Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ciclo laboratorial O laboratório O laboratório exerce papel fundamental no serviço de saúde. Segundo estimativas, 70% de todas as decisões médicas baseiam-se em resultados laboratoriais, embora os gastos com testes laboratoriais respondam apenas por 3,5% do total de dólares direcionados ao serviço de saúde. O laboratório é uma indústria que movimenta 30 a 35 bilhões de dólares e oferece bens clínicos de alto valor a custos relativamente baixos. O objetivo do laboratório é fornecer a médicos e demais profissionais da saúde informações para: - Detectar doenças ou predisposição a doenças; - Confirmar ou rejeitar diagnósticos; - Estabelecer prognósticos; - Orientar a supervisão do paciente; - Monitorar a eficácia da terapia. O laboratório também exerce papel de liderança na educação e na pesquisa, no planejamento e na implementação de tecnologia da informação e no aprimoramento da qualidade. O papel do médico Um estudo realizado em 1999 pelo Institute of Medicine (IM), constatou que dentre 98 mil americanos, 44 mil indivíduos morrem todo ano vitimados por erros médicos (Silverstein, 2003; Kohn, 1999). Entre esses erros, 50% consistem em falha na utilização de testes laboratoriais apropriados, e destes, 32% foram devidos à incapacidade de agir em resposta aos achados dos testes, e 55% decorreram da demora (evitável) em estabelecer um diagnóstico. A solicitação de exame laboratorial deve ser pautada na hipótese diagnóstica retirada da história clínica do paciente, pois devemos direcionar nossa pesquisa laboratorial evitando a realização de exames desnecessários, os quais custam caros para o sistema de saúde e/ou paciente e aumentam o risco de iatrogenia. O termo iatrogenia significa qualquer alteração patológica provocada no paciente pela má prática médica. O ciclo do exame laboratorial O laboratório clínico é uma operação complexa que deve integrar facilmente as três fases do processo de realização de testes: pré-analítica, analítica e pós-analítica. - A fase pré-analítica refere-se a todas as atividades que são realizadas antes do exame (exemplo: solicitação do exame e coleta de amostra). - A fase analítica inclui as atividades laboratoriais que de fato produzem um resultado (exemplo: processar uma amostra em um analisador automatizado). - A fase pós-analítica inclui a liberação do laudo ao paciente e a interpretação do resultado. Os erros pré-analíticos incluem amostras hemolisadas, insuficientes ou coaguladas, amostras com identificação errada ou sem identificação, coleta realizada com tubo coletor errado e armazenamento inadequado da amostra; os erros analíticos incluem erros de calibração e mal funcionamento de equipamentos; os erros pós-analíticos consistem em relatórios enviados ao médico errado, tempo de ida e volta longo e extravio de relatórios. Assim, fica claro que há oportunidades para aprimorar a qualidade dos serviços laboratoriais. Fase pré-analítica A fase pré-analítica refere-se a todas as etapas que devem ser realizadas antes que uma amostra possa ser analisada, ou seja, essa fase engloba os processos da solicitação médica até todos os procedimentos realizados com a amostra antes que ela seja submetida ao procedimento da fase analítica. - Indicação/solicitação dos exames; - Orientações ao paciente; - Coleta de amostras; - Transporte/armazenamento. A fase pré-analítica consiste na preparação do paciente, coleta, manipulação e armazenamento do espécime diagnóstico, antes da determinação analítica. Ou seja, engloba todas as atividades que precedem o ensaio laboratorial, dentro ou fora do laboratório de análises clínicas Os fatores pré-analíticos incluem variáveis relacionadas ao paciente (dieta, idade, sexo etc.), técnicas de coleta de amostra, preservativos de amostra e anticoagulantes, transporte, processamento e armazenamento de amostra. As fontes potenciais de erro, ou falhas nesse processo, incluem identificação errônea da amostra, momento inadequado de coleta, jejum inadequado, relação anticoagulante/sangue inadequada, mistura inadequada, solicitação ou coleta incorreta e amostras hemolisadas ou lipêmicas. As questões pré-analíticas causam um impacto sobre os recursos laboratoriais, os custos hospitalares e a qualidade global. Segundo algumas estimativas, erros de coleta de amostras custam aproximadamente US$ 200.000 por ano em custos de nova coleta para um hospital com cerca de 400 leitos. Indicação/solicitação dos exames - Os dados demográficos do paciente incluem nome, sexo, idade, data de nascimento, data de admissão, data de solicitação de exames, número de registro hospitalar, número do quarto, médico e número de código de farmácia do médico. - Questões médico-legais incluem identificação adequada do paciente (nome do paciente, idade e sexo), descrição dos exames (tipo do exame e horário específico de coleta), detalhes do que se investiga (especificar o tipo de analítico a ser determinado), identificação adequada da amostra e hipótese diagnóstica. Preparo do paciente - No período que antecede a coleta, o médico e/ou laboratório deve orientar o paciente dando todas as informações necessárias para a efetuação do exame. Assim, essas orientações, em linguagem acessível, devem ser referentes ao tempo de jejum, à prática de exercícios físicos, ao consumo de bebidas alcoólicas etc. - Os laboratórios clínicos devem cadastrar os clientes, cujos dados pessoais devem estar corretos para reduzir qualquer eventual erro. Coleta - Nessa etapa da obtenção da amostra, os profissionais devem agir com cuidado e atenção seguindo o regulamento específico de coleta (diminuindo os erros) - Outros fatores que merecem atenção são o preparo e a organização dos equipamentos a serem utilizados, sendo necessário cuidar do envio das amostras nos prazos adequados, assegurando a qualidade do material. - As amostras devem ser coletadas em tubos adequados para cada tipo de análise. A escolha errada do tubo ou do anticoagulante pode acarretar muitas alterações e interferências nos resultados dos exames. A separação das células sanguíneas do soro deve ser feita o mais rápido possível, pois o contato prolongado entre as duas partes pode modificar a concentração de vários analitos. O gel separador minimiza estes efeitos, pois cria uma barreira entre estes componentes. O material empregado na fabricação dos tubos também pode provocar interferência em alguns analitos. O anticoagulante deve ser escolhido adequadamente para cada tipo de exame e a relação entre volume de amostra colhido e quantidade de anticoagulante deve ser respeitada. Transporte - É de suma importância o bom armazenamento da amostra coletada, identificando-a corretamente, além da utilização de maletas adequadas (tudo para que o material tenha segurança e seja preservado em boas condições para análise. As consequências de um preparo mal feito e um transporte inadequado variam desde a perda da amostra por vazamento até alterações na concentração dos seus constituintes. Portanto, os cuidados com o preparo, o acondicionamento da amostra e o controle da temperatura durante o transporte são importantíssimos para a preservação dos componentes da amostra. Conclui-se que todas as fases devem ser realizadas com rigorosa atenção e cuidados técnicos, porém, na fase pré-analítica, esse rigor e o cuidado devem ser maiores. Variáveis biológicas Na fase pré-analítica, ocorre um grande número de variáveis que devem ser evitadas para não comprometerem o resultado final destas análises. Devido a estas ocorrências, muitas vezes, pode ser necessário uma nova coleta de amostra para fazer uma avaliação correta dos resultados. Idade - A idade dos pacientes tem um efeito sobre os constituintes do soro. - No recém-nascido, grande parte da hemoglobina é tipo F, e não A, como é observado no adulto. - Lactentes apresentam uma glicemia mais baixa que os adultos por causa de sua baixa reserva de glicogênio. - Com o crescimento esquelético e o desenvolvimento muscular, os níveis de fosfatase alcalina sérica e creatinina tambémaumentam respectivamente. - A maioria dos constituintes séricos permanece constante durante a vida adulta até o início da menopausa nas mulheres e a idade média nos homens. - O idoso secreta menos tri-iodotironina, paratormônio, aldosterona e cortisol. Sexo - Após a puberdade, em geral os homens apresentam níveis mais elevados de fosfatase alcalina, aminotransferase, creatina quinase e aldolase que as mulheres. Isso se deve à maior massa muscular dos homens. - As mulheres apresentam níveis séricos mais baixos de magnésio, cálcio, albumina, hemoglobina, ferro e ferritina. A perda sanguínea menstrual contribui para o valor mais baixo de ferro. Ritmo circadiano - O efeito do ritmo circadiano na interpretação dos exames é de grande importância. Além das variações individuais, muitos hormônios sofrem variações ao longo das 24 horas. - O cortisol apresenta valores mais elevados pela manhã, sendo que à tarde e à noite seus valores são mais baixos. - O TSH apresenta níveis mais elevados no meio da noite e níveis mais baixos no meio do dia. - O potássio, a fosfatase ácida e a transferrina estão mais elevados pela manhã. Além da variação individual, o ferro sérico pode sofrer variações de 30 a 50% em seus valores. - À tarde, os triglicerídeos e a uréia estão mais altos. - Leucócito e linfócitos apresentam valores máximos pela manhã, já os eosinófilos apresentam-se mais baixos à tarde. - A vitamina D, que sofre interferência da luz solar, no inverno sofre redução dos seus níveis. - Devido a estes fatos, os valores para as provas funcionais foram padronizados pela manhã, por isto os exames devem ser realizados neste período. Drogas terapêuticas e recreativas - Vários medicamentos podem interferir, “in vivo” ou “in vitro”, nas dosagens laboratoriais. - O paciente deve informar ao laboratório se está usando algum tipo de medicamento ou suplementos vitamínicos e o médico deve ficar atento se ele está usando, sem receita, alguma substância que possa causar interferências nos exames - A vitamina C pode elevar resultados do ácido úrico, provocar possíveis alterações na creatinina e produzir resultados “falso-negativos”, na pesquisa de sangue oculto nas fezes. - Contraceptivos orais podem elevar os níveis de T3 e T4, ferro sérico, triglicérides e diminuir os níveis de albumina. - O monitoramento das drogas terapêuticas deve ser feito no intervalo entre as doses, mas em alguns casos, a coleta deve ser feita no pico de concentração da droga. Jejum - O jejum é obrigatório para uma grande parte dos exames laboratoriais. No entanto, alguns exames não necessitam de jejum obrigatório. Mesmo assim, é recomendado um intervalo de mínimo de 4 horas após a refeição, para evitar interferências. Jejuns prolongados, superiores a 14 horas, também não são recomendados, pois podem interferir em alguns exames. - A dieta de um indivíduo pode afetar muito os resultados de exames laboratoriais. O efeito é transitório e facilmente controlado. - A glicose e os triglicerídeos, absorvidos do alimento, aumentam após a refeição. - Após 48 horas de jejum, a concentração sérica de bilirrubinas pode aumentar. O jejum de 72 horas diminui a concentração plasmática de glicose em mulheres saudáveis para 45 mg/dL (2,5 mmol/L), enquanto os homens apresentam um aumento da concentração plasmática de triglicerídeos, glicerol e ácidos graxos livres,sem alteração significativa na concentração plasmática de colesterol. - Ao determinarem-se constituintes sanguíneos (p. ex., glicose, triglicerídeos, colesterol e eletrólitos), a coleta deve ser realizada no estado basal (Garza, 1989). A ingestão de um alimento, dependendo de seu conteúdo de gordura, pode elevar a concentração plasmática de potássio, triglicerídeos, fosfatase alcalina e ácido indolacético (5-HIAA). - A pesquisa de sangue oculto nas fezes, que detecta o heme, é afetada pela ingestão de carne vermelha, peixe, ferro e raiz-forte, uma fonte de peroxidase que causa um resultado falso-positivo na reação de sangue oculto. Alterações fisiológicas podem incluir a hiperquilomicronemia, aumentando a opacidade do soro ou do plasma e podendo interferir na leitura do equipamento. - Certos alimentos ou regimes dietéticos podem afetar os constituintes do soro ou da urina. Foi relatado que dietas vegetarianas prolongadas provocam diminuição de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), lipídeos totais, fosfolipídeos, colesterol e triglicerídeos; a deficiência de vitamina B12 também pode ocorrer, exceto se forem utilizados suplementos. Uma dieta rica em carne vermelha ou rica em outras fontes proteicas pode aumentar a concentração sérica de ureia, amônia e urato. Dietas ricas em proteínas e pobres em carboidratos aumentam a concentração de cetonas na urina e a concentração sérica de nitrogênio ureico sanguíneo. Alimentos com uma alta relação ácidos graxos insaturados/ácidos graxos saturados podem causar diminuição do colesterol sérico, enquanto uma dieta rica em purinas causará aumento da concentração de urato. Alimentos como banana, abacaxi, tomate e abacate são ricos em serotonina, quando ingeridos, pode ser observado um aumento da excreção urinária de ácido hidróxi-indolacético. Bebidas ricas em cafeína causam o aumento da concentração plasmática de ácidos graxos livres e a liberação de catecolaminas da medula suprarrenal e do tecido encefálico. - Aumentos da concentração sérica de colesterol, triglicerídeos e apolipoproteínas B estão correlacionados com a obesidade. A atividade da lactato desidrogenase sérica, a produção de colesterol e a glicose aumentam na obesidade. A concentração plasmática de insulina também aumenta, mas a tolerância à glicose diminui. Em homens obesos, a concentração de testosterona diminui. Atividade física - A atividade física tem efeitos transitórios e de longa duração sobre determinações laboratoriais. As alterações transitórias podem incluir uma diminuição inicial seguida por um aumento de ácidos graxos livres. A alanina pode aumentar até 180% e o lactato, até 300%. - O exercício pode elevar a creatina fosfoquinase (CPK), a transaminase glutâmico oxalacética (TGO) e a lactato desidrogenase (LDH) e pode ativar a coagulação, a fibrinólise e as plaquetas, essas alterações estão relacionadas ao aumento das atividades metabólicas com objetivo energético e, em geral, retornam aos níveis pré-exercício assim que o exercício é interrompido. - Os efeitos de longa duração do exercício podem aumentar os valores de CPK, aldolase, TGO e LDH. - O exercício aeróbio crônico está associado à diminuição da concentração plasmática de enzimas musculares como CPK, TGO, ALT e LDH. - Diminuição da concentração sérica de gonadotrofina e de hormônios esteróides sexuais são observadas em corredores de longa distância, e o nível de prolactina encontra-se aumentado. Postura - A postura do paciente durante a flebotomia (fazer uma incisão num vaso sanguíneo para extrair sangue) pode ter efeito sobre vários resultados laboratoriais. - A posição ortostática aumenta a pressão hidrostática, provocando redução do volume plasmático e aumento da concentração de proteínas. - As concentrações séricas de albumina e cálcio podem aumentar quando um indivíduo passa da posição deitada para a posição em pé. - Os elementos que são afetados por alterações posturais são albumina, proteínas totais, enzimas, cálcio, bilirrubina, colesterol, triglicerídeos e fármacos ligados a proteínas. - A aplicação incorreta do garrote e do exercício de punho pode resultar em resultados errôneos de exames. O uso de garrote na coleta de sangue para determinar a concentração de lactato pode resultar em um valor falsamente elevado. A aplicação prolongada do garrote também pode aumentar a concentração sérica de enzimas, proteínas e substâncias ligadas a proteínas, incluindo colesterol, cálcio e triglicerídeos, em razão da hemoconcentração. - Após o repouso ao leito no hospital, o nível de hemoglobina de um paciente pode ser inferior ao valor obtido no momentoda admissão, o suficiente para levar falsamente um médico a suspeitar de hemorragia interna ou hemólise. Os pacientes devem ser orientados a evitar modificações na dieta, consumo de álcool e realização de exercícios extenuantes 24 horas antes de submeterem-se a uma coleta de sangue para a realização de exames laboratoriais. Tabagismo - Tabagistas apresentam níveis séricos elevados de carboxihemoglobina, catecolaminas e cortisol. Alterações desses hormônios geralmente acarretam diminuição do número de eosinófilos, enquanto neutrófilos, monócitos e ácidos graxos livres plasmáticos aumentam. - Efeitos crônicos do tabagismo causam aumentos da concentração de hemoglobina, da contagem eritrocitária, do VCM e da contagem leucocitária. Também são observados aumentos da concentração plasmática de lactato, insulina, adrenalina, hormônio do crescimento e secreção urinária de ácido 5-hidróxi indolacético. O nível de vitamina B12 pode diminuir de modo substancial, e foi relatado que ele é inversamente proporcional à concentração sérica de tiocianato. - O tabagismo também afeta a resposta imune do organismo. Tabagistas apresentam diminuição das imunoglobulinas A, G e M e aumento da imunoglobulina G. - Existem relatos de diminuição da contagem e da motilidade espermática e aumento de espermatozóides com morfologia anormal em tabagistas em comparação com não tabagistas. Álcool - A ingestão de álcool aumenta a concentração plasmática de lactato, urato e triglicerídeos. - Elevação da lipoproteína de alta densidade (HDL), colesterol, Á-glutamil transferase (Á-GT), urato e volume corpuscular médio (VCM) foram associadas ao alcoolismo crônico. - O álcool pode provocar modificações no metabolismo, alterando vários componentes sanguíneos. O uso do álcool até quatro horas antes do exame pode diminuir a glicose sérica. A ingestão do álcool leva também ao aumento da concentração sérica dos triglicérides e do ácido úrico. Seu uso constante pode irritar a mucosa gástrica e causar sangramentos, interferindo na pesquisa de sangue oculto nas fezes. Estresse - O estresse mental e físico induz a produção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), cortisol e catecolaminas. - Foi relatado que a concentração sérica de colesterol total aumenta com o estresse leve, enquanto o HDL-colesterol diminui em até 15%. - A hiperventilação afeta o equilíbrio ácido básico e aumenta a contagem leucocitária, a concentração sérica de lactato ou de ácidos graxos livres. A gravidez provoca mudanças metabólicas importantes e diversos exames têm seus valores modificados de acordo com o período gestacional. Concentrações de estrogênios e progesterona levam ao aumento da secreção de prolactina, da globulina ligadora da tiroxina, causando aumento do T3 e T4 totais, podendo ocorrer diminuição do LH e do FSH. Mudanças na função renal, com elevação dos níveis de filtração glomerular podem levar ao aumento da excreção de glicose, proteínas, uréia e creatinina, observando-se diminuições dos níveis séricos destes analitos. Pode ocorrer um aumento nos níveis de lipídios, colesterol e triglicerídeos. O hematócrito e a hemoglobina podem diminuir e as plaquetas podem ter seus níveis reduzidos gradualmente. Os fatores de coagulação podem elevar-se ligeiramente. Hemólise - A palavra hemólise é definida na literatura como um rompimento da membrana da hemácia, causando a liberação da hemoglobina e outros componentes internos no líquido circundante (plasma). Ela pode ser originada in vivo e/ou in vitro. Enquanto a hemólise in vivo sugere uma condição clínico-patológica, a in vitro demonstra erros no procedimento de coleta, processamento, transporte ou armazenamento da amostra afetando diretamente o resultado do teste. - A questão da hemólise sempre atormentou laboratórios clínicos e continua sendo uma preocupação crescente. Na verdade, muito conhecimento, habilidade e experiência são necessários para coletar uma amostra de sangue de qualidade e que produza os resultados desejados. O alto grau de variabilidade dos treinamentos, habilidade e frequência da prática de flebotomia das equipes não-laboratoriais é um grande fator no aumento das taxas de hemólise em muitos estabelecimentos. Fase analítica Na fase analítica, o material coletado é analisado. São diversos os processos envolvidos nessa fase, na dependência do método analítico empregado, envolvimento de pessoas e, sobretudo, o emprego de métodos de controle para garantia de resultados mais acertados. Depois de coletados e transportados, o laboratório inicia o processo de análise do material biológico. Atualmente existe um grande emprego de automação nessa fase, porém ainda é necessário que o profissional supervisione os instrumentos, reagentes, estabilidade da amostra, além da monitoração de todos os processos. Os profissionais da saúde devem ficar atentos e conhecer em profundidade os sistemas analíticos que empregam, os Procedimentos Operacionais Padrão (POP) do equipamento e do método, além do método de controle adotado, como o controle estatístico dos processos. Apesar de a análise se basear muitas vezes em um sistema automatizado e que possui alta tecnologia, há necessidade da atuação do profissional, de fundamental importância para a garantia da qualidade dos resultados. Fazem parte do seu trabalho nessa fase: - Verificação de instrumentos e reagentes; - Verificação do estado de controle dos sistemas; - Monitorização dos processos de análises; - Manutenção de soroteca. Os profissionais de saúde devem identificar os pontos críticos que requerem mais atenção na fase analítica, com protocolos estabelecidos de checagem para atuação de modo preventivo. Além disso, o profissional fará a monitorização regular dos testes por meio de métodos de Controle Interno da Qualidade (CIQ), porque todos os procedimentos de medidas estão sujeitos a variações; o propósito do CIQ, que é um controle estatístico de processos, é buscar assegurar que o desempenho dos métodos seja mantido dentro dos limites esperados de variação. É importante poder contar com instrumentos, insumos (reagentes, calibradores, água reagente) e ferramentas de avaliação, adequados para executar com eficiência a fase analítica. Ainda hoje, com equipamentos e métodos modernos, existem 14% de chances de ocorrerem erros nas análises, na fase analítica. No Brasil, foram criadas normas e determinações para assegurar que os laboratórios se dediquem a cuidar da qualidade, sendo obrigatória a realização do Controle Interno da Qualidade, para monitorar a imprecisão e também a participação em ensaios de proficiência, que é o Controle Externo da Qualidade, para verificação da exatidão. É como está definido na RDC 302/2005 da Anvisa. É necessário também que os laboratórios de análises clínicas disponibilizem conteúdos de qualificação e formação profissional, para aperfeiçoamento do seu pessoal. A fase analítica envolve a preparação de reagentes para analisar amostra coletada (aspecto fundamental do processo analítico), a manutenção e calibração dos equipamentos para ajustar a precisão dos resultados que serão obtidos, e a validação do método e controle de processos laboratorial para identificar a veracidade do teste. Métodos de validação do processo laboratorial - Limites de referência: Intervalo de valores onde situa-se a maioria dos indivíduos sadios e exclui-se os doentes; - Acurácia: Avalia o desempenho de um novo método; - Precisão: reprodutibilidade; - Sensibilidade analítica: Valor mínimo que um analito é detectado; - Especificidade analítica: Detecta interferência (hemólise, icterícia, lipemia) Fase pós-analítica Após a coleta do material e a análise dos dados, o exame laboratorial passa pela última etapa, a fase pós-analítica; na qual há envio e interpretação dos resultados e consequentemente o diagnóstico e tratamento. A fase pós-analítica se inicia após a obtenção de resultados válidos das análises laboratoriais, sendo emitido um laudo para interpretação do solicitante. Porém, muitos consideram essa fase numaextensão até o processo de utilização da informação para tomada de decisão médica. A fase pós-analítica se materializa no laudo do exame. Sua qualidade como mídia e conteúdo para a informação laboratorial devem merecer grande cuidado. As etapas da fase pós-analítica: - Preparo do laudo dos exames; - Impressão, ou transmissão do laudo; - Recebimento do laudo; - Tomada de decisão. Laudo do exame - Uma vez que os resultados são aprovados e liberados, os dados são utilizados para a confecção do laudo. Esse processo é feito pelo Sistema de Informações Laboratoriais, que deve seguir a legislação vigente. - Os resultados obtidos das amostras de pacientes serão cuidadosamente transportados para o computador, ou através da interface de SOFTWARE entre o analisador e o Sistema de Informática Laboratorial (SIL). Os resultados dos exames devem ser verificados e liberados por pessoal de nível superior: médicos, bioquímicos, biomédicos, antes de liberados para a fase seguinte. Se o programa de interface permite, ou o SIL, a liberação pode muitas vezes ser feita de forma eletrônica, de especial valor para o caso de processamento de grande número de amostras. - O laudo deve indicar as situações nas quais a análise foi feita apesar das restrições da amostra, e eventualmente se a amostra foi submetida a um pré-tratamento. A comunicação eletrônica dos laudos promove a redução de custos para as partes envolvidas: - Para o laboratório, há menor gasto com impressão, papel, tinta e impressora, com pessoal para cuidar deste processo e locais de guarda etc; - Para o paciente, principalmente por dispensar o deslocamento até o laboratório, mesmo que ele tenha os gastos com impressão em sua residência. Se o laudo for analisado pelo médico em seu computador, esse custo não haveria, poupando ainda os recursos naturais. Interpretação do laudo - Com o laudo laboratorial em mãos, o médico interpreta os dados do exame e toma uma decisão clínica pautada nos resultados e história clínica do paciente. - Acredita-se que os laudos laboratoriais orientem cerca de 70% das decisões médicas. A fase pós-analítica é uma fase de aprovação e liberação do resultado gerado na fase analítica, inclui ainda a interpretação do resultado. Quais cuidados devem ser tomados na prescrição de exames laboratoriais? O potencial impacto dos exames laboratoriais no desfecho clínico pode ser resumido em uma sequência de três perguntas: - “Um teste de laboratório muda o que o médico está pensando sobre o paciente?” Pode contribuir/interferir no diagnóstico inicial? Se sim, deve-se descrever o exame laboratorial. - “Essa mudança de pensamento altera a maneira como o médico gerencia o paciente?” Pode contribuir/interferir para definir o projeto terapêutico individual? Se sim, deve-se descrever o exame laboratorial. - “Essa mudança no manejo do paciente afeta os resultados (ou seja, mortalidade / morbilidade)”? Excesso de diagnósticos e tratamentos de alterações de saúde incipientes (às vezes, apenas resultados laboratoriais anormais) que nunca acarretariam problemas clinicamente relevantes para as pessoas, caso não fossem diagnosticadas. As consequências podem ser deletérias: riscos inerentes a tratamentos, transtornos psicológicos, efeitos colaterais de medicamentos, riscos relacionados à realização do próprio exame, piora da qualidade de vida, entre outros. Letícia Terruel
Compartilhar