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MAD I TUTORIA 02 1. Identificar e caracterizar a possível doença e suas principais formas clínicas. (Robbins e Cotran, p. 395) 2. Identificar e caracterizar os possíveis agentes etiológicos e vetores. 3. Relacionar as manifestações clínicas com os “mecanismos de agressão e de defesa - MAD”, evidenciando os principais processos patológicos envolvidos nesta doença. 4. Caracterizar as principais formas de diagnóstico e tratamento. 5. Relacionar os principais fatores de risco com a situação epidemiológica, na Bahia e no Brasil. MAD I IDENTIFICAR E CARACTERIZAR A POSSÍVEL DOENÇA (DOENÇA DE CHAGAS) E SUAS PRINCIPAIS FORMAS CLÍNICAS A doença de Chagas, também conhecida como Tripanossomíase americana, é considerada uma doença tropical negligenciada, descoberta pelo pesquisador brasileiro Carlos Chagas em 1909, essa enfermidade afeta principalmente a América Latina, onde tal é considerada endêmica. O Trypanosoma cruzi é um protozoário parasito intracelular cinetoplastídeo, que causa a doença de Chagas. A doença de Chagas ocorre raramente na América do Norte, mas é muito comum na América do Sul, particularmente no Brasil. Os parasitos T. cruzi infectam muitos animais, incluindo gatos, cães e roedores. Os parasitos são transmitidos entre animais e humanos através de “barbeiros” (triatomídeos) os quais se escondem em rachaduras de casas pobremente construídas, se alimentam nos habitantes durante o sono, e eliminam os parasitos em suas fezes; os parasitos infectantes penetram no hospedeiro através de lesão na pele ou através de membranas mucosas. No local de entrada na pele, pode haver um nódulo eritematoso transitório denominado chagoma. A doença de Chagas manifesta-se em duas fases: a fase aguda e a fase crônica. A fase aguda, se dá em subsequência da infecção, e é caracterizada por apresentar uma elevada concentração do parasita no sangue, que pode se mostra presente por um intervalo de 40 a 60 dias, acarretando mortalidade do paciente em aproximadamente 10% dos casos. Apresenta uma sintomatologia moderada e atípica, apresentando sintomas que se assemelham a diversas outras infecções, e consequentemente a infecção não é comumente diagnosticada neste estágio. A fase crônica apresenta baixos níveis do parasita no sangue. Esôfago, coração, o cólon e o sistema nervoso periférico (gânglios e nervos) são exemplos de órgãos atingidos durante tal fase da patologia. Nessa fase a infecção, inicialmente, pode não apresentar sintomatologia, caracterizando- se então como assintomática por um intervalo de tempo que pode perdurar por vários anos. Posteriormente é evidenciado por meio do dano dos órgãos supracitados, onde o indivíduo por apresentar problemas como complicações cardíacas, megaesôfago, megacólon e lesões no sistema nervoso periférico, disfunções que podem acarretar na morte súbita do paciente. POR QUE A DOENÇA DE CHAGAS É TÃO PRESENTE NO BRASIL? No Brasil, diversos fatores favoreceram a adaptação dos triatomíneos (barbeiros). Os ciclos da agricultura e da pecuária geraram um crescimento do desmatamento de grandes áreas e, consequentemente, a fuga dos animais silvestres. Sem sua fonte de alimento, os triatomíneos precisaram se adaptar aos seres humanos para poderem sobreviver. No país, cinco espécies de triatomíneos possuem relevância epidemiológica – T. infestans, P. megistus, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e T. sordida. As outras 47 espécies encontradas em nosso território não são domiciliadas como as citadas e desenvolvem seu ciclo na natureza. Dentre as espécies mencionadas, a T. infestans já foi erradicada do país. FORMAS DE TRANSMISSÃO As formas habituais de transmissão da doença de Chagas para o homem são: a vetorial, a transfusional, a transplacentária (congênita) e, mais recentemente, a transmissão pela via oral, pela ingestão de alimentos contaminados pelo T. cruzi. Mecanismos de transmissão menos comuns envolvem acidentes de laboratório, manejo de MAD I animais infectados, transplante de órgãos sólidos e leite materno. TRANSMISSÃO VETORIAL A transmissão vetorial acontece pelo contato do homem suscetível com as excretas contaminadas dos triatomíneos, também conhecidos como “barbeiros” ou “chupões”. Esses, ao picarem os vertebrados, em geral defecam após o repasto, eliminando formas infectantes de tripomastigotas metacíclicos, que penetram pelo orifício da picada ou por solução de continuidade deixada pelo ato de coçar. TRANSMISSÃO TRANSFUSIONAL A transmissão por transfusão de sangue da doença de Chagas é a segunda via mais importante de propagação da doença nos centros urbanos, sendo considerada a principal forma de transmissão em países não endêmicos (Canadá, Espanha, EUA e outros) e em países latino-americanos que estejam em processo de erradicação do vetor. O Brasil, que nos anos 80 apresentava prevalência média de 7,03% em candidatos à doação de sangue, teve esse coeficiente diminuído para 3,18%, na década de 90, e atualmente para 0,6%, na hemorrede pública, e de 0,7%, na rede privada. Esses índices refletem a efetividade dos programas de combate ao vetor e maior controle do sangue e hemoderivados, através de uma rigorosa triagem clínica e da doação voluntária de sangue. Também a atuação mais efetiva da vigilância sanitária sobre os serviços de hemoterapia públicos e privados tem contribuído para o aumento da segurança transfusional e, consequentemente, para eliminação da transmissão sanguínea dessa doença. TRANSMISSÃO VERTICAL (CÔNGENITA) A transmissão vertical ocorre quando a criança é infectada durante a gestação, parto, e em alguns casos durante a amamentação. A principal via da transmissão vertical é a transplacentária e pode ocorrer em qualquer fase da doença materna: aguda, indeterminada ou crônica. A transmissão também pode se dar em qualquer época da gestação, sendo mais provável no último trimestre, ou ocorrer na passagem no canal do parto, pelo contato das mucosas do feto com o sangue da mãe infectada. A transmissão congênita deve ser considerada em crianças nascidas de mãe com sorologia positiva para T. cruzi. Para confirmação de caso, é necessário identificar os parasitos no sangue do recém-nascido ou sorologia positiva após os 6 meses de idade. Em gestante ou lactante com diagnóstico de DCA ou coinfecção T. cruzi-HIV, recomenda-se não oferecer amamentação no peito em virtude da possibilidade de transmissão por meio do leite ou fissura mamilar. TRANSMISSÃO POR VIA ORAL A transmissão do T. cruzi por via oral é comum entre animais (mamíferos), no ciclo primitivo deste parasito, por meio da ingesta de vetores e reservatórios infectados. É esporádica e circunstancial em humanos e ocorre quando alimentos são contaminados com o parasito, principalmente a partir de triatomíneo ou suas dejeções. Também, pode ocorrer por meio da ingesta de carne crua ou mal cozida de caça ou alimentos contaminados por urina ou secreção anal de marsupiais infectados, por acidentes em laboratório, ou por meio de hábitos primitivos de ingestão de triatomíneos. Sabe-se que a transmissão oral pode ocorrer a partir de formas tripomastigotas, epimastigotas e, provavelmente, de amastigotas. Esse tipo de transmissão ocorre em locais definidos, em um determinado tempo, por diferentes tipos de alimentos – geralmente encontrando-se vetores ou reservatórios infectados nas imediações da área de produção, manuseio ou utilização do alimento MAD I contaminado. Entre os alimentos, podem-se incluir sopas, caldos, sucos de cana, açaí, bacaba, carne de caça semicrua. (Apesar de muitas pessoas fazerem associação apenas com açaí-barbeiro, mas se um gambá – um hospedeiro intermediário – urinarem um alimento, também há chances de transmissão) TRANSMISSÃO POR ACIDENTES LABORATORIAIS Acidentes laboratoriais também podem ocorrer devido a contato com culturas de T. cruzi, exposição às fezes infectadas de triatomíneos ou sangue (paciente ou animal) contendo formas tripomastigotas. TRANSMISSÃO POR TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS Nas duas últimas décadas, com o aumento do número de transplantes, essa via de transmissão tem adquirido relevância. A doença de Chagas aguda que ocorre após esse mecanismo de transmissão apresenta-se mais grave, uma vez que os receptores estão imunocomprometidos e os pacientes infectados apresentam manifestações clínicas de doença aguda: febre, nódulos cutâneos eritematosos, hepatoesplenomegalia, lnfadenomegalia, mialgias, cefaleia. A confirmação do diagnóstico da infecção é baseada no isolamento do agente, no sangue ou em biópsias de pele, e/ou soroconversão. ESTÁGIOS DA DOENÇA DE CHAGAS De modo geral, reconhece-se a presença de três estágios na doença de Chagas: agudo, crônico indeterminado e crônico determinado: • Fase aguda (inicial): predomina o parasito circulante na corrente sanguínea, em quantidades expressivas. As manifestações de doença febril podem persistir por até 12 semanas. Nesta fase, os sinais e sintomas podem desaparecer espontaneamente evoluindo para a fase crônica ou progredir para formas agudas graves que podem levar ao óbito. • Fase crônica – existem raros parasitas circulantes na corrente sanguínea. Inicialmente, esta fase é assintomática e sem sinais de comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Pode apresentar-se como uma das seguintes formas: o Forma indeterminada – paciente assintomático e sem sinais de comprometimento do aparelho circulatório (clínica, eletrocardiograma e radiografia de tórax normais) e do aparelho digestivo (avaliação clínica e radiológica normais de esôfago e cólon). Esse quadro poderá perdurar por toda a vida da pessoa infectada ou pode evoluir tardiamente para a forma cardíaca, digestiva ou associada (cardiodigestiva); o Forma cardíaca – evidências de acometimento cardíaco que, frequentemente, evolui para quadros de miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Essa forma ocorre em cerca de 30% dos casos crônicos e é a maior responsável pela mortalidade na doença de Chagas crônica; o Forma digestiva – evidências de acometimento do aparelho digestivo que, frequentemente, evolui para megacólon ou megaesôfago. Ocorre em cerca de 10% dos casos. o Forma associada (cardiodigestiva) – ocorrência concomitante de lesões compatíveis com as formas cardíacas e digestivas. MAD I MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Na fase aguda (inicial), predomina o parasito circulante na corrente sanguínea, com parasitos abundantes, manifestações de doença febril, que podem persistir por até 12 semanas. A evolução natural dessa fase, mesmo não tratada nem diagnosticada, culmina no desaparecimento espontâneo da febre e da maior parte das outras manifestações. Nela, também é possível detectar anticorpos IgM. Gradativamente, há redução da parasitemia e aumento gradual de anticorpos IgG (da 4ª a 6ª semana de infecção). A manifestação mais característica é a febre, sempre presente, usualmente prolongada, constante e não muito elevada (de 37,5º a 38,5ºC), podendo apresentar picos vespertinos ocasionais. Na maioria dos casos aparentes, ocorrem: • prostração, diarreia, vômitos, inapetência, cefaleia, mialgias, aumento de gânglios linfáticos; • manchas vermelhas na pele, de localização variável, com ou sem prurido; • irritação em crianças menores, que apresentam frequentemente choro fácil e copioso. São comumente observados: • edema de face, membros inferiores ou generalizado; • tosse, dispneia, dor torácica, palpitações, arritmias; • hepatomegalia e/ou esplenomegalia, de leve a moderada; Os sintomas podem progredir para a forma aguda grave: • miocardite difusa com vários graus de severidade; • pericardite, derrame pericárdico, tamponamento cardíaco; • cardiomegalia, insuficiência cardíaca, derrame pleural. Sinais de porta de entrada, próprios da transmissão vetorial, como o sinal de Romaña (edema bipalpebral unilateral por reação inflamatória à penetração do parasito, na conjuntiva e adjacências) ou o chagoma de inoculação (lesões furunculóides, não supurativas, em membros, tronco e face, por reação inflamatória à penetração do parasito, que se mostram descamativas após 2 ou 3 semanas), são menos frequentes, atualmente. Deve se ressaltar que a picada de um triatomíneo pode causar reações alérgicas locais ou sistêmicas, sem que isso signifique necessariamente infecção pelo T. cruzi. Em alguns casos por transmissão oral, foram observados sangramento digestivo (hematêmese, hematoquezia ou melena) e outros tipos de sinais hemorrágicos concomitantes. Quadros clínicos graves podem cursar com meningoencefalite, especialmente MAD I em lactente ou em casos de reativação (imunodeprimidos). Na transmissão vertical (congênita), a maioria dos casos é assintomática. Não obstante, podem ocorrer: febre, hepatoesplenomegalia, sinais de cardiopatia aguda ou de comprometimento do sistema nervoso central (SNC), prematuridade ou natimorto. Cabe lembrar que, diante da suspeita ou ocorrência de caso de DCA congênita, a mãe deve ser diagnosticada, acompanhada e eventualmente tratada (não durante a gravidez). Os pacientes imunodeprimidos, como os portadores de neoplasias hematológicas, os usuários de drogas imunodepressoras, ou os coinfectados pelo vírus da imunodeficiência humana adquirida, podem apresentar reativação da doença de Chagas, que deve ser confirmada por exames parasitológicos diretos no sangue periférico, em outros fluidos orgânicos ou em tecidos. FASE CRÔNICA É uma fase assintomática. • Forma cardíaca: Ocorre alterações no coração, principalmente uma aparição de fibrose (formação de tecido conjuntivo) difusa em áreas inflamadas. O tecido muscular do coração começa a ser substituído por tecido conjuntivo (fibrose), o que é perigosíssimo! O miocárdio possui elementos responsáveis pela força do coração. Consequentemente, o coração perde a sua força, o que provoca a cardiomegalia, o aumento das fibras musculares, taquicardia e arritmias. • Forma digestiva: Ocorre alterações no aparelho digestivo, principalmente com o esôfago, cólon sigmóide e reto. Consequentemente, ocorre aumento do esôfago (megaesôfago) e aumento do cólon (megacólon). A principal característica está na dificuldade de deglutir alimentos sólidos, tendência a regurgitação, sensação de plenitude intratorácica, dor epigástrica, soluços, intensa salivação e até emagrecimento. APROFUNDAMENTO: Na miocardite aguda letal, as mudanças são difusamente distribuídas ao longo do coração. Grupos de amastigotas causam aumento de fibras miocárdicas individuais e criam pseudocistos intracelulares. Ocorre necrose celular miocárdica focal acompanhada de infiltração inflamatória intersticial extensa, densa e aguda por todo o miocárdio, frequentemente associada à dilatação das quatro câmaras cardíacas. Na doença de Chagas crônica, o coração está tipicamente dilatado, arredondado, e aumentado em tamanho e peso. Frequentemente, existem trombos murais que, em cerca de metade dos casos de autópsia, deram origem a êmbolos pulmonares ou sistêmicos ou infartos. Ao exame histológico, existem infiltrados inflamatórios intersticiais e perivasculares compostos de linfócitos, plasmócitos e monócitos. Ocorrem focos dispersos de necrose de células miocárdicas e fibrose intersticial, especialmente em direção ao ápice do ventrículo esquerdo, o qual pode sofrer MAD I dilataçãoaneurismal e afinamento. Nos focos endêmicos brasileiros, tanto quanto metade dos pacientes com cardite letal também possui dilatação do esôfago ou cólon relacionada ao dano à inervação intrínseca desses órgãos. Nos estágios finais, entretanto, quando tais mudanças aparecem, os parasitos não podem ser encontrados nesses gânglios. A miocardiopatia chagásica crônica é frequentemente tratada por transplante cardíaco. MAD I IDENTIFICAR E CARACTERIZAR OS POSSÍVEIS AGENTES ETIOLÓGICOS E VETORES O agente etiológico, também chamado de patógeno, é o organismo responsável por provocar a doença, ou seja, é o que desencadeia os sinais e sintomas típicos de um determinado problema de saúde. No caso da dengue, o vírus causador da dengue seria o agente etiológico, e não o mosquito, que, como já vimos, é o vetor. AGENTE ETIOLÓGICO (TRYPANOSOMA CRUZI) Trypanosoma cruzi é um flagelado da família Trypanosomatidae e de ordem Kinetoplastida. Ele possui um cinetoplasto, que é uma mitocôndria modificada rica em KDNA (DNA mitocondrial). Em seu ciclo vital, o parasito exibe formas amastigota, epimastigota e tripomastigota, ou de transição entre elas. A tripomastigota ainda pode ser didivida em tripomastigota sanguínea e tripomastigota metacíclica. Nos hospedeiros vertebrados ocorrem os tripomastigotas de tipo sanguícola e os amastigotas intracelulares, enquanto nos hospedeiros invertebrados e em meios de cultura predominam as formas epimastigotas, que passam depois a tripomastigotas metacíclicos. VETOR (TRIATOMÍNEOS) Doença de Chagas é transmitida por insetos hemípteros hematófagos da família Reduviidae e subfamília Triatominae. Como diferenciar o barbeiro de outros percevejos? Os triatomíneos são vulgarmente chamados de barbeiros, mas, devido a variação linguística intensa no país, também são referidos como chupões, procotós, vum- vum, chupança, vinchucas, etc. Em geral, têm tamanho entre 2 e 3 cm, mas podem variar de 0,5 a 4,5 cm. Sua cabeça é longa, os olhos salientes, as antenas implantadas nas laterais da cabeça e a probóscida fica dobrado sob a mesma, sendo curto e reto, não ultrapassando o primeiro par de pernas. A maioria das espécies de barbeiro habita os ambientes silvestres, ninhos de gambás, locas de tatu e uma série de outros diferentes hábitats, apresentando preferência por abrigos em pedras, tocas de animais no solo e palmeiras, cada gênero apresentando sua especificidade. Vivem, em média, dois anos. MAD I A distinção dos sexos é feita observando-se a parte posterior do abdômen que, em vista dorsal, é contínua nos machos e chanfrada nas fêmeas. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE TRIATOMÍNEOS As principais espécies de triatomíneos possuem boa adaptação à habitação humana, alto grau de antropofilia (interesse em humanos) e tem curto espaço de tempo entre hematofagia e defecação. No Brasil, pela ordem de importância, temos as seguintes espécies: 1. Triatoma infestans 2. Panstrongylus megistus 3. Triatoma brasiliensis 4. T. pseudomaculata 5. T. sórdida T. INFESTANS Nas áreas onde não é combatido pode apresentar infestações em altíssimas densidades, não sendo raro o encontro de 3.000 ou mais insetos dentro de uma única casa. Esta característica conferiu-lhe o título de espécie mais importante no Brasil, apesar de não ser autóctone ( natural do país ou da região em que habita). T. BRASILIENSIS É a principal espécie vetora do T. cruzi no Nordeste, sendo encontrada no meio silvestre (sob pedras, em associação com roedores), peridomiciliar e domiciliar. Seu centro de dispersão corresponde ao domínio paisagístico da caatinga. Espécie extremamente voraz, chegam a atacar o homem e os animais mesmo durante o dia. T. SORDIDA MAD I T. sordida que tem centro de endemismo nos cerrados é a espécie predominante na Bahia e nos estados das regiões sudeste e centro-oeste, incluindo áreas de transição para a Amazônia. T. PSEUDOMACULATA E T. BRASILIENSIS Triatoma brasiliensis e Triatoma pseudomaculata tem como centro de endemismo o semiárido do nordeste, ainda que aquela última fosse bastante mais dispersa. Ambas são autóctones. VETOR (HOSPEDEIROS VETERBRADOS) Pode ser rato, gambá, tatu, etc. Podem ser reservatórios naturais do parasita responsável pela Doença de Chagas. CICLO DE VIDA DO TRYPANOSOMA CRUZI O hospedeiro invertebrado é infectado pelo Trypanosoma cruzi (na forma de tripomastigotas sanguíneas) por meio do repasto sanguíneo. As tripomastigotas sanguíneas se tornam epimastigotas, que se reproduzem no tubo digestivo do vetor e se transformam em tripomastigotas metacíclicas no reto. O vetor infectado pica o ser humano e defeca sobre a pele as tripomastigotas metacíclicas. As tripomastigotas penetram a pele por uma mucosa ou alguma lesão na pele. As tripomastigotas invadem as células, diferenciam em amastigotas e se multiplicam. TRIPOMASTIGOTAS METACÍCLICAS Chama-se de metacíclicos os parasitas tripomastigotas recentes no organismo, ou seja, os primários, provindos diretamente da infecção inicial, tradicionalmente relacionadas ao repasto sanguíneo do inseto vetor. TRIPOMASTIGOTAS SANGUÍNEAS Considera-se como tripomastigotas sanguíneos, os tripomastigotas liberados na corrente sanguínea posteriormente a replicação interna do parasito na célula hospedeiras, ou seja, os parasitas secundários, MAD I que já passaram pelos processos internos do curso interno da infecção do T. cruzi. AMASTIGOTAS Aponta-se como amastigotas, os parasitas que apresentam estrutura circular, com redução quase que por completo do flagelo e restruturação interna quase completa, contidos geralmente no interior das células. Devido a essa localização onde estes são comumente encontrados, essa fase é considerada como a fase intracelular de Trypanosoma cruzi, porém estudos apontam que esse padrão não é obrigatório, já sendo descritas formas amastigotas extracelulares. EPIMASTIGOTAS INTESTINAIS Os flagelados que chegam à porção posterior do intestino médio do inseto encontram aí um meio extremamente favorável onde se instalam permanentemente, pois a infecção mantém-se nessa região durante toda a vida do inseto. MAD I RELACIONAR AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS COM OS “MECANISMOS DE AGRESSÃO E DE DEFESA - MAD”, EVIDENCIANDO OS PRINCIPAIS PROCESSOS PATOLÓGICOS ENVOLVIDOS NESTA DOENÇA Como foi visto, a fase aguda da Doença de Chagas pode ser sintomática ou assintomática, sendo que a última é mais frequente. A fase aguda sintomática inicia-se com manifestações locais após o T. cruzi picar a pele. As principais manifestações são: sinal de Romana e o chagoma de inoculação. Estas lesões aparecem em 50% dos casos agudos dentro de 4-10 dias após a picada do barbeiro, regredindo em um ou dois meses. O sinal de Romana se caracteriza por edema bipalpebral unilateral que geralmente é associado a conjuntivite, dacriadenite (inflamação da glândula lacrimal) e aumento ganglionar pré-auricular. O chagoma é uma inflamação aguda local na derme e hipoderme no ponto de inoculação do parasito. Microscopicamente, a lesão lembra um furúnculo que não chega à supuração, seguida de regressão lenta acompanhada de descamação. A fase crônica pode ocorrer da forma indeterminada, ou seja, sem sintomas. Após a fase aguda, os sobreviventes passam por um longo período assintomático (entre 10 a 30 anos). Esta é a fase indeterminada e é caracterizada por: (1) positividade de exames sorológicos ou parasitológicos; (2) ausência de sintomas e sinais da doença; (3) eletrocardiograma convencional normal; (4) coração, esôfago e cólon radiologicamente normais. A fase crônica sintomática, no entanto, apresenta sintomase sinais. Certo número de chagásicos após permanecerem assintomáticos por vários anos, com o correr do tempo apresentam sintomatologia relacionada com o sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva), ou ambos (forma cardiodigestiva ou mista). Na fase crônica sintomática, observa-se reativação intensa do processo inflamatório, com dano destes órgãos, nem sempre relacionada com o parasito, que se encontra extremamente escasso nesta fase. FORMA CRÔNICA SINTOMÁTICA DO TIPO CARDÍACA Na cardiopatia chagásica crônica sintomática (forma cardíaca), o fato clínico principal é a insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e isto se deve a diminuição da massa muscular que se encontra muito destruída devido a substituição dos elementos típicos do coração por áreas de fibrose. A destruição do SNA simpático e parassimpático e ao próprio exsudato inflamatório em atividade são os responsáveis pelos sintomas. Outro fator responsável pelas arritmias é a lesão vorticilar ou aneurisma de ponta, ou seja, uma lesão encontrada no ápice dos ventrículos, na qual há pobreza de células musculares com consequente herniação do endocárdio. Além da insuficiência cardíaca, devido ao retardamento da circulação e da hipóxia, são frequentes os fenômenos tromboembólicos. A trombose é a formação de um coágulo no sangue (trombo) que obstrui ou dificulta a circulação de um vaso sanguíneo qualquer. Os trombos cardíacos são frequentes (76% dos casos que desenvolvem insuficiência cardíaca), mas também podem se formar nas veias dos membros inferiores. MAD I A partir destes trombos, desprendem-se êmbolos que podem originar infartos no coração, pulmões, rins, baço, encéfalo, etc, causando assim a morte súbita. O comprometimento do sistema autônomo regulador das contrações cardíacas (nódulo sinusal, nódulo atrioventricular e feixe de Hiss) traz como consequência uma grande variedade de perturbações, tanto na formação dos estímulos (arritmia, extra-sístoles), como na sua propagação (bloqueio atrioventriculares de grau variável, bloqueio do ramo direito do feixe de Hiss, esta última alteração considerada patognomônica da doença de Chagas). Quando os mecanismos de compensação cardíacos tornam-se incapazes de superar as deficiências de sua força de contração, surge o quadro de ICC, que se traduz clinicamente por dispneia de esforço, insônia, congestão visceral e edema dos membros inferiores evoluindo em dispnéia continua, anasarca e morte. FORMA CRÔNICA SINTOMÁTICA DO TIPO DIGESTIVA No Brasil, a forma digestiva da doença está presente em cerca de 7% a 11% dos casos. As manifestações digestivas são representadas principalmente no Brasil e na Argentina pelos megas, onde aparecem alterações morfológicas e funcionais importantes, caracterizando o megaesôfago e o megacólon. O megaesôfago pode surgir em qualquer idade, desde a infância até a velhice. A maioria dos casos, no entanto, é observada entre 20 e 40 anos. Aparece mais no sexo masculino do que no feminino, e é mais frequente na zona rural endêmica. Os sintomas principais são: disfagia, odinofagia, dor retroestemal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose. O megacólon compreende as dilatações dos cólons (sigmóide e reto) e são mais frequentes depois da do esôfago. O diagnóstico é feito mais tardiamente porque a obstipação, o sintoma mais frequente do megacólon, é encontrado em outras patias digestivas. É mais frequente no adulto entre 30 e 60 anos e mais no homem do que na mulher. É frequente a associação com o megaesôfago e este fato agrava em muito a desnutrição. FORMA CRÔNICA SINTOMÁTICA DO TIPO MISTA A denominação de formas mistas da doença tem sido atribuída aos casos em que o paciente apresenta superposição de alterações clínicas de mais de uma das formas clínicas anteriormente mencionadas. MECANISMO DE AGRESSÃO E DEFESA DA DOENÇA DE CHAGAS Inúmeros fatores influenciam direta ou indiretamente no aparecimento das lesões produzidas pelo T. Cruzi. Alguns são devidos ao parasito (eventos iniciais na relação parasito- hospedeiro dependentes de mecanismos ligantes específicos, polimorfismo, tropismo celular, virulência do clone, cepa ou raça do parasita, reinfecção, infecções mistas, seleção clonal etc.). Outros são inerentes ao hospedeiro (constituição genética, sexo, idade, raça, resposta imunitária, nutrição, tipos de células que interagem com o parasito, como macrófagos profissionais e células não- permissíveis, células musculares, neuróglia central e periférica, fibroblasto, mastócitos e outros). MAD I FASE AGUDA Após a picada do hospedeiro intermediário e infecção do hospedeiro definitivo, o T. cruzi pode parasitar qualquer célula. As mais frequentemente parasitadas são: (1) macrófagos, (2) células de Schwann, (3) micróglia, (4) fibroblastos e (5) células musculares lisas estriadas. Os macrófagos são as células com maior chance de adesão. Nessa fase, ao parasitar uma célula, esse parasito pode sofrer modificações como também a sua célula hospedeira, o que faz liberar amastígota, epimastígota ou tripomastígota no interstício, além de organelas da célula hospedeira. Essa liberação de conteúdos no interstício, surge uma inflamação aguda focal estabelecendo, já na segunda semana, uma imunidade. Mesmo assim, os parasitos não são detidos no foco inflamatório inicial, indo parasitar aleatoriamente qualquer órgão. O coração pode ser lesado na fase aguda. A presença do T. cruzi no corpo passa a ser grande e difusa, o que permite a formação de ninhos de amastigotas nas células musculares, nos histiócitos, nos fibroblastos, células gliais e raramente nos neurônios dos plexos nervosos. A miocardite surge em correspondência com os ninhos rompidos. O exsudato inflamatório que predomina é o de células monocucleadas, como linfócitos, macrófagos e por vezes granulócitos neutrófilos e eosinófilos. A presença de focos inflamatórios é proporcional aos ninhos de parasitas presentes. Deste modo, a inflamação, de início focal, pode se estender a todo órgão, tornando- se difusa, grave e podendo levar a morte, como acontece por exemplo na miocardite chagásica aguda ou meningoencefalite. Macroscopicamente, há aumento da área cardíaca devido ao hidropericárdio e ao próprio coração que se mostra globoso, flácido e muito congesto em consequência da inflamação que acomete simultaneamente os três folhetos: pericárdio, miocárdio e endocárdio. FASE CRÔNICA INDETERMINADA Os indivíduos que sobrevivem a fase agudam assintomática ou sintomática evoluem para a fase crônica e podem permanecer assintomáticos ou com infecção latente (forma indeterminada) por vários anos ou durante toda sua vida. FASE CRÔNICA DO TIPO CARDÍACA Alguns pacientes podem 20 a 30 anos após a infecção apresentar a cardiopatia chagásica crônica (CCC) sintomática que pode levá-lo a morte. Macroscopicamente, o coração mostra- se: 1) Volume do coração aumentado e mais pesado (cardiomegalia) 2) Coração congesto com espessamentos nodulares branco- peroláceos no epicárdio ao longo das coronárias; 3) Hipertrofia das paredes ventriculares e atriais; 4) Dilatação dos anéis das válvulas tricúspide e mitral 5) Presença da chamada lesão vorticilar ou aneurisma de ponta FASE CRÔNICA DO TIPO DIGESTIVA O tubo digestivo, ainda durante a fase aguda da infecção, também é atingido pelo T. cruzi que parasita, ao acaso, as células musculares, os fibroblastos e principalmente o sistema nervoso intramural (plexos de Meissner e Auerbach). Dependendo do grau e da extensão das lesões, é possível surgir sinais de incoordenação motoras acompanhados de alterações da secreção e absorção. Somente MAD I nos casos mais graves, 10a 20 anos após a infecção inicial, é que surge em 20% a 30% dos pacientes o megaesôfago e o megacólon. Entende-se megas COMO dilatações permanentes e difusas de vísceras ocas ou de canais acompanhados, ou não, de alongamento da parede. Macroscopicamente, o mega possui as seguintes características: (1) dilatação permanente; (2) espessamento muscular; (3) alterações da mucosa; (4) porção terminal sem lesão aparente. Microscopicamente, observa-se: (1) parasitismo acentuado na fase aguda das células musculares; (2) miosite, periganglionite, ganglionite, perineurite e neurite em focos sistematizados com predominância das células mononucleadas; (3) fibrilopoese focal e difusa, não-relacionada diretamente com os focos inflamatórios; (4) hipertrofia das células musculares íntegras, principalmente da camada muscular interna; (5) inflamação crônica da mucosa e a submucosa, as vezes com ulcerações e/ ou perfurações. Existem muitos fatores patogenéticos e fisiopatológicos para essas alterações, sendo que a denervação parassimpática (que ocorre tanto no coração quanto no mega) seja o mais importante. Além da denervação, também é observado: 1. alterações morfofuncionais das glândulas do intestino que secretam varios tipos de hormônios 2. alterações do reflexo peristáltico intrínseco com relação ao extrínseco 3. alterações para mais ou para menos da neurossecreção dos gânglios simpáticos (catecolaminas, indolaminas), que permanecem íntegros interferindo na motilidade e condutibilidade das células musculares 4. fibrose difusa, presente tanto na CCC quanto nos megas e responsável, com toda probabilidade, pela incapacidade contrátil do órgão INTERAÇÃO PARASITO-HOSPEDEIRO A fase inicial do processo de interação T. cruzi-célula hospedeira envolve, inicialmente, a adesão do parasita à superfície da célula. Todas as formas do ciclo evolutivo aderem-se à célula, sendo o grau de adesão, variável de acordo com a cepa do parasita, com a forma evolutiva e com o tipo de célula hospedeira. A adesão decorre de um processo de reconhecimento celular em que proteínas e glicoproteínas, presentes tanto na superfície celular do hospedeiro como do parasito, estão envolvidas, tendo sido identificadas, ou por meios indiretos usando anticorpos monoclonais específicos ou por meios diretos usando ensaios de ligação. A participação do ácido siálico no processo de interação é evidente. Formas tripomastigotas expressam, em sua superfície, grandes quantidades de uma proteína com atividade transialidásica, pertencente a uma grupo de famílias multigênicas que codificam para um grupo heterogêneo de proteínas enzimaticamente ativas, que variam de 100 a 200 kDa (BARROS et al., 1996). A trans- sialidase está ligada à membrana do parasita através de âncoras de glicosil fosfatidil inositol (GPI) e atua especificamente removendo resíduos de ácido siálico ligados na posição α- 2,3 de glicoproteínas, glicolipídeos e oligossacarídeos, transferindo-os para moléculas aceptoras localizadas na superfície do parasito, como oligossacarídeos O-ligados de glicoproteínas de 70-200 kDa, conhecidos como Ssp3. Em formas tripomastigotas metacíclicas, o ácido siálico é incorporado em antígenos de 35/55 kDa. A remoção de resíduos de ácido siálico de sua superfície promovem um aumento da interação do parasito com a célula hospedeira. As vias de MAD I sinalização acionadas são distintas de acordo com a cepa do parasito. A glicoproteína pertencente à família das trans-sialidases, denominada gp83, possui importante papel na interação de T. cruzi com a célula hospedeira, interagindo com o receptor p74 presente na superfície celular do hospedeiro, atuando como um ligante universal utilizado por T. cruzi para a infecção de células fagocíticas e não-fagocíticas (VILLALTA et al., 2001). Outras proteínas são, a gp85, capaz de se ligar a laminina e fibronectina, e a penetrina, ambas relacionadas ao processo de invasão de células utilizado pela forma tripomastigota. A glicoproteína gp82, presente na forma tripomastigota metacíclica é uma molécula de adesão (NEIRA et al., 2003) que se liga na célula hospedeira via receptores específicos, levando a uma via de sinalização, mediada por PTK e outros mensageiros, disparando uma mobilização de Ca2+, um evento essencial para a internalização do parasito. Estudos de KULKARNI et al. (2009) demonstram a importância da glicoproteína pertencente à família das metaloproteases, GP63, no processo de infecção da célula hospedeira. Expressa em todas os estágios do ciclo de vida do parasito, esta possui diferentes isoformas que participam na invasão celular. No processo de invasão celular, diversas moléculas presentes na superfície das formas infectantes são mobilizadas. Os primeiros estágios dentro das células hospedeiras compreendem a formação de vacúolos ligados à membrana celular seguido de ruptura da membrana e do acesso do parasito ao citoplasma. O vacúolo no qual o parasito se instala tem pH ácido, condição que pode ser modificada através de agentes que inibem o processo de acidificação e permitem o escape do parasito para o citoplasma. O parasito, neste estágio, sintetiza e secreta uma proteína formadora de poros transmembrânicos (Tc-Tox) que compartilha epítopos com o componente C9 do sistema complemento. Outras proteínas estágio-específicas, importantes em diversos processos biológicos do parasito, têm sido descritas em muitos trabalhos. Em formas epimastigotas, existem evidências de que uma glicoproteína de 72 kDa, conhecida como gp72, atue como aceptor do componente C3 do complemento, participando da ativação da via alternativa e também levando estas formas à lise quando incubadas com soro fresco (JOINER et al., 1985). Estudos apontam que gp72 está envolvida na adesão do flagelo ao corpo celular (COTRIM et al., 1995). Em relação à forma amastigota, uma proteína bem caracterizada é a glicoproteína de 84 kDa, que representa a proteína de superfície majoritária ancorada à membrana via GPI, facilmente liberada da superfície celular (BARROS et al., 1996). PAPEL DO SISTEMA COMPLEMENTO NA RESPOSTA IMUNE O Sistema Complemento consiste num conjunto de aproximadamente 30 proteínas plasmáticas, a maioria das quais zimógenos, presentes na fase fluída ou como integrantes de membranas celulares atuando como um importante mecanismo efetor da imunidade humoral tendo participação em uma série de eventos da imunidade inata, como a inflamação, fagocitose e citólise celular, podendo atuar tanto em indivíduos imunes, que possuem anticorpos ou células capazes de responder a componentes do agente invasor, como em indivíduos não imunes, basicamente através de duas vias de ativação, a via clássica e a alternativa. De uma maneira geral seus componentes formam um sistema de ativação altamente organizado que através de proteólise sequencial, geram enzimas ativas com propriedades proteolíticas. Este sistema é encontrado em mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Suas principais funções biológicas são a lise celular, opsonização por fragmentos proteolíticos que potencializam o MAD I processo fagocítico, eliminação de imunocomplexos, formados por ligação antígeno-anticorpo, da circulação sanguínea e ativação de processos inflamatórios através da ativação de leucócitos polimorfonucleares e respostas vasculares. Além disso, o C representa um eficiente sistema de discriminação do "próprio" e "não próprio" (YOSHIDA, 2006). A ativação do C pode ocorrer por meio de duas vias principais: a via clássica que é ativada na presença de certos isótipos de anticorpos (IgG e IgM), e a via alternativa que independe da presença de anticorpos para sua ativação, sendo ativada sobre a superfíciecelular de micro-organismos. Uma terceira cascata de ativação recebe o nome de via das lectinas, por ser ativada pela ligação de polissacarídeos na superfície de micro- organismos à lectinas circulantes, como as lectinas ligantes de manose (MBL). As três vias distinguemse quanto aos passos iniciais da ativação, mas culminam na formação de um complexo enzimaticamente ativo que atua sobre uma das principais proteínas que fazem parte deste sistema, a proteína C3. A partir daí inicia-se uma sequência de eventos comuns levando à inserção do complexo de ataque à membrana (MAC) como ponto final. A sequência de ativação consiste numa etapa inicial, seguida da etapa de amplificação da cascata e finaliza na etapa lítica, correspondente à formação do MAC. A ativação da via clássica se dá pela ligação de anticorpos à antígenos presentes na fase fluída ou ligados à superfície de células alvo. Em seguida à agregação do anticorpo com o antígeno, o primeiro componente, denominado C1 (complexo macromolecular de três proteínas, C1q, C1r e C1s), liga-se através do subcomponente C1q à porção Fc do anticorpo, promovendo uma mudança conformacional fazendo com que C1r exponha um sítio ativo capaz de clivar C1s, transformando-o numa enzima proteolítica com atividade de esterase, que então cliva o componente C4 em duas subunidades, C4a e C4b. Este último, após a clivagem, expõe um grupamento tio-éster especial que contribui com a energia química nele armazenada para ser utilizada na sua ligação covalente à superfície do micro-organismo. Posteriormente o componente C2 liga- se a C4b, sendo também clivado pela subunidade C1s, gerando dois fragmentos, C2a e C2b. O fragmento C2a permanece ligado ao componente C4b formando a enzima conhecida como C3 convertase da via clássica, cujo sítio enzimaticamente ativo presente em C2a apresenta afinidade pela proteína C3, clivando-a e gerando fragmentos C3b de relevante função no sistema (ABBAS et al., 2012). A via alternativa consiste em um primeiro mecanismo de reconhecimento no hospedeiro não imune para uma gama de micro-organismos. Sua ativação, de maneira constante, ocorre no plasma em condições normais, através da hidrólise espontânea de uma ligação tio-éster, presente na molécula de C3 nativa, gerando uma C3 convertase inicial, a C3(H2O). Com alta instabilidade, esta molécula forma ligações com sítios aceptores localizados na superfície de células alvo, onde se liga ao fator B, que é clivado pelo fator D, gerando os fragmentos Ba e Bb, permanecendo Bb ligado ao complexo, conhecido como C3 convertase de iniciação que cliva C3 em C3a e C3b. Quando grandes quantidades de C3b reativos depositam-se sobre aceptores nas superfícies celulares, criam-se condições para a formação e amplificação da C3 convertase da via alternativa. Outra via de ativação do sistema complemento, denominada via das lectinas, inicia-se pela ligação de MBL a carboidratos contendo manose presentes em micro- organismos. Esta via inicia-se pela ativação de duas serinas proteinases associadas à MBL, MASP-1 e MASP-2, que são homólogas a C1r e C1s. Sua ativação leva à clivagem de C4 e C2, MAD I gerando C4bC2a, que é a C3 convertase da via clássica, ativando-se desta forma o sistema complemento (MATSUSHITA et al., 2000). A última etapa da ativação do complemento inicia-se com a formação das C5 convertases, pela agregação de fragmentos C3b às C3 convertases formadas por qualquer das três vias. Subsequentemente, o componente C5 é clivado, gerando os fragmentos C5a e C5b. A formação do MAC ocorre pela associação das proteínas C6, C7, C8 e várias moléculas de C9 ao fragmento C5b levando à inserção de uma estrutura em forma de poro na membrana celular, que através de um desequilíbrio osmótico, promove a lise celular. Da ativação do sistema complemento, formam-se peptídeos potencialmente capazes de operar como mediadores do processo inflamatório, da fagocitose e da citotoxicidade. Os fragmentos C5a, C3a e C4a, denominados anafilatoxinas, participam dos fenômenos iniciais no processo inflamatório agudo, enquanto os fragmentos C3b e C4b, depositados na superfície do patógeno são reconhecidos por células portadoras de receptores específicos, potencializando a fagocitose ou citotoxicidade. A ativação do sistema complemento precisa ser regulada para evitar que ocorra um consumo desnecessário de seus componentes e para que não haja ativação e deposição do complexo MAC sobre as próprias células do indivíduo. Tal controle é realizado através de proteínas regulatórias que se encontram solúveis no plasma e na membrana celular. Essa regulação pode ocorrer através de: 1) decaimento espontâneo de proteínas e complexos enzimáticos ativados; 2) desestabilização e inibição da ativação de complexos; e 3) clivagem proteolítica de componentes ativados. As células do hospedeiro vertebrado são protegidas do ataque lítico devido à presença de componentes inibitórios dos processos de ativação. A regulação do sistema complemento pode ocorrer antes e/ou após a formação de C3b, proteína chave no funcionamento da cascata, sendo que muitos dos mecanismos visam o controle da geração de C3b (ABBAS et al., 2012). Estas proteínas regulatórias podem se apresentar como componentes de membrana, como o fator acelerador de decaimento (Decay Acceleranting Factor - DAF ou CD55); receptor tipo 1 do complemento (Complement Receptor 1 - CR1 ou CD35); fator de restrição homóloga (Human Restriction Factor - HRF); inibidor de membrana da lise reativa (MIRL ou CD59) e proteína cofator de membrana (Membrane Cofator Protein - MCP ou CD46), ou na fase fluída como o inibidor de C1 esterase (C1 inhibitor - C1 INH), Fator I, Fator H, proteína ligante de C4 (C4 binding protein - C4bp), entre outros. A glicoproteína denominada fator acelerador do decaimento das C3 convertases (DAF) possui um peso molecular de 70 kDa, podendo apresentar diferentes massas moleculares dependendo do tecido em que se apresenta. DAF é expressa essencialmente em células hematopoiéticas e células endoteliais, mas está presente também na fase fluída e possui a função biológica de acelerar o decaimento das C3 convertases das vias clássica e alternativa. Atua acelerando a dissociação dos fragmentos C2a e Bb dos seus respectivos sítios de ligação, prevenindo assim a permanência funcional das C3 convertases das vias clássica e alternativa (ABBAS et al., 2012). A proteína DAF purificada tem a capacidade de reincorporar-se nas membranas celulares como uma proteína de membrana funcional. Semelhantemente à proteína reguladora CD59 e outros componentes do sistema complemento, DAF está ligada à superfície celular através de âncoras de glicosil fosfatidil inositol (GPI). MAD I IMUNIDADE NA DOENÇA DE CHAGAS A infecção por T. cruzi mobiliza vários mecanismos humorais e celulares da resposta imune inata e adquirida. Em consequência, o parasita passa a ser continuamente combatido, tendo sua multiplicação reduzida. Entretanto, ele persiste indefinidamente no hospedeiro, assim como a resposta imune. Como consequência, lesões teciduais resultantes desta atividade imunológica prolongada acumulam-se, podendo desencadear as diversas formas clínicas da doença. IMUNIDADE INATA Diversos mecanismos efetores humorais e celulares estão envolvidos na resposta imune inata do hospedeiro à infecção pelo T. cruzi (CUERVO et al., 2011). A via alternativa do Complemento é ativada sobre as formas epimastigotas, levando-as à lise. As formas tripomastigotas infectantes são resistentes à ação lítica do Complemento, sendo esta resistência associada à expressão de moléculas em sua superfície com propriedades associadas à proteína regulatóriaDAF humana, uma proteína de membrana que desestabiliza a estrutura da C3 convertase depositada. Ao menos duas proteínas clonadas e identificadas de tripomastigotas, T-DAF e gp160, apresentam homologia na sequência de DNA com o DAF e estão implicadas na resistência do parasita ao ataque do Complemento (TAMBOURGI et al., 1993). Um importante sistema de reconhecimento da imunidade inata é definido pela proteína ligante de manose e pelo receptor de manose, expresso na superfície de macrófagos e células dendríticas. Estas proteínas reconhecem padrões moleculares na superfície de micro-organismos, que normalmente estão ausentes nas células do hospedeiro, discriminando assim o não próprio, permitindo sua internalização por células fagocíticas. Formas amastigotas, diferentemente de tripomastigotas e epimastigotas, portam a capacidade de se ligarem à proteína ligante de manose sérica e de aderirem a macrófagos expressando o receptor de manose (KAHN et al., 1995). As células NK são de grande importância na imunidade inata contra o T. cruzi, limitando o crescimento parasitário e promovendo o desenvolvimento da imunidade adquirida (SCOTT e TRINCHIERI, 1995). A invasão de macrófagos, leva à secreção de IL- 12, que ativa as células NK a produzirem IFN-γ (ALIBERTI et al., 1996), que atua reciprocamente sobre macrófagos ativando-os para a atividade microbicida (GAZZINELI et al., 1992). A citocina pró-inflamatória TNF-α produzida por macrófagos durante a infecção por T. cruzi, participa dessa interação de forma sinérgica tanto com IL-12 como com IFN-γ. Diversos estudos demostraram os papéis protetores de IFN-γ (OSWALD et al., 1992) e de TNF-α (SANTOS LIMA et al., 1997), sendo que TNF-α também apresenta efeitos deletérios na resposta do hospedeiro. Em associação ao TNF-α, o IFN-γ induz a produção de NO, através da ativação da expressão da enzima NO- sintase em macrófagos, com atividade tóxica sobre T. cruzi (MUÑOZ-FERNANDEZ et al., 1992). Citocinas como IL-10 e TGF-β exibem um importante papel regulatório na infecção por T. cruzi, inibindo in vitro a produção de NO e a atividade tripanocida de macrófagos infectados e ativados por IFN-γ (GAZZINELI et al., 1992; ROFFÊ et al., 2012). IL-17 consiste numa citocina chave na resposta inflamatória em infecções bacteriansa e fúngicas, sendo importante na proteção do hospedeiro contra a infecção de T. cruzi em sua fase aguda (MIYAZAKI et al., 2010). MAD I IMUNIDADE ADQUIRIDA A infecção do hospedeiro pelo T. cruzi difere de maneira importante de outros micro- organismos patogênicos intracelulares, devido à importância imunoprotetora que a resposta imune humoral apresenta na doença de Chagas. A infecção aguda causa uma intensa e diversificada ativação de linfócitos B, com hiperprodução de imunoglobulinas. O aparecimento de anticorpos específicos está relacionado com a queda da parasitemia (NORRIS et al., 1994) e os isotipos IgG1, IgG2a e IgG2b estão associados com anticorpos envolvidos na eliminação de formas sanguíneas do parasita. Estudos demonstraram a existência de anticorpos associados com um estado de proteção do hospedeiro, capazes de reagir apenas com formas vivas do parasita, e de induzir nestas a lise por Complemento. Estes anticorpos foram denominados anticorpos líticos (KRETTLI & BRENER, 1982). O nível destes decai muito em animais cronicamente infectados, após tratamento quimioterápico, diferentemente dos anticorpos anti-T. cruzi convencionais, que permanecem presentes, sendo a ausência de anticorpos líticos então, utilizada como critério de cura para a doença de Chagas. A resposta imune celular efetora contra a infecção por T. cruzi tem sido alvo de diversos estudos, que demonstraram que a resistência à infecção caracteriza-se por uma resposta do tipo Th1 mais precoce e de maior amplitude, sendo que a evolução para a forma crônica caracteriza-se por uma perda na atividade Th1, com uma substituição para a atividade Th2 (ZHANG & TARLETON, 1996; KUMAR & TARLETON, 2001) MECANISMO DE EVASÃO O complexo ciclo de vida do T. cruzi envolve o surgimento de uma série de características que permitem a sua sobrevivência nos diversos microambientes no inseto vetor e no hospedeiro vertebrado. As formas infectantes para o hospedeiro vertebrado desenvolveram diversos mecanismos que permitissem a sua sobrevivência no meio hostil, representado pelas células e pela corrente sanguínea do hospedeiro, como a expressão de moléculas em sua superfície com capacidade de interferir na ativação das vias clássica e alternativa do Complemento (ANSAADDO & INAL, 2010). Outros mecanismos de evasão utilizados são a renovação de moléculas de superfície através de vias endocíticas que auxiliam o parasito a livrarse de anticorpos ligados à sua membrana, e a liberação de imunocomplexos ligados à membrana mediada por clivagem de glicoproteínas ancoradas através de âncoras de glicosil fosfatidil inositol (GPI), mediada por fosfolipases. Com relação à atividade anticomplemento, os parasitas podem resistir à lise, porque eles não iniciam a ativação do complemento, porque eles bloqueiam a cascata após sua iniciação, ou porque o complexo MAC não causa prejuízo à estrutura da membrana. Formas amastigotas, por exemplo, são muito eficientes em ativar o complemento, mas escapam da morte através da expressão de uma proteína em sua superfície que se liga ao complexo C5b-9 interferindo na inserção de poros funcionais na membrana do parasita. Tripomastigotas MAD I podem se tornar resistentes à lise, pela ligação ineficiente do fator B ao componente. A base da resistência de tripomastigotas à lise mediada pelo complemento é de natureza multifatorial. Diversas glicoproteínas de membrana específicas de tripomastigotas participam e previnem eficientemente a ativação do complemento sobre a superfície do parasita. Algumas destas moléculas como gp160, gp58/68, e T-DAF, que possuem atividade regulatória do complemento, têm sido identificadas baseadas em sua habilidade de inibir o desenvolvimento e/ou acelerar o decaimento da C3 convertase, a enzima central na cascata do complemento. Gp160 encontra-se ligada na superfície através de uma âncora de glicosil fosfatidil inositol (GPI), sendo inicialmente isolada de proteínas ativamente liberadas por parasitas e caracterizada como tendo uma massa molecular de aproximadamente 160 kDa (NORRIS & SCHRIMPF, 1994). Esta glicoproteína foi clonada, apresentando similaridades funcionais e genéticas com a proteína DAF humana (CD55), interferindo na formação das C3 convertases das vias clássica e alternativa, através da sua ligação a C3b e C4b. A sequência gênica obtida na clonagem, denominada CRP-10 codifica uma variante de gp160 que se mostrou funcional através da transfecção do gene em formas epimastogotas sensíveis ao complemento, que após a transfecção produziram uma proteína funcional ligante de C3 tornando-se resistentes à lise pelo complemento (NORRIS, 1998). Outra glicoproteína tripomastigota- específica denominada gp58/68, também é encontrada na superfície do parasita, atuando na inibição apenas da C3 convertase da via alternativa, interagindo com o fator B mais eficientemente do que com C3b, não apresentando atividade aceleradora de decaimento de convertases. Diversos trabalhos demonstraram que certos componentes de superfície de tripomastigotas que interferem na ativação do complemento, quando inativados por tratamento enzimático, removidos ou bloqueados por sensibilização com fragmentos Fab de IgG obtidos de camundongos infectados, transformam os parasitos em ativadores da via alternativa do complemento (KIPNIS et al., 1985; KIPNIS et al., 1987). O aquecimentodas formas tripomastigotas a 45 oC por 10 minutos as torna susceptíveis à lise pela via alternativa. Os sobrenadantes destes parasitas aquecidos foram recuperados e testados em ensaio de lise de hemácias de carneiro, mostrando-se capazes de inibir a formação da C3 convertase da via clássica do Complemento, readquirindo a resistência à lise após 4 horas a 37oC. Esta atividade parecia ser análoga àquela desempenhada pelo DAF humano e por esta similaridade, estes componentes foram denominados T-DAF (TrypomastigoteDecay Accelerating Factor) (KIPNIS et al., 1986). Estudos de CESTARI et al., (2012) apresentam evidências de um novo mecanismo de evasão ao sistema imune desenvolvido por T. cruzi, mediado por vesículas derivadas da membrana plasmática da célula do hospedeiro. Formas tripomastigotas metacíclicas induzem a formação destas vesículas, que após liberadas formam um complexo na superfície do parasito levando à estabilização e inibição da C3 convertase resultando no aumento da sobrevivência do parasito. MAD I CARACTERIZAR AS PRINCIPAIS FORMAS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico pode ser realizado por análise clínica ou laboratorial. CLÍNICO Observa-se a origem do paciente, a presença dos sinais de porta de entrada (sinal de Romana e/ou Chagoma de inoculação) acompanhadas de febre irregular ou ausente. Analisa também queixas de taquicardia, adenopatia-satélite ou generalizada (inchaço de gânglios linfáticos), hepatoesplenomegalia (aumento do fígado/baço), edema generalizado ou dos pés fazem suspeitar de fase aguda de doença de Chagas. As alterações cardíacas acompanhados de sinais de insuficiência cardíaca confirmadas pelo eletrocardiograma e as alterações digestivas e do esôfago e do cólon (reveladas pelos raios X) fazem suspeitar de fase crônica da doença. Entretanto, em ambos os casos, há necessidade de confirmação do diagnóstico por métodos laboratorial. LABORATORIAL Os métodos de diagnóstico laboratorial apresentam diferentes resultados se aplicados na fase aguda ou crônica da infecção. Na fase aguda, observam-se: alta parasitemia, presença de anticorpos inespecíficos e início de formação de anticorpos específicos (IgM e IgG) que podem atingir níveis elevados. Nesta fase, recomenda-se: pesquisa direta e, se necessário, pesquisa indireta do parasito. EXAMES PARASITOLOGICOS 1. Exame de sangue a fresco com gota de sangue colocada entre lâmina e larnínula.7 2. Exame de sangue em gota espessa (Capítulo 55). Este mktodo tem mais chances de detectar o parasito do que o método anterior 3. Esfregaço sangüíneo corado pelo Giemsa. Este método oferece vantagem por permitir observar a morfologia do parasito, mas só será possível em casos de parasitemia muito elevada 4. Cultura de sangue ou material de biópsia (linfonodos), em meios próprios como LIT ou NNN (Capítulo 57) ou meios difásicos de ágar sangue 5. Inoculação do sangue (0,Sml) ou creme leucocitário em camundongos jovens, preferencialmente de linhagens isogênicas, muito susceptíveis a infecção 6. Métodos de concentração. Entre os métodos de concentração, o que tem dado melhores resultados é o método de Strout. Consiste basicamente em deixar o sangue coagular e retrair o coágulo 7. O xenodiagnóstico e a hemocultura são métodos muito sensíveis na fase aguda. O xenodiagnóstico pode chegar a 100% de positividade. Estas técnicas não são normalmente indicadas, uma vez que nestes métodos os exames e obtenção dos resultados ocorrem após 30 dias. Qualquer um dos métodos citados, mas principalmente os três primeiros, são também empregados para o diagnóstico de transmissão congênita e transfusional. EXAMES SOROLÓGICOS 1. Reação de precipitação ou precipitina. Das reações sorológicas esta foi, no passado, a mais indicada na fase aguda, pois apresenta cerca de 95% de sensibilidade a partir do sétimo dia de infecção. É uma reação específica, de execução simples e realizada em tubo MAD I capilar, com antígeno homólogo (polissacárides de formas de cultura do 7: cruzi). Forma-se um precipitado na interface do antígeno, com o soro, conseqüente da reação antígeno- anticorpo. Esta técnica encontra-se em desuso e seu emprego não tem sido recomendado. 2. Reação de imunofluorescência indireta (RIFI). Apresenta alta sensibilidade a partir do 15"ia de infecção, detectando anticorpos da classe IgM, que raramente ocorrem na fase crônica da doença, mas que são constantes na fase aguda, com títulos elevados. Desta forma, a RIFI é uma reação sorológica de escolha para o diagnóstico da fase aguda da doença de Chagas Na fase crônica, observam-se: baixíssima parasitemia, presença de anticorpos específicos (IgG). Nesta fase, a presença de anticorpos IgM é discutida, só sendo detectada esporadicamente em baixos títulos. Recomendam-se métodos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação indireta ou fixação de complemento) ou a pesquisa do parasito por métodos indiretos (xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de laboratório). Estes métodos de diagnóstico parasitológicos tomam-se especialmente necessários quando a sorologia é duvidosa ou quando se deseja verificar a eficácia de tratamento. PROXILAXIA A profilaxia da doença de Chagas está intimamente ligada a melhoria das condições de vida de nosso camponês, bem como a modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora. Sabemos que para se alcançar isto será necessário modificar a estrutura agrária brasileira e a educação sanitária. São metas enormes, mas reputamos as de maior relevância, pois são medidas básicas, capazes de evitar grande número de doenças e de tornar o Brasil um país forte e seguro. COMBATE A TRANSMISSÃO ORAL Cuidados de higiene na produção e manipulação artesanal de alimentos de origem vegetal. Ainda há a necessidade de incentivos à pesquisa para que conhecimentos gerados relacionados à viabilidade do T. cruzi em diferentes alimentos, técnicas de detecção e de inativação e formas de contaminação dos alimentos pelo T. cruzi, entre outros, auxiliem na compreensão da transmissão oral desse parasito e sua melhor interpretação epidemiológica, de prevenção e controle. Programas de capacitação para os batedores artesanais, tecnologia para processamento da polpa de açaí e o controle da qualidade são investimentos que devem ser realizados para que esse produto tão importante para população. TRATAMENTO A terapêutica da doença de Chagas continua parcialmente ineficaz, apesar dos grandes esforços. Diversas drogas vêm sendo testadas em animais e algumas delas têm sido usadas no homem, mas nenhuma consegue suprimir a infecção pelo T. cruzi e promover uma cura definitiva em todos pacientes tratados. Além do problema da terapêutica específica, uma dificuldade enfrentada pelos pesquisadores refere-se ao critério de cura. Outro problema enfrentado refere-se a diferenças regionais de susceptibilidade do T. cruzi a droga, o que na verdade reflete a diversidade genética do parasito. Assim, o Nifurtimox, por exemplo, mostra-se eficiente em chagásicos crônicos na Argentina, porém é pouco eficaz em Minas Gerais. MAD I Índices de cura de 70% ou mais foram alcançados com o uso de nifurtimox e benzonidazol na fase aguda da infecção dependendo da região. Um ponto, entretanto, deve ser salientado: as drogas são mais eficientes quando aplicadas em esquemas terapêuticos prolongados para manutenção de níveis duradouros e eliminação das formas sanguíneas até a exaustão das formas teciduais. São o nifurtimox (Lampit) e o benzonidazol (Rochagan). Estes medicamentos são indicados especialmente nos casos agudos que tenham ocorrido por transmissão natural, portransfusão sanguínea ou acidental, reagudização por qualquer droga ou doença imunossupres- sora e na prevenção da transmissão por transplantes de órgão De toda a forma, o objetivo é, precocemente, diminuir ou eliminar a infecção, o que tem sido mais fácil durante a fase aguda ou infecção recente. Nos casos crônicos, apesar da pouca eficiência dos medicamentos, aconselha-se o seu emprego. Nifurtimox - age contra as formas sanguíneas e parcialmente contra as formas teciduais. É administrado via oral, sob a forma de comprimido na dose 8 a 12mgkg por dia, até 90 dias. Tem efeitos colaterais. Benzonidazol - possui efeitos apenas contra as formas sanguíneas. Deve ser empregado em comprimidos, por via oral, na dose de 5 a 8mgkg por dia, durante até 60 dias. Muitos estudos têm sido conduzidos na procura de terapias alternativas para o tratamento da doença de Chagas. Alguns deles, como o uso dos derivados azólicos ou de citocinas associadas ao benzonidazol (imunoquimioterapia) em modelos experimentais, vêm se constituindo em potenciais tratamentos para a infecção. DESCREVER SUAS PRINCIPAIS MEDIDAS PROFILÁTICAS E DE CONTROLE O controle do barbeiro é feito principalmente através da aplicação de inseticidas, sendo que o inseto geralmente não desenvolve resistência a esses. Em décadas anteriores, o inseticida mais utilizado era o BHC mas, por ser altamente tóxico para os humanos e também para animais domésticos, atualmente tem sido substituído por inseticidas menos tóxicos como, por exemplo, os piretróides (deltametrina, alfacipermetrina, betacipermetrina e outros), em geral, com efeito residual maior que um ano (Marcondes, 2001). Outros inseticidas, tais como o Malathion e o Dieldrin (organoclorado), têm sido utilizados em outros países. No entanto, a alta toxicidade destes em contrapartida com os bons resultados dos piretróides faz com que não sejam utilizados no Brasil. O inseticida a ser utilizado deve ser escolhido sob algumas considerações, a serem encaradas a longo prazo: o custo, o gasto com pessoal e transporte, e a toxicidade para o homem. Uma vez apresentando resultados, o inseticida é reaplicado apenas nos locais onde o barbeiro for encontrado novamente. Apesar do controle feito através dos inseticidas, a melhor maneira de minimizar as infestações ainda seria a prevenção, mediante a melhoria dos tipos de habitações e hábitos de higiene de seus moradores, o que levaria à diminuição dos insetos nos domicílios e peridomicílios. Outra medida básica, mas não menos importante, seria o cuidado com os animais domésticos, evitando a entrada desses nas casas e deixando os lugares em que costumam dormir livres de sujeiras e entulhos. É fundamental a educação das populações de locais de risco quanto a conhecer os barbeiros e a importância de saber que esses podem lhes transmitir uma doença MAD I grave, ainda sem vacina e/ou soro eficiente, e que pode levar ao óbito. A melhoria habitacional talvez seja a mais importante estratégia de prevenção contra a transmissão vetorial da endemia, uma vez que os triatomíneos não infestam moradias de boa qualidade (alvenaria) e em boas condições de higiene. Esse fato muitas vezes está relacionado à condição econômica dos moradores, refletindo o status social da doença, que incide exatamente sobre populações rurais, marginalizadas e excluídas. Dias (1998) comenta que “...dessa forma, uma perspectiva programática e de amplo alcance no âmbito rural só pode ocorrer em termos de iniciativas governamentais, o que nunca aconteceu realmente no Brasil. A melhoria habitacional é mais significativa para as populações rurais do que o uso do inseticida, por ser de caráter definitivo. A participação comunitária é de vital importância em qualquer programa habitacional, uma vez que alterar a moradia significa uma intervenção profunda nas relações familiares e interfamiliares, pois requer mudanças nos hábitos de higiene e na própria forma de ocupar esse novo ambiente. Além disso, verifica-se que essas populações não melhoram ou reconstroem a casa por vários motivos, tais como: falta de recursos, não serem donas do terreno que ocupam e necessidade de freqüentes mudanças de residência para estabelecimento de novas lavouras de subsistência (Dias, 1998). No Brasil, a transmissão natural da doença de Chagas foi grandemente reduzida e grande parte das regiões infestadas por Triatoma infestans, que já foi considerado o principal vetor, hoje encontra-se apenas sob estado de vigilância. A redução da transmissão vetorial resulta, a médio prazo, na diminuição de doadores de sangue e gestantes infectados, o que reduz os riscos da transmissão transfusional e congênita (Dias & Coura, 1997; Dias & Schofield, 1998). Apesar dos avanços alcançados, é fundamental manter atenta vigilância epidemiológica, com real comprometimento da população e dos serviços locais de saúde. Vinhaes & Dias (2000) comentam que “Para o Brasil, esse desafio é hoje ainda maior, quando se observa uma progressiva descentralização da Fundação Nacional de Saúde, devendo suas atividades ser absorvidas por estados e municípios, além da falta de recursos financeiros suficientes para os programas de controle.” MAD I ANEXO Enquanto a maioria dos patógenos intracelulares evita os conteúdos tóxicos dos lisossomas, o T. cruzi realmente necessita de breve exposição ao fagolisossomo ácido para estimular o desenvolvimento das amastigotas (ciclo de vida intracelular e sem movimento), o estágio intracelular do parasito. Para ser exposto ao lisossomo, as tripomastigotas de T. cruzi estimulam um aumento na concentração de cálcio citoplasmático nas células hospedeiras, o que promove a fusão do fagossomo e lisossomo. Além de estimular o desenvolvimento da amastigota, o baixo pH do lisossoma ativa proteínas formadoras de poros que rompem a membrana lisossômicas, liberando o parasito no citoplasma celular. Os parasitos se reproduzem na forma de amastigotas arredondadas no citoplasma das células hospedeiras, e então desenvolvem flagelos, lisam a célula hospedeira, entram na corrente sanguínea e penetram nos músculos liso, esquelético e cardíaco. Na doença de Chagas aguda, a qual é branda na maioria dos indivíduos, o dano cardíaco resulta de invasão direta das células miocárdicas por organismos e subsequente inflamação. Raramente, a doença de Chagas aguda se apresenta com alta parasitemia, febre ou dilatação cardíaca progressiva e insuficiência cardíaca, frequentemente com linfadenopatia generalizada ou esplenomegalia. Na doença de Chagas crônica, a qual ocorre em 20% das pessoas 5 a 15 anos após a infecção inicial, o mecanismo de dano cardíaco e ao trato digestivo é controverso; ele provavelmente resulta de uma resposta imune induzida por parasitos T. cruzi, os quais ainda estão presentes em pequenos números. Um infiltrado inflamatório evidente do miocárdio pode ser induzido por organismos escassos. Alternativamente, parasitos podem induzir uma resposta autoimune, de forma que anticorpos e células T que reconhecem proteínas do parasito reajam de forma cruzada com células miocárdicas do hospedeiro, células nervosas e proteínas extracelulares como a laminina. O dano às células miocárdicas e às vias de condução causa miocardiopatia dilatada e arritmias cardíacas, enquanto o dano ao plexo mioentérico causa dilatação do cólon (megacólon) e esôfago.
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