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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Me. Ana Carolina Caetano Senger GUIA DA DISCIPLINA 2022 1 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE CRIANÇA, PROFESSOR E EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Fazer algumas considerações sobre criança, professor e Educação Infantil. Introdução De início, precisamos saber que O atendimento institucional à criança pequena, no Brasil e no mundo, apresenta ao longo de sua história concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social. Grande parte dessas instituições nasceram com o objetivo de atender exclusivamente às crianças de baixa renda. O uso de creches e de programas pré- escolares como estratégia para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças foi, durante muitos anos, justificativa para a existência de atendimentos de baixo custo, com aplicações orçamentárias insuficientes, escassez de recursos materiais; precariedade de instalações; formação insuficiente de seus profissionais e alta proporção de crianças por adulto. (BRASIL, p. 16, 1998) No princípio, o atendimento era direcionado só para famílias pobres, principalmente no caso das instituições de educação infantil, financiadas ou mantidas pelo poder público. Portanto, Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas. (BRASIL, p. 16, 1998) Disponível em: http://www.avisala.org.br/index.php/assunto/espaco-educativo/parece-magica-mas-nao-e/ Acesso em: 04 jan. 2022. http://www.avisala.org.br/index.php/assunto/espaco-educativo/parece-magica-mas-nao-e/ 2 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nos anos 80 tivemos um momento de transformação na concepção dos serviços oferecidos nas creches. Foram muitos os fatores que contribuíram para essas mudanças, entre eles citamos: • o desenvolvimento urbano brasileiro, • as reivindicações populares, principalmente das mães trabalhadoras, • o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e • o entendimento de que para as crianças se desenvolverem de forma plena é necessário oferecer-lhes condições que atendam às necessidades específicas de sua faixa etária. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, afirma que O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; [...] IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; O fato de a educação estar incluída no capítulo da educação, mostra que tanto o estado, quanto a sociedade brasileira, reconhecem a necessidade das instituições de educação infantil terem caráter educacional, para assim favorecer o pleno desenvolvimento das crianças. Em 1990, a Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e dá outras providências. Em seu Art. 54, afirma que “É dever do Estado assegurar à criança [...] atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade;” E com a Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96, em seu Art. 29, estabelece que “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” 3 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.1. A criança e a Educação Infanti A concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente, vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. Essa dualidade revela a contradição e conflito de uma sociedade que não resolveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano. (BRASIL, p. 20, 1998) Não podemos esquecer que a criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É marcada, portanto, pelo meio social em que se desenvolve. A família, sendo ela biológica ou não, também é um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. Disponível em: https://i.pinimg.com/236x/e8/cc/e8/e8cce8edb708457389ad10ff9e70133e.jpg Acesso em: 04 jan. 2022. Nessa perspectiva, as crianças constroem o seu conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio que a rodeia. Por isso que compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. https://i.pinimg.com/236x/e8/cc/e8/e8cce8edb708457389ad10ff9e70133e.jpg 4 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.2 O professor e a Educação Infantil Ao longo da história, é possível perceber que o professor que atua com crianças pequenas nem sempre foi valorizado e preparado. Embora não existam informações abrangentes sobre os profissionais que atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-escolas do país, vários estudos têm mostrado que muitos destes profissionais ainda não têm formação adequada, recebem remuneração baixa e trabalham sob condições bastante precárias. Se na pré-escola, constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela de profissionais considerados leigos, nas creches ainda é significativo o número de profissionais sem formação escolar mínima cuja denominação é variada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem, monitor, recreacionista etc. (BRASIL, p. 40, 1998) Atualmente, a LDB dispõe, no título VI, art. 62 que: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (BRASIL, 1996) Uma pesquisa recente feita sobre a formação de docentes no Brasil constatou que faltam professores na Educação Infantil brasileira. Segundo o estudo, para universalizar a Educação Infantil até 2030, estima-se que serão necessários mais 9,3 milhões de professores. Globalmente, há 175 milhões de crianças excluídas, metade da população que deveria estar na creche ou pré-escola, aponta o relatório global do Unicef sobre creches e pré-escolas, A World READY to LEARN. Focado na importância da etapa para a aprendizagem e na desigualdadede acesso e qualidade, o texto deixa claro que, apesar dos avanços, há um longo caminho até 2030, data limite para incluir todos os meninos e meninas em idade adequada. Unicef também pede que os países considerem a importância e canalizem 10% do orçamento da Educação para a etapa (hoje a média é de 6,6%, com desigualdade entre nações pobres e ricas). Por fim, além de garantir o acesso, é preciso melhorar a qualidade do ensino ofertado para crianças de 0 a 5 anos, o que passa pela atração de mais profissionais para a área, investimento em salários e formação dos professores. (NOVAESCOLA, 2019) A pesquisa constatou que em países ricos, há uma média de 14 crianças por docente, ao passo que em países de média e baixa renda como o Brasil, o número é de 34 crianças por docente. O estudo apurou que se todas as crianças estivessem devidamente matriculadas, o número de alunos por professor subiria para 216. 5 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Há 9 milhões de professores de Educação Infantil no mundo, mas só 422 mil (4,7%) atuam em países de baixa renda. O estudo mostra como está a formação dos docentes e a evolução das matrículas nas escolas de educação infantil brasileiras: (NOVAESCOLA, 2019): • Para bebês e crianças bem pequenas, 35,6% dos educadores brasileiros não têm Ensino Superior; só 89 pessoas fizeram doutorado: 56 no Sudeste e 6 no Nordeste. • Para crianças pequenas, 33% dos educadores brasileiros não têm Ensino Superior; 132 pessoas fizeram doutorado. • 8,7 milhões é o total de alunos matriculados na Educação Infantil em 2018. O número cresceu 11,1% desde 2014. • 589,9 mil é o total de docentes que atuam na Educação Infantil em 2018. O número cresceu 17,4% desde 2014. Esses números indicam que a Educação Infantil brasileira necessita de mais profissionais que atuem junto a esta faixa etária. Com a expansão da oferta na educação infantil, a demanda por professores qualificados também aumenta. Por isso, o Ministério da Educação tem intensificado as ações de formação de docentes para atuar nessa etapa da educação básica. A legislação deixa claro que o trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. (BRASIL, p. 41, 1998) Assim, vemos que é preciso termos professores que estejam comprometidos com a prática educacional, capazes de responder às demandas familiares e das crianças, assim como às questões específicas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis. 6 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A educação constitui-se como uma das políticas para a primeira infância, que tanto a sociedade civil quanto o Estado devem assumir. Ofertar educação infantil de qualidade é um dos caminhos para construir, cotidianamente, um mundo melhor. 7 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. PLANEJAMENTO E EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Conhecer a importância do planejamento na educação infantil. Introdução Planejar é antecipar mentalmente uma ação, ou conjunto de ações, a ser(em) realizada(s) e agir conforme o planejado. É se comprometer com a concretização daquilo que foi elaborado, prevendo o desenvolvimento dessa ação no tempo, no espaço, as condições materiais e a disposição para que aconteça. Para Vasconcellos (2007, p.80) “Planejamento é o processo, contínuo e dinâmico, de reflexão, tomada de decisão, colocação em prática e acompanhamento”. Em instituições escolares, o projeto político-pedagógico se configura como o planejamento mais amplo, elaborado coletivamente, define concepções e intenções, objetivos e metas para o ano, aprendizagens que se quer promover. Outros planejamentos estão presentes no âmbito escolar, tais como, o de gestão, o de acompanhamento do trabalho pedagógico, o de formação continuada dos profissionais e o planejamento docente. (GOIÁS, 2020) 2.1 Planejamento e a BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017 pelo Conselho Nacional de Educação, reafirma concepções, princípios e eixos para Educação Infantil, já estabelecidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009), tais como, a concepção de criança como sujeito ativo, que constrói seus saberes ao interagir com o mundo físico e sociocultural e os eixos, interações e brincadeira, que sustentam a prática pedagógica. (GOIÁS, 2020) 8 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nessa perspectiva, de reafirmar o que está nas DCNEI (BRASIL, 2009) e apresentar novos aspectos para o trabalho pedagógico na Educação Infantil, a BNCC (BRASIL, 2017) traz como inovação o arranjo curricular estruturado em: • seis direitos de aprendizagens e desenvolvimento como os modos próprios das crianças aprenderem e se desenvolverem; • cinco campos de experiências como forma de organizar o currículo, enquanto conhecimentos, práticas sociais, linguagens que as crianças têm o direito de se apropriarem a partir de experiências cotidianas; • objetivos de aprendizagens e desenvolvimento organizados por campo de experiências e por grupos por faixas etárias (bebês de 0 a 1 ano e seis meses; crianças bem pequenas de 1 ano e sete meses a 3 anos e 11 meses; crianças pequenas de 4 anos a 5 anos e 11 meses) que auxiliam o professor a identificar as aprendizagens essenciais que as crianças têm o direito de se apropriarem ao longo da Educação Infantil, materializando o currículo organizado por direitos e por campos de experiências. Essa inovação proposta pela BNCC pressupõe uma ruptura com práticas, ora escolarizantes, ora assistencialistas. Exige um trabalho pedagógico intencional para elaborar um planejamento permeado por reflexões e escolhas baseadas na escuta das crianças e em conhecimentos pedagógicos, tendo a criança como centro do planejamento curricular. Para promover as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, nos cabe pensar propostas de organização de espaços, tempos, materiais e interações, bem como formas de mediações das relações com e entre as crianças e de acompanhamento das práticas pedagógicas desenvolvidas. Assim, é imprescindível planejar atividades com significado, nas quais as crianças possam estabelecer relações, dar sentido ao que vivenciam, experimentar possibilidades e serem protagonistas da ação. (GOIÁS, 2020) Na BNCC (2017), a intencionalidade educativa é definida como: organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas 9 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontrocom as pessoas (BRASIL, 2017, p.39). A intencionalidade educativa deve estar presente em todos os momentos da jornada na instituição, sendo em período parcial ou integral, desde a chegada da criança até o momento da despedida. Dessa forma, o presente documento nos oferece elementos, orientações e reflexões para, ao elaborar o plano diário, podermos: • decidir sobre a estruturação do contexto de aprendizagens, no que se refere aos espaços, aos tempos, aos materiais, às transições, as formas de organização das crianças e as mediações; • criar possibilidades para que todas as crianças desenvolvam a auto- organização; • promover contextos de aprendizagens significativos, interessantes e desafiadores que ampliem, diversifiquem e complexifiquem as experiências e os conhecimentos de mundo das crianças. Portanto, nos cabe conhecer, acompanhar e potencializar os processos de aprendizagens das crianças, tanto na constituição do grupo quanto nas suas individualidades para em nossos planos diários propor ações que ampliem as experiências infantis, possibilitando a elas a apropriação de conhecimentos de diferentes naturezas e, firmando assim, um compromisso com suas aprendizagens e seu desenvolvimento. (GOIÁS, 2020) 2.1. Planejamento e a criança Uma instituição que atende Educação Infantil deve conceber a criança como centro do planejamento curricular e desenvolver as ações pedagógicas a partir das manifestações das crianças em diferentes contextos e espaços de aprendizagens, com a finalidade de identificar suas necessidades, potencialidades, curiosidades e interesses, e articular tudo isso com os conhecimentos do patrimônio da humanidade historicamente produzidos, aos quais as crianças têm direito a se apropriarem. (GOIÁS, 2020) No que refere ao planejamento do professor é preciso, portanto, deixar de pensar apenas em qual atividade vamos propor, para pensar primeiro em quem são as crianças, quais são os seus contextos, do que elas precisam, individual e coletivamente. Dessa forma, pensamos o planejamento com foco nas necessidades, nos interesses, nas 10 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância potencialidades, nas curiosidades e nos processos de aprendizagens e desenvolvimento das crianças. Portanto, ao planejar, o docente deve se perguntar: • de qual criança estamos falando? • tem alguma deficiência ou transtorno? • como ela aprende, pensa e age no mundo? • quais conhecimentos, práticas sociais e linguagens devem ser trabalhadas com a criança? • como trabalhar a partir das suas potencialidades? As DCNEI, em seu Artigo 4º, definem a criança como sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009). A criança é curiosa, chega num mundo onde tudo é novidade e quer entender o que acontece em seu entorno. A instituição escolar é um espaço de novidades e é nosso papel elaborar, criar e/ou promover formas de efetivamente ampliar seu repertório cultural, intelectual, físico, emocional e afetivo. (GOIÁS, 2020) O planejamento docente deve ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e se estruturar a partir das formas próprias da criança pensar e agir no mundo, expressas nos seis direitos de aprendizagens e desenvolvimento - brincar, explorar, expressar, conviver, participar e conhecer-se. É preciso considerar que: • os direitos de aprendizagens e desenvolvimento devem ser garantidos no cotidiano da instituição escolar, por se constituírem também em estratégias metodológicas; • as ações da criança - o que diz, faz, cria, constrói, o que a deixa curiosa, alegre, aborrecida, triste, irritada, com quem brinca, onde brinca e com quais materiais, dentre outras - devem orientar as escolhas que faremos e registraremos no plano diário; • as observações diárias das ações da criança devem ser transformadas em estratégias metodológicas que dialoguem com os campos de experiências e os respectivos objetivos de aprendizagens e desenvolvimento; • a capacidade da criança de observar, refletir, problematizar, investigar, comparar, contrapor, fazer elaborações, proposições e tirar conclusões mesmo que sejam provisórias, incompletas, deve ser desenvolvida nas atividades diárias; 11 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • o plano diário deve prever momentos em que bebês, crianças bem pequenas e pequenas demonstrem o que fizeram, conversem umas com as outras, troquem ideias, planejem e executem juntas alguma ação, ensinem algo umas para as outras, apliquem algo que aprenderam, façam escolhas, convivam com a diversidade racial, étnica, de cor, de gênero e de opção religiosa, enfim, realizem ações significativas. (GOIÁS, p. 12, 2020) Assim, a criança aprende articulando as suas experiências e saberes com os conhecimentos que foram sistematizados pela humanidade aos quais ela tem a possibilidade de conhecer e vivenciar em contextos variados e mediados por um outro mais experiente. As experiências e saberes estão relacionados com a atribuição de sentido e significado pela criança à medida que interage e explora novas situações, materiais, contextos, fazendo descobertas que lhes auxiliam a compreender a si mesma e o funcionamento do mundo. (GOIÁS, 2020) Um planejamento que tem a centralidade na criança pressupõe um professor que consiga identificar os saberes, os interesses, as potencialidades, as necessidades, os gostos e os ritmos de seu desenvolvimento. Portanto, no registro do plano diário é importante ficarmos atento às seguintes indagações: • o(s) objetivo(s) estabelecidos tem como foco o que sabemos sobre a criança e o que precisamos garantir a ela? • os verbos que prevalecem no plano diário, estão relacionados aos direitos de aprendizagens e desenvolvimento? • os conceitos, saberes, temáticas e assuntos relacionados aos campos de experiências, propostos no plano diário, articulam às vivências das crianças aos conhecimentos de diferentes naturezas? • os materiais são organizados de forma que as crianças tenham acesso a eles com autonomia? • a utilização dos espaços promove a diversificação das experiências das crianças? • o tempo previsto permite a articulação entre os ritmos individuais das crianças e os da instituição? (GOIÁS, p. 13, 2020) A construção e apropriação de conhecimentos pelas crianças, como abordado anteriormente, se dá na sua participação efetiva em práticas sociais, nas quais interagem com diferentes parceiros, adultos e crianças, em contextos variados. 12 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.2. Tipos de planejamento Nas escolas de educação infantil brasileiras encontramos algumas formas de planejamento de trabalho pedagógico que são mais usuais: • planejamento baseado em listagem de atividades, • planejamento por datas comemorativas, • planejamento baseado em áreas de desenvolvimento, • planejamento baseado em temas (tema integrador, tema gerador, centros de interesse, unidades de experiência), • planejamento baseado em campos de experiência. 2.3.1. Planejamento baseado em listagem de atividades Nesse tipo de planejamento o professor busca organizar vários tipos de atividades que entremeiam os momentos da rotina fixa tais como: higiene, alimentação, sono, etc.; demonstrado uma preocupação do professor em preencher o tempo que as crianças se encontram na escola com atividades pedagógicas. O professor faz um planejamento diário contendo uma lista das atividades para as criançasdesenvolverem ao logo do dia; por exemplo: Segunda-feira: contar história, atividade com massinha de modelar, roda de conversa, etc. Terça-feira: jogos, músicas com gestos, confecção de dobraduras, etc. Nesse planejamento o professor repete à dinâmica de atividades sucessivamente, preenchendo as semanas e meses com afazeres muitas vezes repetitivos. Segundo Khulmann (2012) no planejamento baseado em listagem de atividade ainda tem base assistencialista e muitas vezes é de baixa qualidade, já que a crianças é vista como passiva e sem particularidades ou necessidades específicas e que espera pelo apoio do adulto para desenvolver algumas atividades, que são planejadas de acordo com o tempo e não com o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. 2.3.2. Planejamento por datas comemorativas Nessa proposta de planejamento as atividades são orientadas pelas datas comemorativas de cada mês do ano, ou seja, as datas consideradas mais importantes no calendário do país. O planejamento do professor, nessa proposta de trabalho também é feita uma lista de atividades diárias. A lista de atividades está relacionada a uma data 13 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância específica, a uma comemoração, como por exemplo: o carnaval, o dia das mães e dos pais, a Páscoa, etc. O trabalho com datas comemorativas é marcado pela fragmentação do conhecimento e por exercitar por pouco tempo o tema escolhido, geralmente por uma semana; os conhecimentos são passados de forma superficial e pouco crítica. Ao final de uma semana ou quinze dias, uma nova data passa a ser o foco das atividades propostas pelo professor. As atividades propostas usualmente se repetem ano após ano, não havendo reflexão por parte do professor ou dos alunos, mantendo-se rotineira e pouco criativa, ou seja, ano após anos se comemoram as mesmas datas e a escola de educação infantil repete as atividades quase como um ritual. 2.3.3. Planejamento baseado em áreas de desenvolvimento Essa proposta tem como ponto central os aspectos do desenvolvimento infantil, é ele que norteará o trabalho dos professores. As atividades estão pautas nos aspectos do desenvolvimento físico, motor, cognitivo, afetivo e social das crianças e buscam favorecer o seu desenvolvimento. O planejamento, nessa tendência, tem o desenvolvimento psicossocial das crianças como foco das atividades e procura estimulá-lo. Essa proposta dá pouca importância aos conhecimentos a serem desenvolvidos ou à aprendizagem dos alunos. Essa perspectiva minimiza as diferenças e necessidades individuais e os fatores socioculturais que, na proposta de educação infantil brasileira, devem ser os norteadores do trabalho pedagógico desenvolvido nas instituições de educação infantil. 2.3.4. Planejamento baseado em temas (tema integrador, tema gerador, centros de interesse, unidades de experiência) Esse tipo de proposta de planejamento do trabalho docente se baseia nos interesses, necessidades e perguntas dos alunos. O tema escolhido pelo professor deve ser fruto da sugestão e interesses dos alunos ou de situações significativas que surgem no cotidiano escolar, esses irão norteiam o planejamento e direcionar o trabalho pedagógico a ser desenvolvido. 14 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O tema a ser trabalhado serve como um fio condutor, que articula os conhecimentos e as atividades desenvolvidas pelo professor e seus alunos. Dessa maneira, o trabalho docente é conduzido por aspectos que fazem parte do cotidiano e dos interesses do alunado e são eles que delimitam dos conteúdos mais significativos para sua aprendizagem. Apesar da proposta baseada por tema parecer mais voltada para o interesse dos alunos e, consequentemente, mais significativa para a aprendizagem dos mesmos, se o professor não for atento e reflexivo, mais uma vez, poderá ficar preso a simplesmente fazer uma listagem das atividades que se repetem mecanicamente e que não articulam efetivamente os conteúdos ensinados e a aprendizagem do aluno. Segundo Kramer (2007), o planejamento e desenvolvimento do trabalho pedagógico com tema gerador exige pesquisa a livros, gravuras, histórias, músicas, etc. é necessário também sair frequente mente da escola com as crianças para realizar visitas, passeios, estudo do meio, o que permite que o alunado observe e vivencie situações diretamente ligadas ao tema trabalhado. 2.3.5. Planejamento baseado em campos de experiência Essa proposta de planejamento do trabalho docente traz a necessidade de se transformar definitivamente as instituições de educação infantil em escolas, rompendo com a visão assistencialista. Como determinam as DCNEI e a BNCC, o planejamento deve contribuir para transmitir os conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela humanidade, pois dessa maneira estaríamos contribuindo para o pleno desenvolvimento do alunado e seu amplo aprendizado. Servindo também como uma forma de articulação com as fases posteriores da escolaridade, em especial com o ensino fundamental. 15 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. ACOLHIMENTO E ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Discutir as principais características no processo de acolhimento e adaptação das crianças na educação infantil. Introdução O ingresso das crianças nas instituições pode criar ansiedade tanto para elas e para seus pais como para os professores. As reações podem variar muito, tanto em relação às manifestações emocionais quanto ao tempo necessário para se efetivar o processo. Ao ingressar na escola, algumas crianças podem apresentar comportamentos diferentes daqueles que normalmente revelam em seu ambiente familiar, tais como: • alterações de apetite; • retorno às fases anteriores do desenvolvimento (voltar a urinar ou evacuar na roupa, por exemplo). • podem, também, adoecer; • isolar-se dos demais; • criar dependência de um brinquedo, da chupeta ou de um paninho. Disponível em: https://blog.brandili.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Captura-de-Tela-2014-06-22- %C3%A0s-23.07.20-590x260.png Acesso em: 06 jan. 2022. https://blog.brandili.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Captura-de-Tela-2014-06-22-%C3%A0s-23.07.20-590x260.png https://blog.brandili.com.br/wp-content/uploads/2016/11/Captura-de-Tela-2014-06-22-%C3%A0s-23.07.20-590x260.png 16 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As instituições de educação infantil devem ter flexibilidade diante dessas singularidades ajudando os pais e as crianças nestes momentos. A entrevista de matrícula pode ser usada para apresentar informações sobre o atendimento oferecido, os objetivos do trabalho, a concepção de educação adotada. Esta é uma boa oportunidade também para que se conheça alguns hábitos das crianças e para que o professor estabeleça um primeiro contato com as famílias. (BRASIL, 1998) Quanto mais novo o bebê, maior a ligação entre mãe e filho. Assim, não é apenas a criança que passa pela adaptação, mas também a mãe. Dependendo da família e da criança, outros membros como o pai, irmãos, avós poderão estar envolvidos no processo de adaptação à instituição. A maneira como a família vê a entrada da criança na instituição de educação infantil tem uma influência marcante nas reações e emoções da criança durante o processo inicial. Acolher os pais com suas dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e tranquilidade, contribui para que a criança também se sinta menos insegura nos primeiros dias na instituição. Reconhecer que os pais são as pessoas que maisconhecem as crianças e que entendem muito sobre como cuidá-las pode facilitar o relacionamento. (BRASIL, p. 79, 1998) Antes de tudo, é preciso estabelecer uma relação de confiança com as famílias, deixando claro que o objetivo é a parceria de cuidados e educação, visando ao bem-estar da criança. Quando há um certo número de crianças para ingressar na instituição, pode-se fazer uma reunião com todos os pais novos para que se conheçam e discutam conjuntamente suas dúvidas e preocupações. 3.1 Os primeiros dias na instituição escolar No primeiro dia da criança na instituição, a atenção do professor deve estar voltada para ela de maneira especial. Este dia deve ser muito bem planejado para que a criança possa ser bem acolhida. É recomendável receber poucas crianças por vez para que se possa atendê-las de forma individualizada. (BRASIL, 1998) 17 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em: https://noeh.com.br/wp-content/uploads/2020/01/creche-696x391-1.jpg Acesso em: 06 jan. 2022. Com os bebês, o principal cuidado será preparar o seu lugar no ambiente, o seu berço, identificá-lo com o nome, providenciar os alimentos que irá receber, e principalmente tranquilizar os pais. A permanência na instituição de alguns objetos de transição, como a chupeta, a fralda que ele usa para cheirar, um mordedor, ou mesmo o bico da mamadeira a que ele está acostumado, ajudará neste processo. Pode-se mesmo solicitar que a mãe ou responsável pela criança venha, alguns dias antes, ajudar a preparar o berço de seu bebê. Quando a criança for ficar em período integral, é aconselhável que se crie um processo gradual de inserção, ampliando o tempo de permanência de maneira que a criança vá se familiarizando aos poucos com o professor, com o espaço, com a rotina e com as outras crianças com as quais irá conviver. É importante que se solicite, nos primeiros dias, e até quando se fizer necessário, a presença da mãe ou do pai ou de alguém conhecido da criança para que ela possa enfrentar o ambiente estranho junto de alguém com quem se sinta segura. Quando tiver estabelecido um vínculo afetivo com o professor e com as outras crianças, é que ela poderá enfrentar bem a separação, sendo capaz de se despedir da pessoa querida, com segurança e desprendimento. (BRASIL, p. 82, 1998) Este momento exige muita habilidade, por isso, o professor necessita de apoio e acompanhamento, especialmente do gestor e membros da equipe técnica, uma vez que ele também está sofrendo um processo de adaptação. Os professores precisam ter claro qual é o papel da mãe (ou de quem estiver acompanhando a criança) em seus primeiros dias na instituição. https://noeh.com.br/wp-content/uploads/2020/01/creche-696x391-1.jpg 18 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os pais podem encontrar dificuldades de tempo para viver este processo por não poderem se ausentar muitos dias no trabalho. Neste caso, seria importante que pudessem estar presentes, ao menos no primeiro dia, e que depois pudessem ser substituídos por alguém da confiança da criança. Disponível em https://soumamae.com.br/wp-content/uploads/2020/02/menina-chorando-antes-da-creche- dicas.jpg?auto=webp&quality=45&width=1920&crop=16:9,smart,safe Acesso em: 06 jan. 2022. O choro da criança, durante o processo de inserção, parece ser o fator que mais provoca ansiedade tanto nos pais quanto nos professores. Mas parece haver, também, uma crença de que o choro é inevitável e que a criança acabará se acostumando, vencida pelo esgotamento físico ou emocional, parando de chorar. Alguns acreditam que, se derem muita atenção e as pegarem no colo, as crianças se tornarão manhosas, deixando-as chorar. Essa experiência deve ser evitada. Deve ser dada uma atenção especial às crianças, nesses momentos de choro, pegando no colo ou sugerindo-lhes atividades interessantes. (BRASIL, p. 82, 1998) O professor pode planejar a melhor forma de organizar o ambiente nestes primeiros dias, levando em consideração os gostos e preferências das crianças, repensando a rotina em função de sua chegada e oferecendo-lhes atividades atrativas. Ambientes organizados com material de pintura, desenho e modelagem, brinquedos de casinha, baldes, pás, areia e água etc., são boas estratégias. 3.1. Remanejamento de turmas e de professores Em muitos momentos, o remanejamento das crianças para outras turmas parece inevitável, principalmente em função da grande demanda por vagas. Havendo realmente necessidade de enfrentar esta situação, todo cuidado é pouco. https://soumamae.com.br/wp-content/uploads/2020/02/menina-chorando-antes-da-creche-dicas.jpg?auto=webp&quality=45&width=1920&crop=16:9,smart,safe https://soumamae.com.br/wp-content/uploads/2020/02/menina-chorando-antes-da-creche-dicas.jpg?auto=webp&quality=45&width=1920&crop=16:9,smart,safe 19 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As crianças pequenas, em especial as de zero a dois anos, constroem, por meio do vínculo afetivo com o adulto de referência, a base sobre a qual vão se sentir seguras para explorar o ambiente e para se relacionar com novas pessoas. A integração à nova turma precisa ser gradativa, envolvendo o adulto com a qual estão acostumadas. (BRASIL, p. 83, 1998) Em outras situações, há necessidade do professor ser remanejado para outra classe. Considerando-se a importância dos vínculos estabelecidos com os adultos nessa faixa etária, a substituição dos professores deve ser pensada e planejada com atenção e antecedência, preparando as crianças para essa situação. Infelizmente, em muitas instituições, a rotatividade de adultos é uma realidade. Quando isso ocorre, é bom que esta transição seja feita paulatinamente, com o professor antigo cedendo gradativamente o lugar para o novo. 3.2. Transição para o Ensino Fundamental A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental é um momento delicado. Com a saída das crianças, as famílias enfrentam novamente grandes mudanças. “A passagem da educação infantil para o ensino fundamental representa um marco significativo para a criança podendo criar ansiedades e inseguranças.” (BRASIL, p. 84, 1998) O professor de educação infantil deve considerar esse fato desde o início do ano, estando disponível e atento para as questões e atitudes que as crianças possam manifestar. Tais preocupações podem ser aproveitadas para: • a realização de projetos que envolvam visitas a escolas de ensino fundamental; • entrevistas com professores e alunos; • programar um dia de permanência em uma classe de primeiro ano. É interessante fazer um ritual de despedida, marcando para as crianças este momento de passagem com um evento significativo. Essas ações ajudam a desenvolver uma disposição positiva frente às futuras mudanças demonstrando que, apesar das perdas, há também crescimento. 20 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. EDUCAÇÃO INFANTIL E FAMÍLIA Objetivo Discutir os principais aspectos envolvidos na parceria entre instituição educacional de educação infantil e família. Introdução Cabe a instituição de educação infantil receber as crianças respeitando suas singularidades, proporcionando um ambiente acolhedor e seguro, tanto para as crianças, como para seus pais. É de grande relevância que as escolas desenvolvam uma parceria com a família e que todos possam trabalhar juntos para criar os vínculos necessários entre os professores e as crianças. 4.1 Parceria entre escola e família As características da faixa etária das crianças atendidas na Educação Infantil, bem como asnecessidades atuais de construção de uma sociedade mais democrática e pluralista apontam para a importância de uma atenção especial com a relação entre as instituições e as famílias. Disponível em https://pensaraeducacao.com.br/rbeducacaobasica/wp- content/uploads/sites/5/2017/02/Daniel-o-que-a-familia-espera-da-escola-2-e1486753627483.jpg Acesso em: 06 jan. 2022. https://pensaraeducacao.com.br/rbeducacaobasica/wp-content/uploads/sites/5/2017/02/Daniel-o-que-a-familia-espera-da-escola-2-e1486753627483.jpg https://pensaraeducacao.com.br/rbeducacaobasica/wp-content/uploads/sites/5/2017/02/Daniel-o-que-a-familia-espera-da-escola-2-e1486753627483.jpg 21 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Constata-se em muitas instituições que estas relações têm sido conflituosas, baseadas numa concepção equivocada de que as famílias dificultam o processo de socialização e de aprendizagem das crianças. No caso das famílias de baixa renda, por serem consideradas como portadoras de carências de toda ordem. No caso das famílias de maior poder aquisitivo, a crítica incide na relação afetiva estabelecida com as crianças. (BRASIL, 1998) Esta concepção traduz um preconceito que gera ações discriminatórias, impedindo o diálogo. Muitas instituições que agem em função deste tipo de preconceito têm procurado implantar programas que visam a instruir as famílias sobre como educar e criar seus filhos dentro de um padrão preestabelecido e considerado adequado. “Essa ação, em geral moralizadora, tem por base o modelo de família idealizada e tem sido responsável muito mais por um afastamento das duas instituições do que por um trabalho conjunto em prol da educação das crianças.” (BRASIL, p. 75, 1998) Visões mais atualizadas sobre a instituição familiar propõem que se rejeite a ideia de que exista um único modelo. Enfoques teóricos mais recentes procuram entender a família como uma criação humana mutável, sujeita a determinações culturais e históricas que se constitui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança como em campo de conflitos, lutas e disputa. A valorização e o conhecimento das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que compõem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes indicam que, novos caminhos devem ser trilhados na relação entre as instituições de educação infantil e as famílias. 4.1. Pluralidade das estruturas familiares Constate-se que as famílias independentemente da classe social a qual pertencem se organizam das mais diversas maneiras. “Além da família nuclear que é constituída pelo pai, mãe e filhos, proliferam hoje as famílias monoparentais, nas quais apenas a mãe ou o pai está presente.” (BRASIL, p. 76, 1998) 22 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em https://franzoni.adv.br/wp-content/uploads/2017/08/fam%C3%ADlias.png Acesso em: 06 jan. 2022. Existem, ainda, as famílias que se reconstituíram por meio de novos casamentos e possuem filhos advindos dessas relações. Há, também, as famílias extensas, comuns na história brasileira, nas quais convivem na mesma casa várias gerações e/ou pessoas ligadas por parentescos diversos. É possível ainda encontrar várias famílias coabitando em uma mesma casa. Enfim, parece não haver limites para os arranjos familiares na atualidade. As crianças têm direito de ser criadas e educadas no seio de suas famílias. O Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma, em seus termos, que a família é a primeira instituição social responsável pela efetivação dos direitos básicos das crianças. “Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.” (BRASIL, 1990) Cabe, portanto, às instituições estabelecerem um diálogo aberto com as famílias, considerando-as como parceiras e interlocutoras no processo educativo infantil. A pluralidade cultural, isto é, a diversidade de etnias, crenças, costumes, valores etc. que caracterizam a população brasileira marca, também, as instituições de educação infantil. O trabalho com a diversidade e o convívio com a diferença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para o professor quanto para a criança. Isto porque permite a conscientização de que a realidade de cada um é apenas parte de um universo maior que oferece múltiplas escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às diferentes expressões e manifestações das crianças e suas famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não implicando a adesão incondicional aos https://franzoni.adv.br/wp-content/uploads/2017/08/fam%C3%ADlias.png 23 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância valores do outro. Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto repertório que se constitui em material rico e farto para o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença, a não discriminação e as atitudes não preconceituosas. (BRASIL, p. 77, 1998) Estas capacidades são necessárias para o desenvolvimento de uma postura ética nas relações humanas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil, por intermédio de seus profissionais, devem desenvolver a capacidade de ouvir, observar e aprender com as famílias. Acolher as diferentes culturas não pode se limitar às comemorações festivas, a eventuais apresentações de danças típicas ou à experimentação de pratos regionais. Estas iniciativas são interessantes e desejáveis, mas não são suficientes para lidar com a diversidade de valores e crenças. Compreender o que acontece com as famílias, entender seus valores ligados a procedimentos disciplinares, a hábitos de higiene, a formas de se relacionar com as pessoas etc. pode auxiliar a construção conjunta de ações. (BRASIL, 1998) De maneira geral, as instituições de educação devem servir de apoio real e efetivo às crianças e suas famílias, respondendo às suas demandas e necessidades. Evitar julgamentos moralistas, pessoais ou vinculados a preconceitos é condição para o estabelecimento de uma base para o diálogo. 4.2. Interação escola e família Existem diversas formas de incluir as famílias no projeto institucional. Há experiências interessantes de criação de conselhos e associações de pais que são canais abertos de participação na gestão das unidades educacionais. A comunicação mais individualizada entre as famílias e as instituições de educação infantil deve ocorrer desde o início de forma planejada. Após os primeiros contatos, a comunicação entre as famílias e os professores pode se tornar uma rotina mais informal, mas bastante ativa. (BRASIL, p. 78, 1998) Entrar todos os dias até a sala onde sua criança está, trocar algumas palavras com o professor pode ser um fator de tranquilidade para muitos pais. Quanto menor a criança, mais importante essa troca de informações. Este contato direto não deve ser substituído por comunicações impessoais, escritas de maneira burocrática. 24 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Oportunidades de encontros periódicos com os pais de um mesmo grupo por meio de reuniões, ou mesmo contatos individuais fazem parte do cotidiano das instituições de educação infantil. Em geral a troca de informações é diária com as famílias, principalmente quando há cuidados especiais que a criança esteja necessitando. Assim, para que o professor não fique sobrecarregado pela necessidade de dar atenção às famílias e crianças ao mesmo tempo, o planejamento deste momento — em conjunto com os paise a ajuda de outros funcionários — é fundamental para o relacionamento de todos os envolvidos. É preciso combinar formas de comunicação para trocas específicas de informações, como uso de medicamentos, que precisam ser dados em doses precisas, de acordo com receita do médico, ou eventos ligados à saúde e alimentação. Isso evita esquecimentos que podem ser prejudiciais para a saúde da criança e facilita a vida do professor e da família. (BRASIL, p. 78, 1998) Com as famílias de crianças maiores, a comunicação é de natureza diferente. As informações entre as famílias e a instituição podem ser mais esporádicas, ocorrendo somente à medida das necessidades. As reuniões para discussão sobre o andamento dos trabalhos com as crianças são sempre bem-vindas e se constituem em um direito dos pais. 4.3. Fortalecimento do vínculo escola-família O fortalecimento da relação entre família e escola ainda é pauta de muitos planejamentos escolares. Afinal, diretores, coordenadores, professores e toda a equipe da secretaria tem o mesmo objetivo: desenvolver um processo educativo que equilibre qualidade com equidade. Ou seja, um processo educativo que todos os alunos aprendam e evoluam na carreira escolar na idade certa. Com isso, o envolvimento entre família e escola possui um papel muito importante no desenvolvimento do aluno. (JORNADAEDU, 2017) Uma das formas de fortalecer o vínculo entre escola e família é propor a participação desta na organização dos eventos institucionais. As reuniões são de extrema importância, mas o encontro com a família não pode se restringir apenas às reuniões periódicas. Por isso, os eventos escolares são ótimas oportunidades para fazer com que o os responsáveis se aproximem da escola, sem que se sintam pressionados. Além disso, é possível também convidar os pais para compor a equipe de organização de eventos e incentivá-los a 25 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância participar de instâncias como conselhos escolares, Associação de Pais e Mestres etc. (JORNADAEDU, 2017) Também é necessário que a escola esteja sempre de portas abertas para receber os responsáveis pelas crianças. A instituição deve apresentar seus docentes, a estrutura da escola, enfim, fazer com que os pais se sintam à vontade em visitar a escola. Isso é muito importante para que realmente exista uma relação entre escola-família. Além disso, o gestor pode abrir a escola aos sábados e convidar os responsáveis para um dia diferente, com acesso a quadra, biblioteca, laboratórios, etc. E como vimos, é preciso oferecer uma comunicação de qualidade entre família e escola. Uma das maiores dificuldades dos responsáveis no acompanhamento da rotina diária dos alunos é a questão do tempo. Não é sempre que o responsável pode estar se locomovendo até a escola e na maioria das vezes é por conta da longa rotina de trabalho. Mas existe uma outra forma de aproximar os responsáveis da escola. As tecnologias se fazem cada vez mais presentes em todos os lugares, inclusive, no ambiente familiar e escolar. (JORNADAEDU, 2017) Disponível em https://escolaemmovimento.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/familia-e-escola-min- e1595621398912.png Acesso em: 06 jan. 2022. Os pais estão mais conectados, utilizam seus smartphones na maioria das vezes, então, nada como oferecer um app onde o pai possa acompanhar a rotina diária do aluno, ter acesso às informações escolares a qualquer hora e em qualquer lugar, tudo pelo seu celular, computador ou tablet. https://escolaemmovimento.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/familia-e-escola-min-e1595621398912.png https://escolaemmovimento.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/10/familia-e-escola-min-e1595621398912.png 26 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Compreender o a importância da organização dos conteúdos na educação infantil. Introdução É importante destacar que não há aprendizagem sem conteúdos. As diferentes aprendizagens se dão por meio de sucessivas reorganizações do conhecimento, e este processo é protagonizado pelas crianças quando podem vivenciar experiências que lhes forneçam conteúdos apresentados de forma não simplificada e associados a práticas sociais reais. (BRASIL, 1998) Pesquisas e produções teóricas realizadas apontam a importância das aprendizagens específicas para os processos de desenvolvimento e socialização do ser humano, ressignificando o papel dos conteúdos nos processos de aprendizagem. Muitas das pautas culturais e saberes socialmente constituídos são aprendidos por meio do contato direto ou indireto com atividades diversas, que ocorrem nas diferentes situações de convívio social das quais as crianças participam no âmbito familiar e cotidiano. Outras aprendizagens, no entanto, dependem de situações educativas criadas especialmente para que ocorram. O planejamento dessas situações envolve a seleção de conteúdos específicos a essas aprendizagens (BRASIL, p. 48-49, 1998) Os conteúdos a serem trabalhados na Educação Infantil devem abranger, para além de fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos relacionados a procedimentos, atitudes, valores e normas como objetos de aprendizagem. 5.1 Categorias de conteúdos As categorias de conteúdos apresentadas a seguir serão explicadas de forma a subsidiar a reflexão e o planejamento do professor. 27 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.1.1. Conteúdos conceituais Os conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das capacidades para operar com símbolos, ideias, imagens e representações que permitem atribuir sentido à realidade. Desde os conceitos mais simples até os mais complexos, a aprendizagem se dá por meio de um processo de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais as crianças constroem ideias provisórias, ampliam-nas e modificam-nas, aproximando- se gradualmente de conceitualizações cada vez mais precisas. (BRASIL, p. 50, 1998) O conceito que uma criança faz do que seja um cachorro, por exemplo, depende das experiências que ela tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num primeiro momento, ela pode, por exemplo, designar como “Au-Au” todo animal, fazendo uma generalização provisória, o acesso a uma nova informação, por exemplo, o fato de que gatos diferem de cachorros, permite-lhe reorganizar o conhecimento que possui e modificar a ideia que tem sobre o que é um cachorro. Esta conceitualização, ainda provisória, será suficiente por algum tempo — até o momento em que ela entrar em contato com um novo conhecimento. Disponível em https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/o-cachorro-gato-sao-exemplos- organismos-especies-diferentes-59e605bf0e2a5.jpg Acesso em: 10 jan. 2022. Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos conceituais são possíveis de serem apropriados pelas crianças durante o período da educação infantil. Outros não, e estes necessitarão de mais tempo para que possam ser construídos. Isso significa dizer que muitos conteúdos serão trabalhados com o objetivo apenas de promover aproximações a um determinado conhecimento, de colaborar para elaboração de hipóteses e para a manifestação de formas originais de expressão. (BRASIL, p. 50, 1998) 5.1.2. Conteúdos procedimentais Os conteúdos procedimentais referem-se ao saber fazer. “A aprendizagem de procedimentos está diretamente relacionada à possibilidade de a criança construir https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/o-cachorro-gato-sao-exemplos-organismos-especies-diferentes-59e605bf0e2a5.jpg https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/o-cachorro-gato-sao-exemplos-organismos-especies-diferentes-59e605bf0e2a5.jpg28 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância instrumentos e estabelecer caminhos que lhes possibilitem a realização de suas ações.” (BRASIL, p. 51, 1998) Longe de ser mecânica e destituída de sentido, a aprendizagem de procedimentos constitui-se em um importante componente para o desenvolvimento das crianças, pois relaciona-se a um percurso de tomada de decisões. “Desenvolver procedimentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura humana necessárias para viver.” (BRASIL, p. 51, 1998) No que se refere à educação infantil, saber manipular corretamente os objetos de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é um procedimento fundamental, que responde às necessidades imediatas para inserção no universo mais próximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que se constituem em ações procedimentais importantes no processo de conquista da independência. Disponível em http://s2.glbimg.com/6fmj3c_zRUiAYuAf0vGKXrJMrOM=/620x420/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2015/08/24/t hinkstockphotos-78780778.jpg Acesso em: 10 jan. 2022. Dispor-se a perguntar é uma atitude fundamental para o processo de aprendizagem. Da mesma forma, para que as crianças possam exercer a cooperação, a solidariedade e o respeito, por exemplo, são necessários que aprendam alguns procedimentos importantes relacionados às formas de colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda etc. “Deve-se ter em conta que a aprendizagem de procedimentos será, muitas vezes, trabalhada de forma articulada com conteúdos conceituais e atitudinais.” (BRASIL, p. 51, 1998) http://s2.glbimg.com/6fmj3c_zRUiAYuAf0vGKXrJMrOM=/620x420/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2015/08/24/thinkstockphotos-78780778.jpg http://s2.glbimg.com/6fmj3c_zRUiAYuAf0vGKXrJMrOM=/620x420/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2015/08/24/thinkstockphotos-78780778.jpg 29 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.1.3. Conteúdos atitudinais Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas e das atitudes. “Conceber valores, normas e atitudes como conteúdos implica torná-los explícitos e compreendê-los como passíveis de serem aprendidos e planejados.” (BRASIL, p. 51, 1998) As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam considerados como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição. A falta de coerência entre o discurso e a prática é um dos fatores que promove o fracasso do trabalho com os valores. Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possível agir de acordo com valores determinados. Do contrário, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam- se mais de uma utopia não realizável do que de uma realidade possível. (BRASIL, p. 51, 1998) Para que as crianças possam aprender conteúdos atitudinais, é necessário que o professor e todos os profissionais que integram a instituição possam refletir sobre os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que se quer desenvolver. 5.1. Organização e seleção de conteúdos Embora estejam elencados por campos de experiência, muitos conteúdos encontram-se contemplados em mais de um campo. Isso aponta para o tratamento integrado que deve ser dado aos conteúdos. Cabe ao professor organizar seu planejamento de forma a aproveitar as possibilidades que cada conteúdo oferece, não restringindo o trabalho a um único campo, e fragmentando o conhecimento. A organização visa a contemplar as dimensões essenciais de cada assunto e situar os diferentes conteúdos dentro de um contexto organizador que explicita suas especificidades por um lado e aponta para a sua “origem” por outro. Por exemplo, é importante que o professor saiba, ao ler uma história para as crianças, que está trabalhando não só a leitura, mas também, a fala, a escuta, e a escrita; ou, quando organiza uma atividade de percurso, que está trabalhando tanto a percepção do espaço, como o equilíbrio 30 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância e a coordenação da criança. Esses conhecimentos ajudam o professor a dirigir sua ação de forma mais consciente, ampliando as suas possibilidades de trabalho. (BRASIL, 1998) Disponível em https://media.istockphoto.com/vectors/teacher-telling-a-story-to-nursery-children-in-the- garden-vector- id916389996?k=20&m=916389996&s=170667a&w=0&h=ibPfnxk6zrxhVFs3ByaEYFWTc7j_SNvp_PY4U1Pfl c8= Acesso em: 10 jan. 2022. Os conteúdos elencados pelo professor devem oferecer um repertório que possa auxiliar o desenvolvimento das capacidades colocadas nos objetivos de aprendizagem. No entanto, considerando as características particulares de cada grupo e suas necessidades, cabe ao professor selecioná-los e adequá-los de forma que sejam significativos para as crianças. Deve se ter em conta que o professor, com vistas a desenvolver determinada capacidade, pode priorizar determinados conteúdos; trabalhá-los em diferentes momentos do ano; voltar a eles diversas vezes, aprofundando-os a cada vez etc. Como são múltiplas as possibilidades de escolha de conteúdos, os critérios para selecioná-los devem se atrelar ao grau de significado que têm para as crianças. (BRASIL, p. 53, 1998) É importante, também, que o professor considere as possibilidades que os conteúdos oferecem para o avanço do processo de aprendizagem e para a ampliação de conhecimento que possibilita 5.2. Integração de conteúdos Os conteúdos devem ser compreendidos como instrumentos para analisar a realidade, não se constituindo um fim em si mesmos. “Para que as crianças possam compreender a realidade na sua complexidade e enriquecer sua percepção sobre ela, os https://media.istockphoto.com/vectors/teacher-telling-a-story-to-nursery-children-in-the-garden-vector-id916389996?k=20&m=916389996&s=170667a&w=0&h=ibPfnxk6zrxhVFs3ByaEYFWTc7j_SNvp_PY4U1Pflc8= https://media.istockphoto.com/vectors/teacher-telling-a-story-to-nursery-children-in-the-garden-vector-id916389996?k=20&m=916389996&s=170667a&w=0&h=ibPfnxk6zrxhVFs3ByaEYFWTc7j_SNvp_PY4U1Pflc8= https://media.istockphoto.com/vectors/teacher-telling-a-story-to-nursery-children-in-the-garden-vector-id916389996?k=20&m=916389996&s=170667a&w=0&h=ibPfnxk6zrxhVFs3ByaEYFWTc7j_SNvp_PY4U1Pflc8= https://media.istockphoto.com/vectors/teacher-telling-a-story-to-nursery-children-in-the-garden-vector-id916389996?k=20&m=916389996&s=170667a&w=0&h=ibPfnxk6zrxhVFs3ByaEYFWTc7j_SNvp_PY4U1Pflc8= 31 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada, relacionados entre si.” (BRASIL, p. 54, 1998) Essa integração possibilita que a realidade seja analisada por diferentes aspectos, sem fragmentá-la. Um passeio pela rua pode oferecer elementos referentes à análise das paisagens, à identificação de características de diferentes grupos sociais, à presença de animais, fenômenos da natureza, ao contato com a escrita e os números presentes nas casas, placas etc., contextualizando cada elemento na complexidade do meio. Disponível em https://i0.wp.com/tempodecreche.com.br/site/wp- content/uploads/2015/08/observa%C3%A7%C3%B5es-no-Passeio-da-creche.jpg?ssl=1 Acesso em: 10 jan. 2022. O mesmopasseio envolve, também, aprendizagens relativas à socialização, mobilizam sentimentos e emoções constituindo-se em uma atividade que pode contribuir para o desenvolvimento das crianças. (BRASIL, 1998) https://i0.wp.com/tempodecreche.com.br/site/wp-content/uploads/2015/08/observa%C3%A7%C3%B5es-no-Passeio-da-creche.jpg?ssl=1 https://i0.wp.com/tempodecreche.com.br/site/wp-content/uploads/2015/08/observa%C3%A7%C3%B5es-no-Passeio-da-creche.jpg?ssl=1 32 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO NA EDUCAÇAO INFANTIL Objetivo Compreender o a importância da organização do tempo na educação infantil. Introdução Segundo Barbosa (2006) os estudos sobre a questão do tempo na educação infantil giram em torno de dois temas básicos que são: a concepção de que as crianças devem construir e internalizar os conceitos e noções de tempo e que o planejamento pedagógico deve favorecer essa construção, bem como, organizar o trabalho de maneira a harmonizar o tempo e usá-lo de forma criativa e flexível. No planejamento do tempo escolar há rotinas anuais como início do ano letivo, fechamento de bimestre e reuniões de pais, outros que ocorrem de acordo com as estações do ano ou temperatura ambiente, como uso da piscina ou banho de mangueira, há ainda as que são mensais a comemoração dos aniversários do mês, ou as semanais como aulas educação física, dia de trazer brinquedos, etc. A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas. A apresentação de novos conteúdos às crianças requer sempre as mais diferentes estruturas didáticas, desde contar uma nova história, propor uma técnica diferente de desenho até situações mais elaboradas, como, por exemplo, o desenvolvimento de um projeto, que requer um planejamento cuidadoso com um encadeamento de ações que visam a desenvolver aprendizagens específicas. (BRASIL, p. 55, 1998) É importante que o professor ao fazer seu planejamento vá alternando as atividades, ou seja, das livres para as dirigidas, do trabalho em grupos ou coletivo para o individual. O ideal é que as atividades planejadas sejam diversificadas e que haja um equilíbrio entre elas, para que estimule os alunos e não se torne repetitiva e monótona. 6.1 Modalidades de organização do tempo É no cotidiano da Educação Infantil que se estrutura a rotina e acontecem as aprendizagens que darão suporte para a criança compreender a si e ao outro, bem como o funcionamento do mundo físico e sociocultural, pois nele encontramos um vasto repertório de práticas e vivências que são compartilhadas nos mais variados contextos sociais. 33 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Cabe destacar que a organização do trabalho cotidiano varia de instituição para instituição, pois é preciso observar se ela é de período parcial ou integral, a faixa etária que atende, os espaços internos e externos e os materiais disponíveis, a localização, a equipe de profissionais que possui, as características socioeconômicas e culturais da comunidade que atende, considerando os contextos das crianças do campo, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, entre outros fatores que a tornam singular. (GOIÁS, p. 15, 2020) Os direitos de aprendizagens e desenvolvimento, que fundamentam e embasam os campos de experiências e seus objetivos de aprendizagens e desenvolvimento devem orientar a rotina da instituição, desde o momento de chegada até o momento de saída das crianças, todos os dias do ano letivo. A organização das práticas cotidianas da Educação Infantil, pressupõe o planejamento de atividades que são permanentes, sequência de atividades e projetos, sempre considerando os direitos, bem como integrando e articulando os campos de experiências e seus respectivos objetivos. As estruturas didáticas contêm múltiplas estratégias que são organizadas em função das intenções educativas expressas no projeto educativo, constituindo-se em um instrumento para o planejamento do professor. Podem ser agrupadas em três grandes modalidades de organização do tempo. São elas: atividades permanentes, sequência de atividades e projetos de trabalho. 6.1.1. Atividades permanentes São aquelas que respondem às necessidades básicas de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças, cujos conteúdos necessitam de uma constância. A escolha dos conteúdos que definem o tipo de atividades permanentes a serem realizadas com frequência regular, diária ou semanal, em cada grupo de crianças, depende das prioridades elencadas a partir da proposta curricular. (BRASIL, 1998) As atividades permanentes envolvem as atividades de atenção pessoal, as de transições cotidianas e as de ampliação de repertórios. As atividades de atenção pessoal estão relacionadas à higiene, à alimentação e ao descanso. Já as atividades de transições cotidianas se referem à acolhida, à despedida, aos deslocamentos e às passagens de uma atividade para outra. Dentre as atividades de ampliação de repertórios, serão abordadas a roda de conversa, as brincadeiras dirigidas e espontâneas, a leitura e a contação de histórias, havendo tantas outras que a instituição escolar pode promover. (GOIÁS, 2020) 34 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em https://i.pinimg.com/originals/f8/c2/60/f8c260b5fcb561bda6b1192f3ccca4d7.png Acesso em: 10 jan. 2022. 6.1.2. Sequência de atividades São planejadas e orientadas com o objetivo de promover uma aprendizagem específica e definida. São sequenciadas com intenção de oferecer desafios com graus diferentes de complexidade para que as crianças possam ir paulatinamente resolvendo problemas a partir de diferentes proposições. Estas sequências derivam de um conteúdo retirado de um dos temas a serem trabalhados e estão necessariamente dentro de um contexto específico. (BRASIL, 1998) Por exemplo: se o objetivo é fazer com que as crianças avancem em relação à representação da figura humana por meio do desenho, pode-se planejar várias etapas de trabalho para ajudá-las a reelaborar e enriquecer seus conhecimentos prévios sobre esse assunto, como observação de pessoas, de desenhos ou pinturas de artistas e de fotografias; atividades de representação a partir destas observações; atividades de representação a partir de interferências previamente planejadas pelo educador etc. (BRASIL, p. 56,1998) Disponível em https://labedu.org.br/wp-content/uploads/2016/01/desenho-infantil-fases.001.png Acesso em: 10 jan. 2022. https://i.pinimg.com/originals/f8/c2/60/f8c260b5fcb561bda6b1192f3ccca4d7.png https://labedu.org.br/wp-content/uploads/2016/01/desenho-infantil-fases.001.png 35 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6.1.3. Projetos de trabalho “Os projetos são conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos específicos construídos a partir de um dos eixos de trabalho que se organizam ao redor de um problema para resolver ou um produto final que se quer obter.” (BRASIL, p. 57,1998) Os projetos possuem uma duração que pode variar conforme o objetivo, o desenrolar das várias etapas, o desejo e o interesse das crianças pelo assunto tratado. Comportam uma grande dose de imprevisibilidade, podendo ser alterado sempre que necessário, tendo inclusive modificações no produto final. Alguns projetos, como fazer uma horta ou uma coleção, podem durar um ano inteiro, ao passo que outros, como, por exemplo, elaborar um livro de receitas, podem teruma duração menor. Disponível em https://turinha-static.pkds.it/blog/production/2017/06/11125259/horta.jpg Acesso em: 10 jan. 2022. Por partirem sempre de questões que necessitam ser respondidas, possibilitam um contato com as práticas sociais reais. Dependem, em grande parte, dos interesses das crianças, precisam ser significativos, representar uma questão comum para todas e partir de uma indagação da realidade. É importante que os desafios apresentados sejam possíveis de serem enfrentados pelo grupo de crianças. (BRASIL, p. 57,1998) Um dos ganhos de se trabalhar com projetos é possibilitar às crianças que a partir de um assunto relacionado com um dos temas, possam estabelecer múltiplas relações, ampliando suas ideias sobre um assunto específico, buscando complementações com conhecimentos pertinentes aos diferentes campos de experiência. Esse aprendizado serve de referência para outras situações, permitindo generalizações de ordens diversas. A realização de um projeto depende de várias etapas https://turinha-static.pkds.it/blog/production/2017/06/11125259/horta.jpg 36 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância de trabalho que devem ser planejadas e negociadas com as crianças para que elas possam se engajar e acompanhar o percurso até o produto final. O que se deseja alcançar justifica as etapas de elaboração. (BRASIL, 1998) Algo importante a se fazer é realizar o levantamento dos conhecimentos prévios das crianças sobre o assunto em pauta; isso deve se constituir no primeiro passo. A socialização do que o grupo já sabe e o levantamento do que desejam saber, isto é, as dúvidas que possuem, pode se constituir na outra etapa. Onde procurar as informações pode ser uma decisão compartilhada com crianças, familiares e demais funcionários da instituição. Várias fontes de informações poderão ser usadas, como livros, enciclopédias, trechos de filmes, análise de imagens, entrevistas com as mais diferentes pessoas, visitas a recursos da comunidade etc. (BRASIL, p. 58,1998) O registro dos conhecimentos que vão sendo construídos pelas crianças deve permear todo o trabalho, podendo incluir relatos escritos, áudios gravados, fotos, produção das crianças, desenhos etc. Os projetos contêm sequências de atividades e pode-se utilizar atividades permanentes já em curso. A característica principal dos projetos é a visibilidade final do produto e a solução do problema compartilhado com as crianças. Ao final de um projeto, pode-se dizer que a criança aprendeu porque teve uma intensa participação que envolveu a resolução de problemas de naturezas diversas. Soma-se a todas essas características mais uma, ligada ao caráter lúdico que os projetos na educação infantil têm. (BRASIL, p. 58,1998) Se o projeto é sobre castelos, reis, rainhas, as crianças podem incorporar em suas brincadeiras conhecimentos que foram construindo, e o produto final pode ser um baile medieval. Há muitos projetos que envolvem a elaboração de bonecos do tamanho de adultos, outros a construção de circos, de maquetes, produtos que por si só já representam criação e diversão para as crianças, sem contar o prazer que lhes dá de conhecer o mundo. 37 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA EDUCAÇAO INFANTIL Objetivo Compreender o a importância da organização do espaço na educação infantil. Introdução A organização dos espaços se constitui em um instrumento fundamental para a prática educativa com crianças pequenas. “Isso implica que, para cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos para a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos em curso.” (BRASIL, p. 58,1998) Além disso, a aprendizagem transcende o espaço da sala, toma conta da área externa e de outros espaços da instituição e fora dela. “A pracinha, o supermercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais do que locais para simples passeio, podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens.” (BRASIL, p. 58,1998) 7.1 Parâmetros para a organização do espaço De acordo com o Ministério da Educação, Reconhece-se a criança como sujeito do processo educacional e como principal usuário do ambiente educacional. Por isso, é necessário identificar parâmetros essenciais de ambientes físicos que ofereçam condições compatíveis com os requisitos definidos pelo PNE, bem como com os conceitos de sustentabilidade, acessibilidade universal e com a proposta pedagógica. Assim, a reflexão sobre as necessidades de desenvolvimento da criança (físico, psicológico, intelectual e social) constitui-se em requisito essencial para a formulação dos espaços/lugares destinados à Educação Infantil. (BRASIL, p. 21, 2006) Conforme as determinações do MEC, as unidades de Educação Infantil devem buscar: (BRASIL, p. 21, 2006) • a relação harmoniosa com o entorno, garantindo conforto ambiental dos seus usuários (conforto térmico, visual, acústico, olfativo/qualidade do ar) e qualidade sanitária dos ambientes; • o emprego adequado de técnicas e de materiais de construção, valorizando as reservas regionais com enfoque na sustentabilidade; 38 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • o planejamento do canteiro de obras e a programação de reparos e manutenção do ambiente construído para atenuar os efeitos da poluição (no período de construção ou reformas): redução do impacto ambiental; fluxos de produtos e serviços; consumo de energia; ruído; dejetos, etc. • a adequação dos ambientes internos e externos (arranjo espacial, volumetria, materiais, cores e texturas) com as práticas pedagógicas, a cultura, o desenvolvimento infantil e a acessibilidade universal, envolvendo o conceito de ambientes inclusivos. Sempre que possível, a instituição escolar deve setorizar os conjuntos funcionais (sociopedagógico, assistência, técnico e serviços), pois isso irá favorecer as relações intra e interpessoais, além de estabelecer uma melhor compreensão da localização dos ambientes, facilitando a apropriação destes pelos usuários. Ambientes próximos bem localizados, ordenados, que estimulem a convivência, promovem situações prazerosas e seguras, bem como valorizam a interação pretendida. 7.1. Setorização do espaço De acordo com órgãos como Ministério da Saúde e Ministério da Educação, é necessário criar ambientes de aprendizagem em que as crianças vão socializar-se e ganhar autonomia. Por isso, eles prepararam documentos para orientar a organização dos espaços nesse segmento. A seguir, conheceremos essas indicações e entenderemos como elas se relacionam com a rotina pedagógica na Educação Infantil. 7.2.1. Setores administrativos A administração da escola é a porta de entrada da instituição. Por ela serão recebidos todos os familiares, pessoas da comunidade e funcionários. “É importante que as áreas administrativas sejam bem iluminadas e aconchegantes, com passagens sem obstáculos, para facilitar a circulação de pessoas. Além disso, os horários de funcionamento da instituição e informações úteis aos visitantes devem ser facilmente localizáveis.” (NADAL, 2018) Embora existam alguns espaços de uso exclusivo de adultos, como o almoxarifado, as crianças também podem, eventualmente, circular pela administração. Por isso, o ideal é evitar degraus e instalar portas na entrada dos espaços que não devem ser acessados. 39 Organização do Trabalho Docente na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Lembre-se: as crianças só circulam pelas áreas administrativas
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