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Sobrevivência das culturas em Skinner - um diálogo com o materialismo cultural de Harris

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119
Psicologia: Teoria e Pesquisa 
Jan-Mar, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
Sobrevivência das Culturas em Skinner: 
Um Diálogo com o Materialismo Cultural de Harris1
Camila Muchon de Melo2
Júlio César Coelho de Rose
Universidade Federal de São Carlos
RESUMO - Skinner estabeleceu a cultura como o terceiro nível de seleção pelas consequências no qual práticas são selecionadas 
de acordo com seu papel na sobrevivência da cultura. Assim, o objetivo deste estudo é apontar que o conceito de sobrevivência 
da cultura pode não ser suficiente para explicar práticas que não estabelecem uma relação direta com a sobrevivência. O 
percurso crítico foi estabelecido por meio de um diálogo com o materialismo cultural de Marvin Harris. Utilizou-se da análise 
conceitual dos textos, selecionados pela temática, dos dois autores. Conclui-se que sobrevivência da cultura como determinante 
da seleção de práticas culturais é problemática e de difícil sustentação. Sugeriu-se que a análise comportamental da cultura 
poderia avançar com as contribuições da antropologia. 
Palavras-chave: sobrevivência da cultura, behaviorismo radical, materialismo cultural, práticas culturais, B. F. Skinner, 
Marvin Harris. 
Skinner’s Survival Concept of Cultures:
A Dialogue with Harris’ Cultural Materialism
ABSTRACT - Skinner has established culture as a third selection level through which practices are selected according to their 
role in culture survival. Thus, this study aims to point out that the concept of culture survival may not be sufficient to explain 
practices that do not establish a direct relation with survival. A critical process was established through a dialogue with Marvin 
Harris’ cultural materialism. The conceptual analysis of the texts was used, selected by thematic. It was concluded that culture 
survival as a determinant of selection of practices is problematic and difficult to sustain. It is suggested that the behavioral 
analysis of culture could advance with contributions from anthropology.
Keywords: Culture survival, radical behaviorism, cultural materialism, culture practices, B. F. Skinner, Marvin Harris. 
1 A primeira autora contou com bolsa de pós-doutorado da FAPESP 
(Processo 2008/56801-3). O segundo autor é bolsista de produtividade 
em pesquisa do CNPq. Os autores são filiados ao Instituto Nacional 
de Ciência e Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino 
INCT-ECCE (Processos CNPq 573972/2008-7 e FAPESP (08/57705-8), 
que apoiou a preparação do manuscrito. Agradecemos o apoio da 
Cordenadora do INCT-ECCE, Professora Deisy de Souza.
2 Endereço para correspondência: Departamento de Psicologia, La-
boratório de Estudos do Comportamento Humano, Universidade 
Federal de São Carlos, Caixa Postal 676, 13565-905, São Carlos, SP; 
E-mail: camuchon@hotmail.com
B. F. Skinner (1938/1966) estabeleceu como objeto de 
estudo da ciência por ele proposta o comportamento. Em 
seus aspectos gerais, o conceito de comportamento não se 
refere apenas à resposta ou à ação de um organismo, ele se 
refere a uma relação. É a relação entre o organismo e seu 
ambiente que o constitui. O comportamento entendido dessa 
forma sugere também que ele pode ser conceituado como um 
processo, pois não é algo estático e imutável. Segundo Lopes 
(2008), uma vez que é parte do comportamento estar em cons-
tante mudança cabe incluir na definição de comportamento 
os processos comportamentais, assim, o comportamento na 
obra de Skinner pode também ser definido como um processo. 
Como salienta Skinner (1953/1965, p. 15) “O comportamento 
é uma matéria difícil, não porque seja inacessível, mas por-
que é extremamente complexo. Desde que é um processo, e 
não uma coisa, não pode ser facilmente imobilizado para a 
observação. É mutável, fluído e evanescente (...)”.
Além disso, o comportamento de um organismo é pro-
duto de interações que ocorrem no desenvolvimento de sua 
espécie, no tempo de sua vida e, no caso da espécie humana, 
é produto também das interações que ocorrem na cultura 
da qual são membros (Skinner, 1953/1965; 1966/1969; 
1974/1976; 1981). Dito isto, há de se caracterizar também 
que para o behaviorismo radical de Skinner (1953/1965; 
1974/1976), o comportamento é um processo ordenado, su-
jeito a leis naturais, ou seja, o comportamento é um processo 
determinado. Neste caso, a ciência do comportamento tem o 
papel de esclarecer suas uniformidades e torná-las explícitas. 
Skinner não rejeitou na psicologia e em outras disciplinas 
das ciências humanas suas descobertas factuais, mas foi críti-
co veemente das explicações mentalistas predominantes em 
todas elas (e.g. Skinner, 1950; 1977). Além disso, defendeu 
explicitamente, em certo momento de sua obra, que a Análise 
do Comportamento era a ciência que poderia “agir para salvar 
o mundo” e, neste sentido, solucionar os problemas humanos 
mais amplos (Skinner, 1971/2002; 1987). O behaviorismo 
radical seria, de acordo com ele, um arcabouço teórico mais 
produtivo, que proveria uma fundamentação científica sólida 
para as outras ciências do homem. A visão skinneriana parece 
ter tido pouco impacto nas ciências humanas, sendo em geral 
rejeitada como reducionista e simplista (Skinner, 1974/1976). 
120 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
CM Melo & JCC Rose
Poderíamos esperar, em particular, que a aplicação, feita por 
Skinner, do modelo de “seleção pelas consequências” às 
práticas culturais, assim como a importância atribuída por 
ele à cultura na determinação do comportamento humano, 
tivesse uma ressonância na Antropologia. Porém, entende-
mos que prevalece nessa disciplina uma visão distorcida 
da concepção skinneriana que praticamente elimina a sua 
influência. Uma exceção, que será tratada no presente artigo, 
é o materialismo cultural, do antropólogo norte-americano 
Marvin Harris. Contudo, não deixa de ser surpreendente, a 
pouca atenção que os estudiosos skinnerianos interessados 
em processos sociais e culturais têm dado às contribuições 
das ciências sociais, o que sugere a falta de diálogo entre o 
behaviorismo radical e outras teorias antropológicas.
Com poucas exceções, alguns esforços de diálogos ou 
embasamentos em teorias de disciplinas como a filosofia, 
a antropologia e a biologia têm sido escassos na literatura 
da Análise do Comportamento. Entretanto, quando esses 
esforços ocorrem parecem produzir um embasamento teóri-
co que possibilita ao behaviorismo radical discutir questões 
ainda controversas sobre os fenômenos humanos (exemplos 
desse tipo podem ser vistos nos trabalhos de: Dittrich, 2008; 
Endemann & Tourinho, 2007; Guerin, 1992; Malagodi, 1986; 
Vargas, 1985). Partindo-se de um modelo causal que concebe 
o comportamento humano como fruto de três histórias de 
variação e seleção, interlocuções com disciplinas que têm 
como seu objeto de estudo a evolução das espécies ou a 
evolução das culturas parecem ser imprescindíveis quando 
utilizamos o arcabouço teórico do behaviorismo de Skinner. 
Uma vez que, o diálogo com tais disciplinas pode favore-
cer a compreensão dos processos de variação e seleção na 
filogênese e na cultura, determinantes fundamentais para o 
comportamento de um indivíduo.
Alguns trabalhos também têm evidenciado a impor-
tância de debates sobre a teoria skinneriana, bem como da 
metodologia de pesquisa e da tecnologia comportamental 
empregada quando analistas do comportamento têm como 
seu objeto de investigação os fenômenos comportamentais 
que ocorrem na cultura (Andery, Micheleto & Sério 2005; 
Biglan, 1995; Guerin, 1992, 1994; Lamal, 1991; Mattaini, 
1996; Todorov & Moreira, 2004). Trabalhos como os de 
Glenn e colaboradores (Glenn, 1986; 1988; Glenn & Mallot 
2004; Mallot & Glenn, 2006) têm sugerido novos conceitos 
para a análise da cultura baseando-se na teoria behaviorista 
radical. Esses trabalhos visam, entre outros objetivos,cobrir 
possíveis lacunas teóricas presentes na proposta skinneriana 
de análise da cultura.
Nesse contexto de investigação, estudos experimentais 
também têm emergido com a possibilidade de apresentar 
uma importante ferramenta de investigação para embasar 
a análise comportamental da cultura. Esses estudos têm 
utilizado análogos de fenômenos comportamentais que 
ocorrem em ambientes sociais. Dentre outras questões, tais 
trabalhos tentam responder como as consequências dos 
operantes considerados “sociais” retroagem sobre o próprio 
comportamento do indivíduo e, como as consequências ditas 
“externas” ao grupo, ou seja, consequências que retroagem 
apenas ao comportamento em grupo e não individualmente, 
funcionam.
Assim, um estudo pioneiro na manipulação de possíveis 
análogos de consequências culturais foi conduzido por Wi-
ggins (1969) com o objetivo de verificar se consequências 
externas ao grupo poderiam modificar as relações entre os 
componentes do grupo sem que para isso fosse necessária 
a manipulação de consequências dos operantes individuais 
e, além disso, responder à pergunta de quais consequências 
(internas ou externas ao grupo) exerceriam maior controle 
quando essas se apresentassem de maneiras opostas. Wig-
gins (1969) utilizou um jogo de matriz para responder sua 
pergunta. Os resultados do estudo sugeriram que manipular 
uma consequência “externa ao grupo” e contingente ao tipo 
de distribuição dos recursos ganhos no jogo (igual ou desi-
gual), sem que essa consequência estivesse relacionada ao 
comportamento individual de cada participante, possibilitou 
uma distribuição dos ganhos de acordo com a contingência 
em vigor, o que sugeriu que a consequência externa poderia 
modificar o comportamento em grupo.
Utilizando-se do mesmo procedimento do estudo de 
Wiggins (1969) alguns estudos replicaram e ampliaram 
as variáveis de análise. O estudo de Vichi (2004) alterou 
algumas variáveis do procedimento original tais como: os 
grupos passaram por mais reversões entre os tratamentos 
e a mudança de tratamento ocorreu de acordo com um 
critério de estabilidade. Os resultados também sugeriram o 
estabelecimento de uma prática de distribuição de recursos 
de acordo com a contingência em vigor. O estudo de Mar-
tone (2008) investigou se as relações estabelecidas entre 
os participantes iniciais do jogo poderiam ser transmitidas 
a novos participantes ingênuos, entretanto, os resultados 
indicaram que a substituição dos jogadores não produziu 
efeitos significativos.
Utilizando-se outro jogo (intitulado Meta 2) os estudos de 
Bullerjhann (2009), Caldas (2009) e Oda (2009) investigaram 
análogos experimentais de metacontingências. Cabe ressaltar 
que esses estudos baseiam-se nos conceitos mais atuais sobre 
a metacontingência que enfocam as relações de dependência 
entre contingências comportamentais entrelaçadas (CCE), 
seus produtos agregados que dependem e ocorrem necessa-
riamente contingentes ao entrelaçamento e as consequências 
culturais selecionadoras contingentes as CCEs, que não 
ocorrem necessariamente a cada ciclo das contingências 
comportamentais entrelaçadas (Glenn & Malott, 2004; Malott 
& Glenn, 2006). Os dados de Bullerjhann (2009) indicaram 
que as manipulações foram efetivas na produção de análogos 
experimentais de fenômenos sociais quando os análogos de 
consequências culturais são dependentes dos produtos das 
contingências entrelaçadas; os dados de Caldas (2009) sugeri-
ram a formação de análogos de metacontingências, a seleção 
e a extinção de contingências comportamentais entrelaçadas; 
e os dados de Oda (2009) sugeriram que o comportamento 
verbal teve um papel importante na seleção, na recorrência 
e na transmissão de contingências comportamentais entre-
laçadas entre gerações.
Além desses estudos, alguns pesquisadores utilizaram o 
jogo “Dilema do Prisioneiro” na investigação de fenômenos 
também considerados sociais, como os comportamentos de 
cooperação e de competição (Costa, 2009; Faleiros, 2009). 
Os resultados desses estudos sugeriram que a cooperação 
e a competição são influenciadas por consequências con-
121Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
A Sobrevivência das Culturas em Skinner e Harris
sideradas análogas às consequências “culturais” e que um 
componente verbal facilita essa influência.
Desse modo, tem sido sugerido que estudos experimentais 
recentes, como os descritos anteriormente, podem contribuir 
para a consolidação da análise comportamental da cultura e, 
além disso, seus resultados podem direcionar a solução de 
alguns problemas de ordem teórico-epistemológica (Carrara, 
2008). Com efeito, todos esses estudos descritos indicam que 
a análise comportamental da cultura é recente e demanda que 
análises teóricas, empíricas e aplicadas sejam ampliadas na 
temática em questão.
Diante disso, o presente artigo tem o objetivo de anali-
sar um aspecto da teoria skinneriana sobre a evolução das 
culturas a partir, principalmente, das contribuições da teoria 
antropológica do materialismo cultural de Marvin Harris. 
O materialismo cultural é um paradigma antropológico que 
compartilha muitos princípios teóricos e epistemológicos 
com o behaviorismo radical, tese defendida por seu pro-
ponente Marvin Harris (1986/2007). Segundo esse autor, 
assim como o behaviorismo radical, o materialismo cultural 
se opõe ao reducionismo biológico e às teorias psicológicas 
que elevam a mente a um status causal do comportamento. 
Essa teoria tem sido discutida por alguns analistas do com-
portamento quando seu objeto de estudo é a cultura (Glenn, 
1988; Malagodi, 1986; Malagodi & Jackson, 1989; Malott, 
1988; Vargas, 1985).
Skinner defende que a evolução da cultura se dá por 
processos de variação e seleção; nesses processos as práticas 
culturais seriam as unidades sujeitas à seleção de acordo 
com seu papel na sobrevivência das culturas (Skinner, 1981; 
1987). Essas unidades originam-se do comportamento ope-
rante, mas operantes tornam-se práticas culturais quando 
são reforçados por uma cultura, transmitidos como parte de 
um ambiente social entre membros de uma mesma cultura, 
entre gerações ou entre culturas (Skinner, 1971/2002). Com 
efeito, Skinner (1981) sugere que sobrevivência das culturas 
é o que determina a manutenção e a transmissão de suas 
práticas. Como ele salientou “E quer gostemos disto ou 
não, a sobrevivência é o critério final” (Rogers & Skinner, 
1956, p. 1065).
Sendo assim, este estudo pretende apresentar: 1º) a po-
sição skinneriana de que a seleção de práticas culturais se 
fundamenta no valor dessas práticas para a sobrevivência 
da cultura; 2º) a teoria de Marvin Harris sobre a seleção de 
práticas culturais, ou seja, a tese do determinismo da infraes-
trutura e sua crítica à explicação skinneriana nessa temática 
e 3º) nossos questionamentos sobre a posição skinneriana de 
que a seleção de práticas culturais se fundamenta no valor 
dessas práticas para a sobrevivência da cultura.
O método utilizado foi uma análise conceitual de parte da 
obra de Skinner. Assim, o nosso principal objeto de investi-
gação foi o próprio texto skinneriano. Algumas correntes de 
pensamento acreditam que a análise do texto de um pensador 
consiste em apresentar a tese do autor da forma como ele a 
empreendeu; entretanto, baseando-nos em alguns pressupos-
tos do método epistemológico hermenêutico, acreditamos 
que essa missão seria impossível, uma vez que o pesquisador 
apresenta uma história cultural e uma base de conhecimentos 
diferentes das do autor do texto original (Abib, 1996). Nesse 
sentido, a análise conceitual de um tema ou de uma obra 
implica uma interpretação e a construção de novos significa-
dos. Assim, este artigo apresenta uma interpretação possível, 
não a única, sobre o conceito de sobrevivência das culturas 
em Skinner. Para isso,textos fundamentais dos dois autores 
foram analisados. Ou seja, os textos foram escolhidos pela 
temática, no caso de Skinner e, no caso de Harris, utilizou-
-se o livro “Materialismo Cultural”, de 1979, em que ele 
apresenta sua tese central sobre a cultura e outros dois artigos 
nos quais ele discute diretamente o behaviorismo radical 
de Skinner: “Group and individual effects in selection”, de 
1984, no qual Harris comenta o artigo skinneriano “Selection 
by consequences”, de 1981, e a apresentação realizada na 12ª 
conferência anual da “Association for Behavior Analysis” 
(1986), que foi transcrita e posteriormente publicada no “The 
Behavior Analyst” com o título: “Cultural materialism and 
behavior analysis: Common problems and radical solutions” 
publicado em 2007. Deste modo, passemos à interpretação 
proposta neste estudo.
B. F. Skinner e o conceito de sobrevivência das 
culturas
A teoria psicológica do behaviorismo radical skinneriano 
defende o papel selecionista do ambiente (Skinner, 1981). 
Além da seleção natural, apropriada da teoria darwinista, que 
sugere que algumas características físicas e comportamentais 
são produtos de contingências de sobrevivência das espécies, 
esse autor defende que os processos de variação e seleção 
estão presentes também nas histórias ontogenética e cultural 
dos indivíduos. Assim, os comportamentos dos indivíduos 
e as práticas de uma cultura são produtos de processos de 
variação e seleção.
O modelo de seleção pelas consequências de Skinner 
pressupõe a existência de variações que podem ser selecio-
nadas em contingências de sobrevivência da espécie, con-
tingências de reforçamento ou contingências culturais. No 
terceiro nível de variação e seleção, o campo da evolução das 
culturas, as variações são as práticas de uma cultura (Skinner, 
1981). Não há, no modelo de seleção pelas consequências, 
lugar para um propósito no sentido teleológico.
Nesse contexto, Skinner argumenta que algumas práticas 
culturais possibilitam o fortalecimento da cultura; nesse caso 
afirma-se que tais práticas possuem “valor de sobrevivência” 
positivo. Em um sentido inverso, quando algumas práticas 
não fortalecem uma cultura afirma-se que essas apresentam 
“valor de sobrevivência” negativo (Dittrich, 2004). Para as 
práticas ditas com “valor de sobrevivência” positivo, Skinner 
(1971/2002) denominou como práticas que produzem o “bem 
da cultura”, ou seja, são práticas que fortalecem a cultura no 
sentido de torná-la mais apta a resolver seus problemas. En-
tretanto, a sobrevivência da cultura como uma consequência 
de certas práticas culturais não é uma consequência que possa 
exercer papel reforçador nas contingências de reforçamento: 
“a escala temporal através da qual podemos aferir a sobrevi-
vência da cultura (décadas ou séculos) é muito diferente da 
escala temporal na qual ocorre o reforço do comportamento 
operante” (Dittrich, 2003, p.19). Portanto, trabalhamos em 
prol da cultura não porque sua sobrevivência nos é reforça-
122 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
CM Melo & JCC Rose
dora, mas porque outras consequências mais imediatas nos 
levam a fazer isso.
Vejamos um exemplo citado por Skinner (1981, p. 502): 
“Um melhor modo para fazer uma ferramenta, cultivar 
alimentos ou ensinar uma criança é reforçado por suas con-
sequências – a ferramenta, o alimento, ou o ajudante útil, 
respectivamente”. Esses são exemplos de práticas que podem, 
como consequência, fortalecer uma cultura; entretanto, outras 
variáveis devem estar presentes nos ambientes daqueles que a 
praticam. Pensemos que artesãos habilidosos fortaleçam uma 
determinada cultura. Logo, a prática de ensinar um aprendiz 
pode produzir consequências que fortaleçam essa cultura, 
mas a própria consequência de “ganhar um ajudante útil” 
deve ser uma das variáveis que mantém o comportamento do 
artesão de ensinar e é essa consequência que está no âmbito 
das contingências de reforçamento.
Pode-se argumentar que quando Skinner trata das ques-
tões relacionadas com a sobrevivência da cultura, ele percorre 
dois principais argumentos: 1) a sobrevivência de uma cultura 
de acordo com os processos de variação e seleção e 2) a defesa 
de que a tecnologia do comportamento pode contribuir para 
a sobrevivência da humanidade ao planejar novas práticas 
culturais e estabelecer contingências seletivas para práticas 
que fortaleçam uma cultura. Enfocaremos apenas o primeiro 
argumento por sua importância neste artigo.
Assim, Skinner (1987) defende que a evolução da cul-
tura e sua possível sobrevivência ocorrem por processos de 
variação e seleção. Entretanto, esses processos apresentam 
algumas “falhas” (Skinner, 1990). A primeira “falha” nos 
processos de variação e seleção estaria no fato de que as con-
tingências filogenéticas selecionam características biológicas 
ou comportamentais da espécie que são eficientes apenas para 
aquele período de sua história evolutiva, ou seja, a seleção 
natural “prepararia” a espécie apenas para um futuro no qual 
as contingências fossem similares àquelas responsáveis pela 
sua seleção. Skinner (1987, 1990) salientou que a evolução 
do processo de condicionamento operante permitiu a correção 
dessa “falha”, pois esse processo permite que o indivíduo ad-
quira comportamento apropriado a um novo ambiente durante 
o tempo de sua vida. Contudo, Skinner (1987) aponta que o 
problema persiste, uma vez que também o condicionamento 
operante produz comportamento “apropriado” para um futuro 
que se assemelhe com o passado que o selecionou.
Para o autor, muitos dos nossos problemas atuais são 
originados das “falhas” nos processos de variação e seleção. 
Skinner (1987) argumenta que por meio das contingências 
filogenéticas da espécie humana algumas suscetibilidades 
a certos tipos de reforçadores evoluíram e foram selecio-
nadas, possivelmente porque foram importantes para sua 
sobrevivência. Entretanto, essas suscetibilidades herdadas 
acarretaram alguns problemas atuais de acordo com as contin-
gências ambientais que vivemos hoje. Skinner (1987) sugere 
que os problemas acarretados por essas suscetibilidades são 
decorrentes dos processos de variação e seleção.
Assim, com o objetivo de trazer contribuições para a 
discussão sobre o conceito de sobrevivência da cultura de 
Skinner, partimos para um diálogo com alguns pressupostos 
do materialismo cultural de Marvin Harris.
O conceito skinneriano de sobrevivência das 
culturas: um diálogo com o materialismo cultural 
de Marvin Harris
Para o materialismo cultural, a cultura é “o agregado 
de classes, com destacadas classes de respostas operantes, 
socialmente condicionadas, as quais são associadas com um 
grupo humano particular e que tendem a ser replicadas intra e 
através das gerações” (Harris, 1986/2007, p. 38). As classes 
de operantes socialmente condicionadas ocorrem quando 
muitos indivíduos exibem a mesma classe de operantes e 
essa classe passa a existir mesmo quando esses indivíduos 
morrem. Para Harris (1979/1980), a sociedade é entendida 
como o grupo social maior que apresenta uma ampla gama de 
interações comportamentais, contempla os repertórios apren-
didos de pensamento e de ações exibidos pelos membros de 
um grupo social e transmitidos intra e entre gerações. Esses 
repertórios contribuem para a continuidade da população e 
para a vida social. 
Assim como para Skinner (1971/2002), para Harris 
(1986/2007) as classes de operantes condicionadas cultural-
mente, ou as práticas culturais, são comumente definidas em 
termos como caçar, coletar, guerrear, entre outros. Segundo 
Harris (1986/2007), essas classes não existem isoladas uma 
das outras e apresentam entre si pré-condições de existência. 
Ou seja, não existiriam as festas sem a caça, a caça sem os 
caçadores e os caçadores sem a lança, fatos sustentados pordados empíricos.
Para Harris (1986/2007), as peculiaridades dos sistemas 
culturais não são devidas às características humanas desig-
nadas como a mente, os desejos, o pensamento simbólico, ou 
mesmo o comportamento verbal, como defendem alguns an-
tropólogos. Esse autor defende que essas peculiaridades são 
decorrentes da imensa quantidade do número de indivíduos e 
de respostas que subscrevem a abstração e a classificação dos 
componentes socioculturais e de todos os sistemas culturais. 
Nesse aspecto, o materialismo cultural e o behaviorismo radi-
cal concordam que nenhum novo princípio comportamental 
é necessário para tratar dos fenômenos comportamentais no 
nível da cultura. Entretanto, essas perspectivas se deparam 
com o problema de como descrever o comportamento, não 
de indivíduos sozinhos, mas o comportamento que faz parte 
de um sistema cultural.
Skinner (1981) sugeriu que a evolução da cultura se dá 
por processos de variação e seleção em que novos repertórios 
comportamentais surgem como operantes no comportamen-
to de indivíduos, alguns dos quais são transmitidos entre 
gerações e assim, foram selecionados pelas contingências 
culturais vigentes; constituem as práticas de uma cultura. 
Harris (1986/2007) argumenta que para descrever a seleção 
de repertórios operantes de uma cultura é necessário inves-
tigar o efeito desses operantes na cultura. Uma vez que, os 
operantes podem assumir um número infinito de funções, 
há a necessidade de especificar quais são as funções que 
servem para os repertórios culturais, o que possibilita-nos 
algum progresso no estudo das especificidades do processo 
de seleção no nível da cultura. 
Skinner (1971/2002; 1981; 1984; 1990) argumenta que 
as práticas culturais que foram selecionadas por processos 
de variação e seleção são aquelas que contribuíram para a 
123Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
A Sobrevivência das Culturas em Skinner e Harris
sobrevivência da cultura, embora o autor também saliente 
que muitas práticas que não fortalecem uma cultura podem 
coexistir com práticas que a fortalecem. Assim, a “fun-
ção” primordial dos operantes culturalmente estabelecidos 
seria a própria sobrevivência da cultura. Segundo Harris 
(1986/2007), a sobrevivência da cultura como a principal 
função que “governa” a seleção nesse nível, especifica ainda 
três derivações: a coesão do grupo, uma ação efetiva com 
relação ao ambiente físico e uma relação efetiva com relação 
a outros grupos. Esse autor critica a noção de sobrevivên-
cia da cultura como determinante da seleção de práticas 
culturais. Para ele essa é uma formulação inadequada, pois 
a maioria das inovações culturais que foram selecionadas 
pelas consequências não apresentava evidências de como 
poderiam contribuir para a sobrevivência da cultura no 
momento em que foram selecionadas. Esse autor argumenta 
que o teste sobre se uma inovação cultural teve um efeito 
sobre a sobrevivência da cultura não pode ser a medida de 
“sobrevivência da cultura”, uma vez que se assim fosse todos 
os componentes de uma cultura que têm sobrevivido teriam 
essa característica. Segundo Harris (1986/2007), algumas 
estratégias como as político-militares podem ser seleciona-
das pelos seus efeitos imediatos de sobrevivência no grupo. 
Entretanto, é mais difícil apontar as mesmas consequências 
para os grupos quando as inovações culturais são provenien-
tes das atividades religiosas, das artes ou das ideologias, por 
exemplo. Esse autor ainda salienta que inovações desse tipo 
podem ocorrer durante milhares de anos antes que seu efeito 
sobre a sobrevivência do grupo passe a ser objeto de seleção.
Skinner (1971/2002; 1981), por outro lado, quando apre-
senta seu modelo de seleção pelas consequências no qual a 
cultura é o produto de processos de variação e seleção, discute 
práticas culturais nas quais é plausível atribuir um valor de 
sobrevivência. Entretanto, a nosso ver, frequentemente são 
práticas pouco complexas se compararmos com práticas 
existentes em diversas culturas e descritas por muitos an-
tropólogos. Atribuir um valor de sobrevivência positivo em 
práticas como caçar, cultivar alimentos, acumular riquezas, 
por exemplo, parece mais plausível. Por outro lado, exemplos 
mais complexos como o de práticas culturais que compõem o 
potlatch, descritas por Mauss (1925/1974), e o kula, descritas 
por Malinowski (1922/1984)3 são extremamente elaboradas, 
3 No potlatch, descrito inicialmente sobre a civilização escandinava, 
presentes são dados, mas quando isso ocorre há a “regra”, não necessa-
riamente explícita, de que o presente dado deve ser recebido e retribuído. 
O “presente” pode incluir uma ampla gama de possibilidades. Segundo 
Mauss (1925/1974, p. 45), “O que trocam não são exclusivamente bens 
e riquezas, móveis e imóveis, coisas economicamente úteis. Trata-
-se, antes de tudo, de gentilezas, banquetes, ritos, serviços militares, 
mulheres, crianças (...) a circulação de riquezas constitui apenas um 
termo de um contrato muito mais geral e muito mais permanente”. O 
kula foi descrito também como uma espécie elaborada de trocas entre 
diversas tribos nas ilhas Trobriand e seus arredores. Ao descrever o 
kula Malinowski (1922/1984) ressalta: “A troca cerimonial de dois 
artigos um pelo outro é o aspecto fundamental e central do kula (a 
troca de colares por braceletes) (...)” (p.72). (...) “É fácil observar que, 
no fim das contas, não só os objetos da cultura material, mas também 
os costumes, canções, temas artísticos e influências culturais gerais 
também viajam ao longo das rotas do kula. O que se verifica, então, é 
um vasto encadeamento de relações intertribais numa grande instituição 
que incorpora milhares de pessoas, todas elas unidas por uma paixão 
comum pelas transações do kula” (p. 78). 
envolvem um grande número de indivíduos e foram trans-
mitidas entre diversos grupos e gerações de suas respectivas 
culturas. Em alguns casos de trocas, envolvidas no potlatch e 
no kula, as “coisas” dadas nas relações de trocas podem ser 
retribuídas anos após serem oferecidas. Entretanto, defende-
mos que os rituais envolvidos em tais práticas não apresen-
tam, pelo menos diretamente, um valor de sobrevivência para 
a cultura praticante. Nesse aspecto, questionamentos sobre as 
razões pelas quais práticas culturais desse tipo são mantidas 
são fundamentais para entendermos as culturas humanas e 
a crítica de Harris torna-se então pertinente. 
Um possível contra-argumento skinneriano seria que, de 
acordo com seu modelo de causalidade, o comportamento 
humano ao participar de práticas culturais, é primeiramente 
selecionado ou modelado em contingências de reforçamen-
to. Assim, teríamos uma explicação do porquê algumas 
práticas são mantidas a despeito da sobrevivência de um 
grupo, ou seja, por suas consequências mais imediatas para 
o comportamento dos indivíduos. Entretanto, tais práticas 
apenas seriam mantidas entre gerações se de alguma forma 
contribuíssem para a sobrevivência da cultura. Esse é o prin-
cípio do processo de variação e seleção, ou seja, aquilo que 
contribuiu para a sobrevivência de um grupo acaba por ser 
selecionado juntamente com essa cultura. Pensemos em uma 
situação ideal hipotética: se uma cultura apresenta apenas 
práticas que não contribuem para a sua sobrevivência, mas 
tais práticas são mantidas (certamente por um período curto 
de tempo em relação à sobrevivência de uma cultura que é 
medida em milhares de anos) por contingências de reforça-
mento, essa cultura provavelmente se extinguirá. Assim, se 
essa cultura se extinguir, poderíamos sugerir que aquelas 
práticas não contribuíram para a sobrevivência do grupo, 
embora tivessem sido mantidas por um período de tempo. 
Entretanto o argumento de Harris ainda parece válido. É 
intrigante que muitas práticas culturais, nas quais umvalor 
de sobrevivência não é facilmente aferido, mantenham-se 
por diversas gerações sem que um “prejuízo” para o grupo 
praticante seja identificado. Ou mesmo, sem que qualquer 
contribuição para a sobrevivência do grupo seja reconhecida.
Skinner (1966/1969) ainda aponta que características 
“não-adaptativas” podem ser selecionadas quando os orga-
nismos se tornam cada vez mais sensíveis às consequências. 
Neste sentido, práticas culturais “não-adaptativas” podem 
sobreviver juntamente com práticas “adaptativas”. Segundo 
Skinner (1966/1969, p. 177), “Todas as características atuais 
de um organismo não contribuem necessariamente para a 
sua sobrevivência e procriação, todavia são ‘selecionadas’”. 
Portanto, para Skinner, algumas práticas de uma cultu-
ra no caso do terceiro nível seletivo, que não apresentam 
valor de sobrevivência positivo podem, mesmo assim, ser 
selecionadas juntamente com outras práticas culturais que 
contribuíram para a sobrevivência da cultura. Ou seja, um 
possível argumento skinneriano seria que se podemos nos 
deparar com práticas de uma cultura que foram selecionadas 
embora não tivessem contribuído para sua sobrevivência, 
isso provavelmente ocorreu porque as práticas com valor 
de sobrevivência negativo foram selecionadas juntamente 
com práticas com valor de sobrevivência positivo e como 
resultado a cultura sobreviveu. 
124 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
CM Melo & JCC Rose
Voltemos ao pensamento de Harris. Esse autor enfatiza 
que se a “função” das inovações culturais for utilizada como 
uma medida da efetividade para o grupo, nós devemos pri-
meiramente entender que os seres humanos possuem algumas 
necessidades físicas, químicas, biológicas, sociológicas e psi-
cológicas. Neste sentido, Harris (1986/2007) argumenta que 
Skinner abarca tais necessidades quando explica a aquisição 
do comportamento de acordo com as suscetibilidades inatas 
ao reforço, como as suscetibilidades do comportamento ser 
reforçado por comida, sexo, contato corporal e proteção para 
enfermidades. Para esse autor, essa lista não é exaustiva, mas 
satisfaz o papel de uma ciência parcimoniosa e é suficiente 
para definir uma coleção de funções básicas desempenhadas 
pelos operantes que são objeto de seleção em uma cultura. 
Mas ainda seriam apenas “funções básicas”. 
Segundo Harris (1986/2007), tais necessidades ou sus-
cetibilidades asseguram a seleção de todos os componentes 
e subcomponentes de uma cultura particular, embora não se 
possa afirmar que para cada necessidade humana haja um 
componente cultural que seja exclusivamente condicionado 
em contingências relacionadas com uma necessidade especí-
fica. Dois exemplos interessantes descritos por Harris são a 
enculturação4 da aversão da população Hindu pelo abate de 
gado e consumo dessa carne e a enculturação de costumes 
conjugais poligâmicos; para ambos os exemplos os compor-
tamentos relacionados não foram modelados exclusivamente 
pelo reforçamento com comida e sexo, respectivamente. 
Segundo Harris (1986/2007), a carência de uma relação direta 
entre as necessidades humanas, ou em uma linguagem skin-
neriana entre as suscetibilidades humanas, e as contingências 
de reforçamento é compensada pela relação de interação e 
interdependência da maioria dos componentes dos sistemas 
socioculturais e de subsistência. 
A tese do materialismo cultural sobre a evolução 
das culturas
Uma das teses do materialismo cultural apresentada 
por Harris (1979/1980; 1986/2007) define que uma cultura 
apresenta três principais tipos de sistemas: 1) o sistema que 
pertence à infraestrutura, que engloba as formas de produ-
ção e reprodução; 2) o sistema que pertence à estrutura, que 
engloba a economia doméstica e a política; e 3) o sistema 
que pertence à superestrutura, que engloba as artes em todas 
suas formas, a religião, a ciência e a educação.
O sistema da infraestrutura contempla os modos de pro-
dução e reprodução. O modo de produção relaciona-se com 
os comportamentos que satisfazem as condições mínimas de 
subsistência. Neste caso, engloba a tecnologia e as práticas 
empregatícias que expandem ou limitam a produção de 
subsistência básica, como a produção de comida e outras 
formas de energia. O modo de reprodução relaciona-se com 
os comportamentos que satisfazem as condições de manu-
tenção do tamanho do grupo; assim, as práticas tecnológicas 
ou empregatícias que têm o objetivo de expandir, limitar ou 
4 Do inglês enculturation, que se refere ao processo de aquisição de uma 
cultura. 
manter o tamanho da população são práticas que satisfazem 
ao modo de reprodução (Harris, 1979/1980).
Assim sendo, se as necessidades básicas humanas natu-
ralmente determinadas devem ser alcançadas, alguns compo-
nentes da cultura estarão envolvidos na produção de bens e 
serviços indispensáveis. Exemplos disso seriam as produções 
de comida, de abrigo, de vestuário, de cuidados médicos e 
uma economia de subsistência (Harris, 1986/2007). 
O segundo sistema, o sistema estrutural, como dito 
anteriormente, compreende a economia doméstica e a eco-
nomia política. Esse sistema satisfaz a função de cumprir as 
necessidades sexuais humanas e as necessidades econômicas. 
Segundo Harris (1979/1980), a economia doméstica ocorre 
no interior dos domicílios e cumpre a função de alimentação, 
de cuidado e de reprodução. Por outro lado, a economia 
política ocorre fora dos domicílios e cumpre a função de 
regular as relações entre os domicílios, entre os grupos não 
domésticos e entre uma população e outra. 
O terceiro sistema, o sistema da superestrutura, contem-
pla as artes em todas as suas formas, a religião, a ciência e 
a educação. Segundo Harris (1979/1980, 1986/2007), os 
componentes desse sistema estão remotamente relacionados 
com a satisfação das necessidades básicas humanas natural-
mente determinadas em comparação com os componentes 
do sistema da estrutura e de maneira mais remota se compa-
rado aos componentes do sistema da infraestrutura (Harris, 
1986/2007).
Para o materialismo cultural, a direção da evolução 
sociocultural é determinada probabilisticamente pelas con-
sequências das inovações culturais em relação ao equilíbrio 
entre o custo e o benefício para a produção e a reprodução. 
Desse modo, a probabilidade de uma inovação que emergiu 
de um sistema cultural ser transmitida é determinada por 
seus resultados, se esses são ou não mais favoráveis ou me-
nos favoráveis no equilíbrio da relação de custo-benefício 
para a produção e a reprodução. Para Harris (1979/1980; 
1986/2007), as mudanças nos componentes da infraestrutura 
determinam probabilisticamente os componentes da estru-
tura e da superestrutura. Esse autor defende que o sistema 
infraestrutural é a principal conexão entre a natureza e a 
cultura. Uma vez que a ação humana está sujeita a certas 
restrições ecológicas, químicas e físicas (como o fato de que 
os seres humanos gastam energia para obter energia e outros 
produtos de subsistência) esse sistema promove a interação 
com as principais práticas culturais que pretendem superar 
tais restrições.
Assim, destaca-se que o materialismo cultural defende 
um determinismo infraestrutural. Nesse caso, mesmo que al-
gumas práticas que pertencem aos sistemas estruturais ou su-
perestruturais não favoreçam a sobrevivência do grupo, elas 
podem manter-se desde que o sistema da infraestrutura seja 
efetivo. Harris (1986/2007) salienta que isso fica evidente 
quando investigamos a história de uma cultura durante longos 
períodos. Desse modo, mesmo que alguns componentes dos 
sistemas estruturais ou superestruturais pareçam ser os res-
ponsáveis pela manutenção de uma cultura, uma investigação 
longínqua mostrará, segundo esse autor, a determinação da 
infraestrutura. Um exemplo dado por Harris (1986/2007) con-
siste na suposta primaziada religião no Irã contemporâneo; 
se não investigarmos a história dessa cultura, poderíamos 
125Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
A Sobrevivência das Culturas em Skinner e Harris
afirmar que a religião (sistema da superestrutura) dominaria 
os componentes do sistema infraestrutural. Entretanto, o 
autor destaca que embora o fundamentalismo xiita tenha 
modificado as atividades dos iranianos em relação à produ-
ção e à reprodução, a derrubada do Shah (governo iraniano 
anterior ao fundamentalismo xiita) ocorreu principalmente 
pela detenção dos recursos petrolíferos do Irã (condições da 
infraestrutura). Segundo Harris (1986/2007), se os sistemas 
que não pertencem à infraestrutura (como a política e a 
religião) fossem essenciais à sobrevivência de uma cultura, 
não teríamos como explicar por que organizações em grupo 
existiram por centenas de milhares de anos, por que aldeias 
foram raridades até oito mil anos antes de Cristo e por que 
os primeiros Estados só surgiram há seis mil anos.
Com relação aos processos seletivos no nível da cultu-
ra, Harris (1979/1980; 1984/1988) apresenta uma posição 
parcialmente análoga à posição skinneriana. Ele defende 
que a seleção de repertórios comportamentais não é descrita 
por termos metafísicos como força, pressão ou impulso, 
mas por princípios biopsicológicos concretos pertinentes 
ao comportamento dos indivíduos que participam de um 
sistema cultural. Para esse autor, os processos relacionados 
à seleção de trajetórias evolucionárias dos sistemas sociocul-
turais operam essencialmente no nível do indivíduo, defesa 
análoga à posição skinneriana. Para Harris (1979/1980; 
1984/1988), os indivíduos seguem um curso de ação ao invés 
de outro e como resultado ocorre uma mudança nos padrões 
agregados. Embora essa asserção não exclua a possibilidade 
de que alguns traços socioculturais sejam selecionados pela 
sobrevivência diferencial de sistemas socioculturais inteiros, 
ou seja, pela seleção do grupo, o autor argumenta que muito 
cedo na história da humanidade a competição entre grupos 
foi, e ainda é, presente. A competição entre grupos pode 
promover a extinção de sistemas socioculturais completos. 
Entretanto, exemplos desse tipo são consequências da seleção 
que operam através de indivíduos.
Assim, esse autor defende que se alguns padrões de 
comportamento são selecionados, essa seleção ocorre quando 
alguns ou todos os membros de um grupo obtiveram sucesso 
com tais repertórios. Essa afirmativa também não significa 
que a seleção ocorre de acordo com o “bem maior” para um 
“número maior” de indivíduos. Harris (1979/1980) salienta 
que alguns padrões culturais são selecionados embora não 
favoreçam uma parte do grupo; como exemplo está o uso da 
burca (vestimenta feminina que cobre todo o corpo e é utili-
zada por alguns grupos mulçumanos) que favorece o controle 
político e doméstico dos homens em relação às mulheres.
A sobrevivência da cultura em Skinner: um 
conceito em construção
A posição de Harris (1979/1980; 1984/1988; 1986/2007) 
sobre as questões culturais e seu diálogo com o behavio-
rismo radical pode contribuir para as discussões presentes 
na análise comportamental da cultura. Primeiro, devemos 
nos questionar se a medida de sobrevivência é realmente 
efetiva. Como mesmo salientou Harris (1986/2007), algu-
mas práticas são selecionadas a despeito do fortalecimento 
ou não de uma cultura. Skinner provavelmente concordaria 
com essa afirmativa. Como discutimos anteriormente, 
muitos operantes e muitas práticas de uma cultura são se-
lecionados simplesmente pelo fato de que os organismos 
tornaram-se cada vez mais sensíveis às consequências de 
seu comportamento. No caso da cultura, muitas práticas po-
dem apresentar valor de sobrevivência negativo. A questão 
seria então uma relação de custo-benefício, como enfatizou 
Harris? A resposta poderia ser afirmativa e, sendo assim, 
um número essencial de práticas culturais que apresentem 
valor de sobrevivência positivo seria necessário para o 
fortalecimento de uma cultura.
A medida de sobrevivência, embora não explique todas 
as práticas que se mantêm, de acordo com o pensamento 
de Harris, ainda parece ser uma boa medida se estamos 
preocupados com o planejamento de uma cultura. Harris 
(1979/1980; 1986/2007) enfatizou o determinismo da infraes-
trutura e esse é outro argumento bem interessante no diálogo 
com o behaviorismo radical skinneriano. Acreditamos que 
Skinner não concordaria que apenas as práticas relacionadas 
a esse sistema favoreceriam a sobrevivência de um grupo. 
Baseando-se nos pressupostos do behaviorismo radical, 
poderíamos argumentar que qualquer prática cultural que 
colaborasse para a resolução dos problemas de um grupo 
poderia ser uma prática com valor de sobrevivência positi-
vo, e, sendo assim, ela poderia ser uma prática do sistema 
estrutural ou superestrutural; exemplos desse tipo podem ser 
algumas práticas relacionadas à educação, às artes e à ciência.
Entretanto, é interessante admitirmos que de alguma 
forma deva haver práticas culturais que mantenham a sub-
sistência básica e o tamanho físico de um grupo, ou seja, 
práticas da infraestrutura. Essas práticas apresentariam valor 
de sobrevivência positivo por definição? Provavelmente 
sim, não há como uma cultura sobreviver se uma parte con-
siderável de seus habitantes não sobreviver. Nesse sentido, 
estaríamos, em certo sentido, contrariando as posições de 
Skinner de que o valor de sobrevivência é o “critério final” 
na manutenção das práticas de uma cultura. As práticas que 
contribuem diretamente com a manutenção física de uma 
cultura apresentam valor de sobrevivência positivo, mas 
outras inúmeras práticas que coexistem com “práticas de 
sobrevivência” não poderiam ser explicadas com os mesmos 
argumentos. Outros mantenedores, que não suas relações 
diretas com o fortalecimento de uma cultura, poderiam ser 
as “razões” da permanência dessas práticas em um grupo. 
Assim, parece que, se nosso argumento for plausível, a Aná-
lise do Comportamento necessita de mais investigações, no 
campo dos fenômenos que ocorrem em uma cultura, para 
entender porque práticas são mantidas mesmo quando não 
apresentam uma relação direta com a sobrevivência de uma 
cultura. Não basta explicar que as “razões” encontram-se nas 
contingências vigentes, precisamos buscar quais seriam essas 
contingências e investigá-las de formas mais minuciosas.
Cabe ainda questionar que a sobrevivência genética 
de um grupo não garante a sobrevivência de uma cultura. 
Podemos imaginar também que a própria sobrevivência dos 
membros de um grupo possa ser decorrente de uma mudan-
ça profunda nas práticas culturais ao ponto de atribuirmos 
ao grupo uma “nova cultura”. Um exemplo poderia ser a 
transformação pela qual grande parte da cultura aborígene 
australiana passou (povo nativo da Austrália). Embora ainda 
126 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
CM Melo & JCC Rose
existam na Austrália algumas comunidades de Aborígenes 
que vivem isoladas da cultura australiana de origem inglesa 
e que mantêm parte de suas práticas nativas, outra parte 
considerável da população aborígene teve suas práticas 
culturais amplamente modificadas após a colonização in-
glesa. Crianças Aborígenes foram retiradas de suas famílias 
e adotadas por famílias de origem inglesa ou colocadas 
em orfanatos com o objetivo de ensinar os costumes dos 
“homens brancos” e erradicar os costumes Aborígenes em 
um período conhecido como o da “geração perdida”. Esse 
é um exemplo da sobrevivência genética de uma população 
com ampla deterioração das práticas culturais que foram 
típicas de uma cultura.5
Segundo Dittrich (2004), de acordo com uma posição 
behaviorista, o valor de sobrevivência de uma cultura 
dependerá do valor de sobrevivênciado conjunto de suas 
práticas e das relações entre elas, mas o que determina 
se uma prática tem valor de sobrevivência positivo são 
as contingências vigentes. Entretanto, esse autor parece 
ainda concordar com o argumento de Harris, de que as 
práticas relacionadas ao sistema infraestrutural apresentam 
valor de sobrevivência intrínseco. Vejamos o que ele diz: 
“Algumas práticas culturais possuem, presumivelmente, 
valor de sobrevivência ‘intrínseco’: são aquelas práticas 
que promovem a sobrevivência de qualquer cultura, em 
qualquer época, pois são indispensáveis para a subsistência 
e reprodução de seus membros” (Dittrich, 2004, p. 247. 
Grifo do autor). Não obstante, esse autor enfatiza que esse 
argumento é baseado na estabilidade de certas contingências 
de sobrevivência da espécie. Exemplo disso é o fato de que 
os membros de uma cultura devem alimentar-se para so-
breviver e transmitir suas práticas, e, assim, certas práticas 
culturais como as relacionadas à produção de alimentos 
podem aparentar valor “intrínseco” de sobrevivência. Con-
tudo, segundo Dittrich (2004), em última análise, são as 
contingências que determinam o valor de sobrevivência das 
práticas culturais; nesse sentido, nenhuma prática cultural 
possuiria um valor de sobrevivência intrínseco. Entretanto, 
nossa questão ainda permanece: quais são as contingências 
vigentes? Quais são as relações entre as práticas culturais 
que determinam a sobrevivência de uma cultura?
Ou seja, em seus aspectos gerais, poderíamos argumentar 
que de acordo com uma perspectiva skinneriana, uma cultura 
torna-se mais forte quando possibilita que práticas com va-
lor de sobrevivência positivo mantenham-se e que práticas 
com valor de sobrevivência negativo extingam-se. O valor 
de sobrevivência de uma prática cultural é variável, ou seja, 
depende das contingências vigentes; entretanto, poderíamos 
afirmar que algumas práticas parecem contribuir para o for-
talecimento de qualquer cultura e em qualquer época, como 
aquelas relacionadas à sobrevivência genética do grupo. 
Portanto, independentemente de a qual sistema uma prática 
cultural pertença, ela pode contribuir para o fortalecimento 
de uma cultura desde que possibilite “variabilidade benéfica” 
5 Muitas mudanças na nossa própria cultura poderiam ser apontadas, por 
observadores externos, como deterioração cultural, embora às vezes 
possam, para os próprios membros de nossa cultura, ser identificadas 
como “progresso”.
e/ou a manutenção de “práticas com valor de sobrevivência 
positivo”. Ou seja, que ela “satisfaça” as condições essenciais 
dos processos de variação e seleção. Assim, a visão de Skin-
ner não descarta a importância de práticas de subsistência, 
mas de acordo com seus pressupostos, independentemente 
de a qual sistema uma prática pertença, ela pode contribuir 
para o fortalecimento de uma cultura dependendo das con-
tingências em vigor.
Pensemos nas práticas educacionais e nas artes. Se assu-
mirmos uma perspectiva relacionada ao materialismo cultu-
ral, genericamente essas práticas estariam mais relacionadas à 
estrutura e à superestrutura. Entretanto, elas podem contribuir 
para a sobrevivência de uma cultura, de acordo com a visão 
skinneriana. A educação pode colaborar para a transmissão 
de práticas culturais importantes para a sobrevivência de um 
grupo, as artes em todas as suas formas podem promover o 
comportamento criativo e assim, favorecer a emergência de 
novos comportamentos quando uma cultura depara-se com 
contingências adventícias e necessita de um comportamento 
original para a solução de um problema crucial à sua sobrevi-
vência. Portanto, de acordo com uma perspectiva skinneriana, 
as práticas que pertencem aos sistemas estruturais e supe-
restruturais poderiam promover também a sobrevivência de 
uma cultura. Mas e as práticas nas quais ainda não se inferiu 
um valor de sobrevivência plausível?
Com efeito, defendemos que a análise da cultura por 
meio do modelo de seleção por consequências ainda ne-
cessita de investigações minuciosas das contingências que 
possibilitaram a emergência e manutenção das práticas de 
uma determinada cultura. Esse campo de análise é ainda 
baseado amplamente em inferências e, neste sentido, 
novos estudos descritivos de práticas culturais poderiam 
contribuir para que lacunas teóricas sejam preenchidas. 
Haveria espaço para uma etnografia comportamental na 
Análise do Comportamento?
Considerações Finais
As questões relacionadas com o fortalecimento e so-
brevivência das culturas são importantes e com respostas 
imprecisas, como nosso artigo indicou. Uma vez que, quando 
compreendemos o comportamento humano e a evolução da 
cultura como decorrentes de processos de variação e seleção, 
apenas uma análise posterior nos indicaria quais práticas fo-
ram realmente efetivas para a sobrevivência de uma cultura. 
Pode-se apontar que algumas culturas têm sobrevivido ou 
que determinadas culturas extinguiram-se, mas quais práti-
cas ou quais relações entre as práticas de uma cultura foram 
responsáveis por esses resultados ainda são inferências na 
Análise do Comportamento.
Uma direção, defendida neste estudo, consiste em 
ampliar o diálogo com teorias antropológicas que podem 
direcionar uma crítica ao modelo skinneriano, como fez 
Harris. Além disso, a Análise do Comportamento poderia 
utilizar as descrições minuciosas que alguns pensadores re-
alizaram sobre diversas culturas, como os trabalhos citados 
de Mauss (1925/1974) e de Malinowski (1922/1984). Como 
enfatizamos na introdução deste artigo, respostas têm sido 
127Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2012, Vol. 28 n. 1, pp. 119-128
A Sobrevivência das Culturas em Skinner e Harris
buscadas também em estudos experimentais de análogos de 
fenômenos culturais.
Além disso, entendemos que Skinner, ao discorrer sobre 
a evolução da cultura por meio de processos de variação e 
seleção nos direcionou para um possível programa de pes-
quisa no escopo do behaviorismo radical. Entretanto, ele não 
apresentou respostas “prontas” de como ocorre a evolução 
das culturas e a emergência e/ou manutenção de suas práticas. 
Defendemos que ele forneceu à Análise do Comportamento 
apenas direções. O porquê práticas complexas são mantidas 
e selecionadas parece carecer ainda de respostas. 
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Recebido em 01.03.2010
Primeira decisão editorial em 22.03.2011
Versão final em 11.07.2011
Aceito em 14.07.2011 n
Curso: PsiCanálise e Psiquiatria: 
a esCuta da subjetividade do PaCiente PsiquiátriCo
São Paulo, SP, BR
10 de Março a 24 de Novembro de 2012

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