Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fisiopatologia da Circulação Sanguínea Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitor de Administração Acadêmica Carlos de Oliveira Varella Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Emilio Antonio Francischetti Produção: Fábrica de Soluções Unigranrio Desenvolvimento do material: Daniela de Carvalho Martins Copyright © 2018, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Pró-Reitora de Ensino de Graduação Virginia Genelhu de Abreu Francischetti Pró-Reitora de Pós-Graduação Lato Sensu e Extensão Nara Pires Sumário Fisiopatologia da Circulação Sanguínea Objetivos .......................................................................................... 06 Introdução ........................................................................................ 07 1. Hiperemia .......................................................................... 09 1.1 Hiperemia Ativa ................................................................... 09 1.1.1 Hiperemia Ativa Fisiológica ................................................... 09 1.1.2 Hiperemia Ativa Patológica ................................................... 10 1.2 Hiperemia Passiva ou Congestão ........................................... 12 1.2.1 Hiperemia Passiva Localizada ou Congestão Localizada ............. 12 1.2.2 Hiperemia Passiva Generalizada ou Congestão Generalizada (Sistêmica) ........................................................................ 13 2. Trombose ........................................................................... 16 2.1 Hemostasia ........................................................................ 17 2.2 Patogenia da Trombose ........................................................ 18 2.2.1 Lesão Endotelial .................................................................. 19 2.2.2 Alteração do Fluxo Sanguíneo Normal .................................... 20 2.2.3 Hipercoagulabilidade ............................................................ 21 2.3 Destino dos Trombos ............................................................ 21 2.4 Coagulação Intravascular Disseminada (CID) ........................... 23 3. Embolia .............................................................................. 23 3.1 Embolia Sólida .................................................................... 24 3.2 Embolia Gordurosa ............................................................... 25 3.3 Embolia Gasosa ................................................................... 26 3.4 Embolia Linfática ................................................................. 26 4. Infarto ............................................................................... 27 4.1 Infarto Branco ou Anêmico .................................................... 27 4.2 Infarto Vermelho ou Hemorrágico .......................................... 28 5. Hemorragia ........................................................................ 29 5.1 Classificação e Nomenclatura ................................................ 30 5.1.1 Hemorragia Externa ............................................................. 30 5.1.2 Hemorragia Interna .............................................................. 31 5.2 Etiopatogênese ................................................................... 32 5.2.1 Hemorragia com Solução de Continuidade ou Hemorragia por Rexe .................................................................................. 32 5.2.2 Hemorragia sem Solução de Continuidade ou Hemorragia por Diapedese .......................................................................... 33 5.3 Evolução ............................................................................ 34 6. Choque .............................................................................. 34 6.1 Choque Cardiogênico ............................................................ 35 6.2 Choque Hipovolêmico .......................................................... 36 6.3 Choque Séptico ................................................................... 36 6.4 Choque Neurogênico ............................................................ 37 6.5 Choque Anafilático ............................................................... 37 7. Edema ............................................................................... 38 7.1 Tipos de Edema e Nomenclatura ............................................ 38 7.2 Etiopatogenia ..................................................................... 39 7.2.1 Aumento da Pressão Hidrostática ........................................... 39 7.2.2 Redução da Pressão Oncótica ou Osmótica ou Coloidosmótica Plasmática .......................................................................... 40 7.2.3 Obstrução Linfática .............................................................. 40 7.2.4 Retenção de Sódio e Água .................................................... 41 7.3 Consequências e Evolução ..................................................... 41 Síntese ........................................................................................... 42 Referências ...................................................................................... 43 6 Processos Patológicos Gerais Objetivos Descrever e interpretar as etiopatogenias das principais alterações circulatórias e suas consequências. 7Processos Patológicos Gerais Introdução A circulação do sangue e a distribuição de líquidos nos tecidos dependem do funcionamento do coração, dos vasos de grande e médio calibres, como as artérias e veias, e da microcirculação, os vasos capilares. A manutenção do fluxo sanguíneo no sistema circulatório depende da força de contração do coração. A contração (sístole) dos ventrículos direito e esquerdo impulsiona o sangue simultaneamente, por meio de artérias para os pulmões e para o corpo, respectivamente. O sangue distribuído para o corpo flui pelas artérias, passa pela rede de capilares e retorna para o átrio direito, por meio de veias, o que caracteriza o chamado retorno venoso. Além do bombeamento feito pelo coração, o fluxo do sangue também depende da ação dos músculos esqueléticos, dos movimentos respiratórios e da pulsação arterial. A velocidade do fluxo sanguíneo diminui progressivamente do coração em direção a microcirculação, que é a responsável pela oxigenação, nutrição das células e dos tecidos, bem como pela remoção dos produtos do catabolismo celular. Logo, as células do organismo e os tecidos dependem desta circulação intacta, assim como da hemostasia normal de líquidos; esta, por sua vez, depende da integridade da parede dos vasos sanguíneos e da manutenção de uma pressão intravascular e osmolaridade dentro dos parâmetros fisiológicos, pois o sangue, além de conter água e sais, possui também proteínas, elementos que regulam a hemostasia, como plaquetas, e fatores de coagulação e elementos figurados, como hemácias e leucócitos. Também é importante a circulação linfática, que retira macromoléculas e líquidos do interstício (líquido extracelular) e os retorna, por meio dos vasos linfáticos (linfa) à circulação sanguínea, ou seja, ao sangue venoso. 8 Processos Patológicos Gerais Nesta unidade de aprendizagem, veremos que as doenças cardiovasculares são umas das maiores causas de morte entre as pessoas, podendo afetar tanto o coração, como os vasos sanguíneos e o própriosangue. A circulação em um tecido, ou em parte de um órgão, ou até mesmo em todo um órgão, pode se alterar, ocorrendo, com isso, os chamados distúrbios locais da circulação, que são comuns a diferentes doenças. 9Processos Patológicos Gerais 1. Hiperemia Hiperemia é o aumento da quantidade ou volume de sangue no interior dos vasos sanguíneos em tecidos e órgãos, ou seja, aumento local da quantidade de sangue em um determinado tecido ou órgão. Como podem ocorrer tanto o aumento da quantidade de sangue arterial quanto o de sangue venoso, a hiperemia pode ser classificada como Hiperemia ativa e Hiperemia Ativa Fisiológica. Vamos conhecê-las a seguir. 1.1 Hiperemia Ativa É o aumento da quantidade de sangue arterial, em consequência de uma vasodilatação arteriolar, que promove um aumento do fluxo sanguíneo arterial para determinado local. Geralmente, esta hiperemia é aguda, podendo ocorrer de forma fisiológica ou patológica. 1.1.1 Hiperemia Ativa Fisiológica Está relacionada a modificações circulatórias, como vasodilatação, de maneira adaptativa, em virtude de uma maior exigência funcional em determinado órgão ou regiões do organismo. Isso ocorre para aumentar o suprimento de oxigênio e de nutrientes para atender uma maior demanda de trabalho. Ou seja, a hiperemia ativa fisiológica ocorre em órgãos e tecidos que apresentam uma elevação da carga de trabalho, ocorrendo, também, um aumento do seu metabolismo. Ela pode ser observada, por exemplo: Na musculatura esquelética de indivíduos que praticam atividade física - Durante a atividade física, a carga de trabalho e metabolismo da musculatura esquelética aumentam; logo, há um aumento, também, da frequência cardíaca, para que o coração atenda às necessidades da musculatura por uma maior quantidade de oxigênio e nutrientes. Após o término da atividade física, a pessoa apresenta a pele de coloração avermelhada (eritema) e com produção de suor, pelo aumento da 10 Processos Patológicos Gerais temperatura. Como neste caso há maior necessidade de perda de calor pelo organismo, o maior afluxo de sangue, para as glândulas sudoríparas, estimula a sudorese, possibilitando um aumento da evaporação de água e maior dispersão de calor. Na mucosa dos órgãos gastrointestinais e em glândulas do sistema digestivo durante a digestão - Após uma refeição, uma das prioridades do organismo é a realização da digestão; logo, há um aumento do fluxo sanguíneo arterial para os órgãos do sistema digestório. No sistema nervoso central, no encéfalo, durante o trabalho mental - Durante um estudo, há um aumento do fluxo sanguíneo para o encéfalo, aumentando, também, o aporte de oxigênio e nutrientes. 1.1.2 Hiperemia Ativa Patológica Neste caso, a hiperemia ativa é desencadeada por um processo patológico ou agressão, como por exemplo: Em inflamações agudas, em que há vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo local, levando à ocorrência de alguns sinais flogísticos ou cardinais da inflamação, como o rubor e o calor. Em reações alérgicas, como na hipersensibilidade do tipo I ou anafilática, em que há liberação de histamina, por degranulação de mastócitos, em virtude de uma ligação de antígeno com a imunoglobulina E (IgE) na superfície dos mastócitos. Injúrias térmicas e agressão por radiação, como por radiação solar, em indivíduos que apresentam pouca melanina na pele e não utilizam de maneira correta produtos com fatores de proteção solar. Após tomarem banho de sol, essas pessoas apresentam coloração avermelhada da pele, além do aumento de temperatura, ardência na pele, podendo ocorrer, inclusive, inchaço e até aparecimento de vesículas ou bolhas, conforme podemos observar nas Figuras 1 e 2. 11Processos Patológicos Gerais Figura 1: Hiperemia ativa patológica em virtude da exposição excessiva à radiação solar, sem a proteção necessária. Fonte: Dreamstime. Figura 2: Presença de vesículas e bolhas rompidas, em virtude de queimadura de pele por radiação solar. Fonte: Dreamstime. De um modo geral, a hiperemia ativa, macroscopicamente, aparece como uma área de coloração avermelhada ou rósea clara (eritema), brilhante, com temperatura elevada, por causa da alta taxa metabólica local e o sangue arterial, que também tem temperatura mais elevada. Além disso, pode ocorrer aumento da pulsação de pequenos vasos, e o local hiperêmico pode apresentar aumento de volume em virtude do edema (acúmulo de líquido intersticial). 12 Processos Patológicos Gerais Microscopicamente, pode ser observada a presença de arteríolas e capilares dilatados, repletos de hemácias no seu interior e, em casos de processos inflamatórios, também podem ser observados os aspectos morfológicos da inflamação, como a presença de células inflamatórias, principalmente os leucócitos polimorfonucleares em inflamações agudas. 1.2 Hiperemia Passiva ou Congestão É o acúmulo ou aumento da quantidade de sangue venoso, no interior das veias em órgãos ou tecidos, de forma localizada ou generalizada. Esta congestão é consequência de uma diminuição da drenagem venosa, ou seja, redução do efluxo de sangue de um órgão ou tecido, levando ao acúmulo de sangue venoso e à distensão de veias e vênulas. 1.2.1 Hiperemia Passiva Localizada ou Congestão Localizada É causada por fatores que contribuem para uma maior dificuldade de retorno venoso, ou seja, um escoamento deficiente de sangue venoso, como: A posição ortostática prolongada, ou seja, ficar por longos períodos numa mesma posição, seja em pé ou sentado. Por ação da gravidade, isso dificulta o retorno venoso dos membros inferiores, ocasionando estase sanguínea e congestão nesta região. Como consequência da hiperemia passiva, ocorre edema, logo, muitas pessoas relatam uma sensação de peso nas pernas, ao final do dia, com sensação de alívio quando o membro fica elevado ou quando a pessoa está deitada. Insuficiência das válvulas venosas. Por consequência da ação da gravidade e posição ortostática prolongada, há congestão nas veias dos membros inferiores, ocasionando, com o passar do tempo, uma dilatação dessas veias, denominada varizes. As próprias varizes agravam o processo de congestão, conforme podemos observar na Figura 3. Trombose, que é a solidificação do sangue no interior dos vasos sanguíneos em um indivíduo vivo. A trombose é uma das consequências 13Processos Patológicos Gerais mais graves da congestão, e a própria trombose já instalada, dependendo da localização, agrava a congestão e também o edema. Figura 3: Presença de varizes em membros inferiores, com coloração arroxeada ou azulada, em virtude da hiperemia passiva ou congestão. Fonte: Dreamstime. 1.2.2 Hiperemia Passiva Generalizada ou Congestão Generalizada (Sistêmica) Neste caso, a congestão ocorre por causa de um aumento sistêmico da pressão venosa, que geralmente é consequência de uma insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Os ventrículos reduzem o bombeamento de sangue, o que aumenta o volume de sangue residual ventricular e dificulta o esvaziamento dos átrios na diástole. Assim, o aumento de volume nos átrios reflete, de modo retrógrado, nas veias que neles desembocam, ou seja, nas cavas e nas pulmonares, causando congestão no território drenado. O local, que apresenta hiperemia passiva ou congestão, possui uma coloração azul avermelhada ou cianótico ou vermelho escuro, pela estase das hemácias e uma alta concentração de hemoglobina desoxigenada. Numa congestão aguda, o local aumenta de volume, ao corte flui grande quantidade de sangue e as veias são geralmente mais calibrosas. Na microscopia, as veias, vênulas e capilares mostram-se dilatados, repletos de hemácias no seu interior. Associada a isso, pode ocorrer a presença 14 Processos Patológicos Gerais de hemorragia focal, com hemácias íntegras ou com pigmento de hemossiderina. Em casos crônicos, ocorrem processos degenerativos, áreas de necrose, fibrose e edema, pois, com a congestão, estes processos são desencadeados pela hipóxia queocorre no local, ou seja, o sangue venoso tem níveis baixos de oxigênio, e quando se acumula em algum local ou órgão, ocasiona hipóxia. O fígado aumenta de tamanho e peso, na superfície de corte. As regiões centrolobulares apresentam congestão, logo, as veias se encontram dilatadas e algumas áreas rodeadas por parênquima hepático não congesto, deixando o fígado com aparência de noz-moscada. Ou seja, as regiões centrolobulares apresentam coloração vermelha-acastanhada e regiões circunjacentes (regiões periportais ou periferia do lóbulo hepático), com ausência de congestão de coloração amarela-acastanhada, sendo denominado fígado em noz-moscada. Por causa da hipóxia, ocorrem também alterações degenerativas, principalmente esteatose. Veja a figura de um fígado em noz-moscada. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. A Insuficiência Cardíaca Congestiva Direita (ICCD) é causada, por exemplo, em virtude de uma estenose de valva tricúspide, e como consequência, ocorre congestão na grande circulação, ou seja, no organismo todo. O primeiro órgão afetado é o fígado, sendo, neste caso, conhecido como fígado cardíaco. O retorno venoso para o coração (átrio direito) é realizado, principalmente, pelo fígado, logo, na ICCD, este é um dos órgãos que mais sofre congestão (congestão hepática) e as alterações se iniciam pela região centrolobular. Microscopicamente, as veias e capilares sinusóides centrolobulares encontram-se dilatados e congestos, pela presença de muitas hemácias; alguns hepatócitos são observados apresentando alterações degenerativas, como degeneração hidrópica e esteatose, por causa da hipóxia. Podem ocorrer, também, a presença de necrose hemorrágica e hemorragias centrolobulares (hemorragia por diapedese, por causa de hiperemia passiva), com presença de hemossiderina em macrófagos. Veja alguma dessas alterações. Saiba Mais Leia mais Saiba Mais Leia mais https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527729253/cfi/6/28!/4/318/2@0:26.5 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527729253/cfi/6/28!/4/318/2@0:26.5 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527729253/cfi/6/28!/4/318/2@0:26.5 http://anatpat.unicamp.br/lamdc5.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc5.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc5.html 15Processos Patológicos Gerais Em casos de congestão passiva crônica, processo de longa duração, ocorrem necrose hemorrágica e evolução para um espessamento fibroso da parede das veias centrolobulares. Esta fibrose pode se estender, perifericamente, originando a fibrose cardíaca, também conhecida como cirrose cardíaca. A Insuficiência Cardíaca Congestiva Esquerda (ICCE) é causada por uma estenose de valva mitral, e como consequência, ocorre congestão na circulação pulmonar; logo, o pulmão é o principal órgão afetado. O pulmão com congestão promove uma dificuldade respiratória no indivíduo; logo, há dificuldade em oxigenar o sangue, e consequentemente, esta hiperemia é considerada passiva. Os capilares alveolares encontram- se dilatados, com a presença de muitas hemácias, ocorrendo, também, a presença de edema pulmonar, por causa do aumento da pressão hidrostática intravascular e hemorragia por diapedese. Observe a Figura 4. Figura 4: Corte histológico de pulmão, apresentando material homogêneo e acidófilo (rosado) no interior dos alvéolos pulmonares, e caracterizando acúmulo de líquido. Logo, podemos observar um edema pulmonar. Fonte: Dreamstime. Com presença de hemácias no interior dos alvéolos, algumas são fagocitadas por macrófagos alveolares (chamados, neste caso, de células da insuficiência cardíaca ou células cardíacas). Por causa disso, pode ser observado pigmento de hemossiderina, conforme a ilustração. Acesse e saiba mais. Saiba Mais Leia mais http://anatpat.unicamp.br/lamdc3.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc3.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc3.html 16 Processos Patológicos Gerais O edema agudo de pulmão, neste caso, é uma das consequências mais graves, tanto que muitas pessoas com este processo informam que se sentem como se estivessem sendo “afogadas no seco”. Muitas vezes, elas não conseguem deitar em macas para serem atendidas, e em casos graves, podem apresentar conteúdo espumoso liberado tanto pelas narinas, quanto pela cavidade oral, conforme pode ser observado na Figura 5.. Esse assunto será discutido mais adiante. Figura 5: Edema agudo de pulmão, evidenciado pela presença de conteúdo espumoso. Este conteúdo também pode ser eliminado pelas narinas e cavidade oral. Fonte: Wikimedia. De um modo geral, a hiperemia passiva ou congestão pode apresentar consequências, como: degenerações por causa da hipóxia; áreas de necrose hemorrágica; hemorragia pela ruptura de pequenos vasos sanguíneos; hemorragia por diapedese (as hemácias extravasadas sofrem catabolismo por macrófagos, e por causa disso, observa-se pigmento de hemossiderina no interior destes); edema, pelo aumento de pressão hidrostática no interior dos vasos afetados; fibrose (processo de cicatrização em casos de congestão crônica, de longa duração); e trombose venosa, uma das consequências mais graves e importantes nos casos de hiperemia passiva. 2. Trombose É definida como a solidificação do sangue no interior dos vasos sanguíneos ou do coração em um indivíduo vivo. A massa de sangue solidificada formada pelo processo da trombose se denomina trombo, que é 17Processos Patológicos Gerais morfologicamente diferente do coágulo. Muitas pessoas costumam chamar trombos de coágulos. Os trombos são formações secas, sem brilho, friáveis (podem se fragmentar), inelásticas, aderidas à parede vascular ou ao endocárdio, e com formato e tamanho variáveis. Já os coágulos são formações com superfície brilhante, aspecto úmido, gelatinoso, homogêneo, elástico e não adere à parede vascular e nem ao endocárdio. Os coágulos são formados: após o óbito do indivíduo; em casos de hemorragia; e quando ocorre coleta de sangue sem anticoagulante. Os coágulos podem ser formados tanto no interior dos vasos sanguíneos e coração, quanto fora destes ou do organismo. Para uma melhor compreensão da etiopatogênese da trombose, faz-se necessário um breve comentário sobre o processo de hemostasia. 2.1 Hemostasia A hemostasia normal é essencial para a vida. Ela é o resultado de um conjunto de processos regulados com duas funções importantes: manter o sangue sempre em um estado líquido ou fluido e, ao mesmo tempo, estar sempre pronto para induzir a formação de um tampão hemostático (fibrinoplaquetário), rápido e localizado, quando ocorrer em algum local, lesão vascular com hemorragia, ou seja, ser capaz de interromper o sangramento. A hemostasia depende da parede dos vasos sanguíneos (endotélio vascular), das plaquetas e dos fatores de coagulação sanguínea (cascata de coagulação). Assista ao vídeo proposto e saiba mais sobre o assunto. A sequência de eventos que ocorre na hemostasia normal para interromper o sangramento é: a. Vasoconstrição arteriolar: Após a agressão que causou o sangramento, a parede do vaso sanguíneo reage de imediato, promovendo uma Saiba Mais Assista agora https://www.youtube.com/watch?v=e4cQw70owYA http://www.google.com.br 18 Processos Patológicos Gerais vasoconstrição arteriolar, e diminuindo o fluxo sanguíneo na área lesionada. A vasoconstrição é promovida por reflexo neurogênico induzido pelo trauma e por liberação de substâncias vasoconstritoras, como a endotelina, derivada do endotélio. b. Hemostasia Primária: No local agredido, ocorrem a aderência e ativação plaquetárias, ou seja, há a agregação de plaquetas. Estas alteram seu formato e liberam grânulos secretores, e estes recrutam mais plaquetas adicionais, formando, então, o chamado tampão hemostático primário. c. Hemostasia Secundária: Ocorre a deposição de fibrina, ou seja, síntese de fator tecidual pelo endotélio (fator pró-coagulante) que ativa o fatorVII, ativando, também, a cascata de coagulação, culminando na estimulação da trombina, que por sua vez, cliva o fibrinogênio solúvel da circulação em fibrina. Esta é insolúvel, formando uma rede ou malha de fibrina, que também ativa mais plaquetas, promovendo mais agregação, e completando o fechamento da lesão. 2.2 Patogenia da Trombose São três os mecanismos que predispõem a formação de um trombo. Estas patogenias são muito conhecidas como Tríade de Virchow. Observe a Figura 6. Trombose Lesão Endotelial Fluxo sanguíneo anormal Hipercoagulabilidade Figura 6: Patogenia da trombose, conhecida como Tríade de Vichow. São mecanismos que podem promover a trombose de maneira independente ou combinada. Fonte: Kumar; Abbas; Aster (2016). 19Processos Patológicos Gerais 2.2.1 Lesão Endotelial Em condições normais, o endotélio vascular produz substâncias vasodilatadoras e anti-agregadoras de plaquetas, como a prostaciclina I2 (PGI2) e o óxido nítrico (NO). Na lesão endotelial ou solução de continuidade do endotélio, há predisposição à trombose, pois cessa o papel antitrombogênico (anticoagulante) do endotélio. Este processo é denominado ativação ou disfunção endotelial, desencadeando uma redução na síntese de fatores anticoagulantes. Neste caso, ocorrem a exposição do colágeno da membrana basal (subendotelial), em que as plaquetas se aderem, bem como a exposição do fator tecidual, ativando a cascata de coagulação. Além disso, também há contato direto do sangue com o tecido subendotelial, adesão e ativação plaquetárias e redução dos fatores anticoagulantes, resultando em um estado pró-coagulante, com a formação de um trombo. A disfunção endotelial pode ser observada em cirurgias cardíacas, endocardites, transplantes de órgãos e, de forma mais crônica, em tabagistas, indivíduos com diabetes mellitus, hipertensão arterial, hipercolesterolemia e aterosclerose (principal causa de trombose arterial). Em todos estes exemplos, há uma lesão endotelial e predisposição à trombose, por causa dos fatores já mencionados. Uma causa importante de infarto agudo do miocárdio é a obstrução de uma artéria coronária por aterosclerose, com a presença de trombose. A aterosclerose associada à trombose obstrui a luz arterial e causa isquemia miocárdica; com a morte da área afetada, há necrose de coagulação, logo infarto do miocárdio. Logo, muitos indivíduos, para prevenir este tipo de infarto, fazem uso do ácido acetilsalicílico (AAS), um anti-agregador plaquetário. Assista ao vídeo proposto e saiba um pouco mais sobre o assunto. Saiba Mais Assista agora https://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI https://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI https://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI 20 Processos Patológicos Gerais 2.2.2 Alteração do Fluxo Sanguíneo Normal A alteração do fluxo sanguíneo pode ocorrer na forma de turbulência, o que contribui para trombose arterial, ou na forma de estase sanguínea, em que há uma redução na velocidade do sangue, contribuindo para trombose venosa. O fluxo sanguíneo normal é laminar, em que as plaquetas e outros elementos figurados do sangue circulam na região central da luz do vaso (corrente axial), distante do endotélio. Mais próximo ao endotélio, circula em velocidade mais lenta, uma porção de plasma acelular (corrente marginal). Com isso, tanto a turbulência quanto a estase sanguínea alteram o fluxo laminar e, consequentemente, as plaquetas entram em contato com o endotélio ou tecido endotelial (há mistura de correntes axial e marginal ou desagregação do fluxo laminar). Além disso, elas podem promover a ativação das células endoteliais, aumentando a atividade pró-coagulante, ocorrendo, também, uma maior concentração e ativação dos fatores de coagulação e reduzido aporte de fatores anticoagulantes, desencadeando a trombose. Existem várias causas de trombose por fluxo sanguíneo alterado, podendo estar ou não associado a outras patogenias. Vejamos algumas: ▪ Placa de ateroma ulcerada: Ocorre exposição do tecido subendotelial e do fator tecidual, promovendo turbulência local. A aterosclerose é a principal causa de trombose arterial, pois além de promover lesão endotelial, há alteração do fluxo sanguíneo. ▪ Aneurismas: Dilatações anormais de artérias promovem estase local, e com isso, desagregação do fluxo laminar. ▪ Estenose de valva mitral: Promove acúmulo de sangue no átrio esquerdo, causando dilatação e estase sanguínea. ▪ Anemia falciforme: As hemácias falciformes formam agregados e promovem adesão anormal às células endoteliais, causando oclusões vasculares e estase sanguínea, principalmente em pequenos vasos. ▪ Hiperviscosidade sanguínea: Como em casos de queimaduras graves, desidratação, em que há um aumento da resistência ao fluxo, por causa da hemoconcentração e estase sanguínea, principalmente em pequenos vasos. 21Processos Patológicos Gerais 2.2.3 Hipercoagulabilidade A hipercoagulabilidade, conhecida também como trombofilia, é qualquer alteração no sangue e na sua composição, que predispõe à trombose, sendo especialmente importante na formação da trombose venosa. Essas alterações podem ter causas primárias (origem genética) ou causas secundárias (adquiridas). Vejamos: Causas primárias ou genéticas: As principais são a mutação do gene do fator V da coagulação (fator V de Leiden), interferindo na atuação da proteína C ativada (proteína anticoagulante), e do gene da protrombina, elevando os níveis de protrombina e o risco de trombose venosa. Outras causas primárias são a deficiência de antitrombina III, proteína C e proteína S, que atuam como anticoagulantes. Causas secundárias ou adquiridas: É frequentemente multifatorial, e como principais causas, podemos citar: tabagismo, uso de contraceptivos orais e na gestação (estado hiperestrogênico). A trombose ocorre pelo aumento na produção de fatores de coagulação, como protrombina e fibrinogênio, bem como na diminuição da produção de fatores anticoagulantes. Em pacientes com câncer, o tumor libera fatores pró-coagulantes. Repouso absoluto, imobilização prolongada e posição ortostática prolongada, como em viagens muito longas, promovem uma lentificação na circulação venosa ou estase sanguínea, pois ocorre uma diminuição da ação de bombeamento dos músculos da perna sobre as veias, promovendo hiperemia passiva ou congestão, principalmente nos membros inferiores, gerando uma situação de hipercoagulabilidade. A estase sanguínea, normalmente, promove a trombose venosa, e neste caso, é mais conhecida como trombose venosa profunda (TVP) de membros inferiores, ocorrendo em 90% dos casos de trombose venosa. 2.3 Destino dos Trombos Os trombos venosos de veias profundas dos membros inferiores são os mais graves. Aproximadamente 50% dos casos são assintomáticos, mas podem causar congestão, muitas dores e edema, e com isso, o indivíduo pode apresentar muita dificuldade em apoiar o membro afetado no chão. O 22 Processos Patológicos Gerais diagnóstico, em virtude destes fatos, pode ser tardio, e como consequência, os trombos podem sofrer combinações dos destinos a seguir: Propagação: Acúmulo adicional de plaquetas e fibrina, promovendo o crescimento do trombo. Dissolução: Remoção do trombo por atividade fibrinolítica ou fibrinólise, a ativação das vias fibrinolíticas pode ocasionar a lise total e desaparecimento de trombos recentes, ou seja, trombose diagnosticada rapidamente. O diagnóstico normalmente ocorre pela realização de exames de imagem, como eco-Doppler colorido de sistema circulatório, e o tratamento segue com a internação do paciente e administração terapêutica de agentes fibrinolíticos. Organização e Recanalização: É o que normalmente ocorre com os trombos antigos, ou seja, diagnosticados mais tardiamente. A organização é a proliferação de células endoteliais, musculares lisas e fibroblastos que ocorre sobre o trombo. Posteriormente, formam-se canais capilares na tentativa de restabelecer, de forma incompleta,a luz original do vaso, e o trombo passa a fazer parte da parede vascular como uma massa de tecido conjuntivo. Este processo é denominado de recanalização da trombose, e com a remodelagem que ocorre no local, permanece apenas uma massa fibrosa, deixando o local onde ocorreu a trombose com uma marca. Embolização: O trombo é friável, e com esta característica, ele pode se fragmentar, se desprender do local de formação, e por meio da circulação sanguínea, seguir para outros locais, causando embolia (tromboembolismo), abordada adiante. Esta é uma das consequências mais graves da trombose. Em casos de TVP de membros inferiores, envolvendo uma das grandes veias da coxa, como as poplíteas, femorais ou ilíacas, a embolia pulmonar é a mais comum, e consequentemente, causa infarto pulmonar; o paciente com esta trombose deve ficar internado em repouso absoluto, para não fragmentar o trombo. Em casos de trombos cardíacos ou de artéria aorta, estes podem ocasionar embolia em qualquer órgão, mas os mais afetados são SNC (AVC ou AVE isquêmico ou não hemorrágico), rins e baço. 23Processos Patológicos Gerais 2.4 Coagulação Intravascular Disseminada (CID) É a formação de microtrombos disseminados na microcirculação, não sendo considerada uma doença, e sim, uma complicação de uma série de alterações associadas à ativação sistêmica da trombina. Esses trombos na microcirculação podem desencadear insuficiência circulatória difusa e obstruir pequenos vasos em qualquer local, porém, os mais comuns são nos rins, pele, pulmões, coração, encéfalo, intestinos e pâncreas, causando áreas de necrose e microinfartos. Os trombos disseminados consomem, de forma acelerada, uma grande quantidade de plaquetas e de fatores de coagulação. Logo, este evento é denominado coagulopatia de consumo, e em consequência disso, podem ocorrer hemorragias graves, como AVC ou AVE hemorrágico (derrame cerebral) ou até mesmo um choque hipovolêmico. A CID ocorre, principalmente, em casos de lesão endotelial disseminada, lentificação da circulação sanguínea e hipercoagulabilidade, causados por infecções bacterianas, como septicemias, câncer e por ação de venenos, como o de cobra. 3. Embolia Embolia é a obstrução de vasos sanguíneos por uma massa ou corpos estranhos, que são deslocados com o sangue, denominados êmbolos. O êmbolo segue junto com o sangue, até que seja levado a um vaso de calibre tão pequeno que não consiga passar, ocorrendo, desta forma, uma obstrução. O local, normalmente, sofre uma disfunção tecidual, como isquemia ou infarto, portanto, suas consequências variam de acordo com a natureza do êmbolo, tipo de circulação do órgão atingido, a existência de circulação colateral, a vulnerabilidade do tecido à anóxia, o estado geral e a eficiência do sistema circulatório. Logo, dependendo do local de origem, os êmbolos podem estacionar em qualquer local do sistema vascular. 24 Processos Patológicos Gerais 3.1 Embolia Sólida Os êmbolos sólidos mais comuns são os trombóticos (fragmentos de trombos), fragmentos de ateromas e de neoplasias. Os trombóticos são os mais frequentes, representados por fragmentos de trombos que se descolam do local de origem. De origem venosa, a fonte de êmbolos mais frequente é a de casos de TVP (Trombose Venosa Profunda) de membros inferiores, como das veias femoral e poplítea; normalmente, a embolia é a pulmonar (EP), pois os êmbolos derivados desta trombose comumente obstruem os pulmões, sendo a forma mais comum de doença tromboembólica. Os trombos são friáveis e quando se fragmentam de uma TVP, são transportados pelo sistema venoso até o coração direito (átrio e ventrículo direitos), e o calibre das veias vai aumentando progressivamente. Dependendo do tamanho do êmbolo, este pode obstruir a artéria pulmonar principal, causar obstrução na bifurcação desta artéria ou obstruir suas ramificações, de menor calibre, já no interior dos pulmões, sendo que, com frequência, estes êmbolos são múltiplos. Quando 60% ou mais da circulação pulmonar sofre obstrução por êmbolos, o que geralmente ocorre é a insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale, lesão cardíaca com causa primária no pulmão) ou colapso cardiovascular, dificuldade respiratória ou morte súbita. Isso ocorre por causa da redução anatômica e funcional do leito vascular pulmonar, gerando uma sobrecarga aguda no ventrículo direito, bem como dilatação deste e redução de fluxo sanguíneo no átrio esquerdo, e consequentemente hipóxia sistêmica e hipotensão arterial, com insuficiência coronariana e falência do miocárdio. Outras consequências podem ocorrer como hemorragias pulmonares, em caso de obstrução de ramos segmentares ou pequenas terminações das artérias pulmonares, seguido de ruptura destas estruturas. Além disso, também pode ocorrer infarto pulmonar, quando a circulação brônquica (artérias brônquicas) estiver comprometida, ocasionando necrose hemorrágica. 25Processos Patológicos Gerais Os êmbolos pulmonares, quando muito pequenos, também podem ser clinicamente assintomáticos, e neste caso, com o passar do tempo, eles sofrem ação fibrinolítica, organização e até fibrose, podendo ser incorporados à parede vascular. Os êmbolos arteriais têm sua origem, especialmente, no ventrículo esquerdo (trombos murais), na artéria aorta (aneurismas, aterosclerose) ou das valvas semilunar aórtica e mitral, no caso de endocardites. Estes êmbolos podem causar embolia, em diferentes locais, principalmente, no cérebro, membros inferiores, intestinos, rins e baço. Como consequência, geralmente, ocorrem isquemia e infarto no local afetado, como AVC ou AVE isquêmico ou não hemorrágico. 3.2 Embolia Gordurosa Estes êmbolos são glóbulos ou gotículas de gordura microscópicos, muitas vezes associados à medula óssea, principalmente em casos de fraturas de ossos longos, e com menos frequência, em casos de traumatismos em tecidos das partes moles, com depósitos gordurosos de tecido adiposo e em queimaduras. Em fraturas de ossos longos, os êmbolos gordurosos atingem a circulação sanguínea, por meio da ruptura de capilares e de vênulas, e logo se deslocam em direção aos pulmões. Na maioria dos casos, a embolia gordurosa é assintomática, pois não apresenta consequências clínicas; nestes casos, os êmbolos sofrem fagocitose e hidrólise por lipases. A embolia gordurosa com sintomatologia significativa só ocorre em 10% dos indivíduos com lesões ósseas graves. Nestes casos, ela é denominada síndrome da embolia gordurosa, sendo considerada uma variação da síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA). Esta embolia caracteriza-se, principalmente, por uma insuficiência respiratória com taquipneia e dispneia, em virtude de uma obstrução pulmonar, taquicardia e alterações neurológicas nos primeiros dias após a lesão, em torno de 24 a 72 horas após o trauma, ocorrendo, também, hemorragias petequiais, anemia e trombocitopenia. 26 Processos Patológicos Gerais 3.3 Embolia Gasosa Esta embolia caracteriza-se pela presença de bolhas gasosas na circulação, que podem obstruir vasos e causar isquemia. O ar ou gás pode penetrar na circulação em algumas situações, como durante cirurgias de tórax e pescoço; cateterização cardíaca; após ruptura de alvéolos pulmonares; durante ventilação com pressão positiva em recém- nascidos prematuros; procedimentos obstétricos ou laparoscópicos; e lesões graves no tórax. Mas, para ocorrer alterações clínicas e até óbito, a quantidade de ar deve ser superior a 100 ml. Pequenas quantidades de gás, como microbolhas, tendem a dissolver no sangue e tecidos, e serem eliminadas pelos pulmões. Uma embolia gasosa significativa é conhecida como síndrome ou doença da descompressão. Nela, há uma queda brusca da pressão atmosférica e os indivíduos de maior risco são os mergulhadores, que utilizam cilindros de ar comprimido, bem como as pessoas que trabalham em construções submarinas ou que trabalham em aeronaves não pressurizadas. Em mergulhos de alta profundidade,uma grande quantidade de gás, como o nitrogênio, é dissolvida no sangue e nos tecidos. Quando o mergulhador retorna muito rapidamente à superfície, os gases saem da sua forma solubilizada, ocorrendo, desta forma, a expansão desses gases. Com isso, há a formação de bolhas de gás rapidamente tanto no sangue, quanto nos tecidos, como na musculatura esquelética e tecidos periarticulares, causando muitas dores musculares e articulares. Nos pulmões, as bolhas de gás podem causar edema, hemorragia, atelectasia e enfisema focais, promovendo dificuldades respiratórias; alterações neurológicas também podem ocorrer, como paralisias, convulsões e até coma. 3.4 Embolia Linfática São corpos estranhos de natureza variada, que penetram no sistema linfático. Os mais importantes são as filárias, como a Wuchereria bancrofti, que obstrui vasos linfáticos, e consequentemente, a circulação linfática, causando 27Processos Patológicos Gerais edema crônico na região drenada por estes vasos linfáticos obstruídos. Quando este edema ocorre em membros inferiores, esta alteração é chamada de elefantíase, conforme podemos observar na Figura 7. Figura 7: Embolia linfática, causada por filariose linfática. Fonte: Dreamstime. 4. Infarto O termo infarto é mais utilizado para indicar uma área tecidual de necrose que se instala após uma isquemia, mas também pode ser considerado como uma área de necrose que segue à isquemia ou hipóxia, pois pode ocorrer tanto na ausência de fluxo sanguíneo, quanto na dificuldade de drenagem venosa. De acordo com suas características morfológicas, o infarto possui algumas classificações, que veremos a seguir. 4.1 Infarto Branco ou Anêmico O infarto branco pode ocorrer em qualquer órgão, como nos rins, baço, cérebro, mas, indiscutivelmente, o órgão que mais infarta é o coração. Com isso, a principal causa é uma obstrução arterial, por trombose, embolia, aterosclerose etc., ocasionando uma isquemia, e posteriormente, necrose de coagulação, com exceção do infarto cerebral (AVC ou AVE isquêmico), em que a necrose é de liquefação ou liquefativa. 28 Processos Patológicos Gerais A área infartada pode apresentar um formato de cunha (semelhante a um triângulo), com o vértice (ápice) voltado para o local da artéria obstruída, e a base voltada para a superfície do órgão. A coloração desta área é branca-amarelada, pálida, de consistência firme e com um halo avermelhado de hiperemia ao redor, em virtude de uma hiperemia ativa patológica, ou seja, características da necrose de coagulação. Veja as imagens sobre o assunto. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. Com a evolução, a área de necrose do infarto é reconhecida como corpo estranho e há um processo inflamatório para fagocitar o tecido morto. Como é uma agressão severa, órgãos constituídos por células que fazem mitose perdem esta capacidade, mas no caso do infarto do miocárdio, as fibras musculares estriadas cardíacas não fazem mitose; de qualquer forma, no local, há a proliferação de tecido conjuntivo fibroso, processo conhecido como cicatrização. Por causa disso, todo indivíduo que já sofreu um infarto do miocárdio e não foi a óbito, há uma cicatriz no coração. Mas, se o indivíduo sofre infarto agudo do miocárdio seguido de morte súbita, as alterações morfológicas do infarto não são observadas, somente serão visualizadas em microscópio óptico após 4 a 12 horas. 4.2 Infarto Vermelho ou Hemorrágico Este tipo de infarto ocorre em casos de obstrução venosa, ou dificuldade de drenagem do sangue venoso, em que há, por consequência, hiperemia passiva ou congestão, seguida de necrose hemorrágica, por causa da hipóxia no local. A área de infarto vermelho tem a mesma forma de cunha da área de infarto branco, mas a coloração é vermelha-escura ou azulada, de consistência firme e com presença de halo hiperêmico, mas com pouca nitidez, características da necrose hemorrágica. Com a evolução, o local de necrose também desencadeia uma resposta inflamatória, com fagocitose Saiba Mais Leia mais https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/406@0:31.6 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/406@0:31.6 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/406@0:31.6 29Processos Patológicos Gerais do tecido morto e das hemácias presentes, e com isso, há formação de uma cicatriz. Mas como há presença de hemácias na área de necrose, a cicatriz é pigmentada, com coloração acastanhada, em virtude da presença de hemossiderina. O infarto vermelho pode ocorrer no fígado, em casos de insuficiência cardíaca congestiva direita, o chamado fígado cardíaco ou em noz- moscada, e em casos de torção (volvo ou vólvulo) intestinal (popularmente conhecido como nó nas tripas), de mesentério e de testículos, em que há compressão de veias e artérias. Por apresentarem a parede mais delgada, as veias colabam (obstrução completa), enquanto que as artérias obstruem parcialmente, ocorrendo hiperemia passiva ou congestão, e posteriormente necrose hemorrágica, pela carência de oxigênio. Este infarto também pode ser observado em órgãos constituídos por tecido frouxo e com circulação dupla, como os pulmões. Após a obstrução arterial, há dilatação dos capilares adjacentes não obstruídos, e com isso, ocorrem o extravasamento de sangue (hemorragia) e a invasão da área de necrose por sangue. Assim, a área de necrose de coagulação pode ficar com uma coloração vermelha-escura, apresentando um aspecto hemorrágico. O AVC ou AVE isquêmico (infarto cerebral ou isquemia cerebral) é causado, principalmente, por êmbolos derivados de trombose ou ateroma, que obstruem artérias cerebrais, causando isquemia e necrose de liquefação ou liquefativa. Porém, em alguns casos de destruição do êmbolo, há o retorno do fluxo sanguíneo, e consequentemente, extensa hemorragia na região primária de necrose; com isso, o infarto passa a ser vermelho. 5. Hemorragia Hemorragia ou sangramento é a saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração. O sangue extravasa para o meio exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo, e este sangue extravasado se solidifica, formando coágulos. 30 Processos Patológicos Gerais Em todo local com presença de sangue, como nas hemorragias, o teste da catalase será sempre positivo. Assista ao vídeo indicado e saiba mais sobre o assunto. 5.1 Classificação e Nomenclatura As hemorragias apresentam características distintas em diferentes situações e possuem algumas classificações. Vamos conhecê-las a seguir. 5.1.1 Hemorragia Externa A hemorragia é classificada, desta forma, quando o sangue sai do corpo, para o meio exterior do organismo, e recebe o nome de acordo com os locais em que ela ocorre. ▪ Gastrorragia: Hemorragia no estômago. ▪ Enterorragia: Hemorragia no intestino. ▪ Melena: Fezes de coloração enegrecida, escura, tipo “borra de café”, ou então, fezes pastosas, com odor bastante desagradável, com presença de sangue alterado, degradado, digerido pelas secreções gastrointestinais e microflora intestinal. A melena indica, normalmente, hemorragia de trato gastrointestinal superior (alto), esôfago, estômago e duodeno, e para identificar a presença de sangue, é realizado o teste da catalase, que neste caso é positivo. ▪ Hematoquezia: Presença de sangue de coloração vermelho vivo nas fezes, indicando hemorragia em trato gastrointestinal inferior (baixo), jejuno, íleo, intestino grosso, reto e ânus, como ocorre nas hemorroidas. ▪ Hematêmese: Presença de sangue no vômito. ▪ Hemoptise: Hemorragia pulmonar. O sangue, normalmente, Saiba Mais Assista agora https://www.youtube.com/watch?v=Td_QOynr0jc https://www.youtube.com/watch?v=Td_QOynr0jc https://www.youtube.com/watch?v=Td_QOynr0jc 31Processos Patológicos Gerais é eliminado com a secreção expectorada; logo, é eliminado, principalmente,pela cavidade oral, por meio da tosse, como ocorre na tuberculose. ▪ Epistaxe: Hemorragia nas fossas nasais. O sangue se exterioriza, principalmente, pelas narinas; normalmente, o volume de sangue eliminado na epistaxe é maior do que o volume eliminado na hemoptise. ▪ Hematúria: Presença de sangue na urina. 5.1.2 Hemorragia Interna Neste caso, o sangue não se exterioriza, ou seja, fica retido no organismo, como no interstício ou em cavidades pré-formadas. ▪ Petéquias hemorrágicas ou hemorragia petequial: Hemorragia puntiforme, diminuta, minúscula na pele, mucosas ou serosas, em torno de 1 a 2 mm de diâmetro. ▪ Púrpura: Um pouco maior que as petéquias, geralmente na pele, e de até 1 cm de diâmetro. ▪ Equimose ou sufusão hemorrágica: Também pode ocorrer na pele, mucosas ou serosas, mas com dimensões maiores que as púrpuras, em torno de 2 a 3 cm. O sangue extravasado se difunde pelos tecidos. ▪ Hematoma: Hemorragia com dimensões maiores que a equimose, com mais de 3 cm, em que o sangue não se difunde no meio dos tecidos, formando uma coleção de sangue. Quando ocorre absorção de líquido do interstício, forma-se um cisto denominado higroma. ▪ Hemotórax: Hemorragia com acúmulo de sangue na cavidade torácica. ▪ Hemopericárdio: Hemorragia com acúmulo de sangue no pericárdio. ▪ Hemoperitônio: Hemorragia com acúmulo de sangue no peritônio, cavidade abdominal. 32 Processos Patológicos Gerais 5.2 Etiopatogênese É o nome que se dá à hemorragia que pode ocorrer com ou sem solução de continuidade (descontinuidade) da parede dos vasos sanguíneos ou do coração. 5.2.1 Hemorragia com Solução de Continuidade ou Hemorragia por Rexe Esse tipo de hemorragia é causada, principalmente, por: ▪ Traumatismos: Ferimentos com instrumentos perfurocortantes, podendo ser acidentais ou intencionais. ▪ Aneurisma: Dilatação anormal de artérias; aneurisma dissecante da aorta, principalmente da aorta abdominal. ▪ Hipertensão: Aumento da pressão arterial, podendo ocorrer a ruptura de vasos sanguíneos, principalmente os pequenos vasos e capilares. ▪ Tuberculose: Hemorragia que ocorre quando a necrose caseosa atinge a parede dos vasos. ▪ Neoplasias malignas (câncer): O crescimento infiltrativo pode atingir vasos sanguíneos. ▪ Úlceras gástricas ou duodenais: As secreções gastrointestinais agridem a mucosa e os vasos sanguíneos. Em todos estes exemplos, a hemorragia ocorre, pois há o rompimento da parede dos vasos sanguíneos. Em outras palavras, a ruptura ou destruição da parede de um vaso sanguíneo permite o extravasamento de sangue para fora dos vasos, conforme podemos observar a Figura 8. Figura 8: Hemorragia com solução de continuidade da parede do vaso sanguíneo ou hemorragia por rexe. Fonte: Dreamstime. 33Processos Patológicos Gerais 5.2.2 Hemorragia sem Solução de Continuidade ou Hemorragia por Diapedese Nesse caso, ocorre a saída das hemácias de dentro dos vasos sanguíneos, sem a ruptura deles (por isso o termo hemorragia por diapedese). Esse tipo de hemorragia é causada, principalmente, por: ▪ Hiperemia passiva ou congestão: Principalmente pulmonar, pois ocorre aumento da pressão no interior dos capilares e das vênulas; por causa disso, as hemácias são expulsas desses vasos, mas, em alguns casos, quando a pressão interna é muito alta, pode ocorrer a ruptura destes pequenos vasos. ▪ Diáteses hemorrágicas: São os distúrbios da hemostasia que promovem hemorragia, ou seja, são condições que favorecem a hemorragia, em virtude das alterações plaquetárias ou transtornos da coagulação sanguínea. De um modo geral, essas alterações são divididas em dois grupos: ▪ Púrpuras: Ocorrem, principalmente, em virtude das alterações quantitativas ou qualitativas das plaquetas na corrente sanguínea. Além disso, há diminuição do número (trombocitopenia ou plaquetopenia) ou alterações funcionais (trombocitopatia); essas alterações aparecem na forma de púrpuras ou petéquias, como em casos de indivíduos com dengue; no uso do ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não esteroides, pois essas substâncias inibem a ciclo-oxigenase, reduzindo a produção de tromboxano e a ativação das plaquetas; em casos de indivíduos com uremia (insuficiência renal); esplenomegalia (hiperesplenismo); e próteses valvares (aumentam a destruição de plaquetas por lise mecânica). ▪ Coagulopatias ou hemorragia por alteração na coagulação sanguínea: São distúrbios da coagulação sanguínea, ou seja, defeitos da hemostasia secundária, em virtude da deficiência dos fatores da coagulação ou do excesso dos mecanismos anticoagulantes. Esses distúrbios podem ocorrer na cirrose hepática (redução na síntese de fatores de coagulação, como fatores II, VII, IX, e X e das proteínas C e S); hemofilia A (deficiência do fator VIII); hemofilia B (deficiência do fator IX); doença de von Willebrand 34 Processos Patológicos Gerais (deficiência do fator de von Willebrand); e deficiência de vitamina K (cofator importante na síntese hepática de fatores da coagulação). Em relação ao excesso de anticoagulantes, esses distúrbios podem ocorre em casos de heparinização, tratamentos com trombolíticos e em intoxicações por anticoagulantes, como o warfarin. 5.3 Evolução A evolução de um quadro hemorrágico depende de três fatores importantes: a quantidade de sangue perdido; a rapidez da perda e o local da hemorragia. Em casos de hematomas e equimoses, há lise das hemácias por macrófagos, e com isso, a área de hemorragia sofre mudanças de coloração, por causa dos fatores derivados da hemoglobina, como a bilirrubina e hemossiderina. Já em casos de hemorragias graves, com grande perda de sangue em um curto espaço de tempo, ocorre o choque hipovolêmico (hemorrágico), podendo levar o indivíduo a óbito. Em outras situações, pode ocorrer, também, a anemia por perda de ferro (anemia ferropriva), como em casos de sangramento menstrual e úlcera péptica. Mas em hemorragias internas, com acúmulo de sangue em cavidades corporais, o ferro é reutilizado para a formação de novas hemácias. Uma complicação que pode ser fatal é a hemorragia intracerebral ou intracraniana, em casos de hemorragia desencadeada por defeitos da hemostasia primária ou secundária, pois isso pode acarretar no aumento da pressão intracraniana (PIC), comprometendo o suprimento sanguíneo ou compressão do tronco cerebral por formação de uma hérnia. 6. Choque Choque ou colapso cardiovascular é a via final, comum de uma série de eventos clínicos potencialmente fatais, levando a um prognóstico que varia 35Processos Patológicos Gerais de reservado a desfavorável. Seja qual for a causa que promoveu o choque, este constitui uma hipoperfusão sanguínea sistêmica, em virtude de uma redução do débito cardíaco ou do volume sanguíneo sistêmico. Isso resulta em hipotensão arterial e consequente redução da perfusão tecidual e hipóxia celular. Inicialmente, há no organismo uma lesão celular reversível, mas com a persistência ou agravamento do quadro de choque, ocorrerá uma lesão celular irreversível (morte celular), o que pode culminar com o óbito do indivíduo. Uma característica importante é que o indivíduo apresenta extremidades frias, palidez e pele pegajosa, pulso fraco e rápido e taquipneia, principalmente nos choques cardiogênico e hipovolêmico. Como a hipóxia celular e tecidual é sistêmica, o choque se caracteriza pela falência múltipla dos sistemas orgânicos; logo, as alterações celulares ocorrem em qualquer tecido ou órgão, pois, com a hipóxia, há o desvio do metabolismo aeróbico para o anaeróbico (glicólise anaeróbica), reduzindo, desta forma, a síntese de ATP. Assim, a produção de ácido láctico é aumentada, reduzindo o pH orgânico, e culminando em acidose metabólica sistêmica. Num estágio inicial, que antecede imediatamente o choque, mecanismos compensatórios de reflexos são ativados. Logo, há uma resposta neuroendócrina, fazendo com que haja uma taquicardia por causa da hipotensãoarterial. Em outras palavras, há um aumento da atividade do sistema nervoso simpático generalizado, aumentando a frequência cardíaca e vasoconstrição periférica, pois há liberação de ACTH e ADH, bem como cortisol e adrenalina (catecolaminas) pelas glândulas adrenais, e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que diminui a diurese, por conservação de líquidos pelos rins. Se mesmo com isso, o quadro do indivíduo persistir, ocorrerá a redução do débito cardíaco. Existem vários tipos de choque. A classificação é dada de acordo com a causa principal que levou o indivíduo ao choque. 6.1 Choque Cardiogênico Este choque é causado por uma insuficiência grave da bomba cardíaca, levando a um baixo débito cardíaco, em casos de infarto do miocárdio, onde a área de infarto é extensa, próximo de 40% do miocárdio. Além disso, 36 Processos Patológicos Gerais este choque é causado por arritmias ventriculares; tamponamento cardíaco (fatores externos que podem impedir os movimentos do coração, como um hemopericárdio); e embolia pulmonar maciça, impedindo a saída do fluxo sanguíneo do coração para o pulmão. 6.2 Choque Hipovolêmico O choque hipovolêmico ocorre em virtude de uma grande perda de sangue, também chamado de choque hemorrágico, ou por perda de volume plasmático, o que promove uma redução do débito cardíaco. Essa situação pode ser desencadeada por hemorragia intensa, perda hídrica por queimaduras graves ou traumatismos, bem como por vômitos e diarreia intensos, por causa de uma grave desidratação. 6.3 Choque Séptico Considerado um choque distributivo, é causado por infecções bacterianas sistêmicas, o que caracteriza uma septicemia, principalmente por bactérias gram-positivas e gram-negativas, podendo ocorrer, também, por fungos. Neste caso, há um processo de vasodilatação sistêmica, em virtude da liberação de mediadores inflamatórios, como a histamina, oriunda de uma resposta inflamatória sistêmica ativada pelos componentes microbianos, ocorrendo a hipotensão arterial sistêmica. Esta hipotensão ocorre, também, pela ativação endotelial, que aumenta a produção de óxido nítrico (NO), contribuindo para o relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos. Além da hipotensão, há redução da contratilidade do miocárdio e represamento do sangue nas extremidades. Logo, o indivíduo apresenta extremidades aquecidas (quentes) e coradas, ocorrendo, também, a perda de líquido intravascular, por causa do aumento da permeabilidade vascular e consequente edema tecidual, rico em proteína por todo organismo. Todos estes eventos promovem uma hipoperfusão sanguínea sistêmica, com hipóxia sistêmica e alterações metabólicas, culminando com disfunção dos órgãos e, em último caso, falência múltipla dos órgãos e óbito do indivíduo. 37Processos Patológicos Gerais Há ativação e lesão endoteliais difusas, com aderência sistêmica de leucócitos e lesão difusa dos capilares alveolares pulmonares, promovendo a Síndrome da Angústia Respiratória Aguda, uma lesão induzida por neutrófilos. Ou seja, o aumento da permeabilidade vascular, o edema pulmonar e a lesão endotelial contribuem para o desenvolvimento desta síndrome. Há também a ativação do sistema de coagulação de forma generalizada, culminando com coagulação intravascular disseminada (CID), pois na sepse, há um aumento na produção de fator tecidual por monócitos e células endoteliais, bem como a diminuição na produção de anticoagulantes endoteliais, como a trombomodulina e proteína C, culminando com a ativação sistêmica da trombina. Em outras palavras, há lesão endotelial sistêmica, alteração do fluxo sanguíneo sistêmico, principalmente periférico, e consequentemente, uma situação de hipercoagulabilidade também sistêmica, o que promove CID, assim como hemorragias, por coagulopatia de consumo. 6.4 Choque Neurogênico Este choque é promovido por lesões graves que atingem o SNC (Sistema Nervoso Central), como traumas intensos com lesão abdominal, pois afetam o nervo vago (sistema nervoso parassimpático); traumas na medula espinhal e traumatismo craniano; inclusive acidente anestésico ou lesão raquimedular. Este choque também é considerado um choque distributivo. Em todas essas situações, ocorre uma estimulação excessiva do SNC, o que promove uma resposta vasomotora rápida. Com isso, há vasodilatação arteriolar, com abertura de todo leito capilar e sequestro sanguíneo em território periférico; consequentemente, há redução do débito cardíaco e uma rápida queda da pressão arterial (hipotensão arterial), gerando hipoperfusão tecidual sistêmica e hipóxia sistêmica. É por essa razão que, popularmente, dizemos que, quando um indivíduo bate com a cabeça, não podemos deixá-lo dormir. 6.5 Choque Anafilático Considerado um choque distributivo, é desencadeado por uma hipersensibilidade do tipo I generalizada, ou seja, hipersensibilidade mediada por IgE, anafilática, causada, por exemplo, por medicamentos, 38 Processos Patológicos Gerais anestesia etc., ou seja, processos alérgicos exacerbados (reações anafiláticas). Além disso, esse choque pode ocorrer em virtude de uma vasodilatação sistêmica, pela liberação de histamina por mastócitos. Com esta vasodilatação sistêmica, há um aumento da permeabilidade vascular, promovendo hipotensão arterial, hipoperfusão sanguínea sistêmica, e consequentemente, hipóxia tecidual sistêmica. 7. Edema É o acúmulo excessivo de líquido no interstício, espaço extracelular e/ou em cavidades corporais pré-formadas ou fechadas do organismo. Neste caso, o acúmulo de líquido também é denominado efusão, sendo considerado também um edema, o acúmulo de líquido na luz dos alvéolos pulmonares, o que caracteriza o edema pulmonar. 7.1 Tipos de Edema e Nomenclatura O líquido derivado do edema pode ser classificado de acordo com as características apresentadas após sua análise, principalmente em laboratório. Vejamos: Transudato: Líquido derivado de um edema não inflamatório. Ele apresenta um baixo teor proteico, poucos ou nenhum leucócitos e densidade baixa, inferior a 1012. É um líquido transparente, límpido, não coagula em repouso e o teste de rivalta é negativo. Exsudato: Derivado de um edema inflamatório, este líquido apresenta um alto teor proteico, muitos leucócitos e densidade alta, superior a 1020. É um líquido turvo, opaco, coagula quando em repouso, pela presença de fibrinogênio, e o teste de rivalta é positivo. Além desta classificação, o edema pode ser generalizado, também chamado de anasarca ou localizado, como hidrotórax (cavidade pleural; derrame pleural); hidropericárdio; hidroperitônio (ascite); e hidrocele (testículo). 39Processos Patológicos Gerais Os membros inferiores são locais onde normalmente é observado edema ou inchaço. Neste caso, se for feita uma pressão digital no local edemaciado, quando a pressão for desfeita, a impressão digital permanecerá, indicando que realmente existe edema. Este é o denominado teste de cacifo, que é positivo. Veja as imagens sobre o assunto. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. 7.2 Etiopatogenia O edema pode resultar do efeito isolado de qualquer mecanismo ou patogenia, mas é mais frequente e grave quando há a associação de mais de um destes mecanismos ou patogenias. 7.2.1 Aumento da Pressão Hidrostática A pressão hidrostática está relacionada ao volume líquido presente no interior dos vasos sanguíneos. Quando há um aumento da pressão hidrostática intravascular, ocorre o deslocamento ou extravasamento de líquidos para o espaço extracelular, caracterizando um edema. Um exemplo de aumento da pressão hidrostática é o que ocorre no caso das hiperemias ativa e passiva, onde há um aumento da quantidade de sangue arterial e venoso, respectivamente. Portanto, onde há hiperemia, há edema, mas este último é mais comumente encontrado em alterações que dificultam o retorno venoso. Em casos de insuficiênciacardíaca congestiva esquerda, há congestão e edema pulmonar, e o paciente com este quadro, geralmente, relata uma sensação de afogamento e dificuldade respiratória. Já em casos graves, pode ser observada a saída de um conteúdo espumoso de coloração, que pode variar de esbranquiçada a avermelhada; este conteúdo espumoso é indicativo de edema agudo pulmonar. Saiba Mais Leia mais https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/426/2@0:23.9 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/426/2@0:23.9 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527733243/cfi/6/38!/4/426/2@0:23.9 40 Processos Patológicos Gerais A posição ortostática prolongada, com frequência, promove edema de membros inferiores, em virtude da congestão, da mesma forma a TVP, assim como na hiperemia ativa em processos alérgicos e inflamatórios. Após atividade física, o aumento do volume sanguíneo no interior dos vasos eleva a pressão hidrostática, ocorrendo extravasamento de líquidos. 7.2.2 Redução da Pressão Oncótica ou Osmótica ou Coloidosmótica Plasmática A pressão oncótica está relacionada aos níveis plasmáticos de proteínas, principalmente, aos níveis de albumina, pois esta proteína sérica é a maior responsável pela manutenção da pressão osmótica, visto que, em condições normais, a albumina participa de quase metade dos níveis de proteína total do plasma. Quando há uma diminuição dos níveis de proteína no sangue (a denominada hipoproteinemia), a pressão oncótica está diminuída, logo, há saída de líquidos de dentro dos vasos para o espaço intersticial, gerando o edema. Este é normalmente classificado como transudato. Todas as doenças ou alterações orgânicas, que promovem a perda excessiva ou redução na síntese de albumina sérica, vão desencadear edema, como no caso de glomerulopatias com perda de proteína (síndrome nefrótica), em que a albumina é perdida na urina pelos capilares glomerulares com anormalidade na permeabilidade. Logo, é observado proteinúria em exames de urina, com a presença de espuma no ato de urinar; na cirrose hepática (disfunção hepática grave), pois é função do fígado sintetizar albumina, sendo comum, neste caso, a presença de ascite; na desnutrição, em que há carência proteica; e em gastroenteropatias, com perda de proteínas, em que pode ocorrer uma deficiência na absorção intestinal desses nutrientes (síndrome de má absorção). 7.2.3 Obstrução Linfática Uma das funções do sistema linfático é auxiliar o sistema venoso na drenagem do líquido extracelular (LEC), também chamado de linfa. Quando 41Processos Patológicos Gerais presente no interior dos vasos linfáticos, este líquido retorna para o sistema sanguíneo, por meio do ducto torácico. Logo, em casos de obstrução linfática, ocorre acúmulo de líquido no espaço extracelular, gerando edema. A obstrução linfática pode ocorrer em casos de neoplasias, principalmente malignas, por causa do caráter invasivo. Edemas de membros superiores podem ocorrer em casos de câncer de mama, inclusive após o tratamento cirúrgico, e em casos de embolia linfática, como na filariose causada pelo parasito Wuchereria bancrofti (elefantíase), assunto abordado anteriormente. 7.2.4 Retenção de Sódio e Água A retenção de sódio ou o aumento da quantidade de sódio (sal) é sempre acompanhado do aumento dos níveis de água, obrigatoriamente. Por causa disso, há uma expansão do volume líquido intravascular, promovendo o extravasamento deste, e consequentemente um edema; associado a isso, há diminuição da pressão oncótica, em razão da diluição. Como principais causas, temos a ingestão excessiva de sal, em alimentos, e aumento da reabsorção tubular de sódio, em casos de redução da perfusão renal e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. 7.3 Consequências e Evolução As consequências dependem da localização. O edema pulmonar dificulta a hematose e favorece a colonização bacteriana, podendo evoluir para uma pneumonia; o derrame pleural pode comprimir os pulmões; o edema de glote, em casos de reações alérgicas, pode causar sufocamento por estenose da laringe; a ascite também pode prejudicar a respiração por comprimir o diafragma; e o edema encefálico pode causar hipertensão intracraniana, aumentando a PIC. Além disso, o tecido cerebral pode herniar pelo forame magno ou promover a compressão do tronco encefálico; em geral, os edemas são reversíveis, como o uso de diuréticos e manitol (no caso de edema cerebral). 42 Processos Patológicos Gerais Síntese Nesta unidade de aprendizagem, vimos que, com o estudo da fisiopatologia da circulação sanguínea ou alterações circulatórias, uma mesma etiologia ou causa pode promover várias alterações circulatórias e esta pode desencadear a formação de outra, ou seja, uma pode ser consequência da outra. Como exemplo, podemos citar a hiperemia passiva ou congestão, trombose, embolia, infarto e edema, e com isso, pode ocorrer o agravamento do quadro clínico do paciente. 43Processos Patológicos Gerais Referências ACADEMIA DE CIENCIA. Coagulação do Sangue. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e4cQw70owYA>. Acesso em: 02 out. 2018. ANATPAT. Congestão passiva crônica do fígado, segunda fase (fígado em noz-moscada). Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/lamdc5. html>. Acesso em: 02 out. 2018. ______. Hiperemia passiva crônica dos pulmões na insuficiência cardíaca congestiva esquerda. Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/lamdc3. html>. Acesso em: 02 out. 2018. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo. Patologia geral. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. JEFFERSON L. DIEL. Formação da placa de ateroma (Aterosclerose). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI>. Acesso em: 02 out. 2018. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins e Cotran, patologia: bases patológicas das doenças. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. SANTOS, Renato de Lima; ALESSI, Antonio Carlos. Patologia veterinária. 2 ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. [Minha Biblioteca] ZECABIO2010. Identificando sangue com água oxigenada. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Td_QOynr0jc>. Acesso em: 02 out. 2018. http://anatpat.unicamp.br/lamdc5.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc5.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc3.html http://anatpat.unicamp.br/lamdc3.html https://www.youtube.com/watch?v=BIQtntZZGqI https://www.youtube.com/watch?v=Td_QOynr0jc Título da Unidade Objetivos Introdução 1. Arquitetura no Brasil 1.1 Arquitetura no Brasil 1.2 Ambientes no Brasil 2. Ambientes Sociais Síntese Referências Bibliográficas Acúmulos Intracelulares Objetivo Introdução 1. Degeneração 1.1 Degeneração Hidrópica 1.2 Degeneração Hialina 1.3 Degeneração Gordurosa 1.3.1. Esteatose 1.3.2. Lipidose Síntese Referências Pigmentações Objetivo Introdução 1. Pigmentações Endógenas 1.1 Derivados da Hemoglobina ou Pigmentos Hemoglobínicos 1.2 Melanina 1.3 Lipofuscina 2. Pigmentações Exógenas 2.1 Pigmentos Inalados 2.2 Argiria ou Argirismo Síntese Referências _2kiaott9sa4j Calcificações Patológicas Objetivo Introdução 1. Calcificação 1.2 Calcificação Distrófica 1.3 Calcificação Metastática Síntese Referências _gjdgxs _gyx8vn7doa8z Morte Celular Introdução Objetivo 1. Necrose 1.1 Causas de Necrose 1.2 Principais Tipos de Necrose 1.2.1 Necrose de Coagulação 1.2.2 Necrose de Liquefação 1.2.3 Necrose Caseosa 1.2.4 Esteatonecrose 1.2.5 Gangrena 1.2.6 Necrose Hemorrágica 1.3 Evolução da Necrose 1.3.1 Regeneração 1.3.2 Cicatrização 1.3.3 Encistamento 1.3.4 ‘Eliminação 1.3.5 Calcificação 2. Apoptose 2.1 Causas da Apoptose 2.1.1 Eventos Fisiológicos 2.1.2 Eventos Patológicos 2.2 Aspectos Morfológicos da Apoptose 2.3 Mecanismos da Apoptose 2.3.1 Fase de Iniciação da Apoptose 2.3.2 Fase de Execução da Apoptose 2.3.3 Remoção das Células Mortas Síntese Referências Fisiopatologia da Circulação Sanguínea ObjetivosIntrodução 1. Hiperemia 1.1 Hiperemia Ativa 1.1.1 Hiperemia Ativa Fisiológica 1.1.2 Hiperemia Ativa Patológica 1.2 Hiperemia Passiva ou Congestão 1.2.1 Hiperemia Passiva Localizada ou Congestão Localizada 1.2.2 Hiperemia Passiva Generalizada ou Congestão Generalizada (Sistêmica) 2. Trombose 2.1 Hemostasia 2.2 Patogenia da Trombose 2.2.1 Lesão Endotelial 2.2.2 Alteração do Fluxo Sanguíneo Normal 2.2.3 Hipercoagulabilidade 2.3 Destino dos Trombos 2.4 Coagulação Intravascular Disseminada (CID) 3. Embolia 3.1 Embolia Sólida 3.2 Embolia Gordurosa 3.3 Embolia Gasosa 3.4 Embolia Linfática 4. Infarto 4.1 Infarto Branco ou Anêmico 4.2 Infarto Vermelho ou Hemorrágico 5. Hemorragia 5.1 Classificação e Nomenclatura 5.1.1 Hemorragia Externa 5.1.2 Hemorragia Interna 5.2 Etiopatogênese 5.2.1 Hemorragia com Solução de Continuidade ou Hemorragia por Rexe 5.2.2 Hemorragia sem Solução de Continuidade ou Hemorragia por Diapedese 5.3 Evolução 6. Choque 6.1 Choque Cardiogênico 6.2 Choque Hipovolêmico 6.3 Choque Séptico 6.4 Choque Neurogênico 6.5 Choque Anafilático 7. Edema 7.1 Tipos de Edema e Nomenclatura 7.2 Etiopatogenia 7.2.1 Aumento da Pressão Hidrostática 7.2.2 Redução da Pressão Oncótica ou Osmótica ou Coloidosmótica Plasmática 7.2.3 Obstrução Linfática 7.2.4 Retenção de Sódio e Água 7.3 Consequências e Evolução Síntese Referências
Compartilhar