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Montes Claros/MG - Agosto/2015
Ângela Cristina Borges
Harlen Cardoso Divino
Jeferson Betarello
Cosmovisão 
das Religiões 
Kardecismo, 
Umbanda, 
Candomblé e 
Cosmovisões 
Ameríndias
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
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CONSELHO EDITORIAL
Ângela Cristina Borges
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Betânia Maria Araújo Passos
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo
César Henrique de Queiroz Porto
Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Luciana Mendes Oliveira
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
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Presidente Geral da CAPES
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Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autores
Ângela Cristina Borges
Mestre em Ciência da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 
atualmente doutorando-se na mesma área e universidade. Professora do curso de 
Ciência da Religião da Unimontes e coordenadora do curso de Ciência da Religião 
UAB/Unimontes. Tutora do Programa de Educação Tutorial de Ciência da Religião 
PETCRE-Unimontes/CAPES onde orienta projetos na área.
Harlen Cardoso Divino
Especialista em Ciência da Religião pela Faculdade de Educação e Tecnologia da 
Região Missioneira - FETREMIS, Pós-Graduado em Didática e Metodologia do Ensino 
Superior e Graduado em Ciências da Religião pela Universidade Estadual de Montes 
Claros - Unimontes. Graduando-se em Pedagogia pela Universidade de Uberaba 
- UNIUBE. Formação complementar em Docência e Tutoria para EAD pelo CEAD/
Unimontes. Professor Conteudista e Pesquisador na Universidade Aberta do Brasil 
atuando como Docente Formador do Departamento de Filosofia no Curso de Ciências 
da Religião UAB/Unimontes. Professor de Ensino Religioso na Secretaria Municipal 
de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Janaúba - MG (efetivo). Colaborador no 
Projeto de Inventário para fins de Salvaguarda e de Proteção do Patrimônio Cultural 
no Vale do Rio São Francisco – pelo Núcleo de História e Cultura Regional – NUHICRE/
Unimontes e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais 
- IEPHA-MG. Egresso do Programa de Educação Tutorial em Ciências da Religião- 
PETCRE/Unimontes.
Jeferson Betarello
Mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP e licenciado em Filosofia. Autor do livro 
UNIR PARA DIFUNDIR - o impacto das federativas no crescimento do Espiritismo, 
editado pela editora da Universidade de Franca - UNIFRAN. Co-Organizador dos livros: 
A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea / editora CCDPE-ECM; Espiritismo 
visto pelas áreas de conhecimento atuais / editora CCDPE-ECM.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Kardecismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 O Nascimento do Espiritismo na França . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 Sócrates e Platão, Precursores da Doutrina Espírita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.4 A Cosmovisão do Espiritismo Kardecista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
1.5 O Espiritismo Kardecista como Religião no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
1.6 Principais Ritos do Espiritismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
1.7 Principais Expoentes do Espiritismo no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
Umbanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Umbanda, uma Religião Tipicamente Brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.3 Umbanda e suas Classificações . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
2.4 Teologias, Teogonias e Ritos da Umbanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Candomblé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 África Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.3 Modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.4 Colonialidade do Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.5 Candomblé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.6 Candomblé: Tateando sua Teologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
8
UAB/Unimontes - 5º Período
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Cosmovisões Ameríndias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
4.2 Cultura Ameríndia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
4.3 Panteões e Ritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77
Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83
9
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
Apresentação
Caro (a) acadêmico (a),
O presente material sobre COSMOVISÃO DAS RELIGIÕES: KARDECISMO, UMBANDA, 
CANDOMBLÉ E COSMOVISÕES AMERÍNDIAS tem como proposta apresentar as origens, funda-
mentos, ritos e aspectos relevantes dessas manifestações religiosas presentes no campo religioso 
brasileiro, onde se constituíram de forma diferenciada de outros contextos socioculturais e histó-
ricos. Com ênfase na sua cosmovisão que consideramos ser o aspecto fundamental das religiões, 
a partir do qual podemos identificar aproximações e distanciamentos entre elas.
Bons estudos!
Os autores.
11
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
UNIDADE 1
Kardecismo
Jeferson Betarello
1.1 Introdução
Prezados acadêmicos, nesta unidade apresentamos o Kardecismo e seus principais aspec-
tos, com ênfase na sua cosmovisão.
Inicialmente gostaríamos de problematizar o próprio título desta unidade, pois Kardecismo 
é um termo socialmente utilizado para nomear um grupo de adeptos da doutrina fundamentada 
nas obras de Allan Kardec. Enquanto que, para os adeptos dessa doutrina, o termo Kardecismo 
não é considerado adequado, tendo em vista que eles não seguem Kardec, mas sim os ensina-
mentos ditados pelos espíritos superiores e compilados por Kardec nos livros que fundamentam 
a doutrina espírita, os quais veremos em detalhe adiante.
Veja o que nos diz a profa. Maria Ângela Vilhena em seu livro Espiritismos, título muito su-
gestivo para a problematização, já que sugere a existência de vários tipos de Espiritismo, quando 
ela nos fala do emprego do termo Kardecista:
Espiritismo Kardecista – No entender de muitos espíritas, este subtítulo [Kar-
decista] é redundante, inadequado e impreciso. Isso porque as expressões 
“espiritismo” e “espírita” são neologismos criados por Kardec com a intenção 
de, através de palavras novas, evitar confusões com conteúdos de outros vo-
cábulos, como “espiritualismo”, por ele entendido como oposto de materia-
lismo, e “espiritualista”, que se refere a quem acredita haver em si mesmo al-
guma coisa além da matéria. Sendo assim, o vocábulo “espiritismo” somente 
pode ser aplicado àqueles adeptos que seguem fiel e unicamente a filosofia, 
a doutrina, a moral, os atos religiosos propostos nos textos kardequianos (VI-
LHENA, 2008, p. 49).
O termo Kardecismo, assim como “mesa branca”, surgiu no desenrolar das lutas para a con-
solidação do Espiritismo no Brasil. A Igreja Católica, temendo os avanços do Espiritismo no Brasil 
alargou o termo socialmente, ao enquadrá-lo juntamente com as outras religiões ditas mediú-
nicas. Houve uma tentativa de frear o crescimento do Espiritismo, ao afirmar que ele era a mes-
ma coisa que a Umbanda e outras religiões que se comunicam com os espíritos, estigmatizadas 
pela sociedade como cultos demoníacos onde ocorriam sacrifícios de animais e magia negra. Ao 
se ampliar o termo para enquadrar todas essas expressões religiosas sob o nome de Espiritismo, 
acabou-se por criar subcategorias. Hoje quando alguém fala que é espírita, um leigo pergunta 
se ele é de “mesa branca” ou “kardecista”, de Umbanda, ou de Candomblé. Veremos em mais de-
talhes as aproximações e distanciamentos do ponto de vista da consolidação dessas religiões na 
sociedade, quando tratarmos da Umbanda na UNIDADE II.
Tivemos a oportunidade de presenciar a generalização do termo espiritismo em encontros 
acadêmicos no Norte de Minas Gerais e em outras localidades, onde a Umbanda e o Candomblé 
são expressivos, ao mesmo tempo em que são estigmatizados. Lá vimos pessoas das três reli-
giões conversando e se dizendo adeptas do Espiritismo, até mesmo os adeptos do Candomblé. 
Isso parece indicar que, nesses locais, dizer-se espírita, em geral, seria mais confortável social-
mente, mesmo para aqueles que desejam se aproximar de suas origens africanas, como é o caso 
do Candomblé.
Trouxemos esta discussão para a introdução desta unidade porque entendemos que os es-
tudiosos das religiões, em especial no campo da Ciência das Religiões, devem estar atentos para 
essas particularidades tocantes à determinação ou nomeação de religiões que estudamos. Seria 
muito fácil utilizar confortavelmente o termo Kardecismo, mas preferimos deixar claro que há um 
desconforto por parte daqueles que são espíritas, ou seja, adeptos do Espiritismo segundo as de-
finições contidas nos livros de Allan Kardec, em especial na introdução de O Livro dos Espíritos.
12
UAB/Unimontes - 5º Período
Portanto, a decisão de usarmos o termo Kardecismo baseia-se no fato de que há ainda uma 
situação mal resolvida em nossa sociedade quanto ao uso do termo Espiritismo, o qual ainda en-
quadra genericamente os adeptos da doutrina espírita, da Umbanda e do Candomblé. Seguimos 
o uso que o próprio IBGE passou a fazer do termo Kardecismo desde 1966, para diferenciar o kar-
decismo da Umbanda.
Por fim,queremos enfatizar que o termo Kardecismo nunca deve ser entendido como se-
guidores de Kardec, mas como fundamentação nas obras de Kardec. Conforme o próprio Kardec 
alertou, o Espiritismo não é personificado em um indivíduo, mas sim uma criação coletiva dos 
espíritos:
A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Tes-
tamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a Terceira revelação da Lei de Deus, 
mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino 
dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos 
os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediá-
rios. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do 
mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, 
para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera (KARDEC, 2013-c, 
p. 44) (grifo nosso).
1.2 O Nascimento do Espiritismo 
na França
O Espiritismo surgiu no século XIX na França em torno de 1857, quando ocorreram fenô-
menos estranhos que chamavam a atenção das pessoas,como os das mesas girantes. As pessoas 
colocavam as mãos sobre uma mesa e a mesa levitava, girava e batia. Na década anterior (1847), 
nos Estados Unidos da América em Hydesville, ocorrera o fenômeno das irmãs Fox, com grande 
repercussão. A família ouvia barulhos pela casa e uma das irmãs provocou o início de batidas que 
a mãe na sequencia identificou como originadas por um espírito que havia sido enterrado no 
porão da casa. Porém, foi em Paris-França que o fenômeno das mesas girantes chamou a atenção 
do professor Hippolyte Léon Dezinard Rivail (1804–1869), que ficaria conhecido sob o pseudô-
nimo de Alan Kardec. Esse professor duvidava dos fenômenos relatados pelos amigos e desejou 
confirmar com os seus próprios olhos e, após algumas reuniões, onde ocorreram comunicações 
com espíritos de pessoas mortas, ele se convenceu e passou a aprofundar-se no conhecimento 
do mundo espiritual e nas consequências das relações com os espíritos. 
Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, sal-
tavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvi-
da. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa 
ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas idéias estavam longe de precisar-se, 
mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, 
naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, 
qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim 
estudar a fundo (KARDEC, 2015, p. 326). (grifo nosso)
Iniciava-se uma fase de pesquisas empreendidas por Kardec e, por meio de contatos me-
diúnicos com espíritos, compilou o que se tornaria a doutrina espírita publicada em O Livro dos 
Espíritos. O Espiritismo foi revelado ao longo de um processo metódico estabelecido por Kardec. 
O mérito dele foi utilizar reuniões mediúnicas para conhecer uma outra dimensão da existência, 
que se descortinava com a comunicação com os espíritos dos seres humanos desencarnados – o 
mundo dos espíritos.
Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, 
ainda, por meio de revelações do que de observações. Apliquei a essa nova 
ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias 
preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava,deduzia conseqüências; 
dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento ló-
13
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
gico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia 
todas as dificuldades da questão. […] percebi, naqueles fenômenos, a chave do 
problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humani-
dade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma 
revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto,andar com a maior 
circunspeção e não levianamente; ser positivista e não idealista […] (KARDEC, 
2015, p. 327-328).
Kardec buscou direcionar da maneira mais produtiva as sessões mediúnicas, com perguntas 
bem didáticas e voltadas para descobrir os aspectos da vida após a morte e todo um conjunto de 
questões filosóficas e existenciais até então sem respostas:
[…] Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos co-
lhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados uns com 
outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. 
[…] Levava para cada sessão uma série de questões preparadas e metodicamen-
te dispostas. Eram sempre respondidas comprecisão, profundeza e lógica. […] 
(KARDEC, 2015, p. 329).
Inicialmente ele queria adquirir conhecimento para si, mas percebeu que o trabalho de pes-
quisa empreendido ganhou volume, sendo possível e necessário publicá-lo para divulgar os re-
sultados obtidos, pois ganhara o corpo de uma nova doutrina, que fora metodicamente validada 
por diferentes fontes mediúnicas:
[…] Eu, a princípio, cuidara apenas de instruir-me;mais tarde, quando vi que 
aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a 
idéia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente.Foram 
aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, 
constituíram a base de O Livro dos Espíritos.[…]Estava concluído, em grande 
parte, o meu trabalho e tinha as proporções de um livro. Eu, porém, fazia ques-
tão de submetê-lo ao exame de outros Espíritos, com o auxílio de diferentes 
médiuns. […] eu trabalharia em particular com a Srta. Japhet, a fim de fazê-lo 
com mais calma e também de evitar as indiscrições e os comentários prematu-
ros do público. Não me contentei, entretanto, com essa verificação; […] posto 
em relação com outros médiuns, sempre que se apresentava ocasião eu a apro-
veitava para propor algumas das questões que me pareciam mais espinhosas. 
Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a esse trabalho. Da 
comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e 
muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira 
edição de O Livro dos Espíritos, entregue à publicidade em 18 de abril de 1857 
(KARDEC, 2015, p. 329-330).
Portanto, podemos afirmar que oficialmente, como uma doutrina, o Espiritismo surgiu na 
França em 1857 com a publicação de O Livro dos Espíritos por Alan Kardec. Esse livro contém as 
bases da doutrina revelada pelos espíritos sob a orientação dos espíritos superiores, em comuni-
cações mediúnicas nas quais respondiam as perguntas formuladas por Kardec, que examinava as 
respostas com o auxilio dos espíritos por meio de uma médium, comparando-as e validando-as, 
para somente então aceitá-las.
Na sequência, iremos rapidamente conhecer as obras que fundamentam a doutrina espírita.
◄ Figura 1: Os cinco 
livros fundamentais 
da doutrina Espírita 
(Kardecismo)
Fonte: Disponível em 
<http://www.febnet.org.
br/blog/geral/divulgacao/
downloads-divulgacao/
obras-basicas/>.
Acesso em 30 maio 2015.
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UAB/Unimontes - 5º Período
São cinco livros que fundamentam a doutrina espírita, conhecidos no meio espírita como os 
livros da Codificação, porque Kardec é considerado o codificador da doutrina e não o seu autor. 
O primeiro e principal livro é O Livro dos Espíritos. Neste, de forma ampla, são abordados 
todos os temas que são detalhadamente apresentados nos livros subseqüentes. 
Os títulos dos livros são os seguintes: 
1. O Livro dos Espíritos (1857) – que contém as bases doutrinarias, composto de 1019 per-
guntas feitas por Kardec aos espíritos superiores utilizando médiuns. As perguntas eram 
feitas para vários médiuns, depois eram analisadas por Kardec segundo critérios de concor-
dância e clarezae, posteriormente, as respostas eram selecionadas para compor o livro.
2. O Livro dos Médiuns (1861) – trata-se de um livro especialmente publicado para esclarecer 
os aspectos dos fenômenos mediúnicos e auxiliar os grupos espíritas nascentes na execu-
ção das reuniões de comunicação com os espíritos. Classifica os tipos e níveis de mediuni-
dade, de espíritos, formas de identificar espíritos e analisar as comunicações obtidas. 
3. O evangelho segundo o Espiritismo (1864) – trata da parte moral do Espiritismo, contém 
trechos do Novo Testamento comentados pelos espíritos superiores, visando esclarecer as 
máximas e parábolas dos Evangelhos à luz da Doutrina Espírita.
4. O céu e o inferno (1865) – explica as diferenças entre a Doutrina Espírita e as outras doutri-
nas religiosas, em especial a Doutrina Católica. Nele se abordam temas como o destino das 
pessoas após a morte (desencarnação), as penas eternas, o purgatório, o inferno, etc.. Em 
sua parte final traz relatos de comunicações com espíritos de mortos de diferentes níveis 
de felicidade e sofrimento segundo os seus atos enquanto vivos.
5. A gênese (1868) – onde encontramos os milagres explicados a luz da Doutrina Espírita em 
sintonia com as descobertas das ciências naturais, a origem do universo, a origem da terra e 
outros aspectos da criação.
Esses cinco livros também são chamados de obras básicas pelos kardecistas, tendo em vista 
que, para se conhecer a doutrina espírita, esses livros devem ser lidos (idealmente) e as Federa-
ções Espíritas se empenham em campanhas contínuas para que isso ocorra, pois uma das princi-
pais características do kardecismo é o estudo por meio dos livros.
Adicionalmente Kardec publicou obras complementares para a divulgação do Espiritis-
mo nascente. Assim, publicou O que é o Espiritismo (1859), visando resumir a doutrina espí-
rita para facilitar a sua divulgação; O Espiritismo em sua mais simples expressão (1862), pra-
ticamente um folheto contendo os princípios do Espiritismo com o objetivo de intensificar a 
sua propagação. Desde 1858 Kardec publicou mensalmente a Revista Espírita, que durou até 
1869, data da morte de Kardec. Nela Kardec discutia, formulava e esclarecia questões doutri-
narias, respondia aos detratores do Espiritismo, publicava cartas de comunicações mediúnicas, 
trechos dos livros complementares antes de publicá-los. Publicada hoje em doze volumes, a 
Revista Espírita é uma fonte privilegiada para pesquisa histórica sobre a institucionalização e 
constituição do Espiritismo.
Kardec também fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas-SPEE que passou a ser 
um modelo institucional a ser seguido por outros grupos de estudo. Porém, desde o início Kar-
dec foi contra a hierarquização do Espiritismo, propondo a colaboração entre todos os grupos es-
píritas com foco numa causa única de entendimento e propagação do Espiritismo para melhoria 
das pessoas e da sociedade. Este modelo é seguido ainda hoje pelas entidades representativas 
e grupos espíritas kardecistas no Brasil, ou seja, as instituições são unidas e não federadas, cada 
grupo preserva a sua autonomia e deve (idealmente) fundamentar suas práticas nas propostas 
contidas nos livros da codificação.
Portanto, o Espiritismo nasceu em Paris-França, oficialmente como doutrina em O Livro dos 
Espíritos, consolidando-se nos cinco livros da codificação, todos escritos por Kardec através de 
pesquisas e comunicações com os espíritos usando médiuns. Assim, o texto fundante do Espiri-
tismo é O Livro dos Espíritos.
Não poderíamos finalizar este tópico sem saber qual seria a definição mais sucinta do que 
seria o Espiritismo nascido na França na segunda metade do século XIX. Kardec nos responde 
no livro O que é o Espiritismo?:-“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação 
e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem 
entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dima-
nam dessas mesmas relações” (KARDEC, 2013-f, p. 40) (grifo nosso).
DICA
Para compreender me-
lhor o tema estudado, 
recomendamos o site 
Portal do Espírito: www.
espirito.org.br
15
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
1.3 Sócrates e Platão, Precursores 
da Doutrina Espírita
Na introdução do terceiro livro da codificação, O evangelho segundo o Espiritismo, no item 
“IV – SÓCRATES E PLATÃO, PRECURSORES DA IDÉIA CRISTÃ E DO ESPIRITISMO”,encontramos a li-
nha sucessória estabelecida por Kardec entre o Cristianismo e a filosofia de Sócrates e Platão. 
As grandes idéias jamais irrompem de súbito. As que assentam sobre a verdade 
sempre têm precursores que lhes preparam parcialmente os caminhos. […] Des-
se modo, não surgindo bruscamente, a idéia, ao aparecer, encontra espíritos dis-
postos a aceitá-la. Tal o que se deu com a idéia cristã, que foi pressentida muitos 
séculos antes de Jesus e dos essênios, tendo por principais precursores Sócrates 
e Platão (KARDEC, 2013, p. 31-32).
Da mesma forma, Kardec também liga o Espiritismo ao Cristianismo e, por consequência, 
com o pensamento de Sócrates e Platão, o que servirá para postular na sequência as fases evolu-
tivas de uma doutrina. Nessa linha de pensamento, é que os Espíritos colocam a Doutrina Espírita 
como uma evolução do Cristianismo, que já tinha suas bases lançadas anteriormente por Sócra-
tes e Platão. 
Ao longo da Introdução de O evangelho segundo o Espiritismo, as ligações entre Sócrates 
e Platão, o Cristianismo e o Espiritismo, vão sendo demonstradas e, mais adiante, no “Capitulo 
I-Não vim destruir a Lei”, surge a linha sucessória entre o Antigo Testamento, O Novo Testamento 
e o Espiritismo. As ligações iniciam por propor que não há ruptura, mas antes continuidade, evo-
lução do pensamento em conformidade com as sociedades e contextos temporais.
[…] Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, de-
senvolvê-la, dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento 
dos homens. 
[…] Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ele, ao contrário, as modificou 
profundamente, quer na substância, quer na forma. Combatendo constante-
mente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações 
[…] Entretanto, não disse tudo, limitando-se, respeito a muitos pontos, a lançar o 
gérmen de verdades que, segundo ele próprio o declarou, ainda não podiam ser 
compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menos implícitos. Para 
ser apreendido o sentido oculto de algumas palavras suas, mister se fazia que no-
vas idéias e novos conhecimentos lhes trouxessem a chave indispensável,idéias 
que, porém, não podiam surgir antes que o espírito humano houvesse alcançado 
um certo grau de madureza.A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a 
eclosão e o desenvolvimento de tais idéias. Importava, pois, dar à Ciência tempo 
para progredir (KARDEC, 2013, p. 43-44).
Surge a afirmação de que o Espiritismo seria o conhecimento aguardado para que aquilo 
que ficou oculto no Novo Testamento fosse entendido. Era necessário conhecer o mundo espiri-
tual e suas relações com o mundo material.
[…] O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de pro-
vas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações 
com o mundo corpóreo. […] É a essas relações que o Cristo alude em muitas 
circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou 
falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se 
explica de modo fácil (KARDEC, 2013-c, p. 44).
Estabelece a linha sucessória entre as três revelações: 1- O Antigo Testamento personificado 
em Moisés (anteriormente a Sócrates e Platão). 2- O Novo Testamento que, após as ideias gregas te-
rem sido disseminadas, surge atualizando na vozde Jesus as ideias de Moisés e criando o Cristianis-
mo. 3- A doutrina espírita que, revelando ensinamentos de espíritos superiores por meio de comu-
nicações mediúnicas, traria um significado mais profundo e claro para os ensinamentos de Jesus.
[…] A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo 
Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus 
[...] (KARDEC, 2013, p. 44).
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UAB/Unimontes - 5º Período
Surge assim a legitimação do Espiritismo como uma doutrina cristã que amplia o Novo Tes-
tamento, que não vem contrariá-lo, mas sim dar cumprimento ao que foi proposto, sendo tam-
bém obra do Cristo.
[…] Assim como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, tam-
bém o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” 
Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa 
e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma 
alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar 
a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme 
igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus 
na Terra (KARDEC, 2013-c, p. 44).
Assim, a legitimação do Espiritismo e sua autoridade como uma doutrina se dá pela ligação 
com eventos antigos e respeitáveis. Ou seja, o Espiritismo não seria algo novo, mas sim a finali-
zação de um processo antigo que iniciou com os Judeus, teve contribuições dos grandes filóso-
fos gregos Sócrates e Platão, foi finalizado por Jesus, tornando-se o Cristianismo, o qual, após sé-
culos de distorções, pela ignorância dos homens e suas instituições, foi resgatado e teve alguns 
aspectos esclarecidos pelo Espiritismo num tempo onde a ciência e o contexto histórico-social 
criaram condições para que isso ocorresse. 
CONSOLADOR PROMETIDO
3. Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos 
enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito 
de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o 
não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará 
em vós. – Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em 
meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho 
dito. (S. JOÃO, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.) […] Assim, o Espiritismo realiza o que 
Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o 
homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os ver-
dadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança (KARDEC, 
2013, p. 105-107).
O Espiritismo colocou-se frente às religiões como a terceira revelação, e o consolador pro-
metido por Jesus no Evangelho de João, em um tempo onde a Igreja Católica estava desgasta-
da pelos embates da Reforma e os ataques da ciência moderna. E como um herdeiro e ampli-
ficador dos ideais de Sócrates e Platão do ponto de vista filosófico para legitimação frente aos 
intelectuais.
1.4 A Cosmovisão do Espiritismo 
Kardecista
A partir de 1858, após o lançamento das bases doutrinárias contidas em O Livro dos Es-
píritos, a Revista Espírita passa a ser um registro histórico que acompanha toda a evolução da 
doutrina espírita. Anunciando e comentando os livros da codificação que vão surgindo, regis-
tra a difusão, a aceitação da nova doutrina e os embates com o meio social. Nela encontramos 
uma fonte de dados preciosa para estudar o Kardecismo. A edição da Revista Espírita de 1868 é 
bastante interessante para se entender a evolução do Espiritismo, tendo em vista que, logo em 
seguida, Kardec morreu (1869); portanto, a revista de 1868 foi completamente editada por ele 
num estagio final de sua vida, e nela tanto quanto nas edições de anos anteriores, podemos ver a 
consolidação de muitas partes da doutrina que foram se aprimorando ao longo do tempo, nelas 
podemos constatar a evolução do pensamento espírita no embate com o meio social e novas 
questões levantadas ao longo do tempo. 
Um excelente exemplo do valor da Revista Espírita está na citação seguinte, onde Kardec 
descreve qual seria o credo espírita, o que nos dá uma visão bastante significativa da cosmovisão 
do Espiritismo com fundamentação Kardecista:
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Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
Crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em 
sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificação do presente; 
na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adian-
tamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na 
felicidade crescente com a perfeição; [...] na igualdade da justiça para todos, sem 
exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expia-
ção limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre 
a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo 
visível e o mundo invisível; na solidariedade que religa todos os seres passados, 
presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre 
como transitória e uma das fases da vida do Espírito [...] submeter todas as 
crenças ao controle do livre-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega ; 
[...] ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, 
que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que 
pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de ado-
rar a Deus (KARDEC, 2006, p. 494-495). (grifo nosso)
Com base nessa citação, podemos concluir que o Kardecismo é monoteísta, acredita em 
Deus como algo que está fora da nossa capacidade de compreensão, pois nos faltam sentidos e 
evolução para isso. O ponto de explícita diferenciação entre o Kardecismo e o Cristianismo oficial 
é que o Kardecismo acredita na reencarnação, consequentemente na pré-existência do espírito 
em relação ao corpo. Isso tem varias consequências que o distanciam do Cristianismo oficial. A 
evolução se dá em várias existências corpóreas (encarnações) nas quais o espírito vai se burilan-
do, amadurecendo, se iluminando. Um espírito humano não pode reencarnar-se em animais, o 
espírito sempre evolui e não retrocede, isso diferencia a noção de reencarnação do espiritismo 
em relação a outras religiões reencarnacionistas. Não há condenação ou penas eternas, todos os 
espíritos nasceram simples e ignorantes e irão, por meio da reencarnação, sem quaisquer privi-
légios, evoluir até se tornarem espíritos puros, que não mais necessitarão reencarnar-se. O sofri-
mento é consequência dos atos, as penas são proporcionais e justas, sem jamais impedir o arre-
pendimento e a salvação por meio de novas encarnações. Outro ponto enfatizado na doutrina 
espírita é a aceitação das descobertas da ciência como revelação das leis naturais de Deus. Esta 
aceitação da ciência estrutura a fé dos espíritas:- “submeter todas as crenças ao controle do livre
-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega” (KARDEC, 2006, p. 495).
O Kardecismo diz que a doutrina espírita é cristã, conforme já vimos no tópico 1.2 deste ca-
derno, o que é rejeitado pelas Igrejas cristãs. Do lado das Igrejas cristãs, a rejeição se baseia prin-
cipalmente no fato de que o Kardecismo não aceita Jesus como um ser divino, especial. A dou-
trina espírita propõe que tudo foi criado por Deus, todos nascem ignorantes e evoluem, isso é 
válido também para Jesus e outros fundadores das religiões. Todos os seres humanos evoluem e 
chegarão ao nível evolutivo de Jesus. Claro que Jesus já era considerado um espírito puro quan-
do esteve entre nós com a missão de adiantar nossa evolução por meio de uma proposta que foi 
compilada por seus seguidoresnos Evangelhos. Também propõe a doutrina espírita que ela é a 
continuação dos ensinos de Jesus adaptados aos novos tempos em que a ciência nos permite ir 
mais adiante no conhecimento das coisas. A doutrina espírita agregou o conhecimento metódi-
co do mundo espiritual e de suas relações com o mundo material, mostrando o mecanismo de 
evolução para toda a criação.
1.5 O Espiritismo Kardecista como 
Religião no Brasil
Toda religião, ao ser introduzida em um novo meio social, sofre adaptações para poder inte-
grar-se ao novo ambiente sociocultural e ser aceita. 
Veremos adiante que o Kardecismo enfatizou o aspecto religião no Brasil para poder se con-
solidar como uma nova religião no campo religioso brasileiro, enquanto que na França ele enfati-
zou o seu aspecto filosófico e científico.
As obras de Kardec definem o Espiritismo como uma ciência e uma filosofia, como já vimos 
no final do tópico 1.1. Então, teria ele se tornado uma religião aqui no Brasil? Ou já na sua origem 
ele seria uma religião?
DICA
O livro “O céu e o infer-
no” de Kardec aborda 
as diferenças entre o 
Espiritismo e outras 
religiões, especialmente 
o Catolicismo, abor-
dando temas como: as 
penas eternas, o destino 
dos mortos, o infer-
no, o purgatório, etc. 
Nele podemos obter 
detalhes da cosmovisão 
espírita que o aproxi-
mam ou distanciam 
das outras religiões. A 
obra está disponível 
para download no site 
da Federação Espírita 
Brasileira (FEB): <www.
febnet.org.br>.
AtIVIDADE
Faça o download do 
livro “O céu e o inferno” 
no site da FEB <http://
www.febnet.org.br/>, 
na área de download 
das obras de Kar-
dec. Leia o índice do 
livro para conhecer os 
elementos que foram 
tratados por Kardec 
para diferenciar o 
Espiritismo de outras 
religiões. Escolha um 
dos capítulos do livro e 
faça uma síntese, iden-
tificando a visão espírita 
do item escolhido. Poste 
sua síntese no fórum de 
discussão.
18
UAB/Unimontes - 5º Período
Julgamos adequado iniciar este tópico com uma fala de Kardec na Revista Espírita de 1868, 
onze anos após a publicação de O Livro dos Espíritos, obra fundante do Espiritismo, e após afir-
mar em várias obras que o Espiritismo não era uma nova religião:
Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvi-
da, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião , e nós nos van-
gloriamos por isto, porque é a doutrina que funda os vínculos da fraternidade e 
da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre 
bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.
Kardec, após longos anos negando que o Espiritismo seria uma religião, ao final admite que 
é uma religião e também explica porque teria negado isso anteriormente:
Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão 
de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na 
opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta ex-
clusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo 
se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma 
variante, se se quiser, dos princípios absolutos em material de fé; uma casta sa-
cerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios ; não o 
separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a 
opinião se levantou. Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma 
religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um 
título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simples-
mente se diz: doutrina filosófica e moral (KARDEC, 2006, p.491).
Assim, Kardec desde o início tentou negar a condição de uma nova religião, mas, após o im-
pacto inicial que o Espiritismo provocou na sociedade francesa e ao alcançar sucesso em termos 
de divulgação e adesão de grupos por toda a França, Kardec, um ano antes de sua morte (1969), 
terminou por afirmar que o Espiritismo era sim uma religião, porém, ressalvando que não seria 
no formato eclesial. Kardec rejeitou o termo religião porque vivia numa época de grande em-
bate entre os dogmas da Igreja Católica e os partidários do Racionalismo e do Positivismo, que 
acreditavam que a ciência substituiria a religião, pois, com o tempo tudo explicaria, sem deixar 
mistérios insolúveis.
Então, agora podemos responder uma das questões colocadas no início deste tópico:- Sim. 
O espiritismo já era uma religião na França.
No Brasil, mesmo entre os espíritas kardecistas, há aqueles que rejeitam o Kardecismo como 
uma religião, porém a sociedade brasileira, o IBGE, os acadêmicos, e a maioria dos kardecistas 
têm o Espiritismo como uma religião.
A aceitação no meio social brasileiro e a ênfase no aspecto religioso se deram pelas caracte-
rísticas do povo brasileiro e por causa do campo religioso e simbólico aqui encontrado. Já havia 
aqui implantado um Catolicismo colonial português sincretizado com os cultos afros, o povo já es-
tava acostumado com a mediação, seja pelos santos na Igreja Católica, seja pelos espíritos nos cul-
tos afros. O Kardecismo aproveitou-se desta condição e da abertura a novas religiões criada pela 
separação entre Igreja e Estado com a proclamação da República. Assim nos esclarece Vilhena:
A religiosidade brasileira impregnada pelo misticismo devocional, pelo milagre, 
pelo maravilhoso, pelo fascínio em relação ao mistério, pela crença em espíritos, 
pela possibilidade de intercomunicação e interação entre vivos e mortos, favo-
recerá em meados do século XIX a aceitação, em acomodações singulares, da 
doutrina espírita proposta por Kardec (VILHENA, 2008, p. 41).
Do ponto de vista acadêmico, Renato Ortiz afirma que o Espiritismo chegou ao Brasil em 
1953 e, em 1865, com a formação de um grupo espírita em Salvador torna-se “verdadeiramente 
uma religião” (ORTIZ, 1999, p. 40).
Posteriormente, na primeira metade do século XX, conforme Lewgoy (LEWGOY, 2004), Chico 
Xavier foi o responsável por consolidar o Espiritismo no Brasil, construindo as pontes com o cam-
po simbólico religioso brasileiro, mais especificamente com o Catolicismo.
Ao abordar Chico Xavier como um mediador religioso e cultural, estou afirmando 
que ele, mais do que um médium influente, desempenhou um papel decisivo na 
fabricação de costuras entre os sistemas éticos e cosmológicos opostos do carma 
e da graça, assim como aproximou “por baixo” o catolicismo e o espiritismo [...] 
(LEWGOY, 2004, p. 14).
19
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
Também Sandra Jacqueline Stoll (STOLL, 2003) apresenta Chico Xavier como o responsável, 
por meio de sua obra literária, por introduzir um modo de ser espírita no Brasil e também por 
encarnar esse modelo:
[...] o exposto é suficiente para evidenciar o fato de que esse tipo de personagem 
[dos livros de Chico] – pessoas virtuosas, porém sofredoras – representam o mo-
delo ideal de espiritualidade espírita [...] Apresentando-se como um contraponto 
a vida dos santos, as personagens que na literatura espírita encarnam esse mo-
delo são apresentadas como sendo “espiritualmente superiores”, daí desempe-
nharem, como aqueles, uma função exemplar [...]. (STOLL, 2003, p. 103).
Ao chegar ao Brasil, o Espiritismo legitimou-se socialmente por meio do atendimento ao pú-
blico, fornecendo alívio espiritual e material, curas e uma cosmovisão mais adequada ao contex-
to social, político e histórico. O Espiritismo consolidou-se por meio de figuras importantes como 
Chico Xavier e, bem antes dele, Bezerra de Menezes (falaremos em tópico específico sobre os ex-
poentes do kardecismo). Essas pessoas serviram de modelo de fé na nova doutrina, postura ética 
cristã, prática incondicional da caridade, enfatizando o lema doutrinário já proposto por Kardec 
nocapítulo XV do livro O evangelho segundo o Espiritismo: “Fora da caridade não há salvação” 
(KARDEC, 2013-c, p. 207). Portanto, enfatizaram o aspecto religioso do Kardecismo ao difundir a 
doutrina e usaram seus pressupostos para consolar e curar as dores dos indivíduos.
O que podemos afirmar é que, embora o Kardecismo já fosse uma religião na origem, deu-
se no Brasil uma ênfase quase que total neste aspecto, ou seja, aqui ele é uma religião e relegou 
ao segundo plano o aspecto científico proposto por Kardec. 
1.6 Principais Ritos do Espiritismo
Para os kardecistas não existem rituais no Espiritismo. Acreditamos que isso se deve aos res-
quícios de anti-clericalismo existentes nas bases doutrinarias. Alegam que suas reuniões são sé-
rias, porém sem rituais, acreditamos também que isso se deva à comparação da prática kardecis-
ta com os elaborados rituais existentes no Catolicismo. Porém, no sentido mais básico de ritual, 
que é dar uma ordem e marcar um início e fim de um tempo diferente do comum em um espaço 
especial, podemos dizer que o kardecismo tem rituais, como confirma VILHENA (2005),
Os ritos religiosos, razão fundamental para a construção de espaços sagrados, 
são, simultaneamente, oportunidades de encontro interpessoal, de estabeleci-
mento de vínculos e solidariedades entre os adeptos daquela religião. Consti-
tuem espaços alternativos e criativos que suturam, com fios simbólicos, o teci-
do social (VILHENA, 2005, p. 118). (grifo nosso)
[...] onde houver vida social, ali estarão os rituais. Cotidianos ou esporádicos, mar-
cados previamente ou aleatórios, simples ou complexos, sagrados ou profanos, 
ali estarão os ritos a permitir que os sujeitos individuais e coletivos expressem, 
socialmente, as articulações entre as subjetividades e as objetividades de que 
são portadores (VILHENA, 2005, p. 157).
Assim, consideramos como principais exemplos de ritos kardecistas:
1. Uma reunião kardecista é iniciada e terminada por uma prece de agradecimento e pedidos 
de proteção para a reunião. Isso é feito, geralmente, diminuindo-se a iluminação do am-
biente.
2. O passe. Que consiste na transmissão de energia de uma pessoa assistida por espíritos ele-
vados para outra que esteja necessitada de energias espirituais. Sempre é recomendado 
que se pense em Jesus neste momento.
3. A fluidificação da água. Que seria a transformação da água num remédio específico para os 
males físicos e espirituais da pessoa.
4. As sessões mediúnicas. Que requerem espaço preparado para ser protegido espiritualmen-
te, a fim de receber os espíritos. E onde se deve ter uma postura de silêncio e respeito.
5. O estudo do Evangelho no Lar. Reunião familiar para estudo do livro O evangelho segundo 
o Espiritismo, onde se deve preparar o ambiente, fazer prece inicial e final, vibrações pelos 
necessitados, leitura e interpretação do texto lido.
DICA
Para auxiliar nos estu-
dos, sugerimos a leitura 
do livro “UNIR PARA 
DIFUNDIR” (BETARELLO, 
2010). Sobre a adapta-
ção do Espiritismo Kar-
decista no Brasil e suas 
particularidades, veja 
os livros de LEWGOY 
(2004) e STOLL (2003). 
As referidas leituras 
ajudarão na compreen-
são da consolidação do 
Espiritismo no Brasil e a 
discussão sobre o status 
de religião do Espiri-
tismo.
DICA
Para compreender me-
lhor o tema, sugerimos 
a leitura do livro “Perso-
nagens do Espiritismo” 
de Paulo Godoy e Anto-
nio Lucena. A obra trata 
da vida de personagens 
do Espiritismo. Acesse 
o endereço eletrônico e 
confira:
<http://bvespirita.
com/Personagens%20
do%20Espiritismo%20
(Antonio%20de%20
Sousa%20Lucena%20
e%20Paulo%20
Alves%20de%20Go-
doy).pdf>
20
UAB/Unimontes - 5º Período
1.7 Principais Expoentes do 
Espiritismo no Brasil
Existem várias pessoas que representam o ideal espírita concretizado no Brasil. Alguns deles 
conhecidos no meio social em maior ou menor grau, outros são muito conhecidos entre os espí-
ritas, neste caso, alguns são modelos admirados por sua conduta e, em ambos os casos, encon-
tram-se Chico Xavier e Divaldo Franco. Outros se destacam pela sua importância como escritores 
e/ou líderes de instituições espíritas que, conforme encontramos em sites espíritas contribuíram 
significativamente para a sobrevivência e consolidação do Espiritismo na sociedade brasileira.
Já que Chico Xavier e Divaldo Franco são bastante conhecidos do público em geral, autores 
de centenas de livros psicografados que foram traduzidos para vários idiomas, com bibliografia 
facilmente encontrada na internet, palestrantes internacionais que levaram o Espiritismo para ou-
tras terras, inclusive com premiações em órgãos internacionais; decidimos aqui listar outros ex-
poentes importantes e que são conhecidas quase que somente pelas lideranças espíritas dando 
nomes a varias instituições espíritas. Essas pessoas contribuíram para a institucionalização do Kar-
decismo como uma religião respeitada e aceita em nossa sociedade, após grande esforço e lutas:
1. Adolfo Bezerra de Menezes (Ceará, 1831 - Rio de Janeiro, 1900), médico, político, como pre-
sidente da Federação Espírita Brasileira apaziguou as diferentes vertentes espíritas de sua 
época. Grande exemplo de homem público e espírita converteu-se do Catolicismo ao Espi-
ritismo, arriscando a sua prestigiada posição social, impactando positivamente a consolida-
ção e crescimento do Espiritismo no final do século XIX. 
2. Anália Franco (Rio de Janeiro, 1856 - São Paulo, 1919), educadora, fundou diversas insti-
tuições educacionais femininas, destacou-se como uma mulher forte, reconhecida em uma 
época onde as mulheres eram donas de casa, como a Grande Dama da Educação.
3. Antônio Gonçalves da Silva Batuíra (Portugal, 1839 - São Paulo 1909) disponibilizou toda a 
sua inteligência e recursos financeiros para a fundação de instituições espíritas e divulga-
ção por meio da imprensa. Chegou a publicar um jornal com tiragem superior aos jornais 
diários da capital paulista.
4. Artur Lins de Vasconcelos Lopes (Paraíba, 1891-1952 São Paulo), destacado orador e divul-
gador do espiritismo, possuindo grande riqueza que disponibilizava para a caridade, foi 
chamado de “O Banqueiro dos pobres”, sendo exemplo de grande desapego das riquezas 
materiais. Colaborou grandemente com o movimento espírita do Estado do Paraná.
5. José Herculano Pires (São Paulo, 1914-1979), jornalista, filósofo, publicou mais de 80 livros. 
Traduziu as obras de Kardec com grande cuidado e notas para estudo. Fundou o Clube dos 
Jornalistas de São Paulo. É considerado pelos espíritas aquele que melhor conheceu a obra 
de Kardec – “o metro que melhor mediu Kardec”. Era admirado pela sua firmeza e coerência 
doutrinaria.
▲
Figura 4: Adolfo Bezerra de 
Menezes
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
 Acesso em 08 jun.2015.
▲
Figura 3: Divaldo Pereira 
Franco
Fonte: Disponível em <http://
www.divaldofranco.com.br/
fotos_categorias. php>.
Acesso em 30 maio. 2015.
▲
Figura 2: Francisco Candido 
Xavier (Chico Xavier)
Fonte: Disponível em <http://
chico-xavier.com/galeria-do-
chico/>.
Acesso em 30 maio. 2015.
21
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
6. Augusto Militão Pacheco (São Paulo, 1866-1954), médico dedicado, reconhecido pelos seus 
pacientes, exemplo de virtude e dedicação, foi um dos fundadores da Federação Espírita do 
Estado de São Paulo.
7. Caírbar Schutel (Rio de Janeiro, 1868 -São Paulo, 1938), farmacêutico, grande orador, com-
bateu os detratores do Espiritismo. Fundou em Matão-SP, a Casa Editora O Clarim, que ain-
da hoje é um dos mais antigos órgãos da imprensa espírita.
8. Corina Novelino (Minas Gerais, 1912-1980) fundou casas de amparo sendo reconhecida 
como uma pessoa muito caridosa na cidade de Sacramento-MG, dando continuidade aobra de Eurípedes Barsanulfo naquela cidade.
9. Eurípedes Barsanulfo (Minas Gerais, 1880-1918), grande educador, fundou uma das mais fa-
mosas escolas espíritas, o Colégio Allan Kardec, em Sacramento-MG. Considerado um gran-
de médium que se dedicou a sociedade onde viveu, morreu reconhecido como pessoa cari-
dosa e exemplo de espírita.
10. Pedro Camargo Vinícius (São Paulo, 1878-1966), grande orador espírita, contribuiu muito no 
campo das artes e educação espíritas, participou de importantes instituições representati-
vas do Espiritismo.
Muito já foi escrito sobre Chico Xavier e Divaldo Franco, mas há grande espaço para pesqui-
sas acadêmicas direcionadas aos personagens acima citados, visando trazer para fora do ambien-
te exclusivamente espírita o conhecimento das obras dessas pessoas, podendo tratar suas vidas 
e obras sob diferentes abordagens no âmbito da Ciência das religiões, como, por exemplo, o im-
pacto por elas causado no meio social fora das fronteiras espíritas.
▲
Figura 5: Anália Franco
Fonte: Disponível em< http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015.
▲
Figura 8: José Herculano Pires
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>. Acesso em 
08 jun.2015.
▲
Figura 9: Augusto Militão 
Pacheco
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
 Acesso em 08 jun.2015.
▲
Figura 10: Caírbar Schutel
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015.
▲
Figura 6: Antônio Gonçalves 
da Silva Batuíra
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>. Acesso em 
08 jun.2015.
▲
Figura 7: Artur Lins de 
Vasconcelos Lopes
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015.
22
UAB/Unimontes - 5º Período
Referências
BASTIDE, Roger. O Candomblé na Bahia. São Paulo: Companhia das letras, 2005.
BETARELLO, Jeferson. Unir para difundir – o impacto das federativas no crescimento do Espiri-
tismo. São Paulo: UNIFRAN, 2010. Disponível em <http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/ar-
quivo.php?codArquivo=9939>
KARDEC, Allan. A Gênese. 53. ed. Brasília: FEB, 2013-a. Disponível em <http://www.febnet.org.
br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 jun.2015.
KARDEC, Allan. O céu e o inferno, ou, a justiça divina segundo o espiritismo. 61. ed. Brasília: 
FEB, 2013-b. Disponível em <http://www.febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divul-
gacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 jun.2015.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2013-c. Disponível 
em <http://www.febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. 
Acesso em 08 jun.2015.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília: FEB, 2013-d. Disponível em <http://www.
febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 
jun.2015.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 81. ed. Brasília: FEB, 2013-e. Disponível em <http://www.
febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 
jun.2015.
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo?. 56. ed. Brasília: FEB, 2013-f. Disponível em <http://www.
febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 
jun.2015.
KARDEC, Allan. Obras póstumas. nd.Brasília: FEB, 2015. Disponível em <http://www.febnet.org.
br/blog/geral/divulgacao/downloads-divulgacao/obras-basicas/>. Acesso em 08 jun.2015.
KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos – Ano décimo primeiro -1868. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006.
LEWGOY, Bernardo. O grande mediador: Chico Xavier e a cultura brasileira. Bauru, SP: EDUSC, 
2004.
ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro: umbanda e sociedade brasileira. 2. ed. São 
Paulo: Brasiliense, 1999.
DICA
Para aprofundar o tema 
estudado, verifique a 
lista de livros psicogra-
fados por Chico Xavier, 
onde constam 412 
títulos. Acesse o ende-
reço eletrônico: <http://
www.oconsolador.com.
br/linkfixo/biblioteca-
virtual/chicoxavier/lista-
cronologica.html>.
Recomendamos tam-
bém as biografias em 
livro que estão dispo-
níveis na livraria do 
Centro de Cultura Do-
cumentação e Pesquisa 
do Espiritismo-Eduardo 
Carvalho Monteiro:
<http://www.ccdpe.org.
br/categoria-produto/
biografia/>.
▲
Figura 11: Corina Novelino
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015.
▲
Figura 12: Eurípedes 
Barsanulfo
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015..
▲
Figura 13: Pedro Camargo 
Vinícius
Fonte: Disponível em <http://
www.espirito.org.br/portal/bio-
grafias/index.html>.
Acesso em 08 jun.2015..
23
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
STOLL, Sandra Jacqueline. Espiritismo à brasileira. São Paulo: EDUSP/Editora Orion, 2003.
VILHENA, Maria Ângela. Espiritismos: limiares entre a vida e a morte. São Paulo: Paulinas, 2008.
VILHENA, Maria Ângela. Ritos: expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005.
Site
Portal do Espírito. Biografias. Disponível em <http://www.espirito.org.br/portal/biografias/in-
dex.html>. Acesso em 08 jun.2015.
25
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
UNIDADE 2
Umbanda
Jeferson Betarello
2.1 Introdução
Prezados acadêmicos, nesta unidade apresentamos a Umbanda, que é considerada uma re-
ligião nascida no Brasil dentro de um ambiente sociocultural e religioso específico, no qual convi-
via o Catolicismo popular, as práticas “religiosas” indígenas, os cultos afros trazidos pelos escravos 
e o Kardecismo.
Buscaremos nesta unidade apresentar tanto o pensamento mais difundido sobre a origem 
da Umbanda quanto os questionamentos de alguns autores sobre a complexidade de se locali-
zar historicamente o nascimento de uma nova religião. Iremos elencar as diferentes classificações 
que a manifestação desta religião ganhou em seu contato com a sociedade e em suas relações 
de identidade frente ao Kardecismo e ao Candomblé. Finalizaremos com a cosmovisão da Um-
banda e seus rituais.
Cabe um alerta inicial, como ficará claro ao longo da Unidade, a Umbanda é uma religião 
plástica, flexível em termos de expressão ritualística. Aqui estamos tratando dos aspectos mais 
básicos da Umbanda, os quais foram documentados academicamente a partir da década de 
1960, nos Estados de São Paulo e, mais especialmente, no Rio de Janeiro, então capital federal. 
Fica evidente que, em outras regiões do Brasil, a Umbanda toma formas diferentes, adaptando-se 
ao meio sociocultural onde se insere, como no caso do Estado de Minas Gerais e, mais especifica-
mente, na região de Montes Claros, fato que a profa. Angela Cristina Borges Marques já abordou 
em sua dissertação de mestrado sob o título UMBANDA SERTANEJA: Cultura e religiosidade no ser-
tão norte-mineiro, relacionado nas referências ao fim desta Unidade. 
2.2 Umbanda, uma Religião 
Tipicamente Brasileira
É comum ouvirmos dizer que a Umbanda é 
uma religião sincrética, ou seja, uma junção de ele-
mentos do Catolicismo popular, do Kardecismo, de 
cultos de matriz africana e elementos de matriz in-
dígena. Entretanto, queremos ressaltar logo de saí-
da que esta seria uma visão muito simplista. Con-
cordamos com a profa. Brígida Malandrino quando 
nos informa que:
Cabe notar que a umbanda, 
mesmo sendo uma religião 
de formação sincrética, dife-
rente da primitiva macumba, fez mais do que simplesmente aglutinar aspectos 
de diferentes religiões. Elase forma a partir de elementos de diversas culturas e 
da síntese de todos eles, em certo sentido, gerando um todo integrado, mesmo 
que em constante mutação e tensão entre os seus componentes. Portanto, deve 
ser entendida como uma síntese, isto é, a superação qualitativa de contradições 
advindas de várias linhas religiosas através de um processo contínuo, que se faz 
de maneira lenta e gradual (MALANDRINO, 2006, p. 95).
◄ Figura 14: Bandeira da 
Umbanda
Fonte: Disponível em 
<http://marianodexango.
blogspot.com.br/2012/04/
bandeira-oficial-da-reli-
giao-de-umbanda.html>.
Acesso em 30 maio. 2015.
26
UAB/Unimontes - 5º Período
A Umbanda, ao unir elementos de outras expressões religiosas brasileiras, passou a consti-
tuir uma nova religião tipicamente brasileira, mas, num processo longo que ainda perdura, inte-
grando elementos de outras religiões.
Encontramos geralmente a informação de que a Umbanda foi fundada, historicamente, pelo 
médium Zelio de Moraes que, aos 17 anos de idade, sofrendo de problemas de saúde buscou 
um centro espírita Kardecista. Naquela sessão, do dia 15 de novembro de 1908, manifestaram-se 
espíritos de índios (caboclos) e escravos (pretos velhos), os quais foram repelidos pelo dirigente 
da sessão espírita. Foi quando teria se manifestado o caboclo das Sete Encruzilhadas, criticando a 
atitude do dirigente kardecista e informando que,como ali era proibida a manifestação de espíri-
tos de índios e escravos, considerados atrasados, ele fundaria uma nova religião no dia seguinte. 
No dia 16 de novembro de 1908, na casa de Zelio de Moraes, foi fundada a religião denominada 
Umbanda, baseada nos Evangelhos cristãos, na prática da caridade e atenderia gratuitamente a 
quem dela necessitasse. Este seria o mito fundante da Umbanda na opinião daqueles que acre-
ditam num processo historicamente ocorrido no início do século XX, associado às demandas so-
ciais de cidades em franca urbanização, como ocorreu no Rio de Janeiro, onde a Umbanda nas-
ceu formalmente na data citada.
Assim como o Kardecismo (por exemplo) afirma ser o resgate do Cristianismo, a Umbanda 
seria o resgate de uma religião superior, perdida num tempo distante em civilizações avançadas 
que morreram, conforme podemos observar em sites de divulgação da Umbanda na internet.
De uma forma ou de outra, com um mito fundante lastreado em eventos próximos ou dis-
tantes, a Umbanda surgiu no Brasil em um momento histórico definido por características parti-
culares que contribuíram para a sua sobrevivência, aceitação e crescimento. Ortiz descreve este 
contexto da seguinte forma:
A Umbanda não é uma religião do tipo messiânico, que tem uma origem bem 
determinada na pessoa do messias, pelo contrário, ela é fruto das mudanças 
sociais que se efetuam numa direção determinada. Ela exprime assim, atra-
vés de seu universo religioso, esse movimento de consolidação de uma so-
ciedade urbano-industrial. Não se trata, portanto de reencontrar o seu foco de 
irradiação (onde e quando a palavra Umbanda aparece pela primeira vez, tarefa 
que se revela inútil), mas de compreender como um movimento de desagrega-
ção das antigas tradições afro-brasileiras pode ser canalizado para formar uma 
nova modalidade religiosa (ORTIZ, 1999, p. 32). (grifo nosso)
Dessa forma, conforme nos diz Ortiz, socialmente nos importa saber quais elementos no 
contexto social contribuíram para o surgimento de uma nova religião, a Umbanda, formalmente 
no início do século XX. Entre os motivos por ele elencados, estão a fragmentação dos cultos afro
-brasileiros num contexto de urbanização que possibilitava a ascensão dos negros, a rejeição da-
quilo que lembrava o passado escravo, penetração do Kardecismo nas camadas mais populares 
e pobres, misturando-se com elementos dos cultos afro-brasileiros, criando assim, aquilo que na 
época foi chamado de “baixo espiritismo”, ou seja, um Kardecismo misturado com práticas “pri-
mitivas”. Tudo isso em conjunto com a vontade política de branqueamento da história nacional e 
constituição de valores genuinamente brasileiros para a constituição de uma nacionalidade (Cf. 
ORTIZ, 1999, p. 31-36).
De forma mais explícita, Bastide (1985) expõe os elementos envolvidos no processo de ela-
boração da Umbanda, no que toca à aceitação no contexto em que surgiu:
No domínio dos fatos, tal como eles se apresentavam aos fundadores, a religião 
africana surgia como uma grosseira mistura de elementos, dentre os quais al-
guns bem podiam ser admitidos pelos espíritos evoluídos: a comunicação com 
os espíritos, por exemplo; mas em que outros chocavam a mentalidade civiliza-
da, tais como sacrifícios de animais e danças orgiásticas. Daí, a cisão da macumba 
do Rio em duas: o espiritismo de Umbanda, que conservará apenas os elementos 
civilizados, e a magia de Quimbanda, que se ligará as forças demoníacas. Essa ci-
são permitiu valorizar a tradição ancestral, esvaziando-a de tudo quanto revolta 
o homem na atualidade (BASTIDE, 1985, p. 443-444).
E continua revelando os agentes envolvidos no processo e a lógica que os norteou, para 
criar uma religião que se situaria entre o Kardecismo e os cultos afro-brasileiros - a Umbanda.
Mas os fundadores, que saíam a um tempo do Kardecismo e da macumba, tinham 
uma tarefa a cumprir: unir o culto dos deuses da natureza à descida dos espíri-
tos dos mortos nos corpos dos médiuns. Após a ruptura com a pura macumba, a 
27
Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
síntese. Ora Allan Kardec, justamente, fornecia um elemento de solução. Não sus-
tentava ele que os espíritos formam no espaço grupos ou falanges constituídos 
por entidades situadas no mesmo nível moral ou intelectual, que se reuniriam em 
conseqüência de suas afinidades? Não se poderia pensar, nessas condições, que 
ao lado dos grupos profissionais que Kardec imagina, um grupo de espíritos de 
sacerdotes, descendo principalmente nos padres médiuns, um grupo de intelec-
tuais desencarnados, atraídos principalmente pelos sábios metafísicos, existiriam 
falanges de caboclos ou falanges de negros velhos? E não se poderia considerar 
que esses grupos do espaço interplanetário obedeciam a chefes que seriam os 
deuses do candomblé? Temos aí as bases sobre as quais vão-se edificar a dogmá-
tica, bem como o ritual de Umbanda (BASTIDE, 1985, p. 444).
Dessa forma, utilizando a lógica Kardecista sobre a organização dos espíritos por afinidade 
no espaço, justificaram-se as falanges da Umbanda e a criação de suas linhas com os orixás afri-
canos no comando de cada uma, pois Deus está fora do mundo dos humanos.
Assim, fechamos este tópico, tendo mostrado o nascimento da Umbanda no Brasil através 
da apropriação de elementos da matriz africana, do Catolicismo, do Kardecismo, e da matriz in-
dígena. Do catolicismo, a ideia de um único Deus e da mediação que passou dos Santos para os 
espíritos guias. Dos cultos africanos também a ideia de um Deus único, mas que não se envolve 
com as coisas humanas que ficam por conta dos Orixás, que se segmentam em especialidades, 
conforme as forças envolvidas. Do Kardecismo, a comunicação com os espíritos, que na Umban-
da é a base da pirâmide das suas sete linhas, tendo os Orixás no comando de cada uma delas. 
Dos indígenas a figura do caboclo que conhecia o território e as nossas matas, as ervas de cura 
e que representava a força do guerreiro que não foi dominado pelo colonizador, atendendo aos 
anseios de um mito fundante do Brasil como um povo.
Do ponto de vista sociológico, tratamos da formação da Umbanda como uma religião brasi-
leira, as motivações para a sincretização e ressignificação dos elementos que foram fundidos, re-
sultando em uma nova religião. Aspectos sociais e políticos como a luta de interesses entre gru-
pos, ascensão de classe, racismo, são forças que atuaram no cenário do nascimento da Umbanda.Mas gostaríamos de finalizar o tópico dizendo algo sobre o valor da Umbanda enquanto 
uma religião que alivia a dor daqueles que a buscam e este é um dos principais papeis de uma 
religião, dar sentido e alívio às vidas das pessoas, e ela o faz com uma simplicidade e abertura 
muito distinta de outras religiões.
Não fossem as necessidades materiais de uma sociedade pobre, somadas ao repúdio a tudo 
que tinha origem negra e a rejeição do Kardecismo em aceitar espíritos de índios e negros se co-
municando em suas sessões, a Umbanda poderia não ter nascido. 
O que estamos querendo dizer é que pode haver muito mais envolvido no contexto de for-
mação da Umbanda, porém acreditamos ter abordado os principais fatores que contribuíram 
para que essa religião nascesse no Brasil no início do século XX. 
Se a Umbanda não for respeitada pelo que prega e pratica, ao menos ela deveria ser res-
peitada por ser uma religião que é fruto da interseção das principais religiões que compõem o 
campo simbólico brasileiro. A Umbanda, além de religião, é uma expressão cultural riquíssima 
que tem muito ainda a fornecer à pesquisa, oferecendo excelentes oportunidades de estudo aos 
especialistas da Ciência das Religiões.
BOX 1
UMBANDA
Na internet podemos encontrar sites de instituições e seguidores da Umbanda onde são 
citadas as origens da Umbanda, compondo assim o que costumamos chamar de mito fundan-
te de uma religião, que são eventos que teriam ocorrido em um passado distante e não docu-
mentados, os quais atribuem antiguidade a uma nova religião, com o objetivo de legitimá-la 
frente a outras existentes. 
Num dos sites encontramos informações sobre a origem milenar da Umbanda que seria 
herdeira de um passado ligado a uma religião já praticada na mítica Atlântida por um povo 
muito evoluído. E teria nascido no Brasil com o nome de Umbanda por determinação de espí-
ritos superiores que viveram em tempos remotos.
Fonte: Disponível em <http://www.genuinaumbanda.com.br/a_umbanda.htm>. Acesso em 30 maio. 2015.
DICA
Confira o Hino da 
Umbanda disponível no 
endereço eletrônico:
<https://www.youtube.
com/watch?v=8zzoP-
w3Mz0s>
28
UAB/Unimontes - 5º Período
2.3 Umbanda e suas Classificações
Focando nas expressões da Umbanda no Sul do Brasil, Concone entrevistou um umbandis-
ta, Cavalcanti Bandeira, e dele obteve o seguinte quadro classificativo, para distinguir as manifes-
tações da Umbanda observada por ele nos terreiros (Cf. CONCONE, 1987, p. 74):
1. Umbanda “espiritista”, “de mesa”. Constitui-se numa fase intermediária entre 
as Umbandas e o espiritismo de A. Kardec. Veremos que esta é a forma mais 
“despida” e uma das que mais insiste na necessidade de desligar a Umbanda 
de influências “primitivistas”.
2. Umbanda “ritualista” ou “de salão”. As características marcantes desta são, 
segundo Cavalcanti Bandeira, o uso da roupa branca e das palmas (sendo, 
entretanto, que a roupa branca é característica comum). O interessante é 
o uso das palmas para marcar os trabalhos, ao invés de instrumentos de 
percussão. Esta linha, diz Bandeira, segue a orientação do Caboclo Mirim e 
insiste na influência indígena, e não na africana, como responsável maior 
pela origem e formação da Umbanda. 
3. Umbanda “ritmada”, “de terreiros”. Segundo o mesmo informante, a caracte-
rística marcante deste tipo de Umbanda é o uso do toque de atabaque para 
marcar o ritmo e andamento da cerimônia. Existe de acordo com Bandeira, 
“um pouco de africanismo e de obrigações de Candomblé”.
4. Umbanda “ritmada e ritualizada”. Esta forma de Umbanda seria aquela que 
pratica um ritual mais próximo do encontrado nos Candomblés. Cavalcanti 
Bandeira, fazendo blague, chama esta forma de “Umbandomblé”, o que não 
deixa de ser uma forma de caracterizá-la. O culto Omolocô, por exemplo, es-
taria nesta categoria, com todo o seu complexo ritual e sua magia exotérica 
(CONCONE, 1987, p. 74).
A autora insere uma nota ao final da página informando que, segundo o entrevistado, o tipo 
2 seria aquele mais encontrado nos terreiros e que esse seria o futuro da Umbanda.
Não obstante, acreditamos ser o tipo 1 aquele que mais se aproxima do Kardecismo, e pude-
mos observar em alguns centros espíritas ditos kardecistas este tipo de prática, também verifica-
mos a existência de terreiros que deixaram há pouco tempo de usar atabaques, bebidas e fumo; 
o que sugere que ainda há grupos transitando pelos tipos aqui elencados, o que prova que as 
religiões são vivas e adaptáveis aos contextos ao longo do tempo.
2.4 Teologias, Teogonias e Ritos 
da Umbanda
A Umbanda é monoteísta, acredita em um Deus único, onipotente e não representável, 
que corresponderia a Zambi do povo Banto e a Olorum dos Iorubas. Assim como para os cultos 
afros, a divindade não entra em contato com a realidade humana, também Deus na Umbanda 
fica fora do universo, e são os orixás e seus exércitos (das 7 linhas e falanges) que atuam junto 
aos humanos.
Porém, diferentemente do Candomblé, na Umbanda os deuses africanos não descem (in-
corporaram) para dançar entre os humanos, eles foram substituídos pelos espíritos que vêm de 
Aruanda para “cavalgar” os médiuns (cavalos) e se manifestarem: 
Ogum, deus da guerra, Oxossi, deus da caça, cedem seus lugares aos caboclos 
Rompe-Mato e Arranca-Toco. As raízes africanas, seiva preciosa que alimenta a 
vida do candomblé, são cortadas e metamorfoseadas; os deuses evocarão daqui 
por diante simplesmente o nome das diferentes linhagens as quais os espíritos 
umbandistas pertencem (ORTIZ, 1999, p. 70).
Há um esquema de atribuições para as forças espirituais que constituem as forças do univer-
so, com missões e atribuições específicas. Na Umbanda, essas forças se organizam em sete linhas 
(Cf. ORTIZ, 1999, p. 79):
AtIVIDADE 
Acesse sites da internet, 
buscando sites que 
discutam as origens 
e as classificações da 
Umbanda. Identifique e 
liste alguns elementos 
que não foram trata-
dos neste caderno. Em 
seguida envie por meio 
do fórum de discus-
são da unidade ao 
professor, para que os 
elementos identificados 
sejam apresentados no 
fórum, visando ampliar 
o conhecimento sobre 
as origens e classifica-
ções da Umbanda.
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Ciências da Religião - Cosmovisão das Religiões Kardecismo, Umbanda, Candomblé e Cosmovisões Ameríndias
Cada “linha” é composta de sete legiões, dirigidas por sete Orixás principais que não “des-
cem”, isto é, não se manifestam no corpo dos adeptos. São eles:
a) Linha de Oxalá 
 1. Caboclo Urubatão
 2. Caboclo Ubirajara 
 3. Caboclo Ubiratã 
 4. Caboclo Aymoré
 5. Caboclo Guaracy 
 6. Caboclo Guarany 
 7. Caboclo Tupy
b) Linha de Iemanjá 
 1. Cabocla Yara
 2. Cabocla Indayá
 3. Cabocla Nanã-Burucu
 4. Cabocla Estrela do Mar 
 5. Cabocla Oxum 
 6. Cabocla Iansã 
 7. Cabocla Sereia do Mar 
c) Linha de Xangô 
 1. Xangô Kaô
 2. Xangô 7 Montanhas 
 3. Xangô 7 Pedreiras 
 4. Xangô Pedra Preta 
 5. Xangô Pedra Branca 
 6. Xangô 7 Cachoeiras 
 7. Xangô Agodô
d) Linha de Ogum 
 1. Ogum de Lei 
 2. Ogum Yara
 3. Ogum Megê
 4. Ogum Rompe-Mato 
 5. Ogum Malê
 6. Ogum Beira-Mar 
 7. Ogum Matinata
e) Linha de Oxóssi
 1. Caboclo Arranca-Toco 
 2. Cabocla Jurema 
 3. Caboclo Arariboia
 4. Caboclo Guiné 
 5. Caboclo Arruda 
 6. Caboclo Pena Branca 
 7. Cabloco Cobra-Coral 
f ) Linha das crianças 
 1. Tupãzinho 
 2. Ori
 3. Yariri
 4. Doum
 5. Yari
 6. Damião 
 7. Cosme 
g) Linha dos pretos-velhos
 1. Pai Guiné 
 2. Pai Tomé 
 3. Pai Arruda 
 4. Pai Congo de Aruanda
 5. Maria Conga 
 6. Pai Benedito 
 7. Pai Joaquim
(ORTIZ, 1999, p. 81-82).
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UAB/Unimontes - 5º Período
Há que se registrar que o quadro acima mostra o primeiro nível das linhas de Umbanda. As 
legiões aqui citadas se dividem, cada uma, em sete falanges, cada falange em sete subfalanges... 
Na base dessa imensa pirâmide ficam os guias e protetores

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