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Trabalho_A RELAÇÃO BRASIL-EUA NA ERA FHC E NO GOVERNO BOLSONARO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DISCIPLINA DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA II
PROF. AUGUSTO VELOSO
CARVALHO, Beatriz (11711RIT006)
MARTINELLI, Marcelo (11711RIT023)
SANTOS, Anna Clara (11711RIT007)
SILVA, Fernando (11521RIT032)
A RELAÇÃO BRASIL-EUA NA ERA FHC E NO GOVERNO BOLSONARO: 
Efeitos sobre a PEB e o Processo de Integração Regional
UBERLÂNDIA
DEZEMBRO, 2020
RESUMO:
O artigo tem como objeto de análise o processo de integração regional e sua inserção na agenda de política externa dos governos Cardoso (1995-2002) e Bolsonaro (2019-2022). Dentro desse contexto, o objetivo central do trabalho é comparar o processo em cada governo, tendo por base a influência das relações com os Estados Unidos orientando a política externa de cada presidente. Para tanto, é necessário compreender, em primeiro lugar, a conjuntura do período FHC, bem como os conceitos de “autonomia” e “desenvolvimento” presentes na agenda de política externa de seu governo, relevantes para o avanço do processo de integração nas Américas do Sul e Latina. Não obstante, características particulares das instituições regionais repercutiram negativamente na governança desse processo integrativo, tais como processos decisórios, mecanismos de financiamento e pulverização política, que não serão abordados no presente estudo. Por fim, serão levantados questionamentos e reflexões acerca dos caminhos da política externa e do processo integração regional no governo Bolsonaro, em contraposição ao modelo praticado no período em que FHC esteve encarregado da política externa (seja como chanceler, seja como presidente da República).
Palavras-Chave: Brasil; Estados Unidos; política externa; integração; regionalismo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	3
ERA FHC	4
Conjuntura e Relações com os EUA	4
A PEB e o Processo de Integração Regional	5
Os conceitos de Autonomia e Desenvolvimento	8
GOVERNO BOLSONARO	11
Conjuntura e Relações com os EUA	11
Reflexões sobre a PEB e o Processo de Integração Regional	12
A questão da Venezuela	15
CONCLUSÃO	16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	17
1. INTRODUÇÃO
	
O processo de integração regional tem sido pauta relevante na agenda de política externa da década de 1990 e da primeira década de 2000, se comparada com a segunda a partir de 2013. Nota-se que essa mudança ocorre em razão de novas condicionalidades e interesses a nível doméstico, regional e multilateral. Estas podem ser traduzidas em dificuldades ligadas às condições políticas e econômicas internas, bem como às transformações no cenário regional e internacional, as quais modificam a atuação internacional do país (RAMANZINI, 2016).
Uma das condições que influem no cenário regional e internacional é a relação entre Brasil e Estados Unidos, a qual assume diferentes características nos governos de Fernando Henrique Cardoso se comparada ao governo de Jair Bolsonaro. Até metade da segunda década de 2000, a inserção regional era eixo relevante da diplomacia brasileira. A partir daí, tem sua intensidade reduzida e, agora, assiste-se a um quadro de ruptura (SPEKTOR, 2019). 
No entanto, esse movimento de alteração da política externa brasileira só pode ser compreendido se associado à conjuntura externa e, principalmente, ao relacionamento com os EUA. Diante disso, o artigo busca evidenciar a relação com os EUA em cada governo e seus desdobramentos para a integração regional, considerando fatores como atores, ideologias e realidades socioeconômicas de cada período (FHC e Bolsonaro). Para tanto, o trabalho utiliza-se do método de análise comparativa, uma vez que possibilita trabalhar as respectivas conjunturas dos governos e, conjuntamente, verificar o papel das diferentes acepções de política externa para o processo de integração regional. 
A escolha pela comparação a nível das relações Brasil-EUA é justificada pela capacidade do governo estadunidense influir sobre a agenda de política externa de países da região, gerando adaptações e alterações. Assim, o posicionamento dos EUA pode contribuir (ou não) para que o Brasil assuma um papel de liderança no processo de integração regional. De qualquer forma, a posição brasileira pode ser determinante “(...) para a configuração e o futuro do regionalismo latino e sul-americano (...)” (RAMANZINI, 2016, 153), e o presente artigo busca analisar como essas condições influenciaram e ainda influenciam a decisão de incluir (com menor ou maior intensidade) a pauta regional na agenda de política externa brasileira (RAMANZINI, 2016).
Enfim, o artigo está estruturado cronologicamente, de modo a analisar primeiramente a conjuntura histórica, as relações com os EUA e a orientação da política externa brasileira para regionalismo na Era FHC. Em seguida, realiza-se o mesmo com o governo Bolsonaro, até o presente, oferecendo reflexões acerca do eixo da diplomacia praticada. 
2. ERA FHC
	Essa seção irá apresentar a política externa dos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) nas dimensões do relacionamento com os Estados Unidos e em relação ao processo de integração regional. Levanta-se o pressuposto, que será melhor definido abaixo, de que a natureza das relações Brasil-EUA somada ao entendimento idiossincrático de FHC sobre a inserção exterior do Brasil foram parâmetros que orientaram o papel brasileiro junto ao avanço do projeto de integração do continente. Apresentamos também como as circunstâncias da década de 1990 influenciaram certas interpretações e medidas do governo brasileiro e os limites do discurso e ações de Cardoso. 
2.1. Conjuntura e Relações com os EUA
O contexto internacional que FHC assumiu era de ideias liberais (abertura comercial, menor papel do Estado) e ascendia a ideia de globalização. Caracterizado por uma Política Externa de “Autonomia pela integração”, o conceito explica a mudança do Brasil em relação aos principais regimes internacionais. Autonomia é um elemento estrutural da PEB, nesse momento, a melhor forma de garantir a autonomia seria se integrando aos principais regimes internacionais. O principal exemplo disso é a adesão ao TNP, antes, o regime era visto, de acordo com Araújo Castro, como um instrumento para o congelamento do poder, para a manutenção das grandes potências (VIGEVANI, T; CEPALUNI, G, 2007).
A relação do governo FHC com os Estados Unidos, assim como as posições perante os grandes temas da agenda internacional, insere-se na perspectiva da “autonomia pela participação”, entendida como a busca por influir ativamente nas pautas, considerando que essa posição traria mais vantagens ao país. Os setores sociais, particularmente empresariais e políticos, assim como parte dos funcionários de alto escalão, que enxergam nas relações com os países centrais maiores benefícios, constituíram a base de apoio dessa política. Procurou-se manter excelentes relações políticas, econômicas e comerciais com as grandes potências mundiais [especialmente os Estados Unidos] e, ao mesmo tempo, priorizar os laços com o Sul do mundo (VIGEVANI, T; CEPALUNI, G, 2007).
A importância relativa de cada país passa a ser medida menos pelo seu peso militar e estratégico e mais por sua projeção econômica e comercial. Ou seja, a prioridade era se relacionar com países com maior dinamismo econômico, as relações estabelecidas estavam muito baseadas na relevância econômica que aquilo teria para o Brasil. O principal objetivo da política externa nesse momento era conquistar credibilidade para o Brasil - principalmente frente aos problemas com dívidas que o país havia enfrentado nos anos anteriores. Foi utilizado muita diplomacia presidencial - aumentaram as viagens do presidente. Não se pode desconhecer que coalizões na lógica da cooperação Sul-Sul são ensaiadas no final da administração FHC, no contencioso das patentes de medicamentos contra o HIV/AIDS, quando o Brasil se alia à África do Sul e à Índia para tentar reduzir os preços internacionais destes remédios, contando com o apoio de setoresda sociedade civil de outros países. (VIGEVANI, T; CEPALUNI, G, 2007).
Embora as relações com os EUA viessem melhorando desde o início do governo Bush, restavam importantes divergências bilaterais, tanto ligadas à dívida externa quanto às questões de propriedade intelectual – das quais se destacavam as patentes farmacêuticas e a legislação de informática. O governo Bush modificou o quadro das Relações Internacionais, houve um aceleramento do unilateralismo e um enfraquecimento do multilateralismo, no entanto a autonomia pela integração pressupunha uma sociedade multilateral. Com isso, em 2001, o Brasil passou a olhar mais para as relações sul-sul, especialmente, pela ascensão chinesa nos anos 2000 (CASARÕES, 2015).
 
2.2. A PEB e o Processo de Integração Regional
O ano de 1992 representa internacionalmente um novo paradigma importante para as relações internacionais, considerando o fim da guerra fria no ano precedente, a entrada em vigor do Tratado de Maastricht, criando a União Europeia, e um EUA menos receptivo aos anseios dos países da América Latina, como negociar temas de dívida e de comércio. Se externamente era um momento de reajuste, internamente a situação era ainda mais conturbada. Quando Itamar Franco assume a presidência, o país tinha sua imagem internacional manchada pelos escândalos de corrupção que levaram ao afastamento temporário e processo de impeachment de Collor, uma incapacidade de lograr estabilidade de preços e normalização financeira (um cenário de hiperinflação, moratória da alta dívida externa e uma economia estagnada por não ter conseguido realizar a transição do modelo da ditadura). Para piorar, ocorreram vários casos de massacres Brasil afora entre 1992-1993, assim, a questão dos direitos humanos solapava o prestígio internacional do país que já vinha há muito sendo comprometido (RICUPERO, 2017). 
	Por conta desse momento de crise interna, a política externa do governo Itamar Franco (1992-1994) foi bastante limitada em suas possibilidades, nesse contexto, o chanceler, e depois presidente, FHC procurou ampliar as bases de inserção internacional do país. A política externa brasileira (PEB) sob o comando dele foi instrumentalizada para projetar a imagem do país como uma democracia liberal e para dar suporte ao processo de implementação de mudanças estruturais internas. Certamente, havia um interesse pessoal em adaptar o ambiente doméstico à globalização, porém, não estava descolado do imperativo propósito de ter um bom relacionamento exterior para sanar a questão da dívida, retomar investimentos estrangeiros e obter confiança do mercado estrangeiro para encaminhar a agenda de privatizações proposta. (NATALINO, 2016).
	Na visão de Cardoso, havia um déficit de governança internacional no mundo que se tornava cada vez mais globalizado, porém, no qual a cooperação internacional não respondia satisfatoriamente a alguns problemas. A percepção era a de que o país era afetado por isso e queria contribuir para a solução, principalmente porque entendia que era necessário aprimorar a cooperação internacional para tirar o máximo possível da globalização. Para contribuir nesse aspecto, o Brasil pautava seu discurso em uma governança construída não somente com base no poder, ou nas 7 ou 8 nações mais poderosas, mas pela participação e pelo diálogo. A parte do Brasil, calcada nesse entendimento, foi articular a política externa para desenvolver o processo no plano regional, no qual o Mercosul era a grande prioridade. No entanto, o Mercosul teria aberto a possibilidade de se avançar a integração sul-americana e pensava-se aumentar a convergência entre ele e a Comunidade Andina e desenvolver uma infra-estrutura física de integração a partir dele. (CARDOSO, 2001).
	Certamente, o Mercosul era um ponto estratégico da política externa brasileira no período FHC, em especial politicamente. O bloco era tido como um modo de aumentar a capacidade de atuar de modo mais afirmativo e participativo na elaboração de regimes e normas internacionais de importância para o Brasil, além de ponte de diálogo com outras regiões do mundo, principalmente outros blocos, como a União Europeia. (LAMPREIA, 1998). 
Outros parceiros e negócios
Para observar a tradução prática da postura do governo FHC, no sentido de melhor ilustrar a observância ou não da diversificação de parcerias e da prioridade dada ao Mercosul, agregamos dados do volume comercial brasileiro no período 1994-2002 (disponíveis no sistema Comex Stat). Com base nessa fonte de dados, as importações do MERCOSUL vão de US$6,47 bilhões em 1994 para US$5,60 bilhões em 2002, e exportações de US$5,92 bilhões em 1994 para US$3,30 bilhões em 2002. Enquanto as importações dos Estados Unidos em 1994 eram em monta de US$13,699 bilhões e US$10,26 bilhões em 2002; já as exportações vão de US$8,81 bilhões a US$15,33 bilhões no mesmo período. (BRASIL, 2020).
	Nota-se dois momentos bem definidos, um de aumento substancial das trocas regionais (em grande medida intra-Mercosul) de 1995 a 1998 e outro de queda após 2000, com um patamar bem mais baixo em 2002. Tanto nos negócios com o Mercosul, quanto com os EUA, as trocas comerciais tiveram um salto de 1994 para 1995, puxado pelas importações. Provavelmente, essas alterações se devem à política externa adotada por Fernando Henrique. Porém, é curioso observar o menor dinamismo das exportações brasileiras, que cresceram a um ritmo bem mais lento. É notável ainda a importância do intercâmbio com a Europa, sobretudo com a União Europeia, durante todo o período de forma bastante estável (importações e exportações) e em posição privilegiada, entre os principais parceiros comerciais do Brasil. 
Em termos gerais, de 1997 até 2002, a ordem dos principais parceiros comerciais por região é: Europa, América do Norte e Ásia. Porém, tomadas as exportações isoladamente o Mercosul supera a Ásia. Já considerando a primeira metade do primeiro mandato de FHC, os dados até 1996 seguem as seguintes ordens: importações: Europa, América do Norte e Ásia; exportações: Europa, América do Norte e América do Sul, com destaque para que se tomadas as exportações isoladamente, a Ásia supera o Mercosul. (BRASIL, 2020).
Encontros
	A nível de viagens internacionais do presidente Fernando Henrique Cardoso, observamos que ele realmente deu preferência ao relacionamento com os países da região (8 viagens para a América do Sul versus 5 para a Europa, 2 para a Ásia e 2 para a América do Norte) (FERRO, 2020). Porém, no total, o número de viagens para os EUA e para a Argentina (principal parceira regional do Brasil) foi o mesmo, 9 viagens. Nos encontros bilaterais Brasil-EUA, FHC não deixou de privilegiar temas regionais, como as visitas de 1999 e de 2001 mostram. Em 1999, 
Fernando Henrique Cardoso se reuniu com George W. Bush para tratar de assuntos como o estreitamento das relações comerciais entre os dois países, o avanço do terrorismo no mundo e a economia da Argentina, importante parceira comercial do Brasil que atravessava uma crise (BERALDO, 2019). 
Enquanto que no encontro com Bill Clinton em 2001, FHC enfatizou a confiança na recuperação econômica brasileira, agradeceu o apoio do presidente dos EUA e juntos se comprometeram a ampliar as relações comerciais entre os dois países e trabalhar pela integração das economias latino-americanas (BERALDO, 2019). Dessa forma, não houve aproximação com os países da região às custas de boas relações com os EUA, pelo contrário, FHC buscou instrumentalizar a sua boa relação com os norte-americanos para fortalecer o papel brasileiro regionalmente e conseguir apoio em seus interesses.
 Fonte: Wikipédia[footnoteRef:0]. [0: Disponível em: Lista de viagens presidenciais de Fernando Henrique Cardoso – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org). Acesso em: 10/12/2020.] 
2.2.1. Os conceitos de Autonomia e Desenvolvimento
	Se pensamento e a prática de FHC tinham uma orientação claramente liberal, outras ideias contrabalanceavam uma adoção incondicional aos ditames neoliberais para paísessubdesenvolvidos como o Brasil e a aceitação plena da liderança dos EUA, enquanto potência hegemônica dessa nova ordem liberal. Particularmente, assumindo um papel crítico em relação ao sistema financeiro, advogando por uma economia internacional mais aberta e estável, e enfatizando a necessidade de maior cooperação (CARDOSO, 2001). 
Quando consideramos a visão de mundo de FHC em relação à inserção global do Brasil e ao processo de globalização, percebemos uma concepção, em geral, favorável a nutrir um bom relacionamento com múltiplos parceiros, resguardando os interesses brasileiros na dinâmica internacional, e um papel protagônico no processo de regionalização a nível hemisférico. Isso reflete um entendimento do presidente, que era compartilhado com as chefias do Ministério de Relações Exteriores, de que o Brasil colheria melhores frutos caso se engajasse internacionalmente a nível regional e multilateral. Em um contexto externo inédito, as mudanças da política externa foram bem vindas e bem recebidas, pois era uma postura que compatibiliza bem a posição geopolítica do país com os interesses dominantes, através da liderança conciliatória e comportamento interessado, amigável e participativo nos processos globais e regionais (NATALINO, 2016). 
Assim sendo, a consciência da posição de barganha fragilizada do Brasil naquele momento uniu-se a um comportamento interessado nas relações internacionais, produzindo uma convergência no relacionamento em fóruns e organismos internacionais. De certo modo, foi uma adequação ao mainstream, mas que se propunha a fortalecer a posição relativa do país no sistema internacional ー substituindo a crítica e a distância, que caracterizaram a orientação brasileira durante a Guerra Fria, por influência no processo de elaboração das normas e padrões de conduta como efeito da participação nos mecanismos decisórios (RICUPERO, 2017). 
Nota-se uma ideologia compatibilizadora, em outros termos, um pensamento que admitia a possibilidade de desenvolvimento para a periferia no sistema capitalista pela via da abertura para as tecnologia e capital estrangeiro; assim denominado Desenvolvimento dependente-associado. Através da compreensão de que para a superação do subdesenvolvimento era fundamental a industrialização, Cardoso entendia que não podia negligenciar o setor externo, mais especificamente, o capital estrangeiro, por conta do papel cada vez mais importante das empresas estrangeiras na industrialização da periferia. (TEIXEIRA, 2015). Essa visão não difere largamente da postura defendida por Cardoso em seus textos sobre a problemática da dependência latino-americana, nos quais apontava para a possibilidade de desenvolvimento determinada internamente e com ênfase nas condições concretas de cada um dos países (ALMEIDA FILHO, 2003). 
Dessa maneira, Natalino (2016) afirma a influência dos escritos de Cardoso sobre a relação do Brasil com o mundo na década de 1990, em termos de globalização e de reformas internas, orientaram as principais linhas diplomáticas do país durante seus mandatos ーdestacando principalmente a mudança de um olhar mais otimista para um olhar mais cético e crítico em relação à globalização como um fenômeno histórico. Acreditamos que a sua visão sobre os conceitos de Autonomia e Desenvolvimento foram os principais elementos no conjunto do pensamento de FHC sobre a práxis.
O debate sobre a ALCA reflete eminentemente as características citadas, evidenciando a postura inicialmente interessada e participativa para ao fim prevalecer uma posição de defesa dos interesses brasileiros. É interessante colocar em perspectiva a adesão brasileira ao neoliberalismo e a posição em relação aos EUA, caso que as negociações da Alca melhor exemplificam as dinâmicas da política externa internacionalmente. A fórmula “autonomia pela integração” não implicava uma obrigação ou tendência de adesão invariável a organismos ou políticas. Além do mais, a proposta da Alca surgiu em um momento em que o governo brasileiro ainda considerava como prioridade absoluta a consolidação do Mercosul, bem como sua ampliação em perspectiva sul-americana. Por isso, ela ameaçava tornar irrelevante o processo de integração dos países do Sul, sem a devida compensação nos mercados do Norte. Nesse caso, as demandas vinham de Washington pareceram desproporcionais em termos de liberação de bens industriais e serviços (inclusive financeiros). ampliação desmesurada de direitos de propriedade intelectual, limitações ao controle de capitais em crises do balanço de pagamentos, entre outros. (RICUPERO, 2017).
Para os formuladores e executores da política externa de FHC, a"participação'', contrário de ausência, buscava influir dentro dos processos no sentido do atingimento de objetivos brasileiros. Se os resultados sem mostrassem incapazes de assegurar esses objetivos e a consequente “integração” acarretasse perda de autonomia, o melhor seria prolongar o esforço ou mesmo ficar de fora, como ocorreu na difícil negociação da Alca. (RICUPERO, 2017, p. 634).
Na visão de Cardoso, a falta de recursos de poder em função das dificuldades econômicas e sociais internas limitaram uma liderança global mais ativista, diante desse esquema sua política externa passou a focar na tarefa de organizar a região sul-americana (NATALINO, 2016). Nesse ponto, o Mercosul não era visto como perda de autonomia para o país, mesmo que significasse alguma perda de soberania como outros acordos do gênero, na verdade, representava o oposto na opinião do governo. Pois o benefício econômico, do comércio intrabloco e do fortalecimento de atratividade de investimentos estrangeiros produtivos, teria sido um fator propulsor do desenvolvimento econômico; ademais, a união teria efeitos de caráter político-diplomático positivos à posição de barganha internacional do Brasil, de modo a resultar um saldo positivo sopesando a questão da autonomia. (LAMPREIA, 1998).
3. GOVERNO BOLSONARO
Nesta seção, buscaremos apresentar as principais características da conjuntura do período da candidatura e do início do mandato presidencial de Jair Messias Bolsonaro até o presente. Diante desse contexto, trataremos dos aspectos que se sobressaem na relação entre Brasil e Estados Unidos, mais especificamente entre Bolsonaro e Donald Trump. Logo, será observado como a aproximação ideológica e identitária dos dois líderes influi sobre a política externa brasileira e a pauta de integração regional, podendo indicar um retrocesso neste processo, bem como no de inserção internacional.
3.1. Conjuntura e Relações com os EUA
	O primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, no que diz respeito à política externa, foi algo conturbado e sem organização. Desde a década de 1990, o Brasil teve muito protagonismo no assunto, passou a construir relações políticas e comerciais com cada vez mais países e a caminhar rumo a sua autonomia perante a comunidade internacional. Com o atual presidente, no entanto, a perspectiva mudou. A agenda passou a ser personalizada para os interesses e ideologias de Bolsonaro, que tomou protagonismo e entrou no caminho da estabilidade oferecida pelo Itamaraty, há anos o agente principal na política externa brasileira. (ONUKI, 2020).
	Além disso, o Brasil entrou num processo de isolacionismo, escolhendo manter laços mais fortes apenas com países que compartilhassem da ideologia de direita de Bolsonaro. O principal deles é os Estados Unidos de Donald Trump. Ao passo que anteriormente adotava-se o multilateralismo e o regionalismo como instrumentos e pilares principais para fazer frente às grandes potências, o que rege a PEB agora é o unilateralismo. (ONUKI, 2020).
	Bolsonaro e seu Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, são declaradamente admiradores de Donald Trump, estando sempre em busca de atrair sua simpatia com falas, visitas ou decisões que estão de acordo com o ditado pelo presidente estadunidense (SANCHES, 2020). Os dois inclusive, juntamente com o restante da família Bolsonaro, demonstram admiração grande por Steve Bannon, ex-estrategista daCasa Branca. Também estrategista na campanha de Donald Trump em 2016, ele é tido como referência na luta contra o marxismo cultural, difundia teorias de uma conspiração da esquerda global e atacava democratas. Bannon também tem relações com Olavo de Carvalho, tendo até mesmo já bancado a exibição de um documentário sobre ele nos EUA. Apesar de não terem laços oficiais, Bannon já assumiu prestar apoio e orientações informais à família do presidente brasileiro. (PIRES, 2020).
	Nesse sentido, a política externa do Brasil de Bolsonaro, influenciada por Bennon e Carvalho, alinhada a Donald Trump e, de certa forma, isolada, é ideologicamente direitista ao extremo. Tem em seu cerne os valores nacionalistas do presidente e de Araújo, que querem “reconquistar o país”, como disse o ministro em seu discurso de posse. (SOUZA, 2020). O fato é que todos esses aspectos parecem pintar o Brasil com uma fachada branca, heterossexual, cisgênero e cristã, que, sabe-se bem, não representa a população brasileira em sua totalidade, ao inverso, expressa a interpretação idiossincrática-conservadora do governo Bolsonaro.
3.2. Reflexões sobre a PEB e o Processo de Integração Regional
Historicamente, a política externa brasileira é marcada por períodos de preferência pela aproximação aos Estados Unidos. Não obstante a denominação de “alinhamento automático”, isso compreendia uma estratégia por parte do Brasil, tendo em vista o contexto externo, para garantir vantagens, sobretudo, ao desenvolvimento nacional. Porém, a unilateralidade e o voluntarismo característicos desse alinhamento no governo Bolsonaro dificultam a percepção de pragmatismo acerca dessa relação (VIDIGAL, 2019). 
Pautada puramente no compartilhamento de uma ideologia, sugere-se a prática de “mimetismo” por parte do presidente brasileiro. Em outras palavras, a política externa brasileira ao priorizar as relações com os EUA não expressa um cálculo estratégico, mas um remédio psicológico cujo objetivo é preencher o vácuo existencialista da elite brasileira por meio do restabelecimento da autoridade da tradição. Além disso, esse tipo de alinhamento não busca por reciprocidade. Um exemplo disso é o fim da exigência de vistos para estadunidenses entrarem no Brasil, uma tentativa de estabelecer uma relação amistosa com os Estados Unidos que, no entanto, não resultou na mesma prática pelo governo dos EUA (VIDIGAL, 2019). 
Outros movimentos unilaterais do presidente brasileiro foram: apoio à posição dos EUA quanto à Venezuela; aumento na importação de etanol de milho dos EUA; abdicação das vantagens de negociação na OMC, em razão do status de país em desenvolvimento; endosso do embargo estadunidense a Cuba; e autorização da deportação de brasileiros ilegais nos EUA (SANCHES, 2020).
A ideologia olavista ligada ao pensamento do estrategista de Trump, Steve Bannon, está presente também no discurso e no projeto diplomático anti-globalista do ministro Ernesto Araújo. Diante disso, é possível afirmar que existe um alinhamento entre as visões de mundo do ministro e do presidente. Entretanto, o desenvolvimento não pode ser considerado elemento principal da política externa, uma vez que o alinhamento e o mimetismo característicos orientam o projeto diplomático bolsonarista (VIDIGAL, 2019). 
Este fator ideológico é responsável pela rivalização com atores internacionais, dentre eles a China. Inúmeros incidentes ocorreram até agora no governo Bolsonaro, como sua visita à Taiwan em 2018, o discurso xenofóbico de Eduardo Bolsonaro e do ex-ministro Weintraub, a culpabilização pela pandemia do COVID-19 e a aversão à vacina de origem chinesa. Muito embora a relação Brasil-China seja sustentada por outros grupos de interesse, Bolsonaro enxerga os investimentos chineses como uma “ameaça comunista” no continente (VIDIGAL, 2019). Por outro lado, os grupos de interesse, cuja força política mantém a entrada de capital chinês, são formados por atores privados e empresariais com uma ideia de “interesse nacional” ligada à lógica mercadológica (CARDOSO, 2016 apud LOPES, 2020).
É possível dizer que se o projeto de desenvolvimento nacional do governo Bolsonaro existe, ele está ligado à
“(...) tentativa de operar na significação pública da autoimagem do governo enquanto um ente neutro, pragmático e tecnocrata, responsável por conduzir reformas necessárias à reversão dos atrasos promovidos pelas ideologias tacanhas e levar a sociedade brasileira rumo às promessas de modernização e progresso que andam de mãos dadas com o capitalismo financeiro das nações desenvolvidas.” (SOUZA, 2020, on-line).
A estratégia econômica é realizada por vias bilaterais, prioritariamente com os países denominados desenvolvidos e afastados dessa carga ideológica “socialista”, presente nas instituições multilaterais, como a ONU (BELLONI, 2020). Nesse sentido, o Brasil busca ser reconhecido pela comunidade internacional ocidental e liberal enquanto defensor do pan-nacionalismo. Nacionalismo, este, entendido para indivíduos pertencentes a uma elite majoritariamente branca, com descendência européia, cristã e conservadora. Esta delimitação da identidade nacional brasileira falha em incluir a realidade multicultural, complexa e desigual do país (VIDIGAL, 2019).
Além disso, o Brasil não se insere na identidade latino ou sul-americana, de modo que as relações a nível regional não são priorizadas e nem tidas como estratégicas para inserção global. A integração defendida pelo ministro Araújo tem caráter “aberto”, com o intuito de combater as “raízes ideológicas” do regionalismo até então praticado. Aqui, ele se refere à relação com países de regimes inspirados no socialismo, como a Venezuela de Maduro que “(...) o Brasil passou a considerar ilegítimo em apoio ao autodeclarado presidente Juan Guaidó.” (SOUZA, 2020, on-line).
De modo geral, em continuidade com o final do governo Dilma e o governo Temer, no governo Bolsonaro há um esvaziamento político da pauta regional, dando ênfase à obtenção de vantagens econômicas e comerciais a partir do Mercosul (VIDIGAL, 2020). Essa limitação do aspecto político das instituições regionais, particularmente da Unasul, é entendida como resultado da carência de liderança regional para lidar com a questão venezuelana, gerando um imobilismo. Além disso, a carga ideológica serviu ao argumento das novas direitas para a “cruzada” contra a Unasul. Dessa forma, o seu fracasso advém dos próprios governos que buscavam provar sua ineficácia (BELLONI, 2020). 
No entanto, com o intuito de substituir a Unasul, foi assinado, em março de 2019, o acordo que deu origem ao Prosul. Este incluiu os presidentes do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Equador e pelo embaixador da Guiana no Brasil. O espaço tem por objetivo fomentar o diálogo em torno do interesse comum pelo desenvolvimento da região. Muito embora os líderes afirmarem que o bloco será livre de ideologias e burocracias, o documento possui uma carga política quando aponta entre os requisitos para participação: defesa da democracia; respeito ao princípio da separação de Poderes; respeito à promoção; proteção, respeito e garantia dos direitos humanos e das liberdades fundamentais; respeito à soberania e integridade territorial dos Estados (GIRALDI, 2019).
A respeito do Mercosul, o governo Bolsonaro busca a flexibilização do bloco, desvinculando-o da pauta de integração política regional. Diante da crise fiscal e econômica, os setores industriais e empresariais apoiam a abertura comercial com o intuito de melhorar a competitividade dos produtos da agropecuária brasileira. Logo, são priorizados o viés comercial e o estabelecimento de acordos bilaterais entre blocos, principalmente com a União Europeia, a fim de ampliar os mercados para a atividade agro-exportadora (BELLONI, 2020). No entanto, a não concretização deste até hoje indica o receio pelo comprometimento da relação com os EUA (ONUKI, 2020). 
Mais uma vez, a priorização da relação com os EUA pode ser vista pela frequência de visitas ao país, em oposição às viagens do presidente àregião sul-americana (de acordo com a figura abaixo). Até agora em seu governo, Bolsonaro visitou apenas Chile, Argentina e Uruguai, o que pode ser explicado tendo em vista a aproximação ideológica entre os países. Ainda assim, a diplomacia presidencial é pouco utilizada por ele, uma vez que ignora cúpulas regionais e não busca se comunicar com outros líderes regionais. Diante da ausência do presidente, o ministro Araújo falha em representar diplomaticamente o país junto à região. Essa negligência no tratamento das relações a nível regional se estende até mesmo aos governos conservadores das nações vizinhas.
“As diferenças entre Bolsonaro e seus vizinhos são cada vez maiores. Presidentes mais à direita como o uruguaio Luis Lacalle Pou destacam em suas agendas políticas o combate ao aquecimento global. Na pandemia, houve, na maioria dos países da região, um reconhecimento à ciência. O negacionismo do presidente brasileiro criou situações constrangedoras até mesmo para os chefes de Estado com melhor diálogo com Bolsonaro.” (FIGUEIREDO, 2020).
Fonte: Wikipedia[footnoteRef:1] [1: "Lista de viagens presidenciais de Jair Bolsonaro – Wikipédia ...." https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_viagens_presidenciais_de_Jair_Bolsonaro. Acessado em 21 dez.. 2020.] 
3.2.1. A questão da Venezuela
	Foi somente durante o governo de Jair Bolsonaro que o Brasil reconheceu a Grave e Generalizada Violação de Direitos Humanos na Venezuela. Além disso, o presidente passou a defender a mudança de regime no país vizinho, o que se afasta do princípio de não-intervenção até então adotada pela política externa brasileira. (VIDIGAL, 2019).
O fato da Venezuela ter sido expulsa do Mercosul ainda durante o governo Temer fez com que o Brasil tivesse suas relações bilaterais com ela mais limitadas. Com Bolsonaro, o afastamento tornou-se ainda maior, graças à ainda maior diferença ideológica. (SOUZA, 2020). É de interesse dos Estados Unidos se aproximar ainda mais do Brasil para torná-lo uma referência em força e democracia na América do Sul, uma jogada estratégica para tomar medidas contra a crise venezuelana vigente. (GRAGNANI, 2020).
Apesar de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente, já ter apoiado e declarado que, em conjunto aos Estados Unidos, uma invasão e intervenção militar na Venezuela para derrubar Maduro não foi descartada, Jair Bolsonaro negou o interesse em tal ação. O fato é que, mesmo que algumas alas radicais próximas ao presidente fomentem algo assim, os militares, grande base de apoio ao atual governo, e até mesmo boa parte da população, se mostram opositores ou reticentes quanto a isso, o que conduziu a uma contenção de ânimos no que diz respeito ao assunto. (GRAGNANI, 2020; ONUKI, 2020).
4. CONCLUSÃO
	Portanto, as diferenças de acepção da política externa nos governos FHC e no governo Bolsonaro são muito distintas, não só em seu conteúdo e possível significado, mas também sobre quais parcelas e interesses estão sendo representados. Passa-se de uma identidade internacional ligada à participação interessada, conciliadora e muito técnica, ao status de global trader e ao reflexo das características democráticas do país para uma política externa cuja principal identidade se dá no reconhecimento pelo pan-nacionalismo, nos valores neoclássicos de uma cultura judaico-cristã e ainda na denegação da(s) política(s) anterior(es). 
	A política externa de Bolsonaro possui uma base, ainda que distinta da de FHC, e segue estritamente sem reflexão diante de novos desafios, numa espécie de purismo que levaria o Brasil a ser reconhecido internacionalmente por seus afins. Assim, Ernesto Araújo traz a pretensão de estabelecer uma nova era para a política externa brasileira, uma que supostamente ouvisse de uma vez por todas o clamor do ‘verdadeiro’ povo brasileiro e expressa os, assim entendidos, valores autênticos. Vale dizer aqui as diferenças entre o significado atribuído a “Desenvolvimento” nos dois períodos, ou pelo menos o caminho para atingi-lo, a dizer: No governo Bolsonaro, desenvolvimento é entendido como modernização e progresso, que seria atingido pela total adesão ao capitalismo financeiro, ao qual as reformas e medidas do governo deveriam sinalizar positivamente; no governo FHC, desenvolvimento também era visto como um efeito da abertura do país ao capital internacional, porém, essa ideia vinha limitada por determinadas concepções do “interesse nacional”, que por vezes significava resguardar a própria autonomia de influir sobre os rumos futuros da nação.
	Além do mais, existe uma clara alteração no padrão de relacionamento da política externa nos dois períodos entre a priorização das relações com países vizinhos no continente e o atual descrédito das relações latino e sul-americanos na visão do governo Bolsonaro, que não as considera estratégicas para a inserção internacional brasileira. Não obstante, resta saber se todas essas diferenças são resultado de diferentes visões de mundo entre os mandatários e seus governos (demais formuladores de políticas, tomadores de decisão, grupos no Congresso, base de apoio) ou uma alteração de maior magnitude na política externa brasileira.
 Por exemplo, “liberdades civis, economia capitalista aberta e de mercado, democracia, elementos identitários como religião e cultura, etc., tudo isso serviu para simbolicamente unir o Brasil com o Ocidente repetidas vezes” (FONSECA, 1998, apud LOPES, 2020). Então, os elementos reiterados pela política externa encabeçada por Ernesto Araújo não chegam a representar rupturas nesse sentido, porém, a leitura que se faz da autoproclamada identidade brasileira, por sua vez representada na política externa, e dessas ideias na definição das linhas de ação do governo diferem profundamente entre FHC e Bolsonaro. Poder-se-ia dizer que são diferenças de pressupostos, de contextos/conjunturas e também de perfil do chefe de Estado (ligado a suas vivências, formação intelectual e matizes ideológicos) que repercutem na formação e atuação do aparelho de Estado responsável por redigir e aplicar a política externa. A ruptura é menos institucional do que de perspectiva, por isso, os mesmos mecanismos e atores com os quais o Brasil se relaciona recebem um tratamento modificado pela nova colocação de forças políticas no bojo do Executivo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELLONI, J. (2020). El impacto de la política exterior de Jair Bolsonaro sobre Unasur y Mercosur.
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FIGUEIREDO, J. Bolsonaro negligencia contato com países vizinhos e não consegue ter boas relações nem com governos conservadores. Jornal Correio do Povo de Alagoas, dezembro de 2020. Disponível em: <http://correiodopovo-al.com.br/index.php/noticia/2020/12/20/bolsonaro-negligencia-contato-com-paises-vizinhos-e-nao-consegue-ter-boas-relacoes-nem-com-governos-conservadores>. Acesso em: 21 de dez. 2020.
GIRALDI, R. Prosul será "um fórum sem ideologias”, defende Piñera. Agência Brasil, Brasília, março de 2019. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-03/sera-um-forum-sem-ideologias-defende-pinera>. Acesso em: 04 de dez. 2020.
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