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Caducidade e Transformação de Legados

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Da caducidade dos legados:
A caducidade do legado se dá quando este perde sua eficácia, por causas legais após a manifestação da última vontade do testador, e por razões alheias à vontade do testador. O testador pode revogar o testamento e consequente legado como e quando lhe aprouver, tal revogação pode ser total ou parcial. Há uma exceção, não se pode revogar o reconhecimento de filho, continuando válido o reconhecimento, mesmo que revogado. O legado pode caducar também por motivo de ordem subjetiva, ou seja, quando faltar o beneficiário, neste caso o bem legado volta a integrar a massa do espólio.(CC, art.1.939) 
Da transformação da coisa legada:
De acordo com Washington de Barros Monteiro “Com o transformar a coisa legada, o testador deixa evidenciada a mudança de sua vontade primitiva, manifestada no ato de última vontade, inutilizando-se o legado”. Assim sendo, a mudança deve ser substancial, de modo a perder seu objeto e deve ser feita pelo próprio testador ou à sua ordem. Porém nem toda a transformação verificada no bem objeto de legado pode ocasionar a caducidade, pois é necessário que essa mudança seja substancial a ponto de não poder ser identificada pelo nome e forma indicados pelo testador. Por exemplo, em relação aos imóveis, eventuais benfeitorias não acarretam a caducidade, pois se mantém o objeto sem perder sua finalidade. O mesmo ocorre com acessórios, pois os mesmos acompanham o objeto principal, como no caso de o testador levantar construção no terreno objeto de legado. Modificações ocorridas em apenas parte do bem, acidentalmente, por casos fortuitos ou praticados por terceiros não implicam em caducidade. Como exemplo pode-se citar a modernização de uma joia, a pintura ou reforma de um imóvel, ou mesmo a demolição de um imóvel e a construção de outro em seu lugar, a transformação do vinho em vinagre, nessas situações é possível a individualização da coisa, como prevista na disposição legatária.
Da alienação da coisa legada:
Se após o testamento, por título gratuito ou oneroso, permuta, doação, dação em pagamento, partilha em vida e sub-rogação feita à terceiros, o testador alienar a coisa legada, no todo ou em parte, caducará a parte que lhe pertence mais. (CC, art. 1939, II). Pois, faz então presumir a sua mudança de vontade e que não deseja mais fazer a liberalidade, ou seja, essa presunção é juris et de jure, não admitindo prova em contrário. Conforme Washington de Barros Monteiro a promessa de venda com caráter irrevogável, acarreta a caducidade do legado por aplicação do princípio da mudança da vontade do testador. Se a coisa legada voltar a integrar o patrimônio do testador, oriunda de nova aquisição, a caducidade será consumada mesmo assim, pois entende-se revogada a liberalidade. Pois se for a intenção do testador restaurar o legado, este deverá ser feito por meio de novo testamento. Se a alienação for anulada o legado será renovado, se demonstrado que a invalidação ocorreu de forma involuntária, ou seja, em razão de algo que influenciou diretamente a vontade do alienante. Se a alienação for feita ao próprio legatário a título gratuito, ocorre a caducidade, por se tratar de doação, isto é, uma antecipação da liberalidade do testador. Assim sendo o bem passa a constituir o patrimônio do legatário. De acordo com o artigo 1.912 do Código Civil: “Art. 1.912. É ineficaz o legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da abertura da sucessão.” Qualquer seja a alienação feita pelo testador em vida, passa o patrimônio a pertencer à pessoa que o recebe, deixando de pertencer ao testador. Verificada na abertura da sucessão que o bem não pertence mais ao autor da herança, o legado caducará, pois é vedada a alienação de coisa alheia.
Do perecimento da coisa legada:
Se a coisa perecer sem culpa do herdeiro ou legatário, o legado caducará, vivo ou morto o testador, pois perde-se o objeto do legado, não tendo mais razão de existir. Todavia se o perecimento for parcial, permanece o legado no remanescente. Por exemplo, se um incêndio acomete um imóvel, subsiste ainda o legado sobre o terreno. Conforme artigo 1.916 do Código Civil: Art. 1.916. Se o testador legar coisa sua, singularizando-a, só terá eficácia o legado se, ao tempo do seu falecimento, ela se achava entre os bens da herança; se a coisa legada existir entre os bens do testador, mas em quantidade inferior à do legado, este será eficaz apenas quanto à existente. Todavia, no caso em que a parte remanescente não possa ser classificada como principal, mas sim como mero acessório, a doutrina entende que se a coisa pereceu com o testador em vida se extingue o legado, porém, após a morte do testador o legatário pode exigir os acessórios, em virtude de seu direito de propriedade. Se o legado for de mais coisas alternativamente e determinada parte perecer, o legado continua vigorando sobre as demais restantes, pois mesmo com o perecimento o legado não perde a unicidade e indivisibilidade. Se a coisa perecer por culpa comprovada, do herdeiro ou legatário, o beneficiário terá o direito ao ressarcimento, respondendo estes por perdas e danos. Porém, se o perecimento ocorrer por culpa de terceiro, o legatário não poderá postular ressarcimento, pois esta ação compete somente ao testador e seus herdeiros, sendo vedada ao legatário.
 Da caducidade do legado por evicção:
O legado caducará se a coisa legada for evicta sem culpa do herdeiro ou legatário, quer seja vivo ou morto o testador, pois a evicção denota pertencer à pessoa diversa a coisa legada, não podendo o legado incidir sobre patrimônio alheio. No caso de legado, portanto, a evicção acarreta sua caducidade. Já quanto à herança, legítima ou testamentária, uma vez feita a partilha, o herdeiro que se torne evicto tem direito de ser ressarcido pelos coerdeiros na proporção de suas quotas hereditárias (Cód. Civil, art. 2.026). Essa obrigação de indenizar passa indistinta e reciprocamente sobre todos os coerdeiros (art. 2.024). Caso ocorra a perda da coisa legada, decorrente de sentença, o legado caducará, quer seja a evicção arguida contra o testador ou contra o legatário. Entretanto, se a evicção for parcial, permanece o legado no tocante a parte remanescente.

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