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08 - Fred Didier (Aula LFG)

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�LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 08 – Prof. Fredie Didier – Intensivo I – 30/03/2009
A aula de hoje é muito importante. É a última parte do estudo da teoria da ação. Trata-se da classificação das ações.
CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES
	Ações REAIS e Ações PESSOAIS
	Essa é uma classificação que distingue as ações quanto à causa de pedir próxima. A ação é real ou pessoal conforme o direito discutido seja real ou pessoal. Se o direito discutido for real, a ação é real, se o direito discutido for pessoal, então, é pessoal. A grande dificuldade dessa classificação não é processual. É preciso saber a diferença entre direitos reais e pessoais. Sabendo isso em civil, aqui fica mais simples porque é só aplicar. 
	O nome pode causar algum tipo de problema:
	Ação reipersecutória – não é real nem pessoal. Esse tipo de vocabulário cai muito. Não para perguntar o que é, mas constando do enunciado. Tem que saber o que é para responder.
	Ação reipersecutória é toda ação através da qual se vai a juízo em busca de alguma coisa. Uma ação reipersecutória pode ser real ou pessoal. Uma ação de despejo, v.g., é reipersecutória. Você quer o bem locado de volta. Só que é uma ação reipersecutória pessoal, porque fundada em um direito pessoal. Nada impede que você entre com uma ação reipersecutória que se funda em direito real. A reivindicatória é real e reipersecutória (persegue a coisa).
	Ações MOBILIÁRIAS e IMOBILIÁRIAS
	Essa classificação é de acordo com o objeto do pedido. Se o que eu pretendo é um móvel, ela é mobiliária. Se o que eu pretendo é um imóvel, ela é imobiliária. O problema dessa classificação é que a ação pode ser imobiliária e ser pessoal ou real. Uma ação é imobiliária, pessoal ou real. Você tem uma tendência de achar que toda ação que envolve imóvel é real. Porque envolve imóvel ela é real. Esse erro você não pode cometer. Ela pode envolver imóvel fundada em direito pessoal ou em direito real. É um ponto que eu tenho medo. O único. Você, na hora da prova porque viu imóvel, já tomar a ação como real. E não é assim. Um despejo, por exemplo, é pessoal e imobiliária. Então, tenham cuidado com isso. 
	Ação DÚPLICE
	Prestem bastante atenção ao que eu vou dizer. A expressão ação dúplice assume dois sentidos. Pode aparecer no concurso com dois sentidos. Ambos são corretos. Não tem um que seja mais certo. Vocês têm que estar preparados para os dois e não podem confundir um com o outro.
Ação dúplice em sentido processual: 
	Fala-se que há ação dúplice, em sentido processual, sempre que for permitido ao réu formular um pedido contra o autor dentro da contestação. Sempre que se permitir ao réu formular um pedido contra o autor dentro da contestação (o réu possa contestar e formular uma demanda contra o autor na mesma peça), fala-se que a ação é dúplice em sentido processual. É o que acontece nos Juizados Especiais. É o que acontece no procedimento sumário. Isso é o que se chama de pedido contraposto. 
	Tem uma pergunta que sempre me fazem: distinga ação dúplice de pedido contraposto. Em sentido processual, não tem distinção. Se na prova lhe perguntarem isso, é uma pergunta muito capciosa que deve ser respondida da seguinte maneira: “a ação dúplice tem dois sentidos, no sentido processual, essas expressões se equivalem. No outro sentido, contudo, não tem nada a ver.” pode ser que a pergunta seja com relação ao outro sentido da ação dúplice. Vc tem que examinar o problema à luz de ambos os sentidos da ação dúplice.
	Concurso de Juiz do Trabalho/RJ: “Cabe tutela antecipada em ação dúplice?” Vc terá que responder isso à luz de ambos os sentidos. Não vou responder isso agora, porque na tutela antecipada falo disso.
A ação dúplice em sentido material:
	Isso é mais complicado de compreender. No primeiro caso (ação dúplice processual), qualquer ação pode se tornar dúplice em sentido processual basta que o legislador permite que o réu, em sua defesa, formule um pedido contra o autor. Nelson Neri, por exemplo, diz que as ações de procedimento sumário são dúplices porque qualquer uma delas permite que o réu, em sua defesa, formule pedido contra o autor. As ações dos Juizados Especiais são dúplices porque em qualquer uma delas pode o réu, em sua defesa, formular pedido contra o autor. 
	Só que na ação dúplice em sentido material, a coisa muda de figura. Aqui, a ação é dúplice pelo tipo de direito material discutido. É o direito material discutido que torna a ação dúplice. Ela é dúplice porque o direito que se discute tem essa característica. Não é o legislador que torna a ação dúplice em sentido material. Ele não pode fazer isso. A ação é materialmente dúplice pelo tipo de direito que ela veicula. Que tipo de direito é esse? 
	A ação é materialmente dúplice quando a defesa do réu significar, ao mesmo tempo um contra-ataque. Ou seja, quando ele se defende, aquele ato de defesa dele não é apenas um ato de defesa, mas é também um ato de contra-ataque. Na ação dúplice em sentido processual, o réu pode praticar duas atitudes, fazer duas coisas: ele pode se defender e, se quiser, contra-atacar. A lei autoriza que ele formule seu contra-ataque na mesma peça de contestação. Na ação materialmente dúplice, a defesa do réu já é um contra-ataque. Ao se defender, ele já está contra-atacando. 
	Eu costumo dizer que a ação materialmente dúplice é um cabo-de-guerra. Eu uso essa metáfora. E por que uso essa metáfora? Porque num cabo-de-guerra, cada um puxa a corda para o seu lado. Com isso, você se defende do ataque da equipe adversária, mas também está atacando a equipe adversária. Aquele puxar a corda não é só a sua defesa. Ao mesmo tempo é o seu ataque. Ao se defender, você está atacando. No cabo de guerra não há como você só se defender ou só atacar. Quem age no cabo de guerra, age nos dois sentidos, para atacar e para se defender, necessariamente. Não há como você puxar a corda só para se defender ou só para atacar porque puxar a corda é uma conduta com dois sentidos.
	É a mesma coisa que acontece na ação dúplice material. Ele pode não se defender, mas se ele se defende, só pode ser atacando. A defesa dele tem o sentido defensivo e o ataque. Basta ele se defender. Não precisa fazer mais nada. Se ele resiste ao que o autor pretende, ele já está atacando. Eu vou dar alguns exemplos para que vocês entendam:
	Imagine que o autor peça para o juiz declarar a existência de uma relação jurídica: “Juiz, declare que uma relação jurídica existe”. Ação declaratória positiva. Qual será a defesa do réu? É a mais óbvia do mundo: o réu, inimigo do autor, vai pedir ao juiz que faça o quê? A sua defesa vai ser: “Não existe essa relação jurídica.” Ao se defender você já está pedindo ao juiz a declaração de inexistência. Você só está se defendendo do que o autor quer. Ao se defender já se pede a declaração contrária. 
	Toda ação declaratória é dúplice!
	Pensem no seguinte: cabo de guerra: a equipe puxa para ser menos e a outra para ser mais: existe, não existe, existe, não existe. É a mesma direção com sentido diversos.
	Outro exemplo: Oferta de alimentos de mil reais. Essa é uma ação proposta por quem deve alimentos. Qual será a defesa do guri? A defesa do guri será negar que seja mil. Ele vai negar dizendo que o valor é 3 mil. A defesa dele já é um contra-ataque. 
	Outro exemplo: consignação em pagamento. Qual é a defesa do réu? O valor é pequeno. Essa é a defesa do réu. Ao se defender, o réu já está exercitando o seu direito.
	Já dei três exemplos de ações materialmente dúplices. Notem que quando a ação é materialmente dúplice, a derrota de uma parte significa a vitória de outra. Quando uma parte perde, a outra ganha. 
	Isso pode parecer óbvio, mas quando a ação não é dúplice, as coisas são se dão dessa maneira. Por exemplo: eu entro com a ação para condenar o réu a me pagar 20 mil (isso não é dúplice em sentido material). Se eu perco, o que o réu ganha? O réu ganha não ter perdido. A vitória do réu significa apenas que o autor perdeu. Não se agrega para ele absolutamente nada. Quando a ação é materialmentedúplice, quem ganha, ganha. Quem ganha, sai do processo com algo que não tinha. Não é só a vitória de um lado e a derrota do outro lado. Na ação materialmente dúplice significa ganhar para si algo. 
	Na oferta de alimentos, se o guri ganhar 3 mil reais, ele sai com título executivo e 3 mil reais por mês. Se o credor, réu da consignação em pagamento, ganhar, ele sai com uma sentença que reconhece que ele tem direito àquele valor. Não é só derrota. Ele sai com algo mais. Por isso, que na ação materialmente dúplice, como ambos estão em uma situação em que qualquer um deles pode ganhar algo no processo, na ação materialmente dúplice, a diferença entre autor e réu é uma mera questão cronológica. Autor só é autor porque foi quem propôs a ação. Qualquer um dos dois poderia ter ido a juízo. Só que um foi primeiro. Todo mundo diz isso na doutrina. A distinção entre autor e réu é praticamente cronológica. O autor foi o cara que antecipou. Poderia ter sido o contrário. O réu poderia ter se antecipado e proposto a ação. Tanto que nas ações dúplices não se costuma falar em autor e réu, como se houvesse uma diferença substancial entre eles. Há uma indistinção entre eles.
	Há um texto sobre isso, em leituras complementares, só para distinguir as diversas acepções de ação dúplice. Está no material de apoio. 
	Pergunta de concurso do MP: “O que é ação dúplice e dê exemplos.” Vc vai discorrer sobre as duas acepções e vai dar exemplos de ação dúplice processual (procedimento sumário e dos Juizados Espaciais) e material (consignação em pagamento, ações meramente declaratórias, oferta de alimentos).
	
Ações de CONHECIMENTO, de EXECUÇÃO, CAUTELAR
	É uma distinção clássica, feita quanto ao tipo de tutela jurisdicional que se almeja. Qual é a tutela que eu almejo? Uma tutela de conhecimento, uma tutela de execução ou uma tutela cautelar? Prestem atenção porque vamos entrar em terreno um pouco pantanoso.
	Esses três tipos de tutela que, já inclusive vimos na aula de jurisdição, dizendo respeito a uma tutela de reconhecimento de direito (tutela de conhecimento), uma tutela de proteção de direito (tutela cautelar) e de efetivação de direitos (tutela de execução).
	Percebam: esses três tipos de tutela (proteção, conhecimento e execução) costumavam ser relacionados com os três tipos de ação. Se eu quero uma tutela de conhecimento, entro com ação de conhecimento, se é de execução, entro com execução e se é cautelar, eu entro com a cautelar. Havia uma relação de fidelidade entre o tipo de tutela e o tipo de ação. Era uma relação muito fiel. Eram três casais: ação de conhecimento – tutela de conhecimento; ação cautelar – tutela cautelar; ação de execução – tutela executiva. E foi o modo com que o nosso CPC se estruturou. Ele tem o livro do processo de conhecimento, o livro do processo de execução e o livro do processo cautelar. É assim, inclusive, que quase todos os cursos de processo do Brasil se estruturam. Os livros usam essa visão clássica.
	Acontece que essa sistematização está passando por um momento de revisão. Por que? Porque atualmente se diz que as ações, as demandas, não são mais puras. Eu não vou a juízo só para obter conhecimento, só para obter execução, só para obter segurança. Eu vou a juízo com diversos propósitos. Fala-se, então, que as ações devem ser sincréticas, ou seja, devem misturar os diversos tipos de tutela. Sincretismo é mistura. Quando vc diz que uma ação é sincrética, vc diz que ela serve para mais de um propósito. Ela não serve mais só para conhecer, só para executar ou só para acautelar. Ela serve para conhecer e executar, conhecer e acautelar, ela mistura os diversos tipos de tutela. Quando falamos em processo sincrético, se fala de um processo que sirva a mais de um desses propósitos. Não é um processo só cautelar, só de execução e nem só de conhecimento. Há uma tendência que eu diria irreversível ao sincretismo processual. Ou seja, a demandas que sirvam, ao mesmo tempo, para vários propósitos. Há uma tendência de que as ações que sirvam para apenas um propósito, acabem por ser exceções. A regra será você ir a juízo e, de uma vez só, resolver o que tiver que resolver. Sempre que vc se lembrar da Bahia você vai se lembrar disso. A Bahia é a terra do sincretismo. 
	Esse é um assunto velho que costuma ser cobrado. O que falei agora é a introdução. O ponto alto vai começar agora. 
	Ações DECLARATÓRIAS, ações Constitutivas, ações Condenatórias, Mandamentais e ações Executivas em Sentido Amplo
	Ações declaratórias, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas em sentido amplo. Agora vou fazer uma enorme digressão. É uma das maiores que faço nesse curso para que possamos entender essas cinco ações. Não vou falar especificamente sobre nenhuma delas.
Noções Introdutórias
	Há uma classificação da teoria dos direitos muito famosa e muito útil, que é a que divide os direitos em direitos a uma prestação e direitos potestativos (vocês vão usar isso a vida toda):
	Direitos a uma prestação 
Os direitos a uma prestação são aqueles direitos que consistem num poder de exigir o cumprimento de uma prestação. São direitos a uma conduta de outra pessoa. Direitos a que, outro sujeito realize uma determinada conduta, uma prestação. Percebam que uma prestação é sempre uma conduta. O direito a uma prestação é o direito a que o outro sujeito preste algo, realize alguma conduta. E a conduta, ou é fazer, ou é não fazer ou é dar. E o dar pode ser dar dinheiro ou dar coisa distinta de dinheiro. Não há nada além dessas quatro prestações. Só há quatro prestações possíveis: 
fazer, 
não fazer, 
dar dinheiro ou 
dar coisa que não é dinheiro. 
É claro que você pode classificar as obrigações de fazer (há vários tipos de fazer), mas isso para nós é irrelevante.
	Então, notem que no direito a uma prestação, temos o poder de exigir e a prestação. O poder de exigir, do lado ativo; e a prestação, do lado passivo. O poder de exigir se chama pretensão. Nós estudamos mais isso no direito civil, quando estudamos as obrigações, tema que trata do direito a uma prestação. 
	Não cometa o erro de achar que só as obrigações são direitos a uma prestação. Às vezes um prestação é qualquer direito, inclusive o real que signifique o poder de exigir de alguém o cumprimento de uma prestação. Embora vários direitos possam ser a prestação, as obrigações são entre os direitos à pretensão, aquelas mais famosas.
	Os direitos a uma prestação são os únicos direitos que podem ser lesados ou inadimplidos (tanto faz). Eu só posso falar de inadimplemento ou de lesão, a direitos a uma prestação porque inadimplir ou lesar é não cumprir a prestação. Se eu sou o sujeito que tem uma prestação devida e não cumpro a prestação, estou lesando o outro direito. Somente direitos que se relacionem a uma prestação podem ser lesados, podem ser inadimplidos. E o que é inadimplir? É não cumprir a prestação. 
	Todo mundo aqui já ouviu falar em prescrição. A prescrição é um fenômeno exclusivo dos direitos a uma prestação. Somente direitos a uma prestação se submetem à prescrição. Tanto é verdade que a prescrição conta-se do inadimplemento ou lesão. Assim como a prescrição atinge a pretensão. Direitos a uma prestação, lesão e inadimplemento e prescrição são conceitos correlatos. São conceitos intimamente relacionados. São fiéis. Só se relacionam entre si. 
	Esses direitos se efetivam materialmente, dependem de uma efetivação material. O que significa isso? Esses direitos só se efetivam se a conduta for realizada. É preciso que a conduta se realize. É preciso que o fazer seja feito, que a coisa seja entregue. Então, eles exigem uma conduta humana que o efetive. O direito penal divide os crimes de resultado naturalístico e crimes de mera conduta. Há crimes que exigem para a sua configuração, um resultado material. Há outros, não, que a mera conduta já é criminosa, independentemente do resultado naturalístico. Esses direitos à prestação exigem um resultado naturalístico. Eles só se efetivam com a conduta cumprida. Exigem uma mudançafísica no mundo. Como fazer ou não fazer ou com o dar. E essa efetivação material se dá pelo cumprimento ou pela execução. 
	Cumprimento – é o ato voluntário do devedor que cumpre a prestação. Quando o devedor cumpre a prestação, o direito se efetivou pelo cumprimento. A prestação foi cumprida voluntariamente. A regra é essa. A regra é que os direitos a uma prestação se efetivam pelo cumprimento da prestação pelo devedor. Agora, se ele não cumpre, você não pode dar um murro nele. Você tem que ir ao Judiciário, para buscar a execução.
	Execução – é o adimplemento forçado da prestação. Execução, onde quer que você se depare com ela, é um tema que diz respeito exclusivamente a uma prestação. Executar é cumprir forçadamente uma prestação. Sempre que você estudar execução, significa estudar o modo como uma prestação devida vai ser forçadamente cumprida. Só há necessidade de executar se não houve cumprimento espontâneo. 
	Execução, prescrição, adimplemento e direito a uma prestação – são assuntos correlatos. Eu só posso falar de execução, se eu falo de direito a uma prestação e, ao falar de execução, estou falando também de prescrição, por isso se diz que a execução prescreve. Quando falo de execução, tenho que falar de lesão ou inadimplemento. Entendam isso. Por isso é que quando vocês pegam o Código para estudar, vocês vão ver que a parte que fala de Execução no CPC é dividida entre execução de quantia, de entrega de coisa, de fazer e de não fazer. Você divide a execução de acordo com a prestação. E isso não é coincidência. Não é por outro motivo que quando você estuda a execução, você aprende que só é possível instalar a execução só se houver inadimplemento e inadimplemento é pressupostos da execução (o art. 580 fala do inadimplemento como pressuposto da execução). Não é por outro motivo que quando vocês estudam execução, vocês aprendem prescrição na execução (art. 617, do CPC, fala isso). Não é por acaso. 
	A execução, ou seja, o cumprimento forçado da prestação, pode ser 
fundada em um título judicial ou 
fundada em um título extrajudicial. 
Toda execução pressupõe um título. Eu preciso de um documento que me permita executar. E esse documento ou é uma decisão judicial ou é um ato extrajudicial, privado, em um negócio jurídico. A execução ainda pode 
realizar-se num processo autônomo ou 
como fase de um processo. 
Eu posso buscar a execução de uma prestação instaurando um processo só para isso (processo autônomo de execução) ou a execução pode se dar numa fase de um processo instaurado também para isso. Eu instauro um processo, não apenas para executar, mas para conhecer e executar. A execução vai ocorrer aí, mas como fase de um processo. Não é um processo só para isso, mas também para isso. Reparem na sutileza: existe o processo de execução que é um processo criado para executar e existe a fase de execução, que é a fase de um processo para executar. É execução do mesmo jeito, só que, em um caso, a execução é objeto único de um processo e, no outro, a fase de um processo. Daí a importância das ações sincréticas. A execução pode ser fase de um processo sincrético. Ou ela pode ser objeto de um processo só para isso. Mas não deixa de ser execução. E aí é que vocês se embananam completamente. Não pode, não pode cometer o erro imperdoável de achar que execução é igual a processo de execução. O processo de execução e a fase de execução são modos pelos quais a execução se estrutura: Há execução em processo autônomo e há execução como fase de um processo sincrético. Sempre há processo de execução. Ou seja, a execução sempre se dá em um processo. Sempre! Agora, esse processo pode ser um processo sincrético ou não sincrético. Existe processo autônomo de execução e existe processo sincrético de execução. Não confundam execução com processo de execução. Há execução sem processo autônomo de execução. 
	A execução ainda pode se dividir em 
execução direta ou 
execução indireta. 
	Uma execução é direta quando o Estado-juiz cumpre a prestação pelo devedor. O Estado faz o que o devedor deveria ter feito. Exemplo: O sujeito tinha que demolir um muro e não demoliu. O Estado vai lá e derruba o muro para ele. Passa o trator por cima. Outro exemplo: o devedor deveria entregar dinheiro para o credor. Não entregou. O Estado vai lá, pega um patrimônio dele, vende o bem e entrega o dinheiro ao credor. Faz o que o devedor deveria ter feito. A execução direta é mais violenta. Você consegue ver o Estado executando sujeito, carregando o carro do cara, destruindo um imóvel, tirando o sujeito do imóvel. É execução visível, mais violenta e mais cara porque ela necessita de todo aparato judicial para ser efetivada. Precisa de polícia, oficial de justiça, depositário. É a execução tradicional. Tanto que há autores que entendem que execução é só direta, entendem que executar é só fazer isso aí. 
Na execução indireta, o Estado força o devedor a cumprir a prestação. O Estado se vale de técnicas para coagir psicologicamente o devedor a cumprir a obrigação. Na execução indireta objetivo é convencer o devedor de que é melhor ele cumprir. Para isso, você pressiona a mente do devedor com a força do Estado. É o que acontece, por exemplo, quando o Estado diz: “cumpra sob pena de multa”. O Estado atemoriza o sujeito, fazendo com que ele próprio cumpra a prestação. Também há a execução indireta pelo incentivo, pela recompensa. O Estado pode forçar o devedor a cumprir a prestação pelo medo, atemorizando o devedor (cumpra sob pena de multa, sob pena de prisão), mas também existe pela recompensa : Faça que eu lhe dou um desconto. Na execução, se o executado paga, o valor dos honorários cai pela metade. Quando a execução indireta é pela recompensa, fala-se em sanção premial. Essa recompensa é uma sanção premial. Esse desconto nos honorários no caso de pagamento na execução é exemplo disso. A execução indireta é mais barata e ela é invisível porque recai sobre a mente do devedor. É uma pressão sobre a mente do devedor. E ela está passando por um momento de prestígio. Prestigia-se hoje muito a execução indireta. Pela facilidade, pelo custo. 
	Executar é fazer cumprir uma prestação de maneira direta ou indireta, num processo autônomo ou como fase de um processo sincrético, fundado em título judicial ou extrajudicial, sempre uma prestação que se relaciona a uma pretensão que pode prescrever. Prazo prescricional esse que começa a contar do inadimplemento. São assuntos absolutamente correlatos. O problema é saber o que isso tem a ver com ações condenatórias, mandamentais, declaratórias, constitutivas e executivas. É esse gancho que a gente vai fazer.
(Fim da 1ª parte da aula)
	Ação de PRESTAÇÃO 
	Quando eu vou a juízo e peço o reconhecimento de um direito a uma prestação, eu me valho de uma ação de prestação. Quando eu falar em ação de prestação vocês já sabem que eu estou me referindo à demanda que busca o reconhecimento de um direito a uma prestação. Talvez vocês nunca tenham ouvido falar em ação de prestação, e talvez ela nunca seja cobrada, mas ela é útil para vocês entenderem as outras, por isso eu sempre menciono.
	Ação de prestação é toda e ação, qualquer que seja ela, que veicula a afirmação de um direito a uma prestação. Se eu vou ao Judiciário e pretendo o reconhecimento de um direito a uma prestação, isso equivale a uma ação de prestação. Prestem atenção: vou fazer um histórico das ações de prestação:
Cronologia das ações de prestação:
1973 – Sai o CPC. As ações de prestação, em 1973, em regra, não eram sincréticas. A regra, em 1973, era de que as ações de prestação não fossem sincréticas. Eu ia ao Judiciário pedir o reconhecimento ao direito a uma prestação e só isso. Eu não obteria a execução desse direito. Se eu quisesse executar, eu tinha que voltar a juízo depois e promover uma ação de execução. Em 1973 a rega era a seguinte: eu tinha que entrar com uma ação de conhecimento (para reconhecer meu direito à prestação) e depois, voltar a juízo e propor uma ação de execução desse direito a uma prestação. Cogniçãoe execução estavam separadas e as ações de prestação eram ações, em regra, não sincréticas. Excepcionalmente, havia previsão de algumas ações de prestação sincréticas (ações que serviam, tanto para cientificar, quanto para efetivar). Era algo muito excepcional. A regra era a pureza, a mistura era excepcional. Exemplos de ações de prestação sincréticas nesta época: ações possessórias, mandado de segurança. As ações sincréticas estavam restritas aos procedimentos especiais. Procedimentos especiais podiam ser sincréticos. O procedimento, nessa época, era especial exatamente por ser sincrético. Só aqueles tipos de ações poderiam ser sincréticas. Esse era o panorama em 1973. 
Nesse panorama histórico, a doutrina dizia o seguinte: Quando a ação de prestação não era sincrética, se chamava de ação condenatória. Ação condenatória, nesse período histórico, era ação relacionada ao direito a alguma prestação que lhe dava um título executivo para que você pudesse executar depois. As ações condenatórias eram puras, eram de puro conhecimento. E era a regra. As ações sincréticas, que eram excepcionais, eram chamadas de mandamentais ou executivas em sentido amplo. Se alguém lhes perguntar qual era a semelhança nessa época entre condenatória, mandamental e executiva, a resposta é: as três eram ações de prestação. Só que as condenatórias eram puras. Não eram sincréticas. E as mandamentais e executivas eram sincréticas. E como eu distingo mandamental e executiva? As mandamentais são sincréticas e se efetivam por execução indireta. Por isso é mandamental. È uma ordem: faça, cumpra! O objetivo é que o devedor cumpra a obrigação. E a executiva em sentido amplo é sincrética e se efetiva por execução direta. A distinção entre mandamental e executiva é a distinção entre execução direta da indireta. A distinção entre elas é pelo tipo de execução, se direta ou indireta. Isso as pessoas faziam em 1973.
Havia uma parcela da doutrina que se recusava a distinguir as ações de prestação dessas três espécies que eu mencionei. Eles diziam que tudo deveria ser chamado de ação condenatória. Deveria ser só uma designação: ação condenatória porque está tudo relacionado a uma prestação (fazer, não fazer ou dar) e não há porque classificar demais, dar muitos nomes para uma ação que é substancialmente a mesma. Chama tudo de condenatória e é a melhor coisa. Essa discussão foi responsável por litros e litros de tinta impressa para discutir a distinção entre condenatória, mandamental e executiva. Era uma questão de honra! As pessoas criaram suas carreiras acadêmicas por conta dessa discussão. O tempo passa, chegamos em 1994.
1994 – O que aconteceu aqui? Em 1994, ouve uma grande reforma da legislação processual que fez o seguinte: todas, sem exceção, as ações de prestação de fazer ou de não fazer viraram sincréticas. E aí surgiu o problema. Se agora todas as ações de fazer e de não fazer viraram sincréticas, começa a surgir uma briga na doutrina: 
Havia os que diziam que não havia mais ação condenatória de fazer e de não fazer. E por que não se poderia falar mais em ação condenatória de fazer e de não fazer? Porque se era sincrética não poderia ser mais condenatória. Como toda ação de fazer e de não fazer passou a ser sincrética, não se poderia mais falar em ação condenatória. Para essa corrente condenatória era para pagar quantia ou entrega de coisa. 
Aquela galera que já não aceitava a distinção em 1973 continuou dizendo: ta vendo porque não tem por que distinguir? Tudo é uma coisa só! Tudo é ação condenatória. Se vai se efetivar no mesmo processo ou em outro processo, isso é irrelevante. Então, a outra parcela da doutrina dizia: Tudo é uma coisa só! Não tem razão para distinguir. Tudo é para fazer, não fazer ou dar. Essa galera, então, mantinha-se fiel à idéia de que tinha que chamar tudo de condenatória. 
2002 – Em 2002 houve uma grande reforma da legislação processual. E todas as ações para entrega de coisa,viraram sincréticas. E a briga começou: uns dizendo que não havia mais ação condenatória para entrega de coisa (já que agora é tudo sincrético) e os chatos que diziam, “ta vendo? Tudo é igual, tudo é ação condenatória, não tem porque distinguir”. Esse período eu peguei, já dando aula. E era um horror, porque o aluno tinha que fica decorando assim: “então condenatória é ação para pagar quantia. Se for para entregar coisa ou fazer, não é condenatória.” 
2005 – Adivinha o que aconteceu aqui? Sincretizaram as ações de prestação por quantia. E aí, meus caros, jogaram uma bomba atômica no meio dessas discussões que já se travavam há anos. Se agora, até as ações de prestação pecuniária já são sincréticas, não falta nada. Todas as ações de prestações são sincréticas, todas a partir de 2005. E se é assim, como é que eu vou fazer aquela distinção que se fazia em 1973 se agora todas são sincréticas? É um problemaço pra quem fez da sua vida, para quem colocou a razão de ser da sua existência, justificar as mandamentais, condenatórias e executivas porque aí o chão desapareceu. São três anos de mudança. Ainda não há paz sobre o assunto. Hoje, vocês vão ter que anotar o panorama hoje, que é um pouco mais complexo porque vocês estão no meio do problema. Talvez daqui a dez anos não seja mais.
HOJE – Há quem simplesmente diga que não existe mais ação condenatória (Ada Pelegrini diz isso). A proposta de Ada é abolir o verbo “condenar” da prática forense cível e dos livros de direito processual civil. Ada entende que ainda sobrevivem as mandamentais e as executivas em sentido amplo (ações sincréticas de prestação, que são todas) e as constitutivas e declaratórias (que não estudamos ainda). Ada adota aquilo que já se chama hoje, inclusive já está no programa de alguns concursos, de classificação quaternária (são quatro e não tem mais condenatória). Esse posicionamento é ultraisolado, mas não é qualquer pessoa que está dizendo isso. É Ada. E porque ela diz, outras pessoas também dizem, obviamente. Se fosse um iniciante falando isso, ninguém considera, mas como é Ada, a maior processualista brasileira viva e a mais conhecida no mundo, em alguns concursos isso aparece. 
Há, contudo, ainda aqueles que seguem uma classificação quinária. Por que? Porque ainda entendem útil e correto distinguir entre mandamental, executiva, condenatória, constitutiva e declaratória. Neste caso, permanecem as três ações de prestação e mais as constitutivas e declaratórias. A classificação quinária ainda é útil e ainda é defendida principalmente pelos autores gaúchos. É uma marca do pensamento gaúcho, desde 1973, defender isso. Inclusive, é uma forma de os gaúchos se distinguirem dos paulistanos na briga teórica brasileira. É uma marca do pensamento dos caras. Eles não iam abrir mão disso e não abriram. Há vários textos, já depois de 2005, reafirmando essa distinção. Hoje, eles relacionam o tipo de ação ao tipo de prestação. Olha o que eles dizem: que ação mandamental é ação de prestação de fazer ou não fazer. Ação executiva em sentido amplo é para entrega de coisa. E ação condenatória é para pagar quantia. Com todo respeito que tenho pelos queridos e fraternais gaúchos em matéria de processo, não dá. Eu já fiz essa pergunta para eles várias vezes: “Então, quer dizer que ação executiva lato sensu é para entrega de coisa? Vamos lá!” O juiz diz assim: “Sujeito, devolva a coisa sob pena de multa.” Isso é executiva lato sensu? Aí não, diriam eles. Porque aí há uma ordem de entrega da coisa. Se é ordem de entrega da coisa não pode ser executiva lato sensu que, lembrem-se, está relacionada à execução direta. Executiva lato sensu é execução direta. Mandamental é execução indireta. O que está na cabeça deles? Que fazer e não fazer é sempre por execução indireta. Entrega de coisa é sempre por execução direta. Eu pergunto. Por que? Por que sempre assim? Não há como estabelecer a priori. O juiz pode, tranquilamente, determinar a entrega de uma coisa sob pena de multa. Tranquilamente! Não há ninguém que diga que não possa. E o problema é com as condenatórias, porque ou a execução édireta ou é indireta. Por que é a condenatória? É só porque entrega a quantia e aí muda de nome? Ou vai entregar a quantia penhorando e vendendo um bem do sujeito para pegar o dinheiro (execução direta) ou vai executar a quantia mandando o cara pagar, “pague sob pena de ser preso” (execução indireta), ou “pague sob pena de penhora” (execução direta). Não há uma terceira possibilidade. Ou a execução é direta ou ela é indireta. É arbitrário demais você relacionar o nome com o tipo de prestação, só para manter as três. É uma arbitrariedade. Então, não se justifica. Estou dizendo isso publicamente. Essa concepção não explica a sentença para pagar alimentos. Ela seria condenatória com ordem para pagar quantia? 
Por isso, me parece que a corrente mais corrente é a concepção trinária. Por que trinária? Porque nós temos as declaratórias, as constitutivas e as condenatórias. Toda ação de prestação é condenatória! Já que agora é tudo sincrético não tem razão para distinguir. É importante fazer esse registro para que vocês não me acusem de incoerente. Há seis anos atrás, quando eu dava essa mesma aula eu defendia a classificação quinária. Isso porque o sistema brasileiro permitia que você visualizasse essas diversas modalidades. Então, era útil porque era diferente (havia ações que eram sincréticas, outras que não eram sincréticas). Mas agora, não tem diferença. Agora me parece uma forçação de barra desnecessária. Então, hoje, a ação de prestação, seja qual for a prestação envolvida, é condenatória. Agora, se é uma ação condenatória que vai se efetivar por execução direta ou indireta, isso é uma outra coisa. Se vai ser efetivada no mesmo processo ou não, isso é outro problema, mas tudo é ação condenatória. 
CONCLUSÃO – Então vejam o percurso histórico disso: Em 1973, condenatória era um tipo de ação de prestação. Hoje, condenatória é sinônimo de ação de prestação. Se eu vou ao Judiciário obter o reconhecimento de uma ação de prestação, eu me valho de uma ação condenatória. É sinônimo. Aí você vem me perguntar: “Fredie, o que é uma ação mandamental hoje?”, “O que é uma ação executiva lato sensu hoje?” Uma ação mandamental hoje é uma ação condenatória por execução indireta. O que é uma ação executiva lato sensu hoje? É uma ação condenatória por execução direta. Agora, vejam bem, vocês têm que saber, pra resumir, as três concepções: a quinária, a quaternária e a trinária. A trinária hoje é maioria. Dizer que a trinária é maioria, não significa dizer que as pessoas não acreditam na mandamental. Só que mandamental como espécie de condenatória e não mais como era, um tipo autônomo. Então, a trinária é maioria. A quaternária é o pensamento de Ada e a quinária, marcadamente no Rio Grande do Sul. Anotem o nome do gaúcho expoente dessa concepção (só para citar na hora da prova): Carlos Alberto Alvaro (sem acento) de Oliveira.
	Agora sabemos o que são ações de prestação: condenatórias, mandamentais, executivas e todo seu percurso histórico. Agora vamos começar a segunda parte da aula. Lá no início eu falei que os direitos podem ser divididos entre direitos a uma prestação e direitos potestativos.
	
	Direitos POTESTATIVOS
	
	Essa é uma categoria de difícil compreensão, mas muito útil.
	O que é um direito potestativo? É um direito a
Criar situações jurídicas
Alterar situações jurídicas ou
Extinguir situações jurídicas.
	Situações jurídicas existem no mundo jurídico. E não no mundo dos fatos visíveis (camisa vermelha, sapato preto). O mundo jurídico é invisível. Então, meu direito potestativo altera o mundo jurídico e não o mundo da vida. No mundo jurídico, situações jurídicas são extintas, criadas ou alteradas por um direito potestativo. Por isso, os direitos potestativos não se relacionam a nenhuma conduta do sujeito passivo. Ora, se não há conduta do sujeito passivo devida, não há inadimplemento. Não posso falar de prestação devida, nem posso falar de inadimplemento. Se não há prestação devida pelo sujeito passivo, não há que se falar em inadimplemento. E se não há prestação, e se não há inadimplemento, também não há prescrição. Eu não posso falar de prescrição de direitos potestativos. É um erro crasso. Direitos potestativos decaem, caducam. Decadência, caducidade se referem aos direitos potestativos, prescrição não. Direito potestativo não se lesa porque não há conduta devida. Direito potestativo altera o mundo jurídico e porque altera o mundo jurídico, não há necessidade de efetivação material.
	Vou dar um exemplo. Você já parou para pensar por que essas pessoas usam aliança no dedo? Pensem nisso juridicamente. Vou fazer uma pergunta: “eu sou casado? Sou? Como é que vocês sabem isso? A aliança significa que sou casado? Então, eu tiro a aliança e não sou mais casado?” Se usa aliança para que as pessoas possam presumir que você é casado porque se olhar para você não tem como saber se você é casado. Sendo casado ou não é uma situação jurídica e por ser uma situação jurídica, ela é invisível. E por ser invisível, o homem civilizado, monogâmico, entendeu apontar um sinal externo para que as pessoas que não conhecem a vida jurídica daquele sujeito possam identificar alguém que está ali, pelo menos teoricamente, “fora do comércio”. 
	Pense na ação de interdição. O sujeito está demente. Você vai interditar o sujeito. Quando o juiz diz: “a partir de agora você está interditado.” O juiz disse isso, mas fisicamente, o cara não sofreu nenhuma alteração. Eu posso ser interditado e vocês não sabem porque a interdição altera minha situação jurídica que é invisível. 
	Casamento no fórum. O juiz: “a partir de agora, está tudo mundo casado.” Depois disso você não vê nenhuma mudança física nas pessoas, mas jurídica há. É que o direito potestativo altera o mundo jurídico. 
Por isso, não há execução de direito potestativo. Não há o que executar. O direito potestativo se efetiva pela palavra do juiz. Basta ele dizer: anulo, rescindo, dissolvo. A palavra. O mero verbo efetiva o direito potestativo. Não há necessidade de atos materiais para isso.
E o que isso tem a ver com nossa aula? Uma demanda pode veicular um direito potestativo. Quando a ação veicula um direito potestativo, nós estamos diante de uma ação constitutiva. O que é uma ação constitutiva? Isso está em qualquer livro de processo: é aquela que visa à criação, alteração ou extinção de situações jurídicas. O problema é que os livros dizem que é isso, mas não explicam a relação entre a constitutiva e os direitos potestativos porque se o livro fizer essa junção, tudo o que você aprende sobre direito potestativo você traz pra cá. Por que uma ação constitutiva criam, extinguem ou alteram? Porque o direito potestativo cria, extingue ou altera situações jurídicas. 
Concurso, verdadeiro ou falso: “As ações constitutivas se submetem a prazo decadencial.” Verdadeiro. Ora, se a ação constitutiva veicula direitos potestativos e direitos potestativos estão relacionados à decadência, a decadência é prazo das ações constitutivas. Enquanto a prescrição é prazo das ações condenatórias, a decadência é prazo das ações constitutivas. Mas por que? Porque o processualista disse isso? Não. As coisas têm sentido e se relacionam. 
Agora, cuidado. Eu não disse que toda ação constitutiva se submete a prazo. Eu disse que se houver prazo para a ação constitutiva, ele é decadencial. Agora, nem toda ação constitutiva tem prazo. Eu dou um exemplo de uma ação constitutiva que não tem prazo e assusta se tivesse prazo, que é a ação de separação judicial. É uma ação constitutiva. E não em prazo. Imagine se o prazo para separar fosse, no máximo, de 20 anos de casado? Então, não tem prazo, mas se tiver, é decadencial.
Outra frase: certo ou errado: “Sentença constitutiva não é título executivo.” Aparece demais em concurso isso. Verdadeiro. Se a sentença constitutiva relaciona-se com direitos potestativos, não há execução, isso porque não há execução de direito potestativo. Não há o que executar. Se não há prestação devida, vai executar o quê? Sentença constitutiva não é título executivoporque não há o que executar, já que executar é cumprir uma prestação.
Exemplos de ações constitutivas: ação de anulação de negócio, ação de divórcio, ação de separação, ação de resolução do contrato, ação rescisória de sentença, ação de exclusão de herdeiro, etc. 
É muito comum a afirmação de que as ações constitutivas não têm efeitos retroativos. Não tem eficácia retroativa, só produzem efeitos ex nunc, para frente. É importanet essa observação porque é muito freqüente, mas não é 100% correta. Eu diria que é a regra. Realmente, a regra é de que as ações constitutivas só produzam efeitos para frente. Mas há ações constitutivas que têm efeitos retroativos e isso não desnatura a ação. Não é porque produz efeitos retroativos que deixa de ser constitutiva. Há ações constitutivas que têm eficácia retroativa e não é por isso que perdem a natureza de ação constitutiva. E vou dar o exemplo mais famoso, que é o do art. 182, do Código Civil.
“Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.”
	Ora, a ação anulatória é constitutiva que tem efeitos retroativos. As partes têm que restituir ao estado que estavam. Esse é um caso clássico de ação constitutiva com efeito retroativos. Para ser constitutiva, tem que relacionar-se a direito potestativo.
	Para terminar as ações constitutivas, vamos ver cinco polêmicas relativas a cinco ações:
	Ação de interdição – É uma ação constitutiva. Para mim isso é muito claro. O objetivo dessa ação é tirar a capacidade do sujeito, tornando-o incapaz. Portanto, ela é constitutiva. Ele perde a situação jurídica que tinha. O problema é que vocês pegam os livros de civil que teimam em dizer que ação de interdição é declaratória. Isso muitos civilistas dizem: é uma ação para declarar a demência. Ação para declarara demência. Você vai pedir para que um juiz diga que o sujeito é demente? Ele não pode dizer isso. Se você quer essa constatação, você procure um médico. É o médico que diz se o sujeito é ou não demente. O que você pede ao juiz? “Eu quero que você, reconhecendo a demência, interdite o meu pai”. O juiz vai partir do fato demência para interditar o sujeito. A ação de interdição não é para declarar a insanidade mental. É uma ação para, tendo em vista a insanidade mental, tirar a capacidade do cara para que ele não pratique atos jurídicos. Isso é muito claro. Não há processualista que não diga isso. Só os civilistas que querem distinguir ação constitutiva de ação declaratória dessa maneira. Eu já vi examinador em prova de civil colocando isso como certo (mas para mim é um erro bem claro).
	Ação de falência – Polêmica parecida com a primeira. Você vai para os comercialistas, eles dizem: a ação de falência é declaratória. Os comercialistas, quase todos, dizem isso. Então, você pega os livros de comercial e vê: “o juiz declara a falência do sujeito.” Ora, isso também está errado. Na falência, você não pede ao juiz que declare que o sujeito não paga ninguém. Não é esse o pedido. Não é isso que você quer. Você vai ao judiciário e diz: “Já que ele não paga ninguém, quebre o cara, tire ele da administração do seu negócio.” Em Inglês, falência significa ‘ruptura da banca’. “Sai daí que agora quem vai administrar isso é a gente para poder pagar os credores.” No século XIX a lei de falências chamava-se lei de quebras. Como é que pode ser declaratório? Você vai quebrar o sujeito! A ação de falência é escandalosamente desconstitutiva. Tem que conhecer a polêmica. E nem sempre passa em concurso quem responde o certo. Você sabe que está errado e responde errado para passar. Por isso, se cair em alternativas que a sentença de falência é declaratória, e não tiver alternativa melhor, é essa que você terá que marcar.
	Ação de nulidade do negócio – Linhas atrás eu disse que ação de anulação é constitutiva. Mas isso não tem dúvida. Agora, a ação de nulidade tem uma briga danada. Isso porque os civilistas costumam dizer que as ações de nulidade são declaratórias. Dizem: anulabilidade se decreta, nulidade se declara. Em vários livros de direito civil tem isso: anulabilidade (decretada) e nulidade (declarada). Para mim, está completamente errado, mas muita gente diz isso. Por que está errado? O que é uma ação de nulidade? É uma ação em que se vai reconhecer um grave defeito, o mais grave de todos e vai desfazer o ato. Uma ação de nulidade é ação de desfazimento do ato. O ato é desfeito. E por quê? Porque tem um grave defeito. Se estou desfazendo, não estou declarando. É uma desconstitutiva que não tem prazo. O que é invalidar? Não é tirar os efeitos, mas desfazer o ato porque ele em um defeito. Invalidar é desfazer um ato porque ele tem um defeito. É destruir em razão do defeito. Revogar, por exemplo, é destruir em razão da vontade. Anular é destruir por um defeito. Resolver é destruir pelo inadimplemento. 
	ADI – Para os constitucionalistas de um modo geral, a ADI é declaratória. Vai declarar a inconstitucionalidade. Inclusive há quem diga que o ‘d’ de ADI é ‘declaratória’. Inclusive eu já vi professor dizendo isso. O ‘d’ aí não é de declaratória. O d é de “direta”. Mas, tudo bem, se espalhou aí o entendimento que é francamente majoritário de que ADI é declaratória de inconstitucionalidade. Para mim isso está errado. Eu me filio à parcela minoritária da doutrina que entende a ADI como constitutiva porque é ação para invalidar a lei, tira-la do sistema jurídico. Nos últimos 6 anos, o STF se transformou. Reviu o seu papel e o controle de constitucionalidade se transformou. Eu quero ver como os processualistas vão explicar uma ADI, que é declaratória, mas que só vai ser inconstitucional daqui para frente. Mas não é inconstitucional desde lá de trás? Quando o STF diz que é inconstitucional, ele está sancionando, destruindo a lei e o STF vai dizer: só destruo daqui pra frente. O que já foi feito com base nela, permanece. Como conciliar a visão declaratória da ADI com a possibilidade de o Supremo modular os seus efeitos no reconhecimento da inconstitucionalidade? Como? Não consigo ver como, mas, reconheço. A ADI é uma ação declaratória para a maioria da doutrina é declaratória, ao passo que para outros (e eu me filio a esses outros), é constitutiva ou constitutiva negativa (desconstitutiva).
	Investigação de paternidade – Última polêmica. É aquela que não tem um pensamento majoritário. É um problema novo. Todo mundo visualiza a investigação de paternidade como ação declaratória, para declarar que o sujeito é pai. E, de fato, a visão mais tradicional é essa. Só que o que tem acontecido nos últimos vinte anos? A idéia de paternidade mudou. Agora, paternidade deixa de ser um vinculo essencialmente biológico e passa a ser umvínculo jurídico. Entre pai e filho há um vínculo jurídico. Pode ser emocional, afetivo, mas é jurídico (o sujeito tem uma série de deveres em relação ao guri). E essa ‘desbiologização das relações de família’ (expressão que não é minha e é um clássico) fez com que as relações fossem alteradas. Há hoje, quem defenda que a investigação de paternidade é, na verdade, uma ação constitutiva. Para atribuir paternidade. Para tornar o sujeito pai. A ação de investigação de paternidade seria uma ação para atribuir paternidade. As outras quatro são polêmicas centenárias. Essa, não. É algo novo, muito incipiente. Tradicionalmente, se diz que é declaratória e não havia discussão sobre isso. Só que agora, com a transformação do vínculo de paternidade, já se começa a perceber que a investigação de paternidade é uma ação que torna o sujeito pai. Dar a ele um vínculo jurídico que ele não tinha antes.
	 
	Veremos as ações meramente declaratórias que veremos na próxima aula. Essa aula é indispensável para a compreensão da execução. Quando forem estudar execução, voltem a ela.
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