Buscar

Capitulo - Preparaçao Física FI

Prévia do material em texto

SUMÁRIO
Copyright 2018 Futebol Interativo / Natal – RN ©
Coordenador
Darlan Perondi
Autores
Lucas Carvalho Leme
Darlan Perondi
Fabiano de Souza Fonseca
João Gustavo de Oliveira Claudino
Igor Soalheiro
Matheus Mardenn Oliveira
Bruno Assis Leite
Rodrigo dos Santos Guimarães
Douglas Marciotto Libonorio
Hebert Soares Bernardino
Fabio Garcia Madalen Eiras
Designer Editorial e Interação
José Antonio Bezerra Junior
Para sua melhor interação clique em nossa navegação.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO À PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
1.1 A função do preparador físico no futebol moderno
1.2 O contexto da Fisiologia do exercício no futebol
1.3 Caracterização da demanda fisiológica no futebol
1.4 Análise do padrão de ações motoras durante a partida
REFERÊNCIAS
Perfil dos autores
2 TREINAMENTO DAS CAPACIDADES FÍSICAS NO FUTEBOL
2.1 Contextualização
2.2 Treinamento Da Resistência
2.2.1 Conceito e importância na preparação do futebolista
2.2.2 Fundamentos fisiológicos do treinamento de resistência
2.2.3 Classificação e objetivos do treinamento de resistência
2.2.4 Principais métodos e meios de treinamento de resistência 
no futebol
2.3 Treinamento de Força e Potência
2.3.1 Importância do treinamento de força e potência no futebol
2.3.2 Classificação e objetivos do treinamento de força no futebol
2.3.3 Adaptações fisiológicas ao treinamento de força
2.3.4 Principais métodos e meios de treinamento de força
2.4 Treinamento de velocidade e agilidade
2.4.1 Bases neurofisiológicas do treinamento da velocidade 
e agilidade
2.4.2 Princípios metodológicos do treinamento da velocidade 
e agilidade
2.4.3 Métodos e meios de treinamento da velocidade e agilidade
2.5 Treinamento de flexibilidade
2.5.1 Fatores neuromusculares e o treinamento da flexibilidade
2.5.2 Métodos de treinamento da flexibilidade
REFERÊNCIAS
Perfil do autor
SUMÁRIO
4
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
3 CONTROLE DE CARGA DE TREINAMENTO
REFERÊNCIAS
Perfil dos autores
4 PREPARAÇÃO FÍSICA E PREVENÇÃO DE LESÕES
REFERÊNCIAS
Perfil dos autores
5 PREPARAÇÃO FÍSICA NA CATEGORIA DE BASE E NO FUTEBOL FEMININO
REFERÊNCIAS
Perfil dos autores
6 PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO NO FUTEBOL
REFERÊNCIAS
Perfil dos autores
SUMÁRIO
LUCAS CARVALHO LEME
DARLAN PERONDI
INTRODUÇÃO À PREPARAÇÃO 
FÍSICA NO FUTEBOL
1
Capítulo
6
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Historicamente, a preparação física é uma das principais áreas de treinamento 
no futebol de alto rendimento, mesmo que não sendo priorizada desde o início por 
treinadores, técnicos e comissões. No futebol, a preparação física começou a ganhar 
relevância e olhares atentos, principalmente, depois da copa do mundo de 1954, onde, 
pelas primeiras vezes, uma pessoa figurava junto ao treinador e era responsável pela 
condução das atividades físicas das equipes (DE ALMEIDA BARROS, 1990).
Por volta do ano de 1904, os exercícios físicos aplicados em treinamentos do fu-
tebol eram direcionados ao objetivo de melhorar, principalmente, a força, e não as 
outras capacidades físicas relacionadas ao desempenho, como a resistência e veloci-
dade. Entre os primeiros modelos de treinamento, os exercícios voltados a preparação 
física consistiam em corridas de 100, 200, 400 e 800 metros, além de exercícios físicos 
com alteres, luta greco-romana e ginástica (GONCALVES, 1998).
As atribuições dos treinamentos da preparação física não eram de exclusividade 
de um profissional, ou seja, não era definido um preparador físico para trabalhar essa 
característica nos atletas. O treinamento físico era, então, direcionado à função do 
treinador, ou de algum outro funcionário do clube, como o massagista (GONCALVES, 
1998). Na Europa, a preparação física começa a ganhar mais ênfase no treinamento 
físico que no resto do mundo, sendo que na Copa do Mundo de 1954 foi visto a 
primeira atuação de preparadores físicos em algumas seleções e que figuravam ao 
lado do treinador como auxiliares e eram os principais responsáveis pela orientação 
de atividades físicas da equipe. Durante a realização da Copa do Mundo de 1966 na 
Inglaterra, percebeu-se a nítida diferença entre as capacidades físicas das seleções 
europeias para as demais seleções, sendo que as seleções da Inglaterra, Alemanha 
Ocidental, Portugal e União Soviética ocuparam as primeiras colocações, respecti-
vamente.
No Brasil, no início do século XX, clubes paulistas utilizavam o treinamento de 
sprints e corridas para melhora dos aspectos físicos dos atletas. No ano de 1958, na 
Copa do Mundo da Suécia, a Seleção Brasileira (CBD) designa uma pessoa para ser 
o responsável pela condução de exercícios físicos, sendo a primeira vez que uma 
equipe brasileira apresenta a figura do preparador físico. Com o resultado do Mundial 
daquele ano, primeira conquista da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, vários 
clubes brasileiros começaram a apresentar um profissional para o trabalho de prepa-
ração física das equipes.Com o resultado do Mundial daquele ano, com a primeira 
conquista da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, vários clubes brasileiros come-
çaram a apresentar um profissional para o trabalho de preparação física das equipes 
(CUNHA, 2003). Ainda a Seleção Brasileira volta a conquistar o título Mundial quatro 
anos depois, sendo a função preparador físico representado por Paulo Amaral.
No entanto, a copa de 1966 foi um marco para a preparação física. Durante o cam-
peonato mundial, percebeu-se um sistema de marcação homem a homem realizado 
pela seleção Inglesa onde o condicionamento é fator preponderante para o sucesso 
da equipe (CUNHA, 2003). Tão eficiente era o esquema tática da seleção Inglesa que 
sagrou-se campeã naquele ano. Com o fracasso da Seleção Brasileira nessa Copa do 
7
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Mundo, a preparação física passou a ser repensada no futebol brasileiro, começando 
pelo próprio preparador físico. Em muitas ocasiões, o preparador físico era repre-
sentado por uma pessoa que não possuiu um vínculo com futebol, mas com outras 
atividades, como esportes de luta e caça marinha, outros possuiam cargos militares, 
como coronéis, tenentes e sargentos, e não possuíam conhecimento das bases cien-
tíficas do treinamento esportivo (DE ALMEIDA BARROS, 1990).
Com o avanço de pesquisas na Europa e com o sucesso da Seleção Portuguesa na 
Copa do Mundo de 1966, onde o treinador era brasileiro (Otto Glória), inicia-se uma 
nova fase na preparação física no Brasil, sendo que começou-se a ter uma evolução 
maior no aspecto científico do treinamento, principalmente com profissionais que 
estavam na Europa (CUNHA, 2003). Até o ano do tricampeonato mundial (1970), 
poucos eram os times brasileiros que continham programas estruturados de prepa-
ração física e utilizavam bases científicas para fundamentar os métodos utilizados 
(RIGO, 1977).
A partir da década de 1970, começou-se a ter um maior interesse na investiga-
ção científica no futebol, com o objetivo de auxiliar na preparação física dos atletas 
(MAYHEW; WENGER, 1985). A identificação dos sistemas energéticos que predomi-
navam no esporte era feita através da análise de movimento realizada pelos atletas 
durante o jogo (BARBANTI, 1996). Com o passar dos anos e com o avanço tecnoló-
gico, a investigação científica tornou-se cada vez mais comum e eficiente no auxílio 
da preparação física no futebol.
Atualmente, o profissional responsável pela preparação física não está exclusi-
vamente em trabalho somente com a categoria profissional, mas sim com todas as 
categorias de idade, sendo que as diferenças biológicas entre as diferentes fases da 
vida podem influenciar na aptidão física do atleta e devem ser respeitadas na prepa-
ração e estruturação do treinamento das capacidades físicas.
1.1 A função do preparador físico no futebol moderno;
A velocidade com que as pesquisas em treinamento desportivo crescem no mundo, 
em termos de conhecimento científico, mostram uma mudança no perfil do técnico e 
do preparador físico, pois o profissionalmoderno deve cumprir algumas exigências, 
dentre elas a de ser um profissional estudioso. Essa é uma das mais importantes qua-
lidades que o preparador pode demonstrar aos seus comandados (GOMES; SOUZA, 
2009), pois no futebol atual os atletas estão cada vez mais bem informados e cons-
cientes sobre a prática sistematizada de preparação física, exigindo cada vez mais 
do profissional que aplica os treinamentos aos mesmos um grande poder de conven-
cimento, a fim de se conseguir obter do atleta o máximo de rendimento esportivo.
Ter uma experiência prévia como ex-atleta pode também auxiliar nesse processo, 
porém não é o principal requisito, visto que o conhecimento técnico-cientifico 
adquirido em algum momento da vida não é duradouro, e a necessidade de reci-
clar-se deve ser constante, pois as áreas envolvidas com a preparação desportiva 
8
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
são as que estão relacionadas com o desenvolvimento do ser humano, tanto no 
aspecto biológico como em outras dimensões (GOMES; SOUZA, 2009). Além dis-
so, a função do preparador física está inteiramente relacionada às competências 
de atuação do profissional de Educação Física, assim torna-se necessário que o 
profissional que atue nessa área, possua graduação no ensino superior e o regis-
tro profissional no órgão regulamentador da profissão (MILISTETD et al., 2015)
O profissional atualizado deve envolver-se com todos os aspectos relacionados ao 
desenvolvimento do atleta e também se permitir o diálogo com todas as áreas correla-
tas dentro da formatação da comissão técnica no futebol atual. Hoje, já encontramos 
em muitas equipes a presença de um grupo multidisciplinar de trabalho, composto, 
além do técnico e preparador físico, de: o fisiologista, o psicólogo, o fisioterapeuta, 
o assessor de imprensa, o nutricionista, o estatístico ou analista de desempenho, 
dentre outros (Figura 1).
GRUPO INTERDISCIPLINAR
COMISSÃO TÉCNICA
TÉCNICO
NUTRICIONAISTA
FISIOLOGISTA
MÉDICO
ADMINISTRADOR 
ESPORTIVO
PREPARADOR 
FÍSICO
PSICÓLOGO 
DO ESPORTE
FISIOTERAPEUTA
OUTROS
Figura 1: Fluxograma de cargos em comissão técnica multidisciplinar de equipes de futebol de alto rendimento
9
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Mas, além da inserção de todos esses profissionais no futebol, o papel do pre-
parador físico passou a ser muito mais do que simplesmente treinar as capacidades 
físicas do atleta. A este profissional da comissão técnica cabe também a aplicação 
de testes físicos, o controle das cargas dos treinos, o equilíbrio entre as capacidades 
físicas a serem treinadas, a economia de energia, a recuperação pós-exercício do jo-
gador, o aquecimento especifico para o treino e para o jogo, a periodização durante 
a temporada, e ultimamente o “scout” físico durante os jogos. Carece também de 
estar atento ao desempenho físico do atleta durante o jogo, pois se este se encontra 
visivelmente fadigado já no primeiro tempo, deve informar ao técnico imediatamente 
(MATTA et al., 2008).
Sendo assim, cabe ao preparador físico o conhecimento de causas internas e exter-
nas de todos os fenômenos com que está relacionado o desempenho de seus atletas, 
visto que a aplicação adequada ou não de meios e métodos de treinamento devem 
refletir no desempenho final, que é o jogo, e seu resultado sempre será influenciado, 
com maior grandeza ou não, pela aplicação dessas variáveis.
Dessa forma, o preparador físico inserido no contexto atual do futebol deve apre-
sentar a capacidade de:
 Demonstração: Saber explicar e estimular a execução com qualidade dos 
esforços solicitados (qualquer execução inadequada pode acarretar lesões e 
possíveis quedas no desempenho);
 Aplicar metodologia adequada: planejar, executar e avaliar todas as solicita-
ções físicas aplicadas aos atletas, esclarecendo de forma clara os objetivos de 
tal tarefa (atletas atuais estão mais esclarecidos);
 Postura e didática: apresentar as tarefas de forma clara e com linguajar ade-
quado aos atletas, porém este tema é um dos mais difíceis, necessitando que 
o profissional saiba entender o limite entre uma linguagem cientifica demais 
e a do “boleiro” mais contemporâneo;
 Psicologia: embora muitos clubes tenham esse profissional, o preparador físico 
muitas vezes tem que lidar com frustrações e outros sentimentos durante a 
aplicação das tarefas de treino;
 Fisiologia: é obrigação de um bom preparador físico o conhecimento das 
demandas fisiológicas e das respostas ocasionadas pelas atividades propostas 
por ele, mesmo estando muitas vezes ao lado de um profissional exclusivo 
para essa função na comissão técnica de muitos clubes;
10
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
 Direção e organização institucional: entender as exigências e peculiaridades 
técnico administrativas de cada clube, cada um com suas realidades (alto ou 
menos recurso financeiro/estrutural), pois ocasionará influência na atuação 
profissional do preparador físico;
 Humildade: nesse sentido não é se colocar em posição acanhada ou tímida 
dentro do fluxograma da comissão técnica, mas sim ter uma postura proativa 
na execução de sua função, porém sempre estar ciente de que mesmo sendo 
extremamente importante o trabalho de preparação física, esse cargo serve 
de suporte para o trabalho dos treinadores e atletas, os quais são as figuras 
principais dentro do processo final do futebol, sem eles o resultado final nunca 
será o ideal;
 Entender das estratégias táticas e técnicas: O preparador atuando no cenário 
atual não pode apenas utilizar de exercícios isolados e sem contexto com o 
modelo de jogo da equipe, pois os calendários de jogos estão cada vez mais 
congestionados, os momentos para treinar cada vez mais curtos, exigindo 
assim, uma integração de trabalho físico/técnico em alguns momentos para 
suprir as demandas necessárias aos atletas nesse cenário.
Sendo assim, a função do preparador físico dentro do contexto do futebol está 
atualmente muito diferente de décadas atrás, pois esse profissional tem se tornado 
muito mais dinâmico em termos de intervenções diárias, ao passo que com o expres-
sivo aumento por resultados e desempenho cada vez maiores, o profissional se viu 
na obrigação de compreender o comportamento de diversas áreas que antes eram 
exclusividade apenas dos profissionais responsáveis pelas mesmas (fisiologia, nutri-
ção, psicologia, fisioterapia), moldando-se assim, um profissional muito mais eclético 
de conhecimento técnico-cientifico e com uma vivencia prática cada vez mais rica. 
1.2 O contexto da Fisiologia do exercício no futebol
Entre as ciências que dão suporte à atividade física, poucas conseguiram no futebol 
o status que a fisiologia do exercício assumiu nas duas últimas décadas do século 
XX. Em pouco tempo, a precisão dos resultados e a evolução dos profissionais da 
área transformaram essa disciplina e a alçaram à condição de suporte fundamental 
para qualquer comissão técnica.
A fisiologia está ligada, por exemplo, à programação de treinos das equipes de 
futebol. Além disso, fornece à comissão técnica dados para ajudar a periodização das 
atividades. Essa influência chegou até as escalações das equipes, já que as análises 
fornecidas pelos fisiologistas são decisivas para determinar o nível de desgaste dos 
jogadores e mostrar quais precisam ser poupados.
Conforme já citado no tópico anterior, o futebol atual “moldou”, de acordo com 
suas exigências, alguns profissionais e suas funções, dentre elas o fisiologista esportivo, 
11
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
o qual, anteriormente (algumas décadas) era responsável apenas por aplicar determi-
nados testes de desempenho, muitas vezes em ambientes laboratoriais controlados e 
monitorar alguns tipos de treinamento, sugerindo aos treinadores e/ou preparadores 
físicos possíveis intervenções.
Essa abordagem, apesar de extremamente importante, fazia com que o fisio-
logista fosse visto como um membro importante da equipe, porém com funções 
extremamente limitadas e com uma pequena integraçãoentre a equipe de trabalho 
na maioria dos casos. 
Atualmente esse indivíduo se tornou muito mais dinâmico, com mais atribuições 
e consequentemente mais responsabilidades dentro do contexto multidisciplinar ou 
transdisciplinar no futebol (Figura 1). Hoje em dia, em praticamente todas as equi-
pes de futebol do brasil e do exterior, é possível observar o fisiologista esportivo “a 
beira do campo de jogo”, muitas vezes realizando o monitoramento das sessões em 
tempo real porém, principalmente, interagindo com a comissão técnica, discutindo 
planejamento semanal ou mensal, refletindo e estimulando a discussão sobre casos 
especiais, visto que um clube de alto rendimento é composto de no mínimo 30 atletas 
e muitos desses atletas necessitam de intervenções especiais, as quais muitas vezes, 
são detectadas e/ou observadas por esse profissional durante as inúmeras avaliações 
diárias realizadas por ele, sejam elas físicas, medidas laboratoriais de desgaste mus-
cular, análise de deslocamentos em partida, ou simplesmente, pequenas observações 
realizadas durante a sessão de treinamento.
A fisiologia contribuiu para uma característica cada vez mais presente no futebol 
moderno, que é a individualização do trabalho. O esforço no sentido de identificar a 
validade de uma informação e compará-la com outros dados similares criou padrões 
de desgaste e desempenho diferentes para cada posição ou para cada perfil de atle-
ta. Isso mudou radicalmente o conceito do treinamento esportivo das modalidades 
coletivas, dando a ele um caráter cada vez mais pluralista. Depois de épocas com 
exercícios meramente voltados ao desgaste e das atividades feitas em circuitos em 
que todos faziam uma série de movimentos, a tendência é uma especialização cada 
vez maior nesse tipo de treino.
Com os dados fornecidos pelos fisiologistas, tornou-se possível elaborar atividades 
voltadas à manutenção e elevação dos pontos positivos dos atletas, além de trabalhos 
direcionados à correção das imperfeições. Outra questão que tem se tornado mais 
eficiente é a dosagem de volume e intensidade de esforço em treinos e jogos, que é 
um fator decisivo para evitar lesões e problemas físicos de desgaste excessivo.
Essas peculiaridades exigem um olhar muito mais crítico e embasado cientifica-
mente, mas que acima de tudo, consiga transferir todas essas informações em ações 
de tomadas de decisões e, na medida do possível, decisões coerentes, compartilhadas 
com toda a comissão técnica e que reflitam no desempenho ou sucesso esportivo 
esperado, pois como já citado, a cobrança por resultados cada vez maiores, tem 
exigido cada vez mais profissionais bem preparados não apenas técnica/cientifica-
mente, mas sim que consigam unir tudo isso com pró-atividade e dinamismo com 
responsabilidade.
12
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
1.3 Caracterização da demanda fisiológica no futebol
Futebol é uma modalidade que exige do jogador várias capacidades das quais 
se destacam uma apurada competência técnica, uma boa compreensão táctica do 
jogo, comportamento cognitivo no rendimento e, para além disso, uma excelente 
condição física.
O jogo, com uma duração oficial de noventa minutos, é realizado em intensidade 
muito elevada, de forma intermitente e com sequências aleatórias de fases de esforço 
e de repouso. Para que do treino resulte uma preparação do jogador a mais adequada 
possível para a competição, é necessário conhecerem-se com rigor as características 
da modalidade em causa. A partir desse conhecimento, o treinador poderá planejar o 
conteúdo e a aplicação temporal das cargas do treino em função daquilo que o jogo 
exige (SOARES; REBELO, 2013).
Essa modalidade tem uma natureza intermitente que abrange curtas ações de 
corrida de alta intensidade e períodos mais longos de exercício de baixa intensidade 
(RAMPININI et al., 2007). Embora a produção de energia através do sistema aeróbico 
predomine devido ao tempo total de mais de 90 minutos no futebol, os jogadores 
profissionais de elite podem realizar até 250 ações breves de alta intensidade durante 
uma partida, indicando também altas demandas anaeróbias durante períodos intensos 
de partida (BANGSBO, 1994). 
Estudos mostram que mesmo que a distância total percorrida durante a partida 
tenha permanecido constante na última década, a evolução da exigência física durante 
o jogo tem refletido em grandes aumentos observáveis nas distancias percorridas e 
sprints e zonas mais altas de intensidade durante a partida (BARNES et al., 2014). As 
atividades de alta intensidade fornecem uma medida válida de quanto a capacidade 
de desempenho dos jogadores de futebol aumentou, refletindo o status de treinamento 
e discriminando entre os níveis de desempenho “Elite x semiprofissionais e categorias 
de base” (MOHR et al., 2003; BRADLEY et al., 2009; BRADLEY et al., 2011).
A manifestação de fadiga na parte final do jogo tem vindo a ser muito estudada 
em diferentes trabalhos. Foi observada uma diminuição da performance física na 
segunda parte de jogos da Premier League, afetando especialmente os deslocamen-
tos de intensidade intermédia (DI SALVO et al., 2007). Por outro lado, em outro 
estudo realizado na mesma liga profissional (Bradley et al., 2009) (Figura 2), em 
que se analisaram as necessidades de recuperação dos esforços de alta intensidade, 
verificou-se um aumento progressivo do tempo médio de recuperação, o que parece 
ser um forte indicador de que à medida que o jogo se desenrola a dificuldade em 
manter o trabalho de alta intensidade vai aumentando (SOARES; REBELO, 2013). A 
manifestação de fadiga durante o jogo de futebol tem sido também observada nos 
períodos subsequentes à realização de esforços intensos, o que foi designado por 
fadiga temporária.
13
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Figura 2: tempo médio de recuperação dos esforços de alta intensidade 
em atletas da premiere league (SOARES; REBELO, 2013)
A primeira tentativa de estabelecer o conceito de fadiga do futebolista foi origi-
nalmente descrita por Jens Bangsbo (1994). Analisando a intensidade do jogo em 
períodos de 5 minutos, foi verificado que, depois dos jogadores se envolverem num 
conjunto de corridas e ações de alta intensidade em um determinado período, apre-
sentavam no período seguinte uma diminuição considerável da intensidade do seu 
trabalho (MOHR et al., 2003; SOARES; REBELO, 2013).
Da análise dos vários estudos apresentados, podemos concluir que o futebol é 
uma modalidade muito exigente fisicamente, tendo como componente uma expres-
são diferenciada em função da posição específica do jogador, da concepção táctica, 
do nível competitivo e até das diversas fases do jogo (SOARES; REBELO, 2013). Por 
outro lado, a fadiga manifesta-se fundamentalmente após as fases mais intensas do 
jogo e na fase terminal do mesmo. Desse modo, cabe aos treinadores desenvolver 
estratégias de treino que promovam a capacidade de recuperação após exercício 
de alta intensidade e a resistência em exercício intermitente de longa duração, en-
quadradas evidentemente nas características específicas da modalidade (SOARES; 
REBELO, 2013).
Em particular, para um alto desempenho, é essencial aumentar a capacidade dos 
jogadores de manter níveis intensos de atividade e limitar a fadiga ao mesmo tempo, 
o que significa que os jogadores precisam de um componente misto de capacidades 
para um bom desempenho durante a partida (KÖKLÜ et al., 2015).
14
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
1.4 Análise do padrão de ações motoras durante a partida
Observar o padrão de deslocamento dos atletas durante uma partida é extrema-
mente importante para entender o contexto físico e fisiológico nas diferentes catego-
rias e posições existentes no futebol. Essas informações servem de parâmetros para 
planejar as sessões de treinamento de acordo com a demanda de jogo individualmente 
para as diferentes categorias e posições (SOARES; REBELO, 2013).
A concepção táctica é, dentre os diferentes aspectos responsáveis pelo padrão dedeslocamento na partida, um dos mais importantes. Se, por exemplo, estamos ava-
liando a distância percorrida por um lateral de uma equipe que joga mais recuada, 
com preocupações mais defensivas, a atividade desse atleta em termos de volume 
total de deslocamento será mais reduzida, devido as imposições táticas (Figura 3). 
Por outro lado, se essa equipe optar por uma concepção mais ofensiva em que os 
laterais atuam quase como extremos, vamos encontrar um maior espaço percorrido 
no jogo e, portanto, uma maior demanda fisiológica (SOARES; REBELO; 2013). 
Figura 3: Recorte de Análise de imagem (time motion) do perfil de posicionamento da seleção 
brasileira durante a copa do mundo da russia 2018 (FIFA website)
São hoje utilizadas numerosas formas de observar o jogo do ponto de vista físico. 
Essas formas envolvem a localização contínua dos jogadores durante todo o jogo com 
o intuito de se poder caracterizar os seus deslocamentos. Os métodos mais precisos 
e rápidos assentam na tecnologia de localização por GPS (ex.:GPS Sports), na análise 
computorizada de imagens de vídeo (ex.: Prozone e Amisco) e no tratamento de dados 
recolhidos por radiofrequência (ex.: ZXY Sport Tracking). Internacionalmente, esse tipo 
de análise denomina-se genericamente de time-motion analysis e foi muito utilizado 
nas duas últimas copas do mundo. A figura 4 presenta uma das variáveis monitoradas 
com o uso do GPS durante os jogos da Copa do Mundo da Rússia em 2018.
15
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Figura 4: média de distancia total percorrida > 25 km/h 
de todas as seleções durante a copa do mundo da Russia 2018 (FIFA website).
Os percursos realizados pelos jogadores são analisados em função da intensida-
de (ex.: sprint, corrida lenta, trote, etc.), do espaço percorrido, da frequência e da 
forma (ex.: corrida de costas, lateral, etc.). Está amplamente descrito em inúmeros 
trabalhos que um jogador de futebol percorre, dependendo da função específica, 
entre 8 e 12 km por jogo (DI SALVO et al., 2007) (Figura 5). Os deslocamentos de 
baixa intensidade ocupam cerca de 4/5 de todas as restantes formas de locomoção, 
no que se refere ao tempo, e de 70%, relativamente ao espaço. Porém, não é apenas 
a distância total percorrida que varia em função da posição no terreno de jogo – a 
distância percorrida nos diversos tipos de deslocamento apresenta também uma 
grande variação (DI SALVO, et al., 2007).
Figura 5: deslocamentos totais e número de sprints de acordo 
com função tática na partida (DISALVO et al., 2007 apud SOARES; REBELO, 2013).
Dessa forma, equipamentos que utilizam da tecnologia de Sistema de Posiciona-
mento Global (GPS) podem ser de grande utilidade, pois permitem a mensuração 
de todos os deslocamentos realizados durante essas sessões, podendo-se observar 
16
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
quais as exigências a que os atletas são submetidos em cada tipo de treinamento 
(técnico, tático, físico). Além disso, os equipamentos GPS permitem a quantificação 
das CET através das distâncias percorridas, semanalmente pelos atletas, em diversas 
intensidades (CASAMICHANA et al., 2012).
A tecnologia do GPS foi desenvolvida para fins militares, em meados dos anos 90, 
e utiliza um equipamento receptor que envia um sinal sobre a sua localização a pelo 
menos 3 (três) de uma rede de satélites ao redor da órbita terrestre (estima-se que 
existam mais de 27 satélites), sendo que esses satélites ficam em operação durante 24 
horas por dia e, por meio do envio desses sinais, pode-se determinar posteriormente 
o padrão de deslocamento desse receptor (CASAMICHANA et al., 2012). 
A fim de ser utilizada para fins esportivos, mais recentemente essa ferramenta 
foi adaptada e atualmente são comercializados diversos modelos (GPSports®, Cata-
pult®, Qstarz®, Polar Team Pro®, dentre outros) e de pequenos receptores portáteis 
(30 a 80g de peso), podendo ser fixado ao corpo do atleta durante a execução de sua 
atividade. Esses receptores enviam constantemente informações sobre a sua locali-
zação para o satélite (a cada segundo), sendo que todos os dados são gravados pelo 
equipamento e, depois de transferidos para um software, podem ser estimados o 
padrão dos deslocamentos realizados pelo receptor e, consequentemente, pelo atleta 
durante a sessão de treinamento (CASAMICHANA et al.; BARBERO-ÁLVAREZ et al., 
2010; CASAMICHANA et al., 2013). Em alguns casos, esses deslocamentos podem 
ser visualizados em tempo real através de equipamentos que permitem a conexão de 
uma antena portátil a um computador (CASAMICHANA et al., 2011).
Inicialmente, o padrão de deslocamento no futebol era quantificado por meio de 
análises de imagens. De acordo com este método, durante uma partida os atletas 
percorrem em média 9 a 12 km, sendo que, entre 80-90% do tempo, os atletas perma-
necem realizando deslocamentos de moderada a baixa intensidade (BRADLEY et al., 
2009; DELLAL et al., 2010; DI SALVO et al., 2010; BRADLEY et al., 2011). Entretanto, 
a quantificação do padrão de deslocamento através de análises de imagens demanda 
muito tempo e exige várias câmeras espalhadas pelo campo de jogo, o que pode ser 
um fator limitante para equipes com um menor orçamento. 
Alguns estudos têm utilizado equipamentos de GPS para monitorar o desloca-
mento de jovens atletas durante jogos ou treinamentos (BUCHHEIT et al., 2010a; 
CASAMICHANA et al., 2012; CASAMICHANA et al., 2013), sendo que a utilização 
dessa ferramenta tem se mostrado válida para quantificar padrões de deslocamento 
em campo (COUTTS et al., 2009; BARBERO-ÁLVAREZ et al., 2010; CASAMICHANA 
et al., 2011), principalmente quando se utiliza equipamentos com frequência de 
aquisição de sinal acima de 10Hz (CASAMICHANA et al., 2012).
Utilizando esse método, Buchheit e colaboradores (2010a) estudaram atletas de 13 
a 18 anos e observaram que, durante as partidas, os atletas com idade próxima aos 
17 anos podem percorrer uma distância total de até 8,7 km. Porém, para os atletas 
mais jovens, à distância percorrida em jogos não passa dos 6,5 km demonstrando que 
podem existir diferenças significativas nas distâncias totais percorridas por jovens 
17
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
atletas em relação às diferentes categorias de idades existentes no futebol. Os autores 
demonstraram ainda que as distâncias percorridas são diferentes entre as posições 
existentes no futebol, sendo que os meio-campistas foram os atletas que percorreram 
as maiores distâncias totais (8,6 km), enquanto que os zagueiros se deslocaram me-
nos (7,6 km) durante as partidas, que foram compostas por 2 tempos de 40 minutos 
cada. Entretanto, com relação à distância percorrida em altas intensidades (acima 
de 17 km/h) observaram-se maiores valores em favor dos atacantes e laterais, suge-
rindo que essas posições podem sofrer um maior desgaste físico durante as partidas 
(BUCHHEIT et al., 2010a).
A partir das informações extraídas dos jogos, é possível planejar, acompanhar e 
comparar, por exemplo, o volume total percorrido nas diferentes intensidades durante 
as sessões semanais de treinamento, a fim de detectar estímulos insuficientes para 
simular as exigências a que os atletas são submetidos nos jogos oficiais. Dessa forma, 
Casamichana et al. (2012) compararam o padrão de deslocamento de jogadores de 
futebol adulto, com utilização de GPS durante jogos amistosos e treinamentos se-
manais em campo reduzido, destacando que as distâncias percorridas nas diferentes 
intensidades são muito próximas, tanto nos jogos amistosos como no treino de campo 
reduzido. Além disso, os autores observaram também que o tempo de permanência 
nas diferentes zonas também foi similar, principalmente nas velocidades de 13 a 17 
km/h. Entretanto, a distância total percorrida em sprints (>21 km/h), número de 
sprints realizados e a média de duração dos sprints, foram significantemente maiores 
durante os jogos amistosos.
Buchheit e colaboradores (2011) investigaram atletas jovens (13-16 anos) durante 
doisjogos intercalados por um intervalo de 48h, e constataram que os jogadores per-
correm em média 1500 m em alta intensidade e que os atacantes percorrem maiores 
distâncias em alta intensidade e sprints do que as demais posições. Analisando o 
número de sprints repetidos em atletas de futebol de 15 a 18 anos durante as partidas, 
Buchheit e colaboradores (2010b) observaram que os laterais e atacantes realizam um 
número maior de sprints longos (acima de 3 segundos) do que os meio-campistas 
mais recuados. Além disso, a duração dos sprints foi reduzida com o aumento da ida-
de, ou seja, os atletas mais jovens realizavam sprints mais longos durante as partidas, 
ressaltando que as velocidades para se caracterizar o sprint foram diferentes entre as 
categorias analisadas e a duração de cada partida foi composta por: 2 x 35 min (SUB 
13 e SUB14); 2 x 40min (SUB 15, 16 e 17) e 2x 45 min para a categoria (SUB 18).
Atualmente, embora existam algumas informações a respeito do padrão de des-
locamento durante jogos no futebol mundial, há especificidades relacionadas a cada 
categoria (idade), país ou continente que devem ser respeitadas, sendo apresentado 
adiante.
18
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
BANGSBO, J. The physiology of soccer--with special reference to intense intermittent 
exercise. Acta Physiologica Scandinavica. Supplementum, v. 619, p. 1-155, 1994. 
BARBANTI, V. J. Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo: CLR Balieiro, 
1996. 116 p.
BARBERO-ÁLVAREZ, J. C. et al. The validity and reliability of a global positioning 
satellite system device to assess speed and repeated sprint ability (RSA) in athletes. 
Journal of Science and Medicine in Sport, v. 13, n. 2, p. 232-235, 2010. 
BARNES, C. et al. The evolution of physical and technical performance parameters 
in the English Premier League. International Journal of Sports Medicine, v. 35, n. 
13, p. 1095-1100, 2014. 
BRADLEY, P. S. et al. The effect of playing formation on high-intensity running and 
technical profiles in English FA Premier League soccer matches. Journal of sports 
sciences, v. 29, n. 8, p. 821-830, 2011. 
BRADLEY, P. S. et al. High-intensity running in English FA Premier League soccer 
matches. Journal of sports sciences, v. 27, n. 2, p. 159-168, 2009. ISSN 0264-0414. 
BUCHHEIT, M. et al. Effects of age and spa treatment on match running performance 
over two consecutive games in highly trained young soccer players. Journal of sports 
sciences, v. 29, n. 6, p. 591-598, 2011. ISSN 0264-0414. 
BUCHHEIT, M. et al. Match running performance and fitness in youth soccer. Inter-
national journal of sports medicine, v. 31, n. 11, p. 818-825, 2010a. 
BUCHHEIT, M. et al. Repeated-sprint sequences during youth soccer matches. Inter-
national journal of sports medicine, v. 31, n. 10, p. 709-716, 2010b. 
CASAMICHANA, D. et al. Relationship between indicators of training load in soccer 
players. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 27, n. 2, p. 369-374, 
2013. 
CASAMICHANA, D. et al. The use of accelerometers to quantify the training load in 
soccer. Routledge, 2013. p.409.
CASAMICHANA, D.; CASTELLANO, J.; CASTAGNA, C. Comparing the physical de-
mands of friendly matches and small-sided games in semiprofessional soccer players. 
The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 26, n. 3, p. 837-843, 2012. 
19
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
CASAMICHANA, D. et al. Physiological demand in small-sided games on soccer with 
different orientation of space. Int J Sport Sci, v. 7, n. 23, p. 141-154, 2011. 
COUTTS, A. J. et al. Heart rate and blood lactate correlates of perceived exertion 
during small-sided soccer games. Journal of Science and Medicine in Sport, v. 12, 
n. 1, p. 79-84, 2009. 
CUNHA, F. Histórico e importância da preparação física para o futebol no Brasil. 
Lecturas: Educación física y deportes, n. 63, p. 17, 2003. 
DE ALMEIDA BARROS, J. M. Futebol: porque foi... porque não é mais. Sprint, 1990.
DELLAL, A. et al. Physical and technical activity of soccer players in the French 
First League-with special reference to their playing position. International SportMed 
Journal, v. 11, n. 2, p. 278-290, 2010.
DI SALVO, V. et al. Sprinting analysis of elite soccer players during European Cham-
pions League and UEFA Cup matches. Journal of sports sciences, v. 28, n. 14, p. 
1489-1494, 2010. 
DI SALVO, V. et al.. Performance characteristics according to playing position in elite 
soccer. International journal of sports medicine, v. 28, n. 03, p. 222-227, 2007. 
ISSN 0172-4622. 
GOMES, A. C.; DE SOUZA, J. Futebol: treinamento desportivo de alto rendimento. 
Artmed Editora, 2009. 
GONCALVES, T. The principles of Brazilian soccer. Reedswain Inc., 1998.
KÖKLÜ, Y. et al. Comparison of the Physiological Responses and Time-Motion Cha-
racteristics of Young Soccer Players in Small-Sided Games: The Effect of Goalkeeper. 
The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 29, n. 4, 2015.
MATTA, J. A. et al. General anesthetics activate a nociceptive ion channel to enhance 
pain and inflammation. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 105, 
n. 25, p. 8784-8789, 2008. 
MAYHEW, S. R.; WENGER, H. A. Time-motion analysis of professional soccer. Jour-
nal of Human Movement Studies, v. 11, n. 1, p. 49-52, 1985. 
20
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
MILISTETD, M. et al. Formação de Treinadores Esportivos: realidade e perspectivas. 
In: LEMOS, K. L. M.;GRECO, P. J., et al (Ed.). 5 Congresso Internacional dos Jogos 
Desportivos. Belo Horizonte: Instituto Casa da Educação Física., 2015. 
MOHR, M.; KRUSTRUP, P.; BANGSBO, J. Match performance of high-standard soccer 
players with special reference to development of fatigue. Journal of sports sciences, 
v. 21, n. 7, p. 519-528, 2003. 
RAMPININI, E. et al. Variation in top level soccer match performance. International 
journal of sports medicine, v. 28, n. 12, p. 1018-1024, 2007. 
RIGO, L. Preparação Física. São Paulo: Global, 1977. 186 p.
SOARES, J.; REBELO, A. N. C. Fisiologia do treinamento no alto desempenho do 
atleta de futebol. Revista Usp, n. 99, p. 91-106, 2013. 
21
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Perfil dos autores
Lucas Carvalho Leme é natural de Ourinhos, São Paulo. Graduado 
em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina, com 
Pós-Graduação em Treinamento Esportivo e Mestrado na área 
de Ajustes Fisiológicos ao Exercício.
Possui Experiência de 16 anos atuando como Preparador 
Físico e Fisiologista de atletas de alto rendimento, em diversas 
modalidades coletivas como: Handebol (UNOPAR e UNIFIL 
Londrina), Futsal (Londrina), Basquetebol (Vitória e Londrina). Desde 
2012 vem trabalhando com atletas profissionais de futebol (Londrina Esporte Clube 2012 
a 2016 e Chapecoense 2017 a 2019). Consultor em fisiologia de atletas participantes das 
olimpíadas de Pequim (2008) e Londres (2012).
Docente de Cursos de Pós-Graduação em instituições nacionais nas áreas de treinamento 
esportivo, futebol e fisiologia do exercício.
Darlan Perondi é natural de Xavantina, no estado de Santa 
Catarina, graduado em Educação Física pela Universidade do 
Oeste de Santa Catarina (UNOESC) e Mestre em Ciências 
do Esporte pela Universidade Federal de Minas Gerais. É 
pesquisador na área da Ciências do Esporte, desenvolvendo 
estudos na perspectiva da Psicologia do Esporte, com temas 
relacionados ao treinamento esportivo, principalmente ligados ao 
desenvolvimento de treinadores. Possui experiência como auxiliar 
técnico na modalidade de futsal, sendo campeão microrregional dos Joguinhos Abertos 
de Santa Catarina (2014) e campeão regional dos Jogos Abertos de Santa Catarina (2014) 
na categoria feminino. Além disso possui experiência como professor universitário (2018).
22
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
FABIANO DE SOUZA FONSECA
TREINAMENTO DAS 
CAPACIDADES FÍSICAS NO FUTEBOL
2
Capítulo
23
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
2.1CONTEXTUALIZAÇÃO
O futebol pode ser considerado um esporte complexo do ponto de vista físico e 
fisiológico devido à natureza intermitente das ações realizadas e exigências meta-
bólicas impostas pelo jogo, conforme abordado na unidade I. Desta forma, conco-
mitantemente ao desenvolvimento das capacidades técnicas e táticas, os jogadores 
de futebol devem manter um elevado nível de condicionamento físico com o intuito 
de potencializar o desempenho em competição (HOFF, 2005). Portanto, o aprimo-
ramento do nível de condicionamento físico e desenvolvimento das capacidades 
físicas (capacidades condicionais) se torna fundamental porque representa a base 
estável que sustenta o ótimo rendimento dos demais componentes determinantes da 
performance no futebol. 
De fato, alcançar elevados níveis competitivos no futebol atual pressupõe uma 
ótima preparação tática, técnica, psicológica, e ainda, excelente nível de condiciona-
mento físico (GOMES; SOUZA, 2008). Até porque tem sido notável que os aspectos 
físicos/fisiológicos parecem ser cada vez mais decisivos no futebol moderno (BUSH 
et al., 2015). Esse fato inclusive implica no reconhecimento da importância do pre-
parador físico como elemento chave nas equipes multidisciplinares que compõem 
as comissões técnicas (TURNER; STEWART, 2014). A preparação física pode ser 
considerada então um componente essencial do complexo sistema de treinamento 
no futebol que possui o propósito de desenvolver as capacidades físicas para poten-
cializar o desempenho competitivo. 
As capacidades físicas são entendidas como um conjunto de propriedades do or-
ganismo (atributos/qualidades físicas) determinadas essencialmente por processos 
energéticos, neurais, plásticos e metabólicos que podem afetar a performance em 
jogo (GOMES, 2009). Assim sendo, a resistência, a força, a velocidade, a agilidade e 
a flexibilidade representam o conjunto de capacidades físicas constituintes dos pilares 
que garantem a máxima eficiência para executar as ações intrínsecas ao contexto de 
jogo. Mas cabe destacar que a especificidade da modalidade implica em diferentes 
níveis de importância dessas capacidades para a performance competitiva. Esse as-
pecto deve ser considerado pelo preparador físico durante o processo de planejamento 
e estruturação do treinamento para garantir o desenvolvimento multilateral do atleta 
e também garantir a ênfase apropriada em capacidades que são determinantes em 
ações motoras que definem o resultado de uma partida.
Considerando que o desenvolvimento da resistência, força, velocidade, agilidade 
e flexibilidade representa o principal objeto da intervenção do preparador físico no 
futebol, o conhecimento acerca dos pressupostos teóricos que subsidiam o aprimora-
mento dessas capacidades pode ser considerado um pré-requisito para a atuação com 
excelência na preparação física. O objetivo deste módulo é fornecer uma visão geral 
sobre o treinamento das capacidades físicas relacionadas à performance no futebol 
com o intuito de fundamentar o processo de planejamento, avaliação, prescrição e 
controle do treinamento físico.
24
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
2.2 TREINAMENTO DE RESISTÊNCIA
2.2.1 Conceito e importância na preparação do futebolista
Dentre as diferentes definições encontradas na literatura no contexto esportivo, 
predomina a noção de resistência como a capacidade do indivíduo em desempenhar 
eficazmente determinada tarefa motora pelo máximo período de tempo resistindo 
à fadiga (WEINECK, 2003; PLATONOV, 2008; MARTIN; CARL; LEHNERTZ, 2008). 
Fadiga pode ser entendida como um estado transitório de redução da capacidade de 
rendimento (MOR; KRUSTRUP; BANGSBO, 2005). Durante uma partida de futebol, 
os atletas realizam atividades prolongadas em baixa intensidade intercaladas por 
momentos curtos de alta intensidade durante cerca de 90 minutos (GOMES; SOUZA, 
2008). Esse perfil de exigência física/fisiológica gera fadiga e afeta o rendimento dos 
jogadores. 
De fato, tem sido observada reduções importantes na distância percorrida e nas 
ações de alta intensidade do período inicial para o final das partidas (MOR; KRUS-
TRUP; BANGSBO, 2003; RAMPININI; COUTTS; CASTAGNA; SASSI; IMPELLIZZE-
RI, 2007; CARLING; DUPONT, 2011). A fadiga relacionada ao jogo também parece 
reduzir a quantidade e qualidade do desempenho técnico para ao longo da partida 
(RAMPININI; IMPELLIZZERI; CASTAGNA; AZZALIN; BRAVO; WISLOFF, 2008). Por 
essa razão, a fadiga é vista como um dos principais fatores que afeta o rendimento 
do futebolista, e portanto, deve ser considerado o desenvolvimento da capacidade de 
resistência no treinamento físico no futebol (GOMES; SOUZA, 2008). Espera-se que 
atletas com um nível ótimo de resistência sejam capazes de manter a eficiência das 
ações motoras durante os treinamentos e ao longo das partidas porque estão menos 
susceptíveis aos efeitos negativos da fadiga.
2.2.2 Fundamentos fisiológicos do treinamento de resistência
Tendo em vista os aspectos fisiológicos e bioquímicos, a capacidade de resistên-
cia é determinada pelo balanço entre a velocidade de consumo energético durante o 
esforço e as reservas de energia disponíveis (HAFF; TRIPLETT, 2015). Qualquer ati-
vidade motora envolve contração muscular, e consequentemente, há gasto energético 
para execução desse trabalho mecânico. A energia usada pelo tecido muscular para 
realizar a contração é obtida pela quebra da molécula adenosina trifosfato (ATP). 
As células musculares através de uma cadeia de reações bioquímicas transformam 
a energia potencial da molécula de ATP em trabalho mecânico (McARDLE; KATCH; 
KATCH, 2016). 
A liberação de energia ocorre pela hidrólise do ATP ao nível das proteínas contrá-
teis (actina e miosina) constituintes das fibras musculares. Como a reserva de ATP 
intracelular é limitada, os estoques de ATP seriam rapidamente esgotados caso não 
houvessem mecanismos fisiológicos para suprir a demanda energética durante o exer-
cício prolongado. A ressíntese contínua de ATP, à medida que o mesmo é utilizado 
pelo organismo durante o exercício, garante que o trabalho mecânico seja sustentado 
25
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
de forma eficiente por longos períodos, e desta forma, determina a capacidade de 
resistência (McARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Esse processo ocorre basicamente 
através de três sistemas de produção de energia:
1. Anaeróbio alático: utiliza a degradação da creatina fosfato (CP) presente nos 
músculos em quantidade limitada para produzir energia imediata;
2. Anaeróbio lático (glicólise anaeróbia): consiste na degradação do glicogênio 
(ausência de oxigênio) e resulta na liberação de ATP + ácido lático;
3. Aeróbio: implica na degradação da glicose e ácidos graxos com participação 
direta de oxigênio para produção de grandes quantidades de ATP.
No quadro 1 é apresentado um resumo dos diferentes mecanismos envolvidos na 
obtenção de energia e ressíntese de ATP. 
Quadro 1 – Mecanismos fisiológicos de síntese de ATP.
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).
Os sistemas de produção de energia elencados acima são caraterizados pela sua 
potência, capacidade e eficiência. A potência reflete a velocidade de liberação do 
ATP nos processos metabólicos. A capacidade se refere à quantidade total de energia 
produzida pelo sistema. Já a eficiência indica em que medida a energia liberada pelo 
sistema é utilizada para a realização de um trabalho específico (GOMES, 2009).
O sistema anaeróbio alático representa aquele com maior potência e assegura 
a maior parte de provimento de energia aos músculos nos primeiros segundos de 
exercícios em altas intensidades. Esse sistema desempenha papel primordial para o 
suprimento energético em ações motoras de curta duração e alta intensidade, como 
ocorrem nos sprints em curtas distâncias, saltos, cabeceios, chutes e etc (GOMES, 
2009; GOMES; SOUZA, 2008).
O sistema anaeróbio lático (glicólise anaeróbia) alcança a potência máxima em 
aproximadamente 30 a 40 segundos de trabalho muscular, emboraem menor mag-
nitude comparada à potência do mecanismo ATP-CP (anaeróbio alático). Portanto, 
durante esforços com duração até 40 segundos, esse mecanismo possui predominân-
cia no fornecimento de energia para manter o trabalho muscular. Isso pode ocorrer 
26
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
por exemplo em situações envolvendo o contra-ataque ou recomposição defensiva 
nas quais os atletas devem percorrer distâncias relativamente longas no campo de 
jogo (GOMES, 2009; GOMES; SOUZA, 2008).
O sistema aeróbio (oxidativo) representa o principal mecanismo de fornecimento 
de energia durante esforços prolongados. Sua predominância sobre os mecanismos 
anaeróbios para o suprimento energético ocorre gradualmente à medida que o exer-
cício se prolonga, podendo atingir a sua máxima participação entre 2 e 5 minutos de 
esforço (GOMES, 2009; GOMES; SOUZA, 2008). 
O treinamento de resistência resulta em adaptações fisiológicas que afetam po-
sitivamente a capacidade do organismo em mobilizar energia pelos sistemas acima 
descritos. O grau em que essas adaptações ocorrem depende principalmente do nível 
de treinamento do atleta e fatores genéticos. Há uma melhoria das funções do siste-
ma respiratório e cardiovascular, aumento do débito cardíaco, aumento no volume 
de ejeção, o aumento da concentração de hemoglobina e volume sanguíneo, assim 
como melhora na sua redistribuição entre os músculos, e etc. No nível metabólico e 
musculo-esquelético, dentre as principais adaptações, ocorre um aumento no número 
e tamanho das mitocôndrias, enzimas oxidativas e vascularização capilar (McARDLE; 
KATCH; KATCH, 2016).
Apesar dos jogadores passarem a maior parte do tempo de uma partida em ati-
vidades de baixa a moderada intensidade (BANGSBO, 2006), são as atividades em 
alta intensidade que muitas vezes definem o resultado de uma partida. Devido as 
características dos esforços e distribuição das atividades motoras ao longo de uma 
partida, é plausível considerar que tanto o sistema aeróbio quanto o sistema anaeró-
bio (lático e alático) tem participação importante para o fornecimento de energia ao 
longo dos 90 minutos de uma partida. Assim, o treinamento de resistência aeróbia e 
anaeróbia deve ser programado na preparação física no futebol.
2.2.3 Classificação e objetivos do treinamento de resistência
A resistência tem sido classificada de acordo com critérios ou fatores que deter-
minam sua forma de manifestação. A classificação em relação à especificidade e 
solicitação metabólica são importantes quando se trata do treinamento de resistência 
no futebol. Quanto ao critério da especificidade, a resistência se manifesta de forma 
geral ou específica. Já em relação à solicitação metabólica, ela pode ser classificada 
em resistência aeróbia, anaeróbia alática e anaeróbia lática (GOMES, 2009).
Tem sido consensual na literatura que o treinamento de resistência aeróbia tem 
papel fundamental na preparação atlética em modalidades intermitentes, já que a 
mesma forma a base funcional que favorece o desenvolvimento de outras capacidades 
determinantes para a performance ótima. Sua importância se manifesta por exemplo, 
favorecendo os processos de recuperação entre os estímulos numa mesma sessão de 
treinamento, bem como, entre diferentes sessões e/ou dias de treinamento. 
27
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
O treinamento de resistência aeróbia implica em um programa que é estruturado 
para potencializar o processo de captação, transporte e utilização de oxigênio para 
fornecer energia. É imperativo durante a partida de futebol e sessões de treinamento 
que haja um bom suprimento de oxigênio para os músculos ativos e que estes teci-
dos sejam capazes de usá-lo de forma eficiente para produzir energia. Melhoras na 
aptidão aeróbica impactam diretamente na capacidade de sustentar o exercício em 
determinada intensidade por mais tempo.
No contexto do futebol, a maior necessidade de elevar o nível de aptidão aeróbia 
ocorre principalmente no período de pré-temporada (REILLY, 2007). A participação do 
jogo em si pode melhorar o transporte de oxigênio, mas não em magnitude suficiente 
para propiciar mudanças fisiológicas significativas. Por esta razão, no treinamento 
antes da temporada competitiva é provável que tenha mais aptidão formal e trabalho 
de condicionamento do que em outros momentos durante a temporada. Ganhos acu-
mulados do treinamento aeróbico provavelmente serão menos pronunciados dentro 
da temporada competitiva.
São objetivos específicos do treinamento de resistência no futebol:
 Criar uma base ampla para o treinamento da técnica e da tática; 
 Aumentar a capacidade física do jogador, criando possiblidade de uma parti-
cipação mais longa e intensa nos jogos, com e sem bola, na sua duração total 
e com elevado ritmo de jogo, utilizando ao máximo as suas reservas físicas;
 Melhorar a sua capacidade de recuperação, superando mais rapidamente os 
sintomas de cansaço e compensando melhor eventuais decréscimos de pro-
dução de energia, nos jogos e entre jogos e treinos; 
 Reduzir o risco de lesões (o músculo se mantém em condições de gerar respos-
tas rápidas e eficazes durante mais tempo, face a possíveis quedas, pancadas, 
gestos bruscos, etc.);
 Diminuir os erros técnicos (a concentração é mantida durante mais tempo, 
bem como a atenção e a rapidez nas diferentes ações técnicas); 
 Favorecer os processos cognitivos (a fadiga é melhor suportada e a recuperação 
mais rápida, o sistema nervoso é menos afetado, prolongando por mais tempo 
capacidades ótimas de antecipação, decisão e reação).
28
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
2.2.4 Principais métodos e meios de treinamento de resistência no futebol
Método Contínuo
Os métodos contínuos são caracterizados por esforços contínuos sem que haja 
interrupção do estímulo, cujo o exercício apresenta-se em uma série única e definitiva. 
Um exemplo de aplicação desse método seria realizar uma corrida por 30 minutos 
sem pausa a 60% da FC máxima.
A intensidade pode ser manipulada durante esse método, originando outras sub-
classificações: contínuo uniforme e contínuo variável. No método contínuo uniforme, 
a intensidade é mantida relativamente estável durante todo o esforço. Já no método 
contínuo variável, a intensidade é aumentada ou diminuída constantemente durante 
o esforço. Obviamente, a manipulação da intensidade é realizada com o intuito de 
gerar adaptações específicas.
Método Fracionado
Os métodos fracionados (intervalados) são representados por exercícios que pos-
suem pausas intercaladas entre os períodos de esforços. Os métodos intervalados 
podem ser com pausas completas, quando permitem a recuperação praticamente total 
do atleta antes do próximo esforço, ou também com pausas incompletas, nesse caso, 
o novo estímulo é iniciado sem a completa recuperação do atleta. Os intervalos de 
recuperação são manipulados em função das adaptações específicas que se objetivam 
com cada variação. Os treinamentos intervalados de alta intensidade (HIIT) é um 
exemplo de aplicação desse método.
Método competitivo
O método competitivo é caracterizado pela utilização de jogos (adaptados, mini-
-jogos, coletivos) para promover ganhos na capacidade de resistência. Consideran-
do que o metabolismo energético predominante nesses jogos é aeróbio, tais meios 
são vistos como uma ferramenta capaz de promover adaptações específicas que 
promovam melhora na capacidade de resistência. Os jogos reduzidos (small sided 
games) têm sido amplamente utilizados pelos preparadores físicos com esse propó-
sito. Além de propiciar adaptações específicas em relação à resistência, tais jogos 
envolvem elementos técnico-táticos que permite o desenvolvimento simultâneo de 
outras capacidades importantes. Considerando o tempo reduzido de preparação da 
maioria das equipes, otimizar os processos de treinamento através do treinamento 
integrado é imperativo. Além disso, o aspecto motivacional é outro fator importante 
a ser considerado a favor desse método. Hámaior envolvimento e motivação dos 
atletas pelos trabalhos realizados com bola envolvendo situações específicas de jogo. 
Mudanças e alterações nas regras dos jogos reduzidos permitem alterar a dinâmica 
e intensidade dos mesmos visando adaptações específicas em relação à resistência.
29
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
2.3 TREINAMENTO DE FORÇA E POTÊNCIA
2.3.1 Importância do treinamento de força e potência no futebol
Conceitualmente, a força é entendida como a capacidade de vencer ou suportar 
uma resistência dada como resultado da contração muscular (MANSO; VALDIVIELSO; 
CABALLERO, 1996). Especificamente no futebol, a força e potência muscular tem 
papel fundamental para a performance atlética, já que estão associadas diretamente 
com a capacidade de desempenhar ações de alta intensidade, como saltos, sprints, 
mudanças de direção, acelerações (FAUDE et al., 2012; LOTURCO et al., 2015). Estu-
dos científicos que analisaram longitudinalmente o Campeonato Inglês (temporadas 
de 2006 a 2012) têm verificado ao longo das temporadas um aumento da distância 
percorrida pelos jogadores em sprints e também aumento da velocidade média das 
corridas em alta velocidade para diferentes posições (TURNER; STEWART, 2014). 
Apesar das atividades em alta intensidade representarem apenas cerca 9% do total 
das ações realizadas pelos jogadores numa partida, tais atividades são determinantes 
nos momentos cruciais que definem os resultados da partida, como por exemplo, 
nas jogadas que geram as oportunidades de gol ou nas ações defensivas que buscam 
evitar a chance de gol do adversário (FAUDE et al., 2012). Além disso, há fortes evi-
dências científicas que a força potencializa o desempenho global do atleta, reduz o 
risco de lesões e favorece a recuperação (SUCHOMEL et al., 2018).
Em conjunto, as evidências apresentadas acima deixam claro a importância da 
capacidade de força e potência muscular na preparação física no futebol moderno. 
Portanto, é relevante compreender os fundamentos do treinamento de força, as prin-
cipais adaptações fisiológicas ao treinamento e os principais métodos de desenvolvi-
mento da força para estruturação de programas de treinamento aplicados ao futebol. 
Tais aspectos serão apresentados e discutidos na sequência.
2.3.2 Classificação e objetivos do treinamento de força no futebol
A capacidade do músculo gerar força mantendo ótima a eficiência da contração 
durante o esforço constitui a base para o desempenho esportivo em qualquer modali-
dade. Um dos objetivos em comum nos programas de condicionamento e preparação 
esportiva é melhorar a funcionalidade do sistema neuromuscular. No entanto, os 
objetivos específicos podem ser diferentes dependendo das necessidades específicas 
e exigências da modalidade esportiva em questão.
Mais especificamente, a compreensão dos componentes da força e suas formas 
de manifestação tem implicações diretas na definição dos objetivos específicos da 
preparação física no futebol, assim como auxiliar na estruturação do planejamento 
do programa de treino, na seleção dos meios e métodos de treinamento e direciona 
a definição de protocolos de avaliação do desempenho neuromuscular. 
A capacidade de força recebe classificações conforme sua forma de manifestação, a 
saber: força máxima, força explosiva (potência) e resistência de força. A força máxima 
30
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
representa a maior quantidade de força que o sistema neuromuscular é capaz de 
gerar por meio de uma única contração voluntária máxima. Já força explosiva é o 
componente da força associado à capacidade do sistema neuromuscular em desen-
volver máxima tensão no menor tempo possível. Por fim, a resistência de força é 
caracterizada pela capacidade de manutenção do sistema neuromuscular gerar tensão 
pelo maior tempo possível e resistir à fadiga (BAECHE; EARLE, 2016).
Tendo em vista as especificidades inerentes às ações musculares realizadas em 
jogo e demandas físicas da modalidade, os jogadores de futebol devem estar aptos 
fundamentalmente para aplicar força em alta velocidade. Embora a força máxima 
e resistência de força tenham considerável importância na preparação física geral 
do futebolista, a força explosiva é vista como o componente determinante para o 
desempenho no futebol. Isto porque a força explosiva afeta diretamente a performan-
ce durante saltos, corridas em alta velocidade, acelerações, chutes, deslocamentos 
rápidos com e sem mudança de direção (GOMES; SOUZA, 2008). Sendo assim, o 
principal propósito do treinamento de força no futebol deve ser promover adaptações 
fisiológicas capazes de maximizar a capacidade de gerar tensão em alta velocidade, 
ou seja, potencializar os ganhos de força explosiva. 
2.3.3 Adaptações fisiológicas ao treinamento de força
A contração muscular envolve tanto componentes centrais (neurais) e periféricos 
(musculares). Nesse sentido, espera-se que as adaptações geradas pelo treinamento 
de força ocorram em componentes neurais e estruturais/morfológicos. As adapta-
ções em mecanismos neurais abrangem a coordenação intra e intermuscular, tais 
como, recrutamento de unidades motoras, sincronização, taxa de disparo, ativação 
de sinergistas e co-ativação de antagonistas). As adaptações estruturais/morfológicas 
implicam em mudanças na arquitetura muscular (mudanças no ângulo de penação, 
aumento do volume das fibras musculares e aumento da seção transversa do mús-
culo) (BAECHE; EARLE, 2016). 
Durante o período inicial de treinamento os ganhos de força são oriundos de 
adaptações em mecanismos neurais. Uma das principais adaptações é o aumento 
na eficiência no recrutamento de unidades motoras. O treinamento favorece o recru-
tamento de maior quantidade de fibras musculares e recrutamento preferencial de 
unidades motoras grandes e rápidas, o que aumenta a capacidade de produção de 
força muscular. Além disso, há ainda aumento da taxa de disparo e da velocidade da 
condução do potencial de ação para a contração muscular (BAECHE; EARLE, 2016).
O treinamento de força também é capaz de melhorar o sincronismo e ativação de 
várias unidades motoras que compõem um grupo muscular (várias fibras musculares 
inervadas por uma terminação neural contraindo ao mesmo tempo). A melhoria na 
sincronização torna o processo de contração ordenado, faz com que o movimento seja 
executado de forma eficiente resultando em ganhos de força (BAECHE; EARLE, 2016).
31
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Outra adaptação neural que ocorre em resposta ao treinamento de força é a di-
minuição da ativação dos músculos antagonistas. Os músculos antagonistas atuam 
como um regulador da força ou potência gerada pelos agonistas durante o movimento. 
Portanto, sua ativação excessiva não é desejável porque pode reduzir a força resul-
tante do processo de contração. Após um período de treinamento, há uma melhoria 
na coordenação dos músculos envolvidos no movimento, na qual os agonistas são 
ativados com maior eficiência e também reduz a co-ativação dos antagonistas (BA-
ECHE; EARLE, 2016).
2.3.4 Principais métodos e meios de treinamento de força
Esta seção descreve os principais métodos e meios capazes de proporcionar ganhos 
de força e potência, mas que sejam facilmente aplicáveis em diferentes contextos 
de preparação física no futebol. De fato, a literatura apesenta uma ampla variedade 
de métodos e meios de treinamento de força, entretanto, vários deles, apesar de se 
mostrarem eficientes para o desenvolvimento de força e potência, possuem pouca 
aplicabilidade no treinamento de atletas realizados em grupo (como é o caso do 
futebol) ou exigem grande aporte instrumental para sua execução, fato que não é a 
realidade da maioria dos clubes de futebol. Portanto, os métodos e meios apresenta-
dos a seguir foram escolhidos considerando suas potencialidades em maximizar os 
ganhos de força e aplicabilidade para a preparação física.
Treinamento com peso corporal
O treinamento com peso corporal envolve exercícios básicos usandoapenas a 
massa corporal contra a gravidade para manipular a intensidade da carga e gerar 
adaptações neuromusculares (HARRISON, 2010). Esse método de treinamento pode 
ser usado como parte inicial de uma progressão para exercícios mais complexos e/
ou cargas mais elevadas, bem como, a 1ª etapa de um planejamento a longo prazo 
de treinamento de força nas categorias de base. Diferentes meios (exercícios) podem 
ser facilmente implementados no programa de treinamento usando somente o peso 
corporal para diferentes grupamentos musculares, tais como: agachamento tradi-
cional, agachamento unilateral, afundo/avanço, terra unilateral (perna estendida), 
abdominal com flexão de tronco, prancha frontal, prancha lateral, apoio de braço 
(isometria), flexão de braço, puxadas na barra, elevação pélvica, burpees, elevação 
alternada de pernas em decúbito, e etc. 
Embora os exercícios de peso corporal apresentam inúmeras vantagens especial-
mente em relação a praticidade, versatilidade e acessibilidade, a capacidade de gerar 
sobrecarga crescente é limitada, o que pode dificultar grandes incrementos de força. 
Desta forma, a intensidade e o volume são variáveis a serem manipuladas com o 
intuito de gradativamente aumentar a sobrecarga. A intensidade pode ser aumentada 
manipulando a complexidade do exercício e carga relativa imposta ao grupamento 
32
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
alvo (executar o agachamento unilateral como progressão de carga do agachamento 
tradicional). A sobrecarga crescente também pode ser gerada através do aumento do 
volume (séries e repetições), com o avanço do programa de treinamento (SUCHOMEL 
et al., 2018).
Treinamento tradicional 
O treinamento de força tradicional pode ser caracterizado pelo uso de máquinas e 
pesos livres nos exercícios para diferentes grupamentos musculares com o propósito 
de aumentar a força muscular. Apesar desse método de treinamento ser amplamente 
utilizado na preparação física no futebol, a sua utilização exclusiva como meio para 
gerar adaptações neuromusculares específicas, e consequentemente, ganhos de força 
e potência que resultem em melhora da performance é questionável. 
O primeiro aspecto a se considerar é que grande parte dos exercícios realizados 
em máquinas são caracterizados pela desaceleração e frenagem do movimento na 
fase final da execução ocasionada por restrições do próprio equipamento, inclusive 
quando a carga externa é relativamente baixa e o movimento pode ser executado com 
grande velocidade. Entretanto, esses exercícios possuem baixa especificidade com o 
futebol, já que na maioria das atividades motoras e gestos técnicos, os movimentos 
ocorrem com aceleração crescente e a frenagem é causada pela força da gravidade. 
Outro aspecto importante é que vários exercícios em máquinas são uniarticulares e 
direcionados para grupamentos musculares isolados. Esse fato torna questionável a 
eficiência da transferência de força/potência para as ações esportivas, uma vez que 
elas são de natureza multiarticular e raramente incluem o trabalho muscular de forma 
isolada (STONE et al., 2000; HAFF; NIMPHIUS, 2012). 
Nesse sentido, o treinamento tradicional usando máquinas na preparação física 
não deve ser visto como o método principal e exclusivo a ser implementado no pro-
grama de treinamento de força para futebolistas, mas sim como um instrumento que 
deve ser usado para objetivos específicos dentro da preparação. Ou seja, o método 
tradicional usando máquinas pode ser usado complementarmente a outros métodos 
que possuem maior grau de especificidade e transferência de força/potência para a 
performance no futebol (treinamento balístico e pliométrico).
Além disso, uma alternativa para aumentar a especificidade das adaptações neu-
romusculares é optar pelos exercícios multiarticulares que incorporam vários grupos 
musculares ao utilizar esse método. Os exercícios podem ser selecionados com base 
nas necessidades do atleta individual ao longo de um continuum daqueles progra-
mados principalmente para melhorar a capacidade muscular isolada para aqueles 
com maior exigência de coordenação (por exemplo, exercícios multi-articulares de 
peso livre). 
33
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
Treinamento balístico
O treinamento balístico engloba exercícios caracterizados pela aceleração contínua 
em toda a fase concêntrica (SUCHOMEL et al., 2018). São exemplos de exercícios ba-
lísticos os agachamentos com saltos (jump squat), arremesso de supino (bench throw) 
e os exercícios derivados do levantamento de peso. Devido às suas características, os 
exercícios balísticos possuem muita similaridade com os gestos esportivos, e assim 
proporcionam adaptações neuromusculares que são notadamente mais específicas 
e com grande potencial de transferência para a performance esportiva. 
Esses pressupostos têm sido confirmados em estudos que evidenciam maiores 
efeitos de potenciação dos exercícios balísticos em comparação aos não balísticos 
(SEITZ; TRAJANO; HAFF, 2014; SUCHOMEL et al., 2016). Suchomel et al. (2016) 
compararam a potência relativa produzida durante uma variedade de exercícios 
balísticos e não balísticos. Eles verificaram que os exercícios balísticos promoveram 
maiores potências relativas em relação aos exercícios tradicionais não balísticos (aga-
chamento, levantamento terra e supino). Esses achados sugerem que o treinamento 
balístico representa um ótimo estímulo para a força explosiva, e desta forma, devem 
fazer parte do programa de preparação física de futebolistas.
Os exercícios balísticos promovem adaptações neurais que favorecem o recru-
tamento de unidades motoras (VAN CUTSEM et al., 1998; DESMEDT; GOUDAUX, 
1978). O recrutamento de maior quantidade de unidades motoras resulta em maior 
produção de força, taxa de desenvolvimento de força e potência. Embora esses exer-
cícios possam ser implementados na preparação física ao longo de toda temporada, 
os objetivos de cada fase de treinamento podem alterar a ênfase que será dada aos 
mesmos. Devido ao seu grau de especificidade, é recomendável que o treinamento 
balístico seja enfatizado na etapa específica da preparação.
Treinamento pliométrico
O treinamento pliométrico é constituído essencialmente de exercícios com movi-
mentos explosivos que utilizam o ciclo alongamento-encurtamento, na qual a ação 
muscular concêntrica é potencializada pela energia elástica gerada da ação excêntrica 
anterior (BOOTH; ORR, 2016). A inclusão do treinamento pliométrico em programas 
de treinamento de força para futebolistas se justifica pela sua natureza balística e 
capacidade de promover o aumento do desempenho da força, potência, velocidade 
e agilidade (CHU; MYER, 2013; BOOTH; ORR, 2016; LOTURCO et al., 2015). Além 
disso, possui alta aplicabilidade para trabalhos com grande número de atletas, o que 
facilita a sua implementação já que utiliza predominantemente materiais acessíveis. 
Por tais razões, a pliometria pode ser considerada um componente essencial dos 
programas de treinamento de força no futebol, tanto nas categorias de base quanto 
no nível profissional.
A eficiência do treinamento pliométrico em promover adaptações e ganhos de 
força está diretamente associada ao controle do volume e intensidade. Isto porque 
34
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
os exercícios pliométricos com peso corporal podem apresentar uma capacidade 
limitada em fornecer sobrecarga crescente ao sistema neuromuscular (SUCHOMEL 
et al., 2018). A intensidade pode ser manipulada pela adição de pequenas cargas aos 
exercícios pliométricos. Entretanto, cabe ressaltar que o incremento de cargas mais 
pesadas aumenta o impacto e prolonga o tempo de transição entre ações musculares 
excêntricas e concêntricas, o que afeta negativamente o potencial elástico gerado 
pelo ciclo alongamento-encurtamento. Outras variáveis podem ser manipuladas para 
aumento da intensidade como a altura dos saltos (drop jumps) ou inclusão dos saltos 
em profundidade (bilaterais e unilaterais). 
O ajuste dovolume de saltos também é uma alternativa para gerar sobrecarga 
progressiva e produzir as adaptações desejadas. O volume recomendado no treina-
mento pliométrico para atletas iniciantes é de 60 a 100 saltos, no nível intermediário 
100 a 120 saltos e no nível avançado 120 a 150 saltos por sessão (CHU; MYER, 2013).
Diante das particularidades e propósitos dos diferentes métodos de treinamento 
de força descritos acima, a adequada combinação dos mesmos no programa de 
treinamento pode potencializar as adaptações neuromusculares e maximizar sua 
eficiência para a performance esportiva. Isto porque combinar diferentes estímulos 
pode favorecer ganhos em diferentes zonas da curva força-velocidade.
2.4 TREINAMENTO DE VELOCIDADE E AGILIDADE
Há um considerável conjunto de evidências científicas acumuladas demonstrando 
que as ações motoras executadas em alta intensidade, em especial os deslocamentos 
lineares em alta velocidade (sprints), têm sido cada vez mais frequentes no futebol 
moderno. Há evidências ainda, que o sprint é a ação motora mais recorrente em 
situações de gol no futebol profissional (FAUDE; KOCH; MEYER, 2012), fato que 
ratifica a importância da velocidade linear no futebol. Entretanto, o futebol é uma 
modalidade cujo contexto está em constante mudança, o que torna o jogo essencial-
mente multidirecional. Ou seja, dependendo da forma como o contexto se apresenta 
(comportamento dos adversários), os atletas devem gerar respostas rápidas que 
envolvem movimentos multidirecionais. 
Dessa forma, a performance no jogo pode ser atribuída parcialmente à capacidade 
de executar deslocamentos lineares em alta velocidade, mas também à capacidade 
de gerar respostas rápidas aos estímulos ambientais e mudar a direção com destreza. 
O desenvolvimento das capacidades motoras velocidade e agilidade constituem a 
base de condicionamento necessária para a execução com o máximo de eficiência os 
deslocamentos lineares e multidirecionais no futebol. Nesse contexto, três conceitos 
distintos devem ser compreendidos: velocidade, agilidade e mudança de direção.
A velocidade é compreendida pela qualidade física, em particular da capacidade 
da ação muscular e coordenação que permite alcançar altas velocidades de movimen-
to. Já a agilidade representa a qualidade de responder rapidamente a um estímulo 
35
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
ambiental em combinação com mudanças de direção ou de velocidade de movimento. 
Mudança de direção é a habilidade de realizar movimentos multidirecionais enquanto 
desacelera e depois reacelera, e assim, pode ser um componente da agilidade (GAM-
BLE, 2012; HAFF; TRIPLETT, 2015). Em suma, a velocidade requer a capacidade 
de acelerar e atingir a velocidade máxima, enquanto a agilidade implica no uso de 
processos percepto-cognitivos para processar rapidamente informação ambiental em 
combinação com a habilidade de desacelerar e reacelerar os movimentos. Embora 
sejam capacidades complementares que muitas vezes são treinadas em conjunto na 
mesma sessão de treinamento, a distinção dos seus conceitos se torna essencial por-
que tem implicações diretas na seleção de meios e métodos de treinamento adequados 
visando adaptações específicas em processos neurofisiológicos que são distintos para 
determinados componentes da velocidade e agilidade.
2.4.1 Bases neurofisiológicas do treinamento de velocidade e agilidade
Tanto a velocidade quanto a agilidade se manifestam no esporte como exibições 
dinâmicas da produção de força. Então, a função neuromuscular é crucial para o 
aperfeiçoamento dessas capacidades, pois a eficiência dos processos governados 
pela interação do sistema nervoso central e o sistema muscular determinam o grau 
de geração de força, e consequentemente, sua aplicação nos movimentos lineares e 
multidirecionais.
Estudos tem de fato evidenciado que o treinamento de força (balístico e pliomé-
trico) produzem adaptações no sistema neuromuscular que podem contribuir para 
melhorar o desempenho de jogadores de futebol em sprints e mudança de direção 
(LOTURCO et al., 2013; 2016). Uma explicação para esses benefícios é que o trei-
namento de força está associado ao incremento de drive neural, como aumento na 
taxa e a amplitude dos impulsos nervosos enviados aos músculos. Nesse sentido, 
aumentos no drive neural são indicativos de maior geração de potenciais de ação, e 
assim, a taxa de produção de força é maximizada. 
Além de fatores associados à coordenação intramuscular, a expressão da velo-
cidade e agilidade é determinada pela coordenação intermuscular. Os sprints ou 
mudanças rápidas de direção são realizados através da ação de vários grupamentos 
musculares e ativação simultânea de músculos agonistas, antagonistas e sinergistas. 
Quanto mais eficiente e coordenado o trabalho intermuscular durante movimentos 
complexos, melhor será o desempenho em ações que demandam de velocidade e/
ou agilidade (ELLIOT; MESTER, 2000; GAMBLE, 2012).
Outro fator capaz de determinar a performance em sprints e mudança de direção 
é a eficiência dos mecanismos associados ao ciclo alongamento-encurtamento (CAE). 
Os deslocamentos em linha reta ou envolvendo mudança de direção tem participação 
direta do CAE. Isto porque, o CAE é um fenômeno presente em movimentos nos quais 
ocorre uma rápida transição entre a fase excêntrica para a fase concêntrica. Sua atu-
ação se baseia na premissa que o tecido muscular possui propriedades elásticas que 
36
PREPARAÇÃO FÍSICA NO FUTEBOL
SUMÁRIO
tem a capacidade de armazenar energia proveniente da ação muscular excêntrica que 
pode ser usada para potencializar a ação concêntrica. Então, promover adaptações em 
mecanismos que melhoram a eficiência do ciclo alongamento-encurtamento (CAE) 
é um importante meio para aprimorar a velocidade e agilidade.
Especificamente em relação à agilidade, o componente percepto-cognitivo é crítico 
para o seu aperfeiçoamento e, portanto, deve estar associado aos aspectos motores. 
Tem sido evidenciado que a percepção parece afetar parâmetros cinemáticos durante a 
mudança de direção, mesmo quando os movimentos são pré-planejados. Por exemplo, 
a simples presença de um defensor estático é capaz de alterar significativamente os 
movimentos de mudança de direção em comparação à mesma tarefa sendo realizada 
diante de um cone (McLEAN et al., 2004). Cabe ressaltar que o contexto do futebol é 
dinâmico e as respostas são exigidas sob condições de imprevisibilidade ambiental. 
A execução de respostas motoras em um ambiente em constante mudança apresenta 
desafios sensório-motores consideravelmente diferentes daqueles enfrentados quando 
o atleta é exposto em situações previsíveis. 
Os inputs sensoriais (especialmente visuais) no treinamento de agilidade, por 
exemplo, situações que exigem rápida resposta em função do adversário ou bola, 
exigem que o atleta processe e interprete dicas visuais ambientais para realizar seus 
movimentos. Existem vários aspectos perceptivos e habilidades cognitivas, como 
antecipação e tomada de decisões, envolvidas nesses processos, tanto que o tem-
po total necessário para completar uma tarefa de mudança de direção é maior sob 
condições nas quais o atleta é obrigado a reagir e responder a uma pista externa em 
comparação a condições pré-planejadas (FARROW et al., 2005). 
2.4.2 Princípios metodológicos do treinamento de velocidade e agilidade
A seleção e a composição dos métodos e meios de treinamento que visam o 
aperfeiçoamento da velocidade e agilidade, devem ser pautados em princípios meto-
dológicos para que as adaptações neuromusculares sejam potencializadas. Os prin-
cípios metodológicos apresentados a seguir são fundamentados nas características 
e especificidades do futebol, nas formas de manifestação da velocidade e agilidade 
no jogo, bem como em fatores que podem afetar o ótimo desenvolvimento dessas 
capacidades. A seguir são apresentados 5 princípios essenciais a serem considerados 
no treinamento de velocidade e agilidade no futebol:
Distância dos deslocamentos

Continue navegando

Outros materiais