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Prévia do material em texto

Montes Claros/MG - 2015
Ângela de Santana Rocha Correia
Maria Socorro Isidório
Textos Sagrados: 
Alcorão
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Antônio Alvimar Souza 
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Jânio Marques Dias
EDITORA UNIMONTES
Conselho Consultivo
Antônio Alvimar Souza
César Henrique de Queiroz Porto
Duarte Nuno Pessoa Vieira
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal
Hercílio Mertelli Júnior
Humberto Guido
José Geraldo de Freitas Drumond
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite
Manuel Sarmento
Maria Geralda Almeida
Rita de Cássia Silva Dionísio
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho
Siomara Aparecida Silva
CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
Maria Nadurce da Silva
Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
Zilmar Santos Cardoso
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Waneuza Soares Eulálio
REVISÃO TÉCNICA
Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
Káthia Silva Gomes
Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Sanzio Mendonça Henriques
Wendell Brito Mineiro
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Camila Pereira Guimarães
Joeli Teixeira Antunes
Magda Lima de Oliveira
Zilmar Santos Cardoso
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Alex Fabiano Correia Jardim
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Anete Marília Pereira
Chefe do Departamento de História/Unimontes
Claudia de Jesus Maia
Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares
Cléa Márcia Pereira Câmara
Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto
Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
Carlos Caixeta de Queiroz
Ministro da Educação
Cid Gomes
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
Jean Marc Georges Mutzig
Governador do Estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel 
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Vicente Gamarano
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
vice-Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Antônio Alvimar Souza 
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício Rodrigues Neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Ângela de Santana Rocha Correia
Especialista em Metodologia do Ensino Religioso pela Universidade Internacional do 
Paraná (UNINTER) e graduada em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de 
Montes Claros - Unimontes. Atua como docente formadora no curso de Ciências da 
Religião pelo projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB) na Universidade Estadual 
de Montes Claros.
Maria Socorro Isidório
Possui graduação e especialização em Filosofia pela Universidade Estadual de Montes 
Claros - Unimontes. Mestrado em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo - PUC-SP. É professora na Universidade Estadual de Montes 
Claros – Unimontes, do curso de Ciências da Religião.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Corão: Aspectos Históricos, Antropológicos e Místicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 O Contexto Histórico-Antropológico do Corão: Raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.3 Aspectos Místicos do Corão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Corão- O “Livro de Allah” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.2 Em Nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Mohamed: o Profeta de Allah . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4 O Livro Descido do Céu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5 A Estrutura do Corão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Exploração do Conteúdo Corânico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
3.2 A Mensagem Corânica: Principais Crenças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
3.3 As Diretrizes para a Prática Muçulmana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4 Desafios à Hermenêutica do Corão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.5 Novas Tendências Hermenêuticas no Islam Contemporâneo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
O Lugar do Corão no Mundo Muçulmano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4.1Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
4.2 O Corão como Fundamento de uma Nova Ordem Religiosa, Política e Social . . . . . 44
4.3 Escolas Jurídicas: Diferentes Pontos de Vista Acerca do Corão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.4 O Corão e o Conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.5 O Corão na Vida Cotidiana dos Muçulmanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Atividades de Aprendizagem- AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
9
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
Apresentação
Caro (a) acadêmico (a), neste caderno didático apresentaremos a você o Alcorão, ou Corão, 
livro sagrado do Islam. Vamos tratar da origem histórica e das crenças que fazem deste livro o 
fundamento do ethos mulçumano e espinha dorsal da mais jovem das grandes religiões mono-
teístas, a qual também figura no rol das religiões mundiais. Para tal, primeiramente trataremos 
dos aspectos históricos, antropológicos e místicos do Corão e, em seguida, abordaremos a cren-
ça na origem divinal do livro, bem como aspectos exegéticos e hermenêuticos concernentes ao 
texto corânico. Por fim, perscrutaremos os rastros do Corão no mundo mulçumano. Desejamos-
lhe bom estudo!
11
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
UNIDADE 1
Corão: Aspectos Históricos, 
Antropológicos e Místicos
Maria Socorro Isidório
1.1 Introdução
Prezado (a) acadêmico(a), a partir desta unidade, vamos realizar uma instigante caminhada 
na trajetória de um povo que ergueu uma religião praticamente a partir de um livro considerado 
sagrado, que expressa o seu ideal coletivo e se constitui não só um patrimônio cultural e espiri-
tual, como também uma estrela - guia existencial. Entendemos que para conhecer e compreen-
der uma escrita religiosa é importante voltarmos para as suas raízes geográficas, históricas e an-
tropológicas, isto é, o seu povo e o movimento histórico-cultural que a originou.
Você já se deparou com disciplinas sobre textos sagrados de outras religiões e construiu 
com elas uma compreensão conceitual sobre o que é um texto sagrado, como é realizada a sua 
escrita e qual a sua importância para a vida do homem religioso. Nesse sentido, nestas linhas não 
pretendemos revisar o que já foi exposto anteriormente, mas colocar um tapete na porta de en-
trada do Corão para não pisarmos diretamente em seu chão, sem termos, pelo menos, caminha-
do pela sua estrada histórica. 
◄ Figura 1: O Corão.
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/5kAVJ4>. 
Acesso em 20 ago. 2014.
12
UAB/Unimontes - 4º Período
Você já aprendeu que um texto sagrado é uma trama tecida coletivamente, que dispõe so-
bre povos, espelhando o seu ethos e a sua cosmovisão. Suas utopias também estão lá, encrusta-
das nas entrelinhas das doutrinas de um livro que vai se revelando a partir de um frondoso pano 
de fundo histórico-cultural que mostra as dimensões que compõem uma escrita considerada sa-
grada pelo homem. Como uma colcha de retalhos, um livro sagrado é composto de fragmentos 
míticos, místicos, históricos, antropológicos, culturais, teológicos, ideológicos, simbólicos e ou-
tros, que é costurada coletivamente com linhas da oralidade, da tradição e da cultura de cada 
povo. Dessa base, intuímos que, ao “se revelar” para leitores e não adeptos da religião, um livro 
sagrado revela o seu povo e o seu ser. Vamos conhecer então o Corão e o seu povo? 
Caro(a) acadêmico(a), como nesta unidade vamos nos debruçar sobre o arvorar do Corão e 
a dialética de sua elaboração, até chegar ao status de texto sagrado, convido-o para começar por 
este Box, que discorrerá brevemente sobre o percurso de um livro sagrado em geral. Começamos 
perguntando: como uma tradição cultural expressa uma experiência religiosa fundante? De que 
forma ela é acatada, reproduzida, registrada e canonizada até se cristalizar um “Livro Sagrado”? 
Vamos ver estas etapas aqui de forma breve, mas esclarecedora, pelas palavras de José Severino 
Croatto, ilustre estudioso das religiões e teólogo da Libertação. 
BOX 1
EXPRESSÃO DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA: DO MITO À DOUTRINA RELIGIOSA
De acordo com Croatto, o processo de elaboração de um livro sagrado acontece em vá-
rias etapas e de forma coletiva, num espaço cultural que lhe dá o tom, a textura, o corpo e a 
“voz”. Vejamos isso.
DO MITO À DOUTRINA- um ciclo de mitos já constitui uma cosmovisão, isto é, uma ma-
neira de compreender a realidade global (o divino, o mundo e o ser humano), que se carac-
teriza por uma coerência interna no pensamento refletida na práxis ritual e social (leis, cos-
tumes, tradições). Daí a tendência das religiões recolherem os seus “textos” em um corpus de 
escrituras sagradas. Estas são produzidas em um longo processo criativo até se cristalizarem 
em um cânon. Seu conteúdo é interpretado como revelação, o que lhe dá um valor fontal 
específico. Uma forma de reforçar este valor é atribuir sua recepção e transmissão a um me-
diador (um profeta, um sábio, um xamã). Mais adiante, a revelação é reproduzida, explicada, 
aprofundada, sistematizada: já estamos na fase da doutrina.
A DOUTRINA: uma vez feita (a reprodução pela) tradição, oral ou escrita, a revelação pas-
sa a constituir uma doutrina normativa das ideias, dos ritos e da práxis, segundo o modelo da 
religião. Onde não prevalecem os ritos, a ênfase é posta nas ideias (teologia) ou nas práticas 
(ética), mas os ritos também estão ligados aos outros dois aspectos mencionados.
O CÃNON: [Cânone é um termo que deriva do grego “kanón”, utilizado para designar 
uma vara que servia de referência como unidade de medida; com o passar do tempo, o ter-
mo adquiriu o significado geral de regra, preceito ou norma; no contexto da religião, cânone 
conjunto de livros considerados de inspiração divina [IN, http://www.significados.com.br/ca-
none/]. 
A formação do cânon é um recurso significativo, pois implica o fechamento no conteúdo 
dos textos transmitidos. Após a constituição do cânon, acontece o processo de sua “sacraliza-
ção” e elevação (status) à palavra sagrada. Uma vez aceito e consolidado, seu conteúdo assu-
me o valor de doutrina, ou seja, do que se impõe à crença e à prática. Doutrina vem de doceo, 
que significa “ensinar” e não está muito longe de dogma, que significa o que “se pensa,/acredi-
ta/aparece como verdadeiro”.
DA DOUTRINA À ÉTICA: toda experiência religiosa está ligada à vida ativa, como um 
conjunto de práticas sociais dentro de um grupo definido. Por sua vez, essas práticas são o 
espelho da doutrina contida no “Livro Sagrado” ou no ciclo de mitos. Eles ”interpretam” as rea-
lidades significativas, mas, ao mesmo tempo, instituem modelos de comportamento, tanto no 
rito como na práxis. 
Esta é a dialética da feitura de um livro sagrado por sujeitos religiosos em seus contextos 
históricos, apresentada por Croatto. Esperamos que colabore com o seu entendimento do Al-
corão.
Fonte: CROATTO, José Joaquim. As Linguagens da Experiência Religiosa: uma introdução à fenomenologia da 
religião. Tradução de Carlos Maria Vásquez Gutiérrez. São Paulo: Paulinas, 2001.
DICA
A palavra Alcorão deriva 
de Qur’an, de onde se 
tem o nome “Corão”, 
que significa “leitura 
por excelência”, ou 
“recitação”. O prefixo 
“Al” traduz-se como “o”. 
Portanto, entende-se o 
nome Alcorão como “a 
leitura”;“a recitação”. A 
fim de evitar a redun-
dância quanto ao artigo 
definido “o”, optamos, 
neste caderno didático, 
pela nomenclatura 
“Corão”.
13
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
1.2 O Contexto Histórico-
Antropológico do Corão: Raízes
Perscrutar o Corão a partir do seu contexto histórico e antropológico é verificar que o pro-
cesso de escrita e cristalização de um texto religioso se ergue de um lugar que mostra não só 
a sua disposição geográfica como também conceitual, uma vez que ele é engendrado por uma 
diversidade de fatores objetivos e subjetivos, que revelam um mundo marcado por diversas ex-
periências, entre muitas, a religiosa.
Sobre a diversidade de fontes e ângulos de estudo, de análise e interpretação de textos sa-
grados, Paden (2001) intui que o contexto é uma base silenciosa (uma “testemunha” silenciosa, 
mas, de certa forma, “fundante”), mas essencial para vislumbrarmos as nuances, as teias e a tece-
dura de uma religião ou um texto sagrado, pois:
O contexto de algo é a rede inter-relacionada de condições nas quais esse algo 
existe. O termo tem até o signifi cado etimológico de “tecido junto” [com, “junto 
com” + texere, “tecer”]. O contexto do que alguém diz sobre religião é usualmente 
uma rede tácita, oculta, de suposições circundantes. Em um certo sentido, o con-
texto é o não dito, embora esteja implícito (PADEN, 2001, p. 193).
Ora, religião é algo que está espalhado nas contexturas dos lugares (é o lugar que cria o 
contexto), experienciada e manifestada de várias formas, imagens e linguagens, ela se encontra 
nos guetos, nas feiras livres, nas prisões, nos lugares abandonados e “sem saídas”, nos íntimos al-
tares caseiros; religião é um aspecto da vida humana não (exclusivamente) situado, mas circuns-
tancial, por isso a importância do contexto como fonte. 
O contexto histórico do Corão remonta ao século VI da era atual (E.A.). O lugar é uma pe-
nínsula (Península Arábica) situada em um ponto de confluência de três grandes continentes: 
asiático, africano e europeu. Nesta época, politicamente, a região era desestabilizada por causa 
de ocupações estrangeiras e falta de unidade política. A Arábia Oriental era solo de outros po-
vos e de caos social. A Arábia do Norte se encontrava sobre domínio bizantino. Apenas a Arábia 
Central, berço do Islam, se encontrava estabilizada por causa da interdependência fortalecedora 
entre três cidades: Makka, Ta1if e Madina. Tais cidades serão a base de referência do Alcorão (PE-
TERS, 2007).
De acordo com Hourani (2001), antes do Islam, a península Arábica era um lugar desafiador, 
composta em sua maior parte de extenso deserto. Os seus habitantes falavam dialetos diversos 
e cultivavam estilos de vida diversificados. As ocupações variavam entre a criação nômade de 
animais como camelos, carneiros, cabras - os seus criadores eram conhecidos como beduínos -, 
a agricultura, o comércio, o artesanato em pequenas feiras, meios de vida. Alguns eram bem-su-
cedidos na agricultura, pelo fato de cultivarem em oásis. O lugar impunha criatividade e força 
comunitária, bases antigas de laços, coesão e de sobrevivência. 
◄ Figura 2: Àrabe 
comerciante.
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/TG4LBi>. 
Acesso em 20 ago. 2014
14
UAB/Unimontes - 4º Período
Na instância político-social, não havia equidade entre nômades e sedentários, pois os mer-
cadores nômades (que eram minorias), mais arrojados no enfrentamento da vida, se impunham 
aos lavradores e artesãos. Ainda, o poder de coesão era conduzido por poderosos chefes de fa-
mílias, que atraiam inúmeros agregados e submetiam sua lealdade (e gratidão) através do respei-
to à ancestralidade e idioma, sustentáculo cultural desse povo. 
Essa ordenação fundamentou então um ethos e uma ética árabe sustentados na “coragem, 
hospitalidade, lealdade à família e orgulho dos ancestrais” (HOURANI, 2001 p. 26); vemos aí que 
a tribo se afigurava mais importante do que o indivíduo, por isso vinha em primeiro lugar, espe-
lhando a importância da coesão, da tradição e da força coletiva para a sobrevivência. Isso gerou 
um senso de responsabilidade pelos mais pobres e vulneráveis, impondo-lhes um compromisso 
ético.
Cada família ou grupo social se organizava em tribos mais ou menos autônomas, a partir 
de um domínio territorial (um oásis) que lhes dava poderes frente aos nômades e outros grupos, 
pois tinham em mãos o controle territorial dos arrabaldes dos oásis para a exploração comercial, 
como os burgos da Idade Média. Além deste fundamento familiar, a religião também era fulcro 
de poder. Ante um frondoso politeísmo vivido de forma dispersa, na época, foi direcionado um 
local específico para cultos religiosos gerais, que ficavam sob a ordenação de uma família, dan-
do-lhe prestígio e poder perante inúmeras tribos e comerciantes, conforme retrata Hourani:
Sugeriu-se, com base em práticas modernas, no sul da Arábia, que eles acha-
vam que os deuses habitavam um santuário, um haram (que signifi ca inviolável) 
um lugar ou aldeia separados do confl ito tribal, que funcionava como centro de 
peregrinação, sacrifício, encontro e arbitragem, e era supervisionado por uma 
família sob a proteção de uma tribo vizinha (HOURANI, 2001, p. 27).
Neste templo democrático, várias divindades convivam lado a lado sem grandes constrangi-
mentos. Allah estava por lá também, mas não como deus único e nem superior aos demais. Pou-
co a pouco, o lugar vai tomando dimensões maiores, de acordo com as peregrinações (era lá que 
se encontrava a sagrada pedra preta, Caaba) e um frondoso comércio começa a gravitar ao seu 
redor, levando riqueza, desenvolvimento e prestígio ao lugar. O seu avanço é inevitável.
Figura 3: Caaba.
Fonte: Disponível em 
<http://www.colegioweb.
com.br/wp-content/uplo-
ads/20601.jpg>. Acesso 
em 3 dez. 2014.

15
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
Ainda sobre essa religiosidade árabe pré-islâmica, Antes (2003) pondera que, ao avaliar 
o advento de Mohamed (Maomé), profeta do Islam, e do Corão, os teólogos islâmicos sempre 
mostraram este período como um tempo de ignorância (jahiliyyah). No entanto, este autor afir-
ma que, na época, havia muitos judeus e cristãos vivendo na Arábia Saudita (judeus: duas tribos 
se localizavam em Medina) e ambos discutiam com o árabe ideias monoteístas, politeístas, etc., 
ou seja, havia uma efervescência intelectual sobre religião na época. Ainda, refletindo sobre re-
ligiosidade e religião, o árabe só não se converteu ao judaísmo ou ao cristianismo por orgulho 
nacionalista e não por falta de conhecimento “teológico”, digamos assim. Eles ensejavam um mo-
noteísmo árabe.
Neste cenário de circulação de ideias e de transformações materiais e conceituais, Moha-
med se depara com mudanças viscerais no ethos árabe por causa de um ascendente mercanti-
lismo aliado a influências externas advindas do império Persa Sassânida que, em confrontos ex-
pansionistas, dominou cidades da Arábia e região, entre elas, a importante cidade de Jerusalém, 
revolvendo o chão cultural do povo através de novos conhecimentos que atravessam o ethos e a 
ética do árabe, como podemos ver na reveladora escrita de Hourani:
Por todo o Oriente Próximo, muita coisa estava mudando no século VI e início do 
século VII. Os impérios Bizantino e Sassânida empenhavam-se em longas guer-
ras. (...) Por algum tempo, o domínio Sassânida ampliou-se até o sudoeste da 
Arábia, onde o Reino do Iêmen perdera muito do seu antigo poder devido às in-
vasões da Etiópia e a um declínio da agricultura. As sociedades organizadas, go-
vernadas pelos impérios, fervilhavam de interrogações sobre o sentido da vida e 
◄ Figura 4: Meca antiga. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/zqUvJ0>. 
Acesso em 21 out. 2014.
◄ Figura 5: Cidade de 
Meca nos dias atuais, 
século XXI da E.A. No 
centro a Kaaba. 
Fonte: Disponível em 
<http://www.imagenesre-ligiosas.info/wp-content/
uploads/2013/03/LA-ME-
CA-ARABIA-SAUDI.jpg>. 
Acesso em 21 out. 2014.
16
UAB/Unimontes - 4º Período
a maneira correta de vivê-la, expressa nos idiomas das grandes religiões. O poder 
e influência dos impérios afetaram parte da península Arábica, e por muitos anos 
os pastores árabes nômades do norte e do centro da península vinham-se mu-
dando para o campo da área hoje chamada de Crescente Fértil: o interior da Síria 
(...) no baixo Iraque e aquela entre o Eufrates e o Tigre, a Jazira, eram a população 
em grande parte árabe. Eles trouxeram consigo o seu ethos e suas formas de 
organização social. Alguns de seus chefes tribais exerciam a liderança com base 
em aldeias novas nos oásis e eram usadas pelos governos imperiais para manter 
outros nômades longe das terras ocupadas e para recolher impostos (...). O povo 
destes estados [dominados] adquiriu conhecimento político e militar, e abriu-se 
a ideias e crenças vindas das terras imperiais. Por via destes estados [Hira, etc], 
do Iêmen e também dos mercadores que trafegavam pelas rotas comerciais, co-
meçou a entrar na Arábia um certo conhecimento do mundo externo e de sua 
cultura (...) (HOURANI, 2001, p. 27).
Tais influências provocaram um progressivo desmantelamento das tribos e consequentes 
rachaduras no chão da coesão social. A economia mercantil promove riquezas individuais, revol-
vendo o ego dos novos ricos, que passam a cultivar sementes de individualismo, sede de rique-
za, uma religiosidade individualista, descaso com os pobres, desprezo aos laços consanguíneos 
e aos preceitos religiosos. Novas “comunidades de interesse” se arvoram lançando sombras no 
antigo humanismo árabe tribal. Economicamente, o lugar passa a ser composto de uma classe 
de novos- ricos; fronteiras caem ampliando a força de uma nova ordem política de um grupo 
dominante composto pelos árabes da Arábia Saudita, principalmente de Meca. Mas, na dimen-
são religiosa, eles ainda não haviam alcançado o status que judeus e cristãos tinham no lugar, 
ou seja, parecia que faltava algo neste “novo mundo” de abundância material. Mohamed lhes 
ofertaria esse “algo” com a sua “revelação” e o seu talento para política. Nas palavras de Hourani, 
Mohamed se ergue em “um mundo à espera de um guia, e [como] um homem em busca de uma 
vocação” (HOURANI, 1991, p.33). Vejamos como.
Armstrong (2008) ressalta que é neste contexto e época que a tradição e historiografia ára-
be dão destaque a um homem nascido em Meca, que teria fundado o Islam a partir de uma “re-
velação divina”: Abū al-Qāsim Muḥammad ibn ʿAbd Allāh ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim _ 
mais tarde seria chamado de Muhammad, de onde deriva a grafia Mohamed, nome que significa 
“o altamente estimado; o louvado” _ e, a partir daí, paulatinamente, teria unido todas as tribos da 
Arábia em uma comunidade identitária, mostrando a sua força política. 
Como já colocado, o árabe do século VI era politeísta, mas Allah era uma divindade reve-
renciada por Mohamed e por muitos árabes que a identificavam com o deus do judaísmo e do 
cristianismo. Além disso, acreditavam que somente um profeta “de um único deus” resolveria os 
problemas de seu povo. Mohamed surge, então, como o profeta do ideado deus e com uma “re-
velação” para a religião dos árabes. Frente a isso, interrogamos: como o Corão teria colaborado 
com a fundação de uma nova religião? E como se deu a sua “revelação”? 
De acordo com a tradição árabe (mulçumana) e a sua teologia e historiografia, o Corão teria 
sido revelado no séc. VI da era atual a Mohamed. Este teria recebido a “revelação” enquanto se 
encontrava em uma caverna meditando, como você verá na unidade II. Tal fenômeno acontece-
ria progressivamente em várias etapas e, a partir deste acontecimento, paulatinamente, Moha-
med e seus seguidores vão reproduzindo as palavras reveladas pela oralidade e a memorização, 
pois, naquele tempo, a maioria dos árabes não sabia ler e nem escrever, como eles.
Frente à nova força política, Mohamed se estabelece reforçando laços e cimentando nova-
mente o chão do ethos árabe, para que o Corão pudesse deitar raízes e aprofundá-las. E ele tinha 
neste chão e em suas artérias um trunfo, pois:
Antes do fim do século VII, esse grupo governante árabe identificava sua nova 
ordem com uma revelação dada por Deus a Maomé, um cidadão de Meca, sob 
a forma de um livro santo, o Corão: uma revelação que completava aquelas que 
haviam sido anteriormente feitas a profetas ou mensageiros de Deus, e criava 
uma nova religião: o islã, distinto do judaísmo e do cristianismo (HOURANI, 2001, 
p. 32).
Paulatinamente vai se formando em torno de Mohamed um grupo de seguidores, filhos de 
ricos e outras castas, fortalecendo o religioso e o político, que irradia o seu poder por toda a Ará-
bia (e para além de suas terras), a partir de um livro, cuja confecção delonga tempo para ser con-
cluído, tomando a forma definitiva de um livro sagrado, imortalizando o profeta e tornando-o 
um homem altamente estimado pelo povo árabe (você lerá mais sobre o processo de confecção 
e canonização do Corão na unidade III).
17
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
O Corão realmente promoveu impacto expressivo na vida do árabe, principalmente em um 
tempo em que as coisas pareciam estar saindo dos trilhos. Com muita força de vontade, trabalho 
de coesão, de união e enfrentamento de forças internas, Mohamed trava uma batalha em toda 
a Arábia para restituir o antigo espírito tribal árabe que mostrava a face do seu ethos, e para ins-
tituir o Islam, convencendo o povo de que aquela era uma religião genuinamente árabe. O seu 
poder de retórica o ajudaria muito, conforme podemos constatar em uma última fala em Meca, 
no ano de sua morte:
Sabei que todo muçulmano é irmão do outro, e que os mulçumanos são irmãos; 
devia-se evitar a luta entre eles, e o sangue vertido em tempos pagãos não devia 
ser vingado; os mulçumanos deviam combater todos os homens, até que disses-
sem: “Só há um Deus” (HOURANI, 2001, p. 36.). 
De acordo com Hourani (2001), muito do que foi publicado sobre Mohamed, pode ter sido 
idealmente revisionado pela historiografia e teologia árabe-islâmica, numa tentativa de enqua-
drá-lo em um protótipo de homem santo, ético, nobre, etc. O Corão também suscita dúvidas 
quanto à originalidade do seu conteúdo: espelharia mesmo fatos do século VII? O que foi acres-
centado e extraído? É preciso cautela com um texto que levou anos para ser escrito, pois há ver-
sões na historiografia de que, no correr dos tempos (provavelmente 20 anos até ser publicado), 
algumas seitas muçulmanas acusaram outras de inserirem fatos não transmitidos por Mohamed. 
Estudiosos críticos do texto detectaram em seu corpo doutrinas de outras expressões religiosas, 
como do judaísmo e cristianismo; histórias não lineares, revelando que um processo de canoni-
zação é complexo, ainda mais envolvendo longo tempo e dissidências. Retomaremos estes ques-
tionamentos na unidade III. 
Para além dos prováveis rearranjos que foram feitos na escrita, pensamos que a escrita de 
um livro religioso, a história desse livro, que é a história da luta de um homem intuitivo, político, 
engajado com o seu povo e lugar, ambicioso, que instituiu uma religião numa época de forte 
jogo de poder, e que soube entrar no jogo é um trabalho vigoroso de um tempo e de um povo. 
1.3 Aspectos Místicos do Corão
Para o muçulmano, o Corão não somente é fonte absoluta da lei e da tradição islâmica, 
como também de profundo conhecimento de como Deus criou o homem e como o homem 
pode retornar a ‘Ele’, ideia e prática que fazem parte do universo místico.
DICA
Você pode detalhar os 
processos históricos 
deste período histórico 
no seu Caderno Didá-
tico “Cosmovisão das 
Religiões Islamismo”. 
Aprofunde os estudos 
para ampliar seu conhe-
cimento e compreensão 
do tema. Lembre-se: A 
leituraé imprescindível 
para uma formação pro-
fissional de qualidade. 
Aposte nisso!
◄ Figura 06: Sufismo 
Islâmico. 
Fonte: Disponível em 
<http://3.bp.blogspot.
com>. Acesso em 21 out. 
2014.
18
UAB/Unimontes - 4º Período
O misticismo é uma corrente de pensamento alimentada por experiências voltadas para um 
desejo de desprendimento mundano e desenvolvimento de um estado de purificação e ilumi-
nação espiritual, de sabedoria plena, de sentimento ou estado de unidade e unicidade divina 
ou cósmica. Beto e Boff (2008) informam que a palavra mística é adjetivo de mistério, do gre-
go múien, que significa perceber o caráter escondido, não comunicado de uma realidade ou de 
uma intenção. Essa experiência não possui um caráter teórico, mas experiencial em que a pessoa 
pode conceber uma “revelação” ou “iluminação” ou simplesmente uma supressão temporária do 
seu ego, através de técnicas de desprendimento espiritual, por meio de meditação, danças, man-
tras, gestos, etc.
No Islam, o termo corrente para este tipo de experiência é tasawwuf, que significa, no oci-
dente, misticismo; mas a historiografia apresenta o termo sufismo, para a mística islâmica, em 
referência às túnicas de lã (suf) usadas por antigos místicos. 
De acordo com Hourani (2001), o misticismo islâmico extraiu sua inspiração do Corão atra-
vés da prática de uma leitura reflexiva e meditativa, pois o mulçumano místico acredita que 
“um fiel meditando sobre o seu significado pode ter sido invadido por um senso de esmagado-
ra transcendência de Deus e da total dependência de todas as criaturas para com Ele” (HOURA-
NI, 2001, p.87). Vemos nessa asserção a percepção de algo extraordinário, que causa espanto na 
pessoa diante de algo sublime (pode ser um deus, uma força cósmica, etc.); Otto (2007) diz que 
é uma experiência tremenda e fascinante, que causa um arrepio espiritual e pode despertar no 
crente uma sensação de pertencimento universal, oceânico (o ego se retrai). 
O Islam, desde o seu início, já mostrava e impunha uma conduta ideal de oração e medita-
ção sobre o sentido do Corão, pois, para o muçulmano, ler este livro é ascender às palavras de 
Allah, é uma tarefa que exige desprendimento e entrega, conforme pontua Hourani:
Desde cedo na história do Islã, parece terem-se iniciado dois processos, estrei-
tamente interligados. Houve um movimento de religiosidade, de prece, visando 
pureza de intenção e renúncia a motivos egoístas e prazeres mundanos, e um 
outro de meditação sobre o sentido do Corão (...) (HOURANI, 2001, p. 88).
Os aspectos religiosidade, meditação e compenetração são percebidos no início da institui-
ção do Islam, quando Mohamed exigia dos árabes rigor religioso (ritualístico), e espelham pen-
samento e ação moral para a vida prática, conduta esperada pelo adepto desta religião. Outro 
aspecto que pode ter influenciado a forma deste misticismo também pode ser capturado nas 
‘origens’ do Islam, em que novos convertidos traziam suas práticas místicas para o seio da reli-
gião, em um ambiente plural, composto de cristãos e judeus; vemos aí um espaço (e uma religião 
nascente) aberto para sincretismos. Ideias do monasticismo cristão de desprendimento do mun-
do material, mortificação da carne e purificação do coração e reconhecimento sensível de deus 
podem ter se entrecruzado com o jihad islâmico, gerando uma mística islâmica.
Vemos no misticismo islâmico a noção de pecado e de temor ante um destino pós-morte, 
além do amor incondicional a Allah, como um fundo (essencial) que impulsiona à prática da as-
cese. E o Islam explorou estes aspectos em seu início, através de escritos teológicos de religiosos 
que buscavam consolidar os esforços de Mohamed na instituição de condutas e práticas, sobre-
tudo os de vertente sunita (veja a respeito dos sunitas no subitem na unidade IV). Vejamos algo 
sobre isso no excerto abaixo:
Foi no terceiro século islâmico (mais ou menos século IX d.C.) que o caminho 
para o conhecimento de Deus, e da natureza desse conhecimento, foi pela pri-
meira vez expresso de forma sistemática. Nos escritos de al-Muhasibi (m. 857), 
descrevia-se o estilo de vida daquele que buscava o verdadeiro conhecimento, e 
nos de al- Junayd (m. 910) analisava-se a natureza da experiência que estava no 
fim do caminho. No fim da estrada o crente verdadeiramente sincero pode ver-se 
diante de Deus (...) de tal modo que os atributos de Deus substituem os seus, e 
sua existência individual desaparece: mas só por um momento. Depois, ele volta 
a sua própria existência e ao mundo, mas trazendo consigo a lembrança desse 
momento, da proximidade de Deus e também da sua transcendência (HOURANI, 
2001, p. 89).
Os autores eram sunitas e preocupavam-se com o senso de que o mulçumano místico deve-
ria despertar sobre o poder de Deus e a incursão na vida destes. A postura dos religiosos incidia 
em que se abrisse totalmente o coração e vida, numa entrega profunda e sincera a este poder. 
Outros sunitas escreveram sobre a conduta e descreveram sobre a condição a que o sujeito reli-
ATIvIDADE
Analise criticamente a 
relação entre o contexto 
sócio-histórico e o 
surgimento do Corão 
e discuta com seus 
colegas no fórum da 
unidade.
19
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
gioso pode chegar com a prática mística, sempre buscando ressaltar a força da inspiração divina 
que emana do Corão, referência-fonte por excelência desse tipo de experiência. 
Na próxima unidade, trataremos mais detidamente da crença na autoria divina do Corão, 
principal motor da religião muçulmana.
Referências 
ANTES, Peter. O Islã e a Política. Tradução Frank Usarski. São Paulo: Paulinas. 2003.
ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, islamismo e 
Cristianismo. Tradução Marcos Santarrita. Revisão da tradução Hildegard Feist. São Paulo: Com-
panhia das Letras. 2008.
BETO, Frei, BOFF, Leonardo. Mística e Espiritualidade. 6. ed. Rio de Janeiro: Garamond. 2008.
CROATTO, José Joaquim. As linguagens da Experiência Religiosa: uma introdução à fenome-
nologia da religião. Tradução de Carlos Maria Vásquez Gutiérrez. São Paulo: Paulinas. 2001.
HOURANI, A. Uma História dos povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras. 2001.
OTTO, Rudolf. O Sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racio-
nal. Tradução: Walter O. Shluupp. São Leopoldo: Sinodal/EST; Petrópolis; Vozes. 2007.
PETERS, F. E. Os Monoteístas. Vol. I. São Paulo: Contexto. 2007.
21
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
UNIDADE 2
Corão- O “Livro de Allah”
Ângela de Santana Rocha Correia
2.1 Introdução
Iniciemos esta unidade com o trecho corânico, que servirá de ponto de partida para a nos-
sa discussão, pois fornece elementos chave para compreendermos o Corão naquilo que este li-
vro representa para o muçulmano. Após abordar o contexto histórico do Corão, vamos tratar da 
crença básica do Islam, que consiste na certeza da origem divina por excelência do conteúdo de 
seu livro sagrado.
“Com a verdade, enviamos o Alcorão, com a verdade, ele desceu. E Nós só te mandamos 
para divulgar as boas novas e advertir” (ALCORÃO, 17:105).
No trecho mencionado, a voz que fala é atribuída a Allah, o Deus único para o Islam, assim 
como o é para judeus e cristãos. O interlocutor é o profeta, Mohamed, para os mulçumanos o úl-
timo profeta, selo da revelação divina. O que desceu um livro celestial, o qual se crê o registro da 
palavra e da sabedoria de Deus. O mensageiro, encarregado de transmitir o livro ao profeta, é um 
anjo, Gabriel, o mesmo da cosmovisão judaica e cristã - aquele que teria falado aos profetas de 
Israel e anunciado à Maria sua concepção virginal. Os destinatários, toda a humanidade, chama-
da à fé e à obediência a Allah, mediante a observância de seus preceitos, expressos no Corão. Te-
mos aqui os elementos necessários parapenetrar na constelação de crenças, ordens, exortações, 
narrativas e tanto mais que poderíamos mencionar sobre o universo corânico, abordagem que 
nos permitirá compreender mais de perto a força com que a mensagem corânica incidiu e incide 
sobre o mundo muçulmano e o respeito devotado a este livro pelos adeptos do Islam. 
Para isso, em um primeiro momento, apresentaremos o ponto de vista da religião sobre a 
origem de seu livro sagrado, a fim de entrever o mistério que, para o muçulmano, perpassa cada 
página da escritura, impregna cada momento da história do Islam e acompanha a trajetória do 
ser humano no mundo. Ainda que em uma exposição breve, vamos penetrar a concepção de 
sagrado do muçulmano e a história da revelação do livro para vislumbrar o arcabouço de crenças 
em torno do divino, de Mohamed e do Corão, com a finalidade de compreendermos a reverência 
◄ Figura 07: Corão
Fonte: Disponível em 
<http://fc03.deviantart.
net/fs71/f/2010/135/2/a/
Qur__an_by_muhamma-
dibnabdullah.jpg>. 
Acesso em 05 dez. 2014.
22
UAB/Unimontes - 4º Período
e a obediência que se tem por este livro no meio muçulmano. Por fim, trataremos também da 
estrutura e do conteúdo do Corão.
2.2 Em Nome de Allah, o 
Clemente, o Misericordioso
Com esta frase se iniciam praticamente todas as suratas (capítulos) do Corão, somente a pri-
meira surata não evoca o nome de Allah e os atributos de sua bondade. Compreendamos, ligei-
ramente, quem é este ser de quem fala o Islam com tamanha constância e reverência (na próxi-
ma unidade retomaremos a compreensão de Deus nesta religião).
Como você já viu na unidade anterior, a palavra Allah (que em português se escreve Alá) 
significa simplesmente “O Deus”. No contexto politeísta da Arábia pré-islâmica, onde também 
viviam pequenos grupos com seus sistemas religiosos próprios, como os judeus, cristãos, mani-
queus, zoroastrinos, Allah era uma divindade cultuada em meio às demais, o Deus Alto do antigo 
panteão árabe (ARMSTRONG, 2008 p.180). 
Contudo, conforme Smith (1991, p. 219), mesmo anteriormente ao Islam, Allah já era visto 
pelos seus adeptos como um deus de características peculiares, criador, provedor, determinador 
do destino humano. E já havia pela Arábia aqueles que adoravam somente a Allah, entre eles 
contemplativos chamados hanifs, dos quais Mohamed seria um representante. Diz a tradição 
muçulmana que das meditações solitárias deste piedoso mercador no monte Hira, teria brotado 
uma mensagem que revolucionaria a península arábica e ressoaria com força pelo mundo afora, 
levada pelos convictos adeptos de Mohamed: “La ilaha illa ‘llah”, ou seja, “Não há outro deus se-
não Allah”, palavras que mais tarde seriam parte da profissão de fé do muçulmano.
Este Deus único havia criado, por sua vontade, o universo e todos os seres espirituais e ter-
restres, e do barro fizera o homem à sua imagem, Adão, sua obra-prima. Soprou-lhe vida do seu 
próprio fôlego, deu-lhe uma porção do seu espírito e pôs um paraíso sob seu domínio. De Adão 
fizera uma companheira: compadecido com a solidão do homem, deu-lhe a mulher, Eva. E, quan-
do estes foram induzidos à desobediência por Satanás, o anjo indolente, expulso dos céus por se 
recusar a prostrar-se diante do homem, Allah não os aniquilou, mas os perdoou assim que volta-
ram arrependidos suplicando misericórdia, embora, para ensinar-lhes as consequências da deso-
bediência, não lhes tenha restituído o paraíso, impondo-lhes a precariedade da existência terrena.
Figura 8: Adão e Eva em 
versão muçulmana.
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/po0GC>. 
Acesso em 30 set. 2014.

23
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
Aqui, você deve ter observado uma grande semelhança com outra narrativa cosmogônica, 
aquela do livro de Gênesis, encontrado na Torá e na Bíblia, referente à criação do mundo e do ho-
mem, ao pecado e à perda do paraíso terrestre. Muitas outras semelhanças há entre as narrativas 
corânicas e as crenças judaicas e cristãs, pelo fato de que a base da fé islâmica se assenta sobre 
a mesma base dessas duas religiões: Allah é o mesmo Deus que criou Adão e Eva, varreu a terra 
com um dilúvio, preservando em uma arca Noé, sua família e um casal de cada animal da Ter-
ra; o mesmo Deus que se revelou a Abraão e prometeu-lhe uma grande descendência, conduziu 
Moisés e os israelitas pelo deserto quando os libertou da escravidão no Egito; o Deus que enviou 
profetas para falar a Israel e fez nascer milagrosamente, do ventre de uma virgem, um grande 
profeta chamado Jesus, o mesmo que, para o cristianismo, é filho de Deus. 
Diz o Corão que a cada nação, em todos os tempos, este Deus enviou mensageiros, chaman-
do o homem a trilhar o caminho da retidão, para fazê-lo recordar sua origem divina e retomar 
o caminho rumo aos céus. O homem, porém, não compreendeu plenamente a verdade divina, 
nem mesmo quando lhes foram inspirados dois grandes livros, a Torá e a Bíblia, precursores do 
Corão. Ao contrário disso, o homem entregou-se ao politeísmo e, mesmo quando se voltou ao 
Deus único, por meio das religiões judaica e cristã, distorceu a mensagem de Allah com sua pró-
pria imaginação, com seu próprio interesse e deturpou as escrituras com suas próprias elabora-
ções, sendo o erro mais grave a transformação de um profeta em salvador da humanidade e em 
filho de Deus. Sobre isso, diz Peter Antes:
A acusação de aberração não somente atinge a transmissão oral da pregação 
profética, mas também as mensagens de Moisés e de Jesus fixadas por escrito, 
ou seja, a Bíblia como escrito sagrado. Por conseguinte, “possuidores do escrito” 
(ahl-al-kitab), isto é, judeus e cristãos, participam da verdade ofuscada em parte 
por aberrações mais ou menos graves. Em uma formulação simples, poder-se-ia 
dizer; a Bíblia é uma mistura de criação e verdade (PETER ANTES, 2003, p. 34).
Por essa razão, Allah, em sua infinita misericórdia e incansável em chamar o homem de volta 
a si, empreendera a maior de suas revelações, e também a última: entregaria à humanidade o 
próprio livro celeste, o registro da divina providência e da divina sabedoria, o Corão Sagrado, o 
qual reunia e encerrava o conteúdo das escrituras anteriores, sem a intenção de contradizê-las, 
mas sim de complementá-las e corrigi-las (FARES, 1988, p.61). Nas palavras deste livro, a reve-
lação divina estaria a salvo das aberrações causadas pelos equívocos humanos, pois nada mais 
lhe seria acrescentado ou retirado e, por meio de sua recitação, todos conheceriam a verdade de 
Deus (ANTES, 2003, p. 35). 
Para isso, mais uma vez, Allah elegeria um profeta, que seria também o último entre os seus 
porta-vozes, para selar a profecia, pôr termo à revelação e instaurar no mundo outra preciosida-
de do divino: a religião primordial, que antecede, comporta e supera todas as religiões existen-
tes: o Islam (cf.: BARTHOLO, 1990, p.17). 
Vejamos no próximo item como se deu, na concepção muçulmana, a revelação do Corão a 
Mohamed.
2.3 Mohamed: o Profeta de Allah 
Conta a tradição mulçumana que, no ano de 610, no dia 17 do mês de Ramadan (Agosto), 
na cidade árabe de Meca, em uma de suas costumeiras vigílias noturnas na caverna do monte 
Hira, onde meditava e rezava a Allah, teria aparecido ao mercador Mohamed um anjo em forma 
de homem e por três vezes ordenado, após um abraço dilacerador: “Lê, recita!”. Mohamed, que 
era analfabeto, teria respondido em todas as três vezes: “Eu não sei ler”. O anjo então ditou: 
Lê em nome do teu Senhor que criou
Criou o homem de um coágulo
Lê. E teu Senhor é o magnânimo
Que ensinou com o cálamo
Ensinou ao homem o que não sabia (ALCORÃO 96:1-5).
O anjo, como dissemos, era Gabriel, em árabe, Gibril, o mensageiro divino. Allah, com a po-
tência divina, não poderia apresentar-se pessoalmente a Mohamed sem abrasá-lo, então, trans-
mitia o texto do livro celestial, o Corão, ao seu fiel mensageiro e este o ditavaao profeta. 
24
UAB/Unimontes - 4º Período
O encontro com o sagrado foi, no relato de historiadores do profeta (que aqui teremos con-
tato por meio das palavras de Karen Armstrong-2008), uma experiência apavorante para Moha-
med. O profeta assim teria relatado aquela experiência:
Quando eu me achava no meio da montanha, ouvi uma voz do céu dizendo: “Ó 
Maomé! Tu és o apóstolo de Deus, e eu sou Gabriel”. Ergui a cabeça para o céu, 
para ver qembruem falava, e eis que lá estava Gabriel, em forma de homem, com 
os pés no horizonte. [...] Fiquei olhando-o, sem me mover, nem para frente nem 
para trás; depois, passei a desviar o rosto, mas, para qualquer lado do céu que 
olhasse, via-o como antes. (IBN ISHAQ apud ARMSTRONG, 2008, p.184)
O evento teria se repetido ao longo de aproximadamente 23 anos, período em que, confor-
me a fé mulçumana, o Corão teria sido, paulatinamente, revelado a Mohamed, em um processo 
doloroso: diz a tradição que o profeta era tomado pelo sagrado e a revelação lhe trazia uma sen-
sação dilaceradora, como se sua alma estivesse sendo arrancada (JALAL AD-DIN SUYUTY apud 
ARMSTRONG, 2008, p.185). A forma mais branda e clara da revelação ocorria quando Gabriel vi-
nha lhe trazer pessoalmente as palavras de Allah: no encontro face a face com o ser espiritual, 
Mohamed o ouvia e o compreendia. Mas as revelações também surgiam de modo a desafiar a 
compreensão do profeta, difusa em algum acontecimento, em alguma questão com a qual o 
profeta se deparava, nas palavras de sua pregação. Em suas formas mais angustiantes, diz a tra-
dição, a revelação///;; divina tomava-o em transe e, às vezes, parecia fazer-lhe perder a consciên-
cia, outras vezes o atravessava como o tinir de uma campainha que lhe imprimia a revelação na 
consciência, ou ainda em forma de um peso interior que obrigava o profeta a curvar-se, baixando 
a cabeça entre os joelhos. 
Assim nos conta o muçulmano Abou Fares: 
Aícha – esposa do Profeta -, a respeito de como ele recebia a revelação, disse: “Vi-
o recebendo a revelação num dia extremamente frio, e quando cessou, o Profeta 
suava abundantemente”. Quando o anjo descia (com a revelação) sobre o Profeta 
– e este montado – sua montaria prostrava-se ao chão (FARES, 1988, p. 15).
No olhar e no contar da tradição, que preserva e transmite piedosamente esses relatos, o 
Corão baixava do céu sobre o profeta com toda a densidade da palavra divina. E o sagrado era 
constante e persistente em seus encontros com Mohamed, interpelava-o independentemente 
de sua vontade, às vezes sem avisos, durante uma viagem ou durante o sono. Em todos os anos, 
no mês de Ramadã, o anjo Gabriel descia para estudar o Corão juntamente com o profeta. Diz 
Fares (1988, p. 21) que, nestes estudos, “primeiro Gabriel recitava e o Profeta ouvia, em seguida o 
Profeta recitava e Gabriel é quem ouvia”. E no ano em que o anjo descera duas vezes no mês de 
Ramadã, Mohamed soubera que sua morte, ocorrida em 632, estava próxima.
DICA
Leia mais sobre a 
biografia e a trajetória 
do profeta no caderno 
didático “Cosmovi-
são das Religiões: 
Islamismo”, também de 
nossa autoria. Ambos os 
cadernos são comple-
mentares, recomenda-
mos a leitura conjunta 
para uma compreensão 
mais abrangente do 
Islamismo e de seu livro 
sagrado.
Figura 9: O anjo Gabriel 
falando a Maomé.
Fonte: Disponível em 
<http://www.novaera-
-alvorecer.net/angel_Ga-
briel-maome.jpg>. Acesso 
em 30 dez. 2014.

25
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
O profeta, que havia sido preparado por Allah para ser digno da grandiosa missão de ser 
o selo das profecias e advento de uma nova era na história do universo e da humanidade, era 
dotado, conforme a tradição muçulmana, de atributos especiais, concedidos pelo divino: um 
pensamento superior, um acerto de opinião, uma integridade moral, um desprendimento e uma 
altivez incomuns. Por tudo isso seria reverenciado pelos homens e exaltado por Deus. O Corão 
ordena a todo muçulmano que acredite plenamente em Mohamed como profeta de Deus, o que 
deve ser também declarado na profissão de fé. 
Obediência, apreço, gratidão e amor também são sentimentos devotados ao profeta, e toda 
a humanidade é chamada a semelhante atitude:
Por sua vez, esse Deus ordena a todos os humanos para que sigam Muhammad, 
cuja doutrina é a derradeira mensagem divina. A doutrina islâmica é perfeita em 
seus fundamentos, e adaptável a toda evolução, graças às suas minúcias e de-
talhamentos. Devido a isso, ela é para toda a humanidade (FARES, 1988, p. 69).
Diz o livro sagrado, referindo-se a Mohamed:
São realmente crentes os que crêem em Deus e em Seu Mensageiro (ALCORÃO 
49:15).
Para aqueles que não crêem em Deus e em Seu Mensageiro preparamos um fogo 
fl amejante (ALCORÃO 48:13).
Não pertence a crente algum e a crente alguma, quando Deus e Seu Mensageiro 
decidirem algo, escolher outra opção. E quem desobedecer a Deus e a Seu men-
sageiro comete um erro manifesto (ALCORÃO 33:36).
2.4 O Livro Descido do Céu
Dissemos no tópico anterior que, para o mulçumano, o Corão é uma versão fidedigna do li-
vro celeste, ditado a Mohamed pelo anjo Gabriel. E como você pode perceber no trecho corânico 
abaixo, o próprio livro traz afirmações que corroboram essa crença, ou seja, é a revelação falando 
da revelação, o próprio Corão confirmando a si mesmo, uma metalinguagem muito presente na 
escritura:
“É uma blasfêmia atribuir este Alcorão a outro que não a Deus. Ele é a confirmação do que o 
precedeu e a elucidação do Livro incontestável do Senhor dos mundos” (ALCORÃO, 10:37).
Considerado reflexo de um protótipo celeste, protótipo este que teria inspirado também a 
Torá e a Bíblia, o Corão é visto pelo muçulmano como um metalivro e “senhor de todos os siste-
mas de conhecimento” (LAWRENCE, 2008, p.166), registro completo da palavra divina:
O Corão como um refl exo perfeito do protótipo celeste não se assemelha a ou-
tras palavras ou livros. Está acima do tempo e além da história; permanece in-
tocado pelo temperamento humano ou pela mudança temporal (LAWRENCE, 
2008, p. 20).
◄ Figura 10: Corão, 
segundo a crença 
muçulmana, enviado 
do céu.
Fonte: Disponível em 
<http://www.missionis-
lam.com/health/healin-
gweakiman.jpg>. Acesso 
em 05 dez. 2014.
26
UAB/Unimontes - 4º Período
Por essa razão, o Corão é considerado o único milagre realizado por Mohamed, um profeta 
jamais dotado de dons extraordinários como outros profetas anteriores a ele. Contudo, para o 
muçulmano, enquanto os feitos admiráveis dos outros profetas ficaram restritos à sua época, o 
Corão é um milagre permanente, que não se perdeu no tempo nem desapareceu com a morte 
do profeta, o que, para o muçulmano “testemunha que o apóstolo é veraz e é o selo das profe-
cias” e que o Corão é “revelação, espírito e verbo divinos” (FARES, 1988, p.43).
O muçulmano vê o Corão como obra-prima da literatura árabe, um poema puro quanto ao 
estilo, com suras de incomparável beleza e magnífico valor poético e, ao mesmo tempo, simples 
e eloquente. Um poema que é também um código de lei, um livro de oração, uma fonte de sa-
bedoria e de verdade, um guia para todas as situações da vida. Diz o próprio texto corânico que 
é impossível aos homens fazer um livro igual e, segundo a tradição, muitos tentaram imitá-lo, de 
poetas famosos a judeus versados no árabe (FARES, 1988, p. 43), mas todos fracassaram. Assim 
declara um dos versículos do corão: “Dize (ó Muhammad): mesmo que se reúnam os humanos e 
os gênios para produzirem (obra) como este Alcorão, não produzirão como ele, ainda que traba-
lhassem juntos e em aliança” (ALCORÃO 17:88).
O fato de um profeta iletrado, que somente os desertos conhecera, ter produzido uma obra 
de grande beleza, em um árabe considerado apuradíssimo, gramaticalmente perfeito e de ini-
gualável poesia (SMITH, 1991, p.225), recheada de conhecimentossofisticados - inclusive saberes 
sobre a natureza, o homem e o cosmo que, dizem com afinco seus defensores, comprovaram-
se pelas posteriores descobertas das pesquisas científicas, além de profecias, revelações sobre o 
passado e o futuro, que, de fato, ocorreram, é, para o mulçumano, a prova cabal da origem divina 
do Corão. 
Por isso o Corão costuma ser lido literalmente pelo mulçumano, que tem então a sensação 
de estar recitando o próprio Corão celestial nas linhas e na melodia do seu livro sagrado. Vejamos 
no box a seguir o que diz Abou Fares:
BOX 2
O CORÃO NO OLHAR DO MUÇUlMANO
O Alcorão é o livro revelado por Deus ao Profeta Muhammad. Significa: Leitura, lei-
tura por excelência. É Divino, quer como texto, quer como sentido. Portanto, não é obra de 
Muhammad nem de Gibril. É dirigido aos humanos e aos gênios (jins) [...]. O Alcorão é o gran-
de Milagre que Deus apresenta à humanidade, é a luz. É a corrente Divina. É o último livro Ce-
lestial, o qual permanece autêntico, tal como foi revelado, sem adulteração ou subtração, sem 
acréscimo ou modificação.
O Alcorão é a Suprema Lei do Islamismo.
Todo ser que crê no Alcorão como livro Divino, considera-se um ser crente, pois o Alco-
rão é a mensagem de Deus para todo o gênero humano.
O Alcorão é o verbo divino revelado ao selo dos profetas e o último dos profetas 
MUHAMMAD, por intermédio do fiel arcanjo Gabriel. 
[...]
O mulçumano crê que o Alcorão contém as palavras de Deus, com as quais desceu o ar-
canjo Gabriel sobre o Profeta Muhammad, quem o transmitiu exatamente como ouviu do ar-
canjo. Aquele que negar algo do Alcorão ou dele duvidar, considera-se apóstata do Islam.
O Alcorão é de uma abrangência total, conforme Surata 6 (AL NA’AM) versículo 38:
“Todos os seres da terra e as aves que voam com suas asas, constituem grupos (es-
pécies) como vós (humanos). Nada omitimos no livro”. 
O Alcorão é para tudo... esclarecedor 
[...]
Convém para quem quiser conhecer (ler) o Alcorão que saiba antes de tudo que o mes-
mo é de procedência Divina, quer acredite ou não no Alcorão. Pois desde que se queira com-
preender esse livro, é imperativo que se aceite – em princípio – a sua origem Divina.
O Alcorão é um livro vindo de Deus.
O tema desse livro é o HOMEM. Seu objetivo é chamar o homem, convocá-lo para a me-
todologia correta: a Divina!
Fonte: FARES, 1988, p. 12-13
GLOSSÁRIO
Apóstata: Aquele que 
comete apostasia, o ato 
de abandonar um par-
tido, uma opinião, uma 
doutrina, uma religião.
27
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
2.5 A Estrutura do Corão
O Corão é composto por 114 capítulos, chamados suratas, e 6236 versículos. A disposição dos 
capítulos não se dá em uma ordem cronológica, mas segundo a extensão, da surata maior para 
a menor, com exceção da primeira, que é a surata mais curta do livro. Todas as suratas possuem 
um título e, como dissemos, iniciam-se, exceto a primeira surata, com o verso: Em nome de Allah, 
o clemente, o misericordioso. Além disso, várias suratas são marcadas por letras simbólicas, que, 
conforme Mircea Eliade (1999, p. 194), talvez indiquem a coleção a que pertenceram a princípio. 
Não há nos capítulos assuntos contínuos, com início, meio e fim, mas uma certa justapo-
sição, do modo que pode ocorrer de cada verso tratar de um assunto diferente ou de se passar 
para um assunto sem que o anterior tenha sido encerrado. Esta falta de um ordenamento pro-
gressivo encontra respaldo na crença. Como diz Fares (1988, p. 30), para os mulçumanos, foi Allah 
quem, por meio do anjo Gabriel, definiu a posição dos versículos corânicos no livro. Obediente, 
Mohamed ordenava aos seus memorizadores e escribas a execução da disposição indicada pelo 
mensageiro divino.
O livro é escrito em prosa rimada e tem o árabe como idioma oficial, exaltado pelos mu-
çulmanos como a língua mais bela e perfeita, escolhida por Allah para a sua revelação. Por esse 
motivo, traduções do Corão só são admitidas sob algumas condições, observando-se critérios 
necessários à preservação da mensagem corânica, visando uma maior aproximação possível do 
texto original. Tais traduções não podem ser utilizadas nas orações, servindo apenas para estu-
dos, sobretudo entre muçulmanos não árabes. Para o muçulmano, nenhuma tradução á capaz 
de reproduzir de modo idêntico o conteúdo corânico, assim como nenhum homem poderia 
formular frases com a qualidade das frases do Corão (ANTES, 2003, p. 35), pois cada sílaba, cada 
rima do árabe presente no livro traduz um sentido religioso que somente ao árabe é possível. 
A mais perfeita tradução será sempre apenas uma compreensão da mensagem corânica, jamais 
uma versão idêntica. Tal é a reverência muçulmana pelo Corão que sua leitura, ou recitação, deve 
ser feita em forma de um canto de intensa musicalidade, o que confere ao texto uma espécie de 
materialidade sensível. Assim diz Lawrence Bruce, professor de estudos islâmicos:
A ênfase na recitação não é acidental. Ela é básica para se compreender a forma-
ção e a força do Corão. Este é um livro diferente de qualquer outro: é um livro oral 
que soa melhor falado que lido em silêncio, mas é também uma escritura. Mais 
evocativo na recitação que por escrito, o Corão só é plenamente o Corão quando 
recitado. Ouvi-lo recitado é, para os mulçumanos, diferente de qualquer outra 
coisa. É experimentar o poder da revelação divina como uma voz maravilhosa do 
Invisível. Ela se move, desliza, se eleva, canta. Está neste mundo, mas não perten-
ce a ele (LAWRENCE, 2008, p.13).
Na próxima unidade, apresentaremos a você um pouco do conteúdo corânico e os desafios 
à sua interpretação.
ATIvIDADE
Acesse o link <http://
www.centroislamico.
com.br/viewpage.
php?page_id=13&rows-
tart=1> site do Centro 
Islâmico Brasileiro e 
ouça a recitação do 
Corão em árabe, com 
tradução em português. 
Em seguida, e com base 
na leitura desta unida-
de, discuta suas impres-
sões com os colegas no 
fórum da disciplina.
◄ Figura 11: Corão. 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/6Btn4T>. 
Acesso em 05 dez. 2014.
28
UAB/Unimontes - 4º Período
Referências
Alcorão – Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado. S. Bernardo do Campo, 1980.
ANTES, Peter. O Islã e a Política. Tradução Frank Usarski. São Paulo: Paulinas, 2003. (Coleção Reli-
gião e Cultura).
ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, islamismo 
e Cristianismo. Tradução Marcos Santarrita; Revisão da tradução Hildegard Feist. São Paulo: Com-
panhia das Letras. 2008.
BARTHOLO, Jr. Roberto. Islã: O credo é a conduta. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 64. 
ELIADE, Mircea. Dicionário das Religiões. Mircea Eliade e Ioan P. Couliano; tradução Ivone Casti-
lho Beneditti. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FARES, Mohamad Ahmad. Introdução ao sagrado Alcorão. Curitiba: Ed. do autor, 1988.
LAWRENCE, Bruce. O Corão: uma biografia. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Ed., 2008. 
SMITH, Huston. As Religiões do Mundo: nossas grandes tradições de sabedoria. Tradução Merle 
Scoss. São Paulo: Editora Cultrix, 1991.
29
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
UNIDADE 3 
Exploração do Conteúdo Corânico
Ângela de Santana Rocha Correia
3.1 Introdução
O Corão é um livro de muitos enfoques: 
nele se encontra a expressão de uma religião 
que não faz distinção entre a vida religiosa e 
a vida prática ou social, considerada por seus 
adeptos não apenas um credo, mas também 
um modo de vida. No Corão há não somente 
os pressupostos da fé islâmica, mas também 
diretrizes para os mais diferentes âmbitos da 
vida humana: o seu conteúdo, em sua tota-
lidade, encerra desde assuntos doutrinais e 
normativos, com descrições das vicissitudes 
da alma e leis para a vida em sociedade até 
temas referentes à astronomia, ao meio am-
biente, à reprodução humana.Nesta unidade, 
apresentaremos a você um pouco desses as-
suntos, falando a princípio sobre as crenças centrais do Islam, presentes no livro sagrado e, em 
seguida, abordaremos aspectos sociais e normativos da doutrina islâmica, exemplificando-os 
com trechos do Corão. Por fim, versaremos também sobre alguns desafios que este livro sagrado 
apresenta à crítica hermenêutica.
3.2 A Mensagem Corânica: 
Principais Crenças
Eliade (1999, p. 194) sintetiza o conteúdo corânico em dois grandes temas, em torno dos 
quais giram todos os ensinamentos, preceitos e exortações, são eles: monoteísmo e poder de 
Deus e natureza e destino dos homens em sua relação com Deus. Estes temas se desdobram 
em quatro conceitos fundamentais da fé islâmica: Deus, a criação, o ser humano e o juízo final 
(SMITH, 1991, p. 229). Falaremos sucintamente sobre estes conceitos.
3.2.1 O Deus Único e Supremo Criador
Comecemos este subitem com um trecho do livro “Islã, o credo é a conduta” de Bartholo Jr. 
(1990, p.17), que sintetiza bem a concepção de Deus expressa no Corão. Veja no box 3 a seguir:
◄ Figura 12: Conteúdo 
corânico ilustração.
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/xLmQIB>. 
Acesso em 5 dez. 2014.
30
UAB/Unimontes - 4º Período
BOX 3
A CONCEPÇÃO DE DEUS NO CORÃO
O fundamento do Islã é o conhecimento e a crença em Deus. O supremo Senhor dos 
Mundos, o Criador, é Allah, (Deus), e “... diz: Ele é o Deus único, Deus, o Absoluto, ser que não 
gerou ou foi gerado; e nada há que se Lhe assemelhe” (Corão CXII, 1 a 4). Uma vez que se 
creia em Deus, se deve conhecer Seus nomes e atributos, mencionados em vários lugares no 
Sagrado Corão, pois toda a perfeição e todo absoluto Bem Lhe pertencem e “... se quisésseis 
contar os benefícios de Deus, não poderíeis” (Corão XIV, 34). Deus não necessita de nenhuma 
“compensação” humana em troca de Suas mercês, pois Ele é absoluto, incomparável, indepen-
dente, irredutível nossa escala de existência. É pela Misericórdia divina que ganhamos conhe-
cimento verdadeiro, dignidade, esperança, paz, coragem e confiança. É por Sua Misericórdia 
que podemos ser guiados para o “caminho reto”, apontado por Seus mensageiros e profetas, 
por Seus livros, Suas revelações, Suas leis. É precisamente essa Divina Misericórdia que invo-
ca a Sura da Abertura do Sagrado Corão com as palavras: “... Louvado seja Deus, Senhor dos 
Mundos, Beneficente e Misericordioso, Senhor do Julgamento! A Ti somente adoramos; de Ti 
somente, Senhor, imploramos socorro! Mostra-nos o ‘bom caminho’. O caminho desses que 
tens favorecido; não o caminho desses que incorrem na Tua cólera nem o dos que se perdem! 
Amém.“ (Corão I; 1 a 7). 
Fonte: BARTHOLO, Jr. Roberto. Islã: O credo é a conduta. Rio de Janeiro: Imago, 1990. p.17
Como podemos entrever nas palavras de Bartholo Jr., ensina o Corão que Allah é o único 
deus e criador do universo, do homem e dos espíritos. É benévolo, justo, onipotente e onisciente. 
Allah, da forma como fora reapresentado ao povo árabe por Mohamed, é o Deus de ilimitado 
poder e infinita majestade, em cujo redor toda criação, submissa e servil, gira incessantemente; o 
Deus “temível e miraculoso, real como a vida, real como a morte, real como o universo que criara” 
(SMITH, 1991, p. 219). Conhecedor do interior, das intenções e do destino de toda criatura, nada, 
nenhum bem, nenhum mal, acontece sem o seu conhecimento ou sem o seu consentimento, 
como diz o Corão: “Desgraça alguma acontece senão com a permissão de Deus” (58:7), ou ainda 
“Perdoa a quem Lhe apraz e castiga a quem Lhe apraz”. (2:284).
Este Deus único, sem concorrentes, criador e senhor absoluto dos céus e da Terra e de tudo 
o que neles existe (CHALLITA, 1990, p. 17), reduziu os demais deuses do panteão árabe à mera 
ilusão - razão dos fortes conflitos entre Mohamed e o mundo politeísta nos primeiros anos da 
história do Islam. Este Deus é também imaterial, invisível e indescritível, que de forma alguma 
pode ser representado por nenhum símbolo, motivo pelo qual o Islam proíbe o uso de imagens 
representativas de Allah. 
Allah, na concepção islâmica, é um Deus avassalador, onipresente, terrível, certamente 
como aquilo que descreve o teólogo Rudolf Otto em seu livro “O Sagrado” (2007): um mysterium 
tremedum et fascinans, ou seja, um mistério tremendo e fascinante, que infunde temor por sua 
grandiosidade e veemência, mas ao mesmo tempo atrai seus adoradores de modo irresistível e 
os acolhe com inesgotável bondade.
No Corão, uma famosa metáfora busca traduzir a energia abrasadora da presença de Allah:
E quando Moisés chegou a Nosso encontro e seu Senhor lhe falou, disse: “Senhor meu, dei-
xa-me ver Tua face.” Respondeu o Senhor: “Não me verás. Observa, porém, o monte. Se ele per-
DICA
Conforme Abou Fares 
(1988, p. 57), o Islam 
acredita que o mono-
teísmo foi o primeiro 
tipo de crença desen-
volvido pela humani-
dade e o politeísmo um 
retrocesso ou desvirtua-
mento ocorrido entre 
uma revelação divina 
e outra. Conforme este 
expoente da doutrina 
islâmica, o politeís-
mo é o único pecado 
sem possibilidade de 
perdão. 
Figura 13: Alah é único. 
Inscrição árabe com 
tradução em inglês 
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/HYO42A>. 
Acesso em 5 dez. 2014.

31
Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
manecer no seu lugar, poderás Me ver”. Mas quando Deus desvelou Sua face ao monte, o monte 
caiu em pó. E Moisés perdeu os sentidos (7: 143). 
Por outro lado, este mysterium tremedum, embora assombroso por sua grandeza e impetuo-
sidade, é também um Deus de clemência e benignidade infinitas, é o misericordioso, o misericor-
diador. Capaz de se encolerizar contra os maus, julgar com severidade e se vingar do ímpio du-
ramente, é também justo, generoso e liberal (CHALLITA, 1990, p. 17). Por isso, é fascinans, e toda 
criação para ele se volta irresistivelmente. Diz Abou Fares:
Deus – como nos é apresentado pelo Alcorão – não é limitado pelo tempo nem 
pelo espaço. É Onipresente, Onisciente, isto é, Deus tudo sabe e tudo vê, quer 
na Terra, quer nos céus (outros planetas e outros mundos). Por isso, Deus está 
muito próximo... bem junto e perto de cada um, e sabe de todas as ações e ouve 
todos os clamores e todos os soluçares, e atende a todos os rogos! Se um homem 
cometer uma falta, grande ou pequena, e se dirigir a Seu Senhor, arrependido, 
penitente, e pedir perdão, com certeza encontrará Deus! Por isso, não é razoável 
que qualquer pessoa se desespere e se desanime do perdão e da misericórdia de 
Deus (FARES, 1988, p. 115).
Diversos versículos corânicos expressam a extensão do divino para o Islam, no livro. Acom-
panhe alguns:
Se houvesse no céu e na terra outras divindades além de Allah, (céus e terra) já 
se teriam desordenado. Glorifi cado seja Allah, Senhor do Trono, por tudo quanto 
Lhe atribuem! (ALCORÃO 21:22).
Sabei que Allah é severíssimo no castigo, assim como também é Indulgente, Mi-
sericordiosíssimo (ALCORÃO 5: 98).
Ele é o Originador dos céus e da Terra e, quando decreta algo, basta-Lhe dizer: 
Seja! e é (ALCORÃO 2:117).
Allah é, pois, um Deus temível, que exerce justiça com rigor e pune os rebeldes com pulso 
forte. Mas também é um Deus indulgente, que deseja a salvação da humanidade e está sem-
pre pronto a perdoar aqueles que a ele se voltam arrependidos, por isso, ensina ao homem dili-
gentemente, através do sagrado Corão, como este deve viver em todos os âmbitos de sua vida. 
Ao homem cabe ser grato e em tudo submisso a Allah, primar pela generosidade e veracidade, 
observar os preceitos corânicos e cumprir fielmente os rituais prescritos para a prática religiosa, 
para assim alcançar os méritos da salvação divina. 
Através da missão de Mohamed e de seus seguidores, este mysterium tremendum et fas-
cinans se propagou pelo mundo árabe, e sob sua égide, diz a tradição, se construiu uma nova 
nação, a naçãomuçulmana, alicerçada em seu livro sagrado em todos os sentidos, encontrando 
nele a estrutura não somente da vida religiosa, como também da vida social, cultural e econômi-
ca, expressão de um Deus preocupado não somente com a salvação futura, como também com 
todas as necessidades do seu povo sobre a Terra.
3.2.2 O Homem: Imagem e Semelhança de Deus
Assim diz abou Fares a respeito da origem dos seres humanos:
Com sua bondade e poder, Deus criou a humanidade toda de uma só pessoa: 
ADÃO, e de Adão criou sua esposa: EVA, e de ambos, fez nascer todos os homens e 
todas as mulheres que povoaram – povoam – a terra. Isto signifi ca que todos des-
cendemos de um só útero, e pertencemos a uma só origem (FARES, 1988, p. 71).
DICA
Inúmeros são os adjeti-
vos atribuídos a Allah, 
com a finalidade de 
exaltar sua grandiosi-
dade, sua bondade, seu 
poder, sua veemência. 
Destacam-se no Corão 
99 nomes que expres-
sam adjetivos atribuídos 
a Allah. Al Ramhan (o 
Compassivo), Al Rahim 
(o Clemente), Al’Alim 
(o que tudo sabe), Al 
Salam (a Paz) são alguns 
deles. Confira os demais 
nomes no site <www.
mesquitanoor.com.br>.
◄ Figura 14: Ilustração de 
imagem em Deus
Fonte: Disponível em 
<http://goo.gl/SembZZ>. 
Acesso em 5 dez. 2014.
32
UAB/Unimontes - 4º Período
No Corão, na surata VI, versículo 98, lê-se: “Ó humanos, temei a vosso Senhor que vos criou 
de um único ser, e dele criou seu cônjuge, e de ambos fez descender inúmeros homens e inúme-
ras mulheres”. 
Isso significa que, na crença islâmica, assim como o é no Judaísmo e no Cristianismo, a hu-
manidade é criação divina, descendente do primeiro casal, Adão e Eva. Na concepção corânica, o 
ser humano, assim como toda criatura, é servo de Deus, contudo, apresenta o diferencial de ter 
sido feito à imagem e semelhança do seu criador e, por isso, participa da essência e da dignida-
de divina. Enquanto ser privilegiado no mundo, o homem possui o livre arbítrio e tem, inclusive, 
a liberdade de ignorar os mandamentos divinos, embora com tal atitude se exponha a terríveis 
consequências. Devido à liberdade de dizer “não” a Deus e de escolher entre o bem e o mal, o 
homem é constantemente tentado à transgressão pelo anjo decaído Iblis (Satanás), expulso do 
céu na ocasião da criação do homem, por desobedecer à ordem divina de que todos os anjos se 
prostrassem diante de Adão, a obra excelente e perfeita de Allah. A este anjo mau e a todos que 
se deixarem seduzir por ele está reservado o inferno (geena), um lugar de castigo eterno, onde 
um fogo consumidor que jamais se extingue queimará por toda a eternidade a pele daqueles 
que forem condenados. Aos justos está reservado o paraíso celeste. Acompanhemos novamente 
as palavras de Bartholo Jr.:
BOX 4
CONCEPÇÃO DE HOMEM EXPRESSA NO CORÃO
A crença islâmica no Deus único, Supremo, Onipotente e Eterno, o fundamento da digni-
dade do humano, reconhecendo uma posição distinta do homem, como o khalifat Allah, o re-
presentante de Deus na Terra, custódio da Criação, pois “... recorda-te de quando o teu Senhor 
disse aos anjos: ‘Estou a criar um ser humano a partir do barro, da argila moldável. Quando o 
tiver concluído, insuflarei nele parte do Meu espírito. Caí prostrado diante dele!’” (Corão XV, 
28-29). É diante dessa posição especial atribuída a Adão pelo Criador, que Lúcifer se rebela, e, 
em virtude de sua insubmissão ao Mandamento Divino, torna-se ímpio, pois “... Deus pergun-
tou: ‘Lúcifer! Que te impediu de te prostrar diante do que Eu criei com as Minhas duas mãos? 
Encheste-te orgulho ou estás entre os soberbos?’ Respondeu: ‘Eu sou melhor do que ele. A 
mim criaste-me do fogo e a ele criaste-o do barro’. Deus exclamou: ‘Sai do Céu! Tu és maldi-
to! Caia sobre ti a Minha maldição incessante até o Dia do Juízo!’ Satanás exclamou: ‘Pelo teu 
poder! Seduzirei a todos os humanos, menos, entre eles, os teus servidores puros’. Deus disse: 
‘Verdade digo! Encherei o inferno contigo e com os que te seguirem’ (Corão XXXVIII, 75-85). É 
o Demônio que seduz Adão e Eva à insubordinação, ao Pecado, na ânsia de, transgredindo os 
limites do humano, igualarem-se a Deus. E é por isso que “... Deus expulsou-os e tirou-lhes o 
usufruto daquilo que tinham no Paraíso. Ordenou-lhes que saíssem do Paraíso, passando a ser 
na Terra inimigos uns dos outros. Com morada e gozo apenas temporários” (Corão II, 36). Mas, 
mesmo o Homem Decaído, continua sendo potencialmente capaz da realização do Bem e de 
viver com dignidade, pois Deus, em Sua infinita Misericórdia, está sempre pronto a atender 
aos rogos de todos os homens sinceramente arrependidos de seus erros. Da mesma forma 
que para Adão, que “... recebeu de seu Senhor o chamamento à prece e arrependeu-se” (Co-
rão II, 37), Deus está sempre receptivo para os rogos sinceros de todos aqueles que só a Ele 
pedem ajuda para serem guiados para o “caminho reto” da bênção de Sua Graça, pois, “... na 
verdade Ele é o Deus do perdão, o Misericordioso” (Corão II, 37). A Clemência e a Misericórdia 
Divinas, que agraciam a Adão com o Seu perdão, são o fundamento da crença islâmica na ine-
xistência de uma natureza humana “hereditariamente” pecadora. Todo ser humano nasce “po-
tencialmente muçulmano”, dotado de potencialidades espirituais para reconhecer, compreen-
der e aceitar o Islã, disso tirando as necessárias conseqüências para sua conduta terrena.
Fonte: BARTHOLO, Jr. Roberto. Islã: O credo é a conduta. Rio de Janeiro: Imago, 1990. p.19.
Confira abaixo outros versículos corânicos que se referem à criação e ao homem.
Ele fez-vos da terra um leito, e do céu um teto, e envia do céu a água, com a qual 
faz brotar os frutos para vosso sustento (ALCORÃO 2:22).
E Allah vos criou do pó; então de esperma; depois vos dividiu em pares. E nenhu-
ma fêmea concebe ou gera sem o Seu conhecimento. Não se prolonga, nem se 
abrevia a vida de ninguém, sem que isso esteja registrado no Livro, porque isso é 
fácil a Allah (ALCORÃO 35:11).
Criamos o homem e sabemos o que sua alma lhe confidencia, porque estamos 
mais perto dele que a (sua) artéria jugular (ALCORÃO 50:16).
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Ciências da Religião - Textos Sagrados: Alcorão
3.2.3 O Dia do Juízo
O dia do juízo é apresentado pelo Corão como um evento cataclísmico que culminará no 
fim do mundo e na ressurreição das almas para o julgamento de seus atos em vida e o seu envio 
ao destino último e eterno, conforme o bem ou o mal que fizeram. Será um dia em que cada um 
se defrontará sozinho com a revisão dos seus atos, sem advogados ou intercessores e se elevará 
aos céus ou será precipitado no inferno, como descreve o Corão na 82ª surata:
BOX 5
82ª SURATA
Quando o céu se fender,
Quando os planetas se dispersarem, 
Quando os oceanos forem despejados,
E quando os sepulcros forem revirados, 
Saberá cada alma o que fez e o que deixou de fazer.
Ó humano, o que te fez negligente em relação ao teu Senhor, o Munificentíssimo,
Que te criou, te formou, te aperfeiçoou,
E te modelou, na forma que lhe aprouve?
Qual! Apesar disso, desmentis o (Dia do) Juízo!
Porém, certamente, sobre vós há anjos de guarda,
Generosos e anotadores,
Que sabem (tudo) o que fazeis.
Sabei que os piedosos estarão em deleite;
Por outra, os ignóbeis irão para a fogueira, em que entrarão, no Dia do Juízo,
Da qual jamais poderão esquivar-se.
E o que te fará entender o que é o Dia do Juízo?
É o dia em que nenhuma alma poderá advogar por outra, porque o mando, nesse dia, só 
será de Allah. 
Fonte: Disponível em <http://leiaosagradoalcorao.blogspot.com.br/2010/11/82-surata-al-infitar-o-fendimento.html>. 
Acesso em 05 de dezembro 2014.
Enquanto para alguns teólogos esta imagem assombrosa do dia do juízo é uma linguagem 
figurada acerca do estado existencial da alma após a morte, para a maioria dos muçulmanos é 
a descrição literal do que será experimentado pelos bons, no paraíso, e pelos maus, no inferno 
abrasador. Toda a conduta

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