hipertensos com síndrome metabólica e elevado risco para doença aterosclerótica; dos pacientes com doenças cardiovasculares e ainda retardam o declínio da função renal em pacientes com nefropatia diabética. ENALAPRIL, CAPTOPRIL.
Antagonistas do receptor AT1 da angiotensina II = São reconhecidamente nefro e cardioprotetores nos pacientes diabéticos do tipo 2 com nefropatia estabelecida. LOSARTANA, VALSARTANA.
Antagonistas dos canais de cálcio = não provocam alterações no metabolismo lipídico e no de carboidratos. ANLODIPINO, HIDRALAZINA.
Betabloqueadores = redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular. PROPANOLOL, ATENOLOL
DIABETES
Medicamentos que não aumentam a secreção de insulina/ anti-hiperglicemiantes: metformina (biguanida), a rosiglitazona e pioglitazona (tiazolidinedionas ou glitazonas) e a acarbose (inibidor da alfa-glicosidase).
Medicamentos que aumentam a secreção de insulina/ hipoglicemiantes: sulfoniluréias que desenvolvem uma ação hipoglicemiante mais prolongada (clorpropamida, glibenclamida, gliclazida, glipizida, e glimepirida). 
Na maioria das vezes, é verificado no início clínico do diabetes, a presença de obesidade, hipertrigliceridemia, HDL colesterol baixo, hipertensão arterial, entre outros estigmas observados na síndrome metabólica. Eles indicam a presença de resistência à insulina e, neste caso, são mais apropriadas as drogas anti-hiperglicemiantes, que irão melhorar a atuação da insulina endógena, com melhor controle metabólico, evitando ganho ponderal excessivo. Já a associação perda de peso e hiperglicemia, revela a deficiência de insulina.
Na fase 1, período inicial do DM tipo 2 caracterizado por obesidade com insulino-resistência, a melhor indicação são os medicamentos que não aumentam a secreção de insulina. Na fase 2, com diminuição de secreção de insulina, é correta a indicação de um secretagogo, que pode entrar ou em combinação ou em monoterapia. Na fase 3, com a progressão da perda de secreção da insulina, é necessário associar aos agentes orais, uma injeção de insulina de depósito, antes de o paciente dormir. Por fim, na fase 4, quando predomina a insulinopenia, o paciente deve receber pelo menos duas aplicações de insulina de depósito, NPH ou lenta: uma antes do desjejum e a outra antes do jantar ou ao dormir, isoladas ou combinadas com uma insulina rápida ou ultra-rápida. Nesta fase 4, um agente oral sensibilizador combinado no tratamento pode reduzir as doses de insulina e auxiliar na melhora do controle metabólico.
DISLIPIDEMIA = caracteriza-se pela presença de níveis baixos de HDL-colesterol e níveis elevados de triglicérides.
Nos pacientes com concentração de triglicérides 200mg/dL é importante calcular o colesterol não-HDL (CT – HDL). Este parâmetro reflete o colesterol carregado pelas lipoproteínas aterogênicas, englobando a LDL, a VLDL e seus remanescentes.
As estatinasdevem ser consideradas como medicamentos de primeira escolha no tratamento da dislipidemia da síndrome metabólica devido à existência de maiores evidências relacionando-as à redução da morbimortalidade cardiovascular. Agem inibindo a HMG-CoA redutase, reduzindo a síntese de colesterol e aumentando a expressão hepática dos receptores da LDL e, consequentemente, a captação dessa lipoproteína e das VLDL pelo hepatócito. Além disso, bloqueiam a síntese hepática de triglicérides.
Nas dislipidemias mistas, com triglicérides abaixo de 500mg/dL, as estatinas devem ser utilizadas em doses acima de 20mg. Assim, havendo hipertrigliceridemia importante (acima de 500mg/dL), os fibratos ou a niacina (ácido nicotínico) deverão ser preferidos. Quando apesar do uso dos fibratos ou niacina as metas de LDL- colesterol não forem alcançadas, pode-se utilizar a associação de fibratos e estatinas, ou estatinas e niacina.
Fibratos São medicamentos derivados do ácido fíbrico que agem como agonistas do PPAR-alfa, modulando genes que aumentam a expressão da lipase lipoproteica, apolipoproteína AI e AII e reduzindo a apolipoproteína CIII. Como resultado, há uma redução da trigliceridemia (20% – 50%) e elevação do HDL-colesterol (10% – 20%)173, podendo também reduzir os níveis de LDL, principalmente a fração pequena e densa. A redução na trigliceridemia é maior do que aquela alcançada com as estatinas, situando-se entre 20% e 50%.
Ezetimiba É um inibidor seletivo da absorção de colesterol que age na borda em escova do intestino delgado. Sua principal indicação é para pacientes intolerantes ao uso de estatinas, ou em associação a estas. A posologia sugerida é de 10mg/dia.
Dosagens de CK devem ser realizadas em um, três e seis meses após o uso das estatinas e fibratos. Caso os pacientes estejam estáveis, podem ser repetidas a cada seis meses. 
2)	Entender a obesidade; 
a)	Definição: 
Caracteriza-se por gordura corporal anormal ou excessiva, com prejuízos à saúde.
b)	Epidemiologia:
Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos no mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade (Índice de Massa Corporal (IMC) ≥30 kg/m²). No Brasil a obesidade aumentou 67,8% nos últimos treze anos, a maior taxa de crescimento foi entre adultos de 25 a 34 anos (84,2%) e de 35 a 44 anos (81,1%). Entre homens, a frequência dessa condição aumentou com a idade até os 44 anos e com baixa escolaridade. Entre as mulheres, a frequência do excesso de peso aumentou com a idade até os 64 anos e diminuiu notavelmente com o aumento da escolaridade.
c)	Etiologia/Fatores de Risco: 
Multifatorial. Resulta de diversos fatores complexos como genética, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais.
d)	Quadro Clínico:
O distúrbio do peso corpóreo (obesidade) é fator de risco para diversas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como DM2, doença da vesícula biliar, hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e gota; além de contribuir para o aumento dos riscos cardiometabólicos, uma vez que facilita o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e diversos tipos de câncer (cólon, rim e esôfago –ambos sexos – e endométrio e mama nas mulheres). Além do exposto, a maioria dos indivíduos obesos apresentam preconceito generalizado de peso e estigma, assim, afetam negativamente a saúde física e psicológica contribuindo para o desenvolvimento de quadros depressivos que dificultam os cuidados com a saúde, aumentando a prevalência e agravando o cenário e suas variáveis.
e)	Diagnóstico:
Associa-se ao cálculo do IMC a medida do perímetro da cintura, tendo em vista sua correlação com a distribuição da gordura corporal e gordura intra-abdominal e, consequentemente, ao maior risco cardiometabólico. A medida é obtida com uso de fita métrica, mensurando-se a região localizada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. Na impossibilidade de se identificar essa região, a medida é feita a 2 cm acima da cicatriz umbilical.
f)	Tratamento não farmacológico: 
O planejamento dietético baseia-se no estabelecimento de hábitos e práticas relacionados à escolha dos alimentos, comportamentos alimentares, adequação do gasto energético e redução da ingestão energética que terão que ser incorporados a longo prazo. Um programa que inclui 30 minutos de caminhada pelo menos 3 vezes por semana é o mais recomendado.
g)	Tratamento Farmacológico:
Recomenda-se o uso de medicamentos nos indivíduos portadores de síndrome metabólica com obesidade (IMC≥30kg/m2) ou com excesso de peso (IMC entre 25kg/m2 e 30kg/m2) desde que acompanhado de comorbidades e que não tenham perdido 1% do peso inicial por mês, após um a três meses de tratamento não medicamentoso(redução de 5% do peso corporal).
Sibutramina: Sua ação farmacológica se dá por meio do aumento da atividade noradrenérgica no hipotálamo e na periferia, mais especificamente através da inibição da recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina, responsáveis pelos efeitos anorexigênicos do fármaco, o aumento do gasto de energia e saciedade precoce.
Efeitos colaterais: boca seca, constipação intestinal, insônia, irritabilidade e cefaléia. Aumentos médios de pressão arterial sistólica e diastólica e de freqüência cardíaca também têm sido relatados.
Orlistate: trata-se de um inibidor da lipase pancreática que age reduzindo a absorção intestinal de gordura em cerca de um terço, estando disponível no mercado desde 1999. Visto que a lipase pancreática é a principal enzima que decompõe os triglicerídeos da dieta, ao diminuir as lipases ativas no trato gastrointestinal, as gorduras da dieta não podem mais ser hidrolisadas em ácidos graxos livres absorvíveis e monogliceróis e são excretadas como triglicerídeos nas fezes. Mostrou-se eficiente na perda e manutenção do peso, além de promover mudanças favoráveis nos fatores de risco cardiovasculares ligados a obesidade, contribuindo com redução da glicemia de jejum, da circunferência abdominal e melhora do perfil lipídico.
Liraglutida: Agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), a liraglutida atua a nível central, agindo diretamente sobre áreas ligadas ao controle do balanço energético e nos circuitos de recompensa e prazer. O GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1) é um hormônio endógeno produzido principalmente pelas células enteroendócrinas L no íleo e cólon em resposta à ingestão alimentar. Os níveis plasmáticos de GLP-1 aumentam minutos após a refeição, estimulando a secreção de insulina, diminuindo a secreção de glucagon do pâncreas, diminuindo a gliconeogênese hepática e melhorando a sensibilidade à insulina. Os tecidos do sistema cardiovascular, sistema nervoso central e sistema gastrointestinal também contêm receptores de GLP-1, e este é conhecido por retardar o esvaziamento gástrico e promover saciedade. O GLP-1 atravessa a barreira hematoencefálica e, dentro do hipotálamo, afeta a regulação do apetite ao influenciar os sinais de saciedade. Também há evidências dos efeitos do GLP-1 sobre o gasto de energia que favorecem a oxidação de gordura em comparação com carboidratos.
Lorcaserina: A lorcaserina é um agonista do receptor 2C da serotonina aprovado para o tratamento da obesidade em 2012. Seu mecanismo de ação proposto é a ativação seletiva dos receptores 2C da serotonina nos neurônios anorexigênicos no hipotálamo, inibindo a estimulação do apetite e promovendo a saciedade, embora seu mecanismo exato permaneça indefinido.
Drogas de uso off-label: De acordo com o CFM, o uso de medicamentos sem indicação formal é ético quando houver evidência de potencial benefício para o tratamento da doença e quando a terapia padrão for inadequada. Hoje, as drogas usadas em off-label para o tratamento da obesidade são: topiramato, associação de bupropiona e naltrexona e dimesilato de lisdexanfetamina.
Fluoxetina e outros inibidores da recaptação de serotonina: Alguns inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina e sertralina), usados paratratar depressão, podem proporcionar efeito de perda de peso, embora não tenham indicação formal no tratamento de obesidade.
3)	Compreender a cirurgia bariátrica:
a)	Indicações/Contraindicações:
· A cirurgia deve ser considerada para o paciente obeso mórbido (IMC >40kg/m2), ou obeso com IMC >35 kg/m² desde que apresente comorbidades clínicas importantes (DM2, apneia obstrutiva do sono, HAS,hiperlipidemia);
· Tratamento clínico prévio ineficaz com acompanhamento regular e duração mínima de dois anos;
· Obesidade estável há pelo menos cinco anos (o paciente deve permanecer na mesma faixa/grau de obesidade, para impedir que pacientes negligenciem o tratamento a fim de preencher critérios de indicação cirúrgica).
PRÉ-REQUISITOS:
· Idade entre 18 e 65 anos*; 16 caso haja risco de vida.
· Compreensão por parte do paciente e da família de todos os riscos e consequências do tratamento cirúrgico e pós-cirúrgico; 
· Suporte familiar constante;
· O paciente deve ser selecionado para a cirurgia, após cuidadosa avaliação por equipe multidisciplinar especializada e composta por endocrinologistas ou clínicos, intensivistas, cirurgiões, psiquiatras ou psicólogos e nutricionistas. 
CONTRA INDICAÇÃO:
· Pacientes com obesidade decorrente de doenças endócrinas;
· Jovens cujas epífises dos ossos longos ainda não estão consolidadas, isto é, ainda em fase de crescimento longitudinal;
· Indivíduos com distúrbios psicóticos ou demências graves ou moderadas;
· Indivíduos com história recente de tentativa de suicídio;
· Dependentes químicos (álcool e outras drogas).
b)	Tipos/Técnicas:
· Restritiva: São técnicas que reduzem a capacidade gástrica, levando à sensação de saciedade com menor quantidade de alimento. O volume gástrico é reduzido através de uma linha de grampeamento, que pode ser vertical ou horizontal. A parte do estômago excluída do trânsito alimentar pode ser amputada ou permanecer em seu sítio anatômico. 
GASTRECTOMIA VERTICAL = A gastrectomia vertical (gastrectomia em manga, gastrectomia longitudinal, gastrectomia sleeve) funciona com uma restrição gástrica, com remoção de 70% a 80% do estômago proximal ao antro, assim como um componente hormonal associado (redução da grelina).
As vantagens são: não exclui o duodeno do trânsito alimentar, portanto não interfere com o sítio de absorção de ferro, cálcio, zinco e vitaminas do complexo B. Pode ser transformada, em caso de insucesso, num procedimento com algum componente disabsortivo como o bypass gástrico em Y de Roux e a derivação bilio-pancreática com duodenal switch. Permite acesso às vias biliares e pancreática por métodos endoscópicos habituais. 
· Disabsortiva: Essas cirurgias de derivação jejuno-ileal e suas variantes estão sendo cada vez menos realizadas em vista da alta incidência de complicações metabólicas e nutricionais a longo prazo. O princípio fundamental das mesmas é a perda, pelas fezes, dos macronutrientes ingeridos. As complicações ocorrem pela grande quantidade de intestino desfuncionalizado, que leva a um supercrescimento bacteriano no extenso segmento intestinal excluído, provocando alta incidência de complicações digestivas tais como diarréia, cirrose, pneumatose intestinal e artrites. As técnicas de cirurgia bariátrica disabsortivas são aquelas que não fazem grandes alterações no tamanho e na capacidade de armazenagem do estômago. No entanto, há uma grande alteração na absorção dos alimentos no intestino delgado. 
· Mista: As cirurgias mistas para tratamento de obesidade mórbida associam restrição e disabsorção de nutrientes em maior ou menor grau pelo intestino, dependendo da técnica empregada e da extensão do intestino delgado excluído do trânsito alimentar, levando a perdas ponderais significativas. Além disso, essas cirurgias têm efeitos independentes da perda de peso ao modificar a produção de hormônios gastrintestinais, cujos efeitos podem afetar a saciedade e a produção de insulina. As técnicas mistas, por sua vez, são aquelas mais realizadas atualmente, tanto no Brasil quanto no mundo. Isso porque restringem a quantidade de alimento armazenada pelo estômago, e também é realizado um pequeno desvio do intestino. Assim, a manutenção do peso perdido em longo prazo é mais eficiente. A técnica do bypass gástrico é a cirurgia mais realizada dentre as cirurgias mistas.
CIRURGIAS MISTAS COM MAIOR COMPONENTE DISABSORTIVO São procedimentos que envolvem menor restrição da capacidade gástrica, o que permite maior ingestão alimentar, com predomínio do componente disabsortivo. Cirurgia de derivação bílio-pancreátrica com gastrectomia vertical e preservação do piloro (cirurgia de duodenal switch). Ocorrem modificações funcionais e hormonais do tubo digestivo, com efeitos benéficos adicionais sobre o controle ou reversão das co-morbidades metabólicas, em especial sobre o diabetes mellitus tipo 2 e a dislipidemia. 
As vantagens são: menor restrição da ingestão alimentar; muito eficazes em relação à perda de peso e manutenção a longo prazo. O reservatório gástrico é completamente acessível aos métodos de investigação radiológica e endoscópica.
As desvantagens são: mais sujeitos às complicações nutricionais e metabólicas de controle mais complexo, tais como deficiência de vitaminas lipossolúveis, deficiência de vitamina B12, cálcio, e ferro; desmineralização óssea; úlcera de boca anastomótica; aumento do número de evacuações diárias, com fezes e flatos muito fétidos.
TÉCNICAS CIRÚRGICAS DE INTERPOSIÇÃO ILEAL Também denominada de “freio endócrino”, tem como efeitos a melhora do perfil de liberação de hormônios gastrointestinais que agem melhorando a função pancreática, diminuição de hormônios orexígenos (estimulante do apetite, ex. grelina) e aumento dos hormônios anorexígenos (neuropeptídeo YY e GLP-1). O bypass gástrico em Y de Roux atua inicialmente como operação restritiva, levando a saciedade precoce. A exclusão de parte do segmento estômago-duodeno-jejunal, leva a diminuição dos níveis pós-prandiais de grelina, diminuindo ainda mais o apetite. A presença mais precoce do alimento no íleo terminal leva a maior produção de PYY e GLP-1, diminuindo a ingestão alimentar e otimizando o metabolismo glicoinsulínico, representando importante efeito antidiabetogênico dessa cirurgia. 
c)	Orientações pré/pós-operatórias:
O planejamento da introdução alimentar deve seguir protocolos padrão com variações individuais de acordo com a tolerabilidade (pequenas quantidades com intervalos curtos, deglutição lenta, progressão de líquidos para pastosos, semi-sólidos e posteriormente sólidos). Na maioria dos casos com boa evolução clínica, a alta hospitalar poderá ser feita após 2 ou 3 dias da cirurgia. Após a alta deve ser reiterada a importância do controle ambulatorial frequente (a cada 7-15 dias) até que a cicatrização seja completa, a dieta esteja satisfatória e o paciente sinta-se completamente recuperado. Depois desse período (geralmente 30 dias) o paciente deverá entrar em um programa de controle nutricional e clínico periódicos por toda a vida. A Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica recomenda a realização de testes laboratoriais após 3 e 6 meses após a CB, e posteriormente, anualmente. São eles: hemograma, eletrólitos, glicose, ferro, ferritina, vitamina B12, tiamina, hepatograma, albumina, perfil lipídico, 25(OH) vitamina D, paratormônio, ácido fólico, zinco, cobre.
A suplementação nutricional acontece por volta da terceira ou quarta semana após a cirurgia, sendo indicado um complexo vitamínico, inclusive das vitaminas do tipo B. No caso das mulheres, também pode ser adicionada a suplementação de vitamina D e cálcio.
A cirurgia bariátrica promove uma grande mudança na vida da pessoa, por isso, é importante fazer o acompanhamento psicológico depois de se submeter a essa técnica. Haverá uma nova forma de se alimentar, a perda de peso será rápida, o corpo modificará bastante, entre outros aspectos que podem abalar o emocional. O suporte psicológico ajuda o paciente a enfrentar possíveis dificuldades e inseguranças que esteja sentindo. Também oferece suporteno enfrentamento da ansiedade, de possíveis compulsões alimentares, depressão, ou qualquer outro quadro que venha se manifestar, ou exista o risco de acontecer.
d)	Complicações pós-operatórias: *Fístulas, deficiências nutricionais e de vitaminas.
As complicações cirúrgicas precoces são: hemorragia com ou sem necessidade de nova intervenção, estenose, ulceração, herniação. A formação de fístulas, apesar de menos frequentes (0,5 a 3%), são de especial interesse devido à gravidade potencial desses eventos. A fístula tem diagnóstico difícil, por vezes o paciente pode apresentar a princípio apenas taquicardia, dispnéia, derrame pleural e mais tardiamente a peritonite. A estenose da anastomose gastrojejunal é mais frequente quando se usam grampeadores circulares e pode ser tratada através da dilatação endoscópica. A hérnia incisional é mais frequente após a cirurgia aberta (24%) que na videolaparoscópica (0 a 1,8%).
O tromboembolismo venoso com embolia pulmonar é uma das complicações clínicas precoces mais graves, tendo sua incidência reduzida com medidas preventivas no pós operatório imediato (botas compressivas, anticoagulantes, mobilização precoce). Outras complicações respiratórias são as atelectasias e infecções respiratórias, sendo mais comum em idosos ou portadores de hipoventilação. A atelectasia é relativamente comum e relacionada à presença de apneia obstrutiva do sono, ao tipo de anestesia utilizada e tempo de duração. 
As complicações cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca também são causa comuns de morte no período pré-operatório. O desenvolvimento de colelitíase é frequente após a rápida perda de peso decorrente da CB, com relato de 38% após 6 meses da cirurgia e até 41% em pacientes assintomáticos.
Frequentemente pacientes submetidos à CB apresentam aumentos nos níveis de enzimas musculares (creatino fosfoquinase / CPK), embora poucos refiram sintomas como dor muscular, sendo, portanto, uma complicação pouco diagnosticada. O aumento significativo da CPK, geralmente 5 vezes o valor de normalidade, configura uma condição denominada de rabdomiólise, que eventualmente pode evoluir para insuficiência renal. A ocorrência de insuficiência renal é rara. Alguns fatores estão associados com maior lesão muscular, tais como maior IMC e maior tempo cirúrgico (>4h). 
A Síndrome de Dumping, ou esvaziamento gástrico rápido, é complicação relativamente comum (algumas série reportam até 80%) após o bypass. Apresenta-se com sintomas que aparecem até 30 minutos após uma refeição usualmente rica em carboidratos/açúcar, tais como: náuseas, vômitos, diarréia, tonteiras, taquicardia ou mesmo síncope. Esses sintomas podem melhorar com uma modificações dietéticas. 
Os distúrbios nutricionais e eletrolíticos, assim como os sintomas gastrointestinais, são relativamente comuns e ocorrem mais frequentemente após as técnicas com maior componente disabsortivo. Os pacientes são mais susceptíveis a apresentar deficiências de ferro, cálcio, zinco, selênio, cobre e de vitaminas B12, D, C e K. Essas complicações ocorrem com maior frequência após as técnicas disabsortivas ou mistas. Também podem ocorrer após as técnicas restritivas, porém com menor frequência e decorrentes da baixa ingestão desses nutrientes ou vômitos frequentes. É descrita a ocorrência de hiperparatireoidismo secundário à diminuição da absorção de cálcio e vitamina D, principalmente após o bypass, com possibilidade de diminuição da massa óssea em longo prazo. Recomenda-se o monitoramento dessas deficiências com indicação de reposição via oral desses nutrientes com acompanhamento clínico por toda a vida no sentido de minimizar outras complicações a longo prazo (anemia, desnutrição proteica, osteopenia).

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