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Enunciador e enunciatário

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Enunciador e enunciatário
APRESENTAÇÃO
Neste Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as noções de enunciador e enunciatário que 
são oriundas da Teoria da enunciação, a teoria linguística que se dedica ao estudo do enunciado, 
manifestação oral ou escrita produzida por um locutor (enunciador) em uma situação de 
enunciação. O enunciado é proferido por um enunciador para um enunciatário que deve 
interpretá-lo a partir da superfície linguística, remetendo, ainda, o enunciado à situação 
enunciativa em que é produzido. Para que essa interpretação possa ser realizada, instruções 
linguísticas devem ser dadas pelo enunciador ao enunciatário. Instruções estas que deixam 
marcas no enunciado e podem ser reconhecidas pelo enunciatário.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer o conceito de enunciador no campo dos estudos enunciativos.•
Reconhecer o conceito de enunciatário no campo dos estudos enunciativos.•
Diferenciar as marcas linguísticas do enunciador e do enunciatário em enunciados.•
DESAFIO
Blog é uma palavra simplificada do termo weblog e esta, por sua vez, é resultante da 
sobreposição de web (Internet) e log (registro de atividade ou desempenho regular de algo), 
sendo um diário online.
O blog apresenta vários elementos como textos, imagens, músicas ou vídeos, que são inseridos 
em páginas da Internet, onde são publicados, podendo ser dedicados a um assunto específico ou 
ser de âmbito bastante geral.
A seguir, leia um pequeno trecho de um blog.
Francisco
Realce
Francisco
Sublinhado
Francisco
Realce
definição de enunciado 
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Com referência no conteúdo de Enunciador e enunciatário e no trecho do blog lido, responda às 
seguintes perguntas:
a) Quem é o enunciador do blog da Mariah?
b) Quem é o enunciatário do blog?
c) Proponha uma atividade em sala de aula envolvendo as noções de Enunciador e enunciatário.
INFOGRÁFICO
Fiorin (2009) estabelece algumas relações para se trabalhar com as categorias de enunciador e 
enunciatário na análise de textos sob uma perspectiva da sintaxe discursiva.
Você vai conhecer essa elaboração no infográfico a seguir.
CONTEÚDO DO LIVRO
Enunciador e enunciatário são elementos fundamentais na análise de textos e discursos, pois a 
língua só pode ser atualizada quando um sujeito lança mão de sua estrutura para se fazer 
entender por outrem. Seja para identificar um interlocutor de determinada mensagem, seja para 
identificar o autor, é necessário recorrer a essas duas instâncias que Benveniste denominou EU e 
TU, categorias da enunciação que delimitam os espaços de dizer e interpretar ocupados pelos 
sujeitos em uma situação enunciativa. 
No intuito de buscar as marcas linguísticas dessas categorias de pessoa, observaremos como elas 
são atualizadas em diferentes gêneros discursivos e, também, como se relacionam às categorias 
enunciativas de tempo e espaço também elaboradas por Benveniste, leia mais no capítulo 
Enunciador e Enunciatário do livro Linguística avançada.
Boa leitura!
Francisco
Realce
Francisco
Sublinhado
LINGUÍSTICA 
AVANÇADA
Debbie Mello 
Noble
Priscilla Rodrigues
Simões
Laís Virginia Alves 
Medeiros 
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
N747l Noble, Debbie Mello.
 Linguística avançada / Debbie Mello Noble, Priscilla 
 Rodrigues Simões, Laís Virginia Alves Medeiros ; revisão 
 técnica: Laís Virginia Alves Medeiros. – Porto Alegre : 
 SAGAH, 2017.
 146 p. : il. ; 22,5 cm. 
 ISBN 978-85-9502-144-0
 1. Linguística avançada. I. Simões, Priscilla Rodrigues. 
 II. Medeiros, Laís Virginia Alves. III. Título.
CDU 81’33
Revisão técnica:
Laís Virginia Alves Medeiros
Mestra em Letras – Estudos da Linguagem: 
Teorias do Texto e do Discurso
Bacharela em Letras – Habilitação Tradutora: 
Português e Francês
Linguística Avançada_Iniciais_Impressa.indd 2 14/09/2017 10:55:53
Enunciador e enunciatário
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer o conceito de enunciador no campo dos estudos 
enunciativos.
  Reconhecer o conceito de enunciatário no campo dos estudos 
enunciativos.
  Diferenciar as marcas linguísticas do enunciador e do enunciatário 
nos enunciados.
Introdução
Neste texto você vai conhecer as noções de enunciador e enuncia-
tário que são oriundas da Teoria da Enunciação – a teoria linguística 
que se dedica ao estudo do enunciado, manifestação oral ou escrita 
produzida por um locutor (enunciador) em uma situação de enunciação. 
O enunciado é proferido por um enunciador para um enunciatário que 
deve interpretá-lo a partir da superfície linguística, remetendo, ainda, o 
enunciado à situação enunciativa em que é produzido. Para que essa 
interpretação possa ser realizada, instruções linguísticas devem ser dadas 
pelo enunciador ao enunciatário, e essas instruções deixam marcas no 
enunciado e podem ser reconhecidas pelo enunciatário.
Você vai conhecer algumas dessas marcas linguísticas que remetem 
ao enunciador, ao enunciatário e à situação enunciativa em alguns 
textos
Enunciador
Benveniste (1989, p. 83), em Problemas de linguística geral II, diz que “A 
enunciação é esse colocar em funcionamento a língua por um ato individual 
de utilização [...]” e que o locutor se apropria do aparelho formal da língua 
e enuncia sua posição de locutor, “[...] mas imediatamente, desde que ele se 
Linguística Avançada_U2_C05.indd 66 13/09/2017 16:51:21
Francisco
Realce
declara locutor e assume a língua, ele implanta o outro diante de si.”. Ao tratar 
da noção de pessoa, o autor diz que “eu” não se refere a um indivíduo parti-
cular, mas ao ato individual de apropriação da língua por um locutor que se 
enuncia como sujeito. A referência temporal desse locutor é sempre o momento 
atual (agora) e ele só pode ser identifi cado na instância do discurso, ou seja, 
na língua. A referência espacial desse locutor é sempre o lugar atual (aqui). 
O enunciador também é chamado de locutor nas teorias enunciativas, ele é 
o autor do enunciado e organiza as vozes anônimas que habitam o enunciado e 
com ele dialogam. Narrador ou interlocutor são formas de denominar o enun-
ciador em outras perspectivas teóricas, mas, no trabalho com a produção e a 
interpretação textual, entende-se que quem produz o enunciado, ou texto, ou 
discurso é o seu enunciador, que dialoga e dirige sua palavra a um enunciatário. 
Consoante Barros (1997), o enunciador define-se como o destinador-
-manipulador, responsável pelos sentidos do enunciado e capaz de levar o 
enunciatário a crer e a fazer. A manipulação do enunciador é um modo de 
persuasão, ao passo que ao enunciatário cabe interpretar tal estratégia uti-
lizada pelo enunciador por meio de marcas enunciativas. Pensar, portanto, 
na categoria de enunciador, ou locutor, como definiu Benveniste, é pensar 
sobre um sujeito que produz um ato individual de utilização da língua em 
determinada situação de enunciação e, estabelecendo uma relação dialógica, 
convoca o outro a interpretar o enunciado produzido.
Há diferentes formas de se designar o enunciador entre as teorias enunciativas e, 
também, em diferentes teorias linguísticas que estudam o texto e o discurso. Nas teorias 
enunciativas de Benveniste e Ducrot, o enunciador foi inicialmente designado como 
locutor e essa relação ainda se mantém atuante. Na linguística textual, há a designação 
de interlocutor. Se tomarmos uma categoria literária, por exemplo, pode-se designar 
o narrador de um conto, uma crônica ou um romance como enunciador. Na poesia, 
o eu-lírico pode ser entendido como um enunciador também. Enfim, aquele que se 
apropria da língua para produzir um enunciado de qualquer gênero é um enunciador!
Enunciatário
O enunciatário é considerado o sujeito ao qual se dirige o enunciador, também 
conhecido como narratário (emoposição a narrador), ou interlocutário (em 
67Enunciador e enunciatário
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Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Realce
oposição a interlocutor). Considerando-se a categoria enunciatário em um 
texto, ela pode se remeter ao leitor; caso fosse uma obra de arte, teríamos um 
apreciador, ou um espectador, ou seja, sempre há alguém a quem se destina 
o enunciado, pois o destino de um enunciado é sempre ser interpretador por 
alguém. Barros (1997) diz que há dois aspectos principais no processo de 
manipulação: o contrato que se estabelece entre enunciador e enunciatário, 
de um lado; e os meios empregados na persuasão e na interpretação de outro. 
Nesse contrato, ocorre que o enunciador defi ne o modo como o enunciatá-
rio deve interpretar o enunciado, ou sua “verdade”, construída por todo um 
dispositivo que espalha marcas que comprovam sua veracidade e devem ser 
reconhecidas e interpretadas pelo enunciatário. 
As relações entre o destinador e o destinatário de um enunciado se mate-
rializam discursivamente, ou seja, no próprio enunciado. No momento, por 
exemplo, da leitura de um texto, da observação de um anúncio publicitário, ou 
da escuta de um pedido de outrem o contrato entre enunciador e enunciatário 
se faz atual. No entanto, o leitor, ou enunciatário, só poderá aceitar o contrato 
proposto pelo enunciador, se ele seguir as pistas da enunciação deixadas 
no enunciado. Conforme Fiorin (2001), a enunciação instaura o discurso-
-enunciado, projetando para fora de si os atores do discurso, bem como suas 
coordenadas espaço-temporais. Tais projeções devem ser interpretadas como 
procedimentos argumentativos, utilizados pelo enunciador para persuadir o 
enunciatário. Verifica-se, assim, que em todos os gêneros discursivos o como 
se conta tem mais peso do que o que se conta, e uma das formas de perceber 
isso é observando as projeções de tempo, espaço e pessoa no discurso, proce-
dimentos empregados pelo enunciador para situar o enunciatário. 
Enunciador e enunciatário: marcas no 
enunciado
Como você acabou de ver nos itens anteriores, a relação entre enunciador 
e enunciatário se dá a partir de um enunciado. Nesse enunciado, há marcas 
(linguísticas, sonoras, imagéticas) que permitem a interpretação do enunciado 
pelo seu destinatário. No caso da linguagem verbal, variadas classes de palavras 
podem desempenhar a função de marcar, no nível linguístico, as categorias de 
enunciador e enunciatário, a situação discursiva em que determinado enunciado 
emerge, o momento em que o enunciado é produzido e, até mesmo, o local onde 
foi produzido. Essas marcas, portanto, remetem o enunciatário ao contexto, à 
situação discursiva e à exterioridade em que o enunciado é realizado. 
Enunciador e enunciatário68
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Francisco
Sublinhado
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Sublinhado
Francisco
Riscado
Francisco
Realce
Essas marcas são denominadas marcas enunciativas, ou dêiticos, e são: o eu/
tu; o aqui e o agora (EGO-HIC-NUNC, termos do latim usados por Benveniste 
para indicar as categorias enunciativas, pois o linguista percebeu que essas 
categorias estavam presentes na maioria das línguas naturais: sujeito, espaço 
e tempo). Um enunciado, segundo Benveniste, só pode ser interpretado em 
relação a um eu (enunciador) que fala a um tu (enunciatário); em um tempo 
dado: o agora em relação à situação de enunciação; e em um espaço determi-
nado: o aqui em relação à situação enunciativa. A Figura 1 ilustra essa relação.
Figura 1. Enunciação, enunciador e enunciatário.
Observe o texto a seguir (DRUMMOND, 1980) e sua análise para entender 
um pouco mais sobre como podem ser recuperadas as marcas das categorias 
enunciativas em um texto. 
Carta a uma senhora
A garotinha fez esta redação no ginásio:
“Mammy, hoje é dia das Mães e eu desejo-lhe milhões de felicidades 
e tudo mais que a Sra. sabe. Sendo hoje o dia das Mães, data sublime 
conforme a professora explicou o sacrifício de ser Mãe que a gente não 
está na idade de entender mas um dia estaremos, resolvi lhe oferecer 
um presente bem bacaninha e fui ver as vitrinas e li as revistas. Pensei 
em dar à Sra. o radiofono Hi-Fi de som estereofônico e caixa acústica 
69Enunciador e enunciatário
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Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
de 2 alto-falantes amplificador e transformador mas fiquei na dúvida 
se não era preferível uma tv legal de cinescópio multirreacionário som 
frontal, antena telescópica embutida, mas o nosso apartamento é um 
ovo de tico-tico, talvez a Sra. adorasse o transistor de 3 faixas de ondas e 
4 pilhas de lanterna bem simplesinho, levava para a cozinha e se divertia 
enquanto faz comida. Mas a Sra. se queixa tanto de barulho e dor de 
cabeça, desisti desse projeto musical, é uma pena, enfim trata-se de um 
modesto sacrifício de sua filhinha em intenção da melhor Mãe do Brasil.
Falei de cozinha, estive quase te escolhendo o grill automático de 6 
utilidades porta de vidro refratário e completo controle visual, só não 
comprei-o porque diz que esses negócios eletrodomésticos dão prazer 
uma semana, chateação o resto do mês, depois encosta-se eles no armário 
da copa. Como a gente não tem armário da copa nem copa, me lembrei 
de dar um, serve de copa, despensa e bar, chapeado de aço tecnicamente 
subdesenvolvido. Tinha também um conjunto para cozinha de pintura 
porcelanizada fecho magnético ultra-silencioso puxador de alumínio 
anodizado, um amoreco. Fiquei na dúvida e depois tem o refrigerador de 
17 pés cúbicos integralmente utilizáveis, congelador cabendo um leitão 
ou peru inteiro, esse eu vi que não cabe lá em casa, sai dessa!
[...]
Mammy o braço dói de escrever e tinha um liquidificador de 3 veloci-
dades, sempre quis que a Sra. não tomasse trabalho de espremer laranja, a 
máquina de tricô faz 500 pontos, a Sra. sozinha faz muito mais. Um secador 
de cabelo para Mammy! gritei, com capacete plástico mas passei adiante, 
a Sra. não é desses luxos, e a poltrona anatômica me tentou, é um estouro, 
mas eu sabia que minha Mãezinha nunca tem tempo de sentar. Mais o quê? 
Ah sim, o colar de pérolas acetinadas, caixa de talco de plástico perolado, 
par de meias, etc. Acabei achando tudo meio chato, tanta coisa para uma 
garotinha só comprar e uma pessoa só usar mesmo sendo a Mãe mais 
bonita e merecedora do Universo. E depois, Mammy, eu não tinha nem 20 
cruzeiros, eu pensava que na véspera deste Dia a gente recebesse não sei 
como uma carteira cheia de notas amarelas, não recebi nada e te ofereço 
este beijo bem beijado e carinho são de tua filhinha Isabel”.
Nesta crônica, Drummond representa a fala de um sujeito comum, uma 
garotinha às voltas com a escolha de um presente para a mãe. É um texto leve, 
lúdico na aparência, mas apresenta sutilmente uma violenta crítica. Há duas 
Enunciador e enunciatário70
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situações enunciativas envolvidas nesse texto: a primeira é a da própria escrita 
da carta para a mãe, uma produção escolar, pois, inicialmente, o narrador situa 
os leitores “A garotinha fez esta redação no ginásio [...]” e, depois, lemos que: 
“[...] o braço dói de escrever [...]”. A outra situação, que motivou a escrita da 
carta é “o dia das Mães”. Veja como ocorre esse processo.
Temos um narrador que introduz o texto e dá a palavra à garotinha que se 
manifesta como o eu do discurso. A fala da garotinha, entretanto,apresenta 
várias vozes nas quais se estabelece um diálogo com várias perspectivas, veja:
  Perspectiva da própria garotinha que usa uma linguagem familiar: 
“Mammy”; aqui ainda há outra voz, porque não é próprio da língua 
portuguesa o “m” dobrado seguido de “y”, há um eco da língua inglesa.
  Voz da instituição escolar representada pela professora: “[...] data su-
blime conforme a professora explicou o sacrifício de ser Mãe que a 
gente não está na idade de entender mas um dia estaremos [...]”.
  Tentativas de um uso mais formal da língua de não domínio ainda da 
estudante no emprego vacilante dos pronomes oblíquos: “desejo-lhe”, 
“resolvi lhe oferecer”, “te escolhendo”, “só não comprei-o”, “encosta-
-se eles no armário”.
  Voz da propaganda (na descrição dos objetos que a garotinha vai ver 
nas vitrines e nas revistas): “[...] o radiofono Hi-Fi de som estereofônico 
e caixa acústica de 2 alto-falantes amplificador e transformador [...]”; 
“[...] o grill automático de 6 utilidades porta de vidro refratário e 
completo controle visual [...]”.
  Voz do próprio narrador que aparece em dois adjetivos que causam 
estranhamento por serem inadequados à descrição que uma propaganda 
costuma fazer (multirreacionário e subdesenvolvido) e dão o tom irônico 
que sutilmente percorre todo o texto.
Do ponto de vista da sua organização, o texto apresenta uma divisão básica: 
a oposição entre o mundo mágico da propaganda e o universo da dura realidade 
da maior parte das pessoas. Essa divisão se manifesta na própria materialidade 
linguística do texto, não só por meio de um vocabulário que opõe tematicamente 
os dois universos, mas também por uma estrutura de frase que se repete fazendo 
uso do “mas” (aparece explicitamente sete vezes e implicitamente em vários 
lugares), indicando pontos de vista opostos. O “mas” apresenta alguém que fala de 
dois pontos de vista diferentes, mudando a conclusão, a orientação argumentativa 
inicial da frase. Veja como seu funcionamento pode ser explicado:
71Enunciador e enunciatário
Linguística Avançada_U2_C05.indd 71 13/09/2017 16:51:22
Há uma voz que diz: “Vi um radiofono Hi-Fi [...]” – que aponta para uma 
conclusão do tipo: “Vou comprá-lo para mamãe”, mas outra voz diz: “[...] nosso 
apartamento é um ovo de tico-tico [...]” – que orienta para uma conclusão 
contrária “não vai caber lá, não devo comprá-lo”.
Assim, é possível perceber diferentes vozes (discursos) que aparecem no 
interior da voz da garotinha e mostram esse aspecto fundamental da linguagem 
que é seu caráter dialógico e polifônico. O discurso da garotinha é habitado por 
outros discursos (o discurso escolar, o discurso da propaganda, o discurso crítico 
do cronista), revelando a heterogeneidade em um processo de multiplicação de 
vozes, nas quais o falante divide, no seu discurso, o espaço com outros sujeitos.
No link ou no código a seguir, você pode ler o texto 
“Linguística da Enunciação: uma entrevista com Mar-
lene Teixeira e Valdir Flores” e aprender mais sobre 
enunciação.
https://goo.gl/2b5qUw
Quando usamos os pronomes eu e tu estamos produzindo marcas enunciativas, 
pistas que permitem ao ouvinte, ou leitor, interpretar o que está sendo dito. Observe 
o enunciado:
— Filha, comprei um vestido para você hoje no Shopping Avenida.
Por intermédio das palavras “filha”, “comprei” e “você” podemos imaginar a situação 
enunciativa da qual só temos um registro escrito: a mãe anuncia a compra de um 
vestido para sua filha. Com o uso do advérbio “hoje” sabemos o momento em que 
se deu a compra do vestido. 
Atente que para essa delimitação do enunciador e enunciatário, do espaço e do tempo 
foram usadas palavras de diferentes classes gramaticais: um substantivo, um verbo, um 
pronome e um advérbio. O que mostra que qualquer classe de palavra pode desem-
penhar a função de remeter aos sujeitos envolvidos em uma determinada situação de 
enunciação, ao momento em que ela aconteceu e, inclusive, ao espaço em que se deu.
Enunciador e enunciatário72
Linguística Avançada_U2_C05.indd 72 13/09/2017 16:51:23
Francisco
Realce
Francisco
Realce
1. Leia o trecho do poema de 
Fernando Pessoa: “Sossega, coração! 
Não desesperes! Talvez um dia, 
para além dos dias, Encontres o 
que queres porque o queres. Então, 
livre de falsas nostalgias, Atingirás 
a perfeição de seres.” Assinale a 
alternativa em que é apresentado o 
enunciatário do poema: 
a) O leitor
b) O coração
c) A amada
d) O poeta
e) Os seres
2. Assinale a alternativa em 
que há outro modo de 
denominar o enunciador nos 
estudos enunciativos: 
a) Interlocutor
b) Locutor
c) Leitor
d) Destinatário
e) Referente
3. Benveniste (1989, p. 83) diz que 
“A enunciação é esse colocar em 
funcionamento a língua por um ato 
individual de utilização”. No trecho da 
música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga 
há utilização particular de determinada 
variedade da língua brasileira. Essa 
é uma manobra linguística utilizada 
para estabelecer um diálogo com 
um enunciatário específico. 
Assinale a alternativa em que este 
enunciatário é apresentado: 
Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu preguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação 
a) São João
b) Todos os brasileiros
c) Deus
d) Terra
e) Os nordestinos
4. No trecho abaixo, extraído da 
obra Conversas com Linguistas, 
Carlos Alberto Faraco responde, 
ao ser questionado sobre o que 
é língua: “Eu não sei se há uma 
resposta simples para essa pergunta 
aparentemente tão simples. Nós 
que nos formamos na euforia do 
estruturalismo, nos acostumamos 
a ver a língua como um sistema, 
[...], como um código autônomo 
e até auto-suficiente. [...] Mas nós 
vivemos a crise desta perspectiva 
com a reentrada na cena teórica 
das práticas de linguagem, aí 
entendidas com toda a sua 
complexidade. Daí que eu costumo 
dizer aos alunos que nosso objeto 
de estudo é complexa realidade 
semiótica, estruturada sim, mas 
necessariamente aberta, fluida, cheia 
de indeterminações e polissemias, 
porque é atravessada justamente por 
nossa condição de seres históricos. 
[...]” (XAVIER e CORTEZ, 2003, p. 64).
Na sua fala o linguista estabelece 
uma relação entre o seu dizer e o 
enunciatário de seu dizer. Assinale 
a alternativa abaixo que contenha 
elementos linguísticos que 
remetam ao enunciador: 
a) Eu; sei; costumo
b) Nós; eu; vivemos
c) Eu; nossa; alunos
d) Alunos; essa; sistema
e) Seres; sua; pergunta
73Enunciador e enunciatário
Linguística Avançada_U2_C05.indd 73 13/09/2017 16:51:23
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
Francisco
Realce
5. Na literatura e na poesia, é sabido que 
as convenções da língua e da realidade 
podem ser infringidas devido à 
“licença poética” que as artes têm 
para que possam melhor expressar 
seus temas. Benveniste diz que as 
categorias enunciativas, enunciador 
e enunciatário não se relacionam a 
sujeitos empíricos, mas expressam 
a inscrição dos sujeitos na língua. O 
poema de Fernando Pessoa, “Mar 
português”, é um exemplo do que 
diz Benveniste, pois seu enunciatário 
não é um sujeito empírico.
Leia atentamente o trecho do 
poema (PESSOA, 2007): 
“Mar Português
Ó Mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas 
mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
Assinale a alternativa em que é 
apresentado o enunciatário deste 
poema: 
a) Os filhos
b) Portugal
c) As mães
d) O mar
e) Deus
Enunciador e enunciatário74
Linguística Avançada_U2_C05.indd 74 13/09/2017 16:51:23
Francisco
Realce
BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. 3. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Fundamentos, 72).
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. Campinas: Pontes, 1989. v. 2.
DRUMMOND, C. Para gostar de ler: crônicas. 5. ed. São Paulo: Ática, 1980. (Para gostar 
de ler, v. 1).
DUCROT, O. Princípios de semântica linguística: dizer e não dizer. São Paulo: Cultrix, 1977.
FIORIN, J. L. Elementos de análisedo discurso. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
FLORES, V. N. Linguística da enunciação: uma entrevista com Marlene Teixeira e Valdir 
Flores. ReVEL, v.9, n. 16, 2011. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/
revel_16_entrevista.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017.
PESSOA, F. Mensagem. São Paulo: Hedra, 2007. (Clássicos na escola).
XAVIER, A. C. R.; CORTEZ, S. Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias da 
linguística. São Paulo: Parábola, 2003.
Leituras recomendadas
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. 5. ed. Campinas: Pontes, 2005.
FLORES, V. N. et al. Enunciação e gramática. São Paulo: Contexto, 2008. 
KNACK, C. Texto e enunciação: as modalidades falada e escrita como instâncias de 
investigação. 2012. 189 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
MIRANDA, M. G. M. Relações argumentativas entre enunciador e enunciatário no 
romance Partes de África, de Helder Macedo. Cadernos do CNLF, Rio de Janeiro, v. XIV, 
n. 2, p. 1601-1611, 2010. Disponível em: <www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1601-
1611.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2017.
75Enunciador e enunciatário
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Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
Acompanhe no vídeo o conceito de enunciador e enunciatário, segundo Benveniste.
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EXERCÍCIOS
1) Leia o trecho do poema de Fernando Pessoa: “Sossega, coração! Não desesperes! 
Talvez um dia, para além dos dias, Encontres o que queres porque o queres. Então, 
livre de falsas nostalgias, Atingirás a perfeição de seres.” Assinale a alternativa em 
que é apresentado o enunciatário do poema:
A) O leitor.
B) O coração. 
C) A amada.
D) O poeta.
E) Os seres.
2) Assinale a alternativa em que há outro modo de denominar o enunciador nos estudos 
enunciativos:
A) Interlocutor.
B) Referente. 
C) Leitor.
D) Destinatário.
E) Locutor.
3) Num discurso a enunciação apresenta-se, não como uma única voz, mas como um 
emaranhado de vozes que originam-se de outros discursos e, ao ser proferido, revela 
essa heterogeneidade de vozes. Dessa forma, o enunciador divide o espaço da 
enunciação com uma multiplicidade de vozes. Esse é um dos aspectos fundamentais 
da linguagem. 
Assinale a alternativa que melhor define o caráter da linguagem descrito acima. 
A) A linguagem apresenta diferentes vozes porque há o caráter do enunciador e do 
enunciatário em um processo de constante interlocução. 
B) Esse caráter é marcado pelo tempo e espaço de enunciação, por isso determina a 
heterogeneidade. 
C) Quando o enunciador faz o enunciado nele carrega a voz do locutor, do enunciador e do 
narrador, por isso esse caráter heterogêneo. 
D) O caráter dialógico e polifônico é que caracteriza esse aspecto da linguagem, pois um 
discurso se constrói por meio das interações do enunciador com outros discursos. 
E) As múltiplas vozes representam o conjunto completo de um enunciado, ou seja, o 
enunciador, o enunciado e o enunciatário em tempos e espaços definidos. 
No trecho a seguir, extraído da obra Conversas com Linguistas, Carlos Alberto 
Faraco responde, ao ser questionado sobre o que é língua: “Eu não sei se há uma 
resposta simples para essa pergunta aparentemente tão simples. Nós que nos 
4) 
formamos na euforia do estruturalismo, nos acostumamos a ver a língua como um 
sistema, [...] como um código autônomo e até auto-suficiente. [...] Mas nós vivemos a 
crise desta perspectiva com a reentrada na cena teórica das práticas de linguagem, aí 
entendidas com toda a sua complexidade. Daí que eu costumo dizer aos alunos que 
nosso objeto de estudo é complexa realidade semiótica, estruturada sim, mas 
necessariamente aberta, fluida, cheia de indeterminações e polissemias, porque é 
atravessada justamente por nossa condição de seres históricos. [...]” (XAVIER e 
CORTEZ, 2003, p. 64). 
 
Na sua fala o linguista estabelece uma relação entre o seu dizer e o enunciatário de 
seu dizer. Assinale a alternativa a seguir que contenha elementos linguísticos que 
remetam ao enunciador:
A) Eu; sei; costumo.
B) Nós; eu; vivemos.
C) Eu; nossa; alunos.
D) Alunos; essa; sistema.
E) Seres; sua; pergunta.
Na literatura e na poesia, é sabido que as convenções da língua e da realidade podem 
ser infringidas devido à “licença poética” que as artes têm para que possam melhor 
expressar seus temas. Benveniste diz que as categorias enunciativas, enunciador e 
enunciatário não se relacionam a sujeitos empíricos, mas expressam a inscrição dos 
sujeitos na língua. O poema de Fernando Pessoa, Mar Português, é um exemplo do 
que diz Benveniste, pois seu enunciatário não é um sujeito empírico. 
 
Leia atentamente o trecho do poema: Mar Português Ó Mar salgado, quanto do teu 
sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos 
filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó 
5) 
mar! 
 
Assinale a alternativa em que é apresentado o enunciatário deste poema: 
A) Os filhos.
B) Portugal.
C) As mães.
D) O mar.
E) Deus.
NA PRÁTICA
Algumas categorias linguísticas que também são categorias enunciativas e podem ser 
rapidamente localizadas em textos são:
EU - refere-se àquele que diz - o LOCUTOR - é o ponto de partida para as outras coordenadas. 
TU/VOCÊ/VOCÊS - refere-se aquele(s) a quem EU digo - o INTERLOCUTOR. 
AGORA - indica o momento em que EU falo. 
AQUI - identifica o espaço em que EU falo. 
ISTO - remete para um objecto próximo do locutor (EU). 
ELE - refere o não participante da comunicação.
A música "O meu guri", do Chico Buarque, traz vários dêiticos em diferentes categorias e 
também a divisão de vozes, acompanhe a seguir.
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SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
No vídeo Categoria de Pessoa, o professor Dr. Fiorin explica que segundo a teoria de 
Benveniste, a 1a e a 2a são as pessoas do discurso, os parceiros da enunciação, enquanto a 
3a pessoa é a não pessoa.
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No artigo O aposto como marca de intersubjetividade: uma análise enunciativa as autoras 
defendem a ideia de que o aposto é um dos procedimentos acessórios por meio do qual 
emerge a intersubjetividade no discurso.
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No artigo Relações argumentativas entre enunciador e enunciatário no romance Partes de 
África analisa as relações entre o enunciador e enunciatário do texto literário, a fim de 
perceber como se dá o contrato entre esses dois elementos da enunciação.
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