Buscar

Resenha_A transformação, a estrutura e o papel do Estado capitalista contemporâneo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Continue navegando


Prévia do material em texto

Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Economia e Relações Internacionais
Curso de Graduação em Relações Internacionais
Disciplina Estado e Economia
Prof. Dr. José Rubens Damas Garlipp
Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho
Nº de matrícula: 11711RIT006
Resenha/Prova Final:
A transformação, a estrutura e o papel do Estado capitalista contemporâneo
As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por uma crise de caráter estrutural. Esse período também pode ser compreendido como o fim dos “30 Anos Gloriosos”, devido ao fim das institucionalidades do sistema erguido em Bretton Woods. Diante desse contexto, era questionada a sustentabilidade do modelo hegemônico dos Estados Unidos, bem como eram pensadas alternativas para a estrutura e as capacidades do Estado - ainda dentro do capitalismo e das relações de desigualdade. 
Por um lado, a hegemonia estadunidense é vista como inalterada. Por outro, a capacidade de sustentação da ordem econômica imposta pelos EUA é contrariada. No entanto, é possível localizar no meio termo a compreensão de que após uma queda da hegemonia norte-americana, ela foi logo retomada, por meio da diplomacia do dólar-forte e do aparato neoliberal. O neoliberalismo ficou conhecido como modelo de política econômica quando foi aplicado de forma predominante nos governos Reagan (EUA) e Thatcher (Reino Unido). Ele surge de um individualismo metodológico que vislumbra o retorno ao liberalismo clássico, de maneira idealizada. Economicamente, os neoliberais defendem a livre circulação de bens e de capital, a flexibilização das relações de trabalho e a regulação pelo mercado. 
Aliada à idealização do modelo neoliberal, a financeirização contribuiu para o agravamento da desigualdade interna e externa aos países. Este movimento pode ser compreendido como resultado do processo de mundialização (mais amplo do que a globalização), o qual está ligado à noção de internacionalização do capital. Nesse sentido, se antes a Divisão Internacional do Trabalho e da Produção se moldava pelo comércio internacional de bens, agora o capital assumia o protagonismo dessas relações. 
O surgimento de grandes conglomerados e a priorização das empresas viabilizam o comércio intersetorial, deixando de lado a essência do comércio entre nações, uma vez que as transações de investimentos e lucros destinavam-se aos países “mais avançados”. Isso evidencia a concentração do capital pelos oligopólios mundiais (localizados nos EUA, no Japão e na Europa). O resto do mundo se enquadrava nos condicionamentos das instituições financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial) regidas pelo modelo neoliberal, e ainda sofriam com as relações desiguais decorrentes da descentralização da produção nas cadeias globais de valor. Logo, esse movimento de mundialização nos moldes neoliberais é excludente, pois marginaliza os países periféricos e emergentes.
Diante desse contexto, a estrutura e as capacidades do Estado são repensadas. Inserido no neoliberalismo, Wolfgang Streeck destaca que o papel do Estado se reduz à liberalização da atividade econômica, por meio de privatizações - até mesmo dos serviços de bem-estar social -, e à garantia da austeridade fiscal. Reginaldo Moraes ainda nota a aversão à cidadania das massas pobres (aquelas que dependem da ajuda do Estado), mas também a ênfase dos interesses da elite conservadora. E, por isso, a democracia é vista como um entrave à prática neoliberal. Além disso, Thomas Piketty nota que as práticas neoliberais aumentam a desigualdade, devido à priorização das elites e das empresas, a precarização do emprego e o enxugamento do Estado principalmente nos serviços de bem-estar social.
Tendo em vista o supracitado, pode-se estabelecer uma relação entre neoliberalismo, mundialização, aumento da desigualdade e ameaça à democracia. Esta última está ligada à ascensão de governos conservadores da extrema direita, os quais, muito embora tenham sido analisados no contexto das décadas 1980 e 1990, podem ser observados no panorama atual. Desde esse período, em razão da natureza gerencial do Estado voltada à dinâmica “natural” do mercado, houve a exacerbação da individualidade do cidadão. O esvaziamento da pauta social do Estado, pela redução de investimentos públicos em serviços de bem-estar, tornou este um objetivo individual a ser buscado no setor privado. Dessa forma, fala-se da mercantilização, da lógica concorrencial presente em todas as esferas da vida.
Sugere-se, então, o surgimento de uma nova razão do mundo ligada ao imaginário neoliberal. Para Laval e Dardot, o Estado neoliberal é um instrumento das classes dominantes do capitalismo, que buscam restaurar sua superioridade em relação aos trabalhadores, adquirindo uma maior parcela da distribuição de renda. Diante disso, a intervenção do Estado é necessária, ainda que subordinada à lógica da acumulação de capital. Nesse sentido, o aparato jurídico torna-se responsável pela sustentabilidade do modelo econômico - é aí que se encontra a transformação do Estado capitalista contemporâneo. 
Apesar de suas crises, o capitalismo não se desfaz, ele se reinventa dentro deste complexo econômico-jurídico. O neoliberalismo foi uma resposta à crise de acumulação e de governamentalidade após o fim dos 30 anos gloriosos. Contudo, mesmo com as consequências catastróficas conduzidas pela aplicação das políticas neoliberais (vide a ocorrência de uma nova crise nos anos 2008 e 2009), essas práticas continuam ativas e fortes. O panorama atual é um exemplo desse resgate da mentalidade e da institucionalidade neoliberais, no qual a competitividade é vista como remédio. Se por um lado o dumping fiscal é usado para atrair investimentos externos, por outro ele ocasiona a diminuição de salários e de serviços de proteção social. Dessa forma, os planos de austeridade não podem ser desvencilhados do interesse de gerir as economias e as sociedades pela lógica mercadológica e empresarial.
Diante disso, as relações sociais e a relação do indivíduo consigo mesmo são orientadas pela dinâmica do capital. Para Laval e Dardot, aqui se expressa a capacidade do neoliberalismo de criar subjetividades e ordenar a sociedade. Esse universo de competição generalizada gera uma racionalidade de auto-cobrança pela eficácia. Ao mesmo tempo em que atua sobre os governados, atua também sobre os governantes que moldam o aparato estatal como uma empresa. Logo, esse tipo de comportamento pautado na lógica neoliberal é naturalizado, de modo que a racionalidade humana pode ser entendida assim como a autonomia do Estado: relativa.
Referências:
BARUCO, Grasiela C.C. e GARLIPP, José Rubens Damas. 2005. Neoliberalismo, Consenso e Pós‐Consenso de Washington: a primazia da estabilidade monetária. Anais do X Encontro Nacional de Economia Política. Campinas: SEP, maio.
BOYER, Robert. 1999. Estado, mercado e desenvolvimento: uma nova síntese para o século XXI? Economia e Sociedade (12), pp. 1‐20.
CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada. Unesp, 2004.
CHESNAIS, François. Mundialização: o capital financeiro no comando. Revista Outubro, v. 5, n. 2, 2001.
DARDOT, Pierre & LAVAL, Christian. 2016. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo.
GARLIPP, José Rubens Damas. 1996. Economia desregrada – um quadro aproximativo do capitalismo contemporâneo e a economia política. Anais I Encontro Nacional de Economia Política. Niterói: Sociedade Brasileira de Economia Política, maio/junho.
GARLIPP, José Rubens. Estado e Economia: Globalização e Estado‐Nação: novas realidades e desafios. 23 de out.-18 de dez. de 2020. Notas de Aula.
JESSOP, Bob. 2016. The state: past, present, future. Cambridge: Polity Press.
MORAES, Reginaldo C. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai?. São Paulo: Senac, 2001.
NYE JR, Joseph S. Bound to lead: The changing nature of American power. Basic books, 2016.
PIKETTY, Thomas. The economics of inequality. Harvard University Press, 2015.