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PSICOLOGIA E PROCESSOS EDUCACIONAIS 2 RESUMO B R E N D A A B U R Q U E T I Machado & Proença (2004). As crianças excluídas da escola: um alerta para a Psicologia. In: Psicologia escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo. INTRODUÇÃO No geral, crianças consideradas “problemas” são oriundas das escolas públicas e pertencentes às camadas mais pobres da população. A queixa escolar é entendida como uma dificuldade (déficits cognitivos e/ou intelectuais e emocionais) de o aluno aprender. Os encaminhamentos de crianças para o atendimento psicológico e/ou médico selam destinos, trajetórias escolares. O ALUNO “PROBLEMA” A prática de encaminhamento de crianças com problemas de aprendizagem e comportamento para psicólogos ancora-se em uma série de práticas paralelas: psicólogos fazendo avaliações diagnósticas para encaminhamento, professores entendendo os problemas das crianças como algo individual e familiar ou a exigência de um laudo psicológico para a criança estar na classe especial. Toda prática de objetivação implica numa prática de subjetivação. Produz-se algo e produz-se o sujeito que entende este algo naturalmente. O questionamento mais importante a ser feito é: como as relações de aprendizagem e as relações diagnósticas fabricam esses alunos? Deve-se buscar o funcionamento, devolvendo-se com isso à história aquilo cuja existência “naturalizamos”. Uma relação cristalizada é aquela na qual as queixas são as mesmas há muito tempo, não há movimento. O efeito é a sensação de que não se pode fazer, apenas esperar. Nela, pergunta-se muito o porquê de certas coisas e de certos afetos acontecerem. Falsos problemas: inexistentes e mal formulados. ➜ Problemas inexistentes: quando nos questionamos o porquê de isso acontecer e não aquilo (aquilo que era igualmente possível). Esse questionamento carrega a ilusão de que o possível existe antes o existente, o não-ser antes do ser, como se o ser viesse encher o vazio, como se o real viesse a realizar uma possibilidade primordial. ➜ Problemas mal formulados: agrupam arbitrariamente coisas que diferem de natureza. São as eternas comparações – a saída daquele aluno da escola foi uma fuga; sair da escola e fugir são práticas singulares (naturezas diferentes). A PRÁTICA DE EXCLUSÃO Muitas crianças pertencentes às classes especiais não se interessavam por pensar o que estavam fazendo lá, muitas não sabem nem há quanto tempo frequentam. Certas práticas potencializam a diferença ser vivida como negação, como algo qualitativamente inferior. A VIDA ESCOLAR DIÁRIA Existe diversidade e heterogeneidade na vida escolar, a qual diferentes escolas, professores, corpo administrativo se apropriam dos direcionamentos dados pelos órgãos governamentais de ensino. Exemplo: Ciclo Básico. Cada escola se constitui em um espaço historicamente construído por aqueles que o compõe, e na impossibilidade de encontrar duas escolas iguais, visto que as redes de relações e práticas nelas existentes são singulares. PSICOLOGIA X QUEIXA ESCOLAR De maneira geral, a Psicologia usa um saber que estabelece o seu recorte sobre o indivíduo, na sua relação com ele mesmo e com o outro. Um dos objetivos da terapia é libertar o indivíduo de suas dificuldades e resistências, além de diminuir a angústia do sujeito. Busca incluir da busca do sentido da existência, do significado de estar no mundo, ou seja, compreender-se e aprender a lidar com seus desejos e anseios. Entretanto, numa queixa escolar, essa prática exclui o contexto escolar a qual a criança está inserida e a existência da diversidade escolar. Freller, C. C. (2004). Crianças portadoras de queixa escolar: reflexões sobre o atendimento psicológico. In: Psicologia escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo. O PROCEDIMENTO O processo psicodiagnóstico consiste em entrevista de anamnese com a família, sessões de ludodiagnostico, e aplicações de testes de inteligência e projetivos. Para finalizar, é marcada uma entrevista devolutiva com a família em que geralmente é recomendada a psicoterapia para criança e orientação para mãe. Além disso, algumas vezes são feitos encaminhamentos para classe especial e outros atendimentos específicos. Este padrão de atendimento tem sido considerado insatisfatório pelos pais, crianças, professores e pelos psicólogos responsáveis. Os pais de camadas populares expressam a enorme dificuldade que enfrentam para fazer os procedimentos tendo em vista que são longos e muitas vezes acham desnecessário pois os filhos não causam " problemas " em casa, só na escola. As crianças sentem-se discriminadas e desvalorizadas pelos colegas, familiares e professores por necessitarem deste tipo de atendimento. Dizem se sentir perseguidos pelos professores, pois todas as crianças fazem bagunça, mas só ela é encaminhada. Sentem-se injustiçadas e expressam seu descontentamento por serem o bode expiatório da classe. PSICÓLOGOS X DEMANDA Os psicólogos se deparam com um alto índice de desistência no decorrer do processo de tratamento, em contrapartida a fila de espera para atendimento fica cada vez maior – problematizam os pacientes e não a prática psicológica. O psicólogo ao aceitar uma criança inadaptada na escola como paciente e propor um psicodiagnóstico para conhecê-la melhor, sem problematizar os fatores intraescolares envolvidos no caso, está limitando seu campo de compreensão e ação. O FRACASSO ESCOLAR Há um pressuposto em comum entre ambos os profissionais de que o fracasso escolar é causado por problemas de ordem emocional e intelectual gerados por privações afetivas ou materiais. Há um caráter deficitário do ponto de vista intelectual já instalado, devido à problemática emocional, assim como às privações encontradas em sua história de vida. As crianças encaminhadas frequentemente têm queixas de imaturidade, indisciplina e desobediência. Elas não correspondem às expectativas da escola. Geralmente estão apresentando comportamentos esperados para sua idade e reativos a situações de ensino. Cabe à escola entender esses comportamentos e educar, no sentido de permitir seu acesso à cultura e não no de moralizar e domesticar. CONCLUSÃO O fracasso escolar não pode ser explicado apenas pelos mecanismos intrapsíquicos da criança ou por suas relações familiares primitivas. O ambiente escolar merece e precisa ser considerado. É preciso rever a prática clínica para que se efetive uma intervenção que vá ao encontro das necessidades de cada caso. Priotto, Elis Palma; Bonetib, Lindomar Wessler. VIOLÊNCIA ESCOLAR: na escola, da escola e contra a escola. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 9, n. 26, p. 161-179, jan./abr. 2009. Patto, M. H. S. (2005). Violência nas escolas ou violência das escolas? Exercícios de indignação. São Paulo: Casa do Psicólogo. 1. VIOLÊNCIA ESCOLAR Denomina-se violência escolar todos os atos ou ações de violência, comportamentos agressivos e antissociais, incluindo conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados por, e entre, a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos à escola) no ambiente escolar. A violência escolar não é exclusivamente escolar, pois exprime uma espécie de afirmação, pela violência, do direito a ser reconhecido, em situações de extrema desvantagem, decorrentes do estigma. Tipos: verbal, simbólica verbal, simbólica institucional e física. ➜ Violência Verbal: incivilidades (pressão psicológica), humilhações, palavras grosseiras, desrespeito, intimidação ou “bullying”. ➜ Violência Simbólica Verbal: abuso do poder, baseado noconsentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade. ➜ Violência Simbólica Institucional: marginalização, discriminação e práticas de assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias de poder. ➜ Violência Física: de um indivíduo ou grupo contra a integridade de outro(s) ou de grupo(s) e contra si mesmo, abrangendo desde os suicídios, espancamentos de vários tipos, roubos, assaltos e homicídios. Além das diversas formas de agressões sexuais. VIOLÊNCIA NA ESCOLA Manifestações que acontecem no cotidiano escolar. Exemplo: agressões físicas, drogas e bullying. Consequências: lar familiar conturbado (pais separados); situação econômica (falta de comida na mesa); indivíduo revoltado (sem medo, sentimento e amor); relações profissionais (não pede licença em uma sala de aula de um professor novo). VIOLÊNCIA CONTRA A ESCOLA Representada como atos de vandalismo – destruição, roubo ou furto de patrimônios da escola. Exemplo: pixações; destruição de cadeiras; furto de matérias da instituição. Consequências: violência externa na comunidade. VIOLÊNCIA DA ESCOLA Práticas utilizadas pela instituição escolar que prejudicam seus membros. Exemplo: conteúdo alheio aos interesses dos alunos; abuso de poder por uso de autoridade. Consequências: escola como um problema social (não preparando o aluno para uma vida, somente para conteúdos presos a notas); intolerância e abuso de poder dos professores (tirando aluno de sala, pedindo p limpar coisas da escola); conteúdo fora da realidade dos alunos. INDISCIPLINA Quebra de regras estabelecidas para um determinado ambiente, local, causando incômodos e perturbando seu funcionamento e causa prejuízo ao funcionamento do ambiente e não necessariamente/somente ao outro ser humano. Pode ser entendida como resistência. Quando não entendida, se torna violência da escola (por causar danos aqueles presentes na instituição). Evasão escolar. CICLO DAS DESIGUALDADES Baixa escolaridade, falta de qualificação profissional, falta de emprego. Tornando-os vulneráveis socialmente. Podemos afirmar que a repetência e o abandono de crianças e jovens da escola é o produto do funcionamento do aparelho escolar. Desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais. CONCLUSÃO Percebe-se que os problemas escolares, como exemplo a violência, se tornaram uma construção história e cultural que se arrasta da mesma maneira durante os anos. Conclui-se ainda que essa tal violência, se implica diretamente a problemas cotidianos, que seriam facilmente resolvidos com apoio de proferires, coordenadores, de uma relação de mão dupla entre aluno e instituição. A escola está para ensinar quem quer aprender, quem não quer, gera violência, e que a escola se constitui do local onde ocorrem as violências geradas por problemas familiares, por desestruturação familiar. 2. VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS OU DAS ESCOLAS? A violência tem se tornado cada vez mais presente nas escolas e é necessário indagar sobre sua origem. A violência NAS escolas só pode ser entendida se levada em consideração a violência DAS escolas. A violência existente nas escolas não é só fenômeno externo a elas. A violência é sobretudo fenômeno intrínseco às práticas escolares. Más condições de trabalho: baixos salários, má qualidade dos cursos de formação docente e exclusão dos educadores das decisões sobre a política educacional. Faz-se necessário um empenho sincero de construção de uma escola baseada no respeito aos direitos das pessoas que nela trabalham e estudam. Escola atuando como espaço para “recolhimentos provisórios de menores”. Homogeneização dos alunos. A origem da violência encontra-se dentro da própria escola. A exclusão dos centros decisórios torna os professores "peões" de reformas e projetos pedagógicos efêmeros, impostos de repente, que contribuem mais para desorganização das relações escolares do que para melhoras a qualidade de ensino.
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