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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS BIOLOGICAS ROMEU DIAS FERREIRA PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM: AFASIA AMAPÁ 2022 1 INTRODUÇÃO Inicialmente seria considerável compreender que de acordo com Érica (2010), linguagem pode ser entendida como um universo complexo e multifacetado. É ela quem permite o acesso entre o conhecimento e a expressividade, que juntamente com à memória são partes integrantes e essências do mecanismo de comunicação. Todo ser humano faz uso da linguagem para falar, entender, ler, escrever, fazer gestos, entre outras atividades, porém, por resultado de uma lesão cerebral ou mais áreas do cérebro responsáveis pela linguagem pararem de funcionar apropriadamente, o indivíduo pode apresentar dificuldades para falar o que gostaria, sendo assim, não pode mais fazer uso da linguagem. Esta dificuldade é chamada de afasia (FERREIRA e ROCHA, 2018) Por ser uma patologia de origem neurológica, ela advêm em subsequência às sequelas de lesões cerebrais. Se caracteriza, mais especificamente, por falhas na compreensão e na expressão verbal, relacionadas à insuficiência de vocabulário, má retenção verbal, gramática deficiente e anormal, escolha equivocada de palavras. A afasia pode ser observada em criança que: ouve a palavra, mas não a interioriza com significado; demora a compreender o que é dito; apresenta gestos deficientes e inadequados; confunde a palavra ou frase com outras similares; tem dificuldade de evocação, exteriorizada por ausências de respostas ou tentativas incompletas para achar a expressão ou emissões que a substituem (WEBSTER, MORRIS e HOWARD, 2022) Na afasia são afetados todos os aspectos da linguagem referidos anteriormente, no entanto, não compreende uma doença, mas sim, uma desordem neurofisiológica multimodal (MAC-KAY, 2003). Indivíduos afásicos podem apresentar desde uma alteração linguística leve, até uma alteração mais severa, perdendo a capacidade de emitir qualquer sinal linguístico (OLIVEIRA, 2008). A pesquisa referida nesse trabalho tem como objetivo gerar conhecimentos que colabore para uma maior compreensão da realidade e intervenção sobre a afasia enquanto patologia. Proporcionando assim, um amplo conhecimento na área estudada, possibilitando uma maior compreensão deste distúrbio. 2 DESENVOLVIMENTO Em seus estudos, Vigotski (2009) destaca a importância da linguagem no desenvolvimento humano. Para o autor, a linguagem possui duas funções básicas: a de comunicação social e a de pensamento generalizante, ou seja, além de proporcionar a comunicação entre as pessoas, a linguagem também desenvolve e cria categorias conceituais, facilitando e simplificando os processos de abstração do pensamento. Barroco (2015), argumenta que a linguagem possui um papel fundamental na vida dos seres humanos, sendo um recurso indispensável para o desenvolvimento de capacidades especificamente humanas, como o pensamento verbal, categorial e abstrato, permitindo o comportamento racional. Além disso, a linguagem também permite a comunicação, possibilitando ao sujeito as vivências e trocas sociais que por sua vez viabilizam o desenvolvimento tanto da espécie humana quanto de sua história. Em outras palavras, ela se faz fundamental para a humanização do homem no plano filogenético e do sujeito singular no plano ontogenético. As afasias são distúrbios da linguagem provocados por lesões cerebrais focais; decorrentes de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), tumores e Traumatismos Crânio- Encefálicos (TCE). Tais lesões interferem na linguagem oral (compreensão e produção) e na escrita (leitura e produção) e, ainda, podem produzir outras alterações cognitivas, como dificuldade de atenção, de percepção e de memória (NOVAIS, 2012). A causa relacionada ao déficit de leitura pode ser resultado de um comprometimento fonológico, lexical, semântico e/ou cognitivo (PURDY et al., 2019). E, evidentemente, tais déficits impactam negativamente na vida da pessoa com afasia, principalmente, em indivíduos com hábitos de leitura (WEBSTER et al., 2021). Neste âmbito, uma ação que lhe era, aparentemente, simples e que fazia parte de sua rotina diária, como a leitura de listas de compras, de uma receita, de poesias, de bilhetes, e- mails, entre outros, passa a ser enfrentada com diferentes níveis de dificuldades. Os défices causados pela afasia variam conforme a localização e a extensão da lesão, ou seja, quanto maior for a região cerebral afetada maior será o risco de sequelas. Quando uma lesão se situa na zona anterior do hemisfério esquerdo, normalmente, é responsável por alterações na expressão verbal, enquanto que na zona posterior observam-se dificuldades na compreensão auditiva. O acidente vascular cerebral (AVC) é a etiologia mais frequente de alterações de fala e linguagem na idade adulta, podendo ser caracterizado por dois subtipos: hemorrágico e isquémico (Hallowell e Chapey, 2008). Segundo, uma revisão bibliográfica realizada por Neves e Catrini (2017), as pessoas que sofreram um AVC hemorrágico possuem um melhor prognóstico para a recuperação das capacidades linguísticas. Acrescentando ainda, a afasia pode ser causada por outros fatores, tais como: lesões traumáticas, tumores cerebrais, doenças neurológicas e infeciosas Além dos distúrbios específicos e relacionados à linguagem, existem outros fatores que agravam o quadro do paciente afásico como o seu estado emocional, as dificuldades de memória, o uso de medicação, os desvios de atenção, a presença de estados de agitação e depressão, as condições nutricionais e sua saúde geral (Fontanesi e Schmidt, 2016). Em relação aos sintomas para Boone e Plante (1994), os efeitos fisiológicos e psicológicos da afasia podem ser devastadores principalmente se este for uma criança. A autoestima pode ser abalada e a recuperação do aluno bastante mais lenta se o professor tratar o aluno como se ele fosse mentalmente incompetente. A frustração e o descontentamento sentidos pelo afásico não podem ser subestimados. Quando a capacidade de comunicação desaparece o indivíduo sente-se desprotegido, impotente e isolado. Muitas pessoas vivenciam esta frustração durante uma viagem internacional, pois, se não dominamos a língua muito bem, nossa capacidade de comunicação se torna mais limitada e nem sempre obtemos sucesso. Já que, muitas vezes não somos capazes de dizer claramente o que desejamos, ou não entendemos o que outra pessoa diz. Pessoas que sofrem de afasia convivem com este problema todos os dias. Através da comunicação expressamos desejos, ideias e necessidades, que permite desenvolver relações com a família, amigos e com a sociedade. Sendo a linguagem um instrumento de comunicação privilegiado, sua perda gera uma fonte de isolamento perante sua família e a sociedade. Tetzchner e Martinsen (2000) pontuam que pessoas acometidas pela afasia tendem a um contato empobrecido com seus pais, familiares, amigos e educadores, sentindo-se, muitas vezes, confusas e incompreendidas. Além disso, poderão ter dificuldades nos aspectos relacionados à aprendizagem, pois para se apropriar dos conhecimentos e valores culturais do ambiente elas necessitarão da interação completa com as pessoas do seu entorno social. Os autores afirmam ainda que pessoas com habilidades comunicativas reduzidas podem ter sérias dificuldades de autonomia e autoestima. O fato de não serem autônomas no uso da linguagem verbal, necessitando sempre do outro para expressar seus sentimentos, pensamentos, interesses e desejos, levam-nas a perder o controle de suas vidas. Muitas vezes, o que é dito pelo outro não corresponde ao que querem realmente comunicar. A interpretação da linguagem emotiva, por exemplo, é muitas vezesequivocada: Dessa forma, Érica pontua que os sujeitos com danos na linguagem e comunicação necessitam de recursos que compensem tais dificuldades, possibilitando meios alternativos e suplementares de comunicação. Somente ao desenvolver tais capacidades linguísticas eles poderão compreender o mundo que os cerca e com ele interagir, o que amplia as possibilidades de expressão referentes às suas próprias necessidades, tornando possível o desenvolvimento das funções mais complexas da mente humana. É importante destacar, que o educador também pode intervir nesse processo de reabilitação, mantendo atitudes positivas junto ao indivíduo; evitando comentários que prejudiquem o bem estar, pois apesar de não se expressar pode estar compreendendo; respeitar as suas opiniões, já que suas habilidades de julgamento e intelectualidade podem estar preservadas e retomar quando possível as atividades diárias e profissionais; reservar um tempo para a conversa individual com o afásico; falando devagar e com sentenças curtas, reforçando as palavras mais importantes da sentença (VIGOTSKI, 2007). Ajudando a pessoa com afasia a se expressar quando esta demonstra problemas para se comunicar, pode-se fazer isso indicando determinados objetos, através de gestos, desenhos ou ainda, escrever algo sobre o que está sendo dito. Para se ter uma conversa com um afásico é importante ter tempo e paciência (VIGOTSKI,2007). Para Vigotski é de crucial importância que o professor facilite o processo de socialização de um aluno com afasia. As atividades extracurriculares adequadas podem também ajudar o aluno, no que diz respeito ao processo de comunicação. O processo de aprendizagem de todos os alunos, incluindo dos que registram afasia, é mais produtivo quando a comunicação não é maçadora e sim divertida. Conforme Jackobson (2003), o importante no processo de reabilitação é oferecer ao afásico uma linguagem funcional, pois o mais importante é que ele consiga se comunicar mesmo que seja através de meios alternativos. Outro aspecto importante é a terapia em grupo, que tem como proposta a socialização, conversação e atualização sobre noticiários, proporcionando assim a estes sujeitos um espaço para ser ouvido e também a aprender a ouvir. Segundo os autores Boone e Plante (1994), o tratamento de um afásico deve ter o caráter interdisciplinar e para um conhecimento profundo da afasia, se faz necessário o estudo de várias disciplinas, como: linguística, neuropsicologia, neurologia, psicologia e etc. Nesse sentido, se faz necessário, que todos os profissionais envolvidos na reabilitação deste paciente entendam o porquê das alterações para a partir daí eleger estratégias adequadas de intervenção. Assim, o profissional da educação que tem conhecimentos relacionados a neuropsicologia, é capaz de identificar em seu aluno lesões ou distúrbios cerebrais que comprometem o seu desenvolvimento nas atividades educacionais, pois à medida que o professor passa a identificar no aluno suas dificuldades de aprendizagem ele pode diagnosticar quais são as causas e deficiências que esse aluno apresenta e se estão relacionadas a algum tipo de lesão cerebral, permitindo aos educadores, não apenas, uma avaliação diagnóstica mais precoce, mas também, os preparam para lidarem com alunos que apresentam problemas relacionados com a neuropsicologia, contribuindo de forma única para a educação no país (Brady et al., 2016) 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender os impactos que as dificuldades e os prejuízos linguísticos causam à vida de pessoas afásicas é primordial para pensarmos em estratégias pedagógicas que promovam o seu desenvolvimento intelectual, afetivo e social. O estudo do seguinte tema me levou a refletir sobre as nossas próprias práticas pedagógicas enquanto educadores, ampliando os conhecimentos acerca do tema pesquisado, e ainda, sobre quão importante é a prática pedagógica para a formação do ser humano. Levando em consideração a amplitude do tema abordado, tornam-se, necessárias outras pesquisas sobre a relevância do trabalho envolvendo a afasia, visando assim, auxiliar os profissionais que atuam no processo de recuperação do paciente afásico, possibilitando a reflexão sobre a nossa própria prática pedagógica, a fim de contribuir para o desenvolvimento das práticas de ensino atuais. Recomenda-se essa pesquisa a todos os educadores comprometidos com a formação de seus alunos. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brady, M. C., Kelly, H., Godwin, J., Enderby, P., & Campbell, P. (2016). Speech and language therapy for aphasia following stroke. Cochrane Database Syst Rev(6), CD000425. 10.1002/14651858.CD000425.pub4 BARROCO, S. M. S. A educação especial do novo homem soviético e a psicologia de L. S. Vigotski: implicações e contribuições para a psicologia e a educação atuais. 2015. 414 f. Tese (Doutorado)–Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Araraquara, 2015 BOONE, Daniel R.; PLANTE, Elena. Comunicação Humana e seus Distúrbios. 2ªed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Érica I. S., A. M. A., Magali L. C., Sílvia H. C. S. P. A contribuição de estudos transversais na área da linguagem com enfoque em afasia. Rev. CEFAC. 2010 Nov-Dez; 12(6):1059-1066. Fontanesi, S. R. O. e Schmidt, A. (2016). Intervenções em afasia: uma revisão integrativa, Revista CEFAC, 18(1), pp. 252-262. Hallowell, B. e Chapey, R. (2008). Introduction to Language Intervention Strategies in Adult Aphasia. In: Chapey, R. (Ed). Language Intervention Strategies in Aphasia and Related Neurogenic Communication Disorders. 5ª edição. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins. Jackobson, R. Linguística e Comunicação. Trad. Izidoro Blikstein; José Paulo Paes. 19ª ed., São Paulo: Cultrix, 2003. SANTANA, Ana Paula. Escrita e Afasia: A Linguagem Escrita na Afisiologia. São Paulo: Plexus, 2002. Lima, R. R., Rose, M. L., Lima, H. N., Cabral, N. L., Silveira, N. C., & Massi, G. A. (2020). Prevalence of aphasia after stroke in a hospital population in southern Brazil: a retrospective cohort study. Topics in Stroke Rehabilitation, 1-9. 10.1080/10749357.2019.167359 Mac-kay AP, Ferreira V, Ferreira T. Afasias e demências: Avaliação e tratamento fonoaudiológico. São Paulo: Santos; 2003. Neves, C. e Catrini, M. (2017). O olhar clínico sobre os fatores prognóstico das afasias, Distúrbios da Comunicação, 29(2/jun.), pp. 208-217. Oliveira LM. Afasia e o Modelo Interacional de Comunicação. Revista Gatilho (PPGL/ UFJF. Online). 2008; 7(4): 16-25 Novaes-Pinto RC. Cérebro, linguagem e funcionamento cognitivo na perspectiva sócio-histórico-cultural: inferências a partir do estudo das afasias. Letras de Hoje. 2012;47(1):55-64. VIGOTSKI, L. S.A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Webster, J., Morris, J., & Howard, D. (2022). Reading comprehension in aphasia: the relationship between linguistic performance, personal perspective, and preferences. Aphasiology, 1-17.
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