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A psicologia na grecia antiga. Platão e Aristóteles

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FACULDADE PITÁGORAS DE UBERLÂNDIA 
 
História da Psicologia 
 
A PSICOLOGIA NA GRÉCIA ANTIGA 
 
Os Pré-Socráticos 
 
Resumo – Relata as primeiras manifestações de vida inteligente, localiza historicamente a origem do 
entendimento da separação entre alma e corpo, e identifica as primeiras preocupações com objetividade, 
racionalidade, subjetividade e com o conhecimento de si mesmo. Ainda, ressalta a primeira descrição do 
cérebro como sede da vida racional. 
 
2.1 As primeiras noções de Psique 
 
O termo psicologia () aparece pela primeira vez como título de uma obra publicada em 1590. 
Tratava-se de um livro escrito por Rudolf Goclenius (1547-1628), um professor da Universidade de Marburgo 
reconhecido por suas contribuições à terminologia filosófica (Ferrater Mora, 1988). Literalmente, o termo psicologia 
referia-se ao estudo da ciência da alma, ou da psique ou da mente. 
Entre os antigos, o termo “alma” possuía vários sentidos. Podia significar sopro (respiração), fogo (calor 
vital que se apaga com a morte) e sombra ou simulacro (o que está sempre ao seu lado). Na verdade, as línguas 
antigas usam termos diferentes para referir-se a alma como sopro ou fôlego vivente e alma como referindo a uma 
instância imortal que habita, mas não pertence o corpo (Tabela 2). 
As primeiras manifestações de vida mental estavam relacionadas às preocupações com as forças 
responsáveis pelo sucesso ou fracasso, individual ou coletivo. Para os antigos, as vitórias e os fracassos eram 
decorrentes do poder de forças onipresentes e misteriosas, capazes de modificar o curso das coisas. A crença na 
existência destas forças e o desejo de domesticá-las através de práticas religiosas marcou as primeiras noções da vida 
inteligente. Como se sabe, práticas religiosas são crenças e cultos praticados por um grupo social, em que uma força 
sobrenatural é objeto de devoção e temor. Características comuns a maioria das religiões são: reconhecimento de 
uma força sobrenatural, a mediação sacerdotal, o uso de rituais para estabelecer uma relação com o sagrado e um 
senso comunitário. Encontram-se exemplos de práticas religiosas em todas as civilizações antigas. Existem registros 
escritos de práticas religiosas que remonta a cerca de 1500 anos antes de Cristo. Para nosso estudo vamos considerar 
as tradições religiosas dos povos helênicos por causa de sua importância no pensamento filosófico que está na base 
da história das idéias do mundo ocidental. 
Os ritos religiosos dos gregos, em particular no mundo homérico, no culto de Dioniso e no mito órfico, 
apresentam referências sobre a alma, sua função e sua relação com o corpo. 
No mundo homérico 700 a.C. acreditava-se numa alma separada do corpo. Uma alma que abandonava o 
corpo na hora da morte em direção ao Hades. Para eles a máxima expressão de vida era quando alma e corpo 
estavam unidos, dirigindo todas as atividades. Tal situação os levaria a ser como um deus na terra e a ter gosto pela 
vida. Mas esta explicação não esclarecia como o homem era dotado de sentimentos, desejos e pensamentos. 
O culto de Dioniso era uma tendência religiosa que acreditava em um profundo desacordo entre a alma, 
investida de valor sagrado, e o corpo. Para eles a alma preexistia ao corpo, e quando o habitava guardava consigo a 
nostalgia do Além e sentia o corpo como uma prisão. Então o culto com transes frenéticos, ao som de tambores e 
flautas, intermediava uma conciliação entre esta alma e o deus, com ela identificado, para assim encontrar a 
plenitude. 
O mito órfico, que apresenta muita semelhança com o episódio bíblico de Adão e Eva, traz a concepção do 
duplo princípio do bem e do mal, a idéia de que o mundo nasceu de um crime contra a unidade do deus, e que o 
objetivo final é o retorno à unidade indevidamente quebrada. O corpo é um túmulo do qual a alma deve libertar-se e 
purificar-se através da roda dos nascimentos, deixando um corpo para se introduzir em outro (Anánke). Desta forma, 
só submetendo-se aos preceitos da vida órfica, isto é, repudiando os prazeres do corpo e as atrações da vida terrena, 
pode-se alcançar a libertação (Mueller, 1968). 
Estas posições extraídas de um contexto mítico e religioso descrevem corpo e alma como entidades 
separadas. 
 
 Tabela 2 
 O termo alma nas línguas antigas 
 __________________________________________________ 
 
Línguas Alma como sopro Alma como diferente 
antigas ou fôlego vivente de sopro 
 
 em hebreu - nefesh - neshmach 
em árabe - nefs - ruh 
em sânscrito - atman - prona 
grego - pneuma - psique 
latim - animus - anima 
 alemão - Geist (espírito) 
inglês - ghost (fantasma) 
 __________________________________________________ 
(Fonte: Farrater Mora, 1988, v.1 p. 102) 
 
2.2 A origem da racionalidade 
 
Encontramos, a seguir, o primeiro período filosófico e que é designado como filosofia pré-socrática. Esta 
filosofia inaugura uma série de conceitos que ainda são usados e discutidos hoje. São as noções de ‘princípio', 
‘elemento', ‘matéria', ‘forma', ‘ser', ‘devir', e ‘espírito'. O problema principal da filosofia pré-socrática era a questão 
do ‘arkhé', ou seja, do princípio de todas as coisas, isto é, o questionamento do ser permanente tendo em vista o 
movimento e a mudança. O problema não era referente a tempo, mas sim à essência. 
A exigência racional nasceu com os jônicos. Eles assumiram uma postura de naturalistas afirmando que a 
natureza tinha uma existência independente do homem. Assim, trouxeram o conceito de realidade objetiva. Os 
jônicos são divididos em quatro grupos: os físicos, os eleatas, os atomistas e os sofistas. Curiosamente, a divergência 
de pensamento entre eles refere-se a questões que permanecem polêmicas até hoje. 
Os físicos preocupavam-se com o princípio de unidade. Eles queriam saber qual o princípio unitário do qual 
se originavam e que também transformava o mundo real. Assim, para Tales de Mileto (624-546 a.C.) este princípio 
unitário era a água, para Anaximandro (610-547 a.C.) era o ‘apeiron' (algo imortal, imperecível, indeterminado e 
indiferenciável, ilimitado), para Anaximenes (588-524 a.C.) era o ar (dele origina-se a noção de pneuma, sopro 
criador da vida e animador dos organismos) e para Heráclito era o fogo. O princípio unitário do fogo, defendido por 
Heráclito, foi também a primeira formulação da idéia de devir, de dialética. Ele dizia que o mundo não foi criado, 
nem deus, nem homem. O mundo é, para ele, o fogo eternamente vivo, renovando-se permanentemente. O devir, 
este renovar permanente, não é anárquico e nem está dominado pela medida, pelo logos (sentido, lei) (Mueller, 1968; 
Hirschberger, 1973). Note-se que até o conceito de matéria era infinito. Com Pitágoras de Samos (532, a.C.) surgem 
os conceitos de limites (peras) de número e de harmonia cósmica (as formas que ordenam o ser não surgem 
caprichosamente, ao contrário, constituem um sistema, um todo que tem harmonia cósmica). A alma era entendida 
como sendo a harmonia cósmica. 
Os primeiros estudos sobre a relação entre mecanismos sensoriais e conhecimento pertencem a Alcméon, 
um médico que viveu na cidade de Crotona na parte meridional da Itália, em torno do século V a.C., identificado 
como pertencente a escola de Pitágoras. Ele dissecava animais para estudar seus esqueletos, músculos ecérebro. Seus 
estudos mostraram a existência de vias nervosas e suas ligações com o cérebro. Por exemplo, descobriu que 
determinadas vias partiam dos olhos para levar a luz até o cérebro. Tem-se, desta forma, uma primeira teoria, ainda 
que rudimentar, de fisiologia dos sentidos estabelecendo o cérebro como órgão central da alma (Rosenfeld, 1993). 
Alcméon definiu a alma humana em três partes: intelecto, consciência e paixão. As três partes da alma são descritas 
pelo próprio Alcméon da seguinte forma: "O intelecto e as paixões encontram-se igualmente em todos os seres 
vivos, mas a consciência só existe no homem. O princípio da alma se estende do coração ao cérebro; as paixões têm 
a sua sede no coração, e o intelecto e a consciência residem no cérebro" (citado por Spinelli, 1998, p. 136). Alcméon 
é considerado o primeiro a fazer tal distinção entre o homem e os outros animais. Tanto os homens quanto os 
animais experimentam sensações mas somente os homens são capazes de pensar. 
Com relação aos físicos é interessante ressaltar o conceito de apeiron de Anaximandro, e o conceito de devir 
de Heráclito. Apeiron refere-se a uma matéria prima que é infinita enquanto não está determinada por forma alguma. 
No entanto, ela pode ser determinada de maneira sucessiva por uma infinidade de formas. O conceito de devir de 
Heráclito deve ser contrastado com o conceito de ser. O termo devir refere-se a composição de um ato e potência que 
permanece frente a ele a espera de uma realização. É, portanto, um conceito de algo em processo, em movimento. O 
termo ser designa aquela perfeição pela qual alguma coisa é um ente e que não coincide com o sensorialmente 
perceptível (Brugger, 1987). 
Os eleatas acreditavam que o ser é unidade e imobilidade e que a mutação não passa de aparência. A 
racionalidade mostrou-se de forma muita clara nas posições de Parmênidas de Elea (540/539-470 a.C.). Ele defendia 
que a identidade era o único fundamento e critério da verdade. Colocou no centro de sua doutrina o ser e negou o devir. 
Argumentava que o devir não era absolutamente nada. Pois, se estava sempre em movimento não podia manter-se 
por si mesmo. O devir era pura ilusão dos sentidos. Só nossos sentidos nos dão a ilusão do devir e por conseguinte da 
multiplicidade. Ora, dizia ele, se existe multiplicidade, poderá existir também transição, devir, e vice versa. Porém se 
não se quer seguir este caminho enganoso da opinião, quer dizer, da percepção sensível, siga-se o caminho da 
verdade e sustente-se no pensamento, e então se fala do próprio e verdadeiro ser, que é único, precisamente ser e 
não algo que está sendo posto ‘que é o mesmo que é pensar que ser'. (Hirschberger, p. 20, 1973). O ‘ser' em 
Parmênidas é o termo que designa a razão e a possibilidade de reduzir a ela toda a realidade e toda a diversidade. A 
sua doutrina de identidade é analisada pelos filósofos em seus três aspectos básicos: 1) a relação entre a doutrina da 
verdade e a doutrina da aparência, 2) a questão da definição do ser (o que é o ser?), e 3) a interpretação do que é o ser 
(identidade, verdade, lógica) (Tabela 3). 
 
Tabela 3: Permanência versus Mudança; Essência versus Tempo 
Essência 
Exterior 
Variação 
Percepção 
Representação 
Idéia 
Permanência 
Coisa 
[ser] 
Movimento 
Aparência 
[devir] 
Essência 
Interior 
Conceito 
Idéia 
 
 
Em Empédocles (483/2-430 a.C.) de Agrigento na Sicilia encontra-se a primeira formulação mecanicista. 
Para ele o princípio unitário estava na combinação de quatro elementos: fogo, água, ar e terra. Estes elementos, que 
estão presentes em toda a natureza, correspondem aos deuses Nestis (água), Hera (ar), Zeus (fogo) e Edono (terra). 
O mecanicismo de Empédocles estava na mistura dos elementos através de união e separação, dirigida pelas forças 
do amor (bem, ordem, construção) e do ódio (mal, desordem e desconstrução). Nota-se em seu pensamento duas 
tendências: uma materialista, a justificação das coisas através das misturas dos elementos; e outra religiosa, a crença 
em forças sobrenaturais do amor e do ódio. Não se sabe se há uma precedência de uma explicação sobre outra, ou se 
as duas sempre coexistiram em suas doutrinas. 
O principal representante dos atomistas foi Demócrito de Abdera (460-370). Para ele já não havia nem 
deuses nem nenhuma classe de representações tomadas da vida humana. O que havia eram átomos. Os átomos eram 
definidos como sendo "corpúsculos minúsculos, últimos invisíveis, todos da mesma qualidade, ainda diferentes em 
sua magnitude e em sua forma" (Hirschberger, p. 22, 1973). Como conceitos acessórios Demócrito só utiliza o 
espaço vazio e a natureza eterna. Segundo ele, estes átomos caem da eternidade no espaço vazio e tudo que existe se 
compõem deles. Para tanto, na nossa percepção sensível das coisas são diferentes em figura, forma, cor, etc., porém 
em si mesmas (physei = natureza) se compõem unicamente de átomos. Aqui está lançado o germe da idéia moderna. 
Demócrito preocupou-se, mais do que qualquer filósofo anterior a ele, com a incerteza das impressões 
sensíveis. Sua explicação do universo parece ser uma síntese tanto da doutrina eleática (ser) como da de Heráclito 
(devir). Demócrito estabeleu os princípios de cheio e vazio para substituir a idéia do ser único e idéia da fluência 
constante e perpétua. O que se tem então é o conceito de ser e de não ser. O ser são os átomos, cujo o número é 
infinito, diferenciando-se entre eles por sua ordem, figura e posição. Os átomos são elementos cujas as 
determinações gerais são geométricas e, por conseguinte, quantitativas. Seu movimento se efetua no vazio, que é, por 
assim dizer, o lugar das mudanças e não o simples nada, pois o vazio existe de modo efetivo, ainda em forma distinta 
do ser sólido e cheio que são os átomos. Assim, o movimento que tem lugar no vazio é impulsionado por uma força 
externa que junta e desagrega as coisas como o amor e o ódio. Os átomos são eternos e incausados porque são os 
primeiros a partir dos quais as coisas chegam a existência. Porém, sua eternidade pertence também a seu movimento, 
que se efetua assim de um modo inteiramente mecânico; com um rigoroso encadeamento causal que não é um 
simples azar, ‘pois tudo acontece pela razão e pela necessidade'. Os átomos constituem o ser ‘das coisas que são', não 
só das físicas, senão das que parecem imateriais, da alma, que está composta de átomos de fogo, quer dizer, de 
átomos redondos impulsionados pelo mais rápido movimento. A solução dado por Demócrito é com isso uma das 
grandes soluções clássicas ao problema do ser e em particular ao problema do devir, solução tanto mais precisa quanto 
que conserva por partes iguais a necessidade racional de um ser imóvel e a comprovação empírica de um mundo que 
se move. Os átomos de Demócrito parecem ser uma divisão do ser único de Parménidas, o qual era evidentemente 
racional, porém não podia explicar de maneira alguma o mundo da opinião e da mudança. Ao dividir esse ser, 
Demócrito conserva sua inteligibilidade sem a contrapor violentamente com a irracionalidade da mudança. É desta 
forma que a doutrina de Demócrito tem sido uma constante em toda história do pensamento, e em muito maior 
proporção do que pode fazer supor a imagem que se faz habitualmente da filosofia grega; imagem que reduz o 
democritismo em uma qualquer das diversas posições pre-socráticas (Ferrater Mora, 1988, p. 741). 
Anaxágoras (c500-420 ou 499-428 a. C.) introduziu o princípio do espírito: o nous (a inteligência, a mente, a 
razão) – algo divino, infinito, existe para si, é onisciente e onipresente, o criador de todas as coisas. Brugger (1987, p. 
321) define o nous do seguinte modo: "Enquanto os sentidos nos mostram somente o mundo do devir e do perecer, 
termo médio entre o ser propriamente dito e o nada, o Nous (vouç) penetra até as idéias, formas exemplares ou 
unidades objetivas eternas,não sensíveis, que existem fora e acima das coisas sensíveis e conferem seu verdadeiro 
sentido ao mundo e à vida." 
 
2.3 A medicina grega 
 
Na Grécia Antiga a medicina era sacerdotal. Procurava-se a cura para a doença através da magia, poções 
benfazejas, feitiços, e vários tipos de aplicações e cirurgias. Foi Alcméon de Crotona, na Itália, em torno do século V 
a.C., o primeiro médico a basear seus conhecimentos sobre o corpo em observações objetivas. Ele organizou uma 
escola de medicina em sua cidade para substituir a medicina religiosa e mística por uma medicina racional. Alcméon 
acreditava que a relação entre saúde e doença estava no equilíbrio ou desequilíbrio dos sistemas corporais. 
(Hothsersall, 1990). 
O sucessor de Alcméon foi Hipócrates (c.460-c.355 a. C.), um filho de sacerdote, que iniciou suas atividades 
médicas na tradição religiosa mas as substituiu, posteriormente, por uma medicina racional. Acredita-se que em suas 
origens Hipócrates tenha recebido influências das escolas filosóficas dos jônicos e principalmente dos pitagóricos, 
bem como de práticas orientais do Egito e da Índia. Sua medicina baseava-se numa teoria dos humores na qual o ser 
humano era descrito como formando um todo composto de quatro partes independentes, que eram os quatro 
humores: o sangue, a fleuma (chamada também linfa ou pituíta), a bílis amarela, a bílis negra ou atrabílis, cada uma 
das quais relacionada a um órgão particular: o coração, o cérebro, o fígado e o baço. A saúde seria o resultado do 
equilíbrio dos humores. A medicina de Hipócrates assinalou o desempenho do cérebro no organismo e o 
reconheceu como a sede da inteligência. Também descreve as ramificações do cérebro com todas as partes do corpo 
e o modo como recebe as informações dos diversos canais dos sentidos (Mueller, 1968). 
 
2.4 A origem da subjetividade 
 
Os sofistas preocupavam-se com o homem como tal e com o seu modo de viver no mundo. Eles estavam 
interessados em entender a realidade de um ser que sente, deseja e pensa, e cuja existência coloca, ao mesmo tempo, 
perguntas e respostas. Os sofistas interessavam-se pelas questões de inteligência e de moralidade e assim abriram o 
caminho para o estudo da subjetividade. Eram professores de retórica, a arte de falar, escrever, apresentar-se, em 
suma, a arte de argumentar. Nestas breves considerações sobre os sofistas, infelizmente conhecidos muito mais 
pelos seus críticos (Platão e Aristóteles) do que através de suas próprias contribuições, focalizaremos o pensamento 
de Protágoras, e Górgias. 
Protágoras (c480-410 a.C.) acreditava na doutrina de que as coisas estão numa fluidez perpétua resultando 
então na impossibilidade de se conseguir verdades universais e absolutas para todos os homens. Este relativismo 
subjetivista é expresso com clareza numa frase importante de Protágoras onde ele diz que "o homem é a medida de 
todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são." A questão que se coloca refere-se ao 
que pode ser aceito como critério de verdade. Estas posições não significam a negação da verdade mas sim a negação 
da falsidade. Pois o que é dito, é dito numa circunstância e o seu valor limita-se a este momento. 
Górgias (c ?-380 a.C.) era professor de retórica e considerado um cético radical. A frase que é muito 
mencionada como resumindo sua posição é a seguinte: "não existe a verdade, se existisse não seria conhecida e se 
conhecida não seria comunicável". 
É importante mencionar os exageros decorrentes do relativismo subjetivista dos sofistas. Estas posições 
levaram ao ceticismo, a indiferença total das coisas exteriores, desde que era impossível o conhecimento de sua 
verdadeira essência. 
 
2.5 Sócrates 
 
Sócrates (470/469-399 a.C.) também estava nesta mesma linha de preocupações com as questões 
eminentemente humanas. Interessava-se, especialmente, pelo estudo da moralidade, da ética, e da virtude. Sócrates 
diferenciava-se dos demais filósofos mencionados justamente por não oferecer uma doutrina, e por sua insistência 
em atacar, de qualquer ponto, toda a doutrina que não tinha como objeto único o estudo do bem e do mal. Assim, 
era contrário à preocupação cosmológica dos filósofos de Jônia, as teorias de Heráclito, e ao discurso dos sofistas. 
Para Sócrates o saber fundamental era o "conhece-te a ti mesmo". E como filósofo sua maior virtude, segundo o 
oráculo Delfos, era saber que não sabia nada. Deste ponto de vista é fácil estabelecer uma clara linha divisória entre 
o subjetivismo dos sofistas e o subjetivismo de Sócrates. Segundo os sofistas o sujeito humano é um espelho da 
realidade; sendo esta multiforme, o espelho o será do mesmo modo. Segundo Sócrates o sujeito humano é o centro 
de toda a indagação; como esta se reduz a uma única questão, conhecer o bem, o sujeito tem uma só realidade. Para 
Sócrates todo o saber deve estar dirigido para o conhecimento da realidade do homem. 
Sócrates tornou-se uma figura polêmica em seu tempo por destruir crenças tradicionais e demonstrar os 
falsos saberes. Contudo, o que mais incomodou seus contemporâneos foram suas referências ao modo de viver das 
pessoas. Ele era capaz de achar problemas em qualquer situação e estava muito mais preocupado em questionar do 
que em solucionar. Para ele a virtude e o saber não são incompatíveis, pois o saber levará a virtude e a virtude ao 
saber. A virtude deve aparecer como o resultado de uma busca racional infatigável de uma profunda penetração em 
si mesmo. 
Para confundir seus interlocutores Sócrates procurava não definir e seguir uma argumentação dialética, na 
qual uma pergunta apontava para outra pergunta. Por ser filho de uma parteira, dizia-se um parteiro de idéias, um 
especialista em maiêutica. 
 
 Referências 
 
Brugger, W. (1987). Dicionário de filosofia. São Paulo: E.P.U. 
 
Ferrater Mora, J. (1988). Diccionario de filosofia, vols. 1-4. Barcelona: Alianza Editorial. 
 
Hirschberger, J. (1973). Breve história de la filosofia (A. Ros, Trad.). Barcelona: Editorial Herder. (Publicado 
originalmente em alemão, 1961.) 
 
Hothersall, D. (1990). History of psychology. New York: McGraw-Hill 
 
Mueller, F. (1968). História da psicologia (L. Oliveira, M. A. Blandy e J. B. Damasco Penna, Trads.). São Paulo: Edusp. 
(Publicado originalmente em francês, 1960.) 
 
Spinelli, M. (1998). Filósofos pré-socráticos. Porto Alegre: Edipucrs. 
 
 A fonte usada por Spinelli foi Diógenes Laércio, Vidas e doutrinas de filósofos ilustres, VIII, 30 (DK 58 B 1a). 
 
A PSICOLOGIA 
 
DE PLATÃO E DE ARISTÓTELES 
 
Os debates entre os primeiros sábios gregos exploravam uma temática de grandes questões: quais os princípios da 
natureza? O que é permanente e o que é movimento? O que é e o que não é verdadeiro? Existe verdade? Qual a natureza do 
homem? Como praticar uma vida virtuosa? Nosso interesse neste momento é localizar as primeiras formulações de uma área do 
conhecimento que posteriormente seria chamada de Psicologia Filosófica ou Racional. Esta área de conhecimento refere-se ao 
intelecto, esta capacidade humana de perceber, pensar e raciocinar. A grande questão era então saber o que é, como é, por que é, 
e para quê é este intelecto que nos diferencia dos demais animais, trazendo direção e sentido para nossas vidas. A pergunta 
seguinte era sobre a relação entre intelecto e corpo, este corpo através do qual as capacidades mentais encontravam sua forma de 
expressão. 
Neste capítulo vamos aplicar as perguntas de referência às psicologias de dois importantes filósofos Platão (428/7-
347AC) e Aristóteles (384/3-322AC). 
 
3.1 A Psicologia de Platão 
 
Platão nasceu em Atenas filho de uma família aristocrática. Foi discípulo de Sócrates e seu principal 
sucessor. Muito do que se sabe sobre Sócrates veio através dos diálogosescritos por Platão. Ele fundou uma escola 
de filosofia em Atenas que sobreviveu até o ano 529 DC quando foi fechada pelo Imperador Romano Justiniano. 
Foi através desta escola que seus ensinamentos contribuíram para a educação dos filhos dos Romanos através de 
Plotino, influenciando também o Cristianismo através de Santo Agostinho. Os escritos de Platão chegaram aos 
nossos dias através de caminhos tortuosos. Os originais gregos eram raridade na Europa da Idade Média. O 
pensamento de Platão tornou-se conhecido através do Império Bizantino e do mundo Islâmico. Chegou a Europa 
através de traduções para o latim realizadas por Cícero e Boécio, também de apanhados preparados por estudiosos 
das idéias de Platão. No século XV um humanista de Florença chamado Ficino traduziu os escritos de Platão 
contribuindo para sua difusão no mundo ocidental. 
A principal característica do pensamento de Platão é encontrar uma justificativa ontológica para as posições 
de Sócrates. Ou seja, responder a nossa primeira pergunta, no caso, o que é intelecto. No entanto suas teorias trazem 
um dos primeiros esboços dos principais temas psicológicos, tais como, intelecto (via cognitiva) emoção (via afetiva), 
motivação e saúde mental (via ativa e grandes sínteses), e diferenças individuais. 
 
3.1.1 O que é intelecto para Platão? 
 
Platão seguindo Sócrates defendia que a origem do Intelecto estava na alma. A alma era uma substância 
simples e indivisível, eterna e possuidora da verdade, princípio de todo o movimento, capaz de reminiscências, de 
existências anteriores, nunca se decompondo. Sua ligação com o corpo era de aprisionamento estando nele por uma 
espécie de decadência e assim buscando a purificação e a libertação. A tarefa da alma era superar as ilusões das 
impressões sensoriais e vencer as seduções do corpo para que fossem avivadas suas reminiscências. Através do 
contado com o mundo e com os outros seres a alma poderia despertar a lembrança do Belo e do Bem Absoluto. 
Cumprindo esta tarefa, a alma encontraria sua via de libertação. Do devir (processo de vitória ou derrota) 
dependeria sua ida para o seu verdadeiro lugar, escapando a roda dos nascimentos ou o retorno ao Hades para, 
posteriormente, reencarnar em outro humano ou animal. 
Na verdade, Platão entendeu as funções da alma como organizadas em uma hierarquia. No nível mais 
elementar a alma é simplesmente o princípio da vida, não apresentando nem percepção, nem memória e nem desejo 
(Philebus). No segundo nível, a alma aparece em seu lado mortal e é constituída pelas paixões, apetições e sensações 
irracionais. Este nível dividi-se em dois subníveis: o mais baixo formado pelos apetites e pela luxúria; e o mais alto 
formado pelas emoções. Por fim, no terceiro nível estava a parte imortal da alma que era a racionalidade e a 
inteligência. Hearnshaw (1987) baseado nesta hierarquia entendeu que Platão não seria um dualista pois acenava para 
interações entre corpo e alma em níveis multivariados. 
Contudo, o que predominou no entendimento dos filósofos que o sucederam foi um conflito de natureza ou 
substância (ontológico). Um conflito entre a nostalgia de uma eternidade e as seduções da vida terrena que chegavam 
através das impressões sensoriais do corpo. Com esta posição, Platão distanciou-se dos filósofos que o precederam 
negando à alma qualquer materialidade, pois sua existência era tida como independente do corpo. 
3.1.2 Como é o Intelecto e quais são os processos do conhecimento? 
 
Uma preocupação que vem desde os primeiros filósofos era elucidar o que é verdade e o que é aparência. A 
verdade deveria estar em algum ponto entre as impressões sensoriais e a reflexão racional. Protágoras, o sofista, dizia 
que o conhecimento dependia das sensações e a verdade poderia ser uma para cada pessoa. Sócrates, ao contrário, 
acreditava que o saber já estava na alma e assim se deveria buscar a verdade nos mais profundo do ser. 
Para Platão, o conhecimento não poderia apoiar-se nas impressões sensoriais pois elas estavam em constante 
mudança. O conhecimento verdadeiro não poderia sustentar-se em aparências. Teria que se valer de alguma coisa 
que fosse permanente e que existisse fora da mente do percebedor. Isto não quer dizer que ele descartasse 
completamente a informação sensorial mas que mostrava a necessidade do uso da memória, da razão e da memória 
inata para se chegar à verdade. 
 
3.1.3 A lógica do conhecimento (o por quê) 
 
O verdadeiro conhecimento seria atingível não através da matemática, que apesar de possuir uma essência 
não se justifica a si mesma, mas por uma habilidade de raciocinar dialeticamente, isto é, através da dedução racional 
das formas. Por formas Platão entendia as estruturas eternas que organizam o mundo e que são conhecidas através 
da dedução racional. Estas formas seriam reais e permanentes, pré-existiriam na alma. Esta posição enfatiza o 
caracter inatista da posição de Platão, isto é, idéias e princípios independentes da experiência. Um exemplo 
interessante está no Menon quando relata um episódio no qual Sócrates interrogou um pequeno escravo de modo a 
orientá-lo para descobrir a solução de um problema matemático: construir um quadrado cuja superfície seja o dobro 
da um quadrado dado. O escravo encontrou a solução do problema sem nunca ter estudado o que veio provar que 
ele já possuía consigo a resposta. 
 
3.1.4 A psicologia aplicada de Platão 
 
O quarto item do esquema que estamos usando refere-se sempre a questão das implicações morais ou da 
ética de uma determinada teoria. É nesta esfera do saber que encontramos as questões de uma psicologia prática. 
Platão, com a noção de uma alma que contém em si mesma a sabedoria e a verdade, valoriza todo o esforço no 
sentido de alcançar esta "via de libertação", que é o bem absoluto e universal. No entanto, é quando examina os 
problemas da vida quotidiana que se defronta com a necessidade de melhor explicitar as relações entre alma e corpo. 
As relações são apresentadas na alegoria da "parelha de cavalos conduzidos por um cocheiro" (Fedro). O cocheiro é 
comparado a razão, um cavalo a energia moral e outro ao desejo. Tem-se então, talvez, o primeiro esquema 
tripartido da conduta humana. A preocupação da relação mente-corpo ainda aparece em um dos seus últimos livros 
o Timeu. As partes da alma ocupam diferentes partes do corpo. A razão ocupa a cabeça, a energia moral o tórax e as 
paixões o abdômen. Também apresenta uma incipiente descrição psicofisiológica sustentando que é a medula que 
une a alma ao corpo. 
Os problemas psíquicos seriam decorrentes de intemperança e uma boa saúde mental estava na moderação, 
no raciocínio e no cálculo, nas reflexões, no convívio com as artes, e no equilíbrio da realização dos desejos. Estas 
recomendações preventivas deveriam substituir o uso de remédios. 
É no entendimento das diferenças individuais que a posição inatista de Platão mostra-se com clareza. Na 
República, o Filósofo cria uma sociedade utópica, governada por um sistema hierárquico, composto por um pequeno 
grupo de indivíduos com inteligência superior. As funções desta sociedade seriam distribuídas de acordo com os 
talentos que cada um trouxesse ao mundo. Quem possuísse grande coragem seria cuidador de todos, quem possuísse 
superior senso de beleza e harmonia seria artista, e quem possuísse pouco talento e habilidades seria escravo. Platão 
vai ainda mais longe, a preservação destas diferenças poderia ser obtida através de casamentos pré-arranjados. 
 
3.1.5 As contribuições da psicologia de Platão 
 
A psicologia de Platão trouxe um conjunto de preocupações e indicações que foram retomadas por teorias 
psicológicas posteriores. Seu entendimento de uma alma organizada em diferentes níveis antecipa a organização das 
áreas básicas da psicologia contemporânea, ou seja: sensação, percepção, memória, emoção e cognição.Mostra as 
dificuldades das relações entre motivação e emoção, apresenta um breve esboço de saúde mental e ainda levanta o 
problema das diferenças individuais. Com relação a sua justificativa lógica é importante lembrar que Platão era 
primeiramente um estudioso da astronomia. Desta forma, um método dedutivo baseado na matemática e na 
geometria era a garantia para estabelecer um critério de verdade para o conhecimento. 
 
3.2 A Psicologia de Aristóteles 
 
 Aristóteles nasceu na Macedônia. Seu pai era um médico da corte do rei. Aos 17 anos foi para Atenas estudar na 
Escola de Platão. Permaneceu em Atenas por 20 anos como estudante e também professor. Afastou-se depois da morte 
da Platão, e foi morar em uma cidade da Ásia Menor chamada Assos. Mudou-se depois para Macedônia onde foi tutor 
de Alexandre o Grande. Quando Alexandre tornou-se rei voltou para Atenas onde abriu sua escola, chamada de Liceu. 
Foi nesta fase de sua vida que escreveu suas obras sobre biologia e psicologia (Hothersal, 1990, p. 21). Com a morte de 
Alexandre, Atenas foi tomada por um sentimento antimacedônico e Aristóteles teve que se retirar para uma propriedade 
de sua família. 
 Aristóteles foi gradativamente afastando-se das idéias de Platão e assumindo uma posição mais realista e 
naturalista em relação à alma e ao mundo. Ele criticou os pitagóricos e os platônicos por defenderem uma alma 
sobrenatural e não atentarem para as características reais, físicas e orgânicas do homem. No entanto, não aceitava o 
extremo materialismo dos atomistas, pois acreditava que as características humanas de poder escolher e pensar eram de 
outra ordem. Defendeu que o princípio vital difere dos componentes do mundo físico, que a relação entre alma e corpo 
era funcional, e que a alma não subsiste sem o corpo. 
 
 Hearnshaw (1987) descreveu o percurso dos livros de Aristótles até a Europa do seguinte modo: 
No início da idade média Aristóteles já era conhecido principalmente por sua lógica e pelos comentários 
de Boécio. Seus livros alcançaram a Europa através da invasão de Constantinopla pelas Cruzadas em 
1204 DC. Da mesma forma, começaram a circular pela Europa os comentários aristotélicos dos 
filósofos islâmicos como Avicenna (Sec. XI) e Averroës (Sec. XII). Logo depois, surgiram as versões 
cristãs de Aristóteles com as exposições de Pedro de Espanha (aproximadamente em 1250 DC) e 
Tomás de Aquino (aproximadamente em 1260 AD). Estes autores também restabeleceram a psicologia 
como uma disciplina filosófica. O pensamento de Aristóteles será dominante nos próximos 400 anos e 
também reaparecerá no início da psicologia moderna através das teorias de Brentano e dos psicólogos 
católicos. (pp. 27-28) 
 
Aristóteles é considerado como o primeiro grande pesquisador sistemático. Definiu o objeto de estudo de 
várias ciências e foi o primeiro a oferecer uma teoria sobre a psicologia. Foi também o primeiro historiador. As 
características principais do trabalho de Aristóteles estão em sua preocupação como a observação, em seu gosto pelo 
concreto e em seu interesse pelo individual. 
 Lembre-se que nossa disciplina de história iniciou descrevendo a psicologia em três grandes vias: cognição, 
afeição e conação. Antecipou-se também que estas três vias são priorizadas e enfatizadas de modo diferentes nas 
teorias psicológicas. Nos escritos de Aristóteles as três vias são tratadas em livros diferentes. Cognição e biologia são 
estudadas em De Anima e em Parva Naturalia. Conação e afeto são tratados em Ética e Retórica . A seguir vamos ver 
como Aristóteles respondeu as nossas quatro perguntas. 
 
3.2.1 O que é o intelecto para Aristóteles? 
 
O intelecto em Aristóteles surge da relação entre a alma e o corpo. Alma e corpo não são entidades 
separadas. A alma é “causa e princípio do corpo vivo”. Suas manifestações como coragem, doçura, temor, piedade, 
audácia, alegria, amor e ódio apresentam-se através do corpo. A alma coordena as funções vitais do organismo que 
são: sensações, afeições e atividades, sensibilidade e entendimento. A relação entre alma e corpo é de natureza 
funcional. Seu objetivo é assegurar a harmonia das funções vitais. Aristóteles diverge das teorias de Pitágoras e de 
Platão pois nega a natureza sobrenatural da alma e enfatiza sua natureza real, física e orgânica. Critica também a 
teoria dos átomos de Demócrito como insuficiente para explicar a intervenção da escolha e do pensamento. A alma 
como princípio da vida e do movimento também está presente nos animais. A diferença entre o homem e os animais 
é uma questão de grau. Diz Aristóteles: “do animal ao homem, o que caracteriza a passagem é uma espécie de 
aperfeiçoamento” (De Anima, III, 5). Nas plantas, a alma é meramente nutritiva. Nos animais a alma é sensitiva. No 
homem, a alma é racional. Nota-se, assim, que Aristóteles vai formulando uma psicologia como uma extensão da 
biologia. No entanto, Mueller (1968) e Hearnshaw (1987) alertam-nos para um fundamento ontológico que parece 
dirigir a teorização de Aristóteles. Ele acreditava em um princípio vital originário e perfeito. Neste sentido mesmo a 
imperfeição procederia da perfeição. Alma e corpo são aspectos de uma mesma substância. Substância é definida 
como uma composição de matéria e forma. Matéria é potencialidade e forma é realização. Temos, portanto, uma 
teoria que é realista mas não materialista. 
 
3.2.2 Como é o intelecto e quais são os processos do conhecimento? 
 
O intelecto é a capacidade humana de conhecer. Aristóteles distinguiu um conjunto de funções intelectivas 
ou cognitivas. São elas: sensação, imaginação, memória, razão prática e razão criativa. Para ele a inteligência racional 
é o nous como definido por Anaxágoras. 
 As sensações são definidas como um processo que envolve movimentos físicos, transmissão através dos 
órgãos dos sentidos e da alma. Qual seria o papel da alma neste processo? Há em cada sensação um objeto sem 
matéria, ou seja, a sensação sempre contém um elemento de abstração. É A alma que traz este elemento de 
abstração. Foi Aristóteles quem definiu os cinco sentidos que atuam conjuntamente e que são capazes de produzir 
informações simultâneas de um mesmo objeto. Os estudos sobre sensações de Aristóteles ocupam boa parte do De 
Anima, e também é a parte mais extensa do seu tratado Parva Naturalia, intitulada De Sensu. Seu trabalho é respeitado 
por conter observações sistemáticas e exaustivas. Compreende-se, no entanto, que os erros cometidos devem-se aos 
equívocos de suas formulações em fisiologia e em física. Um erro importante de Aristóteles foi desprezar a medicina 
de Hipócrates e afirmar que o centro das sensações era o coração. 
 A imaginação desempenha um papel importante no intelecto. Faz a intermediação entre as sensações e a 
razão, e está em ligação com a memória. A sensação envolve um ato que contém um objeto real enquanto a 
imaginação lida com as ausências. Quando os sentidos estão inativos, como no sono, o intelecto continua em 
atividade ligando a função sensível à função imaginativa, produzindo o sonho. Os sonhos não eram entendidos 
como mensagens dos deuses pois os animais também sonhavam. A memória é a conservação do passado e é 
constituída de imagens cópia de experiências anteriores que preservam a continuidade vivida, podendo ser evocadas 
voluntariamente (Mueller, 1968). É através da memória que se estabelece associações, ou seja, uma relação entre 
movimentos deixados por sensações e que tendem a suceder-se em certa ordem. Os princípios de relações 
associativas são contiguidade, semelhança e contraste. Note-se que Aristóteles enfatiza o prolongamento dos 
movimentos sensoriais mesmo após ter cessado a estimulação física. Como resultado, sensações prolongadas 
associam-se a outras sensações semelhantes disponíveis na memória que ativam a imaginação.Os materiais fornecidos pelos sentidos são transformados em informações inteligíveis pela razão. A razão é 
diferenciada em razão passiva e razão ativa. A razão passiva é aquela que sintetiza os dados do sentido e da 
imaginação. A razão ativa é aquela capaz de abstrair, organizar e transcender. Aristóteles não encontrou um meio de 
explicar a razão ativa, a não ser atribuir-lhe uma natureza divina. Em outras palavras, a alma em suas funções mais 
elevadas não recebe uma explicação empírica (com base na experiência). 
 A capacidade humana de autoconhecimento também foi preocupação de Aristóteles. Os gregos não 
possuíam um termo para consciência, palavra usada hoje para autoconhecimento. Consciência em sentido 
psicológico significa ter conhecimento do que se está fazendo em um determinado momento. Aristóteles entendia 
que uma pessoa em estado de vigília estava ciente de suas sensações. Para ele, ter sensação era um sinal de que a 
pessoa estava em vigília (Parva Naturalia). Em Ética ele fala claramente que quem ouve percebe que ouve e quem 
anda percebe que anda, e que perceber que percebemos é perceber que existimos. 
 A última consideração sobre o intelecto está nesta pergunta intrigante e fundamental para a psicologia: como 
se passa do conhecer para o agir? Note que estamos tentando estabelecer uma relação entre a via cognitiva e a via 
ativa. Para Aristóteles a ação depende do desejo. A ação é impulsionada pelo desejo para atingir a um fim. Este fim é 
decorrente das informações sensoriais, da imaginação e do pensamento (razão). A ação é voluntária quando procede 
de um agente que está ciente do que está fazendo. No entanto, a razão pode falhar e a ação passar a ser dirigida 
unicamente pelo desejo. Aí está posto o conflito potencial entre razão e desejo. 
 A emoção é definida em três componentes (De Anima, Retórica): um componente sensorial como a audácia e 
o medo; um componente cognitivo como uma antecipação de uma conseqüência futura; e um componente afetivo 
que afeta o julgamento e é regulada pela dor e pelo prazer. (Hearnshaw, 1989). 
 
3.2.3 A lógica do conhecimento 
 
O conhecimento deve ser obtido através de um equilíbrio entre a indução baseada no material empírico 
(observação e experiência) e a dedução decorrente de um pensamento formal. O grande destaque de suas análises é a 
noção de causalidade. Aristóteles identificou quatro causas: 1) a causa material que é a essência presumível, 
subjacente e imutável de um objeto em um tempo qualquer, como por exemplo, a madeira, o tecido, o carbono, o 
eletrodo, etc.; 2) a causa eficiente, que é a sucessão de eventos sobre o tempo que se acredita originar ou sustentar o 
movimento, por exemplo, puxar, mover, cair; 3) a causa formal, que é a estrutura, estilo de organização, consistência 
interna de um objeto ou evento na experiência, por exemplo, planejamento, consistência; e 4) a causa final que é a 
razão, fim, propósito ou objetivo pelo qual uma linha de comportamento está sendo colocada em ação ou está sendo 
criada, como por exemplo, intenções, planos, esperanças e desejos. 
 
3.2.4 A psicologia aplicada de Aristóteles 
 
 Com base em seus princípios, Aristóteles oferece-nos um conjunto de sugestões e advertências. Ele antecipa 
uma teoria de psicopatologia quando diz que a confusão entre a memória e a imaginação produz desequilíbrios, 
tomando-se imagens como se fossem realidades. No entanto, sua preocupação com a natureza vegetal e com a 
biologia levou-lhe, certamente, a formular uma concepção moral de que vegetais, animais e seres humanos dirigem-
se movidos por um ser supremo, em busca da perfeição. Esta perfeição estimula a busca do conhecimento, da beleza 
e da verdade, está também no impulso do prazer. Para ele, todas as atividades devem ser fonte de prazer. A felicidade 
do homem está na sua capacidade racional, pois a razão leva a virtude que é idêntica à felicidade. Numa perspectiva 
biológica, Aristóteles entende que a função de todos os viventes é crescer, reproduzir-se e conservar a espécie. A 
liberdade de escolha traz grandes dificuldades para as relações sociais e para a ação política. O bom uso da 
capacidade de escolha vai depender da formação de hábitos e da inteligência. Por fim, o objetivo da moral é trazer a 
felicidade para todos (Mueller, 1968). 
 
Leituras complementares 
 
Mueller, Fernand-Lucien (1968). História da psicologia (Trad. L. L. de Oliveira e M. A. Blandy e J. B. Damasco Penna). 
São Paulo: Companhia Editora Nacional. (Capítulos 5 e 6) 
 
Gaarder, Jostein (1995). O mundo de Sofia (Trad. João Azenha Jr.). SP.: Cia de Letras. 
 
Referências Bibliográficas 
 
GOMES, Vitor Fonseca. A psicologia na Grécia Antiga I. Texto disponível em 
http://www.ufrgs.br/museupsi/Cronogr.htm. Acesso em 20/01/2007. 
 
_______________. A psicologia de Platão e Aristóteles. Texto disponível em 
http://www.ufrgs.br/museupsi/Cronogr.htm. Acesso em 20/01/2007.

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