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Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Estratégia ancorada na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, iniciando na gestação, considerando-se as vantagens da amamentação para a criança, a mãe, a família e a sociedade, bem como a importância de estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis ALEITAMENTO MATERNO O aleitamento materno tem se constituído em tema fundamental para a saúde e a qualidade de vida da criança. Evidências científicas comprovam que a amamentação, quando praticada de forma exclusiva até os 6 meses e complementada com alimentos apropriados até os 2 anos de idade ou mais, demonstra grande potencial transformador no crescimento, no desenvolvimento e na prevenção de doenças na infância e idade adulta e promoção não apenas da sobrevivência infantil, mas do pleno desenvolvimento do ser humano. As ações, iniciativas e estratégicas do eixo de aleitamento materno e alimentação complementar saudável são: 1. A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (Ihac). 2. Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB). 3. A ação de apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA). AÇÕES, INICIATIVAS E ESTRATÉGIAS As ações, iniciativas e estratégicas do eixo de aleitamento materno e alimentação complementar saudável são: 1. A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH). 2. A implementação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, para Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras (Nbcal). 3. A mobilização social em aleitamento materno. ESTÍMULO AO ALEITAMENTO MATERNO NO PRÉ- NATAL – O PAPEL NA ATENÇÃO BÁSICA A abordagem durante o pré-natal é fundamental para as orientações sobre: 1. Como o leite é produzido; 2. A importância da amamentação precoce; 3. Do contato pele a pele efetivo e do aleitamento na primeira hora de vida, evitando-se a separação mãe e bebê para rotina padronizadas nos serviços que podem ser feitas após a primeira hora de vida; 4. O aleitamento materno sob livre demanda; 5. O papel do alojamento conjunto. A abordagem durante o pré-natal é fundamental para as orientações sobre: 1. Os riscos do uso de chupetas, mamadeiras e qualquer tipo de bico artificial; 2. Orientação quanto ao correto posicionamento da criança e pega da aréola; 3. Como realizar a ordenha manual do leite, como guardá-lo e/ou doá-lo; 4. Como superar dificuldades como o ingurgitamento mamário. São ações que devem ser assumidas pela equipe: 1. Oferecer apoio emocional e estimular a troca de experiências, 2. Dedicar tempo e ouvir as dúvidas, as preocupações e as dificuldades da mulher e fortalecer sua autoconfiança e o protagonismo Beatriz Loureiro da mulher sobre sua capacidade de amamentar desde a gestação, no momento do parto e nascimento para garantir a qualidade do encontro com o bebê para uma interação efetiva, 3. Além de envolver os familiares e a comunidade nesse processo. ESTÍMULO AO ALEITAMENTO MATERNO NO NASCIMENTO – O PAPEL DAS MATERNIDADES 1. A Iniciativa do Hospital Amigo da Criança (OMS/Unicef), propõe os “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1989); 2. A certificação das maternidades na Ihac no Brasil inclui, além do cumprimento dos “Dez Passos”, o cumprimento da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras (Nbcal); 3. O “Cuidado Amigo da Mulher”, e a permanência da mãe ou pai ou, na falta destes, do responsável legal junto ao recém-nascido com livre acesso durante as 24 horas; 4. No cuidado amigo da mulher ressalte-se o parto normal como fator protetor para aleitamento materno, o contato pele a pele efetivo ao nascimento e a proteção do período sensível na primeira hora de vida, sem interferência desnecessária neste momento entre mãe e bebê, com procedimentos que podem ser feitos posteriormente; 5. A garantia do pai/acompanhante de livre escolha da mulher no pré-parto, parto e pós- parto, em consonância com as diretrizes da Rede Cegonha, Portaria n.º 1.459, de 24 de junho 2011. ESTÍMULO AO ALEITAMENTO MATERNO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS (RECÉM-NASCIDOS PRÉ- TERMO E DE BAIXO PESO): O PAPEL DO MÉTODO CANGURU E DOS BANCOS DE LEITE HUMANO 1. A promoção do aleitamento materno para os bebês de baixo peso e/ou pré-termos constitui-se grande desafio e pode ter impacto significativo sobre sua sobrevivência e qualidade de vida; 2. Vários estudos têm demonstrado o impacto positivo do Método Canguru sobre o estabelecimento da amamentação e sua continuidade de forma exclusiva após a alta hospitalar, o que tem grande potencial para a redução da mortalidade nesse grupo; 3. O leite humano pasteurizado no Brasil é seguro e atende, prioritariamente, aos recém- nascidos pré-termos internados em Unidades Neonatais; 4. Essa rede deve ser divulgada na sociedade para ampliação da cultura da doação de leite humano pela população e contribuição para aumento dos índices de aleitamento e de sobrevivência de prematuros no País. Os Bancos de Leite Humano têm cumprido papel fundamental para a promoção, a proteção e o apoio à amamentação, especialmente desses recém-nascidos. Sua principal ação é apoiar as mulheres que desejam amamentar seus filhos e, nesse processo, além de conseguir prolongar a amamentação, muitas descobrem ou aprendem a identificar o excesso de leite e se tornam doadoras, garantindo leite humano para recém- nascidos de risco que, por algum motivo, não dispõem de leite suficiente de suas próprias mães. ESTÍMULO AO ALEITAMENTO MATERNO APÓS A ALTA DA MATERNIDADE Na estratégia do “5º Dia de Saúde Integral”, mãe e bebê devem ser acolhidos, pela equipe da Atenção Básica, entre o 3º e o 5º dia de vida do RN, para atendimento a ambos, com a presença do pai Beatriz Loureiro sempre que possível, com observação da mamada e orientação em relação à amamentação e aos cuidados com a mulher e com a criança. Ressalta- se a importância dessa abordagem precoce considerando que, no primeiro mês de vida, em torno de 40% das crianças já interromperam a amamentação exclusiva. A equipe deve estar atenta para ouvir a mãe, o pai e seus familiares, apoiando-os na resolução dos problemas identificados para o estabelecimento da amamentação. Além disso, avaliar e observar a mamada em todas as ocasiões do encontro de mãe e bebê, além de reforçar as orientações dadas no pré-natal e na maternidade. Essas são ações fundamentais a serem desenvolvidas pelas equipes de saúde nas UBS. Nesse sentido, a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), tem importante papel na capacitação dos profissionais de saúde. As visitas domiciliares, no último mês de gestação e após a alta hospitalar na primeira semana de vida (ou logo após a alta, no caso de egressos de internação em Unidade Neonatal), também constituem ações potentes de vigilância à saúde da mãe e do bebê e de fundamental importância para o incentivo, a orientação e o apoio à amamentação. Saliente-se que a visita ao binômio se faz necessária já na primeira semana, principalmente se estes não compareceram à UBS entre o 3º e o 5º dia de vida, como esperado. PROTEÇÃO LEGAL AO ALEITAMENTO MATERNO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL A instituição de leis e normas é fundamental para a garantia do direito das crianças e suas famílias ao aleitamento materno. Os profissionais, serviços e gestores da Saúde devem estar atentos às recomendações da Convenção dos Direitos da Criança e Estatuto da Criança e do Adolescente, que garantem aos pais o direito de serem orientados corretamente quanto à alimentação saudável e correta de seus filhos. Igualmente, todos devem conhecer e apoiar o cumprimento da legislação vigente quanto ao direito da mãe e RN de não serem separados no pós-parto e durante a internaçãoneonatal, ainda que em UTI. Também o respeito à Constituição Federal que garante às puérperas 120 dias de licença- maternidade, sem prejuízo do emprego e salário e, ainda, o direito da nutriz, quando do retorno ao trabalho, a pausa de uma hora por dia, podendo ser parcelada em duas pausas de meia hora, para amamentar seu próprio filho até os 6 meses de idade. Importante ressaltar a possibilidade de extensão da duração da licença-maternidade em 60 dias e da licença-paternidade em 15 dias, dentro do Programa Empresa Cidadã, bem como outras normas com repercussão na promoção, na proteção e no apoio ao Aleitamento Materno, todas elas previstas no Marco Legal da Primeira Infância. Além dos direitos garantidos pela legislação trabalhista, o recente incentivo à criação de salas de apoio à amamentação nas empresas visa à manutenção da amamentação entre mulheres que retornam ao trabalho após a licença. Por sua vez, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças da Primeira Infância (Nbcal), protegem o aleitamento materno das estratégias abusivas de marketing, usadas pelas indústrias que comercializam produtos que interferem na amamentação. Entre as ações de mobilização da sociedade para a promoção da amamentação destacam-se a Semana Mundial de Aleitamento Materno (Smam) (primeira semana do mês de agosto) – uma iniciativa internacional da Aliança Mundial pela Ação de Amamentar, o Dia Nacional de Doação de Leite Humano (19 de maio) e a Lei do Agosto Dourado (Lei n.º 13.435, de 12 de abril de 2017), que instituiu no Brasil o mês de agosto como o Mês do Aleitamento Materno, são estratégias fundamentais para a expansão e consolidação do aleitamento no País, assim como o acesso dos bebês prematuros e de baixo peso ao leite humano via BLH. Beatriz Loureiro ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR SAUDÁVEL A nutrição adequada e o acesso a alimentos seguros e nutritivos são componentes cruciais e universalmente reconhecidos como direito da criança para atingir os mais altos padrões de saúde, conforme estabelecido na Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, e a Portaria n.º 1.920 de 5 de setembro de 2013. Práticas alimentares inadequadas nos primeiros anos de vida estão relacionadas à morbidade de crianças, caracterizada por doenças infecciosas, afecções respiratórias, cárie dental, desnutrição, excesso de peso e carências específicas de micronutrientes como as de ferro, zinco e vitamina A. A articulação das ações de promoção do aleitamento materno, com aquelas da promoção da alimentação complementar saudável, pode contribuir para reverter esse cenário, diminuindo, respectivamente, em até 13% e 6%, a ocorrência de mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo (JONES et al., 2003). A OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o MS recomendam que a amamentação seja exclusiva nos primeiros 6 meses de vida e complementada até 2 anos de idade ou mais, com a introdução de alimentos sólidos/semissólidos de qualidade e em tempo oportuno. No Brasil, 50% das crianças menores de 2 anos apresentam anemia por deficiência de ferro, e 20% apresentam hipovitaminose A. O País ainda está muito aquém das recomendações da OMS no tocante às práticas alimentares em menores de 1 ano: alta prevalência do uso de água, chás e outros leites nos primeiros meses de vida, consumo de comida salgada entre 3 e 6 meses; consumo de bolachas/salgadinhos, refrigerantes e café entre crianças de 9 e 12 meses de vida (71,7%, 11,6% e 8,7%) demonstram que, além da introdução precoce de alimentos, observa-se consumo de alimentos não recomendados para crianças menores de 2 anos. É importante o cuidado e a atenção dos profissionais de saúde, em especial da Atenção Básica, para o apoio à mãe e à família, atentos às suas necessidades, acolhendo dúvidas, preocupações, dificuldades, mas também valorizando conhecimentos prévios e também os êxitos. A EAAB é recomendada como estratégia para aprimorar as competências e habilidades dos profissionais de saúde para a promoção do aleitamento materno e da alimentação complementar saudável, como atividade de rotina das UBS. O Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos apresenta os “Dez passos para a alimentação saudável”, para orientar os profissionais que assistem a criança No âmbito municipal, devem ser implementadas as ações de Vigilância Alimentar e Nutricional, incluindo avaliação antropométrica, avaliação de consumo alimentar, além da identificação e da priorização do atendimento das famílias e crianças em programas de transferência de renda ou de distribuição de alimentos disponíveis. Por fim, também devem ser priorizados os programas de suplementação preventiva com micronutrientes, organizados na Atenção Básica. Beatriz Loureiro
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