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1 Filosofia 2 3 Filosofia Enock Correia de Araújo Gerson Francisco de Arruda Júnior Hildeberto Alves da Silva Júnior 4 2018 by FATIN Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reduzida ou transmitida de qualquer modo ou qualquer outro meio, eletrônico mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da FATIN. Editores: Gerson Francisco de Arruda Júnior Hildeberto Alves da Silva Júnior Stéfano Alves dos Santos Supervisora de produção Editorial: Gerli Alves Coordenadora de Produção Editorial: Hilgerly Gomes Revisão: Thaís Henrique dos Santos da Matta Assessoria Técnica: Thalyson Gomes Capa: Hildeberto Alves Diagramação: Flávio Marinho Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CDD É proibida a reprodução total ou parcial deste livro. Araújo, Enock Correia de; Arruda Júnior, Gerson Francisco de; Silva Júnior, Hildeberto Alves da. Filosofia / Enock Correia de Araújo, Gerson Francisco de Arruda; Júnior; Hildeberto Alves da Silva Júnior. Filosofia, Igarassu, 2018. 163 p. ISBN: 1. Filosofia. 2. Conhecimento. 3. Saberes. CDD – 5 “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (I Co 13:1-7). Nunca se esqueça disto! Oi! Tudo bem? Sou Sr. FATIN, alguns já me conhecem de outras disciplinas. Estarei com você em cada unidade deste guia de estudos. Vou aparecer trazendo assuntos interessantes. A você, desejo sucesso nesta nova disciplina! 6 7 SUMÁRIO METODOLOGIA DE ESTUDO DA DISCIPLINA .......................... 13 UNIDADE 1 ........................................................................................... 15 TÓPICO 1 .............................................................................................. 17 FILOSOFIA: DEFINIÇÃO .................................................................. 17 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 17 1.1 PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................... 17 1.2 DEFINIÇÕES .................................................................................... 18 1.3 UTILIDADE ...................................................................................... 22 1.4 ETIMOLÓGICA ............................................................................... 24 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 26 RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................... 29 AUTOATIVIDADE ............................................................................... 30 TÓPICO 2 .............................................................................................. 31 DISCIPLINAS DA FILOSOFIA .......................................................... 31 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 31 2.1 ÉTICA ............................................................................................... 31 2.2 FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA ................................................. 32 2.3 ESTÉTICA ........................................................................................ 33 2.4 LÓGICA ............................................................................................ 33 2.5 RELIGIÃO ........................................................................................ 35 2.6 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ............................................................ 35 2.7 FILOSOFIA DA HISTÓRIA ............................................................ 36 2.8 FILOSOFIA DA CIÊNCIA ............................................................... 36 2.9 EPISTEMOLOGIA ........................................................................... 37 2.10 METAFÍSICA ................................................................................. 37 2.11 FILOSOFIA DA MENTE ............................................................... 38 2.12 TEORIA DA AÇÃO ....................................................................... 38 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................... 41 AUTOATIVIDADE ............................................................................... 42 TÓPICO 3 .............................................................................................. 43 COMO SABER O CERTO ................................................................... 43 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 43 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962852 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962853 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962861 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962862 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962863 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962879 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962880 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962881 8 3.1 TEORIAS SOBRE O CERTO .......................................................... 43 3.2 O CORRETO E ERRADO PARA O CRISTÃO .............................. 47 3.3 RELAÇÃO ENTRE NORMAS E CONSEQUÊNCIAS ................... 48 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................... 53 AUTOATIVIDADE ............................................................................... 54 UNIDADE 2 ........................................................................................... 55 TÓPICO 1 .............................................................................................. 57 O QUE É A LÓGICA? ..................................................................... 8957 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 57 1.1 DEFINIÇÃO DE LÓGICA ............................................................... 57 1.2 AS LEIS DO PENSAMENTO .......................................................... 58 1.2.1 Princípio da Identidade ................................................................ 59 1.2.2 Princípio da Não Contradição ..................................................... 60 1.2.3 Princípio do Terceiro Excluído ................................................... 60 1.3 DIVISÃO DA LÓGICA ....................................................................61 1.3.1 Divisão da Lógica Clássica ........................................................... 62 1.3.2 Divisão da Lógica Clássica ........................................................... 62 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................... 78 AUTOATIVIDADE ............................................................................... 79 TÓPICO 2 ............................................................................................ 890 O QUE É UMA PROPOSIÇÃO? ........................................................ 89 2.1 DEFINIÇÃO DE PROPOSIÇÃO ..................................................... 89 2.2 SENTENÇA X PROPOSIÇÃO......................................................... 89 2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES ....................................... 89 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 85 RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................... 88 AUTOATIVIDADE ............................................................................... 89 TÓPICO 3 .............................................................................................. 90 ARGUMENTOS .................................................................................... 90 3.1 DEFINIÇÃO DE ARGUMENTO ..................................................... 90 3.2 TIPOS DE ARGUMENTOS ............................................................. 90 3.2.1 Dedutivo......................................................................................... 90 3.2.2 Indutivo ......................................................................................... 91 3.3 VALIDADE E VERDADE ............................................................... 92 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962888 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962889 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962890 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962891 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962897 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962898 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962899 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962908 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962909 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962910 9 3.3.1 Relação entre verdade/falsidade e validade/invalidade ............. 93 3.4 INDICATORES DE PREMISSAS E CONCLUSÃO ....................... 95 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 96 RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ............................................................................. 100 TÓPICO 4 ............................................................................................ 102 O QUE É O CONHECIMENTO? ..................................................... 102 INTRODUÇÃO ................................................................................... 102 4.1 O QUE É A TEORIA DO CONHECIMENTO .............................. 102 4.1.1 O que é o conhecimento?............................................................ 103 4.1.2 A possibilidade do conhecimento .............................................. 104 4.1.3 A origem do conhecimento ......................................................... 108 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ............................................................................. 114 UNIDADE 3 ......................................................................................... 115 TÓPICO 1 ............................................................................................ 117 FÉ SOMENTE ..................................................................................... 117 INTRODUÇÃO ................................................................................... 117 1.1 SORËN KIERKEGAARD .............................................................. 118 1.2 KARL BARTH ................................................................................ 121 1.3 TERTULIANO ................................................................................ 123 LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................... 125 RESUMO TÓPICO1 ........................................................................... 128 AUTOATIVIDADE ............................................................................. 129 TÓPICO 2 ............................................................................................ 130 RAZÃO SOMENTE ............................................................................ 130 2.1 KANT .............................................................................................. 130 2.2 SPINOZA ........................................................................................ 131 2.3 RACIONALISTAS MODERNOS ................................................ 1322 LEITURA COMPLEMENTARES .................................................... 134 RESUMO TÓPICO 2 ........................................................................ 1366 AUTOATIVIDADE ........................................................................... 1377 TÓPICO 3 .......................................................................................... 1388 RAZÃO E FÉ SE COMPLEMENTAM .......................................... 1388 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962914 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962915 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962916 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962923 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962924 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962925 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962926 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962933 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962934 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962935 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962941 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962942 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962943 10 3.1 JUSTINO ....................................................................................... 1388 3.2 CLEMENTE ..................................................................................1399 3.3 AGOSTINHO ................................................................................ 1411 3.4 TOMÁS DE AQUINO .................................................................... 142 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................... 1477 RESUMO TÓPICO 3 .......................................................................... 150 AUTOATIVIDADE ............................................................................. 151 REFERÊNCIAS ................................................................................ 1522 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962950 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962951 file:///C:/Users/Flávio/Desktop/PRONTAS%20FORMATO%20DE%20LIVRO/FIlosofia%20EAD%20Diagramação%201.docx%23_Toc467962952 11 APRESENTAÇÃO Prezado (a) acadêmico (a), Neste exato momento, você estudará conosco a disciplina de filosofia. É o início de uma jornada divertida e séria, que te fará descobrir novos horizontes de saberes que serão muito úteis em sua jornada acadêmica e pessoal. O saber que você irá descobrir nestas páginas te ajudará descobrir novos padrões de reflexão que servirão para ampliar sua construção do saber. A filosofia, hoje, tem sido procurada dado que sua utilidade é destacada para a reflexão, análise e aplicação. A filosofia sempre vai nos desafiar ao debate construtivo sobre a realidade, a verdade, o conhecimento. É possível conhecer? O que é a verdade? O que é a realidade e a realidade ulterior? Essas e outras perguntas serão estudadas ao longo de nosso material de estudos. A filosofia não é só teoria, ou seja, ela não se detém apenas à discussão de assuntos na sala de aula. Se assim fosse, sua utilidade seria duvidosa. A filosofia exige de nós prática. Isso mesmo! A cada conhecimento adquirido você deve sempre fazer a pergunta: Como posso ajudar a mim e a meu próximo e contribuir para melhorar o mundo com o conhecimento adquirido? Nesse estudo, o comprometimento com a verdade deve estar sempre em nossa mente. Gratidão sempre em nosso coração e amor 12 sempre como a soma de que reconhecemos que tudo que somos, temos e aprendemos vem de Deus. Nele (Deus) reside todo saber. “A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais” (Aristóteles). Bons Estudos! Enock Correia de Araújo 13 EMENTA: Buscar compreender o “estar-no-mundo”. Uma análise sobre a atuação da filosofia. O filosofar como uma atitude natural da humanidade. Abordar questões de ordem existencial. A relação com o outro. O cotidiano e os valores. Problematizar a respeito de “o quê”, “como”, “quando”, “onde” que se destina ao ato do filosofar. PROPÓSITO: Esta disciplina objetiva alcançar as seguintes compreensões: • Desenvolver os conhecimentos básicos da compreensão filosófica; • Conhecer os fundamentos filosóficos e sua relação com as demais formas de conhecimentos; • Analisar as conceituações e os critérios sobre a verdade; • Perceber a relação da filosofia com a autoconsciência do outro e de si mesmo. METODOLOGIA DE ESTUDO DA DISCIPLINA 14 15 Enock Correia Araújo Filosofia OBJETIVOS DA UNIDADE Ao final da unidade você será capaz de: Problematizar e buscar definições e etimologia. Conhecer as disciplinas da filosófica. Entender como saber o certo. GUIA DE ESTUDOS A primeira Unidade se divide em: TÓPICO 1 – PROBLEMATIZAÇÃO, DEFINIÇÕES, UTILIDADE E ETIMOLOGIA TÓPICO 2 – DISCIPLINAS FILOSÓFICAS TÓPICO 3 – COMO SABER O CORRETO UNIDADE 1 16 17 TÓPICO 1 FILOSOFIA: DEFINIÇÃO INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, trataremos de assuntos relacionados à busca pela definição da filosofia: problematização, definições, utilidade e etimologia. 1.1. PROBLEMATIZAÇÃO É comum ao ser humano diante do que lhe causa espanto ou admiração querer definir para entender o objeto em perspectiva. Entretanto, dentre tantas coisas neste mundo que não podemos obter uma única resposta, a filosofia é uma delas. Ela não pode ser definida de modo simples e direto. As diversas disciplinas científicas se caracterizam por atuarem em uma determinada área do saber. A filosofia, no entanto, se caracteriza por buscar entender qualquer objeto tomado como investigação. Na verdade, o homem busca conhecer tudo. O homem é curioso por natureza. Para Mondin (2009, p.5), o homem é naturalmente filósofo, “amigo da filosofia”. Ávido de saber, não se contenta em viver o 18 momento presente e aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência imediata. Com seu olhar interrogativo, quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo o porquê da própria vida. Para conhecer a realidade em sua volta, a pessoa comum elabora questionamentos e os resolvem sem o uso de métodos e lógicas. Entretanto, há pessoas que se entregaram à tarefa de investir sua energia psíquica para pesquisar e propor, de modo definitivo, soluções pensadas exaustivamente e organizadas metodologicamente. Essas pessoas são conhecidas como filósofos. 1.2. DEFINIÇÕES Se a filosofia atende a uma função social, surge a pergunta: o que é filosofia? É aí que temos várias compreensões de filósofo para filósofo. Citando Edmund Husserl, Aranha e Martins (1998) dizem que “ele sabe o que é filosofia, ao mesmo tempo em que não sabe”. Essa posição reflete bem que definir filosofia é uma questão filosófica. A seguir, temos as seguintes compreensões sobre filosofia. A filosofia é uma cosmovisão de uma civilização. Esta posição é generalista e significa entender a filosofia como um agrupamento de pensamentos, virtudes e comportamentos que são assimilados pela sociedade. Essa 19 posição é generalista e dificulta entender claramente o que é filosofia. Não há separação entre filosofia e pensamentos gerais; entre filosofia e moralidade; e entre filosofia e virtudes. É uma visão de um conjunto social e não individual, que não define a labuta específica da filosofia. Por isso, não podemos aceitá-la. A filosofia é sabedoria de vida. Esta definição de filosofia é percebida como um resultado da atitude de algumas pessoas sobre a vida moral, dedicando-se a contemplação do cosmos e a aprender com ele a controlar suas vidas de modo ético e sábio. Nesta concepção, a filosofia seria uma contemplação da vida e dos homens na direção de uma vida justa, sábia e feliz. Assim, podemos entender que esta concepção superficialmente defende o que se espera da filosofia e não diz o que realmente é a função da filosofia. A filosofia é um esforço racional de entender o cosmos como um todo organizado e possuidor de sentido. Nesta definição, a filosofia se separa da concepção religiosa sobre o universo. Ambas têm um fundamento distinto. A filosofia se funda na razão e a religião na revelação divina. A filosofia busca debater exaustivamente o sentido e a sustentação da realidade. Esta definição é 20 complexa, porque diz que a filosofia concede a explicação global do cosmos, o que se sabe ser impossível. A filosofia é o fundamento gnosiológico, epistemológico e moral. A filosofia tem a preocupação de saber se tal produção de determinado conhecimento é racional ou não, examinando a origem, a forma e o conteúdo relacionado às qualidades morais, políticas, artes e culturas, entendendo as causas e as formas das ilusões e dos preconceitos particular e grupal, com as atualizações ocorridas na história dos conceitos, das ideias e dos valores. A filosofia estuda a consciência humana em suas múltiplas dimensões: percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, comportamento,vontade, desejo e paixões, buscando definir as formas e o conteúdo dessas dimensões de interação entre o homem e o universo, entre o homem consigo mesmo e com o outro. Finalmente, a Filosofia tem o fito de estudar e interpretar as ideias ou os significados gerais como: a realidade, o mundo, a natureza, a cultura, a história, a subjetividade, a objetividade, a diferença, a repetição, a semelhança, o conflito, a contradição, a mudança, etc. 21 Não menosprezando a questão da essência da realidade, a filosofia busca separar-se das ciências e das artes voltando sua atenção para o mundo do tempo e do espaço em uma situação particular: quando perdemos nossas certezas diárias e quando outras áreas do saber ainda não elaboraram respostas para resolver essas incertezas perdidas. Quando a ciência, a arte e o senso comum não sabem o que dizer, a filosofia busca resolver os conflitos agnósticos e de ceticismo a que somos acometidos. A filosofia aprofunda o exame da questão de nossas incertezas e se firma como análise (das circunstâncias da ciência, da religião, da arte, da moral), reflexão (retorno da consciência sobre si mesma para entender seu potencial para conhecimento, sentimento e ação) e crítica (das ilusões e das ideias preconceituosas individuais e coletivas, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas). Essas funções devem ser dirigidas para construções filosóficas de compreensões gerais. Ademais, a filosofia é a busca do fundamento e do discernimento da realidade em suas várias dimensões, indagando o que são as coisas, qual sua permanência, e qual a necessidade interna que as transforma em outras. Para vislumbrar o universo espacial e temporal, a filosofia precisa estudar tudo, a totalidade das coisas. Qualquer coisa pode ser seu objeto de investigação. Como exemplo, temos: a ciência, a religião, a política, a sociedade, a psicologia, a arte, a história, a antropologia, etc. 22 Chauí (2000) descreve a análise de Kant de que as questões basilares da filosofia são as seguintes: O que podemos saber? Tratar-se da questão do conhecimento, ou seja, a sustentação do pensamento geral e particular. Que podemos fazer? É a questão sobre a ética e a manifestação humana, ou seja, as bases da ética, da política, das artes, das técnicas e da história. Que podemos aguardar? É a indagação sobre a continuidade da existência humana após a morte, ou seja, o pensamento religioso. 1.3. UTILIDADE A questão do que é útil depende do ponto de vista ou objetivo que se tenha em mente. Se a pessoa deseja saber sobre um dado conhecimento para utilização imediáticas como a que serve à formação profissional - engenharia, medicina, advocacia, etc., a filosofia não se destina a esse fim e não será importante a quem objetiva essa meta. Assim, a filosofia seria entendida como sem utilidade. Entretanto, já que ela não é de uma utilidade imediata, pragmática, a filosofia é necessária. A filosofia proporciona um vislumbre além da nossa perspectiva material e ascende à esfera do ainda não descoberto, da atitude que deveria ser primordial e se encontra alienada - o exercício do pensar sobre seus próprios pensamentos, sentimentos e ações se tornando consciente de sua 23 interioridade e dessa descoberta o que é capaz de mudar em si, torna a filosofia relevante. O autoconhecimento é primordial na busca do saber. Como disse Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Todo saber deve iniciar no autoconhecimento para depois se voltar para as coisas a nossa volta. Ele inicia de dentro para fora. É preciso ir além da matéria para enxergar o verdadeiro sentido da nossa existência. De superar a si mesmo sempre para encontrar o novo. De não aceitar as coisas passivamente sem antes compreendê-las. Nesse sentido, a filosofia incomoda quando questiona quem está no poder por ser ela libertária. Aranha e Martins (2009, p.17), criticam os pensadores que ficam do lado dos poderosos contra a liberdade humana ao dizerem o seguinte: É bem verdade, alguns dirão, sempre houve e ainda haverá pensadores que bajulam os poderosos e emprestam suas vozes e argumentos para defender tiranos. Nesse caso, porém, estamos diante das fraquezas do ser humano, seja por estar sujeito a enganos, seja por sucumbir ao temor ou ao desejo de prestígio e glória. Chauí (2010, p. 29), apresenta algumas definições de filosofia na concepção de alguns dos grandes filósofos da humanidade: Platão definia filosofia como “um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos para que vivam numa sociedade justa e feliz” 24 Kant afirmou que a filosofia “é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer, o que fazer e o que pode esperar, tendo como finalidade a felicidade humana”. Espinosa afirmou que a filosofia “é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”. Mondin (2009, p. 5), apresentou outras definições de filosofia de grandes filósofos da humanidade: Aristóteles disse que a filosofia estuda “as causa últimas de todas as coisas”. Descartes afirmou que a filosofia “ensina a bem raciocinar”. Hegel concebeu a filosofia como o “saber absoluto”. Cícero definiu a filosofia como “o estudo das causas humanas e divinas das coisas”. 1.4. ETIMOLÓGICA A palavra “filosofia” é de origem grega, e é composta pelos termos “filos” e “sofia”. O termo “filos” significa aquele que é amigável, ou amigo e deriva de “filia”, que significa amizade. O termo “sofia” quer dizer sabedoria e dela vem a palavra “sofos”, que origina o termo “sábio”. Sendo assim, unindo os dois termos, teremos o significado etimológico de filosofia que é amizade pelo saber ou amor pelo saber. A filosofia está relacionada pela vontade do saber, por amar o conhecimento e buscá-lo. Chauí (2010) diz que “filosofia indica a disposição interior de quem estima o saber, ou o estado de espírito da pessoa que deseja o conhecimento, o procura e o respeita”. 25 Foi Pitágoras, filósofo grego, quem primeiro usou o termo “filósofo”, ao afirmar que só os deuses conheciam o saber absoluto, enquanto os homens poderiam apenas desejá-lo ou amá-lo, tornando-se um filósofo. A filosofia não visa à competição, capital ou mercado, mas apenas o saber. A verdade está disponível a quem estiver interessado e determinado a encontrá-la. 26 [O QUE É FILOSOFIA] O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira a verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser- verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante, que penetra o infinito. No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo. Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade. LEITURA COMPLEMENTAR 27 Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo mesma. Qual o papel da filosofia? Ensina, pelo menos, a não nos deixarmos iludir. Não permite que se descarte fato algum e nenhuma possibilidade. Ensina a encarar a catástrofe possível. Em meio à serenidade do mundo, ela faz surgir a inquietude. Mas proíbe a atitude tola de considerar inevitável a catástrofe.Com efeito, apesar de tudo, o futuro depende também de nós. Se fosse vigorosa em sua elaboração, convincente por seus argumentos e digna de fé pela integridade de seus expositores, a filosofia poderia tornar-se instrumento de salvação. Só ela tem o poder de alterar nossa forma de pensamento. Mesmo diante do desastre possível e total, a filosofia continuaria a preservar a dignidade do homem em declínio. Numa comunidade de destinos, que se apoie na verdade, o homem encara face a face seja o que for. Não se confunde o declínio com o nada. Em meio ao desastre, a última palavra cabe ao homem, que ama e conserva confiança incompreensível no fundamento das coisas. Para falar sob forma de enigma: a origem de que brotaram o universo, a terra, a vida, o homem e a História encerra possibilidades que nos são inacessíveis. Enfrentando de frente o desastre, asseguramo-nos dessas possibilidades. 28 Fazemos uma tentativa, à qual outras hão de seguir-se, continuadamente. Mas, presentes, por um instante, nessa tentativa, o amor e a verdade atestam tratar-se de mais que uma tentativa. Uma palavra de eternidade foi pronunciada. Nenhum pensamento suscetível de ser concretizado, nenhum conhecimento, nada de fisicamente tangível, nenhum dos enigmas por nós mencionados pode adentrar a eternidade. Mas, para além de todos os enigmas, o pensamento penetra no silencio pleno de insondável razão. (JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3. ed. Trad. de Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix. 1965, p. 138 e 147-148). 29 Não podemos definir a filosofia de modo simples e direto. Há pessoas que se entregaram a tarefa de investir sua energia psíquica para pesquisar e propor de modo definitivo soluções pensadas, exaustiva e organizadas metodologicamente, elas são conhecidas como filósofos. A filosofia é uma forma de saber, um saber puramente racional. A finalidade da filosofia é a liberdade e a felicidade. RESUMO DO TÓPICO 1 30 1. É possível definir a filosofia? 2. O que é filosofia? 3. Qual a utilidade da filosofia? 4. Como a filosofia pode contribuir para a consciência social? AUTOATIVIDADE 31 TÓPICO 2 DISCIPLINAS DA FILOSOFIA INTRODUÇÃO Neste tópico, apresentaremos as disciplinas da filosofia. O Objetivo é apresentar os assuntos mais discutidos pelos filósofos, a saber, ética, filosofia social e política, estética, lógica, religião, história da filosofia, filosofia na história, filosofia da ciência, epistemologia, metafísica, filosofia da mente e teoria da ação. 2.1. ÉTICA No meio filosófico, o estudo da ética teve atenção especial. Diariamente lidamos com questões referentes à moralidade, e decidimos entre o que é certo e o que é errado. A ética lida com situações práticas. O termo “ética” tem vários significados: (1) refere-se a regras ou princípios que indicam o que é permitido e o que não é permitido: (2) refere-se aos princípios que guiam os comportamentos; (3) o termo é usado para significar literalmente uma área da filosofia – uma matéria teórica. Para Geisler e Feinberg (1996), “o filósofo moral está interessado na natureza da vida virtuosa, no seu valor último, e na 32 propriedade de certas ações e estilos de vida”. Também é um estudo de conceitos éticos como bom, errado, certo, responsável, deve e deveria. Outros sustentam que ela é um questionamento normativo; avaliam objetivos e modos de vida se são relevantes. Tem-se defendido que os princípios para uma ação universal ou absoluta seja inaceitável. Outra vertente de oposição ao universalismo de ação, pertencente à escola analítica do positivismo lógico, defendem que expressões de princípios morais não servem a todos, mas que no mínimo, servem para aprovação ou desaprovação. Esta ideia ética chama-se emotivismo. 2.2. FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA Essa questão também está ligada a ética, por tratar do comportamento coletivo da sociedade, seus fins. Analisa as atitudes da sociedade e o papel do Estado em favorecer as metas sociais. Ao tratar desse tema, Mondin (2009, p. 133) ao tratar desse tema escreveu o seguinte: O homem é um animal essencialmente político e sociável, como já havia observado Aristóteles na sua política. {...} o menor dos atos humanos e qualquer realidade, por mais minúscula que seja, estão envolvidos num regime social e político que os dirige e os compenetra por toda parte. Assim, em nosso tempo, os problemas sociais e políticos adquiriram importância fundamental. A questão política trata do entendimento do Estado. É inquirido a sua origem, estruturação, forma de governo mais 33 adequada, e sua finalidade. Também trata de compreender a “sua natureza ética e sua relação com a moralidade social, entre estado e os cidadãos, entre estado e igreja, entre estado e partidos”. 2.3. ESTÉTICA Falar de arte talvez não seja um hábito das pessoas em geral. Entretanto, essa questão na filosofia foi pensada e vários pensadores contribuíram na formação desse conceito. Talvez você já discutiu com alguém e opinou sobre o gosto por alguma obra de arte e não obteve êxito. Existe uma frase popular que diz: “gosto não se discute”. Em filosofia, o gosto se discute, para entender seus vários aspectos. Ideias de beleza, gosto e arte são analisadas no ramo da filosofia chamada estética. Mas tal análise ultrapassa o estudo desses termos e indaga sobre o estilo, propósito do criador, e da imaginação criativa na arte. Questiona-se sobre a obra de arte, sobre que fator ou fatores influenciam na produção de qualquer objeto na área artística. Estuda-se a influência social e cultural da arte, tanto para acomodar como para transformar a sociedade. 2.4. LÓGICA A lógica não é filosofia. Ela é um instrumento utilizado pela filosofia para produzir um saber organizado e correto do ponto de vista da argumentação racional. Aristóteles é conhecido como o pai da lógica. Ele criou o silogismo para apresentar o funcionamento 34 da lógica e demonstrar sua eficiência, mas também demonstrou como identificar um argumento mentiroso ou um sofisma. A lógica estuda o pensamento enquanto pensado. Basicamente, a lógica está a nossa disposição para lidar com o conhecimento por ser considerado complexo. Mondin (2009, p. 11) nos diz que “a lógica não pressupõe uma gnosiologia, da qual é antes de tudo um instrumento indispensável para atingir a verdade. Ao contrário, pressupõe a psicologia. Pois é por meio desta que vem a saber quais são os tipos de conhecimento de que a mente humana é dotada. Obtidas essas informações (dadas pela psicologia), a lógica trata de estudar as condições fundamentais que possibilitam tais tipos de conhecimento e de estabelecer as normas de seu funcionamento correto”. A lógica é subdividida em três grandes ramos, cada um visando seu propósito. A primeira, a lógica formal, objetiva a análise das qualidades dos pensamentos para firmar as regras da argumentação correta. A segunda, a lógica transcendental, investiga o valor dos nossos conhecimentos, como eles se justificam como verdadeiro. A terceira, a lógica matemática, que fornece as regras sobre o relacionamento dos termos entre si, para, em seguida, definir o tipo de explicação adequada, ao ser adotado. 35 2.5. RELIGIÃO Nesse assunto, a filosofia se dedica a questionar a religião. Desde que o homem surgiu, ele pratica a religião. A religião está presente em todas as culturas. Não há uma cultura na história da humanidade que não tenha expressado sua religiosidade. Dessas experiências se pensa no homem como ser religioso. Para Mondin (2009), “A religião, com efeito, é um fenômeno real, típico do homem, porém é também um fenômeno problemático e – ousarei dizer – o mais problemático de todos”. As indagações dosfilósofos são sobre os seguintes assuntos: a natureza da religião; as características que definem as crenças nas religiões; os argumentos sobre a existência de Deus; atributos de Deus; linguagem religiosa; problema do mal. 2.6. HISTÓRIA DA FILOSOFIA Esse ramo trata da questão de levantar as influências ideológicas que contribuíram para o surgimento de diversas filosofias. São observadas como tais filosofias persuadiram sociedades e instituições, quem são os homens que as formularam e como as escolas filosóficas foram fundadas e avançaram. Exemplo: escola socrática, escola agostiniana, escola empirista, escola racionalista etc. 36 2.7. FILOSOFIA DA HISTÓRIA Essa disciplina nada tem a ver com a história da filosofia, mas consiste numa crítica reflexiva sobre a ciência histórica utilizando-se também de elementos analíticos e especulativos. O filósofo histórico analisa conceitos e métodos históricos. Esse estudo questiona a meta da explicação histórica; se o relato histórico deve ser considerado objetivo; se o que diz um historiador tem o mesmo peso da declaração cientifica; se a história é cíclica ou linear; se existe ou não uma história universal. 2.8. FILOSOFIA DA CIÊNCIA Segundo Cotrim (2002, p. 239), “a ciência se caracteriza pela busca de conhecimento sistemático e seguro dos fenômenos do mundo”. A ciência tem como uma de suas metas, tornar o mundo compreensível de modo que o ser humano possa controlar a natureza. O homem passa, através da ciência, a ser o administrador da natureza mediante o conhecimento. Compete, portanto, ao filósofo da ciência refletir sobre essa ambiguidade da ciência (avanço tecnológico e regressão dos valores humanos), suas pretensões, suas possibilidades, seus acertos e erros, buscando compreender algumas questões, como, por exemplo: qual a especificidade do saber científico, quais as condições e limites desse conhecimento, qual o sentido da ciência para a vida humana, quais os limites da atividade científica. 37 2.9. EPISTEMOLOGIA Nesta disciplina, discute-se sobre a gênese e a natureza do conhecimento. É um tema de destaque da filosofia, pois trata de entender: como sabemos sobre algo? Como é possível justificar que alguém sabe? É possível atingir a verdade de qualquer coisa? O que nos fornece a percepção sensorial é verdadeiro? O que pensamos sobre algo é o que o objeto é? O objetivo é se ocupar das capacidades e incapacidades de quem sabe. 2.10. METAFÍSICA A metafísica é uma disciplina complexa da filosofia. Ela tem a ver com o nascimento da filosofia. O significado do termo “metafísica” é “além da física”. Trata-se de estudar uma realidade que está além da matéria. É o estudo do ser ou da realidade; é analisar a existência e natureza do que é conhecido. As questões que se busca entender são: quais os elementos básicos e objetivos da realidade? Como definir o espaço e o tempo? Todo efeito foi causado? Existem coisas universais, quem são? Existe algo ou alguém imutável? Em fim, os pensadores antigos chegaram a conclusão de que a composição da realidade era de quatro elementos: água, ar, fogo e terra. 38 2.11. FILOSOFIA DA MENTE Do desenvolvimento da metafísica, na contemporaneidade, surgiu a filosofia da mente. Ela estuda a mente humana e também sua ligação com o corpo. Questiona a possibilidade da construção de inteligências artificiais que funcionam com a mente humana e em que nível os homens são como máquinas. As questões levantadas por essa disciplina são as seguintes: a mente humana pode ser considerada uma realidade? Quais as características do que é mental? A consciência tem relação com posturas mentais? Que relação há entre mente e corpo? Como os homens são parecidos como a máquina? É possível fazer inteligências artificiais estruturadas como mentes? 2.12. TEORIA DA AÇÃO Essa disciplina é nova no âmbito da filosofia e está ligada a várias outras disciplinas filosóficas. Todas as áreas da filosofia não avançariam sem as questões levantadas pela teoria da ação. Esta é responsável pela praticidade da avaliação das diversas disciplinas filosóficas. Eis algumas das questões feitas por essa disciplina: o que é uma ação e como se relaciona com um fato? Que relação há entre a ação e o desejo? 39 OS FILÓSOFOS E A FILOSOFIA Filósofos diferentes têm posturas diversas com relação a esta imagem institucional de sabedoria e compreensão. O filósofo que descrevi até agora leva muito a sério o seu papel de guardião da tradição: para ele a possibilidade e a alternativa são um risco perigoso, do qual deve se proteger, e suas “demonstrações” têm exatamente o objetivo de afastar do público ignorante o espectro da catástrofe. Mas há, ainda, o filósofo que tem simpatia pelas alternativas, que, na verdade, está convencido de que certa alternativa (um tipo de sociedade, ou organização econômica, ou legal, ou uma determinada prática científica) seja muito melhor que a realidade atual: este se dedicará com fervor missionário a fazer propaganda da sua alternativa preferida e a convencer o mundo de seu trágico erro. E, por fim, há o filósofo mais desencantado (ou mais cínico) que se rebela contra a imagem institucional, pelo menos no nível do discurso, e que, portanto, mais naturalmente se escuda atrás de outros tipos sociais: o escritor, o esteta, o provocador. Este não crê saber como estão as coisas ou como deveriam estar, não tem sabedoria à venda mas, no entanto, LEITURA COMPLEMENTAR 40 continua a criticar toda a (presumível) sabedoria existente, a revelar-lhe a ausência de fundamentos, não porque tenha algo melhor fundamentado a oferecer, mas porque a sua tarefa, ou paixão ou destino, é o de revelar a falta de fundamento de cada crença, de cada prática, obrigar as pessoas a primeiro tipo; Platão e Marx, do segundo; Sócrates e Nietzsche, do terceiro. E todos, embora com motivações diferentes, deram a sua importante contribuição para o alargamento das fronteiras do possível que constituía o seu verdadeiro objetivo. (BEMCIVENGA, Ermano. Giochiamo com la filosofia. Milão: Amoldo Mondadori, 1990). 41 Conhecer as disciplinas da filosofia, que são frutos da curiosidade dos pensadores do passado e do presente, é vital para conhecer e entender a filosofia, pois é através dessas disciplinas que podemos melhor entender a função da filosofia ou mesmo ter uma melhor noção do que é filosofia. Cada disciplina estudada acima foi objeto de estudo dos diversos filósofos, e hoje podemos vislumbrar toda discussão que cada uma delas pode nos oferecer e, assim, poder avançar em seu estudo. RESUMO DO TÓPICO 2 42 Faça uma crítica analisando os pontos fortes de cada disciplina filosófica como também os pontos negativos que podem ser encontrados em cada proposta epistemológica. AUTOATIVIDADE 43 TÓPICO 3 COMO SABER O CERTO INTRODUÇÃO A questão de como saber o certo foi muito debatida ao longo do tempo e por isso temos vários pontos de vista sobre esse assunto. O que é correto? O que é bom? O que é errado? São questões éticas de alta importância sobre o conhecimento e ações humanas. Neste tópico, trataremos das teorias sobre o que é correto e bom, bem como sobre o que certo na perspectiva cristã. 3.1. TEORIAS SOBRE O CERTO Há quem entenda que quem tem o poder tem o direito. Tudo que acompanha quem tem o poder, seja qual for, integra-se ao que é certo. Na República de Platão, Trasímaco afirmava que “a justiça existe no interesse da parte mais forte”. Conforme Geisler e Feinberg (1996), os que discordam dessa posição distingue o poder e a bondade, acreditando que é possível ser bom sem poder, e poderoso sem bondade. Exemplo: ditadores, candidatos a cargo de poder etc. 44 Outros defendem que o conceito de certo é definidopelo grupo social a que o indivíduo está integrado. Ou seja, a orientação sobre o que é correto é, na verdade, cultural. O resultado dessa concepção é a relativização do conceito do que é certo, pois varia de cultura para cultura. O que pode ser certo em uma cultura pode não ser em outras. Também há quem entenda que é o indivíduo que define o que é certo ou errado, o bom e o ruim, conforme sua vontade. Essa compreensão é conhecida como relativismo. Ou seja, o que é correto para alguém, pode estar incorreto para outro alguém. O pensamento do filósofo grego Protágoras “o homem é a medida de todas as coisas” descreve bem essa concepção. Ao discordar das posições individualistas, alguns acreditam que o certo não é encontrado, nem na individualidade nem nas sociedades individuais, mas na humanidade inteira. Esta julga o que é certo e dessa perspectiva global surge à influência para a decisão particular ou individual. A humanidade é quem determina as coisas, incluindo o que é certo. Outra posição antiga propõe o conceito de correto como a ação moderada. O certo é encontrado no entremeio de atitudes paradoxal. A moderação era compreendida como a via certa da ação. Exemplo: a temperança se localiza entre a tolerância e a insensibilidade. O orgulho é o termo médio entre vaidade e humanidade. Enfim, a moderação pode ser uma boa orientação para 45 a vida prática em geral, mas não é uma clara descrição do que é certo, do ponto de vista universal. Existem alguns pensadores que negam a existência do que é certo ou do que é errado. Estes pensadores são chamados de antinomistas (contra-lei). Estes trocam o termo “deve” pela frase “sinto”. A ética não é vista como mandamentos e sim como manifestação do sentimento pessoal. A objeção a esse ponto de vista está na concepção de que o correto ou verdadeiro é uma questão de gosto. Este conceito de ética não descreve a realidade do conceito “deve”. Como se pode basear “devo” como significando “sinto”? Por outro lado, temos a posição dos hedonistas (ética do prazer), que definem o que é certo como sendo a experiência prazerosa e a desprazeroza como a atitude errada. A revelação entre certo e errado depende de uma situação prazer ou desprazer. A proposta pode ser entendida como o fator que conduz ao ápice do prazer e a redução da dor é a decisão correta a tomar. A escola dos utilitaristas propõe, aprofundando o hedonismo, que o certo é aquilo que traz “o maior bem para o maior número de pessoas”. Geisler (2007) cita dois utilitaristas com pontos de vista distintos: Bentham, que propôs que o bem deve ser compreendido na esfera quantitativa – o quanto de prazer era atingindo e por quanto tempo; e Stuart Mill, que focou no aspecto 46 qualitativo do bem, por acreditar que há bens físicos maiores que outros. Definir o bem ou o certo com base em algo será preciso perguntar se esse algo é certo ou bom. Se o bem é o prazer, pode-se questionar se o resultado trará o bem ou o mau. É preciso saber se o objeto tomado como certo ou bom é de natureza boa ou correta. A escolha do bem deve resultar da capacidade de que o desejo por ele garanta sua finalidade. Há quem defenda que o bem não pode ser essencialmente compreendido. Geisler e Feinberg (1996) citando G. Moore, “o bem é um conceito que não pode ser nem analisado nem definido”. Na vertente de Moore, todo esforço de definir o bem ou certo não passa de falácia natural. Ou seja, dizemos que o bem é bom mediante a dedução de que naturalmente o bem é conhecido como bom. A ideia de que o bem é bom é intuída. Conhecemos os derivados do bem, mas não o próprio bem por não conseguir defini- lo. Pensadores cristãos procuraram oferecer uma solução defendendo que o bem e o certo só podem ser assim pensados em conformidade com o propósito divino e o errado como decisões opostas aos propósitos de Deus. O bem não pode ser definido como alguma coisa abaixo do que é uma realidade ulterior (além da matéria, imaterial). Os propósitos divinos são eficazes e o conteúdo bíblico preceitua sua vontade. Portanto, o bem e o correto estão 47 descritos na Bíblia tendo como seu autor o sumo bem (Deus). A vontade de Deus é boa por ser ele bom. 3.2. O CORRETO E O ERRADO PARA O CRISTÃO Dos pontos de vistas acima apontados, temos uma boa ideia de como é complexa a questão do certo e do errado. Como tentativas de explicar o fenômeno do certo e do errado, todas as teorias acima deram sua contribuição para o debate. Na sequência, veremos a proposta cristã do que seja o certo e o errado, de como tais conceitos são elaborados. O princípio do correto se baseia no caráter de Deus: santidade, imutabilidade, justiça e amor. O Deus cristão é compreendido não como arbitrário, ou dependente de algo maior que ele mesmo. Sua vontade é seu caráter em ação, e nada é superior a ele. Em Rm: 12.2, o apóstolo Paulo disse: “... A vontade de Deus é boa perfeita e agradável”. Portanto, obedecer a vontade de Deus é a forma correta de fazer o que é certo e bom. De que forma podemos saber sua vontade? Mediante o universo, incluindo a humanidade (Sl 19.1-4), e a Bíblia, as escrituras conhecida como a sua palavra. Toda humanidade criou códigos morais embasados em princípios éticos que testificam a lei moral absoluta no interior do homem (Rm 2.14,15). Entretanto, apesar dos princípios básicos de 48 ética adotados pelas diversas culturas, o homem vive aquém do que desejaria viver. Isso se justifica pela natureza (moralidade humana) caída e precisa de Cristo para redimi-lo (resgatá-lo moralmente e espiritualmente). A realidade da universalidade da lei moral é claramente percebida nas ações dos não-cristãos, em acreditar no que deve ser feito, apesar de não fazerem. O interessante aqui é a consciência do que deve fazer que nos conduzam a posição de aceitar a lei moral como absoluta. Então, pela existência da lei moral na existência humana somos levados à ideia de que há uma vontade suprema direcionando nossos comportamentos, ainda que pratiquemos ou não. 3.3. RELAÇÃO ENTRE NORMAS E CONSEQUÊNCIAS As normas foram criadas com a finalidade de controlar o comportamento humano. Ela atende a necessidade de conscientizar o indivíduo de que seu comportamento deve pautar em alguns padrões pré-definidos para o bom funcionamento do ambiente em que se encontra. Normatizar é informar que a liberdade individual deve seguir as regras sociais para um melhor andamento da vida social. Liberdade sem regras se torna libertinagem. Entretanto, as normas foram criadas pelos homens para orientar as ações do próprio homem para lhe trazer segurança e tranquilidade. Sem normas a vida seria uma bagunça. 49 Não se pode viver a vida sem regras. Seja lá como for, todos nós precisamos de normas para se conduzir de forma a respeitar os outros e a nós mesmos. Somos seres morais e, como tais, temos que nos comportar seguindo as normas, que são sempre sociais, doutra forma, seríamos como animais, regidos apenas pelos instintos fazendo sempre o que quisesse. Então, desde cedo aprendemos a nos comportar para que possamos nos tornar cidadãos adaptados a vida social e não sejamos indivíduos à margem da sociedade, que cria a sua própria regra e se torna estranho e assustador. Quando passamos a viver do nosso jeito, sem regras, como fora da lei, a sociedade nos expulsa de sua companhia. Existem várias maneiras de ser punido pela sociedade. Se você trabalha em uma empresa e quer fazer as coisas do jeito que você acha que é certo, recebe uma bronca; se teimar, recebe outra chamada; e, se tornar a fazer de novo, é demitido. Outro caso é do filho que não obedece aos pais. Geralmente é punido com palmadas, suspensão de alguma coisa desejada, ficar na cadeira da reflexão, se alguém tirar algum objeto de outrem poderá ser preso, etc.Sempre existe consequência para quem desobedece às normas sociais. As normais são vitais para os indivíduos e para a sociedade, logo, nenhum grupo social pode sobreviver sem elas. As normas e as punições variam de sociedade para sociedade. No entanto, o que devemos atentar é que elas são uma realidade. Se as normas não existissem, o caos seria instalado. Como exemplo de caos, temos a guerra. Em estado de guerra, o 50 caos é instaurado e todas as desgraças acontecem por causa da suspensão da lei. Nossa constituição brasileira reza que temos o direito de ir e vir. No entanto, essa liberdade só funciona em estado de paz e não de guerra. Em época de guerra, não há regras e as coisas mais complexas, que em estado de paz onde a regra em funcionamento não permitiria, socialmente acontecem. Não existem normas em época de guerra e agente só sabe o valor dela quando a perde. 51 DA DISTINÇÃO ENTRE CONHECIMENTO PURO E EMPÍRICO Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência; do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo o conhecimento começa com ela. Mas, embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha tornado aptos a abstraí-lo. Portanto, é uma questão que requer pelo menos uma investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a saber, se há um tal conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as LEITURA COMPLEMENTAR 52 impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência. (...) No que se segue, portanto, por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem independente desta ou daquela experiência, mas absolutamente independente de toda a experiência. Opõem-se-lhes os conhecimentos empíricos ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto é, por experiência. Dos conhecimentos a priori denominavam-se puros aqueles aos quais nada de empírico está mesclado. Assim, por exemplo, a proposição: cada mudança tem sua causa, é uma proposição a priori, só que não pura, pois mudança é um conceito que só pode ser tirado da experiência. (KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. de Tânia Maria Bernkopf. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 25-26. (Os pensadores)). 53 Vimos neste tópico: Que é muito diversa a compreensão sobre o que é certo e errado. Que, para o cristão, o critério de verdade está no modo do ser de Deus. Que há uma relação entre a existência da lei e as consequências sofridas pelos humanos quando a transgride. RESUMO DO TÓPICO 3 54 1. O que você entendeu sobre as teorias que explicam o que é correto? 2. Como podemos entender o que é bom? 3. É possível fazer o que é correto? 4. Por que a ideia de normas deve trazer consigo as consequências? AUTOATIVIDADE 55 Gerson Francisco de Arruda Júnior Lógica e Epistemologia: Conceitos Introdutórios OBJETIVOS DA UNIDADE Ao final da unidade você será capaz de: Entender o que é a lógica e de que ela trata; Saber o que é uma proposição e seus tipos; Conhecer os tipos de argumentos e como identificar premissas e conclusão; Definir o que é conhecimento; Caracterizar o conhecimento e as possibilidades de obtê-lo. GUIA DE ESTUDOS A Segunda Unidade se divide em: TÓPICO 1 – O QUE É A LÓGICA? TÓPICO 2 – O QUE É UMA PROPOSIÇÃO? TÓPICO 3 – ARGUMENTOS TÓPICO 4 – O QUE É O CONHECIMENTO? UNIDADE 2 56 57 TÓPICO 1 O QUE É A LÓGICA? INTRODUÇÃO Apesar de ser uma disciplina da filosofia, a lógica está presente em todas as nossas atividades. Ao abrirmos a nossa boca para dar algum pronunciamento sobre o mundo ou ao pensarmos algo sobre ele, precisamos da lógica. O presente tópico tem como objetivo definir o que é a lógica e mostrar as suas divisões. 1.1. DEFINIÇÕES DE LÓGICA Ao considerarmos o tema da lógica na filosofia, termos que destacar dois importantes aspectos que caracterizam o estudo da lógica. O primeiro é o aspecto ontológico, visto que a lógica (do grego “logos”) está intimamente ligada à racionalidade do mundo. Esse aspecto está relacionado ao modo como o mundo é e como ele se apresenta a nós. O segundo aspecto é o aspecto linguístico, que está relacionado à linguagem e ao modo de dizer o mundo. 58 O aspecto linguístico é o aspecto que será considerado nas seguintes definições de lógica. Pode-se definir a lógica como “o estudo dos argumentos válidos”. Nesse caso, ela “é a tentativa sistemática para distinguir argumentos válidos dos inválidos” (NEWTON-SMITH, 2011, p. 13). A lógica também pode ser concebida como “o estudo de inferências válidas”. Desse modo, ela se caracteriza por se apresentar como sendo “uma teoria da inferência” (SILVESTRE, 2011, p. 19). Sendo uma teoria da inferência, há dois aspectos fundamentais que caracterizam a lógica. O primeiro deles é o aspecto Inferencial, que se ocupa com o estudo das inferências válidas; o segundo é o aspecto Representacional, que se ocupa com o estudo de maneiras adequadas de representar enunciados. Tais aspectos definem o escopo da lógica. Ou seja, ela se ocupa das inferências válidas e do modo como os enunciados devem ser simbolizados. Outra maneira de definir a lógica é considerando-a como o “estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto” (COPI, 1981, p. 19). 1.2. AS LEIS DO PENSAMENTO Quando se estuda lógica, sobretudo a lógica clássica, é imprescindível dirigir nossa atenção para as chamadas “Leis do 59 Pensamento”. Tais Leis são princípios fundamentais de todo o ser (realidade), de toda a maneira correta de pensá-lo, e de toda a maneira de se falar dele com sentido. Desse modo, as Leis do Pensamento são princípios da Razão. Tais princípios são: o Princípio da Identidade, o Princípio da Não Contradição, e o Princípio do Terceiro Excluído. Cada um desses princípios ou leis pode ser considerado a partir dos pontos de vista ontológico, lógico e epistemológico. 1.2.1. Princípio da Identidade O Princípio da Identidade talvez seja o princípio menos difícil de ser entendido. Do ponto de vista ontológico, ele pode ser anunciado da seguinte maneira: “uma coisa é sempre idêntica a si mesma”. Por exemplo: o lápis que agora tenho em minha mão é igual a ele mesmo. Nada pode ser diferente de si mesmo. Do ponto de vista lógico, o Princípio da Identidade é descrito como uma identidade entre o todo e as suas partes, isto é, “entre o todo e as suas partes há sempre uma identidade”. Já do ponto de vista epistêmico, ele é assim apresentado: “uma coisa é sempre pensada como igual a si mesma”. 60 1.2.2. Princípio da Não Contradição A segunda Lei do Pensamento é o Princípio da Não Contradição. Tal princípio foi assim anunciado pelofilósofo Aristóteles, no livro gama da sua Metafísica: “O mesmo atributo não pode pertencer e não pertencer à mesma coisa, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto” (ARISTÓTELES, 1969, III). Do ponto de vista ontológico, tal princípio é assim descrito: “nada pode ser A e não-A ao mesmo tempo e sob as mesmas condições”. Por exemplo, ninguém pode ser pai e não-pai ao mesmo tempo e sob as mesmas condições. Do ponto de vista lógico, a Lei da Não Contradição é assim apresentada: “um enunciado não pode ser, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso”. Já do ponto de vista epistêmico, o Princípio da Não Contradição é descrito da seguinte maneira: “não se pode pensar A de algo (predicar) e negá-lo (negar a predicação), ao mesmo tempo e sob as mesmas condições”. 1.2.3. Princípio do Terceiro Excluído A última das Leis do Pensamento, mas não menos importante do que as outras, é o Princípio do terceiro Excluído. 61 Do ponto de vista ontológico, tal princípio é entendido da seguinte forma: “uma coisa é ou não é, não há meio termo”. Por exemplo, alguém é professor ou não é professor. Ninguém pode ser meio professor. Do ponto de vista lógico, ele é muito simples de ser anunciado: “dada uma proposição, podemos dizer que ela é verdadeira ou falsa, a terceira opção é excluída”. Já do ponto de vista epistêmico, a lei do Terceiro Excluído pode ser assim apresentado: “quando pensada, uma proposição ou é verdadeira ou é falsa, uma terceira opção é excluída”. 1.3. DIVISÃO DA LÓGICA A lógica como disciplina da filosofia está dividida em dois grupos: a Lógica Clássica e a Lógica Não-Clássica. A Lógica Clássica é caracterizada por ser binária, isto é, ela só admite dois valores de verdade, a saber, o verdadeiro e o falso. Já a Lógica, ou melhor, as Lógicas Não-Clássicas não são binárias e, exatamente por isso, admitem outros valores de verdade além do verdadeiro e do falso. 62 1.3.1. Divisão da Lógica Clássica A Lógica Clássica se divide em: a) lógica PROPOSICIONAL (das proposições), que tem como unidade base a proposição que exprime um acontecimento. Ex: “O Brasil é um país da América Latina”. Esta lógica está ligada à investigação dos juízos compostos e, por isso, é considerada como uma lógica Interproposicional. b) lógica de PREDICADOS, cuja unidade base são os termos no interior da proposição. É uma lógica Intraproposicional. 1.3.2. Divisão da Lógica Não-Clássica A Lógica Não-Clássica se divide em: a) COMPLEMENTARES, que complementam a lógica clássica com a introdução de novos operadores lógicos. São exemplos de Lógicas Não-Clássicas complementares: - Lógica Modal, que acrescenta os seguintes operadores lógicos: possibilidade, contingência e necessidade. - Lógica Deôntica, que acrescenta os operadores lógicos: permitir, proibir, indiferente, obrigatório. - Lógica do Tempo, que acrescenta os operadores lógicos temporais: ontem, hoje, amanhã, agora. 63 b) NÃO-COMPLEMENTARES, concebidas como novas lógicas, rivais da Lógica Clássica. Seu objetivo é superar os limites teóricos da Lógica Clássica. São exemplos de Lógicas Não- Clássicas Não-complementares: - Lógica Trivalente, que acrescenta o valor de verdade “indeterminado”. Ex: “Gerson dará aulas amanhã” tem valor indeterminado, pois nem é verdadeiro, nem falso. Esse tipo de lógica tenta romper com a lei do terceiro excluído. - Lógica Paraconsistente, que admite que uma sentença e a sua negação podem ser ambas verdadeiras. Esse tipo de lógica tenta romper com a lei da não-contradição. - Lógica Não-Reflexiva, é aquela para a qual o princípio da identidade não vale em geral. 64 Limites do papel da lógica na filosofia Aristóteles considerava a lógica um instrumento filosófico imprescindível e a tradição escolástica cultivou a argumentação estritamente silogística. No entanto, a cultura filosófica está hoje dividida quanto ao papel da lógica na filosofia. Ao inaugurar a filosofia da época moderna, Descartes introduziu também um profundo desprezo pela lógica silogística, a única então conhecida, enquanto instrumento filosófico. É irónico que os filósofos mais argumentativos da época moderna, como Descartes e David Hume, tenham desprezado o papel da lógica na filosofia. Esta atitude ficou sem dúvida a dever-se às insuficiências da própria lógica silogística e talvez também ao juízo nem sempre justo daqueles que, ao procurar inovar numa dada área do conhecimento, sentem o legado deixado pela tradição como um obstáculo incómodo aos seus novos propósitos e métodos. É neste contexto que temos de entender a afirmação de Kant de que a lógica era, já no seu tempo, uma disciplina acabada e perfeita (Cf. Crítica da Razão Pura, BVIII). Um século mais tarde, Frege e Russell iriam provar que Kant LEITURA COMPLEMENTAR 65 estava profundamente enganado: muito havia ainda a fazer no estudo da lógica. O advento da lógica moderna de Frege e Russell cristalizou duas atitudes antagônicas quanto ao papel da lógica na filosofia. Por um lado, há filósofos que ignoram a lógica (seja ela moderna ou silogística), à semelhança dos seus antecessores do Renascimento. Por outro lado, filósofos houve, como Carnap, que viram na lógica moderna o instrumento que em última análise permitiria a solução dos problemas filosóficos. Hoje em dia já ninguém partilha com Carnap esta crença errada nos poderes da sintaxe da lógica dedutiva. No entanto, continua a fazer-se sentir uma divisão quanto ao papel da lógica na filosofia. De um lado, continuam aqueles que negam à lógica qualquer pertinência para a filosofia e, do outro, aqueles que, apesar de não acreditarem que a lógica possa resolver os problemas da filosofia, lhe reservam todavia um papel importante. É a esse papel, e aos seus limites, que resolvi dedicar estas páginas, sem pressupor por parte do leitor qualquer conhecimento de lógica. A natureza da lógica O conhecimento humano tem duas fontes: a experiência e a razão. Na linguagem filosófica é costume dizer-se que uma proposição é a priori se a sua verdade pode ser conhecida sem 66 apelar para a experiência; e a posteriori se pelo contrário só podemos conhecer a sua verdade através da experiência. Um raciocínio é o processo pelo qual se chega a uma conclusão, partindo de uma sequência de proposições, a que se chamam premissas. As premissas e a conclusão podem ser a priori ou a posteriori. É necessário distinguir o conceito lógico de raciocínio do conceito psicológico de raciocínio. O conceito psicológico de raciocínio denota aquela atividade mental que os seres humanos realizam desta ou daquela maneira, melhor ou pior, com prazer ou não. O conceito lógico de raciocínio é uma abstração independente de factores psicológicos. A lógica não estuda o fenómeno psicológico do raciocínio; isso é estudado por parte da psicologia. A lógica não é uma disciplina empírica acerca da maneira como as pessoas raciocinam de facto. A lógica é uma disciplina a priori que, entre outras coisas, estabelece as normas que as pessoas têm de cumprir se desejam realmente alcançar o raciocínio correcto ou válido. Se a lógica fosse uma disciplina empírica acerca da maneira como as pessoas pensam de facto, teria de admitir como correctos ou válidos aqueles raciocínios que a maioria das pessoas realizam supondo serem correctos ou válidos. Mas a verdade é que os raciocínios incorrectos ou logicamente inválidos não se tornam válidos mesmo que todas as pessoas os tomem como válidos. 67 É necessário agora distinguir claramente a validade, ou a correção de um raciocínio, da verdade. A validade é uma propriedade dos raciocínios e não das proposições que os compõem, ao passo que a verdade é uma propriedade das proposições que compõem os raciocínios. Isto é, uma proposição pode ser verdadeira ou falsa; masnão faz sentido dizer que é válida ou inválida. Pelo contrário, um raciocínio é válido ou inválido mas não faz sentido dizer que é verdadeiro ou falso. Esta não é uma mera convenção, nem uma distinção meramente verbal; ela corresponde à diferença que existe entre a avaliação de um raciocínio e a avaliação de uma proposição. Avaliar uma proposição é muito diferente de avaliar um raciocínio. Quando avaliamos um raciocínio e sancionamos a sua qualidade, afirmamos que ele nos “conduz” à verdade, assumindo que as premissas são verdadeiras. Esta verdade a que ele nos “conduz” é a proposição que se conclui. Assim, avaliar positivamente um raciocínio é afirmar que, assumindo a verdade das suas premissas, ele nos garante a verdade da conclusão. Logo, temos de distinguir essa qualidade que os bons raciocínios têm, que consiste em garantir a verdade das suas conclusões, da própria verdade das suas conclusões: é preciso distinguir o comboio que nos conduz ao Porto, do Porto. A melhor forma de explicar a diferença entre verdade e validade é através de um exemplo. Tome-se o seguinte raciocínio: 68 Sócrates e Platão eram egípcios. Logo, Sócrates era egípcio. Este raciocínio é claramente válido. Mas é a sua premissa verdadeira? Pode ser verdadeira ou falsa; a lógica nada nos diz sobre isso. E a sua conclusão é verdadeira ou falsa? A lógica também não diz. O que a lógica afirma é que se a premissa for verdadeira, então a conclusão também é verdadeira: é por isso que é um raciocínio dedutivo válido. É aliás isso mesmo que é um raciocínio dedutivo válido. Um raciocínio dedutivo válido é aquele em que se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será verdadeira. Claro está que se as premissas forem falsas a conclusão pode ser falsa, ainda que o raciocínio seja válido. A lógica estuda as leis da inferência dedutiva. A lógica estuda as leis que permitem que de premissas verdadeiras se derivem conclusões verdadeiras. A lógica não pode pronunciar-se sobre a verdade das premissas de um raciocínio; afirma apenas que a conclusão de um raciocínio é verdadeira se, e só se, (1) o raciocínio for válido; e (2) as premissas forem todas verdadeiras. Está claro que existem outros tipos muito comuns de raciocínio: a indução e analogia. Mas nestes casos as conclusões não se seguem logicamente das premissas. Um raciocínio indutivo razoável é ainda um raciocínio dedutivamente inválido. Note-se 69 que as premissas de um raciocínio dedutivo tanto podem ser a priori como a posteriori. Porém, as teorias e os argumentos tipicamente filosóficos não só são dedutivos, como muitas vezes as premissas desses argumentos são a priori, no sentido em que não são confirmáveis ou refutáveis pela experiência. Teorias e argumentos indutivos e com premissas a posteriori são típicos das disciplinas empíricas como a história ou a física. Verdade e ilusão Se um raciocínio for válido ou correcto e se as suas premissas forem verdadeiras, a sua conclusão também será verdadeira. Está claro que podemos obter conclusões verdadeiras a partir de premissas falsas com raciocínios inválidos; por exemplo: Nenhum pássaro é preto. Logo, algumas coisas pretas são pássaros. Também podemos obter conclusões verdadeiras a partir de premissas falsas com raciocínios válidos; por exemplo: Sócrates era francês e Platão era grego. Logo, Sócrates era francês ou Platão era grego. 70 Estes dois exemplos mostram como se pode chegar a conclusões verdadeiras — o principal interesse dos filósofos — partindo quer de premissas falsas, quer de raciocínios inválidos. Chegámos por isso ao ponto em que os mais saudavelmente cépticos perguntarão que papel poderá a lógica ter na filosofia, considerando que podemos ter as seguintes situações: 1) raciocínios inválidos com premissas falsas e conclusões falsas; 2) raciocínios inválidos com premissas verdadeiras e conclusões verdadeiras; 3) raciocínios inválidos com premissas verdadeiras e conclusões falsas; 4) raciocínios inválidos com premissas falsas e conclusões verdadeiras; e ainda: 5) raciocínios válidos com premissas falsas e conclusões falsas; 6) raciocínios válidos com premissas falsas e conclusões verdadeiras; E que, para além de distinguir claramente os argumentos válidos dos inválidos, a lógica só nos garante que 7) em raciocínios válidos com premissas verdadeiras as conclusões são também verdadeiras. 71 Para responder a esta pergunta tenho de voltar a lembrar o facto de que todo o conhecimento humano é fruto ou da experiência ou do raciocínio. Se optarmos por uma postura intelectual honesta não podemos deixar de nos perguntar como poderemos nós distinguir o conhecimento verdadeiro da mera ilusão. Que critério podemos nós usar que nos permita distinguir a verdade da ilusão? A resposta depende do domínio de conhecimento a que nos referimos. Se estamos no domínio do conhecimento empírico temos a experiência como guia: ninguém acredita numa proposição que afirma que todos os pássaros são pretos quando o nosso canário é amarelo, ainda que esta seja defendida por uma qualquer grande autoridade, com um léxico terrorista e uma gramática barroca. Mas como poderemos nós distinguir a verdade da ilusão, do erro e da falsidade quando as proposições que proferimos estão completamente fora do alcance da experiência? Se alguém nos afirma que os humanos são essencialmente racionais, mas acidentalmente bípedes, como reagir a esta afirmação? É certamente muito diferente daquela outra que afirmava que todos os pássaros são pretos. Nesse caso tínhamos a experiência para confirmar ou refutar tal ideia. Mas agora não temos tal coisa. E se estamos num domínio cognitivo não podemos considerar como argumento o facto de essa pessoa afirmar ter tido uma experiência mística em que essa verdade lhe foi revelada. Talvez ela pense que teve essa experiência; mas como vamos nós conseguir distinguir a 72 experiência verdadeira que ela pensa que teve, da ilusão de que a teve? Num contexto cognitivo é irrelevante apelar para experiências pessoais que não podem ser repetidas por terceiros e que nem eles próprios podem distinguir da mais banal das ilusões — ainda que isso seja reconfortante de um ponto de vista afetivo e pessoal (para aquelas pessoas que são pouco exigentes quanto ao valor de verdade daquilo em que querem acreditar). Mas a ciência, a filosofia e a arte não são pessoais mas sim públicas, discutíveis, passíveis de controlo por terceiros. Não se aceita uma lei da física que só se verifica no laboratório de um cientista quando ele está sozinho; não se aceita uma proposição da filosofia para a qual não há argumentos discutíveis, mas que o filósofo afirma sentir ser verdadeira; não se aceita o valor de um quadro que ninguém consegue jamais apreciar exceto aquele mesmo que o pintou. Lógica, argumentos, filosofia A tarefa da filosofia, tal como a tarefa das ciências, é descobrir proposições verdadeiras. Mas ao contrário do que acontece com as ciências empíricas, a experiência raramente fornece à filosofia um critério para distinguir a verdade da falsidade. Assim, apesar de a lógica parecer fornecer tão pouco, é afinal o único meio seguro que temos para excluir argumentos que, ainda que conduzam à verdade, o fazem de forma tal que não podemos realmente saber se estamos perante a verdade ou perante a 73 ilusão. A lógica não pode decidir se as premissas são ou não verdadeiras; a lógica não pode tão pouco decidir se a conclusão de um raciocínio é verdadeira ou não; mas a lógica diz-nos se tal conclusão resulta realmente ou não de tais premissas. É a lógica que permite distinguir claramente os argumentos válidos das falácias. Uma falácia é um argumento inválido que no entanto parece ser válido. Quando o nosso campo de investigação excede claramente a
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