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Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva CICATRIZAÇÃO FERIDAS E CICATRIZAÇÃO Cicatrização = processo imunocelular e bioquímico, visa reestruturar integridade da pele Ferida = ruptura da estrutura normal da pele e do tecido adjacente comprometendo sua função. Pode ser classificada de acordo com: Tempo: classificada em aguda ou crônica de acordo com tempo que demanda para concluir processo de cicatrização, o qual varia de acordo com fatores como local da ferida, forma, causa, idade e condição física do paciente. Aguda: evoluem em processo reparador ordenado e cronológico para atingir restauração permanente da estrutura e da função Crônica: não evolui para restauração da integridade funcional, persiste na fase inflamatória devido variedade de causas, e não evolui para o fechamento OBS: por exemplo, feridas em face, lineares, com bordas regulares e em jovem cicatrizam mais rápido que feridas em MMII, circulares, de bordas maceradas ou, ainda, em idoso. Profundidade Erosões/exulcerações: feridas atingem apenas epiderme. Ocorre reparação completa da pele a um estado estrutural e funcional semelhante ao de pré- injúria (regeneração) Úlceras rasas/lesões de espessura parcial: acomete parcialmente derme. Os anexos da pele ainda viáveis funcionam como fonte de queratinócitos que migram dessas estruturas, além das bordas, para formar nova epiderme Lesões de espessura total: acomete toda a derme. Os anexos cutâneos são destruídos e a única fonte de queratinócitos são as bordas da lesão, além de que reparação não regenera anexos, apenas substitui eles por tecido cicatricial Grau de contaminação: importante para analisar a necessidade de tratamento com ATB e o risco de desenvolvimento de infecção Limpas: produzidas em ambiente cirúrgico (sem abertura de sistemas digestório, respiratório, outros). Ausência de sinais infecciosos, tem probabilidade baixa de infecção (1 a 5%) Limpa-contaminada (potencialmente contaminadas): presença de contaminação grosseira como nas causas por facas de cozinha ou cirurgias com abertura de sistema respiratório. O risco de infeção varia 3 a 11% Contaminadas: há reação inflamatória, feridas com mais de 6h após ato resultante. Além das feridas que tiveram contato com material como fezes, terra etc. Risco de infecção varia de 10 a 17% Infectadas: ferida com sinais nítidos de infecção Agente causal: há diversas formas, entre as principais Incisas ou cirúrgicas: produzidas por agente cortante, comprimento > profundidade Contusas: produzidas por objeto rombo Lacerantes: produzidas por tração, apresenta margens irregulares Perfurantes: pequenas aberturas na pele com profundidade > comprimento Tratamento: objetivos principais do tratamento das feridas são fechamento rápido da lesão e cicatriz resultante funcional e esteticamente satisfatória Tipos de cicatrização 1ª intenção: bordas próximas, perda mínima de tecido, ausência de infecção. Ferimento suturado manualmente. Um pequeno espaço morto resta para ser preenchido com tecido de granulação 2ª intenção: não há aproximação das bordas devido grande perda tecidual, geralmente são feridas crônicas. É formado grande quantidade de tecido de granulação, logo o tempo de reparação é aumentado pelo prolongamento das fases de cicatrização. No final, geralmente há cicatriz exuberante 3ª intenção: intencionalmente a ferida é mantida aberta para permitir a redução de edema ou de infecção ou para permitir a remoção de algum exsudato através de drenagem. Podem cicatrizar por 3ª intenção ou 1ª intenção tardia FASES DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO Há autores que dividem o processo de cicatrização em 3 fases (inflamatória, proliferativa e remodelagem), enquanto outros em 5 (hemostasia, inflamação, migração celular e proliferação, síntese proteica e contração da ferida, remodelagem) OBS: processo de cicatrização é dinâmico, a distinção entre as fases é apenas conceitual Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva Fase inflamatória Inicia na hora da lesão (reação imediata do tecido à lesão), ocorrem hemostasia e inflamação Duração: 0-5 dias Objetiva: tentar limitar o dano mediante parada do sangramento, selamento da superfície da ferida e remoção de qualquer tecido necrótico, resíduos ou bactérias. Além da restauração dos mecanismos de defesa locais Protagonistas: plaquetas e macrófagos Caracterizada: maior permeabilidade vascular, migração de células para ferida por quimiotaxia, secreção de citocinas e FC na ferida, ativação das células migrantes Eventos: vasoconstrição, acúmulo ou agregação de plaquetas, depósito de fibrina e coagulação, migração de leucócitos e ativação celular Hemostasia: estabelecida após resposta molecular e celular iniciada com extravasamento de hemácias e outros componentes do meio intravascular em resposta a qualquer trauma significativo que ocasiona lesão de vasos sanguíneos Vasoconstrição: 1ª etapa da fase inflamatória, visa estabelecer a hemostasia. Processo imediato e inicial que cessa 10-15 min após a lesão. Iniciado pela liberação de aminas vasoativas (norepinefrina), além disso ocorre vasoespasmo intramural reduzindo sangramento Além de epinefrina e norepinefrina, são liberadas prostaglandinas (como tromboxano), secretadas pelas células lesadas, que também contribui para a vasoconstrição OBS: epinefrina é liberada na circulação periférica, enquanto o estímulo do sistema nervoso simpático resulta em liberação local de norepinefrina Em seguida, por ação da histamina liberada por mastócitos e basófilos locais, há vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular com extravasamento de componentes do sangue para o espaço extracelular, ocorrendo também bloqueio da drenagem linfática local, resultando nos sinais típicos de inflamação OBS: primeiras células que chegam ao local são plaquetas Acúmulo ou agregação de plaquetas: ao entrarem em contato com colágeno exposto pelo endotélio lesão e com proteínas da MEC, as plaquetas se ativam e se aderem ao local do dano vascular formando o tampão plaquetário- hemostasia primária. Esse processo envolve receptores de superfície das plaquetas, fibrinogênio, fibronectina e fator de von Willebrand A aderência plaquetária é estimulada pelos fatores tissulares (como trombina) liberados pelas células endoteliais lesadas e aminoácidos do colágeno subendotelial exposto. Ocorre também a deagranulação plaquetária com liberação de: - Grânulos alfa: contêm vários fatores imunomoduladores e peptídeos envolvidos na fase precoce e tardia da cicatrização. Dentre esses FC liberados, PDGF, TGF-β, e FGF-2 são os mais importantes para a cicatrização. Por exemplo, PDGF relaciona-se com a atração e ativação de macrófagos e fibroblastos - Corpos densos: contêm componentes que proporcionam energia necessária ao processo cicatricial (Ca, serotonina, ADP e ATP). Alguns destes componentes também estão envolvidos no desencadeamento da cascata intrínseca da coagulação ADP e trombina recrutam plaquetas adicionais para o local da lesão, resultando na agregação plaquetária e na formação do tampão de plaquetas OBS: Trombocitopenia e função plaquetária anormal (como secundária ao uso de AAS) podem interferir com este processo - Lisossomas Concomitantemente, as células endoteliais produzem prostaciclinas, que inibem a agregação plaquetária e, assim, limitam a extensão da adesão plaquetária à área da lesão Depósito de fibrina e coagulação: ao mesmo tempo que o processo anterior, as proteínas expostas com a lesão do endotélio ativam o fator XII de Hageman do plasma, desencadeando a via intrínseca da coagulação. Do mesmo modo, o fator tissular (se liga ao fator VII ou VIIa) presente nos tecidos lesados e nasplaquetas inicia a via extrínseca. Juntas, as vias agem formando a trombina, que catalisa a conversão de fibrinogênio em fibrina, levando à formação de um coágulo de fibrina que irá selar a solução de continuidade dos vasos lesados, resultando na hemostasia secundária A formação do coágulo é importante, pois, além de permitir o acúmulo de substâncias quimiotáxicas e miogênicas no local da ferida, previne maior perda de líquidos e eletrólitos e limita a contaminação a partir do meio exterior, pela união das margens da ferida OBS: trombina estuma aumento da permeabilidade vascular, facilitando migração de células inflamatórias OBS: cascata intrínseca não é requerida para cicatrização normal, pois na ausência de hemorragia as plaquetas não são essenciais A fibrina forma a rede que estabiliza o tampão plaquetário, sendo o componente-chave da matriz provisória da ferida, que se desenvolve precocemente após a lesão. A fibrina é recoberta pela vitronectina, derivada do soro e das plaquetas agregadas, facilitando a ligação de fibronectinas, que são produzidas por fibroblastos e células epiteliais As fibronectinas constituem o 2º componente da matriz provisória precoce da ferida. Suas moléculas apresentam inúmeros locais de ligação para adesão celular, que são essenciais para a migração celular ao longo da matriz A matriz de fibrina-fibronectina também captura citocinas circulantes para uso nos estágios iniciais da cicatrização OBS: formação inadequada de fibrina prejudica a cicatrização da ferida, como é observado na deficiência de fator XIII (fator estabilizador de fibrina), prejudicando adesão celular e quimiotaxia. Qualquer Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva processo que remova fibrina da ferida transtornará a formação da MEC e, por conseguinte, retardará a cicatrização Inflamação Migração de leucócitos: ferida já tem sinais flogísticos (eritema, edema, calor e dor), devido vasodilatação e permeabilidade vascular. Nessa fase, já há maior permeabilidade vascular e migração sequencial de leucócito para o espaço extravascular Os mediadores liberados pelas plaquetas ativadas, fator transformador de crescimento beta (TGF-β), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), tromboxanos e fator ativador de plaquetas (PAF), difundem-se pela ferida orientando a migração das células envolvidas com a resposta inflamatória Através da quimiotaxia observa-se migração de neutrófilos para a ferida, sendo os primeiros a chegar do sistema linfocítico fagocitário (pico 24 a 48 horas), sendo o tipo celular predominante entre o 1º e 2º dias. Tem função de barreira e eliminação de microrganismo por fagocitose Monocitos migrantes (macrófagos) surgem entre 48 a 96 horas depois a lesão atinge o pico no 3º dia (2º ao 5º dia). Apresentam antígenos aos linfócitos T auxiliares, produzem mediadores lipídicos, como citocinas e FC, além de contribuírem na angiogênese, fibroplasia e síntese de matriz extracelular, são fundamentais para a transição para a fase proliferativa. Linfócitos surgem no 5º dia com pico no 7º dia. Apresentam ação secundária a dos macrófagos Ativação celular: leucócitos e células que participam da cicatrização requerem ativação A liberação inicial e transitória de fatores provenientes das plaquetas, assim como IL-2 e INF- gama, derivados de linfócitos T, constituem importantes estímulos para a ativação dos macrófagos. Além disso, a fagocitose de produtos celulares, como fibronectina ou colágeno, contribui para sua ativação Macrófagos são ativados para produção de FC através da combinação de hipóxia, pH baixo e alta concentração de ácido lático, consequências do aporte de O2 insuficiente Na ausência de infecção, a fase inflamatória é curta OBS: depois de ativados, macrófagos e neutrófilos iniciam desbridamento celular da ferida, por fagocitose de bactérias e material estranho. Eles possuem receptores de superfície que permitem o reconhecimento, ligação e fagocitose de elementos estranhos Fase proliferativa (fibroplasia) O ambiente celular nas feridas altera-se profundamente na primeira semana após a lesão aguda. A matriz de fibrina-fibronectina, inicialmente povoada por células inflamatórias, com a progressão passa a exibir fibroblastos e células endoteliais O restabelecimento da superfície epitelial também é iniciado dentro dos primeiros dias depois da lesão, assim como a revascularização da área lesada. Em todo este processo, as citocinas continuam a desempenhar papel fundamental Duração: 3-14 dias Eventos: reepitelização, migração de fibroblastos, formação de tecido de granulação, angiogênese, síntese proteica, contração da ferida Reepitelização: restabelece a barreira da pele, através das células basais nas bordas da ferida que se proliferam para o lado da fenda até que haja a inibição por contato. Início imediato após lesão Induzida por citocinas, FC e queratinócitos. Se membrana basal intacta, as células só se sobrepõem (ocorre entre 24 e 48h após lesão). Caso, membrana basal danificada, há secreção de tenasina, vitronectina e colágenos I e V, as células migram sobre a matriz provisória de fibrina-fibronectina, com isso a membrana basal vai se regenerando para formar a neoepiderme Durante as primeiras 24 h pós-lesão, células basais presentes nas bordas da ferida (e apêndices epiteliais) proliferam-se e se alongam, e começam a migrar para o outro lado da superfície de abertura da ferida, essencialmente em camada única. A migração persiste até entrarem em contato com outras células epiteliais que migram de direções distintas. Nesse ponto, ocorre “inibic ̧ão por contato”, resultando em parada da migração celular OBS: Clinicamente, enxertos em malha correspondem ao implante de “ilhas” epiteliais sadias sobre as feridas epidérmicas defeituosas, na tentativa de acelerar a reepitelização e o fechamento da ferida Migração de fibroblastos: fibroblastos surgem em nº significativo após 3º dia, ainda inativos. Células endoteliais e fibroblastos são considerados as principais células da fase proliferativa Fibroblastos migram para ferida, mas precisam ser ativados para depositar fibronectina, que serve para suporte das células de migração Os fibroblastos migram e são ativados em resposta a liberação de mediadores químicos produzidos por macrófagos locais. Eles irão iniciar o processo de fibroplasia (deposição de colágeno), predominantemente do tipo III, e formação da matriz extracelular provisória PDGF é FC mais importante na proliferação e ativação dos fibroblastos. Além dele, há o EGF, fibronectina e FC tumoral beta 1 OBS: PDGF tem sido bastante utilizado para acelerar a cicatrização de úlceras de pressão crônicas e úlceras diabéticas e o fator de crescimento básico de fibroblasto para tratamento de úlceras de pressão crônicas Formação de tecido granuloso: ocorre cerca de 4 dias após a lesão. Entres os componentes há fibroblastos, células inflamatórias, MEC, fibronectina e ácido hialurônico. A matriz provisória torna-se a matriz colagenosa final, provavelmente pela ação do TGF-1β Uma vez que abundante matriz de colágeno tenha sido depositada na ferida, o fibroblasto para de Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva produzi-lo e o tecido de granulação (rico em fibroblasto) é substituído por uma cicatriz relativamente acelular. Nessa etapa, as células na ferida sofrem apoptose, disparada por sinais desconhecidos, e o desequilíbrio neste processo pode propiciar a formação de quelóides e escleroderma O ácido hialurônico é produzido em grande quantidade e auxilia na resistência do tecido à compressão. Esta modificação na composição da MEC favorece a fixação e diferenciação dos fibroblastos, envolvidos na síntese decolágeno. Nesta etapa, o aporte de O2 é um importante mecanismo de regulação do processo de reparo, o que é proporcionado pela formação em paralelo de uma nova rede capilar que irá suprir a demanda metabólica dos fibroblastos na síntese de colágeno Angiogênese: caracterizada pela migração de células endoteliais e formação de capilares (metaloproteinases), sendo essencial para uma cicatrização adequada. Ativo a partir do 2º dia da lesão. Estimulada pelo nível elevado de lactato, pH ácido e hipóxia Tem como principais objetivos a nutrição do tecido e o aumento do aporte de células para o local da ferida Brotos endoteliais derivados de capilares intactos da periferia da ferida crescem por migração e proliferação celular. Eventualmente, brotos originados de capilares diferentes se interconectam, gerando um novo capilar Entre os mediadores, observa-se VEGF, FGF-2, bradicinina e prostaglandinas Síntese proteica: iniciada após 4 a 5 dias da lesão. Há produção de componentes para a matriz madura como: colágeno (principal), proteoglicanos, trombospondina I, e proteína ácida rica em cisteína (SPARC); logo há substituição da fibrina-fibronectina por colágeno e outras proteínas Ocorre entre 4 a 5 dias da lesão e determina a qualidade da cicatrização OBS: Elastina não é produzida e não faz parte da matriz cicatricial Contração da ferida: ocorre aproximação das bordas da ferida, entre 4 a 5 dias até 14 dias após lesão. Se deve à diferenciação de fibroblastos das margens da lesão para miofibroblastos, conferindo a capacidade contrátil à ferida, a qual geralmente segue as linhas de tensão da pele O grau de contração varia de acordo com profundidade da ferida; nas profundas, inicia-se logo após o ferimento com ápice em 2 semanas, chegando a haver redução de até 40% na ferida OBS: não confundir contração com contratura da ferida, este é a encurtamento de uma cicatriz que já existente Fase de remodelagem Inicia após 21 dias da lesão. É a fase mais importante clinicamente, devido sua principal característica- deposição de colágeno organizada Duração: 7 dias a 1 ano (ou mais) Propagadores: macrófagos e fibroblastos Objetiva: remodelação da MEC O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o presente na pele normal. Há gradualmente substituição por fibras mais grossas, organizadas em orientação paralela à tensão da pele Ocorre equilíbrio entre a taxa de síntese e a degradação do colágeno. A regulação da síntese de colágeno é mediada pelo IFN-gama, TNF-α e pela própria matriz de colágeno. As MMPs da matriz estão intimamente envolvidas com a degradação das moléculas de colágeno que ocorre ativamente durante o processo de remodelagem Aumento da força tênsil da ferida: decorre da reabsorção do colágeno inicial (tipo III) que ocorre com um certo tempo, sendo produzido um tipo de colágeno mais espesso (tipo I), que é organizado ao longo das linhas de tensão Cicatrização com sucesso: há equilíbrio entre a síntese da nova matriz e a lise da matriz antiga, além da deposição ser maior Lise da matriz antiga: ocorre pela colagenases secretadas pelos fibroblastos e leucócitos Reorganização da nova matriz: processo importante da cicatrização. Se inicia em 2-3 semanas após a ocorrência da lesão e pode durar até 2 anos OBS: Mesmo após 1 ano a ferida apresentará um colágeno menos organizado do que o da pele sem alterações, e a força tênsil jamais retornará a 100%, atingindo em torno de 80% após 3 meses Fase inflamatória; de formação do tecido de granulação e; de remodelação da ferida, respectivamente Monitoria Habilidades Cirúrgicas I Maria Adriely C Lima e Fernanda Priscilla B Silva INTERFERÊNCIA NA CICATRIZAÇÃO Há diversos fatores que influenciam a cicatrização, entre eles: Nutrientes: a cicatrização é deficiente no desnutrido (hipoalbuminemia, hipovitaminose). Hipóxia: redução da quantidade de O2 nas feridas é encontrada em anêmicos, quadro de choque, nefropatas e diabéticos; também, em feridas infectadas. O2 é necessário para hidroxilação da prolina e da lisina. A hipóxia interfere na produção de colágeno, na fase inflamatória (reduz a capacidade funcional de macrófagos e neutrófilos e a síntese de mediadores bioquímicos), na angiogênese, e na reepitelização e deposição da matriz Feridas isque ̂micas, que traduzem hipoperfusão tecidual e consequente redução de oxigênio, apresentam maior risco de infecção e retardo na cicatrização. Os controles pré- e pós-operatório de fatores que interferem na perfusão tecidual, como tensão adequada das suturas, correção da volemia e controle da dor, propiciam melhor evolução cicatricial. Diabetes: dificulta a cicatrização devido alterações na microvasculatura e efeito imunossupressor, em que a quimiotaxia e a propriedade fagocítica dos neutrófilos são diminuídas, fato que aumenta o risco de infecções Corticoesteróides: responsáveis por imunossupressão, reduzindo o processo de ativação imunocelular Isquemia: ocorre diminuição do aporte de sangue ocasionando uma redução no aporte de células do sistema imune Infecção: prolonga fase inflamatória, já que as células do sistema imune estarão tentando conter a infecção, logo a ferida retarda epitelização e diminui deposição de colágeno Corpos estranhos: prolongam inflamação, além de haver maior produção de colágeno para encapsular e bloquear o corpo estranho Tabagismo: dificulta a cicatrização devido alterações na microvasculatura, causando vasoconstrição (menor aporte de O2 na ferida) Hipotermia e dor: atrasam a ativação imunocelular Idade: em idosos a cicatrização é comprometida por conta da ativação do sistema imune e do recrutamento de matéria prima para participar no processo de cicatrização Edema: reduz a circulação sanguínea na ferida, dificultando a troca de nutrientes OBS: feridas que evoluem normalmente com a cicatrização, há equilíbrio entre a expressão de MMP e TIMP; por outro lado, nas lesões ulceradas crônicas, há evidências crescentes de um aumento local da proteólise CICATRIZAÇÃO PATOLÓGICA Cicatriz patológica ocorre quando há uma alteração no processo cicatricial, podendo gerar pouca ou excessiva de colágeno. Cicatriz hipertrófica: cicatriz com mais elevada que o normal, caracterizada por maior processo inflamatório e tempo de permanência na fase de remodelação. Comum em pacientes com pele clara. Queloide: sua formação ocorre por produção exagerada de colágeno, causando seu extravasamento, com extrapolamento dos limites normais da ferida. Há predisposição genética. Comum em pacientes asiáticos e negros. OBS: aumento da expressão de TGF-β, particularmente TGF-β1 e β2, tem sido implicado na patogênese de queloides REFERÊNCIAS Armstrong DG et al. Basic principles of wound healing. Wolters Kluwer, p. 1-4, 2018. Marques RG. Técnica operatória e cirurgia experimental. Ed. Guanabara, 2005; • Mélega; Viterbo; Mendes. Cirurgia Plástica (Os Princípios e a Atualidade). 2011; • Schmitt F. Aula de Biopatologia: regeneração e Cicatrização. Outubro de 2016; • Tazima MF, et al. BIOLOGIA DA FERIDA E CICATRIZAÇÃO. Medicina (Ribeirão Preto Online), v. 41, n. 3, p. 259-264, 30 set. 2008; • Townsend. Sabiston Tratado De Cirurgia - 19ª Edição. Editora Elsevier. 2014
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