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Resumo Coletivo Política II

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MEGAZORD DE POLÍTICA 2
1. Estado para Karl Marx Marcelo
O Estado é concebido por Karl Marx como o reino da força ao invés da razão. É ainda o lugar do interesse de uma parte, não do bem-comum. Considerado uma extensão do estado de natureza, pois predominam relações de força e imposição. Acabar com o estado de natureza, na teoria marxiana, é acabar com o Estado e, por sua vez, acabar com a dominação ilegítima de uma parte sobre uma massa muito maior.
Ainda que ele esteja preocupado com quem governa, Marx não formula uma teoria de formas de governo. Isto porque o autor considera o Estado em si um problema, algo a ser superado, e não considera a possibilidade de alterá-lo através de reformas. O que Marx formula é uma diferenciação entre o Estado representativo e o bonapartismo e na obra a “Comuna de Paris” estabeleceu que surgiria uma democracia direta, com mandato imperativo, das cinzas da democracia representativa degenerada em governo pessoal; mostrando que, de forma indireta, há uma teoria de formas de governo em seus escritos de forma inacabada. Entretudo, sua preocupação não é como governar, mas quem utiliza do Estado para exercer domínio de classe.
2. Teorias idealistas e realistas, teorias racionalistas e historicistas. Estado como reino da razão e Estado como reino da força. Carina 
Teorias idealistas: não se identifica necessariamente com o gênero da utopia, inclui um modelo de Estado derivado da combinação ou síntese das formas históricas (ex: governo misto), e também aquelas que idealizam uma forma histórica. São aquelas que não necessariamente se concretizam na realidade e seu contraponto são as teorias realistas: aquelas que consideram o Estado, e em geral a esfera das relações políticas entendidos como relações de domínio na sua “verdade efetiva”. Que tem como exemplo a teoria de Maquiavel, que desdenha aqueles que se “puserem a imaginar repúblicas e principados nunca vistos nem conhecidos como se fossem verdade”.
No âmbito das teorias realistas é necessário fazer a distinção entre as seguintes abordagens: 
Teorias Racionalistas: discutem o problema de justificação racional ou do fundamento do Estado. Respondem a questão: Porque existe o Estado? Faz menção a ideia hobbesiana de que o Estado nasce em contraposição ao estado de natureza. Tem como ponto de partida o homem como animal anti-social. Contrapõe o Estado de natureza e o Estado civil, que é o Estado de sociedade. 
Teorias historicistas: tratam o problema sobre a origem histórica do Estado, a questão debatida é: como nasceu o Estado? Tem como ponto de partida o homem como animal político e portanto o Estado é uma sociedade natural que nasce da evolução do primeiro núcleo organizado, a família.
A teoria de Estado de Marx é enquadrada como teoria historicista. 
Admitindo o critério axiológico encontra-se outro modelo de distinção: as concepções positivas do Estado, que o admitem enquanto o reino da razão e as concepções negativas que teorizam o Estado como reino da força. 
	As concepções positivas remontam a Aristóteles e seu postulado de que o fim da comunidade política não é apenas viver ou sobreviver, mas o bem viver. E a partir da doutrina jusnaturalista busca não apenas uma teoria racional do Estado, mas também uma teoria do Estado racional, que nasce a partir da estatização da razão. O Estado é elevado a ente da razão, e somente dentro dele o homem realiza a própria natureza de ser racional. Para Spinoza, outro autor que trabalha a partir dessa concepção, no homem são naturais as paixões e a razão, a diferença é que no Estado de natureza a primeira predomina sobre a segunda. Portanto, somente por meio da união de todos em um poder que refreie, com a esperança de prêmios e o temor do castigo, o homem conseguirá do melhor modo alcançar seu fim que é a própria conservação. A ideia de Estado-razão vai além do jusnaturalismo, chegando até Hegel, para quem o Estado é racional em si e por si, e que somente no Estado o homem pode ser racional.
Em contrapartida, as concepções negativas, demonstradas através das teorias de Marx entendem o Estado como reino da força, não tem interesse no bem viver de todos, mas o bem viver daqueles que detém o poder. A classe dominante se utiliza das ideias de bem comum, bem viver e justiça para dar uma aparência de legitimação ao próprio domínio. O Estado não é a saída do estado de natureza, mas a sua continuação sob outra forma. Se observarmos a história veremos que nunca faltou o Estado em que vigora o direito do mais forte. A guerra de todos contra todos foi substituída por conflitos permanentes entre as classes que vão se sucedendo e conquistando o domínio e que uma vez conquistado não pode ser mantido se não por meio da força. A saída definitiva do Estado para Marx talvez seja não o Estado, mas o fim dele. 
Apesar de muito bem explicada por meio das teorias de Marx, as concepções negativas não foram inauguradas por ele, Transímaco enxerga com pessimismo a relação entre governantes e governados; para Rousseau, o estado histórico surge através da violência e da fraude; e ainda as concepções tradicionais religiosas, cujo exemplo é Santo Agostinho, que vê o Estado como um mal necessário para reprimir a maldade da grande maioria dos homens, os quais não poderiam viver em sociedade sem limites. 
Esses dois modelos de abordagens se distinguem na justificativa do uso da força, na tradição religiosa, a maldade está nos súditos, enquanto na concepção marxiana e marxista está na “maldade” dos governantes. 
3. Poder, dominação e Estado para Max Weber Anna Clara
Definição do Estado: monopólio da força legítima. O Estado pode renunciar ao monopólio do poder econômico e ideológico, mas nunca do coativo, caso o faça, o Estado dá lugar à anarquia.
Reflexão objetiva, distanciada, “desencantada”. Buscar a verdade efetiva e não a imaginação sobre ela
Estado desaparecerá quando não houver mais a necessidade de um poder coativo para induzir os indivíduos e os grupos a obedecer às regras necessárias para uma convivência pacífica
Efetividade é consequência da legitimidade
Qual razão para que haja governantes e governados baseados na relação do direito de comandar e dever de obedecer?
Tipologia das formas de governo em Weber pensados com base nos tipos históricos de legitimação do poder político.
Tipos de poder legítimo: racional, tradicional, carismático
Tanto Montesquieu (honra, virtude, medo) quanto Weber procuram individuar as diferentes formas históricas de poder tratando descobrir quais são os diferentes possíveis comportamentos dos sujeitos diante dos governantes.
Montesquieu: preocupa-se com o funcionamento da máquina do Estado
Weber: Com a capacidade dos governantes e seus aparatos de obter obediência
Tipos jurídicos do desenvolvimento do direito
Formal-irracional – direito baseado nas sociedades primitivas, que tem suas leis baseadas naquilo que acham melhor, costumes. Baseada nos valores. Leis pensadas não só racionalmente, mas também no afeto
Material–irracional – leis de caráter subjetivo, ligado a dominação tradicional. Ligado ao valor
Formal-racional – interpretações lógicas, punições previamente estabelecidas
Material-racional- objetivo, é uma forma do direito que tenta garantir justiça (como se fosse uma lei que não é pré-estabelecida e que, portanto, analisa caso a caso). 
Legalização é o processo de racionalização do próprio Estado Moderno (transformação do poder tradicional em legal-racional)
(EU ACHO QUE TEM MAIS COISA NISSO, EU SÓ COPIEI DO RESUMO, SE DER TEMPO AMANHÃ VEJO NO TEXTO)
4. Noção de como se deu a formação dos Estados Europeus. Entender a relação entre coerção, capital, cidade e Estados. Amanda
Capital - cidades - exploração
· Os capitalistas são aqueles que se especializam na acumulação, compra e venda de capital, se ocupando do reino da exploração
· Os processos que acumulam e concentram capital também produzem cidades.
· As cidades figuram proeminentemente tanto como locais preferidos dos capitalistas quanto como forças organizacionais por si sós.
· Na medida em que a sobrevivênciadas famílias depende da presença do capital através do emprego, do investimento, da redistribuição ou de qualquer outro vínculo forte, a distribuição da população acompanha a do capital.
· Quando o capital se acumula e se concentra dentro de um território, o crescimento urbano tende a acontecer dentro do mesmo território - com maior intensidade no ponto de maior concentração, e de modo acessório em outros locais
· Onde a acumulação de capital ocorre de modo bastante geral, mas a concentração permanece relativamente baixa, desenvolvem-se muitos centros menores.
· As cidades representam as economias regionais: em torno de toda cidade ou aglomeração urbana aparece uma zona de agricultura e de comércio (e às vezes também de manufatura) com estreitas interações com ela
· Onde a acumulação e a concentração ocorrem ligadas uma à outra, tende a constituir-se uma hierarquia que se estende dos pequenos aos grandes centros 
· A acumulação e a concentração de capital favoreceram o crescimento urbano, transformando ao mesmo tempo as regiões circunvizinhas em novos aglomerados de cidades.
Coerção - Estados - Dominação
· A coerção compreende toda aplicação combinada de uma ação que comumente causa perda ou dano às pessoas ou às posses de indivíduos ou grupos, os quais estão conscientes tanto da ação quanto do possível dano.
· Onde o capital define um domínio de exploração, a coerção define um campo de dominação.
· Os meios de coerção estão centralizados nas forças armadas, mas se estendem às oportunidades de prisão, expropriação, humilhação e divulgação de ameaças
· A Europa criou dois importantes grupos superpostos de especialistas em coerção: os soldados e os grandes proprietários rurais;
· Os meios coercivos, a exemplo do capital, tanto podem acumular-se quanto concentrar-se
· Quando a acumulação e a concentração dos meios coercivos se desenvolvem juntos, produzem estados;
· Os Estados produzem organizações distintas que controlam os principais meios concentrados de coerção dentro de territórios bem definidos, e em alguns aspectos exercem prioridade sobre todas as outras organizações que operam dentro desses territórios
A Guerra Induz a Formação e Transformação do Estado
· Três tipos diferentes de estado proliferaram em diversas partes da Europa durante os principais segmentos do período a partir de 990:
· impérios extorquidores de tributos
· sistemas de soberania fragmentada (cidades-estado e federações urbanas)
· estados nacionais.
· Durante séculos, os impérios extorquidores de tributos dominaram a história mundial dos estados:
· Acumulação relativamente baixa dos meios coercivos
· Alta concentração dos meios disponíveis.
· Quando o imperador perdia a capacidade de aplicar uma coerção maciça, os impérios muitas vezes se desintegravam.
· As federações, as cidades-estado e outros arranjos de soberania fragmentada diferiram dos impérios em quase todos os aspectos:
· A acumulações relativamente alta dos meios coercitivos
· Concentrações relativamente baixas dos meios disponíveis
· Na posição intermediária entre os impérios extorquidores de tributos e as cidades-estado ficam os estados nacionais:
· Constituídos em torno da guerra, da formação do estado e da extração, tanto quanto os outros estados
· Negociação em torno da cessão de recursos coercivos na população
· Compelidos a investir pesadamente na proteção, na aplicação da justiça e às vezes até na produção e distribuição.
· Se empenharam de forma mais intensa para criar uma hierarquia administrativa completa e eliminar as bases autônomas de poder.
· Conseguiram exercer um controle severo sobre uma cidade isolada e seu interior imediato, mas não para além dessa escala (o controle local estava subordinado ao fato de extensas propriedades rurais se acharem nas mãos da classe dirigente urbana)
· Com efeito, até a época da Revolução Francesa, nenhum estado europeu (com exceção, talvez, da Suécia) fez uma tentativa séria de instituir um governo direto de cima para baixo.
· A transição para o governo direto deu aos governantes livre acesso aos cidadãos e aos recursos que eles controlavam, através de tributações da família, conscrição em massa, censos, sistemas de polícia e muitas outras invasões da vida social em pequena escala.
· Mas isso foi feito à custa de uma resistência multiplicada, de extensa negociação e da criação de direitos e compensações para os cidadãos.
· Tanto a penetração quanto a negociação criaram novas estruturas de estado, inchando os orçamentos do governo, o quadro de pessoal e os diagramas organizacionais.
1. Os Estados não foram produzidos com um modelo preciso em mente
2. Os principais componentes dos estados nacionais - tesouros, tribunais, administrações centrais etc - foram constituídos involuntariamente para cumprir as tarefas mais imediatas, especialmente a criação e manutenção das forças armadas.
3. Outros estados influenciaram intensamente a trajetória de mudança seguida por algum estado particular.
4. A luta e a negociação com classes diferentes da população moldou de forma significativa os estados que emergiram na Europa.
· Tanto a oposição quanto a cooperação dos atores criaram e recriaram a estrutura do estado ao longo do tempo. (não só as classes dirigentes, mas sim todas)
· As variações na estrutura de classe de uma parte da Europa para a outra produziram diferenças geográficas sistemáticas na natureza dos estados.
· A guerra e a preparação da guerra induziram os governantes a extrair os meios de guerra daqueles que mantinham os recursos essenciais e se mostravam relutantes em entregá-los sem uma forte pressão ou compensação.
· A forma de organização das principais classes sociais dentro do território de um estado, influenciaram as estratégias que os governantes empregaram para extrair recursos
· A extração e a luta pelos meios de guerra criaram as estruturas organizacionais centrais dos estados.
· A organização das principais classes sociais, e suas relações com o estado, variaram consideravelmente das regiões européias de intensa coerção (áreas de poucas cidades e predominância agrícola, onde a coerção direta desempenhou um papel importante na produção) para as regiões de grande aplicação de capital (áreas de muitas cidades e predominância comercial, onde prevaleciam os mercados, a troca, e a produção dirigida para o mercado).
· As exigências que as classes principais fizeram ao estado, e a influência dessas classes sobre o estado, variaram de forma equivalente.
· Por conseguinte, o sucesso relativo das diferentes estratégias de extração, e as estratégias que os governantes aplicaram realmente, variaram consideravelmente das regiões de intensa coerção para as de grande aplicação de capital.
· Em consequência, as formas organizacionais dos estados seguiram claramente trajetórias diferentes nessas diferentes partes da Europa.
· Tais circunstâncias negaram qualquer idéia de que os monarcas europeus simplesmente adotaram um modelo visível de formação do estado e se empenharam da melhor forma possível para segui-lo.
5. Compreensão sobre o que são Análises Estatistas, Geopolíticas, Análises Segundo o Modo De Produção e Análises pelo sistema mundial. Bia
Para entender tais análises, deve-se ter em vista seu objeto e suas divergências. 
A pergunta colocada no centro da obra de Charles Tilly é a grande variação, no tempo e no espaço, dos tipos de estados que predominaram na Europa e por que os estados europeus acabaram convergindo em variantes distintas do estado nacional?
E cada uma dessas análises buscam responder essa pergunta, divergindo, contudo, com relação a duas outras questões: 
· Em que medida, e até que ponto, a formação do estado resultou da forma particular de mudança econômica?
· Com que vigor os fatores externos a um estado particular influenciaram a sua trajetória de transformação?
Mas as posições para cada uma dessas questões oscilam entre os extremos do determinismo econômico e da autonomia política (para a primeira) e entre as explicações internalistas e internacionalistas (para a segunda).
Entretanto,conclui-se que essas explicações são falhas, porque ignoram a diversidade dos Estados em períodos diferentes da história, explicam a variação de um Estado para o outro a partir de suas particularidades e não pela relação entre eles, e enfatizam os Estados extensos e centralizados que dominaram a vida europeia nos séculos XIX e XX. 
1. Análise Estatista
O modelo estatista da guerra, das relações internacionais e da formação do estado oferece um ponto de vista parcialmente independente da economia e específico de cada Estado em relação à mudança política.
Em Relações Internacionais, alguns pressupostos são que os Estados individuais se guiam pelos seus interesses, que os sistema internacional é anárquico e que as relações entre os Estados se baseiam na defesa de seus interesses.
No estudo de política comparada, os estatistas partem da tradição e das condições que produzem estados fortes, eficientes e estáveis. Dessa forma, são poucos os exemplos bem sucedidos.
Huntington analisa tanto a Europa quanto os Estados Unidos, oferecendo três modelos de modernização das instituições governamentais: racionalização da autoridade e da diferenciação das estruturas dentro de um corpo soberano unificado sob a coroa, como no Continente; centralização de poder numa assembléia representativa, como na Grã-Bretanha; e fragmentação de soberania, como na América.
Kennedy avalia o processo de expansão econômica e política como um tanto quanto contraditório, haja vista os Estados que triunfam sobre outros no âmbito militar por meio da aplicação contínua de seus recursos. Enquanto isso, outros Estados acumulam riquezas e investem em outros âmbitos.
McNeill, já se aproximando da análise geopolítica, centraliza sua análise na guerra, o que torna a posição no sistema internacional um determinante decisivo na história organizacional do Estado em questão.
No entanto, a perspectiva estatista dá espaço à particularismos e negligenciam o surgimento de Estados que logo desapareceram.
2. Análise Geopolítica
Essa perspectiva tem como base elementar de formação do Estado o sistema internacional, argumentando que as relações entre Estados têm uma lógica e influência próprias que atuam rigorosamente na formação deles.
Rosenau distingue quatro “padrões de adaptação nacional” à política internacional (adaptação da política externa): intransigente (tenta unir seu ambiente com as estruturas vigentes), aquiescente (calmaria como ideia central/diplomacia), fomentador (molda as exigências das estruturas vigentes) e preservador (manutenção da sua existência). Cada uma delas tem consequências distintas para o caráter do executivo, para a natureza do sistema partidário, para o papel do legislativo, do militar, etc.
A denominação de Thompson acerca de sociedade global considera as interações entre o Estado e a estrutura das relações entre eles.
3. Análise segundo o Modo de Produção
Esse tipo de análise se deriva de qualquer forma de organização da produção. Nesse sentido, seus teóricos explicam que a estrutura do Estado decorre dos interesses dos capitalistas que atuam dentro das jurisdições deste. No entanto, não explicam as diferenças nas formas de Estados com semelhantes modelos organizacionais da economia.
4. Análise pelo Sistema Mundial
Essas correntes interpretam as diversas trajetórias de formação do estado de acordo com uma caracterização da economia do globo.
Para Wallerstein, o modo de produção numa determinada região cria uma certa estrutura de classe, que emana num certo tipo de Estado; o caráter desse Estado e as relações dos produtores e comerciantes da região com o restante da economia mundial determina a posição da região - central, periférica ou semiperiférica - na economia do mundo, que por sua vez afeta consideravelmente a organização do estado. Nessa análise, o Estado representa um instrumento que serve ao interesse da classe dominante internamente e na economia mundial.
	
	Internalismo
	Internacionalismo
	Autonomia Política
	Análise Estatista
	Análise Geopolítica
	Determinismo Econômico
	Análise segundo o Modo de Produção
	Análise pelo Sistema Mundial
6.1. Mudanças na forma da guerra e na organização do estado Marcus
O século XIX já se firmou como o mais belicoso em toda a história. Até o ano de 2000 foram aproximadamente 230 milhões de mortes distribuídas no impressionante número de 275 guerras, ultrapassando significamente qualquer número de séculos anteriores. Entre as grandes potências,a frequência, a duração e número de guerras declinou a partir do século XVI mas em compensação se tornaram mais mortíferas. Já entre os pequenos Estados, o número cresceu mas foram bem menores em comparação.
	Embora homicídios, raptos e estupros sejam cada vez mais noticiados, a violência cometida por cidadãos que se acham fora da esfera do Estado diminuiu significamente no mundo ocidental. Com exceção dos Estados Unidos, assassinatos são cada vez mais raros do que no passado. Isso se dá enormemente devido ao maior controle, repressão e monopólio dos meios efetivos da violência por parte dos Estados.
	Os Estados europeus é que começaram a realizar essa mudança instituindo os meios de coerção e privando a população civil de possuir tais meios. No decorrer da história europeia, era habitual os homens comuns possuírem armas letais e alguns detentores de poder locais inclusive sobrepujavam as forças do próprio Estado. A partir do século XVII, os governantes decidiram mudar tal situação e declararam criminosos os cidadãos que utilizavam das armas, baniram os exércitos particulares e tornaram normal agentes armados do estado enfrentarem civis desarmados. Atualmente os Estados Unidos por liberarem armas para seus cidadãos enfrentam maiores níveis de mortalidade do que outros países Ocidentais. 
.	O desarmamento da população civil aconteceu em muitas e pequenas etapas:
 -apreensão geral das armas ao término das rebeliões
 -proibições dos duelos
 -controles da produção de armas
 -introdução da licença para o porte de armas por particulares
 -restrições a demonstrações públicas de força armada
	Finalmente, a definição de estado dada por Max Weber começou a fazer sentido com relação aos estados europeus: “o estado [...] reivindica o monopólio do uso legítimo de força física dentro de um determinado território”
Formas que o desarmamento civil ocorreu: 
 -regiões urbanas - a instalação de um policiamento rotineiro
e a negociação de acordos entre as autoridades municipais e nacionais foram
importantes
 -regiões rurais - a dissolução dos exércitos particulares, a eliminação dos castelos
cercados de muros e fossos e a proibição das vendetas se alternaram entre cooptação e guerra civil
6.2. As guerras Júlia
As guerras acontecem porque a coerção funciona. É dessa aplicação de força de uns sobre outros que se obtém condescendência por parte dos subjugados e a partir daí são gerados bens, vantagens, dinheiro.
Havia uma lógica adotada pelos governantes europeus que consistia em controlar os meios substanciais de coerção dentro de uma área segura (sendo possível desfrutar dos lucros advindos da coerção) além da existência de uma zona tampão fortificada para aumentar a proteção. Quando se percebia que a zona tampão havia se tornado uma área segura, a tendência era de aumentar os limites fronteiriços para o estabelecimento de uma nova zona tampão, o que abria possibilidade para deflagração de conflitos com potências vizinhas. Dentro dessas distintas esferas de influência e controle, a natureza do patrulhamento também se diferenciava: a polícia se dedicava à área segura e o Exército, à zona tampão.
Fatores que caracterizam as guerras:
1. Natureza dos principais oponentes;
2. Interesses externos das classes dominantes e
3. Lógica da atividade de proteção adotada em nome dos interesses do governante e as das classes dominantes
 	Em se tratando do primeiro fator, caso os adversários fossem marinheiros mercadores, a pirataria se mantinha independentemente do estado formal de guerra ou de paz. O mesmo não ocorria entre senhores da terra que não hesitavamem fazer uso da violência para controle da propriedade e do trabalho. Exemplificando os fatores referentes aos interesses externos das classes dominantes e a lógica assumida para protegê-los, quando as pequenas potências marítimas dispunham de grandes impérios ultramarinos, a proteção dos interesses levou-os a patrulhar as linhas costeiras e, desse modo, a travar inevitáveis batalhas contra aqueles que cobiçavam o mesmo negócio.
A coerção é sempre relativa, ou seja, as vantagens do controle concentrado sobre os meios de coerção ficam comprometidas quando um outro indivíduo passa a controlar seus próprios meios coercitivos. 
Com o decorrer do tempo, as guerras europeias tornaram-se mais letais, menos frequentes e menos duradouras. (Ver tabela 3.1. pg. 129).
Número médio de Estados envolvidos nas guerras:
Séc. XVI: 9,4
Séc. XVIII: 17,6
Séc. XX: 6,5 
Volume absoluto de mortes/ano:
Séc. XVI: 9,4 mil
Séc. XX: 290 mil*
*esse aumento significativo no número de mortes tem relação com o uso de novas tecnologias de guerra: aviação, tanques, mísseis e bombas nucleares.
	Esses dados revelam que nos cinco séculos antes de 1500, os Estados europeus concentraram-se quase que exclusivamente em planejar guerras (preparativos, o seu pagamento e a reparação de seus danos). Nesse sentido, durante todo o milênio, a guerra foi a atividade dominante dos Estados europeus. 
	Antes do séc. XIV, a receita vinha dos tributos, dos feudos e das rendas e os soberanos tomavam empréstimos em nome próprio. Já no séc. XVI, os Estados europeus começaram a normalizar e ampliar os seus orçamentos, os impostos e também as dívidas, que passaram a ser garantidas pelas receitas futuras. 
	A guerra impulsionou os Estados, mas nem por isso exauriu suas atividades. O que se observa é o surgimento de organismos institucionais (tribunais, tesouros, assembleias) e a crescente concentração de funções burocráticas e administrativas desempenhadas pelo governante (antes conquistador, agora servidor público). Ou seja, o processo de preparação para a guerra acabou levando à burocratização do Estado. 
	O pagamento devido das obrigações por parte das populações locais permitia o afastamento de onerosas injunções das tropas. Além disso, os governantes ofereciam um valor em troca de proteção contra danos que eles mesmos, direta ou indiretamente, causaram.
	Houve um lento processo de divisão organizacional entre Exército, destinado a lutar contra inimigos externos, e polícia, voltada para a população civil. Outro ponto a se notar é a diferença entre o policiamento na área rural, onde há predomínio de grandes porções de terra em espaço privado e na área urbana, majoritariamente público, de acesso a todos. 
7. Trajetórias de formação do estado
8. Relação entre estado e guerra e suas transições Raphael
OI, esse capítulo é basicamente feito de dados de soldados e etc, pouquíssimos trechos falam das transições do esquema da guerra em relação ao Estado, então vou tentar separar trechos que deem uma ideia das transições, é nois
· Por que aconteceram as guerras? O fato central e trágico é simples: a coerção funciona; aqueles que aplicam força substancial sobre seus camaradas obtêm condescendência, e dessa condescendência tiram múltiplas vantagens, como dinheiro, bens, deferência, acesso a prazeres negados aos indivíduos menos poderosos. Os europeus seguiram uma lógica padronizada de provocação da guerra: todo aquele que controlava meios substanciais de coerção tentava garantir uma área segura dentro da qual poderia desfrutar dos lucros da coerção, e mais uma zona-tampão fortificada, talvez conseguida aleatoriamente, para proteger a área segura.
· A marca particular de cada estado na guerra dependia de três fatores estreitamente relacionados: a natureza de seus principais antagonistas, os interesses externos de suas classes dominantes e a lógica da atividade de proteção que os governantes adotavam em nome de seus próprios interesses e dos das classes dominantes. 
· Naquelas regiões em que os antagonistas eram marinheiros mercadores, a pirataria e o corso simplesmente persistiram, independentemente do estado formal de guerra e paz, ao passo que, naquelas em que as potências agrárias dominadas pelos senhores de terra viviam ombro a ombro, as disputas pelo controle da terra e do trabalho - principalmente nos momentos das brigas de sucessão - precipitaram com muito mais freqüência o apelo às armas.
· Além do mais, nos cinco séculos antes de 1500, os estados europeus concentraram-se quase que exclusivamente em fazer guerra. Durante todo o milênio, a guerra foi a atividade dominante dos estados europeus. Os orçamentos dos estados, os impostos e as dívidas refletem essa realidade. Antes de 1400, na era do patrimonialismo, nenhum estado tinha um orçamento nacional no sentido estrito da palavra. Nos estados mais comercializados da Europa existiam impostos, mas em toda a parte os governantes tiravam dos tributos, rendas, direitos e feudos a maior parcela de suas receitas. Os soberanos individuais tomavam dinheiro emprestado, mas habitualmente em seus próprios nomes e ao arrepio dos parentes colaterais. Durante o século XVI, quando a guerra multiplicou os gastos do estado na maior parte do continente, os estados europeus começaram a normalizar e ampliar os seus orçamentos, os impostos e também as dívidas. As receitas futuras dos estados passaram a servir de garantia para as dívidas a longo prazo.
· Se a guerra impulsionou os estados, nem por isso exauriu a sua atividade. Ao contrário: impelidos pelos preparativos para a guerra, os governantes deram início de bom ou mau grado a atividades e organizações que acabaram por adquirir vida própria: tribunais, tesouros, sistemas de tributação, administrações regionais, assembléias públicas, e muitos outros.
· Em meio ao século XVII, a maioria dos grandes estados europeus, para o governo doméstico, dependiam de magnatas regionais armados e parcialmente autônomos, e enfrentaram repetidas ameaças de guerra civil quando os magnatas pegaram em armas contra os soberanos. Nos séculos críticos de 1400 a 1700, os| governantes gastaram grande parte do seu esforço em desarmar, isolar ou cooptar' os pretendentes rivais ao poder do estado.
· A guerra teceu a rede europeia de estados nacionais, e a preparação da guerra criou as estruturas internas dos estados situados dentro dessa rede.
· Estados com condições de arcar com custos de armamento tiravam proveito disso.
· Séc. XV-XVII alguns estados que se concentraram em construir suas marinhas continuaram a prosperar. Época de potências marítimas.
· Esses estados extorquiram riquezas de suas colônias, lucraram com o intenso comércio internacional e tiraram vantagem das bases domésticas que a marinha podia defender com facilidade.
· Final do século XV assinalou uma transição importante: quando os grandes estados militares começaram a sentir o incentivo da expansão capitalista, as vantagens dos pequenos estados mercantis principiaram a desaparecer.
· Questão de conflitos internos da Itália, cidades-estados em conflito. Colapso da moral, guerras mais sangrentas.
· Estados do Norte, dinastia dos Habsburgos, etc, tudo em treta: Quando os estados do Norte generalizaram as suas guerras e arrastaram a ltália para as suas lutas, a guerra terrestre tornou-se mais importante e a capacidade de pôr em campo grandes exércitos passou a ser decisiva para o sucesso de um estado. 
· ‘’os números de soldados oscilaram drasticamente de ano para ano, de acordo com as finanças públicas e com o estado da guerra; perto de 1700, na França, por exemplo, o exército em tempo de paz contava cerca de 140 mil homens, mas Luís XIV elevou esse número para 400 mil no meio de suas grandes campanhas’’
· Do século X V ao século X V II - o período crítico para a formação do estado , europeu - os exércitos criados em grande parte da Europa eram constituídos muito mais de mercenários recrutados por grandes senhores e por empresários militares. Da mesma forma, as marinhas nacionais (principalmente os corsários que saqueavam a frotainimiga com a autorização de um estado protetor) comumente congregavam marinheiros alugados por todo o continente (Fontenay 1988b). E verdade que a extensão, e o período, em que os estados dependeram de mercenários variaram. Os governantes dos estados maiores e mais poderosos lutaram para limitar essa dependência: a França, a Espanha, a Inglaterra, a Suécia e as Províncias Unidas conservaram os seus próprios generais e alugaram os regimentos e companhias, mas os estados menores comumente alugavam o exército inteiro, do general aos soldados. Os Habsburgos alemães até a Guerra dos Trinta Anos usaram os recrutamentos locais durante a guerra contrataram o grande mas exigente condottiere Wallenstein e. depois, na última metade do século XVII inclinaram-se a criar um exército permanente. Como as batalhas são ganhas mais pelo tamanho dos exércitos na relação entre um e outro estado do que pelo esforço per capita que está por trás deles, pode-se perceber porque estados menores relativamente prósperos muitas vezes alugaram os seus exércitos no mercado internacional. Também as armadas misturaram forças públicas e privadas.
· Final do Séc. XVIII - Durante muito tempo os estados maiores da Europa haviam-se esforçado para conter os mercenários dentro de exércitos comandados por seus próprios generais e controlados pelos seus próprios civis. Além disso, com o século do Iluminismo, os custos e riscos políticos das forças mercenárias em ampla escala levaram os governantes desses estados a recrutar cada vez mais os seus próprios cidadãos e a substituir onde fosse possível os mercenários estrangeiros. Nos primeiros estágios da expansão militar com exércitos alugados, os governantes acharam dispendioso e politicamente arriscado o recrutamento de soldados entre a sua própria população; continuava grande o perigo de uma resistência doméstica e de rebelião. As guerras da Revolução Francesa e do Império determinaram o final dessa tendência, e chegou ao fim a predominância dos exércitos mercenários.
· Com uma nação em armas, o poder de extração do estado cresceu enormemente, como também aumentaram as reivindicações dos cidadãos ao seu estado. Embora uin chamado para defender a mãe-pátria tenha estimulado um apoio extraordinário aos esforços de guerra, a dependência da conscrição em massa, da tributação confiscatória e da conversão da produção para as finalidades da guerra tornou todo estado vulnerável à resistência popular e responsável pelas reivindicações populares, como nunca ocorrera antes. A partir desse momento, o caráter da guerra mudou e a relação entre a prática da guerra e a política civil alterou-se fundamentalmente. 
· Por que então os estados parariam de alugar seus soldados e marinheiros e passariam a substituí-los por exércitos permanentes com base no recrutamento? Vários fatores convergiram para essa solução. A instituição de imensas forças armadas cuja obrigação para com a coroa era apenas contratual aumentou os perigos de pressão, de rebelião e mesmo de disputa pelo poder político; os próprios cidadãos de um estado, comandados por membros de suas classes dirigentes, muitas vezes lutam melhor, mais confiantemente e mais barato. O poder sobre a população doméstica que os governantes adquiriram mediante a instituição de exércitos mercenários e a infra-estrutura para suportá-los acabou por alterar o equilíbrio; quando os mercenários se tornaram caros e perigosos por eles mesmos, as possibilidades de resistência efetiva por parte da população nacional declinaram. Quando as guerras se tornaram mais caras, o custo absoluto da guerra na escala determinada pelos seus grandes antagonistas ultrapassou os recursos financeiros de todos os estados, salvo os mais comercializados. No decorrer do século XVIII, a grande expansão da indústria rural abriu oportunidades econômicas alternativas para os povos de regiões importantes, como a montanhesa Suíça, que vinha exportando soldados e criados domésticos para o restante da Europa, e desse modo pressionando a oferta de mercenários. A Revolução Francesa e Napoleão deram o coup de grâce* no sistema mercenário quando criaram exércitos imensos e efetivos, recrutados principalmente no próprio território francês em expansão. Contudo, mais ou menos nessa época, mesmo os exércitos permanentes recrutados entre a população tinham de ser pagos e sustentados. A partir do século XV, os estados europeus inclinaram-se decididamente para a criação de forças pagas, mantidas pelos empréstimos e impostos. Na verdade, o sistema mercenário revelava uma grande fraqueza: quando o pagamento demorava a chegar ou mesmo não vinha, os mercenários habitualmente se amotinavam, abandonavam a região, tornavam-se bandidos, ou as três coisas ao mesmo tempo; o povo do local pagava o preço (ver Gutmann 1980: 31-71). Nas guerras dos séculos XVI e XVII, o saque complementava a renda militar, mas estava muito longe de garantir a manutenção dos soldados. Com grande diversidade de um estado para outro, o aluguel de força armada junto a empresários mais ou menos independentes atingiu seu apogeu no século XVII e começou a diminuir no século XVIII. Não obstante, por três ou quatro séculos, os mercenários determinaram o padrão europeu de desempenho militar. A maioria dos empresários que serviam aos exércitos compravam alimento, armas, uniformes, abrigos e meios de transporte ou diretamente ou mediante concessões a oficiais subordinados. Para isso, precisavam de dinheiro, e de muito dinheiro. Em 1502, Robert de Balsac, veterano das campanhas italianas, concluiu um tratado sobre a arte da guerra com uma advertência a todo e qualquer príncipe: “o mais importante de tudo, o sucesso na guerra depende de se ter bastante dinheiro para fornecer tudo do que a empresa necessita”.
9. Tipos de discurso para discriminação censitária e divisão do trabalho que justifica a servidão Isadora
Democracia ou Bonapartismo - Domenico Losurdo
· Constant: as medidas que comportam isenção tributária ou tratamento fiscal favorável aos pobres não só penalizam injustamente a riqueza, mas terminam por tratar a pobreza como um privilégio e por constituir uma casta privilegiada, formada pelos miseráveis - para que os miseráveis não se transformem em uma “casta privilegiada”, ou seja, se aproveitem do poder político ou da influência exercida sobre ele para impor uma redistribuição de renda e melhorar de algum modo sua condição material, o exercício dos direitos políticos deve constituir privilégio exclusivo das classes ricas, caso contrário, expõe-se a ordem social existente a riscos intoleráveis - voto censitário.
· Tocqueville: é contrário a uma intervenção política no campo econômico, a qualquer hipótese de redistribuição de renda (ataque à liberdade e à propriedade) e, consequentemente, a um sistema eleitoral capaz de favorecer tais eventualidades - defende um sistema eleitoral de vários graus, o qual seria o único remédio para os excessos da democracia e objetivaria a neutralização política das classes populares e a depuração social dos organismos representativos - é hostil às eleições diretas 
· Democracia nos EUA: no âmbito do sistema bicameral, antes da presidência de Jackson, a Câmara baixa se baseia na restrição censitária dos direitos políticos (assim como na Europa), enquanto a Câmara alta é protegida da influência das massas populares mediante a eleição em segundo grau (na Europa isso era feito por meio da hereditariedade dos títulos de nobreza). Além disso, a Corte Suprema funciona na prática como uma Terceira Câmara chamada a ser guardiã da propriedade contra o poder do número. Também há discriminação racial - exclusão dos negros, mesmo aqueles teoricamente livres, dos direitos políticos e civis, dado que a sociedade o entrega desarmado à violência racista.
· Stuart Mill: para ele, o sistema eleitoral de segundo grau era de difícil prática em um país carente de estrutura federal - “é absolutamente necessário que o sufrágio seja o mais amplo possível, mas num tal estado de coisas, a grande maioria de votantes de quase todos os países,e com certeza no nosso, se comporia de trabalhadores manuais; e o duplo perigo, o de um nível demasiado baixo de inteligência política e o de uma legislação de classe, continuaria subsistir em medida considerável” - não é lícita nenhuma tributação que não seja aprovada pela representação parlamentar, também significa que não têm direito a uma representação política autônoma aqueles que se demonstram pobres demais para serem submetidos à tributação - aqueles que recebem assistência do município não tem direito de voto, pois ao depender dos membros da comunidade para seu sustento, ele abdica do direito de ser tratado no mesmo plano que os outros. Entretanto, como a concessão de direitos políticos com base na renda era percebida cada vez mais como odiosa por camadas crescentemente mais amplas da sociedade, a discriminação censitária assume uma face mais moderna e aceitável, a exclusão dos analfabetos, pois conceder o sufrágio a um homem que não saiba ler é como dá-lo a uma criança que não saiba falar, ambos não possuem maturidade cívica. Assim, o sufrágio universal é conjugado no futuro, adiado até o momento que tiver desaparecido o analfabetismo e não houver mais indivíduos tão pobres que necessitem da assistência pública e não possam ser submetidos a um nível mínimo de tributação. Ainda que conjugado no futuro, o sufrágio universal não deve ser igual para todos: aos melhores e mais inteligentes deve ser assegurada, já pela via legislativa, uma influência superior na vida pública - voto plural - ex: “um empregador é mais inteligente que um operário, por ser necessário que ele trabalhe com o cérebro e não só com os músculos. Um banqueiro, um comerciante serão provavelmente mais inteligentes do que um lojista, porque têm interesses mais amplos e mais complexos a seguir. Nestas condições, poderia-se atribuir dois ou três votos a todas as pessoas que exercessem essas profissões de maior relevo” - os dotados de maior qualidade têm direito a uma influência superior - introdução de um sistema de representação proporcional que dê peso ao voto de cada homem de acordo com sua capacidade comprovada de operar escolhas inteligentes. 
· Constant: o escopo necessário dos não-proprietário é chegar à propriedade e, para isso, empregarão todos os meios que lhes foram dados, ou seja, se à liberdade de ofício e de trabalho acrescentarem-se os direitos políticos, estes servirão para invadir a propriedade. Os não-proprietários titulares de direitos políticos seriam levados a perseguir objetivos predatórios e anárquicos e, até mesmo, a demolir a sociedade, impondo impostos que incidam sobre os proprietários. De tal modo, estes seriam privados de seus direitos políticos, isto é, a indevida emancipação política das classes populares comporta a des-emancipação política das únicas classes capazes de dirigir o país.
· Des-emancipação política e social dos negros: a supressão do direito de voto dos negros era uma condição de estabilidade do tipo de economia plantation e do trabalho servil no qual ela se baseava. Eles eram considerados inferiores por natureza e raça e, portanto, destinados a trabalhar para os brancos numa condição comparável à escravidão.
· Sieyès: distinção entre cidadãos ativos e passivos - a multidão sem instrução, os cidadãos passivos, as máquinas de trabalho deve ser obrigada a um trabalho forçado - uma grande nação é composta por dois povos, pelos chefes da produção (dotados de inteligência) e pelos instrumentos humanos da produção - destituição das características humanas - trabalhador manual é sinônimo não só de estrangeiro mas também de estranho à civilização, de membro de uma raça inferior.
· Locke: a maior parte da humanidade não pode deixar de estar submetida a condições de vida e de trabalho semelhantes à escravidão - não faria sentido conceder direitos políticos àqueles que estão tão distantes das classes superiores de homens, como estes estão distantes de alguns animais - processo de racialização, que torna totalmentes estranhos aos cidadãos ativos e à elite dominante os excluídos da cidadania. 
· Os operários e as classes operárias em luta pelo reconhecimento do direito de coalizão ou dos direitos políticos percebem que a discriminação contra eles se entrelaça estreitamente com uma antropologia que, considerando-os estrangeiros não só em relação à comunidade que vivem, mas também à civilização, relega-os à condição de raça inferior, negando-lhes a dignidade plena de homens. 
10. Democratização, contestação, oposição pública e poliarquia Isadora
Democratização e oposição pública - Robert Dahl
· Democratização e desenvolvimento da oposição pública são processos diferentes.
· Para fins da análise, define democracia como a contínua responsividade do governo às preferências de seus cidadãos, considerados politicamente iguais - todos os cidadãos devem ter oportunidades plenas de: formular suas preferências; expressar suas preferências a seus concidadãos e ao governo através da ação individual e coletiva; e ter suas preferências igualmente consideradas na conduta do governo, ou seja, consideradas sem discriminação decorrente do conteúdo ou da fonte da preferência. Essas são as três condições necessárias à democracia.
· Oito garantias institucionais: liberdade de formar e aderir a organizações; liberdade de expressão; direito de voto; elegibilidade para cargos públicos; liberdade de líderes políticos disputarem apoio e votos; fontes alternativas de informações; eleições livre e idôneas; instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferências.
· Por meio dessas oito garantias, é possível comparar regimes diferentes segundo a amplitude da oposição, da contestação pública ou da competição política permitidas;
· Os regimes variam também na proporção da população habilitada a participar do controle e da contestação à conduta do governo, permitindo avaliar a inclusividade do regime - ex: direito de voto em eleições livres e idôneas (quando um regime garante esse direito a alguns de seus cidadãos, ele caminha para uma maior contestação pública, mas quanto maior a proporção da população que desfruta desse direito, mais inclusivo é o regime).
· Na falta do direito de exercer oposição, o direito de “participar” é despido de boa parte do seu significado.
· A democratização é formada por duas dimensões, a contestação pública e o direito de participação.
· Logo, desenvolver um sistema de contestação pública não é necessariamente equivalente à democratização plena.
 
· Caminho 1: maior contestação pública - liberalização do regime
· Caminho 2: maior participação - mais inclusivo
· Caminho 3: maior contestação e maior participação - mais liberal e inclusivo
· As poliarquias são regimes relativamente (mas incompletamente) democratizados, isto é, são regimes que foram substancialmente popularizados e liberalizados, sendo fortemente inclusivos e abertos à contestação pública
· A falta de nomenclatura para o espaço no meio da figura não significa uma falta de regimes, na verdade, a maioria dos regimes no mundo se localiza nesse espaço. 
· A democratização consiste em transformações históricas amplas - ex: transformação de hegemonias e oligarquias competitivas em quase-poliarquias (mundo ocidental ao longo do século XIX); transformação de quase-poliarquias em poliarquias plenas (Europa nas três décadas entre o fim do século XIX e a Primeira Guerra Mundial); democratização ainda maior das poliarquias plenas (Estado de bem-estar democrático entre a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial e o pós-década de 60) 
· Para uma descrição integral das oportunidades disponíveis para participação e contestação no interior de um país exige que se diga algo sobre as oportunidades disponíveis no interior de unidades subnacionais.
· Quando regimes hegemônicos e oligarquia competitivas se deslocam na direção de uma poliarquia, eles aumentam a oportunidade de efetiva participação e contestação e, portanto, o número de indivíduos,grupos e interesses cujas preferências devem ser levadas em consideração nas decisões políticas.
· Perspectiva dos governantes: essa transformação aumenta as possibilidades de conflito, já que seus objetivos e eles mesmos podem ser substituídos por representantes de indivíduos, grupos ou interesses recém-incorporados.
· Perspectiva dos opositores: maiores possibilidades e conflitos com representantes de indivíduos, grupos ou interesses que eles substituem no governo.
· Quanto maior o conflito entre um governo e seus opositores, mais difícil é a tolerância de um com o outro.
· A probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumentam com a diminuição dos custos esperados da tolerância.
· A probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta na medida que crescem os custos de sua eliminação.
· Quanto mais baixos os custos da tolerância, maior a segurança do governo. Quanto maiores os custos da supressão, maior a segurança da oposição. Assim, as condições que proporcionam um alto grau de segurança mútua para o governo e as oposições tendem a gerar e preservar oportunidades mais amplas para as oposições contestarem a conduta do governo. 
 
Qual a importância da poliarquia? - Robert Dahl
· A transformação de um regime de hegemonia num regime mais competitivo ou de uma oligarquia competitiva numa poliarquia tem resultados significativos. 
1. Ganho de liberdades relacionadas à contestação e à participação: oportunidade de fazer oposição ao governo, formar organizações políticas, manifestar-se sobre questões políticas sem temer represálias governamentais, ler e ouvir opiniões alternativas, votar secretamente em eleições que candidatos de diferentes partidos disputam votos e depois das quais os candidatos derrotados entregam pacificamente os cargos ocupados aos vencedores. Esses valores certamente parecem maiores aos que os perderam ou aos que nunca os tiveram.
2. A participação ampliada combinada com a competição política provoca uma mudança na composição da liderança política, particularmente entre os cargos parlamentares eleitos. Na medida em que novos grupos obtêm o sufrágio, candidatos com características sociais mais próximas às camadas recém-incorporadas ganham uma fatia maior dos cargos eletivos. 
3. Na medida em que o sistema torna-se mais competitivo ou mais inclusivo, os políticos buscam apoio dos grupos que agora podem participar mais facilmente da vida política. Isso se reflete na apresentação de candidatos de quem os eleitores se sintam mais próximos e na adaptação da retórica, do programa, da política e da ideologia, conforme os desejos e os interesses desses grupos. Também há mudanças no próprio sistema partidários, por exemplo, mudando o regime de partido único para um bipartidarismo ou pluripartidarismo. Além disso, os próprios partidos mudam sua organização, pois para sobreviver na na situação mais competitiva, precisa-se alcançar mais membros, seguidores e potenciais eleitores com organização ao nível do bairro, seção, célula. Essa penetração crescente em áreas urbanas e rurais, por sua vez, provocam mudanças ainda maiores na vida política e intensificam a competição e a participação políticas (diminui o número de eleições pouco disputadas e aumenta a politização do eleitorado).
4. Quanto maiores as oportunidades de expressar, organizar e representar preferências políticas, maior a variedade de preferências e interesses passíveis de representação política.
5. As consequências para as políticas governamentais são mais obscuras. Devido ao poderoso impacto de fatores, como o nível de desenvolvimento socioeconômico de um país nas políticas governamentais, as características de seu sistema social e econômico e de suas tradições, é possível que o caráter do regime tenha pouco efeito independente na maioria das políticas governamentais.
6. É possível que, em períodos de tempo prolongados, as diferenças de regime possam agir sobre crenças, cultura, atitudes e personalidades.
· O autor não acredita que as poliarquias tenham mais consideração que outros regimes com as pessoas efetivamente privadas de direitos de cidadania (ex: negros nos EUA durante a escravidão). Também não são melhores no atendimento no interesse de pessoas fora de suas fronteiras.
· A virada da hegemonia para a poliarquia não é historicamente inevitável, ou seja, não há uma lei de desenvolvimento unidirecional.

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