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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/291343061 QUALIDADE DAS ÁGUAS DO ARROIO PASSINHOS, CACHOEIRINHA/RS Research · January 2016 DOI: 10.13140/RG.2.1.4691.0485 CITATIONS 0 READS 1,092 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Watershed Management and Ecosystem Services View project Geodiversity and Integrated Coastal Zone Management View project Eduardo Marques Martins Federal University of Santa Catarina 39 PUBLICATIONS 59 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Eduardo Marques Martins on 21 January 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/291343061_QUALIDADE_DAS_AGUAS_DO_ARROIO_PASSINHOS_CACHOEIRINHARS?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/291343061_QUALIDADE_DAS_AGUAS_DO_ARROIO_PASSINHOS_CACHOEIRINHARS?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Watershed-Management-and-Ecosystem-Services?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Geodiversity-and-Integrated-Coastal-Zone-Management?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Eduardo-Martins-5?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Eduardo-Martins-5?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Federal-University-of-Santa-Catarina2?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Eduardo-Martins-5?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Eduardo-Martins-5?enrichId=rgreq-a6d12b1e9a889edbd737c42829619cae-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5MTM0MzA2MTtBUzozMjAzNTE1NTEwNjYxMTJAMTQ1MzM4OTE2OTMwMg%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf EDUARDO MARQUES MARTINS A QUALIDADE DAS ÁGUAS DO ARROIO PASSINHOS, MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA/RS ORIENTADOR Prof. Luis Alberto Basso Porto Alegre, dezembro de 2007. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS Departamento de Geografia A QUALIDADE DAS ÁGUAS DO ARROIO PASSINHOS, MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA/RS EDUARDO MARQUES MARTINS NOME DO ORIENTADOR Prof. Dr. Luis Alberto Basso COMISSÃO EXAMINADORA Profa. Dra. Nina Simone Vilaverde Moura-Fujimoto Profa. Dra. Tânia Marques Strohaecker Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Geografia apresentado na forma de monografia, junto à disciplina Trabalho de Graduação II, como requisito parcial para obtenção do grau de Geógrafo. Porto Alegre, dezembro de 2007. Martins, Eduardo Marques A Qualidade das águas do Arroio Passinhos, Município de Cachoeirinha/RS. / Eduardo Marques Martins - Porto Alegre : UFRGS, 2007. [79 f]. il. Trabalho de Conclusão do Curso de Geografia. - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Porto Alegre, RS - BR, 2007. 1. Geografia. 2. Bacia hidrográfica do Arroio Passinhos. 3. Qualidade das Águas. 4. Sedimentos. 5. Cachoeirinha/RS. I. Título. _____________________________ Catalogação na Publicação Biblioteca Geociências - UFRGS Renata Cristina Grün CRB10/1113 iii AGRADECIMENTOS À/AO: Deus Minha família Meus amigos +) Prof. Luis Alberto Basso; Centro Estadual de Pesquisa em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Funcionários do R.U./Campus do Vale Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cachoeirinha (SMMA); Técnicos da Estação de Tratamento de Esgoto Cachoeirinha-Gravataí (ETE Freeway); Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha (COMDEMA); Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN); Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA); Laboratório de Análises de Solo da Faculdade de Agronomia da UFRGS; e todas aquelas pessoas que a gente sempre esquece, mas que são, sempre, fundamentais. iv RESUMO Devido ao interesse mútuo em levantar informações pertinentes à qualidade das águas do arroio Passinhos e de sua bacia hidrográfica, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha (SMMA) e o autor deste trabalho firmaram um convênio que culminou na criação e execução do projeto “Qualidade das Águas do Arroio Passinhos”. O objetivo principal do projeto foi verificar a relação existente entre a qualidade das águas superficiais e dos sedimentos de fundo do arroio Passinhos e o uso e ocupação do solo identificados na área de sua bacia hidrográfica analisando o processo de urbanização do município. Esse processo ocorreu de forma rápida, desorganizada e hostil ao meio ambiente: em 31 anos, foi constatado um crescimento da mancha urbana na bacia do Passinhos de 200%; mais de 70% dos 10,9km2 da bacia estão urbanizados. Nesse meio tempo, áreas de recarga e nascentes foram destruídas, cursos fluviais transformados em torrentes de esgoto, matas e florestas deram lugar a bairros, espécies animais foram destituídas de seu habitat e o arroio Passinhos perdeu sua condição de “natural”: ele nasce no meio de uma das zonas mais densamente povoadas da Região Metropolitana de Porto Alegre, recebendo, ao longo de seu percurso, todo o tipo de efluentes não-tratados antes de chegar a sua foz, completando seu o caminho de 7km. A metodologia selecionada para avaliar a qualidade das águas superficiais da bacia hidrográfica do arroio Passinhos foi o Índice de Qualidade da Água (IQA) idealizado pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos, modificado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) e aplicado pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM). Para analisar a qualidade do sedimento de fundo, utilizou-se o método determinado como Fator de Contaminação de Hakanson (FC), que se baseia na razão entre o valor encontrado para o metal e o Nível de Base Natural ou background (NBN) do terreno. Após duas amostragens de água (em quatro pontos) e de sedimento (em dois pontos), uma obtida no outono e outra no inverno, concluiu-se que: a qualidade das águas do Passinhos é muito ruim devido ao constante lançamento in natura de grandes cargas de efluentes não tratados provenientes de zonas industriais e residenciais/comerciais; fruto da falta de fiscalização ambiental e de saneamento básico em uma zona de alta densidade demográfica.Condições derivadas de um processo de urbanização caracterizado pelo despreparo do Município de Cachoeirinha em receber todos os imigrantes, déficit habitacional e de infra- estrutura básica de saneamento, falta de planejamento adequado e carências legislativas no âmbito ambiental e social. O ponto amostrado mais crítico apresentou IQA de 27 (“RUIM”) e 23,75 (“MUITO RUIM”) e os sedimentos, segundo o FC, apontam para uma contaminação “ALTA” de Chumbo e Cádmio (metais pesados altamente tóxicos), apresentando acréscimo entre os pontos amostrados de até 1.000%. A SMMA recebeu todos os dados e informações levantadas, assim como uma cópia deste trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Bacia hidrográfica do arroio Passinhos; qualidade da água; sedimentos. v RESUMO Debido al interés mutuo en el estudio y levantamiento de informaciones pertinentes a la calidad de las aguas del arroio Passinhos y su cuenca hidrográfica, la Secretaria Municipal de Meio Ambiente del Município de Cachoeirinha (SMMA) y el autor de este trabajo firmaron un acuerdo que culminó con la creación y ejecución del proyecto "Qualidade das Águas do Arroio Passinhos". El principal objetivo del proyecto era verificar la relación entre la calidad de las aguas y de los sedimentos del arroio Passinhos y el uso y ocupación del suelo identificadas en el área de su cuenca mediante el análisis del proceso de urbanización. Este proceso ocurrió de manera rápida, desorganizada y impactante: en 31 años, se diagnosticó un crecimiento del área urbanizada en la cuenca del Passinhos de 200%, resultando en la urbanización de más del 70% de la cuenca (10,9 km2). En ese tiempo, las zonas de recarga fueron destruidas, el Passinhos fué convertido en uma torrente de aguas residuales, bosques dieron lugar a barrios, especies animales fueron destituidas de sus hábitats, llevando al Passinhos la perdida de su condición de "natural". El Passinhos surge en el medio una de las zonas más densamente pobladas de la Región Metropolitana de Porto Alegre/RS (Brasil), recibiendo todo tipo de efluentes no tratados antes de finalizar su trayecto de 7 km. La metodología adoptada para evaluar la calidad de las aguas superficiales de la cuenca hidrografica del arroio Passinhos fué el Índice de Calidad del Agua (IQA) idealizada por la “National Sanitation Foundation” de los Estados Unidos, modificado por la “Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental” (CETESB), y desarrolladas por el “Instituto Mineiro de Gestão de Águas” (IGAM). Para analizar la calidad de los sedimentos, el método utilizado fué el Factor de Contaminación de Hakanson (FC), basado en la relación entre el valor encontrado para el metal y el “background” (NBN) del terreno. Después de dos muestras de agua (en cuatro puntos) y de sedimentos (en dos puntos), obtenidos en el otoño y invierno, se concluyó que: la calidad de las aguas del Passinhos es “MUY MALA” debido al constante lanzamieto de cargas de efluentes no tratados originarios de zonas industriales y residenciales/comerciales; resultado de la falta de fiscalización ambiental y de saneamiento en una zona de alta densidad demográfica. Condiciones derivadas de un proceso de urbanización que se caracterizó por una inmigración masiva, deficiencias en vivienda y en la infraestructura básica de saneamiento, falta de una planificación adecuada y leyes ambientales y sociales insuficientes. El punto más crítico amuestrado presentó IQA 27 ("MALO") y 23,75 ("MUY MALO") y los sedimentos, de acuerdo con el FC, indican una contaminación "ALTA" de Plomo y Cadmio (metales pesados altamente tóxicos), que presentan, entre los puntos amuestrados, um aumentos de más 1,000%. La SMMA recibió todos los datos e informaciones levantadas, así como una copia de este trabajo. (Perdón por los errores!) PALABRAS-CLAVE: Cuenca hidrográfica del arroio Passinhos; calidad del água; sedimentos. vi ABSTRACT Due to the mutual interest in survey relevant information relevant to the quality of water of arroio Passinhos and its river basin, the Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha (SMMA) and the author of this work signed an agreement which culminated in the creation and implementation of the project “Qualidade das Águas do Arroio Passinhos”. The main objective of the project was to verify the relationship between the quality of waters and sediments of arroio Passinhos and the use and occupation of land identified in the area of its basin by analyzing the process of urbanization. This process happened so fast, disorganized and hostile to the environment: in 31 years, was diagnosed a growth of urban stain in the basin of Passinhos of 200%, more than 70% of the 10.9 km2 of the basin are urbanized. Meanwhile, areas of spring have been destroyed, river courses turned into torrents of sewage, forests gave rise to districts, animal species have left their habitat and the arroio Passinhos lost their status as "natural". He emerge in the middle one of the most densely populated areas of the Metropolitan Region of Porto Alegre/RS (Brasil), receiving all sorts of non-treated effluent before he completes his journey of 7km (11.83mi). The methodology selected to evaluate the quality of surface waters of the river basin of arroio Passinhos was the Index of Water Quality (IQA) idealized by the National Sanitation Foundation of the United States, modified by the “Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental” (CETESB) and implemented by the “Instituto Mineiro de Gestão de Águas” (IGAM). To analyze the quality of the sediment, the method used was the Contamination Factor of Hakanson (FC), based on the ratio between the value found for the metal and the background (NBN). After two samples of water (in four points) and sediment (in two points), one obtained in the fall and one in winter, it is concluded that: the quality of the waters of the Passinhos is “VERY BAD” because of the constant spill in natura of major loads of untreated effluents from industrial and residential/commercial areas; result of the lack of sanitation in an area of high population density and lack of environmental monitoring. Conditions derived from a process of urbanization characterized by massive immigration, shortcomings of housing and sanitation basic infrastructure, lack of proper planning and insufficiente laws in environmental and social scope. The most critical point sampled presented IQA 27 ( "BAD") and 23.75 ( "VERY BAD") and sediments, according to the FC, indicate a contamination "HIGH" of Lead and Cadmium (highly toxic heavy metals), presenting increase between the sampled points of up to 1,000%. The SMMA received all data and information raised, as well as a copy of this work. (Sorry for the mistakes!) KEYWORDS:: River basin of arroio Passinhos; water quality; sediments. . vii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS....................................................................................................................................... III RESUMO .............................................................................................................................................................IV RESUMO .............................................................................................................................................................. V ABSTRACT .........................................................................................................................................................VI SUMÁRIO.......................................................................................................................................................... VII INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 8 OBJETIVOS CENTRAL E ESPECÍFICOS ...................................................................................................................8 JUSTIFICATIVA..................................................................................................................................................... 8 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................................................................................................. 10 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E OPERACIONAIS .............................................................. 12 2.1 ENCAMINHAMENTO DO PROJETO/PROPOSTA DE AÇÃO CONJUNTA................................................................ 12 2.2 ETAPA DE CAMPO ........................................................................................................................................ 12 2.2.1 Água.................................................................................................................................................... 15 2.2.2 Sedimento............................................................................................................................................ 26 2.3 ETAPA DE GABINETE ................................................................................................................................... 28 2.3.1 Aprimoramento teórico-conceitual ..................................................................................................... 28 2.3.2 Análise individual dos resultados laboratoriais ................................................................................. 28 2.3.3 Análise conjunta dos resultados laboratoriais.................................................................................... 28 2.3.4 Cálculo e cruzamento de informações ................................................................................................ 28 2.3.5 Manipulação e extração de informações de imagens de satélite ........................................................ 29 3. PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E REGIÕES METROPOLITANAS .................................................. 32 3.1 REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE............................................................................................. 32 3.2 MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA .................................................................................................................... 34 3.3 CACHOEIRINHA NA ATUALIDADE................................................................................................................. 36 3.3.1 Aspectos Geológicos e Geomorfológicos............................................................................................ 38 3.3.2 Aspectos Climáticos e Cobertura Vegetal........................................................................................... 39 3.3.3 Recursos Hídricos............................................................................................................................... 40 4. A BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO PASSINHOS ......................................................................... 43 4.1 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .......................................................................................................................... 44 4.2 A SITUAÇÃO ATUAL DO ARROIO PASSINHOS ................................................................................................ 46 5. A QUALIDADE DA ÁGUA E DO SEDIMENTO DE FUNDO DO ARROIO PASSINHOS .................. 53 5.1 PRINCIPAIS USOS DA ÁGUA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS ................................................................................... 53 5.2 SEDIMENTO ................................................................................................................................................. 54 5.3 RESULTADOS DAS ANÁLISES DE ÁGUA E SEDIMENTO ................................................................................... 55 5.4 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS .................................................................................................................... 61 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................... 65 7. RECOMENDAÇÕES...................................................................................................................................... 70 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................... 71 8.1 REFERÊNCIAS VIRTUAIS CONSULTADAS...................................................................................................... 72 ANEXOS .............................................................................................................................................................. 74 8 INTRODUÇÃO O seguinte trabalho tem como tema a qualidade da água e sua relação com o uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica. A escolha deste “enredo” se deve a relevância que o estudo de bacia hidrográfica como unidade de análise vem demonstrando em dias de crescente preocupação e degradação do meio ambiente, principalmente dos recursos hídricos. Objetivos Central e Específicos O objetivo central é verificar a relação existente entre a qualidade das águas superficiais do arroio Passinhos e o uso e ocupação do solo identificados em sua bacia hidrográfica, analisando o processo de urbanização do município desde sua emancipação. Para tanto, foi necessário: � Analisar o processo de urbanização do Município de Cachoeirinha e suas possíveis conseqüências na bacia e no arroio Passinhos; � Identificar o uso e ocupação do solo na área da bacia do Passinhos; � Obter informações sobre a qualidade das águas e do sedimento de fundo do curso d’água principal através de análises laboratoriais; � Criar mapa dos resultados de qualidade da água e do sedimento de fundo. Justificativa Uma das principais mudanças advindas do processo de urbanização é a modificação das características superficiais do solo. Na maioria das vezes, esse processo tende à impermeabilização, influenciando direta e principalmente, os aspectos de escoamento superficial, captação, evapotranspiração, infiltração e recarga do ciclo hidrológico. O processo de urbanização, para que suas conseqüências e formas como acontece sejam mais bem entendidas, deve ser compreendido como “um processo social que se refere tanto ao crescimento físico dos artefatos geográficos, quanto às mudanças nas relações 9 comportamentais e sociais desenvolvidas no interior das cidades e das aglomerações urbanas.” (STROHAECKER, 2001). Dessa forma, quando o processo de urbanização avança sobre o meio natural, de maneira desordenada, [se caracteriza como] um dos processos mais impactantes no meio ambiente, notadamente no que se refere à qualidade dos recursos hídricos, [causando] a degradação progressiva de áreas de mananciais (CARVALHO & BRAGA, 2001). A água é um recurso indispensável para a estrutura das cidades. Apesar disso, é nesses ambientes, onde é tão essencial, que este recurso renovável enfrenta grandes dificuldades. Problemas relacionados ao desperdício, poluição e contaminação dos corpos hídricos e à destruição de seus ambientes associados, são comuns e facilmente visíveis no dia-a-dia das cidades. Os impactos diários que o modo de vida urbano impõe ao Passinhos são os grandes promovedores da transformação da qualidade física, química e organoléptica de suas águas. Se considerarmos que “a qualidade de uma determinada água é função do uso e da ocupação do solo de sua bacia hidrográfica” (SPERLING, 1995), fica claro que intrínseco ao processo de urbanização da maneira como ocorreu e vem ocorrendo em Cachoeirinha está à degradação do seu meio ambiente e de seus recursos hídricos. No Município de Cachoeirinha, principalmente na porção centro-norte da bacia hidrográfica do arroio Passinhos, essa problemática ambiental é uma verdade histórica. Das três nascentes conhecidas do arroio Passinhos:uma se encontra preservada no interior do Parque Municipal Dr. Tancredo Neves, uma Unidade de Conservação da Natureza de 18ha; a segunda encontra- se sob uma residência (assim como toda a área a sua volta) a, pelo menos, 18 anos; e a última, dizem os moradores mais antigos do local, foi aterrada. A alta densidade demográfica na cabeceira da bacia e a ineficiente abrangência da coleta de esgoto para tratamento, condicionaram o arroio Passinhos a ser um simples corpo receptor de efluentes não tratados. As mudanças foram tão drásticas que uma mesma geração pôde constatar e testemunhar os impactos que o processo de urbanização desordenado e de rápida expansão impôs ao meio ambiente sob jurisdição do município. A qualidade atual das águas do Passinhos é, certamente, antagônica à qualidade que um meio ambiente saudável deveria propiciar-lhe. 10 A realidade sanitária do arroio pede medidas urgentes. Mais ainda ao se admitir que a saúde e qualidade de vida da população estão vinculadas às boas condições do meio ambiente a sua volta. Mas a formulação de diagnósticos e a construção de planos de ação efetivos pelos órgãos e/ou responsáveis pela gestão se vêem prejudicados pela carência de informações básicas e/ou imprescindíveis sobre o arroio Passinhos e sua bacia hidrográfica. Desta forma, com a finalidade de: A) prover o poder público municipal com informações técnico-científicas importantes sobre o seu meio ambiente, recursos hídricos e território; B) promover a cidadania e responsabilidade social (o autor é um estudante de universidade pública); e C) fortalecer/incitar a cooperação entre instituições públicas, este trabalho foi proposto e realizado através de uma parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha (SMMA), a qual receberá todos os dados e informações levantadas, assim como uma cópia do presente trabalho. Localização da Área de Estudo O Município de Cachoeirinha, pertencente à Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), está a 17km da capital gaúcha (FIG. 1). Conta com 43,8km2 de área, abrangendo parcialmente quatro bacias hidrográficas: a do arroio Sapucaia, tributário do rio do Sinos; e a dos arroios Brigadeiro, Barnabé e Passo Grande, ou Passinhos (como comumente é conhecido) tributários do rio Gravataí. 11 FIG. 1: Localização do Município de Cachoeirinha na RMPA. A área de estudo é a bacia do arroio Passinhos, localizada no quadrante leste-sudeste de Cachoeirinha. As águas de seu curso hídrico principal se deslocam no sentido nordeste- sudeste-sul, como mostra a FIG. 2, elaborada a partir de uma imagem de 2006 do satélite CBERS-2 (composição colorida RGB-342) de resolução espacial igual a 20m. FIG. 2: Localização da bacia hidrográfica do arroio Passinhos. Região Metropolitana de Porto Alegre FONTE: Adaptado da Fundação de Planejamento Metropolitano e Regional (METROPLAN) (2002). Limite Municipal de Cachoeirinha Limite da Bacia do Passinhos Arroio Passinhos Localização da Bacia Hidrográfica do Arroio Passinhos no Município de Cachoeirinha 12 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E OPERACIONAIS Para alcançar os objetivos propostos, se dividiu o trabalho em três etapas: � Encaminhamento do projeto/proposta de ação conjunta; � Etapa de campo; � Etapa de gabinete. 2.1 Encaminhamento do projeto/proposta de ação conjunta Após incursão a campo de reconhecimento das condições do arroio Passinhos junto a técnicos da SMMA, em novembro de 2006, fez-se o encaminhamento do projeto ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente de Cachoeirinha (COMDEMA). Após a aprovação, o auxílio financeiro junto ao Fundo Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Cachoeirinha (FUMDEMA) foi viabilizado e amparava a seguinte metodologia: � 8 amostragens de água superficial, em duas campanhas (4 x 4); � 4 amostragens de sedimento de fundo, também em duas campanhas (2 x 2). Para realizar a etapa seguinte, a SMMA ficou encarregada do transporte e do pagamento das análises laboratoriais, enquanto as amostragens, as análises e a apresentação técnico-científica dos resultados laboratoriais em forma de texto ficaram a cargo do autor. 2.2 Etapa de Campo No mês de janeiro de 2007, se fez um percorrido das nascentes à foz do Passinhos identificando os diferentes tipos de uso e ocupação do solo, assim como os impactos ambientais. Também se visitou a Estação de Tratamento de Esgoto de Cachoeirinha-Gravataí (ETE Freeway), onde o técnico responsável apresentou a estação, explicando todo o processo de tratamento desde a entrada do esgoto bruto até a saída do efluente tratado (99% de eficácia). A metodologia de coleta de material foi idêntica nas duas incursões a campo, uma 13 no dia 4 de junho e a outra no dia 4 de setembro de 2007. As coletas de material se realizaram no turno da manhã e duraram, aproximadamente, 4 horas. O ponto de amostragem preferencial no arroio, excetuando a nascente, foi entre a margem e centro do fluxo. Para evitar a perda de qualidade das amostras, o material coletado foi entregue no mesmo dia ao Laboratório de Análises de Solo da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cadastrado junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler do Estado do Rio Grande do Sul (FEPAM) como “Laboratório de Análises Ambientais” sob o número 12/2006-DL. Os pontos de amostragem podem ser visualizados na FIG. 3: FIG. 3: Localização dos pontos de amostragem. Os locais de amostragem podem ser vistos pelas FOTOS 1, 2, 3 e 4: Localização dos Pontos de Amostragem 1 2 3 4 1 2 3 4 Nascente Anterior à Zona Industrial Posterior à Zona Industrial Proximidades da Foz Limite Municipal de Cachoeirinha Limite da bacia do Passinhos Arroio Passinhos 14 FOTO 1: Nascente. FOTO 2: Anterior à Zona Industrial. FOTO 3: Posterior à Zona Industrial FOTO 4: Proximidades da foz. A seguir, para cada ponto amostrado, apresenta-se o tipo de material coletado e uma breve descrição do local: � Ponto 1: água. A zona residencial e mista adjacente se caracteriza por ser altamente urbanizada, com as vias secundárias sem asfaltamento. Observam-se infra-estruturas habitacionais e comerciais majoritariamente simples, com algumas variações tanto para níveis mais rudimentares, como aprimorados. Verificam-se os serviços de esgotamento e abastecimento de água potável (água encanada), apesar de este último apresentar períodos de interrupção no verão; � Ponto 2: água e sedimento. A zona industrial interrompe, na margem direita do arroio, a expansão residencial. Na sua maioria, as indústrias inseridas estão relacionadas ao fracionamento de produtos químicos, à metalurgia, fabricação de máquinas, aparelhos, produtos plásticos, entre outras. Têm porte “pequeno” com 04/06/2007 04/06/2007 15 atividades de potencial poluidor “médio”1. A zona residencial, na margem esquerda, apresenta melhorias infra-estruturais se comparadas com o ponto anterior. Porém, devido a que muitas residências estão próximas ao Passinhos, observa-se o lançamento “clandestino” in natura de efluentes domésticos não tratados; � Ponto 3: água e sedimento. A qualidade das residências é mais aprimorada que nos pontos anteriores e, praticamente, todas as ruas são asfaltadas. Nesse ponto, a quantidade de moradias e estabelecimentos comerciais conectados ao sistema de coleta e tratamento de esgoto é muito maior; e � Ponto 4: água. O Passinhos adentra-se na área privada e preservada conhecida como “Mato do Júlio”. Porém, quando se aproxima do Bairro Parque da Matriz (margem esquerda), volta a sofrer com o lançamento de efluentes não tratados, que contaminam as suas águas. 2.2.1 Água Submergiram-se totalmente os recipientes até seu volume estar totalmente preenchido.No processo de coleta de água, utilizaram-se 5 diferentes tipos de frascos e/ou recipientes (não foram tomadas medidas de temperatura in loco pela ausência de aparelho específico). Armazenaram-se as amostras em isopor não refrigerado. Os parâmetros, métodos de análise e limites de detecção estão indicados na TABELA 1: 1 O potencial poluidor é identificado pela FEPAM segundo a função/processo que a indústria desenvolve e/ou pratica. 16 TABELA 1 – Parâmetros analisados, metodologia analítica utilizada e limites de detecção. Parâmetro Método Aplicado Limite de Detecção Potencial hidrogeniônico Potenciometria - Digestão Kjedahl Destilação Nitrogênio kjeldahl (mg/L) Titulometria 0,1mg/L Destilação Titulometria Nitrogênio nitrato (N-NO3) + nitrito (N-NO2) (mg/L) Liga de Varda 0,1mg/L Digestão Ácida Espectrofotometria Fósforo total (mg/L) Ácido Ascórbico 0,1mg/L Winkler com Azida de Sódio Demanda bioquímica de oxigênio (mg O2/L) Indubação 5 dias 2,0mg O2/L Oxigênio dissolvido (mg O2/L) Winkler com Azida de Sódio 2,0mg O2/L Turbidez (uT) Turbidimetria 1,0 uT Filtração Sólidos totais (mg/L) Gravimetria 10 mg/L Microorganismos termotolerantes (NMP*/100ml) Tubos Múltiplos 2 * Número mais provável. As análises laboratoriais seguiram o método proposto pela Standard Methods for the examination of water and wastewater (1995, 1998). O método escolhido para analisar a qualidade das águas superficiais da bacia hidrográfica do arroio Passinhos foi Índice de Qualidade da Água (IQA) idealizado pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos (NFS), modificado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), ligada a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e aplicado pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas (IGAM). Incorpora nove parâmetros considerados importantes para a avaliação da qualidade das águas quando o determinante principal de utilização é o abastecimento público. A relevância de todos os parâmetros está descrita abaixo (BASSOI; GUAZELLI, 2004): � Oxigênio dissolvido (OD): É de essencial importância para os organismos aeróbicos. Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar uma redução da sua concentração no meio. É o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição das águas por despejos orgânicos; � Potencial hidrogeniônico (pH): Representa a concentração de íons de hidrogênio H+ (em escala anti-logarítmica) dando uma indicação a 17 condição de acidez (0-7), neutralidade (7) ou alcalinidade (7-14). Uma alteração brusca de pH, que se afastam da neutralidade, podem afetar a vida aquática. � Fósforo total (PT): Na água apresenta-se principalmente nas formas de ortofosfatos, polifosfatos e fósforo orgânico (menor importância). Nutriente essencial para o crescimento dos microorganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica, em elevadas concentrações pode ocasionar crescimento exagerado de algas (eutrofização). � Turbidez (Tu): Componente organoléptico que indica o grau de interferência com a passagem da luz através da água, conferindo uma aparência turva. Pode estar relacionado à componentes tóxicos e organismos patogênicos. Pode prejudicar a fotossíntese. Mede-se via unidade de Jackson ou nefelométrica (uT). � Microorganismos termotolerantes (MTT): A determinação da potencialidade de uma água transmitir doenças (febre tifóide e paratifóide, disenteria bacilar e cólera) pode ser efetuada de forma indireta através dos organismos indicadores de contaminação fecal (coliformes do gênero Escherichia, por exemplo), atribuindo à água a característica de imprópria para consumo humano. � Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): Representa a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbica para uma forma inorgânica estável. Normalmente é considerada como a quantidade de oxigênio consumida durante um determinado período de tempo de cinco dias numa temperatura de 20°C, é freqüentemente usado e referido como DBO5,20. Um elevado valor da DBO indica um incremento da microflora presente, o que interfere no equilíbrio da vida aquática, além de produzir sabores e odores desagradáveis. Ela não indica a presença de matéria não-biodegradável, nem leva em consideração o efeito tóxico ou inibidor de matéria sobre a atividade microbiana. A presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir á completa extinção de oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aquática. � Nitrogênio total (NT): No meio aquático, o nitrogênio pode ser encontrado em forma molecular (N2), orgânica (dissolvido ou em suspensão), nitrito 18 (NO2) e nitrato (NO3). A determinação da forma predominante do N pode fornecer informações importantes sobre o estágio da poluição. Implicação direta no consumo de oxigênio dissolvido (OD) nos processo bioquímicos de conversão da amônia (tóxico) em nitrito e nitrato. Em grande quantidade o nitrato contribui para o desenvolvimento da metemoglobinemia infantil (blue baby). O nitrogênio, como é nutriente indispensável para o crescimento de algas, quando de seu excesso, pode ocasionar processos de eutrofização. Nesse trabalho, O NT é a somatória dos valores encontrados para o Nitrogênio kjeldahl (Nitrogênio orgânico mais Nitrogênio amonical), N-NO3 e N-NO2. � Sólidos totais (ST): Podem se sedimentar no leito dos rios, destruindo organismos que fornecem alimentos, ou danificar os leitos de desova de peixes. Pode reter bactérias e resíduos orgânicos no fundo dos rios, promovendo decomposição anaeróbica. � Temperatura (°C): Medida de intensidade de calor. Relaciona-se ao aceleramento ou retardo de processos químicos e físicos. Sua variação é parte do regime climático normal, bem como sua estratificação vertical. Geralmente, a elevação por causas antrópicas está relacionada a despejos industriais. À medida que a temperatura aumenta, a viscosidade, a tensão superficial, a compressibilidade, o calor específico, a constante de ionização e o calor latente diminuem, enquanto a condutividade térmica e a pressão de vapor aumentam as solubilidades. Organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica superior e inferior nos diferentes estágios de seu desenvolvimento, que podem variar. O IQA é calculado pelo produto ponderado das qualidades de água correspondentes aos parâmetros mencionados. A formula é a seguinte: 19 em que: IQA: Índice de Qualidade da Água, um número de 0 a 100; : produtório; n: número de parâmetros que entram no cálculo do IQA; qi: qualidade do i-ésimo parâmetro, um número de 0 a 100 obtido por “curvas médias de variação de qualidade”; e wi: peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número de 0 a 1, atribuído em função da sua importância para a conformação global de qualidade, sendo que: em que: : somatório. Os pesos (wi) utilizados para cada parâmetro estão indicados na TABELA 2. TABELA 2 – Pesos utilizados no cálculo do IQA para cada parâmetro. Parâmetro OD (%) MTT pH DBO5 NT PT T (°C) Tu RT Peso (wi) 0,17 0,15 0,12 0,10 0,10 0,10 0,10 0,08 0,08 O qi é obtido, em função de sua concentração média, através de curvas de variação de qualidade da água estabelecias de acordo com o estado ou com a condição de cada parâmetro. Essas curvas de variação, sintetizadas em um conjunto de curvas médias para cada parâmetro, bem como seu peso relativo correspondente, são apresentadas na FIG. 4: 20 FIG. 4: Curvas médias de variação de qualidade da água. A partir do cálculo efetuado, pode-se determinar a qualidade das águas brutas que, indicada pelo IQA numa escala de 0 a 100, é classificada,para abastecimento público, segundo a graduação apresentada na TABELA 3 (o IGAM não utiliza as centésimas): TABELA 3 – Classificação da qualidade da água segundo o IQA. Qualidade (q) IQA Excelente 90,01 – 100 Bom 70,01 – 90,00 Médio 50,01 – 70,00 Ruim 25,01 – 50,00 Muito Ruim 0 – 25,00 21 No caso de não se dispor do valor de algum dos nove parâmetros, o cálculo do IQA é inviabilizado. Porém, no caso brasileiro, segundo o IGAM, a falta de medidas de temperatura pode ser relevada porque, no Brasil, há uma baixa variação de temperatura de equilíbrio. Por este motivo, o resultado q para o parâmetro temperatura é uma constante igual a 93. Para calcular a saturação de OD, utilizou-se uma temperatura padrão de 15°C. Outro instrumento utilizado para auxiliar na avaliação das águas suprficiais foi a legislação ambiental. Compararam-se os resultados das análises laboratoriais com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n° 357, de 17 de março de 2005, com a finalidade de classificar a qualidade das águas do arroio Passinhos segundo determinações legislativas da esfera federal. Esta resolução, descrita a seguir, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de afluentes, e dá outras providências. Classifica as águas doces (salinidade inferior a 0,5 ‰) em 5 categorias, segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes: I - Classe especial: águas destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. II - Classe 1: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA n° 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; 22 e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III - Classe 2: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA n° 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e) à aqüicultura e à atividade de pesca. IV - Classe 3: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e) à dessedentação de animais. V - Classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; b) à harmonia paisagística. Como na Resolução n° 357/2005 do CONAMA, devido à quantidade de parâmetros contemplados, as condições e padrões de qualidade que ditam os limites entre classes são extensos, neste trabalho se utilizou somente aquelas condições e padrões de qualidade que auxiliariam na análise comparativa com os dados observados no arroio Passinhos. A seguir, constam as condições e padrões utilizados para cada classe de água: 23 Nas águas de classe especial deverão ser mantidas as condições naturais do corpo hídrico. Já nas águas doces de classe 1 observar-se-ão as seguintes condições: a) não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido; b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; c) óleos e graxas: virtualmente ausentes; d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes; e) corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes; f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes; g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário deverão ser obedecidos os padrões de qualidade de balneabilidade, previstos na Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente; h) DBO 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2; i) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2; j) turbidez até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT); k) pH: 6,0 a 9,0. Aplicam-se às águas doces de classe 2 as condições anteriores, à exceção do seguinte: 24 a) não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais; b) coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário deverá ser obedecida a Resolução CONAMA no 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente; c) turbidez: até 100 UNT; d) DBO 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2; e) OD, em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2; As águas doces de classe 3 observarão as seguintes condições: a) não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido; b) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; c) óleos e graxas: virtualmente ausentes; d) substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes; e) não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais; f) resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes; g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário não deverá ser excedido um limite de 2500 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com freqüência 25 bimestral. Para dessedentação de animais criados confinados não deverá ser excedido o limite de 1000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente; h) cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidade de cianobactérias não deverão exceder50.000 cel/ml, ou 5mm3/L; i) DBO 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2; j) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2; k) turbidez até 100 UNT; l) pH: 6,0 a 9,0. As águas doces de classe 4 observarão as seguintes condições: a) materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; b) odor e aspecto: não objetáveis; c) óleos e graxas: toleram-se iridescências; d) substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento de canais de navegação: virtualmente ausentes; e) OD, superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e, f) pH: 6,0 a 9,0. Na TABELA 4, apresenta-se um quadro-síntese das condições e padrões de qualidade mencionados acima. 26 TABELA 4 – Síntese das condições e padrões de qualidade de água utilizadas neste trabalho, segundo a Resolução n° 357/2005 do CONAMA. Requisitos Resolução n° 357 do CONAMA Parâmetro Classe E Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 pH 6,0 - 9,0 6,0 - 9,0 6,0 - 9,0 6,0 - 9,0 Nitrato (mg/L N) 10 10 10 - Nitrito (mg/L N) 1 1 1 - Nitrogênio Amoniacal Total (mg/L N) 3,7 3,7 13,3 - Fósforo Total (ambiente lótico) (mg/L P) 0,1 0,1 0,15 - DBO5 (mg O2/L) 3 5 10 - OD (mg O2/L) 6 5 4 <2 Turbidez (uT) 40 100 100 - Sólidos Dissolvidos Totais (mg/L) 500 500 500 - Coliformes termotolerantes (100ml) Condições Naturais do Corpo Hídrico 200 1.000 4.000 - 2.2.2 Sedimento Na amostragem de sedimento se utilizou coletor de plástico tubular artesanal. Amostrou-se somente a camada superior do sedimento de fundo (até 10cm de profundidade), armazenando em sacos plásticos transparentes, respeitando a proporção de 50% de sedimento e 50% de água do próprio local. O material foi guardado em isopor não refrigerado. Em laboratório, foram analisados os seguintes metais pesados, escolhidos devido a sua alta toxicidade e relativa acessibilidade: → Cádmio (Cd); → Chumbo (Pb); → Cobre (Cu); → Cromo total (Cr); → Mercúrio (Hg); → Níquel (Ni); → Zinco (Zn). O Hg foi analisado pelo método 7471A desenvolvido pela Environmental Protection Agency dos Estados Unidos (EPA) e os demais metais segundo o método 3050B (“Ambientalmente Disponível”) também desenvolvido pela EPA. A descrição sintética dos métodos aplicados e limites de detecção se apresentam na TABELA 5: 27 TABELA 5 – Métodos utilizados na análise dos sedimentos e limites de detecção. Parâmetro Método Aplicado Limite de Detecção Cobre total 0,4 mg/kg Zinco total 2,0 mg/kg Cádmio total 0,2 mg/kg Cromo total 0,4 mg/kg Níquel total 0,2 mg/kg Chumbo total Digestão Ácida (Ácido Nítrico / Água Oxigenada / Ácido Clorídrico) Espectrofotometro de Absorção Atômica 2,0 mg/kg Mercúrio total Digestão Úmida / Vapor Frio 0,01 mg/kg Para analisar a qualidade do sedimento de fundo do arroio Passinhos, utilizou-se o método denominado como Fator de Contaminação de Hakanson (FC). Este método se baseia na razão entre o valor encontrado para o metal e o “nível de base natural” ou background (NBN) do terreno. Devido à falta de dados da área de interesse, o NBN utilizado foi o valor global encontrado para folhelhos (sheal) (TUREKIAN; WEDEPOLH apud FÖRSTNER; WITTMANN, 1983) apresentado na TABELA 6. TABELA 6 – Valores do Nível de Base Natural para folhelhos. Parâmetros NBN (mg/kg) Cobre total 45 Zinco total 95 Cádmio total 0,3 Cromo total 90 Níquel total 68 Chumbo total 20 Mercúrio total 0,4 Segundo o resultado, que pode indicar “enriquecimento” ou “empobrecimento” de um determinado elemento no sedimento, este se classificará segundo a graduação apresentada na TABELA 7: 28 TABELA 7 – Classificação do nível de contaminação do sedimento por metais pesados segundo o Fator de Contaminação de Hakanson. Classificação da Contaminação FC Baixa < 1 Moderada 1 - 3 Considerável 3 - 6 Alta > 6 2.3 Etapa de Gabinete Esta etapa diz respeito a todos os momentos de análise, manipulação, cruzamento, geração e apresentação de informações. Pode-se subdividir esta etapa em cinco processos: 2.3.1 Aprimoramento teórico-conceitual 2.3.2 Análise individual dos resultados laboratoriais Após cada amostragem, foi analisado individualmente cada parâmetro, procurando destacar aqueles cujo impacto fosse mais negativo. Na seqüência, ao relacionar parâmetros, buscaram-se possíveis interações que deflagrassem intensificações de impactos ambientais e efeitos complementares para, dessa forma, compreender a complexidade do(s) impacto(s), identificar parâmetros com efeitos mais nocivos à saúde ambiental e delimitar possíveis causas e/ou agentes. Também se levou em conta as condições climáticas dos 15 dias anteriores às amostragens; 2.3.3 Análise conjunta dos resultados laboratoriais Possíveis relações entre parâmetros com caráter intensificador ou de complementaridade foram destacadas, principalmente aquelas que se repetiram. Além de compreender a complexidade do(s) impacto(s), identificar parâmetros com efeitos mais nocivos à saúde ambiental e delimitar possíveis causas e/ou agentes, se propôs recomendações sobre o(s) fenômeno(s) observado(s); 2.3.4 Cálculo e cruzamento de informações Foi calculado o IQA e o FC, e foram comparados os resultados laboratoriais com a Resolução nº 357/2005 do CONAMA. A escolha dessas variáveis se baseou, 29 especificamente, em sua ampla utilização e, devido a isso, na possibilidade de comparação de resultados com outros lugares e/ou situações; � Após a conclusão dos itens “2.3.2”, “2.3.3” e “2.3.4”, foram entregues à SMMA o laudo oficial dos resultados das análises laboratoriais e texto contendo todas as informações técnico-científicas levantadas e a descrição dos aspectos mais importantes, salientando pontos críticos e as possíveis causas dos impactos observados. 2.3.5 Manipulação e extração de informações de imagens de satélite Utilizando o programa ENVI 4.2, se georreferenciou, a partir de uma imagem do satélite LANDSAT-ETM 7 (órbita ponto n° 221/81) de resolução espacial igual a 30m, uma imagem do satélite LANDSAT-MSS 1 de 1975 (órbita ponto n° 237/81) de resolução espacial igual a 30m e uma imagem do satélite CBERS-2 de 2006 (órbita ponto n° 157-133) de resolução espacial de 20m com o objetivo de delimitar e mensurar a área urbana (classificação visual) do Município de Cachoeirinha e da bacia hidrográfica do arroio Passinhos nessas duas datas. Para a imagem CBERS, foi considerada a mesma área urbanizada contida no PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA (2006)2, somente acrescentando- se algumas áreas urbanas que não foram delimitadas. Para a imagem LANDSAT de 1975, utilizaram-se de testemunhos de antigos habitantes de Cachoeirinha para circunscrever a área urbana do município, devido os parcos registros sobre a história do município. Durante esse processo, se georreferenciou uma imagem de 2006 do satélite QUICK BIRD de alta resolução espacial (0,6m), a partir de pontos obtidos com aparelho de GPS (Global Positionig System) com erro médio de 6,5m, para auxiliar na diferenciação do comportamento espectral das diferentes superfícies. Isso é possível conectando (link) as imagens e selecionando na imagem QUICK BIRD áreas que apresentem diferentes comportamentos espectrais (campos, floresta, área construída, etc.), para, depois, relacionar àquela área ao comportamento espectral observado na imagem LANDSAT. 2 Projeto de lei complementar n° 2.625 de 2006. 30 Cabe ressaltar que, na porção norte do Município de Cachoeirinha na imagem LANDSAT de 1975, devido ao tamanho dos assentamentos humanos (muitas vezes não ultrapassando 1 ou 2 pixels3), a sua localização esparsa e a sua semelhança com o comportamento espectral de campos, decidiu-se não delimitar nenhum polígono que representasse áreas urbanas. Por essas limitações,apesar do esforço empreendido para minimizá-las, o valor encontrado para as áreas urbanas no ano de 1975 não pode ser tomado como uma medida exata; mas uma estimativa. A FIG. 5 mostra as imagens LANDSAT de 1975 (composição RGB-456) e CBERS de 2006 utilizadas para circunscrever a área urbana do Município de Cachoeirinha. FIG. 5: Respectivamente, imagem LANDSAT (1975) e imagem CBERS (2006). As áreas destinadas à agricultura não foram tomadas em conta porque se consubstanciavam em atividades de pequeno porte (familiares). O Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) e a Escola Estadual de 1° e 2° Graus Daniel de Oliveira Paiva (EEDOP) que contam com áreas consideráveis destinadas à agropecuária, permaneceram com valores estáveis ao longo do período (1975 – 2006). Além da finalidade descrita, se utilizou a imagem QUICK BIRD para traçar os limites do município e mensurar a extensão longitudinal do arroio Passinhos. 3 Pixel: a menor dimensão informacional em uma imagem de satélite; determina a resolução espacial. 31 Os limites da bacia do Passinhos foram obtidos através da Carta 1:50.000 de São Leopoldo, da Diretoria de Serviços Geográficos do Exército Brasileiro (DSG). Mas, devido ao setor inferior curso da bacia do Passinhos ser muito plano, se utilizou, para aprimorar o traçado da bacia, uma imagem de radar da Missão Topográfica Radar Shuttle (SRTM, siglas em inglês para Shuttle Radas Topographic Mission), realizada pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA, National Aeronautics and Space Administration em inglês) em 2000. Porém, as imagens SRTM têm resolução igual a 90m, superior a das Cartas 1:50.000 da DSG. Para solucionar esse problema, se fez um recorte na imagem SRTM contendo apenas a área de interesse e, através de uma rotina do software ARCGIS 9.1, se aplicou o método geoestatístico conhecido como Kriging, que se utiliza da regressão4 para interpolar5 informações. O resultado obtido foi uma imagem SRTM com resolução de 30m. Com essa imagem, se construiu um modelo altimétrico do terreno para delinear as nuanças do mesmo e, assim, circunscrever mais eficazmente a bacia do Passinhos. Neste trabalho, a projeção padrão adotada foi a Universal Transversa de Mercator (UTM), Zona 22 Sul e Datum “South American Datum 1969” (SAD-1969). As imagens LANDSAT-MSS 1, CBERS-2 e SRTM são disponibilizadas gratuitamente no sítio eletrônico do Instituto Espacial de Pesquisas Espaciais (INPE) e da NASA. A imagem QUICK BIRD foi disponibilizada pela SMMA e a imagem LANDSAT-ETM-7, os programas ENVI 4.2 e ARCGIS 9.1 e o GPS foram disponibilizados (somente para manipulação) pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM). 4 Regressão: dependência funcional entre duas ou mais variáveis aleatórias. 5 Interpolação: processo em que se determina o valor de uma função em um ponto interno de um intervalo a partir dos valores da função nas fronteiras desse intervalo. 32 3. PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E REGIÕES METROPOLITANAS Nas décadas de 1950 e 1960, devido à consolidação das bases da industrialização brasileira implantadas na década de 1930 e à crise gerada no campo pela modernização das atividades agrícolas, uma imensidão de pessoas migraram para as cidades, principalmente para o sudeste. Esse traslado implicou em uma mudança importante: paulatinamente, as cidades foram se conformando no centro da vida da sociedade brasileira, “pois nela se concentram capital e força de trabalho” (FUJIMOTO, 2000). A cidade e a indústria cresciam juntas e, especificamente no caso brasileiro, a uma velocidade alucinante. Juntas, foram concentrando as oportunidades, os negócios, os investimentos, as tecnologias, as pessoas e o sentido de “modernidade” que motivava a época. Porém, as pessoas continuavam empreendendo longas viagens atrás da realização de seus sonhos, e as cidades começaram a demonstrar sinais de que as oportunidades não eram para todos. Problemas sociais, como marginalização e desemprego, e de degradação ambiental começaram a aparecer, como também aponta FUJIMOTO (2000). BRAGA (2003) comenta: “as características da urbanização brasileira fazem com que esse processo seja, não só, um fator gerador de problemas ambientais, mas, um problema ambiental em si.” Muitas vezes, devido à aproximação entre as cidades pelo seu rápido crescimento (conurbação), a dinâmica das problemáticas não terminava nos limites municipais. Surgem, então, pela Lei Complementar n° 14, de 08 de junho de 1973, as “Regiões Metropolitanas” (RM), cujo objetivo principal era a gestão conjunta dos problemas e a promoção de soluções integradas entre os municípios. As primeiras RM foram: de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. 3.1 Região Metropolitana de Porto Alegre Do surgimento da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), logo vieram os investimentos que impulsionaram a economia, concentrando as características e condições de reprodução do modo de vida urbano-industrial. Porém, essas condições também resultaram na concentração de impactos ambientais oriundos do rápido crescimento urbano e adensamento populacional que, na maioria das vezes, se caracterizou como desordenado. 33 Como se pode ver na TABELA 8, em 1980, a RMPA tinha população um pouco superior a 2.230.000 habitantes, o equivalente a 28,70% dos gaúchos; já em 2006, 36,97% da população gaúcha, ou cerca de 4.050.000 habitantes, residia na RMPA. TABELA 8 – Evolução populacional e territorial da RMPA e do RS entre 1980 e 2006. Divisão Política População Residente Área (km2) Crescimento Populacional 1980 – 2006* (%) Participação Populacional no RS (%) Participação Territorial no RS (%) RMPA 1980 2.231.392 5.000,00* - 28,70 1,77 RS 1980 7.773.837 281.748,50 - - - RMPA 2006* 4.052.995 9.800,00 81,64 37,30 3,48 RS 2006* 10.867.102 281.748,50 39,79 - - * Estimativa FONTE: Fundação de Economia e Estatística do RS (FEE). Durante todo esse quarto de século, também permaneceu a tendência de crescimento da população residente no ambiente urbano e, conseqüentemente, aumento da “grau de urbanização”6 (TU) da RMPA: em 1980, a TU era de 96,27% e em 2006, mesmo quase duplicando sua área e com crescimento populacional duas vezes maior que o do RS, a TU permaneceu estável, com 96,46%. Como bem aponta FUJIMOTO (2000), esse rápido crescimento ocorreu paralelamente a condições insatisfatórias de moradia, situação agravada pela falta de planejamento eficiente e a carência de políticas ambientais e sociais adequadas à realidade da época. Dessa maneira a expansão urbana [ocorreu], em grande parte, em áreas impróprias ou de forma inadequada, tendo como conseqüências inúmeros problemas ao meio físico, à própria população assentada e aos poderes públicos responsáveis pelos serviços de infra-estrutura nessas áreas (FUJIMOTO, 2000). Atualmente, os municípios que integram a RMPA “apresentam grandes disparidades quanto ao PIB per capita e aos indicadores sociais, refletindo a distribuição desigual de agentes econômicos e de equipamentos urbanos como transporte, saúde, educação, habitação e saneamento” (ATLAS SOCIOECONÔMICO DO RS, 2004). 6 Grau de urbanização: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), percentual da população urbana em relação à população total. 34 3.2 Município de Cachoeirinha O Município de Cachoeirinha, desde sua emancipação (Lei n° 5.090 de 09 de novembro de 1965) seguiu esses mesmos passos: expansão urbana acelerada e desordenada e crescimento rápido da população (TABELA 9), causando impactos ambientais, muitas vezes, irreversíveis. TABELA 9 – Crescimentopopulacional no Município de Cachoeirinha e no RS entre 1970 e 2006. População Residente (hab) Densidade Demográfica (hab/km2) Crescimento (%) Unidade Administrativa 1970 1980 2006 1970 1980 2006 1970- 1980 1980- 2006 Cachoeirinha 31.002 63.196 119.403 707,81 1.442,83 2.726,10 50,94 47,07 RS 6.664.891 7.773.837 10.867.102 23,66 27,59 38,57 14,27 28,46 Fonte: FEE e IBGE. Como se pode observar, Cachoeirinha obteve em 10 anos (1970 – 1980) um crescimento populacional de mais de 100%, e quase repetiu esse crescimento no período de 1980 a 2006. Além disso, o contínuo aumento da TU, que era de 96,60% em 1970, passando por 99,30% em 1980 e chegando aos 100% em 2000, revela concentração de habitantes no ambiente urbano. O MAPA 1 ilustra o crescimento do mancha urbana do município no últimos 30 anos. 35 MAPA 1 – Evolução da mancha urbana do Município de Cachoeirinha nos últimos 30 anos. O urbano cresceu horizontalmente, muitas vezes de maneira desordenada. As infra-estruturas básicas de saneamento e moradia não tiveram o tempo necessário para serem viabilizadas e a abundante mão-de-obra não conseguiu ser assimilada. A cidade não estava pronta para receber tantos imigrantes. Nesse ponto, o meio ambiente também se configurou como uma vítima: áreas de recarga e nascentes, matas e florestas foram destruídas ou modificadas, dando lugar a bairros, cursos fluviais transformados em torrentes de esgoto, espécies animais destituídas de seu habitat, entre outros impactos. Nesse período, a mancha urbana de Cachoeirinha pulou de 7,43km2 para 22,17km2, um crescimento de 198,48%; um incremento de áreas urbanas superior a 0,48km2/ano, chegando, em 2006, a ocupar mais da metade do município (TABELA 10). TABELA 10 – Evolução da mancha urbana do Município de Cachoeirinha em relação à sua área (43,8km2). Área de Cachoeirinha ocupada pela Mancha urbana (%) 1975 2006 17,24 50,62 FONTE: FEE. Evolução da Mancha Urbana no Município de Cachoeirinha no período de 1975 e 2006 Mancha Urbana em 2006 Mancha Urbana em 1975 Limite Municipal N 0 1 2km Projeção UTM Datum SAD-69 36 Mesmo que nos últimos 10 anos a taxa de crescimento populacional do município tenha se estabilizado entre 1,60% e 1,98% e, conseqüentemente, o crescimento urbano tenha amenizado: o passivo ambiental de três décadas de desenfreada e desorganizada expansão urbana sobre o meio ambiente, inclusive, sobre áreas protegidas por legislação federal, e sem oferecer condições básicas de moradia e saneamento básico, deixaram marcas profundas na sociedade cachoeiriense e em seu meio ambiente. 3.3 Cachoeirinha na atualidade Atualmente, Cachoeirinha abriga quase 120.000 habitantes. Seu PIB cresce desde 2000, alcançando, em 2004, a marca de R$ 1.849.747.000; consagrando Cachoeirinha como o 13° PIB gaúcho (participando com 1,29% da economia gaúcha) e o 122° PIB per capita do RS (TABELA 11). TABELA 11 – PIB e PIB per capita do Município de Cachoeirinha e do RS no período de 2000 a 2004. 2000 2001 2002 2003 2004 Unidade Administrativa A B A B A B A B A B Cachoeirinha 1.106 10.166 1.177 10.603 12.425 10.984 1.551 13.447 1.850 15.742 RS 85.138 8.302 94.084 9.071 104.451 9.958 128.040 12.071 142.874 13.320 - - 6,35 4,30 956,09 3,59 -87,52 22,42 19,29 17,07 Crescimento anual ���� - - 10,51 9,26 11,02 9,78 22,58 21,22 11,59 10,35 A - PIB (x1.000.000) B - PIB per capita FONTE: IBGE. Como se pode ver, o crescimento contínuo do PIB a passos mais largos que o crescimento populacional, faz com que o PIB per capita dos habitantes de Cachoeirinha aumente; ainda que se saiba que a distribuição de riquezas no município segue o exemplo brasileiro. A economia do município se baseia no setor secundário e terciário, levando uma leve vantagem o primeiro deles. Estes dois setores participam na economia gaúcha na seguinte proporção (2004): 1,44% e 1,33%, respectivamente. Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), idealizado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq na década de 1990 e que, desde então, é utilizado pela 37 Organização das Nações Unidas (ONU), Cachoeirinha teve o 332° melhor IDH do Brasil para o ano de 2000, com 0,813; mostrando um acréscimo de 9,13% em relação a esse mesmo índice no ano de 1991 (0,745). Esse indicador é fruto da combinação das variáveis: esperança de vida ao nascer, alfabetização de adultos, escolarização e PIB per capita, onde os melhores resultados são aqueles que se encontram próximos a um. Com se pode ver na TABELA 12, Cachoeirinha apresenta evolução positiva em todas as variáveis utilizadas por este índice. TABELA 12 – Índice de Desenvolvimento Humano do Município de Cachoeirinha para os anos 1991 e 2000. IDH Renda 1991 IDH Renda 2000 IDH Longevidade 1991 IDH Longevidade 2000 IDH Educação 1991 IDH Educação 2000 IDH 1991 IDH 2000 0,686 0,734 0,705 0,793 0,844 0,913 0,745 0,813 FONTE: Plano Diretor do Município de Cachoeirinha (2006). Já o Índice de Desenvolvimento Sócio Econômico (IDESE), desenvolvido no RS, analisa quatro blocos temáticos: “educação”, “renda”, “saneamento e domicílio” e “saúde”. Classifica o resultado, que varia de zero a um, em três níveis de desenvolvimento: “baixo” (índices até 0,499), “médio” (entre 0,500 e 0,799) ou “alto” (maiores ou iguais que 0,800). Segundo este indicador, Cachoeirinha se situa entre os 10 primeiros melhores colocados do RS (TABELA 13). TABELA 13 – IDESE do Município de Cachoeirinha nos anos de 1991, 2001 e 2004. Educação Renda Saneamento e Domicílios Saúde IDESE Ano Índice Ordem* Índice Ordem* Índice Ordem* Índice Ordem* Índice Ordem* 1991 0,776 77º 0,697 53º 0,580 5º 0,811 270º 0,716 10º 2001 0,853 147º 0,804 24º 0,661 15º 0,846 358º 0,791 10º 2004 0,864 171º 0,847 25º 0,663 15º 0,843 313º 0,804 8º * Colocação entre os municípios gaúchos. No bloco “educação”, mesmo com a melhora no índice, apresenta um crescimento inferior aos demais municípios gaúchos, pois sua colocação continua despencando desde 1991. Apesar de ser um dos nove municípios gaúchos classificados com desenvolvimento “alto”, Cachoeirinha demonstra somente um desenvolvimento “médio” no bloco “Saneamento e Domicílios”, o único bloco diretamente relacionado com o meio ambiente. Vendo a história do município, se entende porque este bloco tem o índice mais baixo. Outra vez, o processo de urbanização desorganizado e de rápida expansão deflagra, na atualidade, seus efeitos nocivos. Mas há um 38 agravante, o índice de desenvolvimento nesse bloco é considerado “médio”, com 0,663; mas, assim mesmo, é o 15° do RS. 3.3.1 Aspectos Geológicos e Geomorfológicos Segundo o PLANO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA (2007), O município tem quatro formações geológicas: i) Formação Rio do Rastro (Paleozóico): composta por siltitos e arenitos finos esverdeados e arroxeados e, na porção superior, argilitos e siltitos vermelhos com intercalações lenticulares de arenito fino. O ambiente de sedimentação é transicional de planície de marés para fluvial; ii) Formação Rosário do Sul/Formação Sanga do Cabral (Mesozóico): se caracteriza por arenitos médios a finos, siltitos, argilitos e lamitos friáveis de coloração vermelha, castanho-avermelhada, cinza-amarelo e branca; iii) Depósitos Sedimentares (Quaternário): constitui um sistema de laguna- barreira desenvolvido ao longo da Bacia de Pelotas. São depósitos relacionados a distintos ambientes de deposição como os de planícies lagunares, barreiras marinhas, depósitos paludais incluindo turfas e depósitos eólicos de margem lagunar. Ocorre em altitudes comumente muito baixas, o que lhe confere um relevo plano a muito suavemente ondulado; iv) Depósitos Aluvionares: englobam um conjunto de terras fácies sedimentaresresultante de processos associados aos ambientes de encosta de terras altas. Compreendem conglomerados, diamictitos, arenitos conglomeráticos, arenitos e lamitos de cores avermelhadas, maciços ou com estruturas acanaladas; Também segundo o PLANO AMBIENTAL (2007), Cachoeirinha apresenta as seguintes unidades geomorfológicas: i) Planícies e Terraços Lagunares: relacionado a sistemas deposicionais que se desenvolveram na planície costeira (sistema lagunar e de leques aluviais). Originaram-se em relevos de acumulação flúvio-lacustres apresentando diferentes formas: leitos de canais de arroios anastomosados, terraços lagunares e banhados. Ocorre como faixas marginais ao longo do rio Gravataí, arroio 39 Brigadeiro e Passinhos. Correspondem a áreas planas sem dissecação onde as formas do relevo são do tipo de acumulação com altitude de até 5m, com a planície inundável ao longo do rio Gravataí; ii) Planície Lagunar: Constitui-se de sedimenos areno-síltico-argilosos de origem flúvio-lagunar. Caracteriza-se por áreas sem dissecação, sujeitas a inundações sazonais e de baixa duração. Distribui-se na porção norte do Município, como faixa marginal ao longo do arroio Sapucaia; 3.3.2 Aspectos Climáticos e Cobertura Vegetal Utilizando a classificação de Köppen, em Cachoeirinha predomina o clima Cfa, apresentando chuvas durante todos os meses e temperatura média do mês mais quente superior a 22°C e a do mês mais frio superior a 3°C. Segundo o PLANO AMBIENTAL (2007), nos últimos quatro anos, a temperatura media do mês mais quente foi superior a 26,5°C e a do mês mais frio superior a 7°C; a precipitação mensal mais baixa foi a registrada no mês de janeiro de 2005 e 2006, com 32,8mm, e a precipitação anual do período não foi inferior a 1.152,6mm. Foram identificadas as seguintes formações vegetais (PLANO AMBIENTAL, 2007): i) Pioneiras: ocorre nas planícies baixas e inundáveis do rio Gravataí, ocupando solos aluviais e hidromórficos, classificados como Planossolos. Vegetação adaptada a vários gradientes de drenagem (banhado). Desempenham dois importantes papeis ecológicos: refúgio de fauna e regulador de vazão (“efeito esponja”), além de terem altíssima produtividade biológica. São espécies encontradas nessa formação: Aguapé (Eichornia crassipes), Corticeira-do- banhado (Erytrina cristagalli), Ipê-amarelo (Tabebuia australis) e Tarumã (Vitex megapotamica); ii) Secundárias: vegetação que ocupou de forma natural áreas onde a formação natural foi removida. Do tipo herbácea, arbustiva e arbórea, encontram-se dispersas pelo município. Entre elas estão: Pata-de-vaca (Bauhhinia spp.), Pitangueira (Eugenia uniflora), Jerivá (Syagrus romanzoffiana) e Mamica-de- cadela (Zanthoxylum rhoifolium); iii) Floresta Estacional Semidecidual: restrita ao Parque Municipal Dr. Tancredo Neves e no “Mato do Júlio”. Caracterizada por reduzida quantidade 40 de espécies deciduais. A maior parte desta floresta deu lugar a pastagens e loteamentos; A Lei Orgânica do Município de Cachoeirinha, de 03 de abril de 1990, ainda prevê: Art. 193 – As áreas verdes públicas de conservação são consideradas patrimônio público inalterável, sendo proibida sua concessão ou cedência, bem como qualquer atividade de empreendimento público ou privado que altere ou danifique as suas características naturais. Art. 195 – A derrubada, o corte ou poda de árvore existente no Município ficam sujeitas à autorização prévia do órgão competente de conformidade com o procedimento estabelecido em Lei posterior (com redação dada pela Emenda à Lei Orgânica nº 02/01). Art. 197 – Em todos os projetos de loteamento deverá ser previsto um projeto de arborização da área loteada sob responsabilidade do loteador, com acompanhamento obrigatório do Conselho Municipal do Meio Ambiente. Parágrafo Único – A arborização atingirá toda a região, compreendendo as espécies necessárias ao projeto, bem como reflorestamento das espécies destruídas. Art. 198 – Todos os banhados costeiros e interiores serão conservados, garantindo ao rio e demais cursos d’água a ocupação livre e natural de seus leitos maiores e de suas áreas de inundação periódica, ficando proibida a drenagem, aterro, alagamento ou qualquer alteração da configuração original, permitindo-se apenas a exploração econômica através de manejo sustentável. Este último artigo é importante porque garantiu a conservação em nível municipal de um ambiente importante para a dinâmica hidrológica fluvial. 3.3.3 Recursos Hídricos A porção norte do Município de Cachoeirinha está inserida na bacia hidrográfica do rio do Sinos; mais especificamente, na sub-bacia do arroio Sapucaia. Nessa sub-bacia, se encontra o Aterro Sanitário Santa Tecla, que recebe o lixo de Cachoeirinha. O Sapucaia, que nasce no Município de Gravataí, serve de limite municipal com Esteio (ao norte) e tem como um de seus afluentes o arroio Nazário, que nasce em Cachoeirinha. Este arroio tem seu fluxo diminuído devido a barramentos, em forma de açude (PLANO AMBIENTAL, 2007). O restante do território de Cachoeirinha faz parte da bacia hidrográfica do rio Gravataí. Este curso hídrico é base para o desenvolvimento da região, podendo-se classificar sua área em dois setores, de acordo com o uso dado à água: alto, com predomínio de atividades agropecuárias; e baixo, com predomínio de uso urbano- 41 industrial. Parcialmente, três sub-bacias do Gravataí fazem parte do Município de Cachoeirinha: a sub-bacia do Barnabé, Brigadeiro e Passinhos. A sub-bacia do Barnabé drena o extremo leste e sudeste do município, nessas áreas se localizam partes do bairro Fátima e Parque da Matriz. Já a sub-bacia do Brigadeiro drena a porção centro-oeste de Cachoeirinha, ocupando aproximadamente 20km2 de seu território. A oeste, o arroio Brigadeiro, que também apresenta problemas ambientais de origem antrópica, serve de limite municipal entre Cachoeirinha e Canoas (corta os distritos industriais de ambos municípios); seu afluente, o arroio Águas Mortas, cruza Cachoeirinha no sentido leste-oeste, apresentando ao longo da zona rural, grandes áreas com mata ciliar em ambas as margens preservadas. A sub-bacia do Passinhos ocupa uma área aproximada de 10,9km2, onde 95% se encontra inserido no Município de Cachoeirinha (a área restante pertence à Gravataí). Grande parte da superfície de sua bacia está alterada pelo processo de urbanização, principalmente na zona das nascentes. O Passinhos tem, aproximadamente, 7km de extensão, nasce e percorre (canalizado) uma das zonas mais densamente povoadas do município, recebendo todo o tipo de efluentes não-tratados antes de adentrar-se no “Mato no Júlio”, ao sul da Av. Flores da Cunha. Nessa área, mantêm seu percurso natural até cruzar a BR-290 quando seu leito volta a ser modificado (canalizado) até a foz, devido a construção da ETE Freeway. A FIG. 6 localiza cada sub-bacia no Município de Cachoeirinha. 42 FIG. 6: Localização das sub-bacias hidrográficas que compõem o Município de Cachoeirinha. Arroio Sapucaia Arroio Brigadeiro Arroio Barnabé Arroio Passinhos Sub-bacias hidrográficas FONTE: PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE CAHOEIRINHA (2006). 43 4. A BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO PASSINHOS Durante o processo de urbanização de Cachoeirinha, que se iniciou na década de 1970, devido ao desenvolvimento industrial de Porto Alegre e a criação do Distrito Industrial Municipal, vários moradores do litoral norte e de Santa Catarina se mudaram para Cachoeirinha. Com a prosperidade dos anos seguintes, vieram os imigrantes do interior do RS (MOMBACH, 1991). Devido ao grande fluxo de imigrantes, as oportunidades não satisfizeram a todos e, ao mesmo tempo, à prosperidade econômica, que valorizou algumas áreas perante outras, aumentando o custo de vida (principalmente
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