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Infecções congênitas Transmissão A transmissão de uma infecção da mãe para o filho pode se dar: 1. No útero- congênita 2. Durante o parto, pouco antes- perinatal 3. Após o nascimento (ex: aleitamento materno) Ascendente- os microorganismos frequentemente podem causar infecção do cordão umbilical e alterações do tipo inflamatório no âmnio e cório (corioamnionite) e provocar ruptura prematura de membranas e parto prematuro. Hematogênica transplacentária Infecções adquiridas durante o parto e no período pós-natal A transmissão pode ser: - Transfusão maternofetal - Por ascensão direta de microorganismos - Aspiração de líquido amniótico - Contato com secreções infectantes Infecções adquiridas no útero • Via mais frequente: Hematogênica transplacentária – Infecções congênitas • No primeiro trimestre gestacional, as infecções acometem os fetos em menor porcentagem, porém com maior gravidade. • No segundo trimestre elevam a quantidade de infecções ao feto, porém com maiores taxas de infecção assintomática ou latente. Diagnóstico Exames (testes sorológicos) obrigatórios no pré- natal: - HIV, Hepatites B, Toxoplasmose e Sífilis. Os anticorpos imunoglobulinas G (IgG) maternos passam ativamente pela placenta a partir da segunda metade da gestação, atingindo níveis máximos ao nascimento, declinando após variável tempo. A imunoglobulina M (IgM), não ultrapassa a barreira placentária. Indica infecção aguda; se negativa, não exclui infecção congênita ou perinatal. O método definitivo é o isolamento do agente patogênico em algum material biológico. HIV Agente: Vírus da Imunodeficiência humana Transmissão: intraútero, intraparto e pós-parto. Principal fator de risco carga viral materna. Medidas efetivas: - Zidovudina (AZT): - Na gestante: no parto, dose de ataque EV, 2mg/Kg, infusão contínua de 1 mg/kg a cada hora até o parto. - No RN: xarope VO, 4 mg/kg a cada 12 horas, nas quatro primeiras semanas. Uso da nevirapina está diretamente relacionada a carga viral materna. Fluxograma quanto às situações para administração de AZT intravenoso profilático para gestantes durante o parto Cuidados na sala de parto e pós-parto imediato 1. Sempre que possível, realizar o parto empelicado, com a retirada do neonato mantendo as membranas corioamnióticas íntegras. 2. Clampear imediatamente o cordão após o nascimento, sem qualquer ordenha 3. Imediatamente após o nascimento (ainda na sala de parto), realizar o banho, preferencialmente com chuveirinho, torneira ou outra fonte de água corrente. Limpar com compressas macias todo sangue e secreções visíveis no RN 4. Se necessário, aspirar delicadamente as vias aéreas do RN, evitando traumatismos em mucosas 5. Colocar o RN o mais breve possível com a mãe 6. Iniciar a primeira dose do AZT solução oral (preferencialmente ainda na sala de parto), logo após os cuidados imediatos ou nas primeiras 4 horas após o nascimento 7. Quando indicado, administrar a NVP o mais precocemente possível, antes das primeiras 48 horas de vida. 8. Orientar a não amamentação e inibir a lactação (cabergolina- medicação que faz com que não tenha leite. Também se pode enfaixar as mamas) Orientar a mãe para substituir o leite materno por fórmula láctea até 6 meses de idade. Acompanhamento da criança: 1. Coleta de carga viral com 4 semanas de vida e repetida em seguida, se estiver positiva. Se estiver negativa, repetir após 4 meses de vida. A presença de DUAS cargas virais negativas exclui a infecção vertical no RN. 2. A partir dos 18 meses, o diagnóstico é realizado por testes sorológicos. Toxoplasmose congênita Agente: Toxoplasma gondii Transmissão: transplacentária Quadro clínico: assintomática ou sintomática (hepatoesplenomegalia, icterícia, anemia, plaquetopenia, pneumonite intersticial, miocardite, pericardite, endocardite, restrição de crescimento intraútero (RCIU Tétrade de Sabin lesões oculares e neurológicas (calcificações intracranianas, microcefalia e hidrocefalia) A tríade de Sabin não inclui a microcefalia. 85% das crianças nascidas com toxoplasmose são assintomáticas- a gravidade da infecção é maior no início da gestação. A maior parte da hiperbilirrubinemia é por aumento de bilirrubina direta. A forma congênita da doença ocorre quando uma mulher adquire toxoplasmose aguda pela primeira vez durante a gravidez. Mulheres infectadas até três meses antes da concepção apresentam risco mínimo ou inexistente de transmissão congênita. Em mulheres portadoras de imunodeficiência, a reativação da toxoplasmose latente durante a gestação pode, raramente, levar à transmissão para o feto. A ocorrência de sequelas tardias é frequente em todas as formas clínicas da toxoplasmose congênita não-tratada, inclusive em casos subclínicos ou oligossintomáticos, podendo ser identificada até a segunda década de vida em aproximadamente 85% dos recém-nascidos com infecção assintomática. Cerca de 85% dessas crianças evoluem com cicatrizes de coriorretinite, e quase 50%, com anormalidades neurológicas- necessidade de acompanhamento por anos, já pode não ser mais paciente do pediatra. Diagnóstico materno DETECÇÃO DE IgG: Os testes mais frequentemente utilizados para detectar a IgG são o ensaio imunossorvente ligado à enzima (enzyme-linked immunosorbent assay – ELISA) e a reação de imunofluorescência (RIF). A IgG aparece uma a duas semanas após a aquisição da infecção e eleva-se gradativamente até atingir um valor máximo, em um a dois meses, diminuindo em ritmos variados e geralmente persistindo por toda a vida. Teste de avidez IgG: Os testes de avidez de IgG ajudam a discriminar a infecção adquirida recentemente da infecção antiga. Valores ≥ 60% geralmente indicam infecção adquirida há mais de três ou quatro meses. Valores ≤ 30% sugerem infecção ocorrida nos últimos três ou quatro meses. Pode-se estimar se a contaminação foi antes da gestação. DETECÇÃO DE IgM: Os testes mais utilizados na detecção de IgM são também o ELISA e o RIF. Os anticorpos de classe IgM surgem mais precocemente que a IgG e, em geral, têm diminuição mais rápida, tornando-se negativos em alguns meses. No entanto, em algumas pessoas, a IgM pode permanecer detectável por anos após a infecção aguda. Resultados falso-positivos nos testes são frequentes, o que dificulta ainda mais sua interpretação desses resultados. REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR) Quando realizada em líquido amniótico após 18 semanas de gestação, a PCR para detecção de DNA do Toxoplasma gondii é mais sensível, rápida e segura do que os métodos sorológicos tradicionais, realizados em sangue fetal. A especificidade e o valor preditivo positivo para o diagnóstico pré-natal de toxoplasmose congênita têm sido relatados como próximos a 100%. Toxoplasmose congênita comprovada: Crianças com IgM anti-Toxoplasma positiva entre 2 dias e 6 meses de idade. Crianças que, durante o acompanhamento, apresentam persistência de positividade de IgG após 12 meses de vida, independentemente da presença de sinais ou sintomas da doença. Crianças com sinais e/ou sintomas sugestivos de toxoplasmose congênita, filhas de mãe com IgG positiva para toxoplasmose, após exclusão de outras TORCHs Crianças cuja mãe apresentou PCR positiva para toxoplasmose no líquido amniótico. Roteiro para avaliação clínica e laboratorial de criança com suspeita de toxoplasmose congênita Avaliação clínica e laboratorial do lactente exposto à toxoplasmose Avaliação oftalmológica (fundoscopia ocular) Avaliação neurológica Avaliação auditiva US transfontanelar ou TC crânio, sem contraste Hemograma completo Análise de LCR (bioquímica e celularidade) Sorologia para toxoplasmose(IgG e IgM) da mãe da criança Em crianças sintomáticas: avaliar função hepática e descartar outras infecções congênitas Tratamento O tratamento do RN deve ser iniciado assim que for confirmada a infecção e mantida até 1 ano de idade. Sífilis Congênita Agente: Treponema pallidum (bactéria Gram- negativa do grupo das espiroquetas) § Transmissão: hematogênica, via transplacentária, em qualquer fase da gestação, sendo mais grave quanto mais no início da formação do feto. Pode ser classificada em: recente e tardia Recente Ocorre quando os sintomas surgem durante os dois primeiros anos de vida. Principais alterações: hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões cutâneas, periostite, osteíte ou osteocondrite, pseudoparalisia dos membros (dor óssea importante), sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite serossanguinolenta (ou pode ser só hialina), icterícia, anemia, linfoadenopatia generalizada, petéquias, púrpuras, fissura peribucal, síndrome nefrótica (por causa da lesão hepática), hidropsia, edema, convulsão e meningite. Tardia Ocorre quando os sintomas surgem a partir dos dois primeiros anos de vida. Alterações ósseas (tíbia em sabre, articulações de Clutton, fronte olímpica, deformações de dentes – incisivos de Hutchinson e molares em formatos de amoras), nariz em sela, mandíbula curta, arco palatino elevado), surdez neurossensitiva e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Diagnóstico Exames diretos da sífilis (Pesquisa de T. pallidum direto da lesão) Testes imunológicos: pesquisa de anticorpos em sangue total, plasmo ou soro. - Treponêmicos - Não treponêmicos Treponêmicos: são testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos de T. pallidum. São os primeiros a se tornarem reagentes, podendo ser utilizados como primeiro teste ou teste complementar. Em 85% dos casos, permanecem reagentes por toda vida, mesmo após o tratamento e, por isso, não são indicados para o monitoramento da resposta ao tratamento. Teste rápido, testes de hemaglutinação e aglutinação de partículas, teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs), ensaios imunoenzimáticos (ELISA) Não – Treponêmicos: esses testes detectam anticorpos anticardiolipina naõ específicos para os antígenos do T. pallidum – análise qualitativa e quantitativa. VDRL, RPR, USR Tratamento Tratamento e monitoramento da sífilis em gestantes Fatores que são considerados para o tratamento adequado da GESTANTE: Administração de penicilina benzatina Início do tratamento até 30 dias antes do parto; Esquema terapêutico de acordo com o estágio clínico; Respeito ao intervalo recomendado de doses; Avaliação quanto ao risco de reinfecção; Documentação de queda do título do teste não treponêmico em pelo menos duas diluições em três meses, ou de quatro diluições em seis meses após a conclusão do tratamento (ex: antes, 1:16; depois, menor ou igual a 1:4- resposta imunológica adequada) Acompanhamento da gestante Para o seguimento do paciente, os testes não treponêmicos (ex.: VDRL/ RPR) devem ser realizados mensalmente nas gestantes e, no restante da população (incluindo PVHIV), a cada três meses até́ o 12º mês do acompanhamento do paciente (3, 6, 9 e 12 meses). Reação de Jarisch-Herxheimer (RJH)- pode simular uma alergia à penicilina, pois é uma reação febril aguda, de caráter autolimitado, que ocorre geralmente nas primeiras 24 horas após o tratamento de uma infecção por espiroquetas, pois a penicilina é muito eficaz contra as espiroquetas. Tratamento com hidratação e dipirona para dor. Para resposta imunológica adequada, utiliza-se o teste não treponêmico não reagente ou uma queda na titulação em duas diluições em até́ seis meses para sífilis recente e queda na titulação em duas diluições em até́ 12 meses para sífilis tardia. A persistência de resultados reagentes em testes não treponêmicos após o tratamento adequado e com queda previa da titulação em pelo menos duas diluições, quando descartada nova exposição de risco durante o período analisado, é chamado de “cicatriz sorológica” (serofast) e não caracteriza falha terapêutica. • As crianças com sífilis congênita deverão ser investigadas ainda na maternidade quanto às manifestações clínicas, exames complementares e resultado do teste não treponêmico. • Quando a mãe não foi tratada ou foi tratada de forma não adequada durante o pré-natal, as crianças são classificadas como caso de sífilis congênita, independentemente dos resultados da avaliação clínica ou de exames complementares. Exames complementares • Hemograma • Glicemia • Teste não treponêmico • Líquor Alterações liquóricas compatíveis com neurossífilis de acordo com a idade Não esperar o resultado do hemograma para pedir o líquor. As crianças com manifestação clínica, alteração liquórica ou radiológica de sífilis congênita E teste não treponêmico reagente preenchem critério para sífilis congênita independentemente do histórico materno quanto ao tratamento e das titulações dos testes não treponêmicos. Acompanhamento pós-tratamento Indicação de tratamento • Persistência da titulação reagente do teste não treponêmico aos seis meses de idade; e/ou • Aumento nos títulos não treponêmicos em duas diluições ao longo do seguimento (ex.: 1:2 ao nascimento e 1:8 após).
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