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PAPEL DO PEDAGOGO SOBRE A INDISCIPLINA NA ESCOLA

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[footnoteRef:0]INDISCIPLINA NA ESCOLA: DESAFIO E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO [0: Edson Martins: Pedagogo, especialista em EAD, mestre em Educação e doutor em Ciências da Religião. Professor no Centro Universitário FAEL - UNIFAEL] 
 ARAÚJO, Suzana Rosa Barbosa
 MARTINS, Edson
Resumo
O presente artigo mostra como a temática da indisciplina e da violência tem estado presente nas escolas brasileiras e feito professores e equipes técnico-pedagógicas estudarem e pesquisarem esse fenômeno com o intuito de estabelecer o surgimento desses fenômenos e de que maneiras influenciam o processo de aprendizagem. Discute também as várias faces que esse fenômeno apresenta durante a história, sua evolução até os dias de hoje, o papel dos pais e da escola e quais as possíveis formas de combatê-lo. Possui como objetivo traçar o papel do pedagogo como mediador nesse cenário, sendo facilitador do processo ensino-aprendizagem e fazendo a mediação entre a família e a escola no enfrentamento dessas questões. Para tanto utilizou-se de pesquisa bibliográfica. Constatou-se então que o papel do pedagogo é de extrema importância no enfrentamento dessa questão na escola.
Palavras-chave: Indisciplina; Aprendizagem; Pedagogo.
1. INTRODUÇÃO
A indisciplina é um tema que ocupa hoje grande parte das preocupações de professores e de equipes técnico-pedagógicas nas escolas espalhadas pelo Brasil, afinal esse fenômeno não é estático, ele tem crescido com o tempo e se mostrado cada vez mais marcante e prejudicial ao processo de ensino e aprendizagem e da formação da personalidade das crianças e dos jovens. Essa temática não se restringe apenas ao âmbito educacional, é algo que envolve todos os segmentos da sociedade. Para viver em sociedade é necessário que haja limites. Crianças e adolescentes não podem ter liberdade total, ilimitada. É fundamental que a criança saiba o que pode e o que não pode ser feito (Tiba, 1996).
A indisciplina e a violência estão se instalando nas escolas de uma forma tão forte que as crianças e os professores vivem em um ambiente tenso e insalubre, e isso tem se refletido no processo de construção do conhecimento, acarretando casos de repetência escolar, alto índice de evasão, sem contar as mazelas psíquicas, muitas vezes permanentes, que podem se estabelecer pela vivência constante nessas situações.
Este artigo buscará estabelecer as causas da indisciplina vivenciada na escola
Para que esse cenário seja desenhado há que se buscar o papel da família, uma vez que esta têm grande influência sobre o comportamento da criança, afinal ela está inserida diretamente neste ambiente. A família mostra-se, então, a primeira fonte educacional da criança, muito antes da escola. Essa influência da família se reflete cotidianamente nos atos praticados por estas crianças e jovens no ambiente escolar. Dessa forma, seria condição sine qua non que houvesse uma parceria eficaz entre pais e professores, para conseguirem concretizar um ideal de educação. É preciso ainda que se busque conhecer os professores que atuam nesse contexto de forma a estabelecer se estes se mostram preparados para lidar com esse fenômeno que invade as salas de aula, ou se ainda tendem a oferecer aos alunos a educação que tiveram em seu tempo e contexto sócio-histórico, uma “educação bancária” (Freire, 1968). É necessário ainda que os pedagogos estejam engajados no enfrentamento à indisciplina na escola uma vez que esse profissional é mediador de todo esse processo, sendo o auxiliador dos professores para que se encontrem saídas e é ao mesmo tempo a ponte entre escola e família.
Para tanto, o presente trabalho foi elaborado utilizando-se de vasta fonte bibliográfica como forma de buscar diversos olhares acerca da temática, com destaque para alguns autores como Tereza Benette, Leila da Costa, Paulo Freire e Isabel Fernández, sendo estes a fonte alguns dos autores utilizados como referencial teórico.
2. INDISCIPLINA NA ESCOLA
O termo indisciplina é utilizado, geralmente, para designar todo o comportamento que transgride as regras, normas e leis existentes em uma organização. É o completo oposto da disciplina. Na escola essa indisciplina se manifesta quando o aluno desrespeita as normas estipuladas, sejam essas normas inerentes à organização escolar ou as normas elaboradas de forma democrática, com a participação dos alunos, em sala de aula. Essa definição de indisciplina apoia-se também na definição do Dicionário Informal on line que define “indisciplina” como “Falta de respeito às regras, negação às normas, mal comportamento que compromete a convivência social” (INDISCIPLINA, 2022)
segundo Parrat-Dayan (2008, p. 21), os conflitos em sala de aula caracterizam-se pelo descumprimento de ordens e pela falta de limites como, por exemplo: falar durante as aulas o tempo todo, não levar material necessário, ficar em pé, interromper o professor, gritar, andar pela sala… entre outras atitudes que impedem os docentes de ministrar aulas com mais qualidade. 
Cegalla (2005, P.313) estabelece a definição de disciplina como “o comportamento metódico segundo os princípios da ordem e da obediência''.
Porém o conceito de disciplina não é estático, como é possível perceber quando se pensa no modelo de escola do século passado, onde as transgressões às regras e o desrespeito às normas eram punidas com castigos severos, chegando aos castigos físicos. Forma de agir rechaçada com o passar do tempo, própria sociedade, como fica claro na fala de Silva.
Essas condições humilhantes de disciplina na educação seguiram até meados do século XVIII, com base num regime devidamente aceito pela sociedade, até que a própria sociedade mostrou sua repugnância pelo regime disciplinador. (SILVA, 2004, p.9).
Tendo como base o exposto, é possível perceber que os conceitos de disciplina e indisciplina são conceitos criados e construídos pela sociedade e pelas necessidades de cada período de tempo, e que se modificam de acordo com o pensamento de cada época.
Um exemplo claro dessa construção pode ser percebido na educação experimentada no Brasil nos anos 1960. No modelo de educação vigente em tal período a educação era considerada “um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante”, por isso uma educação “bancária” (FREIRE, 1968). 
Essa concepção bancária de educação ao mesmo tempo em que propiciava uma sensação de controle por parte do professor e da escola, provocava também indisciplina, porque colocava o professor como centro do processo de ensino-aprendizagem e ao aluno cabia apenas incorporar os conhecimentos e reverenciar o sistema vigente. Portanto qualquer atitude contrária a esse sistema era considerado um ato de indisciplina e por isso passível de punição.
Freire acreditava que esse tipo de configuração educacional servia apenas para aprisionar o homem, como fica claro em sua afirmação:
A “educação bancária” com o objetivo de controle do homem é necrófila, pois não dando oportunidade de expressão e de esperança, enquanto sujeito recriador do mundo, “nutre-se do amor à morte e não do amor à vida. (FREIRE, 1968, p. 65).
Mas esses alunos, como seres pensantes e críticos, não conseguiam simplesmente ficar como meros espectadores e acabavam por tentar transgredir as regras, não como forma de negar a autoridade do sistema, mas como forma de mostrar a esse sistema sua existência enquanto ser sócio-histórico e cidadão crítico e consciente de seu papel na sociedade.
Porém, parece que a sociedade não tem conseguido lidar com essas situações de indisciplina, seja em ambiente escolar ou fora dos muros das escolas. É fácil ver nos jornais as notícias de violência, que levam a população a viver cada vez mais amedrontada e impotente frente ao quadro atual de violência, corrupção, racismo, perda dos valores e falência das organizações sociais.
Nesse contexto, a escola parece encontrar-se também em meio a uma crise. As crianças mostram não saber respeitar os limites na convivência com o grupo escolar,afinal, parecem não vivenciar esses limites fora dos muros da escola. Essas crianças tendem a reproduzir no universo escolar tudo o que vivenciam nas ruas, em suas comunidades e suas famílias, seus costumes e maus-costumes, sua forma de falar, seus valores e sua visão de mundo, mesmo que essa forma de ver o mundo não esteja em consonância com a visão da coletividade.
Quanto à indisciplina e a violência nas escolas, esses fenômenos têm tomado de preocupação, educadores e equipes pedagógicas de todos os cantos do mundo “a ponto de muitos manifestarem descrença no tocante à possibilidade de mudança desse quadro sombrio” (SILVA, 2012, p.17). Esse quadro se intensificou e agravou de tal forma que a sociedade vem sendo chamada a participar do ambiente escolar como nunca antes.
Há alguns anos seria impensado que as mídias e os meios jornalísticos pudessem adentrar o ambiente sagrado da escola, mas hoje ao ligar os televisores ou abrir as notícias é comum encontrar manchetes assustadoras sobre casos que estão ligados com essa que parece ter se tornado a ordem do dia: Indisciplina e violência na escola.
Enfim, qualquer pessoa hoje consegue visualizar razoavelmente a crise pela qual a educação contemporânea vem passando. Todos conseguem diagnosticar a presença dessa crise, mas, como os profissionais da educação, não sabem direito sua extensão, suas causas e concomitante a isso não sabem de que maneira tratar esse fenômeno de forma que a escola consiga retomar seu papel formador.
Ainda que haja uma variada gama de conceituações sobre o que seja indisciplina na escola, quando se pensa nas causas desse fenômeno, percebe-se que não há apenas uma causa principal. Geralmente essas causas são apontadas como multifatoriais, uma vez que devem levar em conta a família, a educação, a comunidade em que se está inserido, enfim, não apenas um aspecto a ser verificado.
Aquino aponta para esse olhar mais amplo ao dizer que essa temática deve levar em conta também os condicionantes culturais.
Ao tratar esse assunto, aponta que “um olhar sócio-histórico, tendo como um apoio os condicionantes culturais, poderá desenhar novas configurações, caracterizando o problema enquanto interdisciplinar, transversal à Pedagogia e devendo ser tratado por um maior número de áreas em torno das ciências da educação”. (AQUINO, 1996, p.41) 
Um dos problemas mais complexos vivenciados pela escola – a indisciplina – caracteriza-se como fonte profunda de estresse nas relações interpessoais, especificamente ao associar-se a situações de conflito no interior da escola e da sala de aula. A indisciplina gera principalmente, dificuldades para o desenvolvimento da aprendizagem por parte dos alunos, tanto os que praticam os atos indisciplinados, quanto aqueles que apenas participam de forma passiva dessa realidade.
Tiba (1996, p.17) deixa bem claro o papel do aluno nesse contexto reafirmando a indisciplina como prejudicial à aprendizagem quando afirma que “Muitos alunos não respeitam seus professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem”
Buscando então explicações para as causas da violência escolar, a literatura especializada associa os atos de violência e indisciplina escolar a “fatores externos (exógenos) e internos (endógenos)”. (FERNÁNDEZ, 2005, p.33)
No que tange às variáveis internas, é possível perceber que a própria escola, ou o próprio sistema educacional, pode vir a contribuir com o surgimento de comportamentos indisciplinados, na medida em que promove uma educação com baixa qualidade, currículos que se demonstram defasados em relação à sociedade tecnológica que os jovens estão inseridos, a falta de insumos e materiais adequados, os relacionamentos conflituosos que surgem no ambiente escolar entre alunos e alunos, alunos e professores, alunos e comunidade, enfim, são vários os fatores a serem apontados como causadores ou promotores dos comportamentos indisciplinados no ambiente escolar.
De acordo com a perspectiva psicoanalítica de Sigmund Freud (1856 – 1939), é possível perceber que existem determinadas características inatas ao ser humano, o que justificaria a existência de estruturas de personalidade mais propícias à violência. E o que fica ainda mais claro é que a escola não tem conseguido guiar essas estruturas psíquicas para outras áreas.
O mesmo se aplica à teoria de Piaget (1932 – 1994), da qual pode-se inferir que o indivíduo indisciplinado o é pela forma específica de se relacionar com as regras sociais. Nesta teoria, o meio social é o elemento que teria falhado em auxiliar adequadamente o indivíduo a se relacionar com as leis, pois é necessário que o organismo amadureça, interaja com os objetos físicos, com as outras pessoas, seja submetido a um processo educativo e constantemente se adapte ao seu meio físico e social.
A mídia também tem se mostrado uma propulsora dos comportamentos desajustados uma vez que naturaliza essa forma de comportamento. Silva traduz bem essa nova realidade ao colocar a mídia como a nova “educadora” das crianças e jovens:
A mídia hoje incorporou para si a função de educar nossas crianças e adolescentes, tanto no sentido informativo (veiculação dos conteúdos e valores que devem priorizar), quanto no formativo (a própria maneira de desenvolver o raciocínio e de agir consigo e com as demais pessoas). Os comportamentos violentos podem surgir quando se vê na televisão cenas de criminalidade, (inclusive em desenhos animados), de forma empolgante, com distorções significativas da realidade ou nos jogos de videogames violentos e de lutas. (SILVA, 2012, p. 67)
Uma vez que se tem um vislumbre sobre as possíveis causas da indisciplina e da violência que acometem as escolas é possível e preciso delinear as ações indisciplinadas e violentas que se apresentam hoje nas escolas.
É preciso salientar que nem todo comportamento que foge à normalidade deve ser rotulado como indisciplina ou violência para que não se crie um ambiente de crise. Fernández (2005, p. 44) diz que “falar de desordem não é a mesma coisa que falar de violência entre alunos”. A repercussão e o tratamento dessas questões são diferentes em cada instituição educacional, assim como a avaliação a ser feita das ações de intervenção. Ainda segundo Fernández (2005, p. 44), “cada tipo de acontecimento conflitante exige intervenções diferenciadas, porém que apontem para três objetivos básicos: Prevenção, intervenção e solução do conflito”.
Quando os comportamentos apresentados pelos alunos fogem dos valores ou objetivos pretendidos pelo processo educativo, pode surgir o ato indisciplinado dentro do ambiente escolar. Esses comportamentos indisciplinados podem causar principalmente a impossibilidade de o professor cumprir seu papel formador e por outro lado dificulta o processo de construção do conhecimento por parte dos alunos, tanto dos que estão diretamente ligados aos atos indisciplinados quanto dos que apenas participam passivamente, ou seja, apenas assistem. Isso acontece porque esses comportamentos desmotivam os alunos e os professores e deixam o ambiente desorganizado de forma a dificultar o processo de aprendizagem, como afirma Oliveira (2005) quando diz que: 
Além de a indisciplina causar danos ao professor e ao processo ensino-aprendizagem, o aluno também é prejudicado pelo seu próprio comportamento: ele não aproveitará que se nada dos conteúdos ministrados durante as aulas, pois o barulho e a movimentação impedem qualquer trabalho reprodutivo. (OLIVEIRA, 2005, P.21)
Estrela (1992) também já defendia essa visão prejudicial da indisciplina quando afirmava que a ela trazia consequências negativas ao processo de aprendizagem sob o prisma do professor uma vez que haveria “desperdício de tempo e desordem, diminuição da autoestima do professor, provocando a desestimulação com a própria profissão e a frequente desistência da carreira profissional”.
São vários os comportamentos indisciplinados que assaltam as escolas nos dias de hoje, e esses comportamentos em algumas ocasiões acabam por evoluir para atos mais incisivos, como a violênciafísica, moral ou psicológica. De acordo com o dicionário Houaiss (2004) violência é a “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força”.
Alguns atos de violência e indisciplina que ocorrem na escola cabem aqui serem citados, porém sem que haja um aprofundamento das características desses atos. Podem-se citar em primeiro lugar os abusos entre os alunos. Esse tipo de agressão acontece em todos os centros educacionais e de forma quase que corriqueira, porém se esses comportamentos não forem, de alguma forma, monitorados e combatidos podem se avolumar de forma a se transformarem em problemas piores. Um exemplo seria o Bullying que seria classificado como assédio moral, um passo além dos conflitos entre alunos. Nesse tipo de assédio ocorre: Comentários depreciativos quanto à sexualidade, raça, credo, modo de ser, de andar ou falar, etc.; Humilhações e críticas públicas; Agressões verbais; Olhares e risadas provocativas e Ameaças constantes. (SILVA, 2010).
 Existe também a agressão por parte de grupos, nesse caso os alunos formam pequenos grupos e pressionam, de forma a coagir, amedrontar e humilhar outra criança que é usada como bode expiatório. Esses grupos costumam exigir dinheiro, não deixam que essa criança fale e se expresse, caçoam, ameaçam etc. Esse tipo de comportamento causa isolamento da criança vítima desse assédio maximizando os danos morais e psicológicos causados a essa criança. Outro tipo é a desordem que ocorre dentro da sala de aula. São diversos os fatores que podem propiciar esse ambiente desordenado, porém é importante salientar aqui que essa “desordem causa um campo impróprio para não aprender”, criando grande dificuldade nos procedimentos das tarefas” (FERNÁNDEZ, 2005, p. 56). Essa desordem também causa um ambiente propício para o surgimento de atritos, tanto entre alunos quanto entre alunos e professores, de forma que é importante que o professor busque maneiras de transformar esse ambiente para criar um clima agradável e facilitador para a construção do conhecimento.
3. PAPÉIS PARA O SURGIMENTO DOS COMPORTAMENTOS INDISCIPLINADOS
É de conhecimento de toda a sociedade que a indisciplina e a violência escolar, mostram-se hoje como um problema sério e polêmico, enfrentado por pais, professores e equipes pedagógicas, tanto nas redes de ensino público como em escolas privadas. E esse fenômeno pode ter algumas causas, como as expostas por Parrat-Dayan quando afirma que:
De forma geral, a indisciplina pode ser explicada por razões sociais, sociofamiliares, problemas cognitivos e fatores situacionais. A causa da violência e da indisciplina não está só no aluno, mas no fato de que as relações na sala de aula devem mudar. (PARRAT-DAYAN, 2011, p. 67).
A experiência do convívio familiar, os vínculos e exemplos criados nesse ambiente são sem dúvida os fatores mais apontados como causadores dos comportamentos violentos e indisciplinados que são reproduzidos na escola, uma vez que as crianças experimentam em seus lares uma crescente ausência de limites, como corrobora Tiba (1996, p.55) ao afirmar que “considera-se que permitir nada ou, no extremo oposto, permitir tudo, são hábitos igualmente nocivos do ponto de vista educacional. É fundamental que a criança saiba o que pode e o que não pode ser feito”, ou seja, é necessário que a criança conheça os limites para que consiga aprender a respeitar o espaço do outro.
Ainda segundo Tiba, essa educação primária é advinda do seio familiar enquanto à escola, cabe o ensino sistematizado, como fica claro quando afirma que:
A educação formal é dada pela escola. Porém, a educação global é feita a oito mãos: pela escola, pelo pai, pela mãe e pelo próprio adolescente. Se a escola exige o cumprimento de regras, mas o aluno indisciplinado tem a condescendência dos pais, acaba funcionando como um casal que não chega a um acordo quanto à educação da criança. O filho vai tirar lucro da discordância pais/escola da mesma forma que se aproveitam quando há divergências entre o pai e a mãe. (TIBA, 1996, p.165)
Outro fator que ajuda no aparecimento dos comportamentos de indisciplina e violência na escola é o relacionamento professor/aluno. Se o professor não cultiva um relacionamento de parceria com seus alunos, mostrando autoridade, porém participando da vida escolar desse aluno, se o professor não pensa as aulas de forma a desafiar constantemente esses alunos e acaba por se tornar maçante e repetitivo, é grande a probabilidade de esses alunos apresentem um comportamento indisciplinado e Sampaio corrobora essa visão ao afirmar que:
Para que a indisciplina não brote quase por geração espontânea é útil que o professor tenha bem presente a importância dos aspectos relacionais com os seus alunos. Se o professor continuar a valorizar apenas a sua função de instrução (transmitir conhecimentos) é mais provável que os conflitos disciplinares apareçam. (SAMPAIO, 1997, p.7)
Esses dois fatores citados são os principais apontados pelos atores escolares como possíveis causadores dos comportamentos violentos e indisciplinados. Porém é possível citar ainda alguns outros. 
A literatura recente tem se debruçado realmente e tem estudado o tema proposto de forma que é possível hoje ter uma visão um tanto mais completa, o que pode ajudar os atores educacionais a lidarem com esses problemas. Em uma rápida procura acerca dos possíveis fatores causadores desses comportamentos, podemos encontrar a perda dos valores morais.
Silva afirma que:
Uma das razões que, sem dúvida, contribuiu para o aumento da indisciplina e da violência nas escolas está relacionada ao desaparecimento ou à diminuição da importância dada a certos valores morais. (Silva, 2012, p.29)
Os problemas fisiológicos, psicológicos e psicossociais também são citados e uma grande corrente tem se manifestado com relação ao poder que as diversas mídias têm sobre os comportamentos dos alunos, pensamento corroborado por Parrat-Dayan (2011, p.61), quando afirma que:
A criança adquire o costume de ver cenas violentas e , quando há uma situação de violência, ela não a estranha porque passou a ser algo cotidiano e habitual. Na realidade, o fato de provocar insensibilidade perante a violência é uma forma de gerar violência.
Por isso faz-se importante delinear papéis de pais e professores, da escola e do sistema de ensino, da comunidade e das influências externas como forma e contribuir para o aparecimento dos comportamentos indisciplinados e ao mesmo tempo pensar maneiras em que possam atuar para que esses comportamentos sejam revertidos de maneira que o ambiente escolar volte a ser um ambiente prazeroso.
4. INFLUÊNCIA DA INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
A indisciplina e a violência promovem um cenário indesejável e insalubre em sala de aula, onde têm tomado cada vez mais espaço no currículo escolar. Nas últimas décadas esses problemas de indisciplina e violência se tornaram um dos principais desafios e preocupações dos professores. De acordo com o pensamento de Garcia (2006, p.123) “A indisciplina estaria desenhando um cenário indesejável, sobretudo nas salas de aula, onde persiste disputando e conquistando um espaço considerável do currículo escolar”.
Nesse contexto, a família tem papel decisivo. Tiba (2002, p. 187) afirma que “não se pode delegar à escola a educação familiar, pois esta é única e exclusivamente voltada à formação do caráter e dos padrões de comportamento familiares”.
	O mesmo autor afirma que:
Quando a escola, o pai e a mãe usam a mesma linguagem e têm valores semelhantes, os dois principais contextos da criança, a família e a escola, demonstram uma segurança e coerência extremamente favorável ao seu desenvolvimento. (TIBA, 2002, p. 190).
As causas da indisciplina também podem ser internas ao ambiente escolar, pois muitas escolas não possuem a estrutura necessária como, por exemplo, a falta de espaços adequados para a prática de esportes. Faltam lugares onde se possa “gastar asenergias” e assim isto é feito dentro da sala de aula.
A indisciplina pode influenciar, e geralmente influencia, de forma negativa o rendimento escolar, ela continua sendo um problema para professores que querem ensinar e alunos que querem aprender, e isso, incide diretamente na qualidade do ensino, pois prejudica o desempenho escolar de toda a classe e muitas vezes, acaba gerando o fracasso escolar. Oliveira (2005, p.14) afirma isso categoricamente ao dizer que “A indisciplina é considerada um dos fatores que influenciam o fracasso escolar”.
Ao professor cabe tentar resgatar neste aluno o interesse e a curiosidade em aprender, renovando os conteúdos, os métodos e a relação entre professor e aluno. Deve procurar organizar o ensino a partir de desafios, onde haja interação entre os alunos, trocas, reflexões, discussões e a busca de soluções conjuntas. Conteúdos que tenham significado para seu aluno, que ele possa usar em seu dia-a-dia, que possa resolver conflitos da sua vida.
Para Tiba (1996, p.173) “o maior estímulo para ter disciplina é o desejo de atingir um objetivo”.
E Cury complementa o pensamento de Tiba ao trazer à tona a os sonhos, o prazer e a emoção como dinamizadores e significadores desse processo educativo:
Os professores precisarão de sonhos para transformar a sala de aula num ambiente prazeroso e atraente, que educa a emoção dos seus alunos, que os retira da condição de espectadores passivos para se tornarem atores no teatro da educação. Precisarão de sonhos para esculpir em seus alunos a arte de pensar antes de agir, a cidadania, a solidariedade, para que aprendam a extrair segurança na terra do medo, esperança na desolação, dignidade nas perdas. (Cury, 2007, p.124).
A indisciplina manifesta-se de diversas formas na vida de um estudante, e apesar da bagunça e do barulho não serem as únicas ocorrências, são as que mais se destacam na sala de aula. Quase sempre, a indisciplina passa a ser vista como um problema quando a sala começa “a pegar fogo”, ou seja, quando a indisciplina influencia o comportamento dos alunos e é percebida na “bagunça”, no “barulho”, na “falta de atenção” e de forma mais agravante na agressividade. Nessas horas é que realmente a preocupação do professor cresce e o faz pensar sobre a indisciplina do aluno.
O comportamento é fundamental para o bom desenvolvimento das aulas. Portanto, não pode ser desconsiderado pelos educadores, principalmente quando passa a ser um comportamento indisciplinado. Até porque, muitas vezes, a indisciplina pode ser um indício de alguma carência do aluno como, por exemplo, a falta de compreensão do conteúdo, que ocasiona a falta de interesse por estudar e continuar prestando atenção à aula. Sendo assim, o assunto indisciplina é muito relevante, pois interfere diretamente no processo de ensino-aprendizagem, pois impossibilita a ação do ensinar por parte do professor e inviabiliza a construção do conhecimento não só do aluno que pratica os atos indisciplinados, mas dos alunos que estão ao redor.
Com relação à construção do conhecimento todos os alunos, os ditos indisciplinados ou violentos e aqueles que participam indiretamente, apenas presenciam esses atos, concorda que esse ambiente conturbado e agressivo não possibilita que o professor cumpra plenamente seu papel, afinal ele tem que ficar mediando os conflitos e tentando restabelecer a ordem e isso demanda tempo. Os alunos alegam que não conseguem se concentrar nas aulas e por isso não podem entender e se apropriar dos conhecimentos.
	Como afirma Fernández (2005, p.64):
Os alunos esperam que os professores mantenham a ordem, os ensinem, sejam capazes de agüentar suas provocações, tornando-se merecedores de seu respeito e afeto. Essa tarefa evidentemente em certas ocasiões esgota o professor. O primeiro passo para superar esse problema é dar-se conta de que a perfeição é impossível e que os conflitos são parte integrante da profissão. (FERNÁNDEZ, 2005, p.64)
No bojo dessas situações surge o papel do pedagogo, não como salvador, nem como aquele que tem todas as respostas e soluções para os problemas. Da mesma forma que não se pode cobrar dos professores que resolvam essas situações conflituosas e consiga cumprir seu papel formador, também não é possível esperar que o pedagogo apenas, possa resolver e mudar e todo esse cenário. Mas o pedagogo é aquele que irá mediar todo esse processo, envolvendo a família e outros segmentos da sociedade, se necessário.
Vygotsky chama a atenção para o importante papel mediador exercido por outras pessoas nos processos de formação dos conhecimentos, habilidades de raciocínio e procedimentos comportamentais de cada sujeito. (AQUINO, 1996, p. 94),
o pedagogo deverá ter um olhar atento a todas essas necessidades e agir sobre elas.
 É função do pedagogo “Identificar necessidades de formação dos docentes e promover ações de desenvolvimento profissional por meio de reuniões, encontros de estudo e de aprimoramento profissional. (LIBÂNEO, 2004, p. 272)
Da ação do Pedagogo depende a organização do trabalho pedagógico, pois à medida que o Pedagogo emprega esforços na construção coletiva de propostas, estará contribuindo para a efetivação dos objetivos educacionais. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final da produção deste artigo foi possível perceber que a indisciplina na escola tem se mostrado um fenômeno bastante complexo a ser estudado e debatido.
Estabeleceu-se em primeiro lugar que os conceitos de disciplina e indisciplina estão intrinsecamente ligados às visões e necessidades de cada época da sociedade. Percebeu-se também que a indisciplina não é um fenômeno recente, mas que tem estado presente nas escolas já há bastante tempo.
Como forma de conseguir pensar esse fenômeno como um todo, enumerou-se alguns possíveis fatores como forma de justificar o surgimento dessa indisciplina, seja por influência do meio, da família ou da própria escola, salientando e mostrando os prejuízos causados pela indisciplina para o processo de ensino e aprendizagem.
Por fim, delineou-se o papel do pedagogo frente a esses desafios, no universo escolar, papel de mediador do processo educativo, facilitador do trabalho e das abordagens pedagógicas a serem aplicadas e ponte entre alunos-professores-família. 
REFERÊNCIAS
AQUINO, J. G. Confrontos na sala de aula: uma leitura institucional da relação professor-aluno. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1996.
CEGALLA, D. P. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
CURY, A. Nunca desista de seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2007
ESTRELA, M. T. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. 3. ed. Porto: LDA, 1992.
FERNÁNDEZ, I. Prevenção da violência e solução de conflitos: O clima escolar como fator de qualidade. São Paulo: Madras, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
GARCIA, J. Notas sobre o conceito de disciplina. In: Seminário Indisciplina na Educação Contemporânea, II, 2006, Curitiba. Anais. Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná, 2006, p. 69-80. 
HOUAISS, A. Minidicionário da Língua Portuguesa. Editora Moderna. Instituto Antônio Houaiss. São Paulo. 2004.
INDISCIPLINA. In: DICIO, Dicionário Informal Online. Disponível em: < https://www.dicionarioinformal.com.br/indisciplina/>. Acesso em: 03/05/2022
LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ª ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
OLIVEIRA, M. E. Indisciplina escolar: determinações, consequências e ações. Brasília: Liber livro, 2005.
PARRAT-DAYAN, S. Como enfrentar a indisciplina na escola. Trad. Silvia Beatriz Adoue e Augusto Juncal – São Paulo: Contexto, 2008. 
PARRAT-DAYAN, S. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto, 2011.
SAMPAIO, D. Indisciplina: Um signo geracional?. Lisboa: Editorial Caminho. 1997. 
SILVA, G. M. R. (In) Disciplina: percepções da indisciplina e o lidar com ela no cotidiano escolar. Governador Valadares (MG): FACE/UNIVALE, 2004, 32 p. (Monografia Graduação em Normal Superior).
SILVA, A. B. B. Bullying: mentes perigosasnas escolas. Rios de Janeiro: Objetiva, 2010. 
SILVA, N. P. Ética, Indisciplina e violência nas escolas. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012.
TIBA, I. Disciplina, o limite na medida certa. 8. ed. São Paulo: Gente, 1996.
TIBA, I. Quem ama, educa. 5. ed., São Paulo: Gente, 2002.

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