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Ética, política e sociedade book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 1 19/06/14 12:31 book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 2 19/06/14 12:31 Ética, política e sociedade Fábio Roberto Tavares Márcia Bastos de Almeida Sergio de Goés Barboza book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 3 19/06/14 12:31 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tavares, Fábio Roberto T231e Ética, política e sociedade / Fábio Roberto Tavares, Márcia Bastos de Almeida, Sergio de Goes Barboza. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014. 192 p. ISBN 978-85-68075-15-9 1. Moral. 2. Princípio. I. Almeida, Márcia Bastos de. II. Barboza, Sergio de Goes. III. Título. CDD 177.2 © 2014 by Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Diretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer Gerente de produção editorial: Kelly Tavares Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso Coordenador de produção editorial: Sérgio Nascimento Editor: Casa de Ideias Editor assistente: Marcos Guimarães Revisão: Francisco Mariani Casadore Diagramação: Casa de Ideias book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 4 19/06/14 12:31 Unidade 1 — Princípios da ética e moral ocidental .......1 Seção 1 Formação da moral ocidental e racionalizações éticas .........3 1.1 A moral e a ética ocidentais .................................................................4 1.2 A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade ................11 Seção 2 Individualidade e coletividade ............................................20 2.1 O indivíduo e a coletividade ..............................................................20 Seção 3 O determinismo, a liberdade e a subjetividade social .........31 3.1 Nascidos para a liberdade ..................................................................32 Unidade 2 — Correntes filosóficas e a construção da moral ................................................43 Seção 1 A filosofia de Hegel e a moral .............................................44 1.1 Conhecendo um pouco de Hegel ......................................................45 Seção 2 Kant e o imperativo categórico ...........................................56 2.1 O imperativo categórico ....................................................................56 2.2 Os imperativos ...................................................................................60 2.3 Os imperativos hipotético e categórico ..............................................63 2.4 As fórmulas do imperativo categórico ................................................65 Seção 3 Nietzsche e a genealogia da moral ....................................69 3.1 A moral em Nietzsche........................................................................70 Unidade 3 — Construção da política ocidental ...........87 Seção 1 Fundamentos da política ocidental e o contrato social .......89 1.1 Fundamentando a política e o contrato ocidental ..............................90 Sumário book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 5 19/06/14 12:31 vi É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Seção 2 Formação do Estado liberal ...............................................102 2.1 Liberalismo de Estado ......................................................................102 Seção 3 Realismo político e tipos de regimes políticos no Brasil ....112 3.1 A política real ..................................................................................112 Unidade 4 — Sociedade e globalização .....................131 Seção 1 Indivíduo e sociedade .......................................................134 1.1 Ação social e seus tipos ...................................................................134 1.2 Objeto da sociologia ........................................................................135 1.3 A definição de ação social de Max Weber .......................................136 1.4 Conceito de ação social ...................................................................136 1.5 O método de Weber ........................................................................137 1.6 O espírito capitalista e a ética protestante ........................................137 1.7 O processo de racionalização do mundo moderno ..........................139 1.8 A teoria burocrática .........................................................................140 1.9 Racionalidade prática ......................................................................140 1.10 Racionalidade teórica ......................................................................141 1.11 Racionalidade substantiva ................................................................141 1.12 Racionalidade formal .......................................................................141 Seção 2 Os tipos de sociedades e a vida coletiva ...........................144 2.1 Émile Durkheim ...............................................................................144 2.2 O objeto de estudo ..........................................................................144 2.3 Estudar a sociedade como “coisa” ...................................................146 2.4 Fato normal e patológico .................................................................147 2.5 A sociedade de solidariedade mecânica e a sociedade de solidariedade orgânica .....................................................................148 2.6 Desafios para o enfrentamento das questões sociais no mundo capitalista ........................................................................................150 2.7 Marx e a religião ..............................................................................153 2.8 Será que Marx estava alinhando a religião a todas as drogas que existiam no século XIX? .............................................................154 2.9 Quais eram os interesses dos britânicos? ..........................................154 2.10 O que Karl Marx queria? ..................................................................155 2.11 Ideologia e alienação .......................................................................155 2.12 O marxismo vulgar ou marxismo sem Marx .....................................157 2.13 Karl Marx: “Tudo que sei é que não sou marxista” ...........................158 book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 6 19/06/14 12:31 s u m á r i o vii 2.14 Materialismo histórico e dialético ....................................................159 2.15 O Estado e a sociedade ....................................................................161 Seção 3 A globalização e a formação cultural da sociedade global ...............................................................162 3.1 A Divisão Internacional do Trabalho ................................................162 3.2 A globalização na perspectiva dos clássicos da sociologia ...............163 3.3 Algumas características do capital ...................................................166 3.4 Diálogo entre Adam Smith e Karl Marx ............................................167 book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 7 19/06/14 12:31 book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 8 19/06/14 12:31 A vida nos apresenta situações em que as condutas morais se transforma constantemente. Mas, em meio às transformações das condutas morais, dos costumes que a sociedade vem sofrendo, os valores vão se transformandoem outros. A ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de uma sociedade mais humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que subsidia as condições para as condutas morais, para a manutenção de valores que coadunam com o interesse coletivo. Essas temáticas estarão presentes na unidade 1, além de conceitos que nos farão compreender melhor a ética, a moral, o sujeito e a sociedade. Somos sujeitos sociais e vivemos em conjunto, em uma organização social. Nós nascemos, vivemos e morremos em uma organização. Essas or- ganizações são geridas por uma política. Quando nascemos, dependemos de um hospital e, portanto, de uma política de saúde pública; se vamos para uma creche ou escola de educação infantil, dependemos de uma política educacional. Você vai acompanhar o movimento do pensamento que construiu as teorias filosóficas a partir das concepções dos filósofos. De forma linear e gradativa, começamos com a ideia de política na Grécia Antiga, até o modelo adotado pelo Estado brasileiro. Em alguns momentos vamos apresentar dicas de leituras e filmes para que você possa utilizar outros instrumentos que lhe servirão de aprendizado. Quando o assunto é política, podemos nos calar e apenas ouvir, ou nos inflamar com discussões que orbitam entre o senso comum e a paixão cega por um candidato ou partido político. Essas posturas, no entanto, não tra- duzem o verdadeiro sentido de discussão ou pensamento político, mas de discussão partidária e individualista. Apresentação book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 9 19/06/14 12:31 x É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e É pouco? Acredito que não. Tudo isso foi desenvolvido para que você possa, no exercício da leitura, do estudo, do aprofundamento, compreender e fixar o aprendizado de forma autônoma, que é a intenção desse modelo de ensino — Ead. Dando continuidade aos estudos, perpassaremos também pela explicação sociológica da vida coletiva, focando as três principais linhas mestras, ou seja, a Sociologia compreensiva ou interpretativa, a Sociologia positiva e as ideias centrais do pensamento de Marx a respeito da sociedade capitalista. Bons estudos. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 10 19/06/14 12:31 Seção 1: Formação da moral ocidental e racionalizações éticas Nesta seção, você terá oportunidade de aprender e refletir sobre a moral e a ética, suas diferenças, suas proximidades e sua importância na vida ocidental. Trabalharemos algumas questões que apresentam as origens ou bases fundamentais da existência hu- mana, ou seja, a gênese da consciência moral, aquilo que possibilita aos seres humanos serem considera- dos homens, utilizando o filtro da racionalidade ética. Vamos estudar a ética e a moral com a contribuição de grandes pensadores, como Platão, Sócrates, Aris- tóteles, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino. Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade, você terá a oportu- nidade de identificar o conceito e a etimologia de ética e moral, assim como entender a formação da moral ocidental e como vão sendo construídas as racionalizações éticas. Você poderá analisar e refletir sobre o indivíduo e suas relações na coletividade presentes na sociedade. Você terá a oportunidade de identificar a importân- cia do determinismo, da liberdade e da subjetividade social para o indivíduo e para a sociedade. Princípios da ética e moral ocidental Unidade 1 Fábio Roberto Tavares book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 1 19/06/14 12:31 Seção 2: Individualidade e coletividade Aqui você vai estudar como se dá a relação do indi- víduo com a coletividade, qual a realidade de cada um, como se entende a individualidade e a coletivi- dade para alguns pensadores. Você também poderá identificar como a ética contribui para a definição das regras de ação recomendáveis ao coletivo e aos indivíduos. Seção 3: O determinismo, a liberdade e a subjetividade social Nesta seção, você encontrará conceitos e questio- namentos que são feitos continuamente em nossas vidas, como: Somos livres ou nascemos determina- dos? Nossas escolhas são livres ou são determinadas por quais fatores? Queremos, nesta seção, provo- car as questões sobre os modelos de conduta que aprendemos como certo e errado e, por isso, quando falamos de certo e errado estamos, também, falando de liberdade e como as noções de liberdade e justiça se refletem na relação entre indivíduo e sociedade. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 2 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 3 Introdução ao estudo Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomentam reflexões acerca da ética e da moral, especificamente no Ocidente — até porque a humanidade necessita de acordos para que a sua interação e convivência se tornem sustentáveis. É nessa perspectiva da convivência, do entendimento, que queremos trabalhar os conceitos de ética, de moral e suas racionalizações. Não podemos falar de ética sem vislumbrar a filosofia como fundamento da própria ética e da moral. A filosofia foi campo fértil ao longo da história da humanidade para o desenvolvimento da moral e da ética como parte de uma sociedade que queremos sempre melhor. Enquanto a filosofia nos lança nos questionamentos acerca do que é certo e do que é errado, a ética nos conduz no caminho daquilo que acreditamos ser o melhor para nós mesmos e para os outros. Com esta unidade, você terá oportunidade de aprender a construção histórica e social da moral, bem como os conceitos de valor e da ética. Também terá oportunidade de perceber que a moral está fundamentada (como a funda- ção de uma construção) a um ethos, constituído durante a modernidade pelo modelo epistemológico inaugurado naquele período. Você poderá analisar e refletir sobre os valores que norteiam o nosso agir nos dias atuais e como esse agir foi se modificando na história da cultura ocidental, como o determinismo, a liberdade e a subjetividade estão presentes no nosso dia a dia. Vamos lá? Bons estudos. Seção 1 Formação da moral ocidental e racionalizações éticas Caro acadêmico, queremos conversar sobre a ética e suas caracterizações e racionalizações. Queremos, aqui, perceber que há uma interface entre moral e ética que é indissociável. O importante desse estudo é dar destaque ao conceito de moral, e você compreender o comportamento humano em relação ao que é moral. Podemos dizer, recorrendo aos textos de Platão e Aristóteles, que, no Oci- dente, a ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates. Para Sócrates, o conceito de ética iria além do senso comum da sua época, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bem em si” próprio da sabedoria da alma e que pode ser rememorado pelo aprendizado. Essa bondade absoluta do homem tem relação a uma ética anterior à experiência, pertencente à alma, e que o corpo, para reconhecê-la, teria que ser purificado. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 3 19/06/14 12:31 4 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Aristóteles subordina sua ética à política, acreditando que na monarquia e na aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um privilégio de poucos indivíduos. Também diz que, na prática ética, nós somos o que fazemos, ou seja, o homem é moldado na medida em que faz escolhas éticas e sofre as influências dessas escolhas. Aristóteles, filósofo grego antigo, compartilha conosco a ideia de que o mundo essencialista é o mundo da contemplação. No pensamento filosófico dos antigos, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa. Para a ética essencialista, o homem era visto como um ser livre, sempre em busca da perfeição. Esta, por sua vez, seria equivalenteaos valores morais que estariam inscritos na essência do homem. A partir dessa pequena introdução para a ética ocidental desses grandes pen- sadores, vamos então nos aprofundar nessa temática. 1.1 A moral e a ética ocidentais Dessa forma — para ser ético —, o homem deveria entrar em contato com a própria essência, a fim de alcançar a perfeição. Costuma-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista, em três aspectos: 1. o agir em conformidade com a razão; 2. o agir em conformidade com a natureza e com o caráter natural de cada indivíduo; 3. a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (va- lores da sociedade). A ética era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos. Há duas obras que gostaríamos de mencionar que poderão lhe servir de base para aprofunda- mento de estudos. Uma delas é de Adolfo Sanchez Vázquez, sobre a ética. A outra é uma obra de introdução à filosofia, com a contribuição de vários autores e organização da filósofa brasileira Marilena Chaui. Confiram a indicação bibliográfica das duas obras: 1. SANCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. 267 p. 2. CHAUI, Marilena; FERES, Olgária et al. Primeira filosofia: lições introdutórias. São Paulo: Brasiliense, 1987. Para saber mais book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 4 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 5 Não se pode imaginar a construção da ética e da moral ocidental sem considerar a contribuição do Cristianismo para essas duas dimensões. Por isso, vamos dar um pulo cronológico e ideológico e trazer dois pensadores que se destacam: Tomás de Aquino e Agostinho de Hipona. 1.1.1 Tomás de Aquino e Agostinho de Hipona Figura 1.1 Tomás de aquino Fonte: Mishabender/Shutterstock (2014). Com o Cristianismo romano, através de Tomás de Aquino e Agostinho de Hi- pona incorpora-se a ideia de que a virtude se define a partir da relação com Deus, e não com a cidade ou com os outros. Deus, nesse momento, é considerado o único mediador entre os indivíduos. As duas principais virtudes são a fé e a caridade. É interessante conhecermos melhor quem é Tomás de Aquino, como ele viveu, o que o influen- ciou para ele ter essa expressividade através de seu pensamento e também como foi sua vida. Você pode encontrar essas informações no link: <http://www.infoescola.com/filosofos/ tomas-de-aquino>. Para saber mais book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 5 19/06/14 12:31 6 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Através do pensamento cristão, elaborado por Tomás e Agostinho, se afirma a ética do livre arbítrio, sendo que o primeiro impulso da liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina. A ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a ética passa a estabelecer três tipos de conduta; a moral ou ética (baseada no dever), a imoral ou antiética e a indiferente à moral. Outros pensadores vão ingressar nessa discussão ainda do círculo cristão e também de outras vertentes: Lutero, Copérnico, Descartes, Kant. Vejamos as suas contribuições. As profundas transformações que o mundo sofre a partir do século XVII com as revoluções religiosas, por meio de Lutero; científica, com Copérnico e filosófica, com Descartes, oprimem um novo pensamento na Era Moderna, caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano — agora a razão é o caminho para a verdade, e para chegar a ela é preciso um discernimento, um método. Em oposição à fé surge, agora, o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar. Esse é um marco na história da humanidade, que, a partir daí, acolhe um novo caminho para se chegar ao saber: o saber científico, que se baseia num método, e o saber sem método, que é mítico ou empírico. Figura 1.2 A humanidade busca o saber Fonte: Pinkypills/Shutterstock (2014). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 6 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 7 A ética moderna traz à tona o conceito de que os seres humanos devem ser tratados sempre como fim da ação e nunca como meio para alcançar seus interesses. Essa ideia foi contundentemente defendida por Immanuel Kant. Agostinho de Hipona é outra figura de grande expressão no pensamento ocidental quando se trata da ética e da moral. Agostinho e Tomás, santos re- conhecidos da Igreja Católica, foram grandes pensadores também na área da teologia e da filosofia. Foram também os maiores representantes de dois mo- vimentos — a patrística e a escolástica, que tinham a intenção de aproximar a fé e a razão. A linha de pensamento de Santo Agostinho girava em torno de dualismos, herança de Platão e dos maniqueístas orientais. Bem e mal, corpo e espírito eram totalmente separados. O filósofo condenava os pecados da carne e alegava que a fé era o essencial para a vida. Segundo Scofano, seguia uma lógica “primeiro eu creio, depois explico”. São Tomás de Aquino ia na contramão de Santo Agostinho, colocando a razão em primeiro lugar. Tentava até mesmo explicar a fé por meios racionais, alegando que podia provar a existência de Deus. Argumentava que tudo está em movimento e todo movimento é causado por alguém; desse modo, é preciso que haja uma causa inicial, um “primeiro motor”, como chamava. Além disso, constatou que é preciso que haja um Deus para que o universo esteja em tão perfeita harmonia (LINS, 2009). Podemos, então, afirmar que esses dois pensadores tinham um grande cui- dado e afinco em trazer para o mesmo nível fé, filosofia e religião. Parece-nos impossível, mas, se buscarmos suas obras, veremos que isso foi possível, dada a vasta obra dessas duas grandes expressões do pensamento ocidental. Tomás propõe uma nova ética. Em que consiste essa nova ética? Questões para reflexão Caro estudante, você viu até aqui os referenciais éticos e suas caracteriza- ções e racionalizações. E também o que escreveram alguns pensadores em di- ferentes vertentes. Uma das condições para podemos entender alguns conceitos é verificar, na própria história, como há uma evolução de conceitos. Vamos lá. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 7 19/06/14 12:31 8 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda a dimensão da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar um manual de condutas, nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e erradas. Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de atuação e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide em vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito, economia e outros. A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor com- portamento do ponto de vista moral, mas, como toda teoria, não se distancia da prática, porque é a prática do comportamento humano que a sustenta e tem como função fundamental “[...] explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes” (SANCHEZ; VAZQUEZ, 1970, p. 20). Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos (VALLS, 1996): 1. os problemas gerais e fundamentais — liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros; 2. os problemas específicos — aplicação concreta, ou seja, ética profissio- nal, ética política, entre outros. Srour (2013) aborda sobre as acepções e confusões que a ética provoca. Ele considera que existam três tipos de acepções que podem causar confusões, porque ampliam demais as concepções da ética: 1. A ética é descritiva —que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem tem boa conduta pode ser considerado uma pessoa ética, virtuosa e íntegra. Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode ser considerado ‘sem ética’. Nesse sentido, Srour (2011) considera que a ética assume uma ideia simplista reduzida a um valor social, ou apenas um adjetivo. 2. A ética é prescritiva — a ética como “[...] sistema de normas morais ou a um código de deveres” (SROUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões mo- rais que deveriam conduzir categorias sociais ou organizações passam a se chamar de código de ética; nesse sentido de prescrição, a ética e a moral tornam-se sinônimo indistinguível. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 8 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 9 3. A ética é reflexiva — que corresponde à teoria de um estudo sistemático como objeto de investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser considerada: Ética filosófica — que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais morais). Ética científica — que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a moralidade como fenômeno). É essa ética, com todas as suas nuances, que nos auxilia a compreender a constru- ção da moral ocidental. O Brasil é um país muito característico nesse grupo e a partir de sua reflexão vamos voltar nosso estudo para o Brasil para percebermos melhor. Ainda de acordo com Srour (2013), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia de ética é que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o campo da moral. Para melhor compreendermos, no Brasil, temos a história da mulher como um bom exemplo de mudança de costumes e, por conseguinte, mudança de valores morais. DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997. Essa obra conta a trajetória das mulheres desde o Brasil no período colonial. O livro conta a história da mulher, os principais aspectos de seu tempo e interseções, como: família, trabalho, mídia, literatura, violência, entre outros. Para saber mais Figura 1.3 A conquista da mulher Fonte: Divulgação/Editora Contexto (2014). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 9 19/06/14 12:31 10 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Até a década de 1930, a mulher não podia votar e nem ser votada. Portanto, o sufrágio feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e torná-la um membro da sociedade como qualquer outro, ou seja, uma pessoa participativa aos desígnios políticos do país. No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada federal foi em 1933, e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em 2011 o país elege, pela primeira vez, uma mulher como Presidente da República. Se você observar os anos — 1933, 1979 e 2011 —, verá o quanto demora para que os valores se transformem e, ao mesmo tempo, depois de estabelecida a mudança, esses valores tornam-se tão familiares que nem mais pensamos nessa trajetória de conquista e transformação. No mundo do trabalho, a mulher conquistou espaço tardiamente, e, por esse motivo, várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem no mundo do trabalho. Existem diversas pesquisas que apontam mulheres e homens com mesmo nível de escolaridade e mesma função, mas que têm salários diferentes. Veja, então, caro acadêmico, que não se pretende aqui fazer nenhum tipo de apologia à mulher, muito pelo contrário, porque a mulher não precisa disso, a mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o quanto ela se transformou e contribuiu pra a transformação da sociedade. Antes ela não vo- tava e nem era votada, antes ela não trabalhava fora de casa, antes a sua vida limitava-se a cuidar de filhos e marido e da casa. E hoje? Figura 1.4 As mulheres na busca da igualdade de direitos Fonte: Divulgação/Mujeres em Red (2014). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 10 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 11 1.2 A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade A partir dessa reflexão sobre a mulher, podemos perceber que a moral são os costumes, são as práticas do comportamento humano e as práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses costumes, práticas e culturas mudam? Mudam quando a própria sociedade clama por mudanças ou quando, a partir de um movimento de um grupo, procura-se conscientizar o resto da sociedade da importância de pensar e agir diferente. Foi dado o exemplo da mulher, mas muitos outros são exemplos que se enquadrariam nesse momento para ilustrar essa transformação de valor e costume, a exemplo da homossexualidade, doen- ças que carregavam preconceitos e hoje não mais, entre outros. Pode-se dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos — “o tem- pora, o mores” — ou seja, os costumes mudam com o tempo. Srour (2013, p. 56) elenca alguns itens para a compreensão do que vem a ser moral: É um sistema de normas culturais que pauta as con- dutas dos agentes sociais de uma determinada coleti- vidade e lhes diz o que é certo ou não fazer; Depende da adesão de seus praticantes aos pressupos- tos e valores que lhes servem de fundamentos; Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou sensíveis e constitui um discurso que justifica interesses coletivos; Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a serem observadas; Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones variam à medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam. Srour (2013, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética: Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos imaginários sociais, as peças de resistên- cia que armam as identidades organizacionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas pelas coletivi- dades. Assim sendo, enquanto as morais correspondem às representações mentais que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são recomen- dados e quais não o são, a ética diz respeito à disciplina teórica e ao estudo sistemático dessas morais e de suas práticas efetivas. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 11 19/06/14 12:31 12 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Acadêmico, você deve se perguntar continuamente por que dar tanta impor- tância à ética. Alguns indicativos estarão elencados a seguir, porém há muitos outros que confirmam que a ética é importante, sim, para a sociedade e para a compreensão de como vai se construindo a moral. A ética é perene porque as suas reflexões são um curso contínuo e eterno; sempre haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque, de acordo com o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se modificam. A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura, so- ciedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral é cultural porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores serão diferentes. A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas reflexões é que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é conduta de regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral possa instituir a sua conduta. A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto a moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus hábitos e seus valores. Essas são as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar na compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos. Com tantos conceitos, você já é capaz de responder ao seguinte questionamento? Erroneamente, as pessoas referem-se à éticacomo um sinônimo de moral ou acham que moral é a mesma coisa que ética, ou seja, duas palavras que podem ser utilizadas para “avaliar e julgar” comporta- mentos. Partindo desse princípio, você, estudante, consegue diferenciar a ética da moral? Questões para reflexão Etimologicamente falando, ética é derivada do grego ethos, que significa costume, hábitos e valores de determinada coletividade. A palavra moral deriva do latim mos — ou mores, no plural — que também significa costume ou as normas adquiridas como hábito. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 12 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 13 A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de conhecimentos que se torna inte- ligível aos fatos morais. Mas o que são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas so- bre o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém (SROUR, 2013, p. 7-8). Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar à medida que vamos nos aprofundando no assunto. Veja, então, resumidamente: “A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade” (SANCHEZ; VAZQUEZ, 1970, p. 21). A moral é o estudo dos costumes de uma determinada sociedade numa determi- nada época e lugar. Para aprofundar nosso conhecimento sobre ética e moral, mais detidamente sobre definições de ética e moral, e também sobre as variantes éticas, ou novos campos em que a ética vai se mostrar importante como fator determinante para os rumos da humanidade, é preciso lançar alguns questionamentos: Por que, aliás, ética e não moral? Impõem-se aqui algu- mas definições, suficientemente abertas e flexíveis, para não congelar, desde o princípio, a análise. A etimologia não poderia nos guiar em nada nesta tarefa: ta êthé (em grego, os costumes) e mores (em latim, hábitos) possuem, com efeito, acepções muito próximas uma da outra; se o termo “ética” é de origem grega e “moral”, de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos, à ideia de costumes, de hábitos, de modos de agir determinados pelo uso. Contudo, apesar deste paradoxo que a análise etimológica nos assinala, há que operar uma distinção entre a ética e a moral. A primeira é mais teórica que a segunda, pretende-se mais voltada a uma reflexão sobre os fundamentos que esta última (RUSS, 1999, p. 7-8). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 13 19/06/14 12:31 14 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Uma pergunta pertinente após essa reflexão que acabamos de fazer vai para o questionamento do campo da moral: afinal, qual é o campo da moral? Questões para reflexão O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em que se possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda das ações e interações humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas escolas, nas igrejas, nos hospitais, nas organizações privadas e públicas. É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para que as pessoas se comportem adequadamente e também para que haja harmonia na interação humana e da instituição. Do ponto de vista dessas ações humanas, existem dois universos que se constroem perante o fim de suas ações: universal e particular. Na administração pública, por exemplo, os atos administrativos devem estar voltados ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar o interesse coletivo; portanto, no meio da administração pública não cabem atos administrativos voltados ao interesse particular. O campo da moral é vasto; a moral é o alicerce para que a sociedade possa estipular as suas regras de convivência. Portanto, condutas morais não são exclusividade da administração pública, as condutas morais estão presentes a todo tempo e em qualquer lugar. Se você for um servidor público, legislador, ou, quem sabe, um responsável na elaboração de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se per- guntar: quem são as pessoas que irão se beneficiar com a minha ação? Quais são as atitudes mais apropriadas para que um maior número de pessoas possa se beneficiar com as minhas atitudes? A minha ação é de interesse próprio ou de interesse coletivo? Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da moral se encaminham as nossas ações. Segundo Srour (2013), existem dois universos que se podem tomar como o iní- cio para melhor compreensão da prática moral: particularismo e universalismo. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 14 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 15 Figura 1.5 Universalismo e particularismo UNIVERSALISMO • É consensual porque interessa a todos: o bem de uns e o bem de outros não rivalizam. • Os interesses pessoais, grupais ou gerais se realizam sem prejudicar ninguém. PARTICULARISMO • É abusivo porque o bem de uns causa mal aos outros. • Os interesses pessoais ou grupais se realizam à custa dos interesses alheios. Fonte: Srour (2013, p. 9). O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o consenso para que o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo quando existem ações voltadas ao interesse de uma minoria ou de um grupo específico, ainda assim esses interesses não vão se confrontar com o interesse dos demais. Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, a satisfação dos interesses se dá de forma consensual. No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem em detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não há um consenso de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo sejam realizadas de forma consensual e em preservação do bem comum. Pelo con- trário, existe uma rivalidade de interesses para que a vontade de uns se realize independente da necessidade de um ou de outro ser maior. A administração pública, por exemplo, está na esfera do universalismo, e é por isso que ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos. Mas o servidor público, que é o condutor da prática do serviço público, poderá se encontrar na polaridade da escolha entre universalismo e particularismo, em pequenas atitudes do seu cotidiano. O que o autor chama de fato social é qualquer ação neutra; por exemplo, cumprir com as minhas obrigações no trabalho. Fato moral já implica uma atitude positiva ou negativa, ser conivente ou agente de práticas ilícitas no trabalho (negativa), denunciar práticas negativas no trabalho (positiva). Então: Fatos sociais — são aqueles que não afetam os outros, nem para o bem e nem para o mal, portanto são eticamente neutros; book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 15 19/06/14 12:31 16 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Fatos morais — podem ter efeito positivo, numa visão universalista (causam benefícios aos outros) ou particularista (não causam benefícios aos outros). Nesse sentido, voltando ao exemplo da administração pública, não se pode efetuar somente fatos sociais, muito pelo contrário, é preciso que os fatos morais universalistas e positivos se tornem recorrentes para que se evi- tem práticas irregulares ou ilícitas. Por isso, também nos perguntamos: o que é moral, amoral, ou imoral? Como diferenciar esses princípios? O que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? O queé uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem resumida, pode-se dizer que: Moral — é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem prejudicar os outros. Imoral — é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma or- ganização ou sociedade e que prejudica os outros. Amoral — quando uma atitude não influi nem positivamente e nem ne- gativamente, ou seja, uma ação neutra. Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma, o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática, en- quanto que o âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas implicações na felicidade humana. As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade apresen- tadas por Srour (2013) são muito importantes para que se possa observar, na prática, o que há de legal e moral nas ações do nosso cotidiano. Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. Vejamos algumas situações apresentadas por Srour (2013, p. 59), de acordo com o quadro que segue: Quadro 1.1 Legalidade e moralidade Quanto à legalidade? Quanto à moral? Exemplo: LEGAL MORAL Treinamento de funcionários patrocinado por uma empresa. LEGAL IMORAL Falta de correção da tabela do Imposto de Renda por longos anos, sob a alegação de que fazê-lo seria introduzir o instituto de correção monetária. ILEGAL MORAL Desrespeito aos sinais vermelhos de madrugada nas grandes cidades pelo receio de assaltos. ILEGAL IMORAL As fraudes em licitações públicas. Fonte: Adaptado de Srour (2013, p. 59). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 16 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 17 Caro acadêmico, os textos que apresentamos até o presente momento po- sicionaram o debate em torno da ética e da moral, a partir da forma de como, nos diversos momentos da civilização ocidental, filósofos posicionaram seus estudos, suas formas de responder à dinâmica vital, ao desafio da existência. Assim, podemos constatar que os desafios éticos e morais do mundo antigo diferenciavam-se dos desafios éticos e morais do mundo medieval e estes dos desafios do mundo ocidental moderno e contemporâneo. Na próxima seção, vamos estudar como a individualidade e a coletividade contribuem para a evolução da sociedade. Até lá. 1. O fato social é a causa principal da teoria sociológica, que constitui em qualquer forma de instigação sobre os indivíduos que são obti- dos como uma coisa exterior a eles, tendo uma duração sem laços e estabelecida em toda a sociedade. Na administração pública, temos fatos sociais e fatos morais. Perante essa afirmação, associe os itens a seguir: I. Moral II. Imoral III. Amoral ( ) é optar como atuar, é uma questão de costume. ( ) quando uma posição não contribui nem corretamente e nem negativamente. ( ) atuar de acordo com os valores da sua instituição ou sociedade. ( ) é uma decisão que vai em contraposto aos preceitos e valores de uma entidade. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) I — III — I — II. ( ) II — I — III — II. ( ) III — II — I — III. ( ) I — II — III — I. Atividades de aprendizagem book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 17 19/06/14 12:31 18 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e 2. A moral é a base da ética que o indivíduo pratica em sociedade, po- rém este indivíduo tem que obedecer a normas impostas como um sistema normatizador. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As práticas morais são estabelecidas em cada um dos grupos sociais, como família, trabalho, religião, clube, entre outros. ( ) As práticas morais não se modificam e nem se transformam ao longo da história da humanidade. ( ) Fatos sociais são ações positivas ou neutras, que se destacam dentro da área social. ( ) Fatos morais são ações neutras ou dinâmicas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: ( ) V — F — F — F. ( ) F — F — V — F. ( ) V — V — F — V. ( ) F — V — V — V. 3. A consciência moral pode ser considerada um ato concreto, reconhe- cido e identificado pela pessoa humana. Nesse sentido, a consciência moral é entendida como costumes e hábitos que se referem à morada de um povo ou sociedade, resultando na ética. Diante desse pressu- posto, analise as sentenças a seguir: I. Uma das funções da ética é indicar o melhor comportamento individual ou grupal. II. O comportamento se pauta nos princípios morais, culturais, finan- ceiros de cada sociedade para, se possível, desenvolver a ética. III. A ética ampara a orientação sobre a realidade cotidiana de cada povo, buscando valorizar seus preceitos conforme o comportamento correspondente de cada grupo social. IV. A ética é um princípio interligado à moral, porém com ideias diferentes; um direciona a conduta, enquanto o outro torna as ações materiais. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 18 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 19 Agora, assinale a alternativa CORRETA: ( ) As sentenças I e III estão corretas. ( ) As sentenças II e III estão corretas. ( ) Somente a sentença IV está correta. ( ) As sentenças III e IV estão corretas. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 19 19/06/14 12:31 20 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Seção 2 Individualidade e coletividade Nossa carteira de identidade traz a foto/imagem do nosso rosto. As formas do nosso rosto indicam algumas de nossas características, que são muito pessoais. Essas características indicam nossa identidade pessoal e intransferível, pelo menos visualmente, a não ser que tenhamos um gêmeo univitelino, e através de uma foto não se pode identificar as diferenças. Para chegarmos ao entendimento do conceito de sociedade, o que é so- ciedade, vamos destacar algumas palavras-chave imprescindíveis. A primeira palavra que quero destacar é “indivíduo”. Entre vários significados, pontos de vista para conceituar indivíduo, que parece ser mais complexo para entender do que a própria sociedade, vamos tomar o caminho do conceito do indivíduo como distinto, mas nem por isso incomunicável com outros indivíduos. 2.1 O indivíduo e a coletividade Figura 1.6 Indivíduo Fonte: Pogonici/Shutterstock (2014). book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 20 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 21 A singeleza da imagem na figura anterior mostra o indivíduo como tantos outros, junto, porém com suas peculiaridades; no caso, a cor o diferencia, mas sabemos que o que realmente diferencia um indivíduo de outro, via de regra, não é visível aos olhos. Trata-se, sempre, da questão de identidade. De saber quem somos e como somos; de saber por que somos. Sobretudo quando nos damos conta de que o homem se distingue dos animais por ter a capacidade de se identificar, justificar e singularizar. De saber quem ele é. De fato, a identidade social é algo tão importante que o conhecer-se a si mesmo através dos outros deixou os livros de filosofia para se constituir numa busca antropo- logicamente orientada (DAMATTA, 1997, p. 15). A etimologia da palavra indivíduo nos reporta ao latim “individuus”, divi- dindo-se em “in” que indica negação, não, mais “dividuus”, divisível, dividir. Juntando-se essas duas palavras, não divisível, entendemos que indivíduo é o que não se divide, que não se pode multiplicar, ou numa linguagem mais cinematográfica, não se pode replicar. Carl Gustav Jung, por sua vez, definiu individuação como um processo por meio do qual uma pessoa se torna cons- ciente de sua individualidade. Individualidade podeser definida como o conjunto de atributos que consti- tuem a originalidade, a unicidade de uma criatura, e que a distingue de outras tantas; é o somatório das características inerentes à alma humana. Toda criatura que se individualizou tornou-se um ser homogêneo, pois não mais procura comparar-se com os outros, admite a sua singularidade. A questão que se coloca a partir desses conceitos — indivíduo e coletivo — é a seguinte: constituímo-nos como humanos a partir das relações que estabele- cemos societária e culturalmente. Porém, em que circunstância é possível falar de individualidade e coletividade? O humano não estaria preso aos imperativos da coletividade social que o determinam? Em que contexto se estabelecem as possibilidades para a manifestação de traços característicos de cada indivíduo, demarcando suas diferenças em relação à totalidade cultural e societária em que se encontra inserido? Como somos parte de uma cultura? Como passamos a conviver como seres sociais pertencentes a um mesmo grupo e sociedade? Acompanhemos o instigante relato a seguir, acontecido no início do século XX, na Índia: book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 21 19/06/14 12:31 22 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriu-se em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família (?) de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinha nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos. Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se (?) lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela, bem como às outras com as quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente e, depois, por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples (PROJETO UNISINOS, 2013). A história que acabamos de ler nos coloca diante de um fato verídico e que pode contribuir para que nos aproximemos da compreensão de quanto nossa constituição humana depende do convívio social e cultural em que nos inserimos. Amala e Kamala, as meninas-lobo, na medida em que sua linguagem, seus hábitos e costumes não condiziam com os padrões socie- tários e culturais humanos, não alcançaram os parâmetros de humaniza- ção convencionados e constitutivos de nossas civilizações. Mesmo que se reconheça, a partir de sua constituição física, traços de seres pertencentes à espécie humana, não se pode falar plenamente de sua humanidade, na medida em que não aprenderam a fazer uso da fala, da linguagem, da co- municação que articula as relações intersubjetivas humanas. Esta é uma das principais características dos seres humanos: a capacidade de olhar para o mundo e criar signos e símbolos que o expressem em sua totalidade. E, por book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 22 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 23 fim, as meninas-lobo não demonstravam capacidade de conferir um sentido ao mundo, de manifestar qualquer forma de interpretação ou de relação espacial, temporal e histórica. A partir de que momento passamos a fazer parte da coletividade? Questões para reflexão Esse relato, assim como tantos outros relatos que se tornaram clássicos na antropologia, nos permite constatar, num primeiro momento, a singularidade do homem diante da natureza em função de sua capacidade de dar sentido à realidade, ao mundo em que se insere. Mas, também, de reconhecer as especificidades e diferenças constitutivas de cada indivíduo partícipe de uma mesma sociedade e cultura. Ou seja, cada um de nós, na sua experiência com o mundo, com a realidade, como os demais seres humanos em seu entorno, é capaz de interpretar, significar e ressignificar a vida, o mundo, de acordo com suas especificidades, mesmo que vinculadas às convenções societariamente estabelecidas. Reconhecer a individualidade e a diferença do homem no âm- bito social e cultural em que se encontra inserido torna-se antropologicamente significativo para interpretarmos as contradições que os homens enfrentam cotidianamente em tempos de homogeneização social e cultural em que se inserem as sociedades de massa características de nossos tempos. Para além da redutibilidade das relações de reprodução e consumo a que milhões de indivíduos estão submetidos, é fundamental reafirmarmos que somos únicos e dotados de subjetividade articulada a partir da multiplicidade de relações sociais e culturais em curso na atualidade. Segundo Rouanet (1993, p. 149), a Modernidade foi marcada por três características principais: “[...] o cognitivismo, o individualismo e o universa- lismo”. Ou seja, a capacidade de a razão humana conhecer por conta própria, a atitude individual na busca de sua autorrealização, o que inclui o conhecer e o prazer de viver, e a noção de uma natureza humana universal, a partir de algumas características comuns a todas as pessoas. Já o nosso tempo é, em grande medida, um tempo de relações marcadas pela funcionalidade e, portanto, impessoais. Tendemos para o utilitarismo, em que somente tem sentido e validade aquilo que é útil. Esvazia-se cada vez mais book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 23 19/06/14 12:31 24 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e o vínculo com o social, com a comunidade de pertencimento e de sentido. Nesse contexto, torna-se urgente e necessário fomentar o pensamento crítico e criativo que demarca a individualidade e singularidade de cada indivíduo na constituição de sua autonomia. Condição necessária para que se preservem as prerrogativas políticas e éticas sobre as quais se assenta a capacidade do agir humano na busca do bem viver e da felicidade humana. Dessa forma, uma das características marcantes de nosso tempo é o como- dismo, senão o conformismo diante de situações que agridem frontalmente a autonomia de indivíduos, povos e culturas. É importante questionar as impo- sições sociais, os imperativos da gestão utilitarista da vida capitaneada pela lógica econômica global de mercado e sua pretensão de transformar relações e seres humanos em mercadorias consumíveis e descartáveis, subvertendo e aniquilando as potencialidades críticas e criativas constitutivas do humano. Assim, para compreender melhor essa dimensão do coletivo, recorrermos a Santos (2006, p. 73), que nos esclarece que: Os interesses coletivos são expressão do espírito asso- ciativo do homem. Dizem respeito ao homem associado, socialmente agrupado, membro de grupos ou comunida- des, com algum grau de organização, que medeiam entre o indivíduo e o Estado. Desvinculam-se dos interesses concretos de cada indivíduo para assumir contornos de um interesse abstrato, da coletividade, do grupo. Nesse sentido, um dos grandes desafios é conviver com as diferenças, com o coletivo que em seu seio carrega o indivíduo, buscar as possibilidades de realização pessoal no âmbito das possibilidades e contradiçõessocietárias de nossos dias. Tal postura é característica de quem reconhece o fato de que construímo-nos como seres humanos, que nossa individualidade participa de uma determinada cultura e que, sob tais condições, a tarefa sine qua non de uma vida é contribuir para o engrandecimento cultural e social da humanidade em sua totalidade. Nesse caso, é possível falar de fenômeno coletivo quando, desvanecidos os interesses individuais originários, busca-se uma nova realidade, o que torna o interesse coletivo direto e pessoal para o grupo, legitimando-o a representar essa coletividade como um todo. Portanto, os interesses coletivos valem-se dos grupos como veículos para a sua exteriorização, pois a existência do grupo, pelo fato de presumir um mínimo de coesão de organização e estrutura, possibilita a aglutinação e coesão dos interesses, dando-lhes o caráter coletivo. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 24 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 25 Em todas as esferas do fazer humano, se apresenta o desafio de tornar uma sociedade, uma comunidade, ou o local em que vamos atuar e, mesmo, viver, em um local de ações mútuas de solidariedade, de coletividades cooperativas em torno de problemas comuns, bem como de suas possibilidades de resolução. Em tempos de competição, de medo, insegurança e individualismo, torna-se urgente reafirmar o princípio da autonomia, do uso, por parte dos indivíduos em sua individualidade, da razão em seu âmbito público e privado. Figura 1.7 Somos livres? Fonte: Gazlast/Shutterstock (2014). Nós, seres humanos, devemos obedecer a certos imperativos da natureza, como a necessidade de nos abrigar, nos alimentar e nos reproduzir. A maneira pela qual fazemos isso, entretanto, difere da dos outros animais qualitativa- mente. Não nos comportamos em função de uma programação inata e instintiva, como eles. Se assim fosse, não haveria diferentes visões de mundo e diferentes formas de agir ao longo das gerações. A nossa espécie, porém, por força das pressões evolutivas a que fomos submetidos em nossa formação, desenvolveu um mecanismo que possibilita modificar nosso comportamento e adotar diferentes soluções para resolver as demandas da vida, o que permitiu nossa ocupação de diversos nichos ecoló- gicos por todo o planeta. Ao contrário dos animais, não nascemos sabendo como agir para solucionar nossas demandas naturais, instintivamente. Precisamos de um longo aprendi- book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 25 19/06/14 12:31 26 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e zado para adquirir os conhecimentos necessários para sobrevivermos. Esse pe- ríodo é chamado de processo de socialização ou endoculturação: aprendizado contínuo da cultura da sociedade à qual pertencemos e que é, dessa forma, interiorizado em nós, nos guiando em nossas práticas. Seria impossível sobrevivermos sem pertencer a uma comunidade, em função do caráter social e gregário de nossa espécie. Entretanto, a comuni- dade não sobrevive sem que aqueles que a compõem compartilhem de regras mínimas de convivência e crenças que orientem os indivíduos em suas ações. A cultura, que faz isso, é produto de nossas interações sociais e nos é legada pelas gerações que nos precederam. Nascemos num mundo social que nos transmite uma tradição, representada por nossa cultura, a qual nós modificamos por nossas ações e questionamentos. Nosso tempo apresenta, portanto, enormes desafios éticos que decorrem da diversidade cultural das sociedades contemporâneas, do consumismo, do individualismo, do hedonismo, do desprezo ao próximo e à natureza, gerando um quadro de crise que tem sérias implicações sobre a ética, sobre os valores e sobre a responsabilidade tanto do indivíduo quanto de toda a coletividade. A palavra VALOR tem sua raiz no latim, valere, e significa coragem, bravura, o caráter o homem; daí por extensão significa aquilo que dá a algo um caráter. 1. A noção filosófica de valor está relacionada por um lado àquilo que é bom, útil, positivo; e, por outro, à prescrição, ou seja, a algo que deve ser realizado. 2. Do ponto de vista ético, os valores são os fundamentos da moral, das normas e regras que prescrevem a conduta correta (JAPIASSU; MARCONDES, 2001, p. 268). Para saber mais Hoje, mais do que nunca, é preciso possibilitar ao indivíduo e por conse- guinte à coletividade uma verdadeira experiência de vida grupal, de formação humana que leve as pessoas a serem agentes integrados e comprometidos na transformação do ambiente em que vivem, e não acharem que isso não tem nada a ver com elas. Essa é a genuína cultura da solidariedade que inclui o indivíduo na sua individualidade, este indivíduo fazendo parte de uma coletividade. Cultura da solidariedade diz mais que práticas solidárias. Vai mais fundo. Significa criar um imaginário cujos sím- bolos segreguem aliança, fraternidade. Nela o símbolo (syn+ballein) realiza sua vocação etimológica de unir book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 26 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 27 opondo-se ao diábolo (dia+ballein) que divide. Sem cair no dualismo grotesco de demonizar a realidade que se opõe a nossa posição, é inegável que a solidariedade se situa do lado sim+bólico, da união, da comunhão, da cooperação, enquanto o sistema vigente com a lógica da troca competitiva é dia+bólico, dividindo as pessoas den- tro de si em desejos opostos, dentro da família com com- petição entre seus membros, dentro das classes jogando os indivíduos uns contra os outros, dentro da sociedade em classes antagônicas. Tudo regido pela competição, concorrência insolidária (LIBÂNEO, 2012, s. p.). Em tudo isso não podemos perder a dimensão da individualidade do homem e da possibilidade que ele tem de criar mecanismos de mudança dentro da coletividade. O homem, pelas ações que realiza, faz com essa teia de relações preestabelecidas possa ser reconstruída pelos próprios indivíduos, no sentido de estabelecer novos princípios para a sociedade. De acordo com Srour (2013, p. 45), existem dois tipos de interesses pes- soais: egoísta, “[..] quando beneficia exclusivamente o indivíduo à custa dos outros e, portanto, assume feições abusivas e particularistas”; e autointeresse, “[...] quando beneficia o indivíduo sem prejudicar outrem, e, portanto, assume feições consensuais e universalistas, pois salvaguarda a individualidade e in- teressa a todos”. O humano não estaria preso aos imperativos da coletividade social que o determinam? Questões para reflexão Observamos que a constituição de um homem, enquanto indivíduo, só pode ser feita por meio de suas relações com os outros em sociedade. E é nessa interação social que o indivíduo forma sua consciência moral, além de constituir seus anseios, desejos e sonhos. O que se espera de uma coletividade que se vê desafiada pelos seus indi- víduos é que seja capaz de: orientar as pessoas e os recursos materiais e financeiros para a promoção humana; book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 27 19/06/14 12:31 28 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e manter uma atitude crítica frente às propostas políticas vigentes; vivenciar o espírito de partilha e ajuda mútua na comunidade educativa; realizar campanhas comunitárias diante das situações emergentes. A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um grande desafio, como forma de externar a cidadania que todos almejam. No texto a seguir, lemos, entre conceitos, o que vem a ser cidadania, os direitos e deveres do cidadão, algo que deveria estar entranhado em nossas vidas, porém, sabemos, não são tão conhecidos, muito menos praticados em nossa sociedade. Considerando que o indivíduo só se tornahumano a partir de sua interação com os demais seres humanos, torna-se impossível isolar o ser individual da sociedade. Essa interação é padronizada pela cultura. O indivíduo, como membro de uma sociedade, tem um comportamento modelado em função de suas potencialidades hereditárias e das normas e padrões de sua cultura. Participa, desde o nascimento, de um sistema social, sendo herdeiro de uma tradição cultural mantida pelos seus antepassados e transmitida de geração a geração. A partir do nascimento, a criança é submetida a um processo contínuo de aprendizagem que se prolonga por toda sua vida, com fases de maior ou me- nor apreensão. É o condicionamento consciente e inconsciente do indivíduo, orientando-o e canalizando seus impulsos pessoais para as expectativas da socio- cultura. Ao mesmo tempo, leva-o a evitar comportamentos antissociais, sujeitos a punições e sanções. Trata-se da endoculturação, processo através do qual o comportamento humano é modelado culturalmente e organizado socialmente. Resulta na produção de personalidades que caracterizam individualmente os membros de um grupo. Os antropólogos preocupam-se com as formas que os indivíduos utilizam para assimilar sua cultura e adaptar-se conveniente- mente. Assim, para esses especialistas, a educação é um processo amplo, não apenas o desenvolvido pelas instituições oficiais, mas também todo tipo de socialização que tenha como resultado a aquisição de cultura e, portanto, de personalidade. A família, os amigos e a sociedade, com seus meios de comunicação, exer- cem papel preponderante na assimilação de normas de conduta e atitudes e na formação dos sistemas de valores. Nas sociedades simples, a educação se processa naturalmente por indivíduos e grupos (família, grupos etários etc.), oralmente, sendo relativamente orientada. A aprendizagem é feita mais por participação, ou seja, o menino, o jovem e o book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 28 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 29 adulto aprendem toda a tradição cultural ao participar das atividades próprias de cada setor cultural, dos ritos e cerimoniais, onde mitos e lendas são narrados pelos mais velhos e memorizados pelos mais novos. Em que contexto se estabelecem as possibilidades para a manifestação de traços característicos de cada indivíduo, demarcando suas diferen- ças em relação à totalidade cultural e societária em que se encontra inserido? Questões para reflexão Submetido à endoculturação, o indivíduo estará em condições de participar plenamente de sua sociedade, tendo seu comportamento adaptado a modos culturalmente aceitos. Nesses grupos, a aprendizagem mais formal ocorre sempre por ocasião da puberdade, tanto masculina como feminina. Nos rituais pubertários, o jovem não apenas é submetido a provas de resistência física e disciplinar, como também se inicia nos segredos do grupo, nos mitos, na reli- gião e em todo sistema de valores que norteia e forja sua personalidade e os papéis que deverá desempenhar durante sua vida. Exemplo: entre os Xavantes, grupo tribal brasileiro do Mato Grosso, a educação é feita, em grande parte, pelos grupos de idade mais avançada, que se responsabilizam em ensinar os integrantes de grupos etários mais novos. É um método de aprendizagem em que o menino e o jovem são iniciados, por um instrutor natural, na tradição xavante. Todos os setores culturais são atingidos e a personalidade molda-se dentro das exigências do ambiente social. 1. A origem da palavra cidadania vem do latim civitas. Sobre a definição de cidadania, analise as afirmativas a seguir: I. Cidadania é o encontro dos chamados novos direitos de uma sociedade, auxiliada pelo Estado, desde que não envolva ações que garantam direitos humanos. Atividades de aprendizagem book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 29 19/06/14 12:31 30 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e II. Cidadania é a ação do Estado através de lei e que tem como prin- cípio observar e garantir os direitos humanos, através do Estatuto da Criança e do Adolescente. III. Cidadania é a garantia dos direitos coletivos através da gestão pú- blica, que deve cumprir suas ações sociais e emergenciais, atenta às necessidades de sua sociedade. IV. Cidadania expressa um conjunto de direitos e deveres que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Somente a afirmativa IV está correta. ( ) Somente a afirmativa I está correta. ( ) Somente a afirmativa III está correta. ( ) Somente a afirmativa II está correta. 2. O comportamento de uma sociedade é resultado de sua consciência. Essa sociedade, por sua vez, é composta por valores, princípios e hábitos morais que influenciam a subjetividade do sujeito. Sobre a subjetividade, assinale a alternativa CORRETA: ( ) A subjetividade do sujeito sofre influência do meio em que ele está inserido. ( ) A subjetividade do sujeito não é influenciada pelo meio em que ele se desenvolve. ( ) A subjetividade do sujeito é inalterável, ele nasce e se desenvolve sem que ela se modifique. ( ) A subjetividade dos sujeitos de uma mesma sociedade é idêntica, pois o meio a define totalmente. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 30 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 31 Seção 3 O determinismo, a liberdade e a subjetividade social Conceber o ser humano em suas várias dimensões constitutivas é condição necessária para compreendermos o homem como um ser para a liberdade. A questão da liberdade é desafiadora, pois imediatamente nos coloca diante de problemas cruciais, para os quais talvez não se encontrem respostas conclusivas ou mesmo satisfatórias. Somos totalmente livres? Como definir liberdade? Ao definir liberdade, não estaríamos inviabilizando-a, limitando-a? Ou seria constitutiva da liberdade a clarividência dos limites das ações e intenções humanas na vida em sociedade? Questões para reflexão Como ponto de partida, talvez se possa dizer que, embora o homem não possa ser totalmente livre, ele não suportaria viver sem o pressuposto da liberdade. Para situarmos adequadamente a questão da liberdade, analise- mos um preso: para ele, a liberdade é concebida como a possibilidade de sair da prisão. Para os cidadãos que em sua cotidianidade respeitam regras e convenções sociais, há certa sensação de liberdade quando se tem a ga- rantia de que em seu meio não se encontra aquele indivíduo que afronta violentamente a ordem legalmente estabelecida e legitimada na vida em sociedade. Tomo outro âmbito de análise: um adolescente pode imaginar que a liberdade se alcança na medida da independência em relação aos pais, embora seu sustento e suporte educacional e legal sejam garantidos pelos progenitores. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 31 19/06/14 12:31 32 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e Figura 1.8 A frágil liberdade Fonte: Gts/Shutterstock (2014). 3.1 Nascidos para a liberdade A busca por ser livre e a afirmação da liberdade assumem tamanha im- portância e intensidade que se confundem com a própria vida. Como projeto existencial que se realiza no espaço e no tempo, o homem é convocado a ser livre, a pensar e colocar em jogo a vida na incessante busca de realização da liberdade. Opções se apresentam no horizonte existencial de possibilidades, escolhas são feitas (mesmo que se possa apontar para os condicionamentos sociais, políticos, econômicos e culturais) e em torno delas vamos tecendo a teia de nossas vidas. Vida e liberdade, ou mesmo ausência dela, nos acompanham existencialmente e exigem constante posicionamento. Se afirmarmos que a liberdade é a meta dos seres humanos,então é possível constatar o anseio pela liberdade no decorrer do tempo histórico da aventura do homem sobre a Terra. Não houve período na história dos mais diversos povos e sociedades em que a questão da liberdade não se apresentou registrada em suas mais diversas formas. Em todos esses períodos, encontramos homens lutando apaixonada- mente pela liberdade e, consequentemente, não houve época em que tal an- seio, ao mobilizar a totalidade das forças humanas, não tenha custado a vida de milhares de seres humanos. book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 32 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 33 No link <http://www.anarquista.net/escravidao-moderna> você vai encontrar um texto muito interessante sobre a “escravidão moderna”, com todas suas nuances, suas características e seus desdobramentos. Vale a pena ler. Para saber mais A luta contra a escravidão, contra a tirania de reis, de imperadores e seus impérios, contra as imposições dogmáticas e ortodoxas das religiões, enfim, contra todas as formas de impedimentos e do direito dos homens investigarem e conhecerem o mundo, de expressar suas ideias, perpassa os mais diversos povos e países em diferentes tempos e espaços geográficos. A liberdade define a humanidade nos homens. O poema de Vicente Car- valho retrata bem essa ideia dizendo que “[...] a felicidade está sempre onde a pomos e nunca a pomos onde estamos”. O exercício da liberdade se efetiva no âmbito social e, por isso, a ética tem uma dimensão social na distribuição do Bem Comum. Assim sendo, reservamos este espaço para você aprender, além do que já aprendeu anteriormente, que a ética não é um exercício que se restringe à dimensão individual, mas está ampliada socialmente. Vamos aqui nos reportar mais uma vez ao pensamento aristotélico que afirma ser o homem um “[...] animal gregário ou social por natureza”. Contudo, a vida social nos remete a outras relações e dimensões e, mais especificamente, ao Bem Comum. O bem que é compartilhado por todos. Nesse sentido, podemos elencar, em nosso cotidiano, todos os elementos que o constituem: as instituições públicas, as verbas para a manutenção do Estado e a distribuição desta, a rua com a nossa vizinhança, dentre muitos outros elementos, o nosso trabalho para gerir a nossa vida em comunidade. Por isso, há uma área da ética que lança luzes sobre a questão: a Ética Social. Como isso funciona? A ética estuda o comportamento ético dos sujeitos nas sociedades de forma geral. Essa leitura ética está focada no modo como a pessoa vive com o outro, que, em suas relações, forma o tecido social. Ora, toda pessoa busca um fim, que é a felicidade. Portanto, todos procuram esse mesmo fim, que é o Bem Comum. Este, por sua vez, é o conjunto de condições sociais que permite e favorece aos membros da sociedade o seu desenvolvimento pessoal e integral (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2010, p. 90). A dimensão objetiva do homem o lança numa relação de contradição com a natureza em sua dimensão microcósmica e, a partir da superação resultante book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 33 19/06/14 12:31 34 É t i c a , p o l í t i c a e s o c i e d a d e do enfrentamento dessa contradição, constitui-se o mundo em sua realidade macrocósmica. Ou seja, o mundo como totalidade que abriga a vida em sua totalidade e, necessariamente, a vida humana. Como partícipe do mundo natural, o homem buscou, desde tempos imemo- riais de sua aventura humanizante, se situar e se constituir dentro da natureza, mas, sobretudo, transcendendo seus imperativos cíclicos e necessários. Esse esforço de superação o conduziu à sua afirmação como ser social, construindo sociedades, organizando a vida em agrupamentos cada vez maiores e, con- sequentemente, articulando relações complexas em suas dimensões culturais, econômicas, políticas e sociais. O homem descobre-se num primeiro momento como ser-no-mundo, para num segundo momento conceber-se como sujeito e protagonista do mundo por ele articulado. As exigências do exercício de seu protagonismo diante do mundo o conduzem a querer conhecer e intervir diretamente nas leis da natureza. Desenvolve um olhar científico como forma de investigar os fenômenos naturais. Constata que conhecer é poder. Poder científico e técnico de intervenção e controle das variáveis naturais que con- formam sua existência. Portanto, a objetividade pode ser anunciada como uma das categorias fun- damentais da constituição do humano. O homem, em sua condição de sujeito e protagonista na constituição do mundo, se relaciona com tudo o que existe, com toda a realidade ao seu alcance de compreensão. Objetiva o mundo, torna-o objeto de suas inquirições, estudos e abordagens. O homem observa a realidade ao seu redor e se lança sobre ela com o intuito de conhecê-la em suas condições de possibilidade. Nesse momento, se apresenta o problema sobre o que entende por realidade. A partir dos argu- mentos até aqui situados, pode-se dizer que a realidade contém tudo aquilo que o homem apreende conceitualmente em sua condição de externalidade. Mas, também, de dar conta de que o real compreende o conjunto de catego- rias de que o homem se serve para situar tais externalidades conceitualmente em determinada temporalidade e espacialidade. Dessa forma, pode-se dizer que a realidade é a resultante das relações e esforços teóricos e conceituais humanos na compreensão dos seres e objetos que lhe são externos em suas potencialidades. Portanto, torna-se real ao homem tudo o que ele pode vivenciar e experien- ciar sensivelmente nas categorias espaço e tempo, nas quais sua existência está condicionada. Entre o que ele conhece e o que existe constitui-se o mundo book_INICIAIS_ETICA_POLITICA_SOCIEDADE.indb 34 19/06/14 12:31 p r i n c í p i o s d a é t i c a e m o r a l o c i d e n t a l 35 em sua totalidade. Ou seja, o mundo constitui-se a partir da capacidade de objetivação do homem, mas também de um conjunto de seres e situações que escapam da capacidade objetiva humana, o que significa dizer que a realidade em sua totalidade transcende a capacidade humana de compreensão. Sob tais perspectivas, é necessário reconhecermos os limites das condições de possibilidade do conhecimento humano e, ao mesmo tempo, dar-se conta de que ampliamos nossa capacidade compreensiva do mundo na medida em que o investigamos e questionamos em seus fundamentos constitutivos, entre os quais a própria condição humana. Sob os imperativos da técnica característica dos tempos atuais, torna-se necessário fomentar socialmente o espírito crítico e investigativo diante da realidade de mundo em que nos encontramos inseridos. Esse espírito mágico propagado pelo desenvolvimento da ciência e da técnica fez com que o homem ficasse maravilhado com seus avanços em todas as áreas do conhecimento humano. O espírito da objetividade, além de compreender o mundo, estendeu-se sobre o próprio ser humano em suas condições constitutivas em âmbito biológico, psicológico, histórico, social, político, econômico e cultural. O princípio norteador do projeto societário moderno assim se apresenta: uma vez desvendados os segredos, as leis que regem o mundo em sua realidade macrocósmica e microcósmica, o homem conseguiria determinar a realidade em sua totalidade. O que constatamos contemporaneamente, a partir de um olhar crítico às bases do ideário científico e técnico constituído pela modernidade, é o cres- cente grau de objetivação do mundo e do próprio homem, apresentado prag- maticamente no crescente grau de especialização nas mais diferentes áreas do conhecimento humano, tornando impossível a qualquer ser humano alcançar uma visão de totalidade do mundo no qual está inserido. E, sob tais pressu- postos limitantes de nossa compreensão da realidade, a perda
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