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Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 1 Necrose A morte celular é um processo ou seja, uma sucessão de eventos. Pode existir um processo degenerativo antes ou pode ocorrer de forma direta em decorrência de determinados agentes que causam infecções, etc. É um processo correlacionando com intensidade e duração de agressão caracterizado pela incapacidade de adaptação ou de reversão da agressão devido a sua perduração. Assim, quanto maior a intensidade e quanto maior for o tempo de estresse maior a probabilidade de ocasionar a morte celular devido a irreversibilidade da lesão; Consiste em uma morte celular seguida de autólise onde os lisossomos estão envolvidos; É uma agressão suficiente para interromper as funções vitais. Dessa maneira, ocorre o cessamento da produção de energia e das sínteses celulares; Na maioria das vezes não é regulada por sinais específicos ou mecanismos bioquímicos. Agressão e interrupção das funções vitais 1. Interrupção das funções vitais: cessa produção de energia e sínteses celulares; 2. Lisossomos perdem a capacidade de conter as hidrolases no seu interior sendo liberadas para o citosol proteases, lipases, glicosidases, ribonucleases e desoxirribonucleases) 3. hidrolases (enzimas que promovem a degradação de compostos a partir da utilização da água) Influenciada pelos altos níveis de Ca++ 4. Ocasiona a PERDA DA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA AUTÓLISE 5. Ocorre a digestão dos componentes celulares 6. Com o processo de necrose ocorre a liberação de alarminas (HMGB1, uratos, fosfatos), que são reconhecidas em receptores celulares e desencadeiam REAÇÕES INFLAMATÓRIAS. Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 2 PASSO A PASSO DA NECROSE Dano celular irreversível 1. Danos na membrana: parada de síntese proteica e funcionamento celular “dano mitocondrial com depleção de ATP”. 2. Ruptura de membranas lisossômicas e plasmáticas 3. Enzimas digestivas: derivadas dos lisossomos das células lesionadas e dos leucócitos; INÍCIO DA INFLAMAÇÃO ; ocorre a liberação de EROS; 4. Perda da homeostase iônica: entrada de íons de sódio e cálcio; Alteração da permeabilidade da membrana; 5. A célula incha e as organelas (mitocôndrias) são danificadas; ocorre entrada de íons e água impactando no rompimento celular; 6. Conteúdo celular liberado, rico em proteases; 7. Intensa reação inflamatória: neutrófilos, macrófagos convergem para o tecido em necrose ingerem as células; INFLAMAÇÃO. ASPECTOS MORFOLÓGICOS MACROSCOPICAMENTE: observa-se aspectos particulares conforme sua a natureza; MICROSCOPICAMENTE: ocorre alterações morfológicas decorrente do processo de autólise; Aumento eosinofilia, desnaturação, enzimas e calcificação. Diminuição de grânulos de glicogênio; Restos celulares e inflamação adjacente; Alterações nucleares (↓ excessivo do pH condensando a cromatina e ação enzimática), citoplasmáticas e perda da individualidade das organelas (vacuolização de mitocôndrias, RE e complexo de golgi) Principais indicativos de região necrótica a partir da análise do núcleo PICNOSE NUCLEAR Alterações nucleares (contração e condensação da cromatina - núcleo com aspecto homogêneo e menor) CARIÓLISE Digestão da cromatina, com ausência do núcleo CARIORREXE Núcleo fragmentado e disperso Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 3 Agentes e causas da necrose 1. Redução de energia – obstrução vascular, inibição dos processos respiratórios da célula (isquemia/anoxia); 2. Produção de radicais livres; 3. Ação direta sobre enzimas, inibindo processos vitais da célula (agentes químicos e toxinas) 4. Agressão à membrana citoplasmática (alteração eletrolítica): hipóxia, agentes físicos, agentes infecciosos, reação imunológicas, distúrbios genéticos e desequilíbrios nutricionais. 5. Está associada a algo patológico, danos na membrana e auxilia liberação de enzimas. Tipos morfológicos necrose tecidual 1. Necrose por Coagulação ou necrose isquêmica 2. Necrose por Liquefação 3. Necrose Caseosa 4. Necrose Gomosa 5. Esteatonecrose ou gordurosa 6. Necrose Hemorrágica 7. Necrose Gangrenosa 8. Necrose Fibrinoide Necrose por isquemia ou coagulação Lembrar do processo de isquêmia; Causado por isquemia/obstrução do local Macroscópica Microscópica Área esbranquiçada e tumefeita; Desnaturação proteica; Desnaturação enzimática na superfície do órgão; Halo avermelhado hiperemia como forma de tentar suprir a região isquêmica Proteínas coaguladas no citoplasma – acidófilo granuloso; Perda da nitidez dos elementos nucleares; Alterações do cortorno; Alterações nucleares. Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 4 Até 12h após o óbito é difícil identificar áreas de necrose; ocorre o bloqueio da proteólise das células mortas e remoção das células necróticas por fagocitose; o tecido fica tentando remover as células; “reparo” da necrose; A tentativa de bloqueio da proteólise é iniciada antes da morte do tecido; Testes bioquímicas contribuem para identificação de tecidos necrosados em decorrência de biomarcadores. Exemplo: Choque hipovolêmico causando necrose isquêmica de hepatócitos Seta amarela: núcleo picnótico (basófilo – hematoxilina/roxo) Seta azul: Hepatócitos contraídos e intensamente acidófilos (afinidade para corantes ácidos – eosina/rosa) com núcleo picnótico; Hepatócitos em apoptose são denominados corpos hialinos Exemplo: Necrose isquêmica do miocárdio Setas: núcleos picnóticos Em (B) observa-se infiltração de células fagocitárias e linfócitos. A necrose por coagulação tem causa mais frequente a isquemia sendo denominada de necrose isquêmica. As células necrosadas apresentam citoplasma com aspecto de substância coagulada (o citoplasma torna-se acidófilo e granuloso, gelificado. Alterações nucleares – principalmente a cariólise. No início, os contornos celulares são nítidos, sendo possível identificar a arquitetura do tecido necrosado; mais tarde, toda a arquitetura tecidual fica perdida. Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 5 Exemplo: infarto renal em forma de cunha (em amarelo) Presença de infiltrado inflamatório; Observa-se a arquitetura do tecido morto sendo preservada por um intervalo de dias. Ocorre uma tentativa de bloqueio da proteólise de células mortas seguida de remoção das células necróticas por fagocitose. Necrose liquefação ou coliquativa | É comum após anóxia no tecido nervoso – encéfalo, suprarrenal e mucosa gástrica. Observa-se a digestão dos tecidos até a liquefação: gasoso líquido – assume aspecto muito mole ficando semifluido. É causada pela grande liberação de enzimas lisossômicas Digestão das células mortas: formando uma massa viscosa líquida no centro da lesão; Inflamações purulentas ocorre necrose por liquefação do tecido inflamado; Presença de leucócitos exsudados; Pastosa: enzimas lisossômica e por leucócitos exsudados; Infecções bacterianas focais: bactérias anaeróbicas se estabelecem em região de anóxia e o tecido será lesado; infecções fúngicas; abscessos; neoplasias malignas, etc. Necrose de liquefação em parede de abscesso. Tecido necrótico – cavitário; grande quantidade de neutrófilos e outras células inflamatórias (pus). Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 6 Necrose caseosa | “massa de queijo” – esbranquiçada e quebradiça – Exemplo: Tuberculose Aparência friável esbranquiçada, tecido amolecido e granuloso; Microscopicamente Transformação das células necróticas em uma massa homogênea, acidófila, contendo alguns núcleos picnóticos (homogêneo e menor) e, principalmente na periferia, núcleos em cariorrexe (fragmentados) Resulta de mecanismos imunitários de agressão envolvendo macrófagos e linfócitos T sensibilizados; Depende de TNFɑ e produtos citotóxicos dos macrófagos. Pode estar correlacionado com áreas de hipóxia em virtude da hipovascularização; Possui arquitetura tecidual destruídacom borda delimitada. Células rompidas, restos granulares amorfos (internos) delimitados por borda inflamatória distinta → GRANULOMA; Infecções tuberculosas características: muita correlação com apoptose em decorrência da presença de enzimas pró-apoptóticas e diminuição de antiapoptóticas em virtude da infecção; e também áreas de necrose. Tuberculose – pulmão. Necrose gomosa | Exemplo: síflis tadia (goma siflítica). Regiões de alteração do fluxo sanguíneo em decorrência da alteração na coagulação; Aspecto compacto e elástico como borracha (goma) ou fluido e viscoso do tecido necrosado como goma- arábica. Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 7 Necrose gordurosa, enzimática, esteatonecrose | Necrose enzimática do tecido adiposo – comprometimento de adipócitos. Exemplo: pancreatite aguda necro-hemorragica, resultando no extravasamento de enzimas ácinos pancreáticos. Com a liberação de enzimas, ocorre ação de lipases sobre os triglicerídeos contribuindo para a liberação de ácidos graxo que sofrem o processo de saponificação. Lipases Degradação de triglicerídeos ácidos graxos saponificação em decorrência da presença de sais alcalinos (exemplo: cálcio) surgimento de depósitos esbranquiçados ou manchas de “pingo de vela” – áreas calcárias brancas Geralmente está associado a área de inflamação aguda; Liberação de enzimas nos tecidos (pancreático e cavidade peritoneal) em decorrência de trauma ou autodigestão de células gordurosas; Pode ocasionar entupimento ou enrijecimento de vasos: Exemplo: artéria esplênica. Pancreatite aguda necro-hemorrágica. Após traumatismos no tecido adiposo – mama. Necrose hemorrágica Presença de hemorragia no tecido necrosado → dificulta a eliminação do tecido necrótico; Ocorre alteração do fluxo sanguíneo; não ocorre a transmigração de neutrófilos impedindo a atuação do sistema imune. Áreas de necrose sem eliminação de resquícios pode culminar na presença de resíduos tóxicos sistêmicos impactando em aumento da área necrosada, principalmente, se houver permanência do estímulo agressor. Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 8 Necrose gangrenosa É uma evolução da necrose podendo evoluir de qualquer outro tipo; Contribui para eliminação de produtos tóxicos no organismo de forma sistêmica; Não fica localizada; normalmente realiza-se amputação em casos de gangrena seca; Perda do suprimento sanguíneo em diversos planos teciduais; Desidratação: gangrena seca – “mumificação”; presença de uma linha nítida de delimitação; ocorre potencialmente em extremidades – mãos, pés, nariz, Invasão por microrganismos anaeróbicos produtores de enzimas: necrose liquefativa; odor fétido “bolhas” – gangrena úmida, pútrida, “podre”; comum em necroses do tubo digestivo, dos pulmões e da pele, nos quais as condições de umidade a favorecem; Microrganismos gênero Clostridium (anaeróbicos) produtores de enzimas - gangrena gasosa (1ª Guerra Mundial). Comum em feridas infectadas. Gangrena seca Gangrena úmida Gangrena bolhosa Necrose fibrinoide | Ocorre extravasamento de fibrina presente em decorrência da tentativa de cicatrização do tecido. É observada nas reações imunes envolvendo vasos sanguíneos; Depósito de complexos de antígenos e anticorpos + fibrina extravasada → aparência amorfa róseo-brilhante (fibrinoide). Necrose fibrinoide em uma artéria evidenciando inflamação. Presença de neutrófilos. Solução do organismo Células entram em necrose e o organismo tentam salvar partes daquela região; Tentativa de manter o tecido e/ou órgão; Células mortas e autolisadas comportam-se como um corpo estranho e desencadeiam respostas do organismo. Promoção da reabsorção e reparo. Importante: Qual o tipo de tecido? Qual o órgão acometido? Qual a extensão da área atingida? Objetivo: manter a funcionalidade Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 9 Possíveis caminhos Regeneração Os restos celulares são reabsorvidos por meio da resposta inflamatória; Liberação de fatores de crescimento para que ocorra a multiplicação de células parenquimatosas; Em caso de estroma pouco alterado há regeneração completa. Exemplo: fígado – pequenas áreas de necrose conservando a malha de fibras reticulares. Em caso de necrose extensa ocorre colapso da trama reticular mesmo com a regeneração dos hepatócitos pois, os mesmo não conseguem se organizar nos lóbulos hepáticos – tendem a formar nódulos distorcendo a arquitetura do órgão. Cicatrização Substituição por tecido conjuntivo cicatricial; Ocorre quando a lesão é extensa e, principalmente, quando as células afetadas possuem capacidade regenerativa; DAMPs Liberação de mediadores alterações vasculares e exsudação celular na área de necrose → reabsorção de restos celulares → reação inflamatória (citocinas, fibroblastos e fatores de crescimento). Ou seja, ocorre a inflamação visando a liberação de substâncias e ativação de mecanismos para cicatrização; 1. Os leucócitos migram para a área e digerem restos teciduais; 2. Citocinas: estimulam a proliferação vascular 3. Fator de crescimento para o endotélio – VEGF 4. Pode ocorrer retração tecidual e redução do volume da área comprometida; 5. NEM SEMPRE É POSSÍVEL REGENERAR. Encistamento Material necrótico volumoso não é absorvido ou por fatores que impeçam a migração de leucócito assim, a reação inflamatória com exsudação ocorre somente na periferia da lesão; Região limitada; criação de barreira; reação inflamatória na periferia da lesão (fagócitos); Proliferação conjuntiva + encistamento do tecido necrosado (absorção lenta). Ocorre o controle do tecido necrótico contribuindo para o seu englobamento promovendo o isolamento seguido de eliminação. Eliminação Na zona de necrose próximo a parede de estruturas canalicular contribui para a comunicação com o meio externo e a sua eliminação; É muito comum na tuberculose onde observa-se regiões pulmonares onde o material é eliminado pelos brônquios formando as “cavernas tuberculosas”. Pode ter a formação de regiões de cavidade em decorrência da não Bárbara Lorena | Medicina – Funepe | 10 resolução da área necrótica. Observação: Calcificação: algumas necroses, exemplo: caseosa, devido à elevação nos níveis de cálcio em tecidos mortos. O extravasamento de proteínas intracelulares através da membrana celular e, por fim, para a circulação proporciona meios de detectar a necrose tecido-específica utilizando amostras de sangue ou soro. Exemplos: O músculo cardíaco, contém uma única isoforma da enzima creatina cinase e da proteína contrátil troponina; Epitélio do ducto biliar hepático contém a enzima fosfatase alcalina; Hepatócitos contêm transaminases. A lesão irreversível e a morte celular nesses tecidos elevam os níveis séricos destas proteínas, o que os torna marcadores clinicamente úteis de danos teciduais.
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