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RELATÓRIO DE ESTÁGIO BÁSICO EM PSICANÁLISE Relatório final de Estágio Básico em Psicanálise do Curso de Psicologia, sob supervisão do Prof. UNINOVE São Paulo 2022 RESUMO O abuso sexual de crianças é um dos tipos mais frequentes de maus-tratos com implicações médicas, legais e psicossociais, sendo assim um desafio em diversas áreas do conhecimento, inclusive da psicologia. Assim, tomando como foco a psicanálise, percebe-se que, por muitas décadas, houve contribuições teóricas e clínicas que colaboraram para o desenvolvimento de habilidades e competências quanto ao manejo dessa demanda no processo terapêutico. Neste trabalho realizaremos uma revisão bibliográfica sobre os principais conceitos da psicanálise e a clínica psicanalítica, formulado por Freud enquanto constructo norteador para a prática clínica. PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise; entrevistas; transferência; abuso sexual; prática psicanalítica. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................4 OBJETIVO...................................................................................................................4 DISCUSSÃO................................................................................................................4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................8 INTRODUÇÃO O presente relatório discute os principais processos de um acompanhamento psicanalítico, adotando principalmente uma concepção freudiana para demarcar os principais conceitos na clínica psicanalítica, perpassando a entrevista inicial e o contrato psicanalítico, as principais concepções de transferência e contratransferência e método de associação livre. Para tanto a conferência deste relatório foi usado como embasamento os estudos de Freud de A Dinâmica da Transferência, de 1912, Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise, de 1916-1917 e Observações sobre o amor transferencial, de 1915 e sustentando esse pensamento com Zimerman em Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – Uma abordagem didática, de 1999 e Etchegoyen com seu livro Fundamentos da técnica psicanalítica, de 1987, além de usar como base os estudos de Calvi sobre A problemática do abuso sexual infantil em psicanálise: o silêncio das mulheres, de 1999. O trabalho de investigação e da consolidação do método psicanalítico se dará a partir de uma problemática escolhida, nesse caso o abuso sexual articulando as suas formas de manifestação na clínica contemporânea e como o trabalho analítico pode diminuir o sofrimento concomitante. Devemos considerar ainda que os efeitos podem tomar diferentes formas, pois depende da história de vida da pessoa e sua constituição de subjetividade. OBJETIVO Desenvolver as habilidades e competências do aluno que envolvam o reconhecimento dos aspectos fundamentais da clínica psicanalítica. Introduzir a reflexão sobre a elasticidade da técnica clássica na clínica contemporânea para determinadas manifestações do sofrimento humano. DISCUSSÃO O que ocorre em primazia é a motivação pela ideia de análise, que pode ocorrer por indicação médica ou sugestão de um amigo e/ou familiar e os motivos são variados; tem alguma queixa específica de algo que o incomoda, busca autoconhecimento ou passou por algum trauma recentemente ou no passado e que causa grande sofrimento psíquico. A problemática que abordarem neste trabalho é o abuso sexual e portanto o conceito de trauma aqui envolvido refere-se a vida de um sujeito que chega na clínica com a queixa de sofrimento causado por este acontecimento com grande intensidade e pela incapacidade do sujeito de lidar adequadamente a essa situação, o transtorno e os efeitos patogênicos duradouros que provocam desorganização psíquica. A demanda para análise, inclusive, surge com a expectativa de que haja retorno imediato e que exista uma receita para todos os problemas que o sujeito está enfrentando (ZIMERMAN, 1999). O mesmo autor ainda fala que na primeira entrevista o analista deve observar a motivação do paciente e se está alinhado ao projeto terapêutico do analista. Ou seja, se o paciente deseja de uma cura rápida para todas suas mazelas e alívio de sintomas sem que ele próprio tenha que se esforçar muito, ou se o paciente reconhece que necessita iniciar uma análise e dá a impressão de que enfrentará seus processos conscientes e, principalmente, inconscientes e estará dispostos a fazer mudanças em sua vida. Na entrevista inicial o analista também pode se dispor a fazer algumas observações, sem obrigatoriedade e que devem ocorrer de forma espontânea, mas que ajudam a marcar como se dará o trabalho terapêutico ao longo do curso, neste caso o analista levará em conta: o tipo de encaminhamento, a aparência exterior, contexto de vida, histórico familiar, o grau de motivação, escolha e estilo das suas relações objetais reais e a forma como o sujeito se comunica. (ZIMERMAN, 1999). Freud (1912) elencou algumas regras técnicas e recomendações aos médicos que praticam a psicanálise, dentre elas: a regra da abstinência, do amor a verdade, da neutralidade, de atenção flutuante e a regra fundamental que se trata da associação livre, cujo qual iremos nos deter mais detalhadamente aqui. Inicialmente as tentativas de tratamento psicanalítico eram pelo método da hipnoterapia, mas a hipnose não trata as resistências e por isso Freud adota o método de associação livre, no qual o analisando permanece no seu estado consciente, onde exprime todas as ideias e pensamentos que lhe ocorrem, podendo ser de forma espontânea ou a partir de um elemento indutor como palavra, imagem, sonho ou afins. Para Zimerman (1999) a regra fundamental do método psicanalítico é a associação livre e cujo qual consiste no compromisso do analisando em associar livremente as ideias que lhe surgem na mente e verbalizá-las ao analista, evitando inibir quaisquer pensamentos, mesmo que estes lhe pareçam sem importância. A aplicação dessa técnica permite o analisando reviver emoções passadas, num momento em que ele está livre para pensar, sentir e até mesmo atuar sem silenciar o que lhe vem à cabeça, seguindo seu ritmo. Laplanche em seu artigo “De la teoría de la seducción restringida a la seducción generalizada” designa como sedução infantil as cenas que podem ser reconstruídas na análise através da fala consciente ou formas inconscientes e dos lapsos de memórias, podendo ser confusas e geralmente serem carregadas de culpa em diferentes momentos da análise. Dessa forma, somando essa regra e as outras o analista pode fazer um levantamento das repressões acumuladas no inconsciente do analisando e assim ter avanço ao longo da análise e tratar os sintomas neuróticos desde a origem. Para o analista, o impacto que a violência tem sobre a pessoa - a violação do corpo para satisfação de outrem - provoca sobre sua subjetividade representações disruptivas sobre si mesma e sobre todas as mulheres e sobre a sexualidade. Essas representações, portanto, determinam a imagem que a pessoa terá de si, de seu corpo, de como essas recordações serão manifestadas, que associações fará e como enxergará os outros (CALVI, 1999). Sobre as representações, é importante esclarecer o conceito de transferência, pois Trata-se de atos constantemente repetidos que indicam de modo inconsciente o curso da “vida erótica” do sujeito. No seu texto Transferência (1912/1963) Freud diz que a transferência é a atualização da realidade do inconsciente. No mesmo texto, entendemos então que a transferência é a repetição da história dos nossos vivências com nossos novos encontros, porém temos a tendência a resistir às contingências inéditas do que é novo. O mecanismo para lidar com isso é através da resistência; infiltrando padrões antigos de afetos, identificações, demandase de modalidades que se formaram a partir da nossa experiência e se apresenta para esse novo alguém e assinala a repetição da neurose. Na clínica a transferência é um punhado de todas as neuroses investidas nessa nova relação do analisando com seu analista. Ao falar de transferência, devemos nos atentar também a contratransferência. O prefixo “contra” da palavra contratransferência pode ser entendido como oposto e/ou paralelo, ou seja, é a reação do analista em relação a transferência do analisando (ETCHEGOYEN, 1987). Em outras palavras, a contratransferência é um conjunto de sentimentos, afetos, associações, fantasias e lapsos que podem ocorrer durante a sessão e que tem grande influência no conteúdo e na forma que o analista irá exercer seu manejo. Focando na nossa problemática, o atendimento de pessoas vítimas de grande trauma psíquico como o abuso sexual, o tratamento pode ser potencialmente uma fonte de sofrimento psíquico também para o psicólogo que atende, pois pode existir a possibilidade de evocar reações fortes no profissional devido a grande carga emocional envolvida e que, portanto, pode influenciar em sua atividade interpretativa. Para isto, é importante que o analista não permaneça isolado, mantenha-se tendo supervisões e discussão com pares, além de o próprio estar em tratamento para autoconhecimento, auto-observação, pois o terapeuta deve compreender e ter empatia com experiências de agressão, sexualidade, raiva e tristeza e se manter confortável ao tratar dessas queixas para ter capacidade de respostas (PEARLMAN, 1995). É de suma importância o profissional ter o contato empático com as pessoas vítimas de algum grande trauma psíquico, ao passo que, consiga preservar sua capacidade de pensar e de sobreviver ao intenso sofrimento despertado. Essas capacidades são fundamentais para o bom desenvolvimento da relação terapêutica, que, por sua vez, é uma das principais ferramentas para a restituição da confiança e segurança interna dos pacientes traumatizados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa revisão integrativa teve como objetivo identificar e analisar as principais técnicas da clínica psicanalítica. O material estudado é de extrema importância para a formação e análise do psicólogo, pois perpassa campos fundamentais da psicanálise e o processo terapêutico como um todo através de um acolhimento empático com o paciente, elaboração de uma aliança terapêutica com uma relação transferencial positiva e, por consequência a criação de um vínculo de confiança que possibilite o analisando desenvolver autodomínio de suas emoções em prol de sua saúde mental A principal característica benéfica para construção desse trabalho foi o conhecimento adquirido e compartilhado perante o período de estágio, onde podemos explorar teoricamente o tema escolhido e sua importância para o processo de formação como psicólogos, compreendendo os parâmetros e vivência que podemos obter ao longo da carreira exercida (EIZIRIK, MARIANA et al, 2006). REFERÊNCIAS CALVI, B. (1999). A problemática do abuso sexual infantil em psicanálise: o silêncio das mulheres. Estilos Da Clínica, 4(6), 64-71. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v4i6p64-71 Eizirik, Mariana et al. Contratransferência e trauma psíquico. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul [online]. 2006, v. 28, n. 3 [Acessado 31 Maio 2022], pp. 314-320. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101-81082006000300010>. Epub 04 Abr 2007. ISSN 0101-8108. https://doi.org/10.1590/S0101-81082006000300010. ETCHEGOYEN, R. H. (1987). Fundamentos da técnica psicanalítica. 2. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. FREUD, S (1912). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. IN: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. FREUD, S (1912). Transferência: Conferências introdutórias sobre Psicanálise. In: Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Imago, 1963. LAPLANCHE, J. (1988). De la teoría de la seducción restringida a la seducción generalizada. Revista Trabajo del Psicoanálisis. Vol. 3, n° 9. LAPLANCHE, J & PONTALIS, J. B. (1983). Vocabulário de psicanálise. 4. Ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 2001. ZIMERMAN, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – Uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007 https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v4i6p64-71 https://doi.org/10.1590/S0101-81082006000300010
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